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arte contemporânea e educação - Revista Iberoamericana de ...

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Arte <strong>contemporânea</strong> e <strong>educação</strong><br />

severa distinção entre os dois, a felicida<strong>de</strong> encontra-se na hábil supressão<br />

<strong>de</strong>ssa distinção. A cultura, portanto, que <strong>de</strong>ve levar à concordância,<br />

dignida<strong>de</strong> e felicida<strong>de</strong>, terá <strong>de</strong> prover a máxima pureza dos princípios em<br />

sua mistura mais íntima» 2 . Também Marx, embora partindo <strong>de</strong> outra<br />

posição filosófica, diz nos Manuscritos Econômicos e Filosóficos, ao<br />

propor uma «<strong>educação</strong> dos cinco sentidos», que a <strong>arte</strong> é condição <strong>de</strong><br />

humanização porque «os sentidos capazes <strong>de</strong> prazeres humanos se<br />

transformam [pela <strong>arte</strong>] em sentidos que se manifestam como forças do<br />

ser humano e são ora <strong>de</strong>senvolvidos, ora produzidos. Porque não se trata<br />

apenas dos cinco sentidos, mas também dos sentidos ditos espirituais,<br />

dos sentidos práticos (vonta<strong>de</strong>, amor, etc.), numa palavra, do sentido<br />

humano, do caráter humano dos sentidos que se formam apenas através<br />

da existência <strong>de</strong> um objeto, através da natureza tornada humana. A<br />

formação dos cinco sentidos representa o trabalho <strong>de</strong> toda a história do<br />

mundo até hoje» 3 .<br />

Percebe-se como nas duas posições, <strong>de</strong> Schiller e Marx, em<br />

princípio tão distantes, porque se trata <strong>de</strong> perspectivas exclu<strong>de</strong>ntes na<br />

interpretação da realida<strong>de</strong>, a formação visada pela <strong>educação</strong> reconhece<br />

a moral e a estética como domínios racionais, <strong>de</strong>nunciando os limites da<br />

racionalida<strong>de</strong> científica unificadora e totalizante. Aliás, isto po<strong>de</strong> ser<br />

verificado nas justificativas e nos objetivos da valorização da <strong>arte</strong> na<br />

legislação do ensino básico brasileiro. A ênfase que a concepção <strong>de</strong><br />

<strong>educação</strong> da atual Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases coloca sobre a tecnociência,<br />

como princípio e requisito básico no saber, na socieda<strong>de</strong> e na cultura, é<br />

contrabalançada pelo «conhecimento da <strong>arte</strong>», compreendido como<br />

conhecimento «sensível-cognitivo, voltado para um fazer e apreciar<br />

artísticos e estéticos e para uma reflexão sobre a história e contextos na<br />

socieda<strong>de</strong> humana» 4 . Aquilo que aí se <strong>de</strong>nomina «estética da sensibilida<strong>de</strong>»<br />

tem uma clara intenção <strong>de</strong> matizar os efeitos, na formação, no<br />

indivíduo e na cultura, dos excessos da racionalida<strong>de</strong> instrumental. A<br />

valorização da diversida<strong>de</strong> vem a par com o que foi carcterizado como «ética<br />

da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>», voltada para a crítica «dos valores abstratos» da racionalida<strong>de</strong><br />

instrumental mo<strong>de</strong>rna. É possível mostrar que tais i<strong>de</strong>ias relevam dos<br />

pressupostos mo<strong>de</strong>rnos, iluministas, <strong>de</strong> autonomia e emancipação.<br />

2 Schiller, op. cit., p. 125.<br />

3 Marx-Engels, Sobre literatura e <strong>arte</strong>. Trad. port. Albano Lima. Lisboa: Estampa,<br />

1971, p. 49.<br />

4 Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio. Linguagens, Códigos e suas<br />

Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria <strong>de</strong> Educação Média e tecnológica,<br />

1999, p. 90.<br />

REVISTA IBERO-AMERICANA DE EDUCAÇÃO. N.º 53 (2010), pp. 225-235

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