10.04.2013 Views

Aspectos da lógica estoica e da lógica em Sêneca - FALE

Aspectos da lógica estoica e da lógica em Sêneca - FALE

Aspectos da lógica estoica e da lógica em Sêneca - FALE

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Belo Horizonte, nº 3, agosto de 2009<br />

ISSN 19833636<br />

silogismo, manifestavam pouco interesse por eles. 34 Crisipo reconhecia cinco formas<br />

básicas de silogismos; ca<strong>da</strong> um ligava um par de proposições, que ele representava<br />

pelas variáveis “primeira”, “segun<strong>da</strong>”. 35<br />

Inúmeros são os ex<strong>em</strong>plos que mostram que os estoicos – e também autores não<br />

necessariamente estoicos 36 – faziam uso prático de silogismos como esses. Dentre os<br />

autores romanos, destacamos um trecho do De diuinatione, de Cícero:<br />

Se (a) os deuses exist<strong>em</strong> e (b) não preve<strong>em</strong> o futuro, ou (c) não nos<br />

amam, ou (d) eles não sab<strong>em</strong> o que vai acontecer, ou (e) eles não<br />

pensam que seria proveitoso que soubéss<strong>em</strong>os ou (f) eles não pensam<br />

que seria de acordo com a sua digni<strong>da</strong>de dizer-nos, ou (g) eles não<br />

estão aptos a nos contar. Mas não é ver<strong>da</strong>de que eles não nos amam,<br />

n<strong>em</strong> que eles não sab<strong>em</strong> o que vai acontecer (...). Logo, não é<br />

ver<strong>da</strong>de que os deuses exist<strong>em</strong> e que não preve<strong>em</strong> o futuro. Mas os<br />

deuses exist<strong>em</strong>. Logo, eles preve<strong>em</strong> o futuro. 37<br />

Até recent<strong>em</strong>ente, muitos autores viam a <strong>lógica</strong> <strong>estoica</strong> como uma rival à<br />

aristotélica e d<strong>em</strong>onstravam pouca disposição <strong>em</strong> entendê-la. Isso, para Sandbach, é um<br />

erro:<br />

[a <strong>lógica</strong> <strong>estoica</strong>] não é, <strong>em</strong> sua essência, uma alternativa, mas um<br />

compl<strong>em</strong>ento, e o silogismo proposicional é reconhecido, hoje, como<br />

logicamente prioritário <strong>em</strong> relação ao silogismo de termos. Mas,<br />

<strong>em</strong>bora a <strong>lógica</strong> <strong>estoica</strong> possa ser contrasta<strong>da</strong> com a de Aristóteles,<br />

há pouca evidência de que ele tenha exercido grande influência <strong>em</strong><br />

seu desenvolvimento (...). Há uma chance de que os estoicos tenham<br />

a<strong>da</strong>ptado [os probl<strong>em</strong>as de <strong>lógica</strong>] <strong>da</strong> escola megárica; 38 <strong>em</strong> todo<br />

caso, é evidente o interesse deles nos trabalhos dessa escola. 39<br />

Um aspecto que torna a <strong>lógica</strong> <strong>estoica</strong> particularmente interessante para os<br />

estudos <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>porâneos é sua abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> do aspecto formal do discurso<br />

34<br />

Cf. Sandbach, op. cit., p. 97. Segundo o autor, a importância desse tipo de proposição só foi<br />

reconheci<strong>da</strong> pelos lógicos a partir do século XIX.<br />

35<br />

Utilizando, como Sandbach e Long, símbolos mais recentes como p e q, eles pod<strong>em</strong> ser esqu<strong>em</strong>atizados<br />

<strong>da</strong> seguinte maneira: (1) Se p, q. Mas p ∴ q. (2) Se p, q. Mas não q. ∴ Não p. (3) Não ambos p e q. Mas<br />

p. ∴ Não q. (4) Ou p ou q. Mas p ∴ Não q. (5) Ou p ou q. Mas não p. ∴ q.<br />

36<br />

Apesar de não se definir como estoico, sab<strong>em</strong>os que M. T. Cícero (106-43 a.C.) caracteriza como<br />

estoicos, ou como simpatizantes do pensamento estoico, alguns dos personagens de seus diálogos<br />

filosóficos, como é o caso do protagonista de Cato Maior de Senectute. Sobre a filosofia de Cícero <strong>em</strong><br />

geral, cf. Powell, J. G. F. (org.). Cicero the philosopher. Oxford: Clarendon Press, 1995.<br />

37<br />

Cf. De diuinatione I 38, 82: Si sunt di neque ante declarant hominibus quae futura sint,(…). Sunt aut<strong>em</strong><br />

di; significant ergo (minha tradução).<br />

38<br />

A escola megárica de filosofia foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> por Euclides de Mégara (390 a.C.), aluno de Sócrates. Seus<br />

m<strong>em</strong>bros adquiriram reputação devido a suas habili<strong>da</strong>des <strong>em</strong> argumentos dialéticos (cf. Howatson, op.<br />

cit., sub uoce “Megarian school”).<br />

39<br />

Cf. Sandbach, op. cit., p. 99.<br />

111

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!