AtomoDividido.pdf - Wladimir Pomar
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A Dialética da História Volume 3: Caminhos das Ciências<br />
15. Átomo dividido<br />
Volume 3: Caminhos das Ciências<br />
15. Átomo dividido<br />
No mesmo período em que Mendeleiev e Thompson se viam às voltas<br />
com a divisibilidade e a historicidade da natureza inorgânica ou<br />
inanimada, Marx também se via às voltas com a divisibilidade e a<br />
historicidade da sociedade humana.<br />
Para estudar de forma científica a natureza inorgânica, Mendeleiv e<br />
Thompson andaram às tontas por muito tempo. Eles não contavam com<br />
um método, nem com um aparato técnico que lhes permitisse analisar<br />
os fenômenos de acordo com o funcionamento geral da própria<br />
natureza. E, mesmo que tivessem um método, através do qual<br />
pudessem utilizar a abstração, a ausência de um aparato técnico poderia<br />
ter sido fatal para os experimentos práticos indispensáveis à<br />
demonstração de suas teorias.<br />
O primeiro passo de Marx, por seu turno, foi descobrir e sistematizar tal<br />
método. No caso da sociedade humana, o processo de construção dos<br />
aparatos técnicos teria que fazer parte da própria análise, através da<br />
abstração. Este era o instrumento principal com que ele poderia contar,<br />
tanto para elaborar, ou re-elaborar o método, quanto para aplicá-lo à<br />
análise histórica da sociedade humana.<br />
Entre 1848 e 1864, ao fazer a crítica ao idealismo de Hegel, Marx reelaborou<br />
o método lógico-dialético, para pesquisar as leis ou tendências<br />
potenciais de desenvolvimento interno dos corpos, e o associou ao<br />
método histórico, para examinar o processo real de desenvolvimento,<br />
sob a ação de fatores e inferências externas.<br />
Para demonstrar a validade teórica desses métodos, Marx pesquisou o<br />
processo de divisão e desenvolvimento interno da mercadoria, a célula<br />
mais simples e mais comum do modo de produção capitalista. No curso<br />
de exposição de sua pesquisa, em O Capital, mostrou como a<br />
mercadoria e seus pólos, o valor de uso e o valor de troca, eram<br />
produtos históricos que, em suas mudanças, levaram à constituição do<br />
capital e do modo de produção capitalista.<br />
Na época, a demonstração mais palpável dessa produção histórica<br />
encontrava-se na Inglaterra, embora num estágio ainda inicial. Para<br />
ilustrar sua exposição do desenvolvimento lógico-dialético da<br />
mercadoria até chegar à constituição do capital, Marx utilizou-se, em<br />
vários momentos, de descrições históricas como a da acumulação<br />
primitiva do capital. Portanto, na elaboração de O Capital ele apresentou
A Dialética da História Volume 3: Caminhos das Ciências<br />
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capítulos que são puramente a exposição através do método lógicodialético,<br />
e capítulos que são descrições em que emprega o método<br />
histórico.<br />
Marx alertou para a necessidade de não fazer confusão entre os dois<br />
métodos durante a leitura de sua obra. As narrações históricas eram<br />
apenas ilustrações para suavizar a descrição árida do texto. Porém, o<br />
desconhecimento das diferenças entre os dois métodos levou, e<br />
continua levando, muitos leitores a considerem O Capital como<br />
obedecendo apenas a um método. O que tem dificultado, a muitos,<br />
entender como o capital se desenvolveu de forma historicamente<br />
desigual e, apesar das nuances nacionais e regionais, acaba por colocar<br />
em evidência, em toda parte, as suas principais características.<br />
As variações e desvios históricos do capital pareceram, em alguns<br />
momentos, tornar inválidas algumas das leis descobertas por Marx em<br />
sua análise lógico-dialética. Não foram poucos os que acreditaram que,<br />
com o surgimento dos estados de bem-estar social na Europa, após as<br />
grandes guerras mundiais, a lei de pauperização relativa e absoluta da<br />
classe dos trabalhadores assalariados, trabalhadores cuja classificação<br />
Marx tomou dos romanos e chamou proletariado, havia se mostrado<br />
irreal.<br />
No entanto, bastou que o socialismo dos países do leste europeu<br />
entrasse em derrocada e que o capitalismo dos países desenvolvidos<br />
chegasse ao estágio das corporações transnacionais para que a<br />
realidade daquela lei se tornasse cada vez mais evidente. Uma leitura<br />
atual de O Capital dará a impressão de que Marx o escreveu no início do<br />
século 21, não na metade do século 19. Agora, nos países centrais, o<br />
capital se aproxima de seu estágio máximo de desenvolvimento,<br />
enquanto naquela época o capital ainda lutava por sua consolidação.<br />
Em outras palavras, o método lógico-dialético mostrou sua validade<br />
como método imprescindível para as pesquisas científicas sobre o<br />
desenvolvimento da sociedade capitalista. Algumas das outras previsões<br />
históricas de Marx, como a de que as revoluções proletárias se<br />
realizariam primeiro nos países capitalistas desenvolvidos, mostraramse<br />
equivocadas. Mas esses equívocos provaram, por outro lado, aquilo<br />
que ele e Engels repetiram muitas vezes. Isto é, que a história é cheia<br />
de desvios e ziguezagues e que, muitas vezes, a previsão lógicodialética<br />
precisa esperar a história para realizar-se.<br />
Porém, por que o método lógico-dialético e o método histórico,<br />
utilizados com sucesso por Marx na demonstração da divisibilidade e da<br />
historicidade do modo de produção capitalista, não conseguiram
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conquistar os meios científicos como instrumento de análise da<br />
divisibilidade e historicidade da natureza?<br />
Uma das respostas plausíveis talvez resida em seu próprio sucesso no<br />
campo ideológico e político, embasando uma doutrina de combate para<br />
revolucionar o mundo. Como reação, o método lógico-dialético erigiu<br />
uma massa espiritual e material resistente sem igual na história da<br />
humanidade. Isto, apesar, ou por causa, da mudança social evidente na<br />
substituição do feudalismo pelo capitalismo, e de uma série de outros<br />
acontecimentos científicos que apontavam para a correção do dois<br />
métodos.<br />
A célula havia sido descoberta, fazendo surgir a química orgânica e<br />
abrindo um vasto campo de investigação, a partir dela, para descobrir o<br />
funcionamento dos organismos vivos. Nesse mesmo período, Darwin e<br />
Wallace haviam elaborado, de forma autônoma, a teoria da seleção<br />
natural das espécies como base do processo de evolução dos<br />
organismos vivos. Mesmo inconscientemente, ambos haviam aplicado as<br />
noções dialéticas de mudanças no ambiente externo, em relação com as<br />
mudanças internas, para explicar o processo de evolução histórica das<br />
espécies animais.<br />
Os químicos também estavam descobrindo, como vimos, num longo<br />
processo de tentativas e erros, que somar ou diminuir quantidades,<br />
formando novos compostos, com propriedades e qualidades distintas<br />
dos anteriores, era uma das propriedades dos átomos. Modificar a<br />
propriedade de um corpo, mesmo conservando a quantidade de átomos,<br />
mas mudando sua forma de organização, como acontecia com o<br />
diamante e com o grafite, era outra das propriedades impressionantes<br />
dos átomos. Neste caso, temos opostos tão distantes em dureza, que só<br />
o exame microscópico poderia demonstrar tratar-se apenas de<br />
organização diferente de átomos idênticos.<br />
Apesar desses indícios, que apontavam para o avanço científico e, ao<br />
mesmo tempo, para uma série considerável de problemas a serem<br />
enfrentados e resolvidos pelas ciências, alguns físicos renomados, como<br />
Michelson e Kelvin, na virada do século 19 para o século 20,<br />
consideraram que os princípios gerais de funcionamento do universo já<br />
haviam sido estabelecidos. Não haveria muito mais a ser feito. Kelvin<br />
chegou a afirmar que restava somente a determinação de alguns<br />
números mais com uma quantidade maior de casas decimais. Talvez,<br />
dando-se conta de que exagerava, admitiu haver duas nuvens a<br />
decifrar: as propriedades da luz e a radiação que os objetos emitem<br />
quando aquecidos.
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Se fosse mais modesto, poderia haver considerado que a descoberta do<br />
elétron, em 1890, por Thompson, apontava para a existência de nuvens<br />
mais densas no processo de conhecimento. Mas Kelvin, como muitos<br />
outros físicos, não considerou importante tal descoberta, se é que<br />
acreditou nela. Ainda hoje, boa parte dos cientistas considera que a<br />
física moderna, substituta da física clássica de Galileu e Newton,<br />
começou justamente no início dos anos 1900, com a teoria da<br />
relatividade de Einstein e com a teoria quântica de Planck e Bohr.<br />
Para eles, a física clássica teria descrito a dinâmica dos objetos maiores<br />
do que um átomo e menores do que o sistema solar, e havia incluído a<br />
eletricidade em seu conhecimento. Reconhecem, em geral, que a<br />
descoberta do elétron os teria alertado para a profundidade de sua<br />
própria ignorância a respeito do átomo e de sua divisibilidade. Mas<br />
desconsideraram Thompson como um dos iniciadores da física moderna.<br />
Isto talvez mostre o quanto eles tateavam, ou continuam tateando, no<br />
entendimento da verdadeira importância da descoberta do elétron, e do<br />
papel que esta partícula desempenha nas mudanças atômicas e<br />
moleculares.<br />
Assim, no início do século 20, tinham como física e quimicamente<br />
invariáveis e estáticos os corpos que examinavam, fossem os macros,<br />
como as galáxias e as estrelas, fossem os micros, como os átomos. Isto,<br />
apesar de Mendeleiev já haver apontado no sentido da transformação.<br />
Não é por acaso, pois, que boa parte dos homens de ciência tenha<br />
ficado atônita quando a divisibilidade se mostrou incontornável.<br />
Eles estavam acostumados a considerar apenas os movimentos<br />
mecânicos, sem levar em conta a possibilidade de que, física e<br />
quimicamente, os átomos e os corpos se transformassem no curso<br />
desses e de outros movimentos, dando surgimento a novos átomos e<br />
novos corpos. Alguns físicos chegaram a afirmar que uma física das<br />
partículas só poderia ser exposta através de equações matemáticas,<br />
sem poderem ser vinculadas a coisas materiais, como na física clássica.<br />
Desse modo, acreditavam que a física das partículas se transformaria na<br />
mais abstrata e oculta das ciências. Os que pensavam assim talvez<br />
tenham se assombrado quando a física e a química tornaram possíveis<br />
coisas tão concretas como as destruidoras bombas atômicas e de<br />
hidrogênio, e os revolucionários chips de silício. A transformação da<br />
física e da química de partículas em ciências de resultados práticos<br />
muito palpáveis simplesmente mostrou quão obscuros eram aqueles<br />
pensamentos.<br />
Foi em meio a essas discussões e descobertas que Einstein contribuiu,
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em 1905, para subverter ainda mais as previsões de Michelson e Kelvin.<br />
Ele demonstrou matematicamente algo que vários filósofos da<br />
antiguidade, assim como de épocas posteriores, vinham afirmando há<br />
tempo. Isto é, que o espaço e o tempo eram a matéria prima da<br />
realidade, e que massa e energia podiam transformar-se uma na outra.<br />
Ele elaborou sua teoria da relatividade tendo por base a descoberta do<br />
movimento browniano. Este seria a prova da existência dos átomos e de<br />
que a luz seria composta de partículas. Em 1820, Richard Brown havia<br />
observado, através de um microscópio, uma formação de fumaça<br />
composta de partículas em constante movimento. Essas partículas<br />
vibravam em torno de um mesmo ponto, em alta velocidade.<br />
Einstein deduziu que tais vibrações resultavam das colisões com as<br />
moléculas de ar. Essas moléculas, de todas as direções, bombardeavam<br />
as partículas, fazendo com que estas parecessem relativamente<br />
estacionárias. Portanto, mesmo enxergando única e exclusivamente o<br />
movimento mecânico, Einstein deu uma contribuição decisiva para<br />
demonstrar que espaço e tempo estavam em interação.<br />
No caso da luz, Maxwel havia deduzido, no final do século 19, que sua<br />
velocidade deveria ser a mesma, qualquer que fosse a velocidade da<br />
fonte. Mensurações precisas confirmaram essa suposição. Einstein<br />
acrescentou que a luz se espalharia a partir de um evento, formando um<br />
cone tridimensional na dimensão temporal do espaço-tempo, chamado<br />
prisma de luz futuro do evento.<br />
Isso significava que, se uma vibração de luz fosse emitida num<br />
determinado tempo, por exemplo, a partir da explosão de uma<br />
supernova, localizada num determinado ponto do espaço, à medida que<br />
o tempo passasse, a luz se espalharia como uma esfera, cujo tamanho e<br />
posição seriam independentes da velocidade da fonte. A luz que<br />
chegava à Terra, vinda de estrelas e galáxias distantes, fora emitida há<br />
bilhões de anos. Portanto, o universo que vemos, através da luz emitida<br />
pelos corpos celestes, seria o universo do passado, não o do presente.<br />
Este, porém, era um problema que a maioria dos físicos também<br />
enfrentava mecanicamente. Não davam muita atenção ao detalhe de<br />
que tudo que existe no universo é datado. Isto é, sofre mudanças desde<br />
que surge até desaparecer. Portanto, se partirmos desse pressuposto, e<br />
também do fato de que o tempo é mudança, será preciso que o período<br />
de existência da luz de uma estrela, para continuar chegando até nós,<br />
tenha mais de 14,5 bilhões de anos. Se tiver menos, essa luz já morreu.<br />
Há seres vivos que duram apenas dias, semanas ou meses, como alguns
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insetos. Há animais que vivem 5 anos, outros 10 anos, outros 200 anos.<br />
Há árvores de 2 mil anos. Eras geológicas têm durabilidade de centenas<br />
de milhões de anos. Alguns átomos radioativos duram centésimos de<br />
segundo, enquanto o período de duração de um próton parece ser<br />
superior a vários bilhões de anos. Calcula-se que a Terra ainda dure 5<br />
bilhões de anos e que o universo atual teve seu início há 14,5 bilhões de<br />
anos.<br />
A luz, assim como o calor e outras formas de energia, também estão<br />
sujeitas a essa lei geral de existência ou datação. Se a duração de<br />
existência da luz for igual ou inferior a 14,5 bilhões de anos, isto pode<br />
significar que a luz que está chegando até nós é de estrelas mais jovens<br />
e mais próximas.<br />
Para que a luz do universo primordial, como o chamam alguns físicos e<br />
astrofísicos, ainda esteja chegando até nós, isso significa que a<br />
durabilidade da luz deve ser igual ou maior do que 15 bilhões de anos.<br />
O que pode significar que a luz que está chegando até nós seja de um<br />
período anterior ao surgimento do universo. Podem existir partes mais<br />
antigas do universo cuja luz já se extinguiu e não podemos vê-las.<br />
Estaríamos tomando como início dos tempos algo no meio do caminho.<br />
Mas isso talvez seja algo a ser resolvido no futuro.<br />
De qualquer modo, Einstein desfez a teoria de que a luz consistia de<br />
ondas no campo magnético que permeia o universo, campo magnético<br />
até então tido como uma substância chamada éter. A descoberta do<br />
elétron, feita através da iluminação de uma lâmina de metal com luz<br />
ultravioleta, causando a emissão da partícula elétron através do<br />
anteparo e criando um efeito fotoelétrico, levou-o a deduzir que a causa<br />
de tal efeito era a emissão de energia em forma de luz.<br />
Embora revolucionário em alguns aspectos da teoria física, Einstein<br />
curvou-se a seu tempo e expressou a idéia de que essa energia<br />
luminosa deveria ser uma porção indivisível, uma partícula chamada<br />
fóton. Assim, por um lado mostrou que a existência do éter deixava de<br />
ter sentido, mas por outro decretou a indivisibilidade do fóton, mesmo<br />
sem experiências que a comprovassem.<br />
Tomando como um dado da realidade que a luz se desloca em linha<br />
reta, a uma velocidade de 300 mil quilômetros por segundo, Einstein<br />
concluiu que, ao aplicarmos uma força a um objeto, a fim de acelerá-lo,<br />
não só o faremos deslocar-se mais rapidamente, como também o<br />
tornaremos mais pesado. Conforme nos aproximarmos da velocidade da<br />
luz, despenderemos cada vez mais energia para fazer o objeto se<br />
deslocar mais rapidamente. Mas, com isso, o tornaremos cada vez mais
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pesado. Quando o objeto for acelerado até quase a velocidade da luz,<br />
não poderemos mais aumentar sua velocidade. E qualquer energia<br />
despendida a mais simplesmente aumentará sua massa.<br />
A taxa de conversão de energia em massa, E = mc2, na qual E =<br />
energia, m = massa e c2 = quadrado da velocidade da luz, significa que<br />
um pequeno aumento na massa necessita de um gigantesco gasto de<br />
energia para ocorrer. Ou, alternativamente, que uma quantidade<br />
mínima de massa pode resultar numa gigantesca liberação de energia,<br />
se ela é impulsionada quase à velocidade da luz. Isto é o que ocorre na<br />
explosão de uma bomba nuclear. Ou na explosão de uma supernova. Ou<br />
ocorreu no big bang.<br />
No entanto, mais uma vez, todas as deduções de Einstein foram<br />
mecânicas e baseadas em partículas indivisíveis. Supor que elétrons, em<br />
seu movimento mecânico, pudessem se transformar em energia sob a<br />
forma de novas partículas fótons, não estava em seu pensamento. É<br />
verdade que ele, diferentemente de Newton, não considerava que a<br />
gravidade fosse uma força que os objetos exerciam uns sobre os outros,<br />
à distância. A gravidade seria uma distorção do espaço-tempo. A massa<br />
do Sol distorceria o espaço e o tempo de tal modo, que as trajetórias<br />
dos planetas pareceriam curvas.<br />
Assim, enquanto Newton transformou a gravidade numa força apenas<br />
atrativa, Einstein trocou essa força por uma distorção causada pela<br />
massa do Sol. Mas Einstein, ao contrário de Newton, tomou o espaço e o<br />
tempo como quantidades dinâmicas. Ou seja, quando um corpo se<br />
move, ou uma força atua, afeta a curva do espaço-tempo. A estrutura<br />
desta, por sua vez, afeta a forma como os corpos se movem e as forças<br />
atuam, enquanto também é afetada por qualquer coisa que aconteça no<br />
universo. Portanto, considerava a interação universal como um aspecto<br />
importante da realidade.<br />
Paralelamente à elaboração das teorias da gravidade de Einstein, entre<br />
1905 e 1915, Ernest Rutheford (1871-1937) vinha estudando a<br />
radiação. Na década de 1890, além da descoberta do elétron, se<br />
descobrira que elementos como o urânio, tório, polônio e rádio emitiam<br />
raios invisíveis, que podiam escurecer chapas fotográficas expostas a<br />
eles, tal como fazia a luz. Até então, as únicas fontes conhecidas de<br />
calor e luz eram as reações químicas. E a dedução lógica era de que tais<br />
elementos estavam submetidos a algum tipo de reação química<br />
espontânea.<br />
Tal dedução foi logo descartada por Rutheford. Ele verificara que o<br />
minério radioativo uraminita, continha vários elementos radioativos,
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como urânio e rádio. Constatara que a radiação da uraminita não podia<br />
provir de reações químicas porque, embora a radiação fosse muito alta,<br />
a composição química do minério não se alterava. Isto o levou a<br />
cometer, então, o que deve ter parecido uma heresia. Declarou que a<br />
radiação provinha do interior dos próprios átomos. Isto, numa época em<br />
que a maioria dos cientistas ainda acreditava que os átomos eram<br />
indivisíveis e a possibilidade deles se desintegrarem era tida como<br />
impossível.<br />
Depois disso, ao trabalhar com o tório, Rutheford demonstrou que ele se<br />
transformava lentamente em outros elementos, primeiro numa<br />
substância que chamou de tório-X, que logo depois se transformava<br />
num gás, o torônio, que por sua vez se transformava rapidamente em<br />
hélio. O torônio, por sua vez, tornava radioativa qualquer substância<br />
com a qual entrasse em contato, mesmo que eventual e por pouco<br />
tempo.<br />
Soddy, assistente de Rutheford, que trabalhava na análise química das<br />
substâncias, concluiu que cada uma delas era um elemento<br />
independente, gerado a partir do tório. Diante disso, exclamou estar<br />
diante da transmutação, tão procurada pelos antigos alquimistas. A<br />
radioatividade não era, assim, um subproduto da desintegração dos<br />
átomos formando outros elementos. Era o próprio processo de<br />
desintegração e da transformação de um átomo em outros.<br />
Mais adiante, Rutherford descobriu que a radiação emitida por<br />
elementos radioativos consistia de partículas alfa, que não eram senão<br />
núcleos de átomos de hélio. Eles eram carregados positivamente e se<br />
moviam a uma velocidade apreciável, embora a uma fração da<br />
velocidade da luz. Essas partículas podiam atravessar gases e finas<br />
barreiras sólidas.<br />
Testes posteriores mostraram que a cada 8 mil partículas alfa lançadas<br />
numa lâmina de ouro de espessura micrométrica, uma ricocheteava.<br />
Rutherford descobriu, então, que os átomos têm toda a sua massa<br />
concentrada num minúsculo núcleo carregado positivamente, com o<br />
resto de seu volume constituído por uma nuvem de elétrons, que<br />
orbitam o núcleo.<br />
A maior parte de um átomo seria, pois, constituída de espaço vazio.<br />
Quando partículas alfa passam através de um sólido, elas passam pelas<br />
partes vazias dos átomos. As cargas positivas dos núcleos podem,<br />
ocasionalmente, desviá-las de seu caminho e fazer com que alguma<br />
delas colida diretamente com um núcleo. Neste caso, ela ricocheteará.<br />
Rutheford também deduziu que todo elemento químico conteria um
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número específico de prótons, com carga elétrica positiva. A quantidade<br />
de prótons, porém, variaria. Se o núcleo contivesse prótons em<br />
demasia, ou de menos, tornar-se-ia instável e radioativo.<br />
Em continuidade, Rutheford utilizou um gerador capaz de acelerar<br />
núcleos de átomos de hidrogênio pesado, ou deutério, contra uma fina<br />
lâmina de lítio. O resultado foi a fusão nuclear. Sempre que um núcleo<br />
de deutério colidia de frente com um núcleo de lítio, os dois se fundiam<br />
antes de se partirem em dois átomos de hélio, movendo-se em direções<br />
opostas a velocidades imensas.<br />
Na fusão de dois átomos de deutério, por outro lado, detectou-se uma<br />
emissão de prótons rápidos com energia de até 20 mil eletrovolts. Em<br />
outras palavras, a fusão de dois núcleos atômicos, sendo um de deutério<br />
e outro de lítio, levaria à transformação deles em dois átomos de hélio.<br />
E a fusão de dois átomos de deutério levaria à transformação deles em<br />
prótons.<br />
Essas experiências e conclusões de Rutheford apontaram para vários<br />
aspectos inerentes à dialética. Primeiro, a divisibilidade. O átomo, como<br />
tudo mais, era divisível. Depois, a existência de opostos internos. Isto é,<br />
núcleo, com carga elétrica positiva, e elétrons, com carga elétrica<br />
negativa. Além disso, a transformação. Ou seja, no choque e fusão de<br />
dois núcleos atômicos, ou de dois átomos, a produção de dois novos<br />
átomos, diferentes dos anteriores, ou de prótons e energia.<br />
Em 1932, Chadwick descobriu que o núcleo continha outra partícula,<br />
chamada nêutron, com a mesma massa do próton, mas sem carga<br />
elétrica. Mais tarde se descobriu que os prótons e os nêutrons, quando<br />
colidiam entre si ou com outras partículas idênticas, davam surgimento<br />
a partículas ainda menores, que foram chamadas quarcks e existem em<br />
inúmeras e diferentes variedades.<br />
Na fissão nuclear, obtida apenas em 1938, o mesmo processo dialético<br />
se mostrou presente. Lisa Meisner disparou nêutrons contra o núcleo de<br />
átomos de urânio, constatando que um impacto direto no núcleo podia<br />
partir o átomo de urânio em duas partes quase iguais. Ela presumiu que<br />
as metades, ambas com cargas elétricas positivas, deveriam repelir-se<br />
mutuamente. Como uma gota líquida, elas saltariam em pedaços em<br />
grande velocidade. Mais intrigante do que isso foi o fato de que a divisão<br />
do núcleo produziu também um ou mais nêutrons, que poderiam<br />
chocar-se com outros núcleos, fazendo com que eles, por sua vez, se<br />
dividissem, numa reação em cadeia.<br />
Uma quantidade de nêutrons, com qualidade determinada, disparada
A Dialética da História Volume 3: Caminhos das Ciências<br />
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contra um núcleo de um átomo, também com qualidade determinada e<br />
diferente, causou a divisão do átomo em metades iguais (portanto<br />
diferentes do átomo original). Estas metades se transformaram, logo<br />
depois, em um ou mais nêutrons e núcleos, diferentes dos nêutrons e<br />
núcleos originais, liberando energia. Num processo sucessivo de<br />
transformações, nêutrons chocaram-se com outros núcleos, tornando-se<br />
nêutrons e núcleos diferentes e energia, até se esgotarem. A divisão e a<br />
transformação de quantidades e qualidades determinadas em novas<br />
divisões e em outras quantidades e qualidades, aspectos inseparáveis<br />
do processo dialético, são evidentes.<br />
O grave nessa reação em cadeia, na qual um único grama de urânio<br />
pode liberar energia equivalente à queima de 3 toneladas de carvão,<br />
transformando-se num processo gigantesco de explosão, como a das<br />
bombas nucleares, apenas mostra que os movimentos da natureza<br />
também podem conduzir à destruição.<br />
Outra das vantagens das teorias atômicas de Rutherford é que elas<br />
consideravam equivalentes as características elétricas e químicas dos<br />
átomos. Assim, no momento em que se verificou que os elétrons<br />
giravam a altas velocidades em torno do núcleo, deduziu-se que eles<br />
emitiam ondas eletromagnéticas, embora não se soubesse como eles<br />
reagiam à perda de energia causada por sua própria radiação.<br />
Isto levou Niels Bohr (1885-1962) a dizer que as órbitas dos elétrons<br />
estavam separadas por um nada energético. William Campbell (1862-<br />
1938), por sua vez, afirmou que, quando um sistema mudava de alfa<br />
para beta de maneira descontínua, não existiria nada intermediário<br />
entre os dois estados. Filosoficamente, esse argumento é idêntico ao<br />
utilizado por Zenão de Eléia, contra os dialéticos gregos.<br />
Zenão dizia que era um absurdo supor algo cuja existência não podia<br />
ser provada. Nada muito diferente do que Bohr e Campbell fizeram, ao<br />
negar a continuidade do movimento, por considerarem inexistentes os<br />
estados intermediários. Bohr dizia que o espaço que separa duas órbitas<br />
não teria realidade energética porque a radiação não seria determinada<br />
por um movimento de próximo a próximo, mas por uma função dos<br />
limites desse movimento. Deduziu então que a energia de uma órbita<br />
saltaria para outra órbita, por terem valores diferentes.<br />
Bohr talvez não tenha se dado conta de que, se isso fosse real, nos<br />
conduziria à conclusão de que o mundo atômico e o mundo terrestre<br />
não teriam qualquer influência entre si. O que deve ser um absurdo, a<br />
partir do fato de que todos os corpos terrestres, inclusive os corpos<br />
vivos, são constituídos de átomos.
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Os físicos explicam a corrente elétrica como um fluxo de elétrons<br />
através de uma substância, saltando de um átomo para outro. A cada<br />
salto, eles perderiam um pouco de energia, na forma de calor. Todas as<br />
substâncias, mesmo as melhores condutoras, como o cobre e os chips<br />
de silício, apresentam alguma resistência ao movimento dos elétrons,<br />
aquecendo-se. Além disso, alguns físicos acreditavam que os elétrons,<br />
ao oscilarem de um lado para o outro, emitiam energia na forma de<br />
ondas eletromagnéticas.<br />
No entanto, a teoria de que os elétrons, dentro dos átomos, oscilariam<br />
com enormes freqüências, irradiando toda a energia numa curta fração<br />
de tempo e caindo sobre o núcleo, parece não ter se mostrado real. O<br />
próprio Bohr descobriu que um elétron parece não perder energia<br />
continuamente, nem espiralar em direção ao núcleo do átomo. O elétron<br />
parece ganhar ou perder energia de forma escalonada, sendo<br />
aprisionado numa determinada órbita do núcleo a cada vez. Durante o<br />
tempo em que permanecer nessa órbita, ele não emitirá radiação.<br />
Foi preciso esperar mais de 20 anos para que o químico Linus Pauling,<br />
em 1930, dissesse que esse comportamento dos elétrons podia explicar<br />
como os átomos se ligavam para formar moléculas. Ou seja, isto se<br />
daria quando um átomo preenchesse uma órbita incompleta,<br />
compartilhando-a com um elétron de outro átomo. Em outras palavras,<br />
esse fato explicaria como a combinação de dois átomos diferentes<br />
produzia, dialeticamente, um corpo com estrutura e propriedades<br />
diferentes de cada um de seus formadores.<br />
Algo idêntico ocorreu com as experiências relacionadas com os materiais<br />
supercondutores. Em 1908, o físico holandês Onnes, ao estudar o<br />
comportamento de materiais a temperaturas extremamente baixas,<br />
havia conseguido liquefazer gás hélio comprimido a menos 269 graus<br />
centígrados. Nessa situação, os átomos quase deixavam de vibrar.<br />
Onnes mergulhou então várias substâncias no hélio líquido e, entre os<br />
experimentos realizados, tentou passar uma corrente elétrica através de<br />
vários metais. Para sua surpresa, a resistência elétrica do mercúrio<br />
desaparecia, de forma abrupta. Depois, verificou que vários outros<br />
metais exibiam a mesma supercondutividade a temperaturas<br />
extremamente baixas.<br />
No entanto, foram necessários outros 50 anos para descobrir que, num<br />
supercondutor, os elétrons se organizam em pares, ou pares de Cooper,<br />
e se comportam como partículas isoladas no nível mais baixo de<br />
energia. No par de Cooper não acontece a propriedade do spin, isto é,<br />
da partícula girar em torno de seu próprio eixo, o que dá à parelha de<br />
elétrons a capacidade de ricochetear entre os átomos, sem dar ou
A Dialética da História Volume 3: Caminhos das Ciências<br />
15. Átomo dividido<br />
receber qualquer energia. Eles se movem juntos através do<br />
supercondutor, passando direto pelos átomos, ao invés de saltarem de<br />
um em um.<br />
Além disso, a temperaturas extremamente baixas pode ocorrer um<br />
aglomerado de átomos. Eles se comportam como se fossem um único<br />
átomo, de tamanho imenso, o chamado condensado de Bose-Einstein. O<br />
físico indiano Nath Bose tomou por base a teoria de Einstein de que<br />
todos os átomos podem ser descritos pelas mesmas equações<br />
matemáticas que podemos usar para descrever uma onda. Conforme<br />
um átomo vai esfriando, pode-se descrevê-lo como se estivesse<br />
aumentando seu comprimento de onda.<br />
A temperaturas extremamente baixas, por exemplo, menos 273 graus<br />
centígrados, o chamado zero absoluto, dois ou mais átomos adjacentes<br />
podem ter comprimentos de onda tão grandes que se sobrepõem,<br />
causando uma interferência mútua. Por fim, as ondas podem fundir-se,<br />
fazendo com que os átomos fiquem com as mesmas propriedades e<br />
comportamentos, não podendo mais ser descritos separadamente. Nos<br />
anos 1990, foram realizadas experiências para testar a teoria do<br />
condensado, que se comprovou certa, sendo possível que isso tenha<br />
implicações na fabricação de supercondutores.<br />
Porém, não passou pelas cabeças de Einstein e Bose, nem dos<br />
experimentadores que testaram a teoria do condensado, que em<br />
temperaturas extremamente baixas, os átomos devem fundir-se num<br />
novo átomo, e que este novo átomo ganha novas propriedades, novo<br />
comportamento e novo comprimento de onda. Parece não lhes passar<br />
pela cabeça que os átomos tem variabilidade, e que a temperatura<br />
desempenha papel importante nesse processo.<br />
Se o calor se reduz, reduzindo o movimento, a gravidade tende a<br />
crescer, superar a repulsão e causar a fusão dos pólos da partícula. Em<br />
sentido inverso, se o calor se eleva e, com isso, o movimento se<br />
acelera, a repulsão tende a superar a gravidade. O pólo negativo da<br />
partícula é expelido, podendo se unir a outra partícula, que será<br />
transformada em uma partícula de outro tipo. Ao mesmo tempo, o pólo<br />
positivo da partícula original pode se anular e desaparecer.<br />
O entendimento desses movimentos internos dos átomos ainda está<br />
longe do consenso científico. O caso de Max Planck, que cunhou o termo<br />
mecânica quântica, é emblemático da perplexidade em que se<br />
encontravam os físicos, ainda na década de 1930. Ele simplesmente não<br />
acreditava na existência dos átomos. Mas, para estudar como os objetos<br />
brilham quando aquecidos (aquilo que os físicos chamam de radiação do
A Dialética da História Volume 3: Caminhos das Ciências<br />
15. Átomo dividido<br />
corpo negro), teve que admitir que a matéria é composta de átomos.<br />
Sem admitir a presença dos átomos não haveria como explicar que, à<br />
medida que a temperatura aumenta, freqüências de luz cada vez mais<br />
altas são acrescidas ao brilho, começando do infravermelho, passando<br />
para o vermelho, depois para laranja, amarelo, verde, azul, violeta, até<br />
chegar ao ultravioleta. Isto acontece porque, quando um objeto é<br />
aquecido, a quantidade de energia recebida pelos átomos que o<br />
compõem cresce passo a passo.<br />
Os átomos absorvem uma faixa de níveis discretos de energia. Para<br />
irradiá-la e perder temperatura, devem descer a escala passo a passo,<br />
emitindo luz em determinadas freqüências a cada passada. Essas<br />
pequenas porções discretas, que Planck chamou quanta, foram tidas<br />
como um fator invariável, uma constante, a constante de Planck, sendo<br />
representada em sua fórmula matemática pela letra grega h.<br />
Deduzindo-se que a energia atue por meio de quantidades discretas, ou<br />
quanta, significando a menor mudança possível em qualquer coisa, tudo<br />
deveria ocorrer de maneira semelhante. No entanto, como todas as<br />
constantes, a constante de Planck só é válida sob determinadas<br />
condições. Se tais condições mudarem, como no caso da liberação de<br />
energia das bombas atômicas e de hidrogênio, aquela constante não<br />
tem aplicação, do mesmo modo que a constante da gravidade terrestre<br />
não tem aplicação na Lua, e a constante da fervura ao nível do mar não<br />
tem aplicação a altas altitudes ou a grandes pressões.<br />
Essa é a contradição que a mecânica e a noção de invariabilidade geram<br />
ao procurar explicar fenômenos com alta taxa de mudança. O que não<br />
exclui a possibilidade de que, do mesmo modo que a fórmula de<br />
Ptolomeu deu conta, por um bom tempo, das medidas planetárias, a<br />
formula matemática de medida da energia contida num fóton, dada pela<br />
equação E = hv, onde E é energia, h é a constante de Planck e v a<br />
freqüência de cor da luz, seja útil dentro dos limites terrestres e<br />
planetários em que nos encontramos.<br />
Por essa fórmula, quanto mais alta a posição da luz no espectro, mais<br />
energia cada fóton carrega. Na luz ultravioleta, um fóton carrega<br />
energia suficiente para que, atingindo um elétron, possa extraí-lo de seu<br />
átomo original. O fato do fóton, ao atingir um elétron, extraí-lo de seu<br />
átomo original, transformando tal átomo em outro átomo, ou em<br />
diferentes partículas, necessitando de outra fórmula que explique a<br />
mudança, parece não interessar. Afinal, para explicá-lo seria necessário<br />
saltar da física e ficar num espaço intermediário entre ela e a química.
A Dialética da História Volume 3: Caminhos das Ciências<br />
15. Átomo dividido<br />
Tanto que Victor de Broglie, nos anos 1920, ao demonstrar que<br />
qualquer tipo de partícula, seja um elétron, um próton ou mesmo um<br />
átomo, se comportaria também como uma onda, apenas se interessou<br />
no comportamento mecânico da partícula como onda. Porém, como é<br />
possível que alguma coisa se comporte, ao mesmo tempo, como onda e<br />
partícula? Alguns físicos querem resolver essa questão pedindo que não<br />
se tente visualizar essas coisas, mas apenas conferindo os resultados<br />
dos experimentos com as equações teóricas, embora Feymann sempre<br />
pedisse que se dessem exemplos concretos para explicar as equações<br />
teóricas.<br />
Essas dificuldades teóricas e práticas, diante da existência de partículas<br />
menores do que os átomos, com movimentos aparentemente erráticos,<br />
levaram Werner Heisenberger a formular, em 1926, uma teoria<br />
matemática, a mecânica matricial, visando a aplicação da teoria<br />
quântica ao comportamento dos elétrons. Em 1927, Erwin Schrondinger<br />
apresentou sua teoria da mecânica ondulatória, que chegava aos<br />
mesmos prognósticos de Heisenberger.<br />
Segundo este, seria impossível explicar os movimentos dos átomos e<br />
elétrons porque só se poderia explicar coisas possíveis de serem<br />
observadas num experimento. Ninguém jamais poderia definir a posição<br />
exata e a velocidade precisa de um elétron, ou de qualquer outra<br />
partícula, simultaneamente. Disso resultou seu princípio da incerteza,<br />
estabelecendo que nunca se poderá conhecer o presente com suficiente<br />
exatidão, o que nos impedirá de fazer qualquer previsão sobre o futuro.<br />
Portanto, com base nesse princípio da incerteza, que certamente seria<br />
apoiada por Zenão de Eléia, jamais se deveria tentar explicar os buracos<br />
negros, as estrelas de nêutrons, e as supernovas, porque são<br />
impossíveis de serem observadas num experimento. Ou até mesmo<br />
haver suposto que a Terra era arredondada, numa época em que não se<br />
podia fazer uma volta ao mundo, ou observar o planeta de um satélite<br />
artificial.<br />
Heisenberger e alguns físicos da atualidade parecem desdenhar o fato<br />
de que uma teoria científica precisa ter prognósticos claros que possam<br />
ser testados, mas estes testes também podem ser feitos por meios<br />
indiretos, como esperar um eclipse lunar para demonstrar que a luz faz<br />
um desvio quando encontra um corpo pela frente.<br />
Embora alguns físicos apelem para o princípio da incerteza toda vez que<br />
não conseguem explicar o comportamento de alguma partícula, Paul<br />
Dirac preferiu deduzir que deveria existir uma partícula jamais vista<br />
antes, igual ao elétron, mas eletricamente oposta. Se esse elétron
A Dialética da História Volume 3: Caminhos das Ciências<br />
15. Átomo dividido<br />
positivo colidisse com um elétron normal, os dois se aniquilariam<br />
mutuamente, transformando suas minúsculas massas num lampejo de<br />
radiação, com energia de acordo com a equação E = mc2, o que foi<br />
confirmado em 1932.<br />
Em outras palavras, Dirac também poderia ter dito que o elétron é<br />
formado de dois aspectos opostos, cujo movimento de interação mútua<br />
pode levar à transformação de ambos em energia. Anaximandro ou<br />
Heráclito, se vivos fossem, talvez dissessem que ele descobrira a<br />
contradição interna do elétron. Mas Dirac preferiu chamar o elétron<br />
positivo de pósitron, o que dará na mesma. Mais tarde, Emílio Segrè<br />
descobriu o anti-próton e vários outros físicos propuseram antipartículas<br />
para todas as partículas descobertas.<br />
Ou seja, é muito difícil estudar as partículas sem levar em conta a<br />
presença de seus opostos. Isto é, sem usar a dialética como<br />
instrumento de pesquisa. É levando isso em conta que vamos tentar nos<br />
aproximar do início dos tempos, ou do início da história do universo<br />
atual.