12.04.2013 Views

Do Feminismo a Judith Butler - Miguel Vale de Almeida

Do Feminismo a Judith Butler - Miguel Vale de Almeida

Do Feminismo a Judith Butler - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

produz as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos inadmissíveis que reprime, <strong>de</strong> modo a estabelecer e<br />

manter a estabilida<strong>de</strong> das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> género e sexo aceitáveis – no que é um uso<br />

da crítica da hipótese repressiva feita por Foucault. A Lei que proibe uniões<br />

incestuosas ou homossexuais simultaneamente inventa-as e convida-as. A<br />

heterossexualida<strong>de</strong> requer a homossexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma a po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>finir-se e a manter<br />

a sua estabilida<strong>de</strong>.<br />

Vejamos agora a questão da performativida<strong>de</strong>. <strong>Butler</strong>, como vimos, colapsou a<br />

distinção sexo-género <strong>de</strong> modo a argumentar que não há sexo que não seja <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo<br />

e sempre género, não havendo corpo natural pré-existente à sua inscrição cultural. O<br />

género não é algo que se é, mas algo que se faz, um acto ou, melhor, uma sequência<br />

<strong>de</strong> actos, um verbo e não um substantivo. Eis uma famosa passagem: “o género é a<br />

estilização repetida do corpo, um conjunto <strong>de</strong> actos repetidos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma moldura<br />

reguladora rígida, que congelam ao longo do tempo <strong>de</strong> modo a produzirem a<br />

aparência <strong>de</strong> substância, <strong>de</strong> um ser natural.” Isto mostra que ela não sugere que o<br />

sujeito seja livre <strong>de</strong> escolher o género que quer colocar em acto.<br />

É aliás por isso que é importante a distinção entre performance e performativida<strong>de</strong>. A<br />

performance necessita <strong>de</strong> um sujeito pré-existente, a performativida<strong>de</strong> questiona a<br />

própria noção <strong>de</strong> sujeito. Ela explicitamente liga a sua noção <strong>de</strong> performativida<strong>de</strong> à<br />

teoria <strong>de</strong> Austin em How to do things with words e à <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong>ssa teoria feita<br />

por Derrida no ensaio “Signature Evenement Contexte”.<br />

Mas se há vinheta pela qual <strong>Butler</strong> ficou famosa é a que utiliza a imagem do drag em<br />

geral e da drag queen em particular. Todo o género é uma forma <strong>de</strong> paródia, mas<br />

algumas performances <strong>de</strong> género são mais paródicas que outras. Performances<br />

paródicas como o drag revelam eficazmente a natureza imitativa <strong>de</strong> todas as<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> género, não presupondo um original já que é a própria noção <strong>de</strong><br />

original que está a ser parodiada. É claro que o problema está em que a subversão e a<br />

agência estão condicionadas por discursos a que não po<strong>de</strong>m escapar. Há, <strong>de</strong> facto,<br />

formas <strong>de</strong> drag que não são subversivas, por ex., Tootsie ou Mrs <strong>Do</strong>ubtfire, pois<br />

servem para reforçar as estruturas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Mas a subversão po<strong>de</strong> existir. Não se<br />

7

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!