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O mirandês face ao português e ao castelhano Universidade de ...

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<strong>português</strong>) na vida das famílias tornou nítido, <strong>ao</strong>s olhos dos miran<strong>de</strong>ses, quão limitadas<br />

seriam as hipóteses <strong>de</strong> progressão social <strong>ao</strong>s que não investissem na melhoria das suas<br />

capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quadamente comunicar, oralmente e por escrito, em <strong>português</strong>.<br />

Dominados por um equívoco, o <strong>de</strong> que o conhecimento do <strong>mirandês</strong>, dada a sua semelhança<br />

estrutural com a língua maioritária, mais não faria senão ameaçar a consolidação do<br />

conhecimento do <strong>português</strong> nas crianças expostas a este “input” bilingue 7 , os pais<br />

miran<strong>de</strong>ses encontraram o bo<strong>de</strong> expiatório i<strong>de</strong>al para justificar o abandono do uso da língua<br />

minoritária com os filhos.<br />

É este, pois, o pano <strong>de</strong> fundo sobre o qual, já no final do século XX, surgem os<br />

primeiros sinais <strong>de</strong> um tímido processo <strong>de</strong> requalificação simbólica da língua minoritária.<br />

Recorrendo a um critério cronológico, há a assinalar, em primeiro lugar, a introdução, no<br />

ano <strong>de</strong> 1986, do <strong>mirandês</strong> no sistema <strong>de</strong> ensino, apenas como disciplina opcional<br />

extracurricular, mas, e em todo o caso, na instituição que, como atrás <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos, muito<br />

contribuiu (mesmo que indirecta e não intencionalmente) para a <strong>de</strong>spromoção social e<br />

simbólica do idioma. Seguiu-se, cerca <strong>de</strong> uma década <strong>de</strong>pois, i.e., em 1995, a construção <strong>de</strong><br />

uma proposta <strong>de</strong> convenção ortográfica para a língua minoritária, documento preparatório da<br />

actual Convenção Ortográfica da Língua Miran<strong>de</strong>sa (Manuela Barros Ferreira e Domingos<br />

Raposo, coord., 1999).<br />

Admitimos, no entanto, que o evento mais relevante <strong>de</strong>ste movimento <strong>de</strong> requalificação<br />

simbólica terá sido o reconhecimento legal dos direitos linguísticos dos miran<strong>de</strong>ses<br />

concretizado através da actual lei 7/99 <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> Janeiro. Num trabalho sobre os reflexos<br />

<strong>de</strong>ste acto legislativo na situação sociolinguística do <strong>mirandês</strong> (Cristina Martins, 2002),<br />

concluimos que foi, sobretudo, através do alargamento da presença do idioma minoritário no<br />

sistema <strong>de</strong> ensino que os efeitos <strong>de</strong>sta promoção legal mais se fizeram sentir. Na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

disciplina opcional extracurricular oferecida apenas <strong>ao</strong>s alunos dos 5º e 6º anos <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong> da Escola EB2 <strong>de</strong> Miranda do Douro, o <strong>mirandês</strong> passou, nos anos<br />

imediatamente subsequentes à publicação do diploma legal, a ser oferecido, enquanto matéria<br />

escolar (mantendo, embora, o mesmo estatuto opcional e extracurricular), a mais alunos a<br />

frequentar outros níveis <strong>de</strong> ensino em diversas localida<strong>de</strong>s do concelho <strong>de</strong> Miranda do<br />

Douro. Iniciaram-se, para além do mais, acções educativas orientadas para públicos adultos,<br />

quer para não-miran<strong>de</strong>ses, quer ainda para os que, falantes activos, <strong>de</strong>sejavam agora<br />

apren<strong>de</strong>r a escrever na sua língua local 8 . Acrescente-se ainda que, a somar <strong>ao</strong> maior peso do<br />

idioma no sistema <strong>de</strong> ensino, o reconhecimento legal dos direitos linguísticos <strong>de</strong>ste grupo<br />

minoritário proporcionou a estreia absoluta do <strong>mirandês</strong> em alguns domínios, como os da<br />

escrita científica, da imprensa e da música “rock” 9 , até então exclusivos do <strong>português</strong>.<br />

7 Trata-se <strong>de</strong> um equívoco efectivo, facto que pu<strong>de</strong>mos comprovar através da investigação experimental<br />

<strong>de</strong>senvolvida no quadro da nossa dissertação <strong>de</strong> doutoramento (cf. Cristina Martins, 2003: cap. 4 e 5).<br />

8 Este crescente acesso à escrita explicará a explosão editorial a que se assistiu a partir <strong>de</strong> 2002, bem como o<br />

entusiasmo com que numerosos miran<strong>de</strong>ses têm vindo a contribuir, com os seus textos em <strong>mirandês</strong>, para<br />

a imprensa regional (vd., nomeadamente, os jornais Nor<strong>de</strong>ste e<br />

Mensageiro <strong>de</strong> Bragança .<br />

9 Para uma visão panorâmica <strong>de</strong>stas novas funcionalida<strong>de</strong>s do <strong>mirandês</strong>, cf. o extenso quadro I apresentado em<br />

Cristina Martins (2002: 48-54) e consulte-se a informação disponível in .<br />

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