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A Pátina do Filme - XXVI Simpósio Nacional de História

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um uso eminentemente propagandístico da película em sua textura <strong>do</strong>cumental. O<br />

projeto «vertoviano» <strong>de</strong> combate à representação cinematográfica e <strong>de</strong> sua «redução<br />

linguística» às proprieda<strong>de</strong>s intrinsecamente cinemáticas <strong>do</strong> dispositivo técnico se<br />

revelou utópico (no melhor <strong>do</strong>s casos) ou hipócrita (no pior <strong>do</strong>s casos), já que a mímesis<br />

cinematográfica, mesmo sob a forma consagrada <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentário, jamais se i<strong>de</strong>ntificou<br />

totalmente com o real da reprodução cinemática – estabelecen<strong>do</strong>-se antes na tênue linha<br />

movediça que <strong>de</strong>marca precariamente (e filme a filme) aquilo que pertence ao âmbito<br />

<strong>do</strong>cumental daquilo que se caracteriza como intenção ficcional, e se alimentan<strong>do</strong>,<br />

justamente, <strong>de</strong>sta tensão inerente à práxis cinematográfica.<br />

O segun<strong>do</strong> momento importante para uma história da auto-reflexivida<strong>de</strong> no<br />

cinema, portanto, é o momento em que a crença ainda ingênua nos «po<strong>de</strong>res» realistas<br />

da reprodução cinemática ce<strong>de</strong> a vez a uma consciência propriamente «mo<strong>de</strong>rnista» <strong>de</strong><br />

que a mímesis cinematográfica não po<strong>de</strong> preten<strong>de</strong>r a simples exclusão da representação<br />

sem que corra o risco <strong>de</strong> patrocinar o seu retorno triunfal.<br />

...À REPRESENTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA DA HISTÓRIA<br />

Coube ao neo-realismo italiano, sobretu<strong>do</strong> a Rossellini, o mérito <strong>de</strong> colocar essa<br />

questão <strong>de</strong> forma plena em seus filmes, procuran<strong>do</strong> atingir aquele ponto mínimo (ou<br />

«zero») da relação entre reprodução cinemática e representação cinematográfica que<br />

permitisse a esta ressaltar aquela ao invés <strong>de</strong> escamoteá-la ou mesmo ocultá-la. Embora<br />

esse também fosse o projeto das então novas tendências «naturalistas» <strong>do</strong> cinema<br />

<strong>do</strong>cumentário – como o direct cinema americano e o cinéma-vérité francês – as<br />

realizações mais bem-sucedidas <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> nesse senti<strong>do</strong>, foram produções<br />

consi<strong>de</strong>radas ficcionais ou híbridas, geralmente ligadas à vaga <strong>de</strong> «cinemas novos» que<br />

emergiu, a partir <strong>do</strong>s anos 1950, ten<strong>do</strong> o novo cinema italiano <strong>do</strong> pós-guerra como<br />

inspiração industrial ou mesmo como mo<strong>de</strong>lo estético.<br />

Um marco importante neste processo é o filme Salvatore Giuliano (1961), <strong>de</strong><br />

Francesco Rosi. Reconstituição ficcional <strong>de</strong> um assassinato político que ainda estava<br />

«vivo» na memória <strong>do</strong> público italiano da época, o filme <strong>de</strong> Rosi literalmente «fez<br />

história» ao propor – através <strong>de</strong> um estilo renova<strong>do</strong> <strong>de</strong> representação cinematográfica –<br />

uma versão para os fatos ocorri<strong>do</strong>s cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos antes, totalmente distinta (e<br />

contrária) à versão oficial veiculada pelas «atualida<strong>de</strong>s cinematográficas», <strong>de</strong> estilo<br />

Anais <strong>do</strong> <strong>XXVI</strong> <strong>Simpósio</strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> <strong>História</strong> – ANPUH • São Paulo, julho 2011 14

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