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arte contemporânea e educação - Revista Iberoamericana de ...

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C. F. FAVARETTO<br />

Não custa lembrar a propósito, o que diz Lyotard: «Um artista, um<br />

escritor pós-mo<strong>de</strong>rno está na situação <strong>de</strong> um filósofo: o texto que escreve,<br />

a obra que realiza não são em princípio governadas por regras já<br />

estabelecidas, e não po<strong>de</strong>m ser julgadas por regras já <strong>de</strong>terminadas, e<br />

não po<strong>de</strong>m ser julgadas mediante um juízo <strong>de</strong>terminante, aplicando a<br />

esse texto, a essa obra, categorias conhecidas. Estas regras e estas<br />

categorias são aquilo que a obra ou o texto procura. O artista e o escritor<br />

trabalham, portanto, sem regras, e para estabelecer as regras daquilo que<br />

foi feito» 14 .<br />

As <strong>arte</strong>s da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> mostram que há um pensamento na<br />

<strong>arte</strong>. Mais precisamente, há um pensamento da <strong>arte</strong>¸ que é o pensamento<br />

efetuado pelas obras <strong>de</strong> <strong>arte</strong>. As obras <strong>de</strong> <strong>arte</strong> e a literatura, diz Rancière,<br />

são domínios privilegiados <strong>de</strong> efetivação <strong>de</strong> um inconsciente em que se<br />

flagra a existência «<strong>de</strong> certa relação <strong>de</strong> pensamento e <strong>de</strong> não-pensamento,<br />

<strong>de</strong> um certo modo, da presença do pensamento na materialida<strong>de</strong><br />

sensível, do involuntário no pensamento consciente e do sentido no<br />

insignificante» 15 . Quer dizer: as produções artístas são efeitos <strong>de</strong>sse<br />

inconsciente estético que articulam relações <strong>de</strong> saber e <strong>de</strong> não-saber, do<br />

real e do fantasmático 16 , <strong>de</strong> modo sugestivo. Nesta linha, Lacan enten<strong>de</strong><br />

que «a <strong>arte</strong> po<strong>de</strong>ria nomear o que não se <strong>de</strong>ixa ver [...] po<strong>de</strong> aparecer<br />

como modo <strong>de</strong> formalização das irredutibilida<strong>de</strong>s do não-conceitual,<br />

como pensamento da opacida<strong>de</strong>» 17 .<br />

Nestas condições, como inscrever este entendimento da <strong>arte</strong>,<br />

pragmaticamente, aqui e agora, nas instituições educativas, particularmente<br />

em sala <strong>de</strong> aula? Como fazer com que os acontecimentos <strong>de</strong><br />

linguagem, sensações, percepções e afetos, que se fazem nas palavras,<br />

nas cores, nos sons, nas coisas, nos lugares e eventos sejam articulados<br />

como dispositivos, como agenciamentos <strong>de</strong> sentido irredutíveis ao conceitual,<br />

como outro modo <strong>de</strong> experiência e do saber? São os profissionais<br />

da <strong>educação</strong> com a <strong>arte</strong> que sabem respon<strong>de</strong>r a estas perguntas e falar<br />

do papel da <strong>arte</strong> na <strong>educação</strong> – o que, aliás, po<strong>de</strong> ser confirmado<br />

examinando-se as concepções e os muitos projetos e programas do<br />

ensino <strong>de</strong> <strong>arte</strong> à disposição, em livros e propostas elaboradas para re<strong>de</strong>s<br />

14 J. F. Lyotard, op. cit. p. 26.<br />

15 Jacques Rancière. L’inconscient esthétique. Paris: Galilée, 2001, p. 11.<br />

16 Id. ib., p. 51.<br />

17 Cf. Vladimir Safatle, in O tempo, o objeto e o avesso- ensaios <strong>de</strong> filosofia e<br />

psicanálise. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, pp. 116-117.<br />

REVISTA IBEROAMERICANA DE EDUCACIÓN. N.º 53 (2010), pp. 225-235<br />

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