Mova Camarim - Cooperativa Paulista de Teatro
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l i Os G rupos no Centro!<br />
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A Boa: texto <strong>de</strong> Aimar,<br />
sucesso em Curitiba.<br />
Por Aimar Labaki<br />
O que sumiu primeiro, o ovo ou a galinha? Os grupos ou a política<br />
cultural específica para o teatro? Com certeza foram os grupos, já que tal<br />
política nunca existiu. ( Ótimas iniciativas isoladas resultam em geral mais<br />
isoladas que ótimas, por melhor que sejam.)<br />
Depois do golpe <strong>de</strong>ntro do golpe, em 68, os grupos <strong>de</strong>sapareceram. Ou<br />
per<strong>de</strong>ram sua hegemonia — ainda que tenham mantido sua excelência como<br />
forma <strong>de</strong> organização capaz <strong>de</strong> gerar resultados artísticos a longo prazo.<br />
Hoje, com a radicalização da distância entre o suposto mercado e a Arte<br />
propriamente dita, os grupos parecem voltar ao centro da discussão da<br />
viabilida<strong>de</strong> econômica da produção teatral. Além <strong>de</strong> serem a única aposta<br />
segura do ponto <strong>de</strong> vista da continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um projeto estético, eles são<br />
hoje a única forma <strong>de</strong> viabilizar espetáculos que não sejam apenas<br />
comerciais — ou apenas eventuais.<br />
Mas é limitada a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> financiamento <strong>de</strong> pais e publicitários —<br />
as verda<strong>de</strong>iras fontes <strong>de</strong> renda do artista <strong>de</strong> teatro no Brasil. Só se acumula<br />
capital, se ele for exce<strong>de</strong>nte. Não há lugar para a transcendência, quando é<br />
preciso lutar pela sobrevivência. (Nenhuma <strong>de</strong>ssas frases é minha. Mas não<br />
há espaço para citar os autores. Reclamações com a SBAT.)<br />
Ou os grupos se profissionalizam ou ten<strong>de</strong>m a se extinguir. Sim, vários<br />
já estão profissionalizados. Mas nenhum tem condições estáveis <strong>de</strong><br />
produção. Nenhum garante a subsistência permanente <strong>de</strong> seus artistas.<br />
Nenhum consegue se planejar com mais <strong>de</strong> seis meses <strong>de</strong> antecedência.( O<br />
projeto <strong>de</strong> Antunes Filho no Sesc, padrão <strong>de</strong> excelência sobre qualquer outro<br />
aspecto, tem no entanto essa <strong>de</strong>ficiência. Apenas Antunes, entre os artistas,<br />
tem sua subsistência garantida.).<br />
Mas que fique claro. Dinheiro é apenas um dos lados<br />
da questão. O que mais falta é vonta<strong>de</strong> política. Obras<br />
e discursos garantem votos. Mas estão acabando com<br />
o pouco que resta <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> ponta.<br />
Qualquer política para a área <strong>de</strong>ve ser transparente,<br />
permanente e ter objetivos muito claros. Não adianta<br />
vestir um santo para <strong>de</strong>svestir outro; misturar educação,<br />
cultura e pequenas empresas, por exemplo. Sim, uma<br />
sinergia é possível, mas para tanto é necessário que cada<br />
elemento mantenha sua especificida<strong>de</strong>.<br />
Não adianta fazer um edital a cada três anos. Não<br />
adianta financiar espetáculos, sem articular sua<br />
circulação - pelo interior, pelo exterior e pela<br />
própria cida<strong>de</strong>! Não adianta <strong>de</strong>squalificar os adversários<br />
políticos — os problemas não <strong>de</strong>ixariam <strong>de</strong> existir<br />
mesmo se todos nós nos calássemos.<br />
Os grupos voltaram a produzir o teatro mais<br />
importante e interessante do Brasil. Falta voltarem a<br />
ocupar seu lugar político e econômico. Se <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r das<br />
atuais gestões nos três âmbitos — Municipal, Estadual<br />
e Fe<strong>de</strong>ral — vai ficar pro próximo século. Se não chover.