12.04.2013 Views

Canindé - Museu de Arqueologia de Xingó MAX-UFS

Canindé - Museu de Arqueologia de Xingó MAX-UFS

Canindé - Museu de Arqueologia de Xingó MAX-UFS

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Canindé</strong><br />

Revista do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> <strong>de</strong> <strong>Xingó</strong>


<strong>Canindé</strong><br />

Revista do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> <strong>de</strong> <strong>Xingó</strong><br />

Nº 7 junho/2006<br />

ISSN 1807-376X<br />

EdIção dIgItal: ISSN 1809-8975


<strong>Canindé</strong><br />

Revista do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> <strong>de</strong> <strong>Xingó</strong><br />

editor<br />

José Alexandre Felizola Diniz <strong>MAX</strong>, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe<br />

CoMiSSÃo editoriAL<br />

Albérico Queiroz UNICAP<br />

Ana Lúcia Nascimento UFRPe<br />

André Prous UFMG<br />

Aracy Losano Fontes <strong>UFS</strong><br />

Beatriz Góes Dantas <strong>UFS</strong><br />

Cláudia Alves Oliveira UFPe<br />

Emílio Fogaça UCG<br />

Gilson Rodolfo Martins UFMS<br />

José Alexandre F. Diniz Filho UFG<br />

José Luiz <strong>de</strong> Morais MAE/USP<br />

Josefa Eliane <strong>de</strong> S. Pinto <strong>UFS</strong><br />

Márcia Angelina Alves MAE/UDP<br />

Maria Cristina <strong>de</strong> O. Bruno MAE/USP<br />

Marisa Coutinho Afonso MAE/USP<br />

Pedro Ignácio Schmitz IAP/RS<br />

Sheila Mendonça <strong>de</strong> Souza FIOCRUZ<br />

Suely Luna UFRPe<br />

Tânia Andra<strong>de</strong> Lima M.N/UFRJ<br />

Pe<strong>de</strong>-se permuta<br />

Ou <strong>de</strong>man<strong>de</strong> l’échange<br />

We ask for exchange<br />

Pe<strong>de</strong>-se canje<br />

Si richie<strong>de</strong> lo scambo<br />

Mann bitted um austausch<br />

Home Page: www.max.org.br<br />

E-mail: max@ufs.br<br />

A revisão <strong>de</strong> linguagem, as opiniões e os conceitos emitidos<br />

nos trabalhos são <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> dos respectivos autores.


editoriAL<br />

Com este sétimo número <strong>de</strong> sua revista CANINDÉ, o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Xingó</strong> presta uma homenagem póstuma ao Prof. Dr. Christian<br />

Simon, da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Genebra, seu <strong>de</strong>stacado colaborador.<br />

O trabalho do Prof. Simon, em co-autoria com Olívia Alexandre<br />

<strong>de</strong> Carvalho, publicado neste número, constitui uma pequena mostra<br />

do longo e árduo esforço dispendido no estudo da necrópole <strong>de</strong> Kerma,<br />

Sudão, preocupação constante nos últimos anos <strong>de</strong> sua vida.<br />

Ao tempo em que lamenta o <strong>de</strong>saparecimento do emérito pesquisador<br />

em plena ativida<strong>de</strong> científica, o <strong>MAX</strong> reconhece, <strong>de</strong> público, a<br />

sua contribuição para o <strong>de</strong>senvolvimento dos estudos antropológicos na<br />

região <strong>de</strong> <strong>Xingó</strong>.


SuMário<br />

Editorial .................................................................................................. 5<br />

ArtigoS<br />

- UM OBJETO LÍTICO. ALÉM DA FORMA, A ESTRUTURA ....... 11<br />

Emílio Fogaça<br />

- LEVALLOIS: UMA CONSTRUÇÃO VOLUMÉTRICA, VÁRIOS<br />

MÉTODOS, UMA TÉCNICA .......................................................... 37<br />

Eric Boëda<br />

- CATALOGUE DE LA COLLECTION DES OSSEMENTS<br />

HUMAINS DE LA NECROPOLE DE KERMA (SOUDAN),<br />

PRESENTS AU DEPARTEMENT D’ANTHROPOLOGIE ET<br />

D’ECOLOGIE DE L’UNIVERSITÉ DE GENèVE .......................... 79<br />

olivia alExandrE dE carvalho<br />

christian simon<br />

- AS INDúSTRIAS LÍTICAS DOS SÍTIOS INHAZINHA E<br />

RODRIGUES FURTADO, MUNICÍPIO DE PERDIZES/MG: UMA<br />

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DAS CADEIAS OPERATóRIAS E<br />

DOS ESTILOS TECNOLóGICOS ................................................. 105<br />

João caBral dE mEdEiros<br />

- ATRIBUTOS TECNOLóGICOS DA INDúSTRIA LÍTICA DO<br />

SÍTIO BARRAGEM, DECAPAGENS 07 A 13 – ESTUDO<br />

PRELIMINAR PARA RECONSTRUÇÃO DAS CADEIAS OPERA-<br />

TóRIAS LÍTICAS NA ÁREA ARQUEOLóGICA DE XINGó – ALA-<br />

GOAS ............................................................................................... 121<br />

clEonicE vErgnE<br />

marcElo FagundEs<br />

- CONJUNTOS ARTEFATUAIS CERÂMICOS DO SÍTIO<br />

REZENDE, CENTRALINA, MINAS GERAIS: AS<br />

ESCOLHAS CULTURAIS NA PRÉ-HISTóRIA ........................... 147<br />

marcElo FagundEs


- CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E QUÍMICA DE<br />

AMOSTRAS DE CERÂMICA PRÉ-HISTóRICA DO SÍTIO DE<br />

ÁGUA LIMPA, MONTE ALTO, SÃO PAULO .............................. 187<br />

Evaristo PErEira goulart<br />

márcia angElina alvEs<br />

suzana césar gouvEia FErnandEs<br />

casimiro sEPúlvEda munita<br />

rosEmEirE PEtrauskas Paiva<br />

- iNStruÇÕeS PArA oS AutoreS ........................................ 197


ArtigoS


FagundEs, marcElo 147<br />

CONJUNTOS ARTEFATUAIS CERÂMICOS DO SÍTIO<br />

REZENDE, CENTRALINA, MINAS GERAIS: AS<br />

ESCOLHAS CULTURAIS NA PRÉ-HISTóRIA *<br />

ABStrACt<br />

marcElo FagundEs **<br />

This paper presents the data about cultural and technological attributes<br />

of the ceramic material culture show up in the archaeological<br />

excavations in the Rezen<strong>de</strong> site, Centralina, Minas Gerais state. Our<br />

intention was to present the main data about ceramic technology (production,<br />

use, and discard) to the reconstruct the operational sequence<br />

of this material culture, and to un<strong>de</strong>rstand the cultural sequences in<br />

this archaeological area.<br />

Palavras-chave<br />

Ceramic Technology – Operational Sequences – Style<br />

* O presente artigo é parte do Capítulo 06 da Dissertação <strong>de</strong> Mestrado intitulada<br />

“Sítio Rezen<strong>de</strong>: das ca<strong>de</strong>ias operatórias ao estilo tecnológico – um estudo <strong>de</strong> dinâmica<br />

cultural no médio vale do Paranaíba, Centralina, Minas Gerais”, sob orientação da<br />

Profa. Dra. Márcia Angelina Alves e <strong>de</strong>fendida no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> e Etnologia<br />

da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

** Arqueólogo do Laboratório <strong>de</strong> Pesquisas do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> <strong>de</strong> <strong>Xingó</strong> (<strong>MAX</strong>/<br />

<strong>UFS</strong>). Doutorando MAE/USP. E-mail: fagun<strong>de</strong>s_fgs@yahoo.com.br<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


148<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

iNtroduÇÃo<br />

Como atestado em outros trabalhos (Fagun<strong>de</strong>s, 2004b, 2005), o<br />

sítio Rezen<strong>de</strong>, localizado no curso médio do rio Paranaíba, município<br />

<strong>de</strong> Centralina, Minas Gerais; é um assentamento a céu aberto, <strong>de</strong>positado<br />

em um chapadão tabular a aproximadamente 400m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>,<br />

coor<strong>de</strong>nadas 22K0687915/ 7948863; circundado pelos rios Paranaíba (a<br />

noroeste) e Pieda<strong>de</strong> (norte, noroeste e leste).<br />

Foi escavado por Alves e equipe entre os anos <strong>de</strong> 1988 a 1992, utilizando<br />

o método topográfico-etnográfico <strong>de</strong> superfícies amplas por níveis<br />

naturais, <strong>de</strong>senvolvido por Leroi-Gourhan, do Collège <strong>de</strong> France (1972) e<br />

adaptado ao solo tropical por Pallestrini (1975), no qual apresenta como<br />

fulcro compreen<strong>de</strong>r as estruturas arqueológicas em sua diversida<strong>de</strong>, ou<br />

não, por meio da evi<strong>de</strong>nciação e estudo dos remanescentes culturais na<br />

dimensão tempo, espaço, cultura e socieda<strong>de</strong> (Cf. Alves, 2002b).<br />

Até o presente momento, dos sítios componentes do projeto Quebra-<br />

Anzol, coor<strong>de</strong>nado por Alves, é o que ocupa a maior área pesquisada,<br />

perfazendo uma superfície <strong>de</strong> 20.200m 2 , dividida em duas zonas <strong>de</strong><br />

escavação: a zona 01 (Z 1 ), com 1500m 2 e a zona 02 (Z 2 ), com 18.720m 2 .<br />

Este artigo trata da cultura material cerâmica evi<strong>de</strong>nciada nas<br />

escavações <strong>de</strong>ste sítio que apresentou 671 vestígios distribuídos entre<br />

a Zona 01 (Z 1 ) e Zona 02 (Z 2 ).<br />

Na campanha <strong>de</strong> 1988, Z 1 , foi coletado o maior número <strong>de</strong> peças,<br />

todas contextualizadas, principalmente na mancha 05, on<strong>de</strong> foram evi<strong>de</strong>nciados<br />

cento e vinte e nove fragmentos, a saber:<br />

· M 5 T 6 – vinte e quatro fragmentos, três bordas, três bojos relacionados<br />

aos vasos geminados, totalizando trinta peças;<br />

· M 5 T 5 – setenta e dois fragmentos, <strong>de</strong>zenove bordas, oito bojos,<br />

totalizando noventa e nove peças.<br />

A tabela 1 apresenta a localização espacial dos fragmentos cerâmicos<br />

da Z 1 , 1988.<br />

Na campanha <strong>de</strong> 1989, também na Z 1, foram evi<strong>de</strong>nciados cento e<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 149<br />

Tabela 01 – Localização espacial dos vestígios cerâmicos, 1988 (Z 1 )<br />

T5 P1 DEC CS M3 M1 M5 M3 M4 M3 M5 M2 M1 T3 Total<br />

SUP T2 T6 T6 T4 T3 T5 T3 T1 SUP<br />

Frag 10 06 09 59 01 24 24 06 35 27 72 06 — — 279<br />

Bordas — — 03 02 — 06 03 — 02 05 19 — 04 02 46<br />

Bojos — — 04 — — 04 03 02 02 08 08 — 07 — 38<br />

Base — 01 — — — — — — — — — — — — 01<br />

TOTAL 10 06 16 29 01 34 30 08 39 40 99 06 11 02 364<br />

setenta e sete fragmentos. A mancha 03 foi a área que apresentou maior<br />

número <strong>de</strong> vestígios cerâmicos <strong>de</strong>sta campanha, sessenta e seis no total,<br />

distribuídos em cinqüenta e seis fragmentos, oito bordas e dois bojos. A<br />

tabela 2 apresenta a localização espacial das <strong>de</strong>mais peças.<br />

O último conjunto contextualizado 1 foi evi<strong>de</strong>nciado na campanha<br />

Tabela 02 – Localização espacial dos vestígios cerâmicos, 1989 (Z 1 )<br />

Coleta <strong>de</strong> M3 DEC2 T10 T8 M6 P1 M2 M6T6<br />

TOTAL<br />

Frag<br />

Superfície<br />

33 56 17 07 11 07 01 12 144<br />

Bordas 12 08 01 — 03 — — — 24<br />

Bojos 04 02 01 — 02 — — — 09<br />

Base — — — — — — — — —<br />

<strong>de</strong> 1992, Z 2 , apresentando <strong>de</strong>zenove fragmentos, a saber:<br />

· M1 – três fragmentos e uma borda;<br />

· M2 – sete fragmentos e duas bordas;<br />

· M3 – cinco fragmentos e uma borda.<br />

BASe teÓriCA<br />

1 O conjunto cerâmico do sítio Rezen<strong>de</strong> ainda conta com cento e onze peças coletadas<br />

na campanha <strong>de</strong> 1989, Z 2 .<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


150<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

As abordagens que utilizamos para o estudo do conjunto artefatual<br />

cerâmico do sítio Rezen<strong>de</strong>, Centralina, Minas Gerais; compreen<strong>de</strong> que<br />

as técnicas <strong>de</strong> manufatura <strong>de</strong> um dado artefato <strong>de</strong>vem ser vistas em<br />

uma perspectiva diacrônica, permitindo que todas as etapas das ca<strong>de</strong>ias<br />

operatórias sejam compreendidas como produtos <strong>de</strong> escolhas culturais,<br />

vinculadas à organização social <strong>de</strong> um dado grupo (Dietler & Herbich,<br />

1989, 1998; Gosselain, 1998).<br />

Portanto, como assinalado por Dietler e Herbich :”(...) upon an approach<br />

to material style centered on the chaîne opératoire concept, and<br />

upon a rigorous examination of the link between objects and techniques<br />

in the context where they are generated, reproduced, and transformed”<br />

(Dietler & Herbich, 1998:244).<br />

Por esse viés, ao indicarmos (mesmo que hipoteticamente por<br />

meio da elaboração das possíveis escolhas efetuadas pelo (s) artesão<br />

(aos) pré-histórico) 2 , as etapas <strong>de</strong> produção e manufatura dos artefatos<br />

cerâmicos, tentamos compreen<strong>de</strong>r se há ou não um estilo tecnológico<br />

que caracterize a indústria cerâmica evi<strong>de</strong>nciada nas duas zonas <strong>de</strong><br />

escavação do sítio Rezen<strong>de</strong> (Z 1 e Z 2 ), ou seja, um estudo intra-sítio que<br />

preten<strong>de</strong> recolher dados importantes para a comparação inter-sítios em<br />

futuro próximo (Fagun<strong>de</strong>s, 2004b).<br />

Logo, estas regularida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser indicadas pela (Cf. Alves, 1982,<br />

1983/84, 1988, 1991, 1992, 1994, 1999):<br />

a) Procura e obtenção das fontes <strong>de</strong> matéria-prima e posterior<br />

escolha da argila;<br />

b) técnica <strong>de</strong> processamento da pasta cerâmica – que po<strong>de</strong> ser<br />

acompanhada pela adição <strong>de</strong> antiplástico e/ou da seleção dos grãos<br />

contidos naturalmente na pasta (ou mesmo as duas etapas, isto<br />

é, inicialmente a adição do tempero seguida pela coleta <strong>de</strong> grãos<br />

2 Justamente por isso, o material cerâmico passou por uma série <strong>de</strong> análises químicas<br />

<strong>de</strong> modo que pudéssemos compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a captação <strong>de</strong> matéria-prima argilosa<br />

ao comportamento técnico da produção cerâmica, vislumbrando a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar ou não possíveis regularida<strong>de</strong>s que, por sua vez, indicariam uma<br />

maneira específica <strong>de</strong> manufatura dos artefatos, isto é, as escolhas culturais que<br />

<strong>de</strong>notariam um estilo tecnológico <strong>de</strong>ntro dos pressupostos teóricos aqui adotados<br />

(Fagun<strong>de</strong>s, 2004b).<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 151<br />

<strong>de</strong> quartzo maiores que dificultariam o alisamento da peça) 3 .<br />

c) técnica <strong>de</strong> manufatura – ou seja, como os vasilhames foram<br />

confeccionados, se há regularida<strong>de</strong>s nas técnicas <strong>de</strong> montagem,<br />

tipos <strong>de</strong> queima, vinculados tanto às formas como ao uso <strong>de</strong>stes<br />

utensílios;<br />

d) técnicas <strong>de</strong> acabamento <strong>de</strong> superfície – ou seja, qual maneira<br />

o (s) artesão (aos) davam o acabamento à superfície dos<br />

vasilhames (alisamento, polimento, etc);<br />

e) Forma dos vasilhames – se há recorrência nas formas preferidas<br />

pelos artesãos;<br />

f) Processo <strong>de</strong> queima – verificar por meio das análises físico-químicas<br />

possíveis índices <strong>de</strong> temperatura <strong>de</strong> queima dos vasilhames<br />

e se foram queimados em fogueiras rasas;<br />

g) resistência mecânica – analisando espessura das pare<strong>de</strong>s, tipo<br />

<strong>de</strong> pasta (composição mineralógica), inferir sobre a resistência dos<br />

vasilhames, passo imprescindível, inclusive, para compreen<strong>de</strong>r<br />

o emprego social;<br />

h) <strong>de</strong>coração plástica e pintura – compreen<strong>de</strong>r se nessa categoria<br />

há diversida<strong>de</strong> ou regularida<strong>de</strong> nos artefatos evi<strong>de</strong>nciados<br />

pelas escavações;<br />

i) tipos <strong>de</strong> base, borda e lábio – da mesma forma compreen<strong>de</strong>r<br />

se há padrões que permitam compreen<strong>de</strong>r o comportamento<br />

técnico dos ceramistas;<br />

j) emprego social (função).<br />

Enfim, estas escolhas são <strong>de</strong>finidas em todas as etapas da ca<strong>de</strong>ia<br />

operatória 4 , não somente na <strong>de</strong>coração 5 , não havendo, ao nosso olhar, a<br />

distinção entre estilo e função, que como Sackett (1982, 1990), são vis-<br />

3 Como veremos o conjunto artefatual do Rezen<strong>de</strong> é composto majoritariamente por<br />

peças com alisamento excelente (lembrando polimento) e peças bem alisadas.<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


152<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

tos como indissociáveis, na medida em que ambos se originam <strong>de</strong> uma<br />

ampla <strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> significados culturais e perpetuados pelo sistema <strong>de</strong><br />

ensino-aprendizado.<br />

“Previously ignored or approached solely from a <strong>de</strong>terminist and<br />

evolutionist point of view (...) technical behaviors are now perceived<br />

as full social productions. They are shown to constitute culturally<br />

groun<strong>de</strong>d systems in which the choice of actors, raw material, tools,<br />

and processing mo<strong>de</strong>ls does not merely to natural pressures, but<br />

also to symbolic, religious, economical, and political ones “(Gosselain,<br />

1998:78).<br />

Outrossim, as escolhas efetuadas pelos ceramistas são <strong>de</strong> exímia<br />

importância na medida em que são <strong>de</strong>finidoras das características <strong>de</strong><br />

performance dos artefatos cerâmicos, pelo qual até o <strong>de</strong>sign é conduzido<br />

por elas (Cf. Schiffer & Skibo, 1997). Neste caso, as escolhas também são<br />

compreendidas <strong>de</strong>ntro dos fatores funcionais/utilitários, fundamentais<br />

para o bom <strong>de</strong>sempenho dos vasilhames para o emprego social em que<br />

foram projetados.<br />

Segundo Schiffer & Skibo (1997), as características <strong>de</strong> performance<br />

são fortemente influenciadas pelas proprieda<strong>de</strong>s formais do artefato e<br />

estes são <strong>de</strong>terminados pelas escolhas técnicas, isto é, estas últimas<br />

influenciam toda a vida útil dos utensílios cerâmicos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as reações<br />

químicas pós-manufatura à resistência mecânica. Logo, certas escolhas<br />

técnicas sobre as características formais dos artefatos po<strong>de</strong>m, inclusive,<br />

impor restrições tecnológicas (Schiffer & Skibo, 1997:32).<br />

“(...) though its influences on formal properties, a technical choice<br />

can affect performance characteristics in many activities along an<br />

artifact’s behavioral chain” (Schiffer & Skibo, 1997: 31).<br />

4 Ou como salientado por Schiffer & Skibo “(...) technical choices, it should be stressed<br />

encompass a; procurement and manufacture activities, whether carried out explicitly<br />

or implicitly, including those responsible for painted <strong>de</strong>coration”. (Schiffer & Skibo,<br />

1997:29).<br />

5 Como por muitos anos alguns membros da escola iconológica priorizaram (como<br />

assinalado por Sackett, 1982).<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 153<br />

Assim, nossa intenção é po<strong>de</strong>r compreen<strong>de</strong>r como foram executadas<br />

estas escolhas, indicando se há regularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro do processo técnico<br />

da produção cerâmica, isto é, nas etapas constitutivas das ca<strong>de</strong>ias operatórias<br />

(Cf. Balfet: 1991; Bar Yosef: 1992; van <strong>de</strong>r Leeuw, 1993; Cresswell:<br />

1996; Bleed: 2001; Dietler & Herbich: 1989, 1998), <strong>de</strong> modo que os dados<br />

aqui recolhidos e estudados possam cooperar para a compreensão <strong>de</strong> um<br />

estilo tecnológico regional, na medida em que nesta área há um projeto<br />

arqueológico acadêmico consolidado que ao longo dos anos vem buscando<br />

respostas sobre este comportamento técnico-cultural.<br />

“The crucial theoretical concept of such an approach is that of<br />

chaîne opératoire that is the ‘series of operations which transforms<br />

a substance from a raw material into a manufactured product’.<br />

Reconstructing such chaîne opératoire permits the investigator to<br />

come to grips with the variants, and thus with both their invariant<br />

backbones, those strategic components with cannot be modified<br />

without jeopardizing the entire chain, and with <strong>de</strong>grees of freedom<br />

and the choices which actors can afford themselves” (van <strong>de</strong>r<br />

Leeuw, 1993:240).<br />

Nossa opção teórica provém <strong>de</strong> análises dos atributos formais e<br />

tecnológicos dos artefatos, alicerçada em um ramo da <strong>Arqueologia</strong> que<br />

compreen<strong>de</strong> que as ações técnicas não são somente influenciadas pelo<br />

ecossistema em que se <strong>de</strong>senvolvem ou pelas restrições técnicas existentes<br />

em algumas etapas da ca<strong>de</strong>ia operatória, entretanto acreditando<br />

que não são os fatores ambientais que <strong>de</strong>terminam o comportamento<br />

tecnológico <strong>de</strong> um grupo, ao contrário, estes são originários <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m social (Cf. Lévi-Strauss, 1986, 1989), constituídos culturalmente<br />

e transmitidos <strong>de</strong> geração a geração, como salientado por Gosselain “(...)<br />

they result from particular learning processes and can thus be viewed as<br />

socially acquired disposition” (Gosselain, 1998:78).<br />

Logo, <strong>de</strong>vemos estar conscientes, como adverte Gosselain, que<br />

restrições ambientais, técnicas e funcionais existem e po<strong>de</strong>ndo reduzir<br />

as escolhas dos artesãos (e as próprias características <strong>de</strong> performance),<br />

refletindo na própria variabilida<strong>de</strong> estilística. Contudo, o mesmo<br />

autor salienta que as escolhas técnicas são resultantes <strong>de</strong> um processo<br />

<strong>de</strong> aprendizado, fortemente enraizado no sistema técnico e produtivo,<br />

não sendo interessante (ou prático) a procura <strong>de</strong> alternativas (ou seja,<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


154<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

estão vinculadas às matrizes sociais dos grupos), o que permite ao arqueólogo<br />

indicar filiações culturais para os itens materiais (Gosselain,<br />

1998:82).<br />

Segundo Robrahn Gonzalez (1996) os vasilhames cerâmicos como<br />

cultura material com emprego social aplicado às ativida<strong>de</strong>s do cotidiano,<br />

possuem, por outro lado, “(...) conteúdo sociológico [que] permite discutir<br />

sobre esferas não materiais da cultura” (Robrahn Gonzalez, 1996:85).<br />

Para tanto se faz necessária à observação <strong>de</strong> outras tantas variáveis<br />

fundamentais em estudos arqueológicos tais como tipo e tamanho dos<br />

assentamentos, distribuição espacial dos vestígios, associações e contextos<br />

arqueológicos, relação com os <strong>de</strong>mais vestígios materiais etc.<br />

Assim no que tange a análise das indústrias cerâmicas, sob nosso<br />

olhar, é fundamental a compreensão <strong>de</strong> cada sítio <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> contextos<br />

específicos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a reconstituição das seqüências operacionais e seus atributos<br />

tecnológicos, funcionais, morfológicos e <strong>de</strong>corativos, dos contextos<br />

ambientais (o que envolveria captação <strong>de</strong> matéria-prima, emprego social<br />

etc), do processo <strong>de</strong> armazenamento, do <strong>de</strong>scarte dos produtos não mais<br />

utilizados, do próprio contexto <strong>de</strong> formação dos sítios (processo <strong>de</strong> sedimentação,<br />

formação do registro arqueológico, processos pós-<strong>de</strong>posicionais<br />

etc). Enfim, compreen<strong>de</strong>r como ocorre a dinâmica cultural que envolveu<br />

o modo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> grupos ceramistas. Só então nos reportaremos a um<br />

estilo distintivo ao mo<strong>de</strong>lo proposto por Sackett (1990).<br />

Em sua tese <strong>de</strong> doutoramento sobre a cerâmica da Serra da Capivara,<br />

Piauí, Oliveira comparou os dados provenientes da análise do<br />

perfil 6 <strong>de</strong> três sítios, a saber: Al<strong>de</strong>ia da Queimada Nova, Barreirinho e<br />

Baixão da Serra Nova (Oliveira, 2000).<br />

Sua intenção foi compreen<strong>de</strong>r se a variabilida<strong>de</strong> (técnica, morfológica<br />

e <strong>de</strong>corativa) verificada nos registros dos referidos sítios tratava-se <strong>de</strong><br />

questões funcionais ou diferentes tradições tecnológicas, isto é, estilo.<br />

“Esse trabalho apresenta aspectos do perfil tecnológico dos grupos<br />

6 A autora <strong>de</strong>fine perfil como sendo “(...) uma estrutura caracterizada por elementos<br />

técnicos, morfológicos, funcionais e <strong>de</strong>corativos, organizados segundo regras <strong>de</strong><br />

hierarquia. Nesta perspectiva cada elemento <strong>de</strong>ve ser compreendido <strong>de</strong>ntro da sua<br />

relação com outros elementos e as formas com as quais se organizam entre si para<br />

i<strong>de</strong>ntificar um perfil” (Oliveira, 2000:100).<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 155<br />

ceramistas dos sítios arqueológicos Al<strong>de</strong>ia da Queimada Nova, Barreirinho<br />

e Baixão da Serra Nova. Discute as variações encontradas<br />

no processo <strong>de</strong> produção da cerâmica <strong>de</strong>sses sítios como indicadores<br />

não apenas <strong>de</strong> traços funcionais, mais <strong>de</strong> diferentes estilos tecnológicos<br />

que po<strong>de</strong>rão representar diferentes grupos étnicos” (Oliveira,<br />

2000:22).<br />

Segundo a autora, foi possível i<strong>de</strong>ntificar dois estilos distintos on<strong>de</strong><br />

as diferenças estariam centradas “(...) nos tipos <strong>de</strong> bordas, nas técnicas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>coração, nos tipos <strong>de</strong> pintura, nos padrões <strong>de</strong>corativos, nas espessuras<br />

das pare<strong>de</strong>s das vasilhas e possivelmente no tipo <strong>de</strong> queima” (Oliveira,<br />

2000:209), elementos fundamentais <strong>de</strong>ntro do processo <strong>de</strong> manufatura<br />

e futuras características <strong>de</strong> performance dos utensílios cerâmicos.<br />

Por sua vez, a variabilida<strong>de</strong> funcional <strong>de</strong>ve ser vista <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

cada um <strong>de</strong>sses estilos, o que permite afirmar que a cerâmica exibe<br />

características ímpares <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação da variabilida<strong>de</strong> em termos<br />

estilísticos. Sua pesquisa (que contou com alicerces teóricos concretos,<br />

embasados na literatura internacional sobre o tema), dá credibilida<strong>de</strong><br />

para os futuros trabalhos sobre o uso do conceito <strong>de</strong> estilo, abrindo a<br />

questão para novos <strong>de</strong>bates.<br />

De qualquer forma, percebemos que há possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se aplicar o<br />

conceito no registro cerâmico, <strong>de</strong>svinculando-se dos aspectos <strong>de</strong>corativos<br />

como os responsáveis pela distinção cultural, já que Oliveira <strong>de</strong>monstra<br />

empiricamente que a variabilida<strong>de</strong> está presente em todas as características<br />

do conjunto artefatual.<br />

Sendo assim, este artigo vislumbra a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />

a tecnologia cerâmica do registro do sítio Rezen<strong>de</strong> em termos estilísticos,<br />

mesmo que <strong>de</strong> forma preliminar, abrindo o caminho para os <strong>de</strong>mais<br />

projetos acadêmicos <strong>de</strong>senvolvidos por Alves e sua equipe.<br />

<strong>de</strong>MoNStrAÇÃo dA ABordAgeM - AtriButoS ForMAiS<br />

dA CerÂMiCA<br />

os conjuntos cerâmicos do Sítio rezen<strong>de</strong><br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


156<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

O sítio Rezen<strong>de</strong> apresentou 671 elementos cerâmicos evi<strong>de</strong>nciados<br />

em duas zonas <strong>de</strong> escavação, <strong>de</strong>vido à ação do arado e da gra<strong>de</strong> se encontravam<br />

extremamente fragmentados (Cf. tabela 03):<br />

Na Z 1 foram coletados 540 elementos cerâmicos em duas campanhas<br />

<strong>de</strong> escavações (1988 e 1989), conforme tabela 04:<br />

O maior conjunto cerâmico foi evi<strong>de</strong>nciado na Z 1 no ano <strong>de</strong> 1988,<br />

contanto com 364 peças (54,17% <strong>de</strong> toda cerâmica evi<strong>de</strong>nciada no Rezen-<br />

Tabela 03 – Vestígios cerâmicos<br />

Tipologia Número <strong>de</strong> fragmentos coletados %<br />

Fragmentos 515 76,75<br />

Bordas 92 13,72<br />

Bojos 63 9,38<br />

Base 01 0,14<br />

Total 671 100,0<br />

<strong>de</strong>). Desse total 281 são fragmentos (77,19%), 44 são bordas (12,08%),<br />

38 são bojos (10,43%) e uma única base evi<strong>de</strong>nciada no sítio Rezen<strong>de</strong><br />

(0,27%). Cabe ressaltar que três peças são bojos <strong>de</strong> vasos geminados,<br />

Tabela 04 – Zona 01, 1988 e 1989<br />

Tipologia<br />

– 1989<br />

Zona 01 – 1988 Zona 01<br />

Fragmentos 281 144<br />

Bordas 44 24<br />

Bojos 38 09<br />

Base 01 —<br />

ambos localizados na T 6 M 5 , o que indica a presença <strong>de</strong>sta forma no conjunto<br />

cerâmico do sítio Rezen<strong>de</strong>.<br />

Na segunda campanha realizada em 1989 foram coletados mais 177<br />

elementos cerâmicos, a saber: a) fragmentos 81,35% , b) bordas 13,55%<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 157<br />

e c) bojos 5,08%.<br />

No mesmo ano, 1989, foram coletados vestígios cerâmicos na Z 2 ,<br />

totalizando 111 peças das quais 81 são fragmentos (72,97%), 18 são<br />

bordas (16,21%) e 12 são bojos (10,81%).<br />

Na quinta campanha, <strong>de</strong>senvolvida em 1992 foram coletados mais<br />

19 vestígios: 15 fragmentos e 04 bordas.<br />

técnica <strong>de</strong> manufatura<br />

Conforme Alves (1982, 1988), as técnicas <strong>de</strong> manufatura referem-se<br />

ao modo que os artesãos manufaturavam seus utensílios cerâmicos para<br />

posterior emprego nas Tabela ativida<strong>de</strong>s 05 – Zona do 02, cotidiano. 1989 e 1992 Assim, a montagem dos<br />

Tipologia Zona 02 – 1989 Zona 02 – 1992<br />

Fragmentos 81 15<br />

Bordas 18 04<br />

Bojos 12 —<br />

Base — —<br />

Total 111 19<br />

gráfico 1 – Vestígios cerâmicos, dados comparativos<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


158<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

vasilhames (Cf. Seronie-Vivien, 1975. APUD: Alves, 1988), diz respeito<br />

ao processo <strong>de</strong> confecção dos vasilhames “... a partir da base, em direção<br />

ao corpo até o bojo, bordas e lábios” (Alves, 1988:160).<br />

A única técnica <strong>de</strong> confecção cerâmica i<strong>de</strong>ntificada nos quatro conjuntos<br />

cerâmicos foi a acor<strong>de</strong>lada 7 (Cf. Alves, 1988). Esta, por sua vez,<br />

consiste na manufatura <strong>de</strong> roletes que são sobrepostos uns aos outros<br />

e, em seguida, passados pelo processo <strong>de</strong> alisamento com a função <strong>de</strong><br />

unificá-los a fim <strong>de</strong> evitar quebras posteriores, <strong>de</strong>ste modo dando forma<br />

aos diversos tipos <strong>de</strong> vasilhames cerâmicos observados no registro<br />

arqueológico (Cf. Alves, 1988, 2002a).<br />

Segundo Alves (1988) a utilização da técnica acor<strong>de</strong>lada permite<br />

ao artesão maior controle sobre a espessura e tamanho dos roletes a<br />

serem confeccionados que, por sua vez, consente um maior controle da<br />

própria homogeneida<strong>de</strong> da pasta.<br />

“Por esta técnica os artefatos são montados a partir da base em<br />

direção ao corpo, borda e lábios, através da execução e distribuição<br />

circular <strong>de</strong> roletes <strong>de</strong> argila (<strong>de</strong> diferentes tamanhos e espessuras),<br />

convenientemente preparados para dar a plasticida<strong>de</strong> necessária à<br />

mo<strong>de</strong>lagem, para reduzir a porosida<strong>de</strong> e impedir trincas e rachaduras<br />

durante a secagem e a posterior queima; os roletes <strong>de</strong>vem<br />

ser pressionados para haver a junção entre eles e se obter a forma<br />

<strong>de</strong>sejada” (Alves, 1988:160-161).<br />

A constatação empírica da utilização da técnica acor<strong>de</strong>lada para a<br />

conformação dos vasilhames cerâmicos foi realizada por meio da análise<br />

microscópica das microestruturas dos fragmentos que passaram pela<br />

técnica <strong>de</strong> microscopia óptica (Alves & Girardi, 1989; Alves, 1988, 1994,<br />

1994/95, 1997).<br />

técnicas <strong>de</strong> acabamento <strong>de</strong> superfície<br />

Por acabamento <strong>de</strong> superfície enten<strong>de</strong>-se “(...) os tratamentos dados<br />

à superfície da cerâmica que po<strong>de</strong>m ser alisadas, polidas, com <strong>de</strong>coração<br />

plástica, pintadas, engobadas e lisas” (Alves, 1988:161).<br />

Em relação ao tratamento <strong>de</strong> superfície foram consi<strong>de</strong>rados os itens<br />

7 Foi possível observar por meio das lâminas microscópicas o direcionamento uniforme<br />

dos grãos <strong>de</strong> quartzo da pasta cerâmica, fato que indica a construção dos roletes<br />

para a confecção dos vasilhames.<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 159<br />

Foto 1 – Fotomicrografia, M5T5, zona 01<br />

√ Nicóis paralelos. Aumento 30x. Observar orientação da massa perceptível<br />

pelas linhas que aparecem na parte inferior da foto e direcionamento<br />

dos grãos <strong>de</strong> quartzo (mais claros). Interpretação e foto, Goulart/2004.<br />

pintura, <strong>de</strong>coração plástica, alisamento e polimento (Cf. pressupostos<br />

<strong>de</strong> Chymz, 1976; Alves, 1988, 1994, 1995, 1997, 2002a).<br />

√ ALISAMENTO: tratamento dado à superfície cerâmica durante<br />

os processos <strong>de</strong> manufatura e secagem, com a função <strong>de</strong> mantê-la<br />

uniforme eliminando as evidências dos roletes (Alves, 1988:162).<br />

Conforme Alves “(...) alisa-se a cerâmica com seixos e outros objetos<br />

(...) após a manufatura do artefato, antes da queima, no processo<br />

<strong>de</strong> secagem, com a argila semi-úmida” (Alves, 1988:161).<br />

√ POLIMENTO: “o termo polimento refere-se a um tipo <strong>de</strong> tratamento<br />

<strong>de</strong> superfície on<strong>de</strong> se emprega a técnica do polimento para<br />

completar o alisamento; a finalida<strong>de</strong> consiste na impermeabilização<br />

e lustre da superfície externa ou interna. É realizado no<br />

recipiente cerâmico após o alisamento e a secagem ao sol” (Alves,<br />

1988:164).<br />

Nos elementos cerâmicos coletados durante as campanhas <strong>de</strong> escavação<br />

do sítio Rezen<strong>de</strong> registrou-se quase que exclusivamente a presença<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


160<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

das superfícies alisadas (interna e externamente). Assim, as peças foram<br />

subdivididas segundo o tipo <strong>de</strong> alisamento (Cf. Alves, 1988: 162):<br />

a) Muito bom – tipo <strong>de</strong> alisamento que resulta em uma superfície<br />

uniforme, muitas vezes lembrando o polimento;<br />

b) Bom - tipo <strong>de</strong> alisamento que resulta em uma superfície uniforme,<br />

com ausência <strong>de</strong> imperfeições tais como rachaduras, ranhuras<br />

etc;<br />

c) regular - tipo <strong>de</strong> alisamento que apresentou algum tipo <strong>de</strong><br />

imperfeição na superfície do vasilhame,<br />

d) ruim - alisamento irregular que apresentando imperfeições na<br />

superfície do vasilhame.<br />

Como se po<strong>de</strong> observar, no registro do Rezen<strong>de</strong> constatou-se apenas<br />

peças com alisamento muito bom e bom. Tal fator aponta para uma boa<br />

constituição da composição mineralógica da argila evi<strong>de</strong>nciando uma<br />

seleção prévia da matéria-prima a ser utilizada para a manufatura dos<br />

utensílios cerâmicos (Fernan<strong>de</strong>s, 2001:142).<br />

<strong>de</strong>coração plástica<br />

Tabela 06 – Acabamento <strong>de</strong> superfície<br />

Zona <strong>de</strong> Alisamento Alisamento Alisamento Alisamento<br />

escavação muito bom bom regular ruim<br />

Zona 1 – 1989 4,51% 95,49% — —<br />

Zona 2 – 1992 — 100,0% — —<br />

Zona 2 – 1989 9,0% 91,0% — —<br />

Zona 1 – 1988 10,27% 89,73% — —<br />

O termo <strong>de</strong>coração plástica diz respeito às modificações efetuadas<br />

pelos artesãos na superfície dos vasilhames cerâmicos a partir do emprego<br />

<strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong>corativas (Alves, 1988:166). Geralmente é executada<br />

antes da queima, exceto a pintada que po<strong>de</strong> ocorrer tanto anterior quanto<br />

posterior (Prous, 1992:92).<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 161<br />

Existem vários tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração evi<strong>de</strong>nciados no registro arqueológico<br />

brasileiro, amplamente discutido na literatura (como por exemplo:<br />

Chymz, 1976; Alves, 1988; Prous, 1992).<br />

Assim, utilizando as categorias <strong>de</strong> Alves (1988): “Os vestígios cerâmicos<br />

possuidores <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração plástica foram i<strong>de</strong>ntificados pelos tipos,<br />

inerentes às <strong>de</strong>corações e, no geral, foram classificados como <strong>de</strong>corados<br />

por: incisões, pressões e relevos, sendo que alguns são mistos (ou compostos)...”<br />

(Alves, 1988:167).<br />

Entretanto, no registro do sítio Rezen<strong>de</strong> foi evi<strong>de</strong>nciada quase que<br />

exclusivamente cerâmica lisa, a única exceção diz respeito a uma pequena<br />

borda que apresentou incisão perpendicular ao lábio (Cf. foto 02).<br />

Tabela 07 – Síntese <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração plástica (Cf. Chymz, 1976; Alves,<br />

1988; Prous, 1992)<br />

tiPo<br />

téCNiCA<br />

“Realizada com<br />

i n s t r u m e n t o s<br />

(Alves, 1988).<br />

exeCuÇÃo<br />

Pasta seca – com um bu-<br />

ril forma-se linhas mais<br />

regulares, com perfil em<br />

V (Prous, 1992).<br />

Pasta úmida – é larga e<br />

I N C I - possuidores <strong>de</strong> têm um corte transver-<br />

gume cortante” sal em U (Prous, 1992).<br />

Pasta fresca – po<strong>de</strong>m<br />

ser feitas uma a uma<br />

ou com pente (Prous,<br />

VAriAÇÕeS<br />

a) Ungulado – “... consiste em imprimir, com<br />

a ponta das unhas, marcas agrupadas em<br />

diversas posições na superfície do vasilhame”<br />

(Chymz, 1976).<br />

b) Inciso - “Consiste em incisões praticadas por<br />

meio da extremida<strong>de</strong> aguçada <strong>de</strong> instrumentos<br />

variados, na superfície cerâmica, antes da quei-<br />

ma”. (Chymz, 1976)<br />

c) Entalhado – “... que consiste em pequenos<br />

cortes executados no lábio do vasilhame ou<br />

em qualquer outra parte do mesmo”. (Chymz,<br />

1976)<br />

d) Escovado – “... que consiste em passar na<br />

superfície ainda úmida do vasilhame um<br />

instrumento com pontas múltiplas, ou outros<br />

objetos que <strong>de</strong>ixam sulcos bem visíveis, guar-<br />

dando entre si certo paralelismo e proximida<strong>de</strong>”<br />

(Chymz, 1976).<br />

e) Ponteado – pequenas incisões realizadas na<br />

superfície dos vasilhames em forma <strong>de</strong> furos,<br />

seqüenciais ou não.<br />

f) Raspado – “... que consiste em <strong>de</strong>sbastar a<br />

superfície dos vasilhames, com cacos, conchas<br />

etc” (Chymz, 1976).<br />

g) Linha polida – “... que consiste em passar um<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


162<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

Tabela 07 – Síntese <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração plástica (Cf. Chymz, 1976; Alves,<br />

1988; Prous, 1992)<br />

Continuação<br />

tiPo<br />

P R E S -<br />

SÃO<br />

R E L E -<br />

VOS<br />

téCNiCA<br />

“Realizada com<br />

as mãos, <strong>de</strong>dos ou<br />

através <strong>de</strong> instru-<br />

mentos”. ( Alves,<br />

1988).<br />

“Realizada com<br />

o repuxamento,<br />

o pinçamento e/<br />

ou aplicação <strong>de</strong><br />

roletes adicio-<br />

nais à superfície<br />

exeCuÇÃo<br />

Com a massa ainda<br />

úmida, pressiona-se a<br />

superfície externa do va-<br />

silhame. (Alves, 1988).<br />

Com a massa úmida,<br />

antes da queima.<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006<br />

VAriAÇÕeS<br />

a) Corrugado simples – “”... resultante do rejun-<br />

tamento externo dos roletes pela sobreposição<br />

da parte inferior <strong>de</strong> uns, sobre a superior <strong>de</strong><br />

outros (Chymz, 1976).<br />

b) Corrugado complicado – “... <strong>de</strong>pois da colo-<br />

cação do rolete, este é ligado ao anterior por<br />

meio <strong>de</strong> pressões mais ou menos regulares,<br />

espaçadas, executadas com o <strong>de</strong>do polegar em<br />

sentido perpendicular ou transversal à boca da<br />

vasilha” (Chymz, 1976).<br />

c) Digitado – “... consiste em imprimir a ponta<br />

do <strong>de</strong>do na superfície cerâmica” (Chymz,<br />

1976).<br />

d) Acanalado – “... consiste em marcar a su-<br />

perfície cerâmica com <strong>de</strong>dos, formando sulcos<br />

alongados” (Chymz, 1976).<br />

f) Serrungulado – “... tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração em que a<br />

ação simultânea das pontas das unhas e <strong>de</strong>dos,<br />

em sentido oposto na superfície cerâmica, pro-<br />

voca a formação <strong>de</strong> cordões em crista, separados<br />

por sulcos” (Chymz, 1976).<br />

g) Digitungulado – “... que consiste em imprimir<br />

simultaneamente a ponta do <strong>de</strong>do e da unha...”<br />

(Chymz, 1976).<br />

h) Pinçado “... que consiste em imprimir marcas<br />

espaçadas pela ação contrátil e simultânea das<br />

pontas <strong>de</strong> unhas e <strong>de</strong>dos, em sentido oposto, na<br />

superfície da cerâmica, como se fosse beliscada”<br />

(Chymz, 1976).<br />

i) Carimbado – que consiste em imprimir na<br />

superfície dos vasilhames formas pré-<strong>de</strong>finidas<br />

em um carimbo


FagundEs, marcElo 163<br />

Tabela 07 – Síntese <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração plástica (Cf. Chymz, 1976; Alves,<br />

1988; Prous, 1992)<br />

Continuação<br />

tiPo<br />

P I N T U -<br />

RA<br />

téCNiCA<br />

“Tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cora-<br />

ção da superfície<br />

cerâmica reali-<br />

zada antes ou<br />

<strong>de</strong>pois da quei-<br />

ma, utilizando<br />

pigmentos mine-<br />

rais ou vegetais”<br />

(Alves, 1988).<br />

“Tipo <strong>de</strong> trata-<br />

mento <strong>de</strong> super-<br />

fície que aplica,<br />

antes da queima,<br />

uma camada <strong>de</strong><br />

barro, com pig-<br />

mentos vegetais<br />

ou minerais, so-<br />

bre a superfície<br />

interna ou ex-<br />

exeCuÇÃo<br />

- Po<strong>de</strong> ser feita na<br />

superfície interna ou<br />

externa dos vasilha-<br />

mes.- Po<strong>de</strong>m ser feitas<br />

em faixas distribuídas<br />

horizontalmente ou<br />

verticalmente com os<br />

seguintes motivos: a)<br />

Geométrico.<br />

b) Puntiforme. c) Em<br />

gregas. d) Sinuosos. e)<br />

Retilíneos.<br />

VAriAÇÕeS<br />

a) Monocrômica – envolve uma única cor<br />

(Prous, 1992).<br />

b) Bicrômica – envolvendo duas cores (Prous,<br />

1992).<br />

c) Policrômica – com mais <strong>de</strong> duas cores (Prous,<br />

1992).<br />

a) Cor branca.<br />

Assim, a predominância dos elementos cerâmicos em relação ao<br />

tratamento <strong>de</strong> superfície é das cerâmicas lisas, ou seja, aquelas com<br />

ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração plástica, pintura ou aplicação do engobo, tanto<br />

na superfície interna como na externa (Alves, 1982, 1983/1984, 1988,<br />

1991a, 1991b, 1992a, 1994, 2002a).<br />

De qualquer forma, o exame laboratorial aprimorado do tratamento<br />

<strong>de</strong> superfície se faz necessário, cooperando para a compreensão das<br />

escolhas culturais efetuadas pelos artesãos e permitindo que se façam<br />

inferências sobre o comportamento cultural dos grupos pré-históricos<br />

(Cf. Lemonnier, 1986, 1990; van <strong>de</strong>r Leeuw, 1993; Dietler & Herbich,<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


164<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

1989, 1998; Gosselain, 1998).<br />

Morfologia da cerâmica<br />

Para o estudo das formas dos vasilhames cerâmicos foram utilizados<br />

os dados extraídos da análise das bordas, bojos e bases 8 , empregando-se<br />

o uso do ábaco para a reconstituição dos utensílios, seguindo os procedimentos<br />

do manual <strong>de</strong> Meggers & Evans (1970), tendo em vista que<br />

no Rezen<strong>de</strong> nenhum recipiente completo fora coletado. Além disso, foi<br />

medida a espessura da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os elementos cerâmicos conformes<br />

Foto 02 – Borda cerâmica com incisão<br />

Imagem digitalizada Fagun<strong>de</strong>s/2004.<br />

os critérios estabelecidos por Alves (1988), a saber:<br />

a) Muito fina (igual ou menor a 6 mm);<br />

b) Fina (entre 07 e 9 mm);<br />

c) Média (entre 10 e 14 mm);<br />

d) Grossa (entre 15 e 20 mm),<br />

8 Em todo registro arqueológico fora evi<strong>de</strong>nciado apenas uma base, fator que dificultou<br />

a caracterização <strong>de</strong>sse conjunto.<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 165<br />

e) Muito grossa (maior que 20 mm).<br />

Os resultados estão expressos na tabela 08.<br />

A) tipologia das bordas e lábios<br />

Para po<strong>de</strong>rmos levar a cabo a reconstituição (via ábaco), dos vasilhames<br />

cerâmicos foram selecionadas 23 bordas (25% do total), dos<br />

tipos mais recorrentes e, por inferência dos bojos e base, estabelecidas<br />

as possíveis formas cerâmicas do Rezen<strong>de</strong> (Cf. pressupostos <strong>de</strong> correlatos<br />

Schiffer & Skibo, 1997).<br />

Os tipos <strong>de</strong> bordas mais freqüentes foram:<br />

Tabela 08 – Espessura dos fragmentos cerâmicos<br />

Classificação Fragmentos (%) Bordas (%) Lábios (%) Bojos (%)<br />

Muito fina 7,18 7,60 43,47 9,52<br />

Fina 9,12 25,0 40,21 23,80<br />

Média 47,18 54,34 16,30 49,20<br />

Grossa 19,22 7,60 — 6,34<br />

Muito grossa 17,28 5,34 — 11,11<br />

a) Bordas retas/diretas com lábios arredondados – 57,60% (53 bordas)<br />

b) Bordas extrovertidas com lábios fletidos e arredondados – 34,78%<br />

(32 bordas);<br />

c) Bordas introvertidas com lábios arredondados – 7,60% (07 bordas).<br />

Assim, nos quatro conjuntos componentes foram <strong>de</strong>tectados exclu-<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


166<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

Tabela 09 – Tipos <strong>de</strong> bordas selecionadas para confecção no ábaco<br />

Camp. Localização Tipologia<br />

Zona 01 1988 M5T5 Extrovertida com lábio arredondado<br />

Zona 01 1988 M5T5 Reta com lábio arredondado<br />

Zona 01 1988 M2T3 Introvertida com lábio arredondado<br />

Zona 01 1988 M3SUP Reta com lábio arredondado<br />

Zona 01 1988 M5T5 Reta com lábio arredondado<br />

Zona 01 1988 M4T4 Reta com lábio arredondado<br />

Zona 01 1989 M6T6 Reta com lábio arredondado<br />

Zona 01 1989 M2 Reta com lábio arredondado<br />

Zona 01 1989 M3 Decap2 Extrovertida com lábio arredondado<br />

Zona 01 1989 Sup Reta com lábio arredondado<br />

Zona 01 1989 T10 Extrovertida com lábio arredondado<br />

Zona 01 1989 SUP Extrovertida com lábio arredondado<br />

Zona 01 1989 SUP Reta com lábio arredondado<br />

Zona 01 1989 M6 Reta com lábio arredondado<br />

Zona 01 1989 T8 Introvertida com lábio arredondado<br />

Zona 02 1989 Sup Extrovertida com lábio arredondado<br />

Zona 02 1989 Sup Extrovertida com lábio arredondado<br />

Zona 02 1989 Sup Reta com lábio arredondado<br />

Zona 02 1989 Sup Reta com lábio arredondado<br />

Zona 02 1989 Sup Reta com lábio arredondado<br />

Zona 02 1992 M3 Reta com lábio arredondado<br />

Zona 02 1992 M2 Reta com lábio arredondado<br />

Zona 02 1992 M1 Extrovertida com lábio arredondado<br />

Reta com lábio arredondado<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 167<br />

sivamente os lábios do tipo arredondado.<br />

As espessuras das bordas e lábios estão expressas pelos gráficos<br />

02 e 03.<br />

Como já <strong>de</strong>stacado, em relação ao alisamento dos elementos cerâmicos<br />

foi possível i<strong>de</strong>ntificar somente peças como alisamento muito e<br />

bom e bom. Entre as bordas os resultados estão expressos na tabela 10.<br />

B) tipologia dos bojos e base<br />

Quatro tipos <strong>de</strong> bojos foram evi<strong>de</strong>nciados nos conjuntos cerâmicos,<br />

a saber:<br />

a) Carenado – 7,93%.<br />

b) Reto – 3,17.<br />

c) Côncavo – 84,12%.<br />

d) Geminados – 4,76%.<br />

Em relação ao tratamento <strong>de</strong> superfície <strong>de</strong>stes elementos os resultados<br />

foram:<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


168<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

Prancha 1 – Tipologia <strong>de</strong> bordas<br />

Desenhos: Santiago/2004<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 169<br />

Gráfico 2 – Espessura das bordas<br />

Gráfico 3 – Espessura dos lábios<br />

Tabela 10 – Tratamento <strong>de</strong> superfície – bordas<br />

Tipos 1988 Z1 1989 Z1 1989 Z2 1992 Z2<br />

Qtd. % Qtd. % Qtd. % Qtd. %<br />

Bom 36 78,26 22 91,66 16 88,88 — —<br />

Muito bom 10 38,46 02 8,34 02 11,11 04 100<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


170<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

a) Zona 01, 1988<br />

- Alisamento bom = 34 peças, 89,47%.<br />

- Alisamento muito bom = 04 peças, 10,53%.<br />

b) Zona 01, 1989<br />

- Alisamento bom = 09 peças, 100,0%.<br />

c) Zona 02, 1989<br />

- Alisamento bom = 12 peças, 100,0%.<br />

d) Zona 02, 1992<br />

- Não houve registro <strong>de</strong> bojos.<br />

Em relação à espessura da pare<strong>de</strong>, os resultados estão expressos<br />

no gráfico 4<br />

Gráfico 4 – Espessura dos bojos<br />

C) Pare<strong>de</strong>s dos vasilhames cerâmicos<br />

Os fragmentos <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> foram os elementos mais representativos<br />

nas campanhas <strong>de</strong> escavação, totalizando 76,75% do conjunto cerâmico.<br />

Sobre a espessura os dados se encontram no gráfico 05.<br />

Gráfico 5 – Espessura das pare<strong>de</strong>s<br />

A maior parte foi classificada como fragmentos médios, em seguida<br />

aparecem aqueles com espessura grossa e muito grossa e, finalmente,<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 171<br />

aqueles em que a espessura foi consi<strong>de</strong>rada fina ou muito fina.<br />

Sobre o tipo <strong>de</strong> alisamento os resultados foram:<br />

a) Zona 01, 1988.<br />

- Alisamento bom – 249 = 89,24%.<br />

- Alisamento muito bom – 30 = 10,76%.<br />

b) Zona 01, 1989.<br />

- Alisamento bom – 138 = 95,33%.<br />

- Alisamento muito bom – 06 = 4,16%.<br />

c) Zona 02, 1989.<br />

- Alisamento bom – 73 = 90,12%.<br />

- Alisamento muito bom – 08 = 9,87%.<br />

d) Zona 02, 1992.<br />

- Alisamento bom – 15 = 100,0%.<br />

d – reconstituição dos vasilhames cerâmicos<br />

Assim, mediante a esses dados foi possível reconstituir 9 as formas<br />

dos vasilhames cerâmicos existentes no registro arqueológico do sítio<br />

Rezen<strong>de</strong>, a saber 10 :<br />

a) Forma 01 – vasilhame carenado com borda introvertida e lábio<br />

arredondado. tal reconstituição teve como base a borda<br />

evi<strong>de</strong>nciada pela coleta <strong>de</strong> superfície da Z 1 , campanha <strong>de</strong><br />

1989, que, com o uso do ábaco, se evi<strong>de</strong>nciou um vasilhame<br />

<strong>de</strong> 26,80 cm <strong>de</strong> altura por 24,0 cm <strong>de</strong> comprimento (a partir<br />

do bojo) e diâmetro da boca equivalente a 18,0 cm.<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


172<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

b) Forma 02 – vasilhame globular com borda extrovertida, lábio<br />

arredondado e bojo côncavo. A borda utilizada é proveniente<br />

da zona 01, t5M5, campanha <strong>de</strong> 1989. As medidas <strong>de</strong>ste<br />

vasilhame foram: altura igual a 38,0 cm, comprimento<br />

24,80 cm e diâmetro da boca igual a 22 cm.<br />

c) Forma 03 – vaso carenado com borda extrovertida, lábio arredondado<br />

e base côncava. A borda que serviu como evidência<br />

foi localizada na Z 2 , mancha 01, da campanha <strong>de</strong> 1992.<br />

As dimensões do vasilhame foram: altura igual a 16,80<br />

cm, comprimento 14,0 cm e diâmetro da boca igual a 14,0<br />

cm.<br />

d) Forma 04 – vasilhame semi-esférico, borda introvertida com<br />

lábio arredondado. Borda evi<strong>de</strong>nciada na trincheira 10, Z 2<br />

da campanha <strong>de</strong> 1989. Altura equivalente a 11,20 cm, comprimento<br />

igual a 10,0 cm e diâmetro da boca 9,20 cm.<br />

e) Forma 05 – Tigela meia calota, com borda introvertida e lábio<br />

arredondado. Borda evi<strong>de</strong>nciada na Z 1 , t 3 M 2 , na campanha<br />

<strong>de</strong> 1988. Altura do vasilhame igual a 22,0cm, comprimento<br />

a partir do bojo equivalente a 24,80cm e diâmetro da boca<br />

igual a 24,0cm.<br />

9 As reconstituições foram por nós efetuadas, sendo que o <strong>de</strong>senho final foi realizado<br />

pelo Prof. Eduardo Vantuil Santiago (Arqueólogo do Laboratório <strong>de</strong> Pesquisas<br />

<strong>MAX</strong>/<strong>UFS</strong>), que utilizou como ferramenta o software Corel Draw 12.<br />

10 Muitos dados sobre a tipologia cerâmica do sítio Rezen<strong>de</strong> convergem com àqueles<br />

obtidos da análise da cerâmica dos <strong>de</strong>mais sítios do projeto Quebra-Anzol, a saber:<br />

não há <strong>de</strong>coração plástica ou pintura, as peças recebem exclusivamente a aplicação<br />

do alisamento na superfície (também não há peças polidas); na montagem dos<br />

artefatos a técnica <strong>de</strong> manufatura é a acor<strong>de</strong>lada; as bases são sempre arredondadas;<br />

existência <strong>de</strong> vasilhames médios. Por outro lado, a diversida<strong>de</strong> se encontra nos tipos<br />

<strong>de</strong> borda, no Rezen<strong>de</strong> há três tipos distintos (retas, introvertidas e extrovertidas,<br />

ambas com lábios arredondados), enquanto nos <strong>de</strong>mais sítios ocorrem as bordas<br />

retas; existência <strong>de</strong> vasilhames carenados e o alisamento efetuado na cerâmica do<br />

Rezen<strong>de</strong> se enquadra nas categorias bom e muito bom, enquanto nos outros sítios<br />

há alisamentos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> inferior (Alves, 1982, 1983/84, 1988, 1991, 1992, 1994,<br />

2004; Alves & Fagun<strong>de</strong>s, 2003).<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 173<br />

f) Forma 06 – vasilhame semi-esférico, com borda direta e lábio<br />

arredondado. Borda localizada na Z 1 , t 4 M 4 , durante a campanha<br />

<strong>de</strong> 1988. Altura equivalente a 20,0 cm, comprimento<br />

17,20 cm e diâmetro da boca 20,0 cm.<br />

g) Forma 07 – tigela elipsói<strong>de</strong>. Borda localizada na Z 1 , mancha<br />

06, campanha <strong>de</strong> 1988. Altura igual a 6,0 cm, comprimento<br />

10,0 cm e diâmetro da boca igual a 12, cm.<br />

Queima dos vasilhames cerâmicos<br />

Segundo Prous (1992), a queima é a operação mais <strong>de</strong>licada<br />

na fabricação <strong>de</strong> um vasilhame cerâmico “(...) durante a qual uma<br />

porcentagem significativa <strong>de</strong> quebra costuma ocorrer” (Prous, 1992:94).<br />

Assim, neste item apresentamos subsídios extraídos das ciências<br />

exatas que apontam para a provável temperatura que os<br />

vasilhames foram queimados.<br />

De modo geral, a tecnologia indígena utiliza fogueiras rasas, a céu<br />

aberto, que dificilmente ultrapassam 600 0 C para a queima dos utensílios<br />

cerâmicos (Cf.Alves, 1988; Prous, 1992). Assim, o material argiloso é<br />

meramente <strong>de</strong>sidratado, ou seja, a argila seca muito bem, mas apresenta<br />

baixa resistência mecânica (Goulart, 2004b).<br />

Para inferir sobre a temperatura <strong>de</strong> queima das cerâmicas<br />

indígenas pré-históricas, têm-se utilizado como parâmetro a presença<br />

ou ausência da caulinita, seguindo seu comportamento físico-químico<br />

em relação ao aumento da temperatura, a saber (Leite, 1986; Alves,<br />

1988):<br />

a) Até 100 0 C a caulinita <strong>de</strong>sidrata.<br />

b) Entre 200 e 500 0 C o estado químico da pasta permanece inalterado.<br />

c) 550 0 C é a temperatura chave. Nesta fase a caulinita <strong>de</strong>sestabiliza,<br />

a energia é <strong>de</strong>mais e a água é muito pouca. As hidroxilas se<br />

combinam (OH + OH) e a água evapora, permanecendo apenas<br />

um átomo <strong>de</strong> oxigênio. Os octaedros se <strong>de</strong>formam (com sete, seis<br />

ou cinco lados) não mantendo a estrutura regular. A caulina<br />

ainda é cristalina, mas fica muito ondulada. Na difratometria<br />

ela <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> existir como espectro, passando a ser chamada <strong>de</strong><br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


174<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

meta-caulinita.<br />

d) Acima <strong>de</strong> 900 0 C acontece a formação da mulita.<br />

Nas amostras provenientes do sítio Rezen<strong>de</strong>, entretanto, não foi<br />

possível <strong>de</strong>tectar a caulinita por meio das análises realizadas. Porém,<br />

utilizamos a goethita como suporte para a inferência da temperatura<br />

<strong>de</strong> queima dos vasilhames.<br />

A temperatura <strong>de</strong> transformação da goethita em hematita em<br />

ambiente relativamente seco e <strong>de</strong> rápido aquecimento é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

400°C 11 . Nas amostras do sítio Rezen<strong>de</strong> po<strong>de</strong>-se afirmar que a massa<br />

cerâmica atingiu pelo menos 400°C, já que há vários picos dos dois minerais<br />

nos difratogramas.<br />

Quadro 1 – Transformação da goethita em hematita<br />

eMPrego SoCiAL ou FuNÇÃo – o uSo doS VASiLHAMeS<br />

CerÂMiCoS No CotidiANo dA (S) PoPuLAÇÃo (ÕeS) Que<br />

oCuPou (ArAM) o SÍtio reZeN<strong>de</strong><br />

m dos últimos passos para se compreen<strong>de</strong>r as ca<strong>de</strong>ias operatórias<br />

<strong>de</strong> manufatura cerâmica em uma dada socieda<strong>de</strong> é estabelecer as causas<br />

diretas <strong>de</strong> sua manufatura, o que significa dizer o seu emprego social.<br />

Para tal, é importante a realização <strong>de</strong> análises sobre algumas categorias<br />

do processo <strong>de</strong> produção, a saber (Cf. Alves, 1982, 1983/84, 1988, 1991,<br />

1992, 1994; Alves & Girardi, 1989; Oliveira, 2000:172; Goulart, 2004;<br />

Feliciano 2FE et alli, OOH 2004):<br />

Fe O + H O<br />

2 3 2<br />

a) Espessura (Geothita) das pare<strong>de</strong>s e resistência 400º mecânica C dos (Hematita)<br />

vasilhames;<br />

b) Porosida<strong>de</strong>,<br />

c) Tratamento dado à superfície do vasilhame;<br />

11 Cf. comunicação pessoal, Prof. Dr. Evaristo Pereira Goulart, 2004.<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 175<br />

d) Decoração,<br />

e) Traços <strong>de</strong> uso (<strong>de</strong>sgastes, enegrecimento através do fogo e resíduos).<br />

Somado a estas categorias, o contexto arqueológico em que tais<br />

vestígios foram evi<strong>de</strong>nciados é o alicerce primordial para a constatação<br />

empírica dos dados levantados em laboratório 12 .<br />

“Para estabelecer a relação do sistema tecnológico com os outros<br />

aspectos do sistema cultural, a i<strong>de</strong>ntificação da função dos objetos<br />

cerâmicos é essencial no processo interpretativo” (Oliveira,<br />

2000:172).<br />

Como <strong>de</strong>stacado por Oliveira (2000) e Alves (1988, 2003), a cerâmica<br />

po<strong>de</strong> ser empregada em vários contextos <strong>de</strong>ntro da organização social <strong>de</strong><br />

um grupo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma função utilitária (cozer os alimentos, armazenar<br />

sementes, grãos ou líquidos, fermentar bebidas), função ritualística<br />

simbólica (empregada em rituais religiosos, sepultamentos, etc). Além<br />

disso, os vasilhames po<strong>de</strong>m ser reaproveitados ocupando uma dupla<br />

função.<br />

O sítio Água Limpa, localizado no município <strong>de</strong> Monte Alto, São<br />

Paulo; inserido do projeto Turvo coor<strong>de</strong>nado por Alves, por exemplo,<br />

apresentou cultura material cerâmica em seu registro arqueológico,<br />

tanto associada às estruturas habitacionais – em manchas escuras no<br />

solo (Pallestrini, 1975; Alves, 2004), quanto às estruturas funerárias<br />

(Alves, 1997b, 2000, 2003, 2004; Fernan<strong>de</strong>s, 2001).<br />

Segundo Alves (2004), a existência <strong>de</strong> vasilhames completos e fragmentos<br />

associados aos sepultamentos (bens funerários conforme pressupostos<br />

<strong>de</strong> Binford, 1972), <strong>de</strong>notou a presença <strong>de</strong> ritos funerários junto às<br />

populações <strong>de</strong> Água Limpa. Neste caso a cultura material cerâmica ocupa<br />

uma dupla função <strong>de</strong>ntro do modo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ssa população (ões).<br />

Outrossim, os arqueólogos po<strong>de</strong>m buscar subsídios em dados obtidos<br />

12 No caso específico do sítio Rezen<strong>de</strong>, como já salientado algumas vezes, temos uma<br />

cultura material cerâmica altamente perturbada pela ação do arado e da gra<strong>de</strong>,<br />

o que possivelmente limitou a evi<strong>de</strong>nciação e coleta <strong>de</strong> vasilhames inteiros e/ou<br />

parcialmente danificados.<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


176<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

dos estudos etnoarqueológicos, que auxiliam, mesmo que <strong>de</strong>dutivamente,<br />

a pesquisa da Pré-História on<strong>de</strong> as socieda<strong>de</strong>s não existem mais e não<br />

há registro escrito <strong>de</strong> suas histórias. Assim, não po<strong>de</strong>mos nos esquecer<br />

que os estudos etnoarqueológicos (e etnológicos) têm <strong>de</strong>monstrado que a<br />

cerâmica (e toda sua produção), está engajada na ampla re<strong>de</strong> <strong>de</strong> significados<br />

sociais, políticos, culturais e simbólicos <strong>de</strong> um grupo, refletindo as<br />

estruturas em que se alicerçam a sua organização social e tecnológica<br />

(Cf. van <strong>de</strong>r Leeuw, 1993; Dietler & Herbich 1989, 1998; Gosselain,<br />

1998; Silva, 2000).<br />

Neste caso, é difícil inferirmos que a cerâmica evi<strong>de</strong>nciada no<br />

Rezen<strong>de</strong> seja exclusivamente utilitária, todavia os dados arqueológicos<br />

apresentam essa realida<strong>de</strong>, a saber:<br />

a) Espessura da pare<strong>de</strong> mediana, na maioria entre 10 e 14 mm;<br />

b) Alisamento uniforme, diminuindo a porosida<strong>de</strong> dos vasilhames;<br />

c) Vasilhames <strong>de</strong> espessura média em sua maioria, o que po<strong>de</strong> indicar<br />

que o uso estava vinculado ao preparo <strong>de</strong> alimentos e não<br />

estocagem (grãos ou sementes);<br />

d) Alguns fragmentos aparecem escurecidos <strong>de</strong>vido à ação do fogo,<br />

ou seja, foram utilizados para o cozimento.<br />

e) Vasilhames pequenos, com boca bem aberta (tigelas), que po<strong>de</strong><br />

indicar seu uso como “pratos”.<br />

f) Detecção <strong>de</strong> um vasilhame gran<strong>de</strong>, parcialmente reconstituído,<br />

que se encontra na vitrine didática da biblioteca municipal <strong>de</strong><br />

Centralina, que po<strong>de</strong> ter sido um silo.<br />

Enfim, há uma gama <strong>de</strong> características que nos faz supor que a<br />

produção cerâmica tinha um emprego social claro: a utilida<strong>de</strong> doméstica.<br />

O que preten<strong>de</strong>mos, no entanto, é alertar que como <strong>de</strong>stacado por Silva<br />

“(...) a confecção da cerâmica pelas mulheres e parte <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s mais amplo e a sua importância está relacionada não apenas à<br />

subsistência do grupo doméstico do qual elas fazem parte, mas, também,<br />

à dinâmica da vida social e ritual” (Silva, 2000:94).<br />

Por isso acreditamos que ao levarmos a cabo o estudo das ca<strong>de</strong>ias<br />

operatórias, temos que utilizar o método <strong>de</strong>dutivo, inferindo todas as<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escolha e uso para fazermos mister a complexida<strong>de</strong><br />

que é a organização social e cultural do diferentes grupos humanos.<br />

Assim, no sítio Rezen<strong>de</strong> os dados indicam concretamente que o<br />

emprego social da cerâmica evi<strong>de</strong>nciada no registro arqueológico era<br />

o utilitário. Certamente sua função doméstica é a característica mais<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 177<br />

forte e clara para a leitura arqueológica.<br />

Além disso, po<strong>de</strong>mos inferir o emprego social da cerâmica no Rezen<strong>de</strong><br />

por meio dos dados obtidos da análise empírica da cultura material<br />

<strong>de</strong> dois sítios do projeto Quebra-Anzol (Prado e Silva Serrote), on<strong>de</strong> foi<br />

constatado o uso da cerâmica nas práticas mortuárias como utensílios<br />

funerários representados por (Cf. Alves, 1982, 1983/84, 1992, 1990/92;<br />

Alves & Fagun<strong>de</strong>s, 2003):<br />

a) Igaçabas piriformes que continham sepultamentos primários <strong>de</strong><br />

indivíduos adultos em posição fetal;<br />

b) Vasilhames <strong>de</strong> tamanho médio, globular, com pescoço ligeiramente<br />

acentuado, base côncava, coletada próxima ao sepultamento primário<br />

(em urna funerária) do sítio Silva Serrote, classificada com<br />

tigela funerária (Alves: 1988, 1990/1992, 1991; Alves & Fagun<strong>de</strong>s,<br />

2003).<br />

Destarte, a cerâmica coletada nas escavações do Rezen<strong>de</strong> está<br />

associada:<br />

a) Contextos <strong>de</strong> subsistência – isto é, ocupando função utilitária <strong>de</strong><br />

uso doméstico, provavelmente utilizado no preparado <strong>de</strong> alimentos,<br />

armazenamento <strong>de</strong> grãos, sementes, tubérculos, utensílios<br />

<strong>de</strong> uso cotidiano, a retenção <strong>de</strong> líquidos, etc.<br />

b) Contextos ritualísticos/simbólicos – mesmo que não haja dados<br />

empíricos que apontem para essa realida<strong>de</strong>, há nos registros dos<br />

sítios Silva Serrote e Prado que apontem para tal fato (ambos<br />

inseridos no projeto Quebra-Anzol).<br />

CoNSi<strong>de</strong>rAÇÕeS FiNAiS<br />

Deste modo, em relação à cultura material cerâmica evi<strong>de</strong>nciada<br />

nas escavações do sítio Rezen<strong>de</strong>, representada por fragmentos <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>,<br />

bojo, bases e bordas, po<strong>de</strong>mos afirmar que quase a totalida<strong>de</strong> está<br />

representada por elementos lisos, com alisamento entre muito bom e<br />

bom (a única exceção é uma borda com incisão paralela ao lábio). São<br />

vasilhames <strong>de</strong> tamanho médio e pequeno, pelo qual a variabilida<strong>de</strong> foi<br />

observada principalmente na forma. Cabe ressaltar que <strong>de</strong> modo geral<br />

trata-se <strong>de</strong> material <strong>de</strong> uso utilitário/cotidiano.<br />

Como o solo arqueológico foi altamente perturbado pela ação do<br />

arado e da gra<strong>de</strong>, não pu<strong>de</strong>mos constatar via contexto arqueológico as<br />

diferentes seqüências <strong>de</strong> ocupação. Por outro lado, po<strong>de</strong>-se inferir <strong>de</strong>-<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


178<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

dutivamente pelo quadro <strong>de</strong> datações que segue entre 1200 A.P. até a<br />

época do contato aproximadamente.<br />

De qualquer forma, não acreditamos que se trata <strong>de</strong> uma ocupação<br />

única que perdurou por quase setecentos anos, entretanto, a remontagem<br />

das ca<strong>de</strong>ias operatórias aliada aos resultados das análises físico-químicas<br />

e mineralógicas indicam singularida<strong>de</strong>s imensas entre os diversos<br />

conjuntos, o que nos permitiu inferir sobre uma cultura arqueológica na<br />

medida em que não há mudança no projeto/concepção, gestos técnicos,<br />

técnicas e fabrico dos vasilhames <strong>de</strong> barro 13 .<br />

reFerÊNCiAS BiBLiográFiCAS<br />

ALVES, Márcia A. Estudos do sítio Prado: um sítio lito-cerâmico colinar.<br />

São Paulo, Departamento <strong>de</strong> História da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia,<br />

Letras e Ciências Humanas da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, Dissertação<br />

<strong>de</strong> Mestrado, 1982.<br />

_____.Estudo do sítio Prado: um sítio lito-cerâmico colinar. revista do<br />

<strong>Museu</strong> Paulista, nova série, <strong>Museu</strong> Paulista, USP, XXIX, pp. 169-199,<br />

1983/84.<br />

_____.Análise Cerâmica: estudo tecnotipológico. São Paulo, Departamento<br />

<strong>de</strong> Antropologia da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia, Letras e Ciências Humanas<br />

da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, Tese <strong>de</strong> Doutorado, 1988.<br />

_____.Culturas ceramistas <strong>de</strong> São Paulo e Minas Gerais: estudo tec-<br />

13 Estamos preparando um próximo artigo sobre as análises físico-químicas e<br />

mineralógicas das peças cerâmicas, <strong>de</strong> forma a completar os dados apresentados<br />

neste trabalho.<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 179<br />

notipológico. revista do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> e etnologia da<br />

universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 1: 71-96, São Paulo, 1991.<br />

_____.As estruturas arqueológicas do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro<br />

– Minas Gerais. revista do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> e etnologia da<br />

universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 2: 27-47, São Paulo, 1992.<br />

_____.Estudo técnico em cerâmica pré-histórica no Brasil. revista do<br />

<strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> e etnologia, 4: 39-70, São Paulo, 1994.<br />

_____.Estudo da cerâmica pré-histórica no Brasil: das fontes <strong>de</strong> matéria<br />

–prima ao emprego da Microscopia Petrográfica, Difratometria <strong>de</strong> Raios-<br />

X e Microscopia eletrônica. Clio, Série Arqueológica. Universida<strong>de</strong><br />

fe<strong>de</strong>ral do Pernambuco, v.1, n º 12, Recife, 1997.<br />

_____.O sítio Rezen<strong>de</strong>: <strong>de</strong> acampamento <strong>de</strong> caçadores-coletores a al<strong>de</strong>ias<br />

ceramistas pré-históricos. Anais da x reunião Científica da Socieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> Brasileira, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pernambuco,<br />

Recife (no prelo), 1999.<br />

_____.O sítio Rezen<strong>de</strong>: <strong>de</strong> acampamento <strong>de</strong> caçadores-coletores a al<strong>de</strong>ia<br />

ceramista pré-histórica. Recife, revista Clio –série arqueológica,<br />

n.15, pp. 189-204, 2002 a.<br />

_____.Teoria, métodos, técnicas e avanços na <strong>Arqueologia</strong> brasileira. <strong>Canindé</strong><br />

– revista do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> <strong>de</strong> xingó. Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Sergipe, nº02, pp. 09-52, 2002b.<br />

_____.Documentação cerâmica contextualizada e as diferenças <strong>de</strong> gênero<br />

nos sepultamentos primários do sítio Água Limpa, Monte Alto, São<br />

Paulo. <strong>Canindé</strong> – revista do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> <strong>de</strong> xingó.<br />

Universida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Sergipe, v.03, pp.275-289, 2003.<br />

_______________. Estratigrafia, estruturas arqueológicas e cronologia<br />

do sítio Água Limpa, Monte Alto, São Paulo. <strong>Canindé</strong> – revista do<br />

<strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> <strong>de</strong> xingó. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Sergipe,<br />

nº04, pp. 283-324, 2004.<br />

ALVES, M.A. & FAGUNDES, M. Tecnotipologia da cerâmica pré-histórica<br />

do projeto Quebra-Anzol, Minas Gerais. São Paulo, XII Congresso<br />

da SAB (no prelo), 2003.<br />

ALVeS, M. A. & girArdi, V. A. A confecção <strong>de</strong> lâminas microscópicas<br />

e o estuda da pasta cerâmica. Revista <strong>de</strong> Pré-história. universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo, 7, pp. 150-162, 1989.<br />

BALFET, H. Des chaînes opératoires, pour quoi faire? IN: BALFET, H.<br />

Observer L’ action Technique – Des chaînes opératoires, por quoi faire?<br />

Paris, CNRS, pp.11-19, 1991.<br />

BAR-YOSEF, O. et alli. The excavations in Kebara cave, Mt. Carmel.<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


180<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

Current Anthropology, 33 (5), pp. 497-550, 1992.<br />

BLEED, P. Trees and chains, links or branches: conceptual alternatives<br />

for consi<strong>de</strong>ration of stone tool production and other sequential activities.<br />

Journal of Archaeology Method and theory, 8 (1), 2001.<br />

CHMYZ, I. (editor) Terminologia brasileira para cerâmica. Manuais<br />

<strong>de</strong> arqueologia, nº. 01, Centro <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Pesquisas Arqueológicas,<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, 1976.<br />

CRESWELL, R. Prométhée ou Pandore? Propos <strong>de</strong> tecnologie culturelle.<br />

Paris, Editions Kimé, 1996.<br />

DIETLER, M. & HERBICH, I. Tich matek: the technology of Luo pottery<br />

production and the <strong>de</strong>finition of ceramic style. World Archaeology,<br />

21 (1), pp. 148-154, 1989.<br />

_____.Habitus, techniques, style: an integrated approach to the social<br />

un<strong>de</strong>rstanding of material cultures and boundaries. IN: STARK, M.<br />

the Archaeology of Social Boundaries. Washington, Smithsonian<br />

Institution Press, pp. 232-263, 1998.<br />

FAGUNDES, M. O conceito <strong>de</strong> estilo e sua aplicação em pesquisas<br />

arqueológicas. <strong>Canindé</strong> – revista do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> <strong>de</strong><br />

xingó, v.04, pp.117-146, 2004.<br />

_____.Sítio Rezen<strong>de</strong>: das ca<strong>de</strong>ias operatórias ao estilo tecnológico – um<br />

estudo <strong>de</strong> dinâmica cultural no médio vale do Paranaíba, Centralina,<br />

Minas Gerais. São Paulo, MAE/USP, Dissertação <strong>de</strong> mestrado, 2004b.<br />

544p.<br />

_____.Recorrência e mudanças no sistema tecnológico do sítio Rezen<strong>de</strong>,<br />

médio vale do Paranaíba, Minas Gerais – Estudo <strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong><br />

estilística nos horizontes líticos dos caçadores-coletores e agricultores<br />

ceramistas. <strong>Canindé</strong> – revista do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> <strong>de</strong><br />

xingó, v. 05, pp. 163-206, 2005.<br />

FELICIANO, M. et alli. Estudos arqueométricos <strong>de</strong> cerâmicas indígenas<br />

pré-coloniais das lagoas do Castelo e Vermelha, localizadas no Pantanal<br />

sul-mato grossense. O conceito <strong>de</strong> estilo e sua aplicação em pesquisas<br />

arqueológicas. <strong>Canindé</strong> – revista do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> <strong>de</strong><br />

xingó, v.04, pp.325-370, 2004.<br />

FERNANDES, S.C.G. Estudo tecnotipológico da cultura material das<br />

populações pré-históricas do vale do rio Turvo, Monte Alto, São Paulo<br />

e a tradição aratu-sapucaí. São Paulo, FFLCH/MAE-USP, dissertação<br />

<strong>de</strong> mestrado, 2001.<br />

GOSSELAIN, 2, O.P. Social and technical i<strong>de</strong>ntity in a clay crystal ball.<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 181<br />

IN: STARK, M. the archaeology of social boundaries. Washington,<br />

Smithsonian Institution Press, pp. 78-106, 1998.<br />

GOULART, E.P. Técnicas instrumentais para a caracterização mineralógica<br />

e microestrutural <strong>de</strong> materiais cerâmicos arqueológicos. <strong>Canindé</strong><br />

– revista do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> <strong>Arqueologia</strong> <strong>de</strong> xingó. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

<strong>de</strong> Sergipe, v.04, pp.249-282, 2004.<br />

LEITE, C.A. Transformações técnicas <strong>de</strong> argilo-minerais haloisíticos<br />

na faixa <strong>de</strong> temperatura <strong>de</strong> 400º a 1300º C – estudo por microscopia e<br />

difração eletrônicas. dissertação <strong>de</strong> Mestrado, Instituto <strong>de</strong> Física,<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 1986.<br />

LEMONNIER, P. The study of material culture today: toward an anthropology<br />

of technical systems. Journal of Anthropological Archaeology,<br />

5, pp. 147-186, 1986.<br />

_____.Elements for anthropology of technology. Michigan, <strong>Museu</strong>m of<br />

Anthropological Research (88), University of Michigan, 1992.<br />

LÉVI-STRAUSS, C. Introdução à obra <strong>de</strong> Marcel Mauss. IN: Sociologia<br />

e Antropologia. São Paulo, Edusp, pp. 1-36, 1974.<br />

_____.A oleira ciumenta. São Paulo, Brasiliense, 1986.<br />

_____.O pensamento selvagem. Campinas, Papirus, 1989.<br />

LEROI-GOURHAN, A. Vocabulaire – fouilles <strong>de</strong> Pincevent: essai<br />

D’anacyse ethnographique dún habitat magdalenien. La Section 36,<br />

CNRS, Paris, 1972.<br />

MEGGERS, B. & CLIFFORD, E. Como interpretar a linguagem cerâmica<br />

– manual para arqueólogos. Washington, Smithsonion Institution,<br />

1970.<br />

OLIVEIRA, C. A. Estilos tecnológicos da cerâmica pré-histórica no<br />

Su<strong>de</strong>ste do Piauí, Brasil . São Paulo, FFLCH/MAE-USP, Tese <strong>de</strong> Doutoramento,<br />

2000.<br />

PALLESTRINI, L. Interpretações das estruturas arqueológicas do estado<br />

<strong>de</strong> São Paulo. Coleção <strong>Museu</strong> Paulista, Série Arqueológica, 1, Fundo<br />

<strong>de</strong> Pesquisa do <strong>Museu</strong> Paulista, USP, Tese <strong>de</strong> Livre docência, 1975.<br />

PROUS, A. <strong>Arqueologia</strong> Brasileira. Brasília, Editora da UNB, 1992<br />

(2004).<br />

SACKETT, J. R. Approaches to style in lithic archaeology. Journal of<br />

Anthropological Archaeology, 1, pp. 59-112, 1982.<br />

_____.Style and ethnicity in archaeology: the core for isochrestism. In:<br />

CONKEY, M.W. & HASTORF, C. (editors). The uses of style in archaeology.<br />

Cambridge, Cambridge University Press, pp.32- 43, 1990.<br />

SCHIFFER, M.B. & SKIBO, J.M. The explanation of artifact variability.<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


182<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

American Antiquity. 62 (1), pp.27-50, 1997.<br />

SÉRONIE-VIVIEN, M.R. Introduction l’etu<strong>de</strong> <strong>de</strong> poteries pré-historiques.<br />

Le Bouscat, Paris, 1975.<br />

SILVA, F. A. As tecnologias e seus significados: um estudo da cerâmica<br />

dos Asurini do Xingu e da cestaria dos Kayapó-Xikrin sob uma<br />

perspectiva etnoarqueológica. São Paulo, FFLCH/MAE-USP, Tese <strong>de</strong><br />

Doutoramento, 2000.<br />

van <strong>de</strong>r LEEUW, S. Given the potter a choice: conceptual aspects of<br />

pottery techniques. IN: LEMONNIER, P. technological choices,<br />

transformation in material culture since the Neolithic. London,<br />

Routledge, pp. 238-288, 1993.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Ao Prof. Dr. Evaristo Pereira Goulart (IPT-SP), pela efetiva cooperação<br />

nas interpretações físico-químicas dos vestígios cerâmicos do<br />

sítio Rezen<strong>de</strong>, ao Prof. Dr. Flávio Machado <strong>de</strong> Souza (Instituto <strong>de</strong> Geociências/USP)<br />

pela confecção e análise dos difratogramas <strong>de</strong> raios-x e<br />

ao Prof. Eduardo Vantuil Rodrigues Santiago (arqueólogo, <strong>MAX</strong>/<strong>UFS</strong>),<br />

pela confecção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos e pranchas do material cerâmico.<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 183<br />

Imagem 01 – Vasilhame semi-esférico, com borda direta e lábio arredonda-<br />

Imagem 02 – Reconstituição da borda com incisão<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


184<br />

Conjuntos artefatuais CerâmiCos do sítio rezen<strong>de</strong>, Centralina, minas Gerais<br />

Imagem 03 – Vasilhame globular com borda extrovertida<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006


FagundEs, marcElo 185<br />

Prancha 02 – Bordas do sítio Rezen<strong>de</strong>:<br />

<strong>Canindé</strong>, <strong>Xingó</strong>, nº 7, Junho <strong>de</strong> 2006

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!