O Príncipe, o Conselho de Estado e o Conselheiro na ... - LusoSofia
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Para celebrar a Partilha 13<br />
IV<br />
Dir-se-ia que foi necessário esperar por 1559 – ano em que a<br />
Igreja con<strong>de</strong>nou oficialmente O <strong>Príncipe</strong> <strong>de</strong> Maquiavel, incluindoo<br />
no primeiro índice <strong>de</strong> livros proibidos, publicado por Paulo VI –<br />
para que os autores católicos <strong>de</strong> “espelhos <strong>de</strong> <strong>Príncipe</strong>s” da Contra-<br />
Reforma se vissem <strong>na</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ao alegado “maquiavelismo”<br />
<strong>de</strong> Maquiavel contraporem um assim chamado “tacitismo” – um<br />
“maquiavelismo” dito mitigado, temperado, envergonhado (casos<br />
<strong>de</strong> Scipione Ammirato e <strong>de</strong> Trajano Boccalini <strong>na</strong> Itália e <strong>de</strong> Baltasar<br />
Álamos <strong>de</strong> Barrientos e <strong>de</strong> Diego Saavedra Fajardo <strong>na</strong> Espanha).<br />
De referir que os auto-proclamados “tacitistas”, em boa<br />
parte oriundos da Companhia <strong>de</strong> Jesus, não são professores ou<br />
académicos, como seria talvez <strong>de</strong> esperar, mas funcionários políticos<br />
da Igreja consagrados ao mundo: pregadores, conselheiros,<br />
confessores.<br />
Assim, talvez a norma universal do “tacitismo” como <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>dor<br />
comum do “anti-maquiavelismo” daqueles tempos se <strong>de</strong>ixe,<br />
afi<strong>na</strong>l, entrever <strong>na</strong> i<strong>de</strong>ia segundo a qual os preceitos <strong>de</strong> Maquiavel<br />
se aplicam, mas não se <strong>de</strong>claram, ou seja, certas coisas fazem-se,<br />
mas não se dizem – e menos ainda se vertem em letra impressa para<br />
que possam ser divulgados e ensi<strong>na</strong>dos. A verda<strong>de</strong>, como observa<br />
Gabriel Naudé, é que “embora os escritos <strong>de</strong> Maquiavel se encontrem<br />
proibidos, a sua doutri<strong>na</strong> não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser praticada por esses<br />
mesmos que a censuram e proíbem” 23 . Dir-se-ia até que quanto<br />
mais indig<strong>na</strong>damente renegam o seu nome tanto mais acolhem os<br />
seus ensi<strong>na</strong>mentos e levam à prática as suas instruções.<br />
A propósito do carácter flutuante e eminentemente estratégico<br />
do termo “maquiavelismo”, recor<strong>de</strong>m-se, aqui, as palavras certeiras<br />
<strong>de</strong> Carl Schmitt em O conceito do político: “Todos os conceitos,<br />
representações e palavras políticas têm um sentido polémico; visam<br />
um antagonismo concreto e estão ligados a uma situação concreta<br />
23 Cf. Considérations politiques sur les coups d’État, 1639.<br />
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