Anita Garibaldi - “A heroína dos dois mundos''
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CRISTIAN CARASSAI FRANTZ<br />
LEIZIMARA DORNELES LOPES<br />
LISIANE BRASIL ARAUJO<br />
ANITA GARIBALDI: A AMANTE GUERREIRA DA<br />
REVOLUÇÃO FARROUPILHA<br />
Artigo Cientifico<br />
Aprovação em Instrumentalização Científica<br />
Curso de Turismo<br />
Universidade Luterana do Brasil<br />
Orientador: Roni Dalpiaz<br />
Mostardas<br />
2006
CRISTIAN CARASSAI FRANTZ<br />
LEIZIMARA DORNELES LOPES<br />
LISIANE BRASIL ARAUJO<br />
ANITA GARIBALDI: A AMANTE GUERREIRA DA<br />
REVOLUÇÃO FARROUPILHA<br />
Orientadora: Alexandra Zottis<br />
Mostardas<br />
2006<br />
Artigo Cientifico<br />
Aprovação em Administração de Marketing<br />
Curso de Turismo<br />
Universidade Luterana do Brasil
RESUMO<br />
ANITA GARIBALDI: A AMANTE GUERREIRA DA<br />
REVOLUÇÃO FARROUPILHA<br />
Cristian Carassai Frantz 1<br />
Leizimara Dorneles Lopes<br />
Lisiane Brasil Araujo<br />
O artigo apresenta o início e o fim da tragetoria de Ana Maria de Jesus Ribeiro,<br />
mais conhecida como <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong>, esta tragetória ficou marcada na história do Rio<br />
Grande do Sul.<br />
tinha.<br />
<strong>Anita</strong> e considerada um símbolo para a mulher gaúcha pela força e garra que ela<br />
Palavras-chave: <strong>Anita</strong>. Revolução Farroupilha. <strong>Garibaldi</strong><br />
1 Acadêmicos do 2º semestre de Turismo da Universidade Luterana do Brasil/Torres - RS
INTRODUÇÃO<br />
Ana Maria de Jesus Ribeiro * Nasceu em 1821 em Morrinhos, Laguna, na<br />
então província de Santa Catarina. Seus pais, Bento Ribeiro da Silva e Maria Antônia<br />
de Jesus, eram pobres, porém honra<strong>dos</strong>. Do seu pai parece ter herdado a energia e a<br />
coragem pessoal, relevando desde criança um caráter independente e resoluto. Em<br />
1835, já falecido o pai, casou aos catorze anos por insistência materna, com Manuel<br />
Duarte de Aguiar, na Igreja Matriz Santo Antônio <strong>dos</strong> Anjos da Laguna. O curto<br />
matrimônio, sem afinidades e sem filhos, revelou-se um fracasso seguido de<br />
separação.<br />
Aos 18 anos conheceu a José <strong>Garibaldi</strong> que viera com as tropas farroupilhas de<br />
Davi Canabarro e Joaquim Teixeira Nunes tomar a Laguna em julho de 1939, fundando<br />
a República Juliana <strong>dos</strong> Cem Dias. <strong>Garibaldi</strong> chegara á Laguna com fama de herói pelo<br />
feito épico que acabara realizar ao transportar, por terra, as duas embarcações<br />
“Farroupilha” e “Seival” de Capivari e Tramandaí e posterior salvamento do naufrágio da<br />
primeira ao sul do Cabo de Santa Marta. Seu encontro com <strong>Anita</strong> resultou em amor a<br />
primeira vista, dando origem a um <strong>dos</strong> mais belos romances de amor e dedicação<br />
incondicionais. A 20 de outubro de 1839 <strong>Anita</strong> decide seguir José <strong>Garibaldi</strong>, subindo a<br />
bordo de seu navio para uma expedição de corso até Cananéia. Sua lua de mel tem<br />
lances de grande dramaticidade: Em Imbituba recebe seu batismo de fogo ao serem os<br />
corsários ataca<strong>dos</strong> por forças marítimas legais. Dias depois, a 15 de Novembro, <strong>Anita</strong><br />
confirma sua coragem ímpar e amor heróico a <strong>Garibaldi</strong> e á cansa na célebre batalha<br />
naval de Laguna, contra Frederico Mariath, em que se expõe a mil mortes ao atravessar<br />
uma dúzia de vezes num pequeno escaler a área de combate para transportar<br />
munições em meio de verdadeira carnificina humana. Com o fim da efêmera República<br />
Lagunense, o casal segue na retirada para o sul. Subindo a serra, <strong>Anita</strong> combate ao<br />
lado de <strong>Garibaldi</strong> em Santa Vitória, passa o Natal de 1839 em Lages, toma parte ativa<br />
no combate das Forquilhas (Curitibanos) à meia-noite de 12 de janeiro seguinte. Feita<br />
prisioneira de Melo Albuquerque, consegue deste comandante permissão para procurar<br />
no campo de batalha o cadáver de <strong>Garibaldi</strong> que lhe haviam dito morto. Foge depois
espetacularmente, embrenhando-se pela mata atravessando o Rio Canoas a nado<br />
reencontrando as tropas em retirada e seu Giuseppe, oito dias depois. Em 16 de<br />
Setembro de 1840 nasceu seu primogênito Menotti em Mostardas, na região da Lagoa<br />
<strong>dos</strong> Patos, no Rio Grande do Sul. Doze dias depois do parto, é obrigada a fugir<br />
dramaticamente a cavalo, seminua e com o recém-nascido ao colo, de um ataque<br />
noturno de Pedro de Abreu durante a ausência de <strong>Garibaldi</strong>. Reencontra<strong>dos</strong> depois,<br />
<strong>Anita</strong> e o filho seguiram, também, na posterior grande retirada pelo mortífero vale do<br />
Rio das Antas, da qual nos conta o próprio <strong>Garibaldi</strong> foi a mais medonha que jamais<br />
acompanhou, e que a desesperada coragem de <strong>Anita</strong> conseguiu meios de salvar o filho<br />
à última hora. Em 1841, dispensado por Bento Gonçalves, <strong>Garibaldi</strong> segue com a<br />
pequena família para Montevidéu, engajando-se nas lutas uruguaias contra o tirano<br />
Rosas. A 26 de Março de 1842, <strong>Garibaldi</strong> casa com <strong>Anita</strong> na antiga Igreja de São<br />
Francisco de Assis. Nos anos seguintes <strong>Anita</strong> tem mais 3 filhos Rosita, Teresita e<br />
Riccioti. Rosita não consegue vencer um ataque de difteria, falecendo aos trinta meses,<br />
deixando seus pais desespera<strong>dos</strong>. Em fins de 1847 segue <strong>Anita</strong> com seus três filhos<br />
para a Itália, para Gênova e Nice sendo seguida pelo marido poucos meses depois. Na<br />
Itália <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> deu múltiplas demonstrações de aprimoramento intelectual,<br />
aparecendo como esposa condigna do herói italiano cuja estrela começa a brilhar<br />
internacionalmente. Infelizmente a vida de <strong>Anita</strong> foi demasiado curta. Em mea<strong>dos</strong> de<br />
1849 vai a Roma sitiada pelos franceses ao encontro do marido, e com ele e sua<br />
Legião italiana faz a célebre retirada, dando repetidas mostras de grande dignidade e<br />
de coragem em lances de bravura frente aos inimigos austríacos. Grávida pela quinta<br />
vez e muito doente, não aceita os conselhos para permanecer em San Marino para<br />
restabelecer-se. Não quer abandonar o marido quando quase to<strong>dos</strong> o abandonam.<br />
Acompanhado de poucos fiéis, ziguezagueando pelos pântanos ao Norte de Ravenna,<br />
fugindo <strong>dos</strong> Austríacos, prometendo pena de morte a eles garibaldinos e a quem lhes<br />
ajudasse José <strong>Garibaldi</strong> vê definhar rapidamente a mulher que mais amou na vida e de<br />
sua coragem disse desejara muitas vezes fosse a dele! Pelas 19 horas do dia 4 de<br />
agosto de 1849, <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> falece nos braços do esposo em pranto, longe <strong>dos</strong><br />
4
filhos, num quartinho do segundo pavimento da casa <strong>dos</strong> irmãos Ravaglia em<br />
Mandriole, próximo a Santo Alberto.<br />
GARIBALDI E A GUERRA DOS FARRAPOS<br />
A 20 de setembro de 1835, explode uma revolução na Província de São Pedro<br />
do Rio Grande do Sul. Os liberais, lidera<strong>dos</strong> por Bento Gonçalves da Silva, contra os<br />
conservadores, que tiveram vários chefes ao longo <strong>dos</strong> dez anos de duração da luta<br />
amada. Depois de um ano de revolução intransigente <strong>dos</strong> liberais, apelida<strong>dos</strong> de<br />
Farroupilhas ou Farrapos, contra os conservadores, chama<strong>dos</strong> de Camelos ou<br />
Caramurus, os farroupilhas desistiram da paz e proclamaram a República em 11 de<br />
Setembro de 1836. Separando o Rio Grande do Sul do Brasil, com o nome de<br />
República Riograndense, tentaram, ao longo de nove anos, organizar a estrutura de<br />
uma nação independente republicana, assolada por muitos problemas, mas cheia de<br />
bravura, tratando de realizar um Estado completo, com os serviços públicos, o exército<br />
e a marinha, porque os tempos eram de guerra. Aí é que entra <strong>Garibaldi</strong>.<br />
O exército republicano teve, antes de qualquer coisa, forças de cavalaria, sendo,<br />
como são até hoje os rio-grandenses cavaleiros. O problema maior era a falta de<br />
pessoal para a Marinha de Guerra, já que os rio-grandenses são homens do lombo do<br />
cavalo, não do dorso das ondas do mar. Ademais, a costa atlântica rio-grandense, não<br />
tem portos naturais. Estaleiros navais, só em Portugal. A República possuía um<br />
pequeno estaleiro na foz do Rio Camaquã, usado para a construção de barcos em<br />
futuros combates.<br />
<strong>Garibaldi</strong> constrói e arma lanchões de guerra e faz prodígios operando nas<br />
águas rasas da Lagoa <strong>dos</strong> Patos, pondo em xeque a poderosa esquadrilha imperial<br />
brasileira, comandada por um experiente almirante inglês, chamado John Pascoe<br />
Grenfell, mercenário a serviço da Corte no Rio de Janeiro.
GARIBALDI: COMANDANTE DA MARINHA RIO-GRANDENSE<br />
Em 1 de setembro de 1838, Giuseppe <strong>Garibaldi</strong> é nomeado capitão-tenente,<br />
Comandante da Marinha Farroupilha. Retorna, então, ao estaleiro de Camaquã, a fim<br />
de apurar a construção de mais <strong>dois</strong> lanchões.<br />
A ordem recebida por <strong>Garibaldi</strong>, chefe da Marinha Rio-grandense, era difícil de<br />
ser cumprida: <strong>“A</strong>poiar com seus lanchões as forças de David Canabarro incumbidas de<br />
tomar Laguna para, a partir dali, estabelecer um porto, haja vista que a cidade de Rio<br />
Grande estava em poder <strong>dos</strong> imperiais”.<br />
No dia 5 de julho, <strong>Garibaldi</strong> remonta o pequeno rio Capivari, onde não podem<br />
manobrar os pesa<strong>dos</strong> barcos do Império, puxando sobre roda<strong>dos</strong>, para a terra, os <strong>dois</strong><br />
lanchões artilha<strong>dos</strong>, com cem juntas de bois, atravessando ásperos caminhos, pelos<br />
campos úmi<strong>dos</strong> – em alguns trechos completamente submersos. Piquetes corriam os<br />
campos entulhando atoleiros, enquanto outros, cuidavam da boiada.<br />
Levam seis dias até a Lagoa Tomás José, chegando, portanto, a 11 de julho.<br />
Cada barco tinha <strong>dois</strong> eixos e, naturalmente, quatro rodas imensas, revestidas de couro<br />
cru. No dia 13, seguem da Lagoa Tomás José a Barra do Tramandaí, sob o Oceano<br />
Atlântico, e, no dia 15, lança-se ao mar com sua tripulação mista: 70 homens –<br />
<strong>Garibaldi</strong> comanda o Farroupilha, com dezoito toneladas, e griggs, o Seival, com 12<br />
toneladas – ambos arma<strong>dos</strong> com quatro canhões de doze polegadas, de molde<br />
“escuna”.<br />
Em plena tormenta, seu barco naufraga e ele vê, impotente e desesperado,,<br />
amigos queri<strong>dos</strong> e companheiros preciosos sendo traga<strong>dos</strong> pelas ondas revoltadas<br />
com tamanha audácia. <strong>Garibaldi</strong> escapa a nado e com apenas o barco remanescente,<br />
será parte decisiva na tomada da Província de Santa Catarina, secundada por mar pelo<br />
exército farrapo, comandado por David Canabarro, onde brilhava a espada invicta de<br />
6
Joaquim Teixeira Nunes, o heróico e bizarro comandante <strong>dos</strong> Lanceiros Negros, que<br />
seguem por terra.<br />
A REPÚBLICA CATARINENSE E ANITA<br />
Em 29 de julho de 1839, em Santa Catarina, <strong>Garibaldi</strong> e os Farrapos<br />
proclamaram a República Juliana, na gloriosa imprudência de quem sonhava<br />
transformar todas as províncias do Império Brasileiro em repúblicas autônomas, porém<br />
federadas. Sua atuação com os barcos imperiais que tomou como presa de guerra e<br />
colocou sob o seu comando na campanha de Santa Catarina, foi notável sob to<strong>dos</strong> os<br />
aspectos, revelando-se mais que um simples comandante de barco de guerra, um<br />
verdadeiro almirante, capaz de traçar estratégia naval, com uma visão abrangente do<br />
teatro de guerra, operando em conjunto com as forças terrestres. Então, numa tarde, da<br />
amurada de seu navio, viu uma jovem senhora, quase uma menina, apanhando água<br />
numa fonte, porque se recusara, ao contrário do marido, a fugir para as montanhas,<br />
diante da fúria <strong>dos</strong> combates. Seu nome: Ana Maria de Jesus Ribeiro, natural <strong>dos</strong><br />
arredores de Laguna, uma brasileira típica.<br />
<strong>Garibaldi</strong> tem 32 anos, é alto, fortíssimo e alourado, com cabelos e barba<br />
cresci<strong>dos</strong>. Pergunta-lhe o nome. Ela responde: <strong>“A</strong>na”. Ele diz, com ternura, talvez<br />
aludindo a sua pouca idade ou estatura: “<strong>Anita</strong>”. Pede-lhe água. Ela lhe alcança. É uma<br />
mulher pequena, forte, bela e atraente, sem ser bonita. É extremamente jovem, mas<br />
audaz. A frase então pronunciada por <strong>Garibaldi</strong>, naturalmente em italiano, porque<br />
jamais aprendeu o português, foi: “Tu, tens que ser minha”.<br />
O amor foi imediato e fulminante. Perduraria sem estremecimentos nos poucos<br />
anos que viveram lado a lado. Por dez anos esse amor iluminou a História de <strong>dois</strong><br />
continentes, igualando-se aos grandes romances da História Universal.<br />
GARIBALDI: COMANDANTE DA MARINHA CATARINENSE
Em 10 de agosto, ele é oficialmente nomeado Comandante em Chefe da<br />
Marinha Catarinense. Os Farrapos não se cansam de elogiar a ação do jovem Capitão-<br />
Tenente.<br />
Em 23 de outubro de 1839, tentando conseguir os mantimentos para a<br />
população civil, com <strong>Anita</strong> a bordo, sai a corso, bordejando o litoral do Paraná e São<br />
Paulo.<br />
No dia 3 de novembro, há o combate naval de Imbituba, nas costas de Santa<br />
Catarina, e <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> combate ao lado <strong>dos</strong> marinheiros com grande bravura. Ela<br />
está a bordo do Seival, que tem a bandeira de nau capitânia da pequena frota corsária.<br />
Depois de abastecer a população civil e tomar parte, contrariado, no saque da<br />
Vila de Imaruí, fiel à monarquia, no dia 15, e comandando seis embarcações, <strong>Garibaldi</strong><br />
enfrenta dezessete navios imperiais na famosa batalha naval de Laguna, quando teve<br />
pela frente o Almirante Imperial Frederico Mariath. <strong>Anita</strong> luta bravamente; inúmeras<br />
vezes remando pequeno bote, atravessa o Canal da Barra, levando munição e coragem<br />
às tripulações sob o comando do herói. Na iminência de ser esmagado pela<br />
superioridade numérica do inimigo e tendo perdido cinco de seus comandantes, com a<br />
saída cortada para o mar, <strong>Garibaldi</strong> recebe ordem superior de queimar os seus seis<br />
navios e de juntar o que resta de suas tripulações ao exército de terra, que prepara a<br />
retirada de Laguna. Esta batalha naval teve lances grotescos, com barcos se<br />
canhoneando, praticamente encosta<strong>dos</strong>. Pelo muito que se arriscaram, <strong>Garibaldi</strong> e<br />
<strong>Anita</strong> sobreviveram por milagre.<br />
Em 14 de dezembro, em plena retirada para o Planalto Catarinense, <strong>Garibaldi</strong> e<br />
<strong>Anita</strong> combatem ao lado <strong>dos</strong> Farrapos, às margens do rio Pelotas e terminam entrando<br />
vitoriosos em Lages. <strong>Garibaldi</strong> e <strong>Anita</strong> fazem parte de uma tropa de 120 infantes e 80<br />
cavalarianos.<br />
8
Em Lages, aclama<strong>dos</strong> como heróis liberta<strong>dos</strong>, os <strong>dois</strong> apaixona<strong>dos</strong> vivem alguns<br />
dias de paz e intenso amor. Tudo indica que aí foi gerado o primeiro filho do casal –<br />
Domenico Menotti.<br />
No dia 12 de janeiro de 1840, há o combate de Forquilhas, em Curitibanos, nas<br />
proximidades do rio Marombas, quando os Farrapos, em plena retirada, são derrota<strong>dos</strong>.<br />
<strong>Anita</strong> cai prisioneira <strong>dos</strong> imperiais. Dizem-lhe que <strong>Garibaldi</strong> morreu em combate. Pouco<br />
depois, ela foge roubando um cavalo e atravessando a nado o rio Canoas e vai<br />
reencontrar o seu amado em Lages. Possivelmente grávida, havia cavalgado, corrido e<br />
nadado não menos de 80 km de mato, pradarias e rios.<br />
RETORNO AO RIO GRANDE DO SUL<br />
Em março, os Farrapos voltam ao Rio Grande do Sul. <strong>Garibaldi</strong> e <strong>Anita</strong> vêm com<br />
eles. Em abril, <strong>Garibaldi</strong> toma parte no cerco a Porto Alegre. Em maio, participa da<br />
indecisa batalha de Taquari, de gigantescas proporções.<br />
NASCE O FILHO GAÚCHO DE ANITA E GARIBALDI<br />
No dia 16 de setembro de 1840, nascia, em São Luis de Mostardas, na casa da<br />
família Costa, na localidade de São Simão, o primogênito de Giuseppe e <strong>Anita</strong>,<br />
Domenico ou Domingos Menotti <strong>Garibaldi</strong>.<br />
DOMÊNICO (ou em português, DOMINGOS ou ainda DOMINGO) MENOTTI<br />
GARIBALDI recebeu seu primeiro nome do avô paterno e, o segundo, de Ciro Menotti,<br />
herói italiano da Unificação, ídolo de <strong>Garibaldi</strong> executado em 1831.<br />
<strong>Garibaldi</strong> deve viajar a Viamão, em busca de recursos e para avisar Luigi<br />
Rossetti do nascimento de Domenico. Os Farrapos vivem tempos ruins para a<br />
República e apenas sua lendária coragem os mantém de pé e lutando. <strong>Garibaldi</strong> é um<br />
deles, mas, na sua ausência, o tenaz Chico Pedro de Abreu, informado da presença<br />
9
<strong>dos</strong> <strong>Garibaldi</strong> no local e ainda cicatrizando o ferimento de Camaquã, ataca o rancho <strong>dos</strong><br />
Costa. <strong>Anita</strong> agarra o filho, que tem apenas doze dias, e, delirando de febre puerperal,<br />
precariamente vestida, só tem uma preocupação: salvar Menotti. Monta o cavalo em<br />
pêlo e amamentando o filho a galope percorre um caminho que sempre foi conhecido<br />
como a “Estrada do inferno”, que só veio a ser asfaltada na última década do século<br />
XX.<br />
Após conseguir alguns recursos com Rosseti e outros amigos, <strong>Garibaldi</strong> compra<br />
o que era necessário para <strong>Anita</strong> e Menotti e retorna para São Simão. Ao chegar à Roça<br />
Velha. Fica sabendo o que tinha se passado na sua ausência. Foi informado, também,<br />
que “Moringue” e sua gente tinham atacado de surpresa, matando quase to<strong>dos</strong> os<br />
farrapos, inclusive o Capitão Máximo. Chico Pedro e sua cavalaria desceram para São<br />
José do Norte a fim de dispensar os grupos revolucionários que haviam permanecido<br />
após a retirada daquela Vila, considerada como a última oportunidade que os Farrapos<br />
tiveram de conseguir um porto de mar. E <strong>Anita</strong>? E Menotti? Onde estariam?<br />
Tranqüilizado e orientado por moradores, <strong>Garibaldi</strong> encontra-os e retornam para o<br />
rancho.<br />
<strong>Garibaldi</strong>, <strong>Anita</strong>, Menotti e seus marinheiros ainda permanecem por um tempo<br />
em São Simão. Depois, recebem ordem de se estabelecerem à margem do Rio<br />
Capivari, no mesmo local, onde havia um ano tinham transportado os lanchões para a<br />
barra do Tramandaí. <strong>Anita</strong> sofre, resignadamente, as privações impostas pela vida.<br />
<strong>Garibaldi</strong> não pode abandonar seus companheiros de luta; sem Rosseti, não partiriam,<br />
e este se recusava a abandonar a causa da República.<br />
<strong>Garibaldi</strong> e <strong>Anita</strong> assumem o compromisso de pai e mãe sem dar trégua à<br />
epopéia. Somente depois do nascimento de Menotti, <strong>Garibaldi</strong> sente a necessidade de<br />
dar à <strong>Anita</strong> e ao filho uma outra vida. São eles que o convencem, provavelmente sem<br />
palavras, de que a romântica Revolução acabara e de que era necessário encontrar a<br />
paz e recompor as tropas. <strong>Garibaldi</strong> evoca nas “Memórias”, sua admiração pela mulher<br />
que é também mãe: ele sente fortemente sua condição de pai.<br />
10
A DECISÃO DA PARTIDA: RUMO AO URUGUAI<br />
Após tamanha odisséia, abandonando canhões e cavalhadas, seguem até o<br />
Planalto da Vacaria e, depois, com mais vagar e sem tragédias, infletem para o oeste,<br />
seguindo o divisor das águas que hoje é a estrada Transmissioneira. Passam por Mato<br />
Castelhano e alcançam Passo Fundo e Cruz Alta. Em 15 de março de 1841, Giuseppe<br />
e <strong>Anita</strong> estão em São Gabriel, onde permanecem, por algum tempo, no novo<br />
acampamento farroupilha – sede da heróica República Rio-grandense. <strong>Garibaldi</strong><br />
decide, então, conforme escreveu em suas “Memórias”, partir para o Uruguai. Estava<br />
convencido de que o movimento estacionara e que o melhor seria estabelecer a paz<br />
entre os farrapos e o império. Além disso, as privações sofridas por <strong>Anita</strong>, a pobreza em<br />
que viviam e as dificuldades enfrentadas desde o nascimento do filho fizeram <strong>Garibaldi</strong><br />
tomar a decisão da partida.<br />
Nas suas “Memórias”, <strong>Garibaldi</strong> assim se refere à sua viagem a Montevidéu,<br />
como tropeiro: “na Estância de Curral de Pedras, após obter a autorização do Ministro<br />
das Finanças, consegui reunir em vinte dias, com muito sacrifício, cerca de novecentos<br />
animais que deveriam, com árdua tarefa, levar a Montevidéu, aonde cheguei com<br />
apenas trezentas peças de couro. Obstáculos insuperáveis apresentaram-se pelo<br />
caminho, sendo o maior deles a enchente do Rio Negro, onde quase perdi toda a<br />
boiada. O rio que transbordou, a minha inexperiência como tropeiro e a desonestidade<br />
de certos mercenários responsáveis pela condução <strong>dos</strong> animais fizeram com que<br />
restassem somente quinhentas cabeças após a travessia do Rio Negro. A longa<br />
estrada que ainda percorríamos e o pouco alimento que transportávamos prejudicaram<br />
também a sua chegada a Montevidéu. Decidi, sem outra alternativa, matar os bois e<br />
retirar seu couro, deixando a carne aos corvos. Não havia outra maneira de agir”.<br />
11
Ao atravessar a fronteira com o Uruguai, Giuseppe Maria <strong>Garibaldi</strong> levava a<br />
fatura Heroína <strong>dos</strong> Dois Mun<strong>dos</strong> – <strong>Anita</strong>, um filho de oito meses, uma formação de<br />
guerrilheiro, uma boiada minguada e a sugestão de uma lenda.<br />
Após cinqüenta dias, percorrendo aproximadamente oitocentos quilômetros,<br />
<strong>Garibaldi</strong> chega a Montevidéu com a família. Estava encerrada sua participação na<br />
Guerra <strong>dos</strong> Farrapos, no dia 17 de junho de 1841.<br />
Aninha vai bem e manda um abraço a to<strong>dos</strong>, 150 anos após a sua morte. Ela está<br />
apreensiva, mas de consciência tranqüila, e não guarda rancores pelo que foi dito<br />
sobre ela ao longo de to<strong>dos</strong> esses anos. Acompanhando os acontecimentos lá de cima,<br />
aguarda o momento de finalmente descansar em paz. Apesar de não ter aprendido a<br />
ler ou escrever, seguramente sabe contar, havendo contabilizado um saldo positivo a<br />
seu favor ao operar o balanço. Mas nem sempre o fiel ascendeu. Em alguns momentos<br />
ele foi lá embaixo, permanecendo algumas ocasiões sob o tapete.<br />
Por volta de 1918 aconteceu uma. "José Boiteux, que foi um <strong>dos</strong> grandes<br />
historiadores nacionais, um dia se deu a procurar, para os la<strong>dos</strong> do Rincão, a casa em<br />
que habitara. Bateu palma e, atendido por uma velha, teve aquela decepção que o povo<br />
sabe. Aquilo era um bordel e quem o atendera, uma exploradora de mulheres, lhe fez<br />
ver a <strong>Anita</strong> bem diferente da outra, que agora residia ali: a '<strong>Anita</strong> das sete virgindades'."<br />
O fato ocorreu em Laguna e foi relembrado pelo jornal "Correio do Sul", no dia 10 de<br />
julho de 1949, pouco antes das comemorações <strong>dos</strong> cem anos da sua morte.<br />
Quando se discutiu na Constituinte de 1934 a implantação do voto feminino no<br />
Brasil, alguém no plenário lembrou os feitos de <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> como <strong>heroína</strong>, usando o<br />
argumento em favor da proposta. Em aparte, o deputado de Santa Catarina, Arão<br />
Rebelo, fez umas "referências apressadas e de nenhuma consistência histórica sobre<br />
12
<strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong>, recusando-lhe certas condições à intangibilidade física da Heroína <strong>dos</strong><br />
Dois Mun<strong>dos</strong>, catarinense de nascimento", relata o advogado Renato Barbosa.<br />
ITÁLIA ERGUEU GRANDES MONUMENTOS<br />
Quantidade de homenagens ao casal <strong>Garibaldi</strong> no país onde <strong>Anita</strong> morreu revela<br />
a profunda admiração <strong>dos</strong> italianos pela <strong>heroína</strong> brasileira.<br />
Aqui estão os restos mortais de <strong>Anita</strong> “<strong>Garibaldi</strong>”, anuncia uma placa fixada no<br />
magnífico monumento com que o ditador Benito Mussolini decidiu homenagear a<br />
famosa lagunense, valendo-se de seu passado heróico para levantar os brios do povo<br />
italiano.<br />
A localização privilegiada já indica o carinho que os italianos dedicam há anos a<br />
<strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong>. Está no Gianícolo, numa das sete colinas de Roma, na Piazza <strong>Anita</strong><br />
<strong>Garibaldi</strong>, a 100 metros de um gigantesco pedestal construído em cimento que abriga a<br />
legendária figura de Giuseppe <strong>Garibaldi</strong>.<br />
Naquele local, onde se descortina uma bela paisagem do centro da capital<br />
italiana, travou-se uma das mais heróicas batalhas pela instauração da República em<br />
Roma. <strong>Garibaldi</strong> manteve o ponto estratégico com apenas 15 mil solda<strong>dos</strong>, contra 65<br />
mil <strong>dos</strong> inimigos franceses. Registrou-se ali um <strong>dos</strong> mais sangrentos combates do longo<br />
período pela implantação da República. É conhecido oficialmente como "Passegiata Del<br />
Gianicolo".<br />
A área é inteiramente arborizada. Veículos circulam em grande quantidade<br />
durante todo o dia. Lanchonetes móveis representam um bom indicativo da presença<br />
constante de turistas nacionais e estrangeiros. As obras que se realizavam nas<br />
proximidades durante os meses de junho e de julho sinalizam para alguma restauração<br />
comemorativa aos 150 anos de morte da ilustre catarinense.<br />
13
A inauguração do monumento foi um acontecimento político de grande<br />
repercussão em Roma. Mussolini providenciou, em primeiro lugar, a transferência <strong>dos</strong><br />
restos mortais de <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> de Nice para a capital italiana. O pedido foi feito em<br />
1930. Como o monumento não ficou concluído, autorizou a transferência de Nice para<br />
Gênova, o que ocorreu em 1931. A imprensa da época registra uma extraordinária<br />
afluência de público. Os garibaldinos comemoram até hoje, enfatizando: "Foi o maior<br />
cortejo fúnebre da história da Itália". As associações garibaldinas na Itália reproduzem<br />
em revistas, jornais e panfletos as fotos da célebre passeata.<br />
A imensa escultura de bronze está colocada sobre um pedestal de alvenaria,<br />
medindo cerca de dez metros de largura e oito de altura. Sobre ele, uma mulher jovem<br />
montada no selim do cavalo a galope, patas dianteiras no ar. Com um revólver na mão<br />
direita e uma criança recém-nascida agarrada com a mão esquerda, junto ao peito,<br />
transmite uma imagem forte, até emocionante, mesclada de bravura e amor maternal. A<br />
obra, que levou <strong>dois</strong> anos para ser concluída, é de autoria do escultor Rutelli, avô do<br />
atual prefeito de Roma.<br />
A base do monumento traz quatro outras esculturas em bronze escuro, fixadas<br />
nas laterais do pedestal. Uma delas retrata a célebre batalha do Capão da Mortandade,<br />
ocorrida no município de Curitibanos. Tem seis metros de largura e cinco de altura,<br />
numa reprodução da cena em que <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> fugiu da prisão, atravessando rios e<br />
florestas para reencontrar Giuseppe.<br />
Uma placa de bronze na base marca a homenagem prestada há 64 anos pelos<br />
brasileiros: "A <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> o governo brasileiro, em comemoração ao centenário de<br />
Farrapos. 20-9-1935".<br />
Dois outros marcos históricos são lembra<strong>dos</strong> pelos italianos para homenagear<br />
<strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong>. Um deles, também com uma concepção dramática, é representado pela<br />
cena de <strong>Anita</strong> às vésperas de sua morte. Idealizada pelo escultor Luzi di Rimini, o<br />
monumento foi inaugurado em 24 de abril de 1976. Fica numa pequena praça toda<br />
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gramada, espaço igual à da metade de um campo de futebol, rodeada de árvores, na<br />
frente da Igreja de São Clemente, em Mandriole, na Província de Ravena.<br />
Giuseppe <strong>Garibaldi</strong> segura <strong>Anita</strong>, já enfraquecida, olhando para o céu, como se<br />
buscasse alguma proteção milagrosa para a cura da esposa e a proteção contra o<br />
inimigo. É a imagem que se obtém em outros registros artísticos da fuga do casal, com<br />
<strong>Anita</strong> já acometida por tifo, segundo as versões mais acreditadas, com o marido<br />
sofrendo pesada perseguição <strong>dos</strong> exércitos austríacos.<br />
O tributo prestado na Igreja de São Clemente tem motivação histórica. A capela<br />
é pequena e simples, mas marca a arquitetura do século 16. Em sua sacristia, o corpo<br />
de <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> foi sepultado em 11 de agosto de 1859, graças à intervenção de Dom<br />
Francesco Burzatti. Cientes da busca que os austríacos faziam do corpo encontrado na<br />
fazenda, famílias garibaldinas recolheram os ossos e esconderam em suas casas.<br />
Mediante a garantia do sacerdote de que na Igreja não haveria riscos, procedeu-se a<br />
transferência. Construiu-se então uma sacristia na capela para dar uma sepultura<br />
segura à legendária brasileira.<br />
Na mesma região de Ravena há outra marca do amor <strong>dos</strong> italianos a <strong>Anita</strong><br />
<strong>Garibaldi</strong> - um monumento, de porte médio, com um busto da <strong>heroína</strong> lagunense, foi<br />
construído defronte à casa da Fazenda Guicioli, onde se deu sua morte. O texto<br />
gravado numa placa de bronze destaca em enormes letras: "Do outro oceano, com<br />
cabelos ao vento e o estampido do fuzil, <strong>Anita</strong> foi para <strong>Garibaldi</strong> e para a Itália a<br />
verdadeira imagem da liberdade".<br />
Um casarão antigo, conservado, próximo de uma estrada secundária asfaltada e<br />
bem sinalizada, conserva até hoje, intactos, o quarto e até a cama onde <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong><br />
morreu há 150 anos. Tem um espaço pequeno, com cerca de seis metros quadra<strong>dos</strong>.<br />
As paredes estão decoradas com pinturas de <strong>Anita</strong> e Giuseppe <strong>Garibaldi</strong>, algumas<br />
individuais e outras contendo cenas do general carregando a amada já gravemente<br />
enferma. Ou de <strong>Anita</strong> sendo transportada deitada num carro-de-boi, e Giuseppe<br />
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protegendo-a com um improvisado guarda-sol. E também com passagens pela região<br />
pantanosa de Ravena.<br />
À saída, num escritório improvisado, o visitante pode adquirir diversos cartões<br />
postais de <strong>Anita</strong> e Giuseppe <strong>Garibaldi</strong>, folhetos fotocopia<strong>dos</strong> e pequenas publicações.<br />
Alguns trabalhos são distribuí<strong>dos</strong> gratuitamente e outros vendi<strong>dos</strong> como "souvenirs".<br />
Entre to<strong>dos</strong> os interlocutores italianos, do modesto empregado que atenda o casarão<br />
aos visitantes que chegam, um fato comum: profunda admiração pela jovem<br />
catarinense que ajudou a construir a unificação italiana.<br />
No monumento do Gianicolo estão os restos mortais de <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong><br />
PERSONAGENS SÃO CULTUADOS PELOS GAÚCHOS<br />
A presença <strong>dos</strong> <strong>Garibaldi</strong> no Rio Grande do Sul é cultivada pelos pesquisadores<br />
Elma Sant'Ana e Cary Ramos Valli. Enquanto a primeira lidera o Piquete de <strong>Anita</strong>, com<br />
base em Porto Alegre, o segundo vasculha os sinais das atividades de Giuseppe na<br />
marinha rebelde, sendo presidente do Farroupilha - Grupo de Pesquisas Históricas.<br />
"Atuamos sozinhos, sem apoio oficial, e por isso não conseguimos dar conta", explica<br />
Sant'Ana, autora de várias obras resgatando a presença de <strong>Anita</strong> e sua família naquele<br />
estado.<br />
A memória de <strong>Anita</strong> e Giuseppe começou a ser registrada em 1911 com um<br />
monumento ao casal em Porto Alegre. A iniciativa foi da colônia italiana gaúcha, que<br />
encomendou o trabalho em Carrara (Itália), instalado-o na praça <strong>Garibaldi</strong> no dia 20 de<br />
setembro, data da conquista de Roma em 1870. Na placa está escrito: "Giuseppe e<br />
<strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong>. Ai Riograndensi la Colonia Italiana XX Settembre 1870". Infelizmente, o<br />
monumento não está bem cuidado. "Faltam três de<strong>dos</strong> de <strong>Anita</strong>, que tem o nariz<br />
quebrado. A inscrição está quase apagada", lamenta Sant'Ana.<br />
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Em várias cidades gaúchas foram plantadas mudas da Árvore de <strong>Anita</strong> (figueira)<br />
existente em Laguna, mas não recebem a devida atenção. A de Mostardas, por<br />
exemplo, onde nasceu o primeiro filho da <strong>heroína</strong>, morreu. Não são conhecidas as<br />
condições e a localização de outras que estão em Viamão, Caçapava, Vila de Itapuã e<br />
praça <strong>Garibaldi</strong>, na Capital. "Quando iniciamos as cavalgadas do Piquete de <strong>Anita</strong>,<br />
escolhemos essa praça como ponto de partida", assinala Sant'Ana. As <strong>Anita</strong>s do<br />
piquete vão estar hoje em Laguna, acompanhando a passagem <strong>dos</strong> 150 anos da morte<br />
da inspiradora.<br />
Apesar de to<strong>dos</strong> esses problemas, muita coisa está sendo feita em torno de<br />
<strong>Anita</strong> no Rio Grande do Sul. Elma tem realizado palestras em escolas, "plantando as<br />
sementes", além de idealizar um Roteiro <strong>Garibaldi</strong>no, abrangendo alguns municípios<br />
por onde o italiano passou - Capivari do Sul, Tramandaí, Cruz Alta, São Gabriel e<br />
Passo Fundo. Também estão sendo estabeleci<strong>dos</strong> convênios de intercâmbio entre<br />
Mostardas<br />
e Aprília (Itália), onde está enterrado o filho ilustre Menotti <strong>Garibaldi</strong>. Outras cidades do<br />
Rio Grande estão sendo envolvidas.<br />
A população gaúcha conhece e reverencia a memória de <strong>Anita</strong>. No ano passado,<br />
o radialista Lauro Quadros, da rádio Gaúcha, organizou uma pesquisa de opinião para<br />
saber a posição <strong>dos</strong> ouvintes sobre a campanha para o translado <strong>dos</strong> restos mortais de<br />
<strong>Anita</strong> da Itália. "Cerca de 70% <strong>dos</strong> que se manifestaram afirmaram que ela deve<br />
permanecer onde está. O programa teve muita repercussão e audiência", relata<br />
Sant'Ana, para quem isso demonstra o interesse público. "Como cidadã brasileira acho<br />
que os restos mortais deveriam vir para cá, mas como mulher e gaúcha, não",<br />
complementa.<br />
<strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> foi a personalidade feminina escolhida para marcar o 15º<br />
aniversário da Federação das Mulheres Gaúchas (FMG), comemorado em julho de<br />
1997. Na ocasião, a pesquisadora Yvonne Capuano falou no Museu Júlio de Castilhos<br />
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sobre "<strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong>, Uma Heroína de Dois Mun<strong>dos</strong>". A escolha, segundo a presidente<br />
da FMG, Maria Amália Martini, se deu, especialmente, por ter sido "uma gaúcha com<br />
longa trajetória de lutas e conquistas". <strong>Anita</strong> é considerada gaúcha há muito tempo. "O<br />
Albor" de 24 de junho de 1934 dizia que "<strong>Anita</strong> já não é mais nossa", lembrando que<br />
"um experimentado historiador e escritor emérito, reportando-se ao 'ímpeto e bravura da<br />
mulher riograndense', apresentou-nos <strong>Anita</strong> na roupagem duma sublime gauchada,<br />
como autêntica <strong>heroína</strong> <strong>dos</strong> pampas"<br />
EM NOME DE ANITA<br />
"Filha do povo"<br />
"Ana não era nenhuma formosura de dama unânime e<br />
universal, mas tão somente uma fisionomia a traços puros e severos,<br />
revelando um espírito varonil, inabalável em seus sentimentos e<br />
afetos. Era uma dessas filhas do povo a quem a natureza dotara<br />
com caracteres definitivos, imutáveis, almas austeras, amando uma<br />
só vez na vida e com abnegação e heroicidade." (Virgílio Várzea)<br />
"Luz e fascinação"<br />
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"Sem ter sido formosa propriamente, nem possuidora de sólida<br />
cultura, onde quer que <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> a parecesse, dela se irradiavam a<br />
luz e a fascinação de uma extraordinária personalidade, duma vontade<br />
inquebrantável e senhorial; luz e fascinação poderosas a ponto de<br />
constrangerem ainda hoje - impossível a presença física de <strong>Anita</strong> - até<br />
mesmo a um pessimista que se dispuser a detalhar a biografia. A mera<br />
curiosidade inicial do estudioso brevemente cederá lugar à atenção<br />
maior..." (Wolfgang Rau)<br />
Caráter era " Independente e Resoluto”<br />
"Desde cedo ela revelou caráter independente e resoluto e uma<br />
singular firmeza de atitudes. Além disso, muito amor-próprio e a<br />
coragem e a energia que certamente herdara do pai. Não tolerava<br />
certas liberalidades, naqueles tempos de rígi<strong>dos</strong> costumes. O seu<br />
temperamento levava-a, por vezes, a atitudes que causavam sérios<br />
desgostos à atribulada mãe". (Ruben Ulysséa)
Em Mostardas, entre o mar e a Lagoa <strong>dos</strong> Patos, no litoral gaúcho, um grupo de<br />
cavaleiros homenageia <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong>, a <strong>heroína</strong> da Revolução Farroupilha. Mulheres e<br />
mocinhas, com ares de caubói, galopam em um cenário de planícies, montanhas e<br />
dunas, relembrando os 150 anos da morte de <strong>Anita</strong>. Uma cavalgada com perfume<br />
feminista e sabor de chimarrão. Por Rosane Queiroz.<br />
“Será que não cai nenhuma?”, pergunta Antonieta Silva da Costa, 82 anos,<br />
surpreendida na rua por 26 mulheres a cavalo. No calçadão Chico Pedro, ponto do<br />
comércio de Mostardas, cidade histórica do litoral gaúcho, passa o “Piquete <strong>Anita</strong><br />
<strong>Garibaldi</strong>”, um grupo de cavaleiras inspirado na amazona e guerreira da Revolução<br />
Farroupilha.<br />
De fardas militares, botas e bandeiras, elas galopam em datas ligadas a<br />
movimentos femininos ou ao país, como 8 de março (Dia Internacional da Mulher) e 20<br />
de setembro (aniversário da Revolução Farroupilha), abrem rodeios e festivais da<br />
região. Nesse dia a cavalgada relembra os 150 anos da morte de <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> (1821<br />
a 1849), cultuada por sua valentia e idéias feministas. <strong>Anita</strong> foi à única mulher com<br />
participação direta na Revolução, lutando ao lado do marido, o italiano Giuseppe<br />
<strong>Garibaldi</strong>. Participou de batalhas no Brasil, no Uruguai e na Itália, o que deu o título de<br />
“<strong>heroína</strong> de <strong>dois</strong> mun<strong>dos</strong>”.<br />
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CONCLUSÃO<br />
Ana Maria de Jesus Ribeiro (<strong>Anita</strong>) tem uma história de dedicação e de luta pela<br />
causa Farroupilha, e pelo Rio Grande do Sul. Um <strong>dos</strong> fatos desta história que muito nos<br />
orgulho é o nascimento do seu primeiro filho em solo gaúcho, em Mostardas, bem aqui<br />
no terceiro distrito na localidade de São Simão, acontecimento este que nos marcou<br />
deixando uma herança histórica muito rica. Em detrimento de Menotti ter nascido em<br />
solo Mostardense, temos um acordo entre Aprilia e Mostardas, o Gemellaggio. <strong>Anita</strong><br />
com seu amor por José <strong>Garibaldi</strong>, Menotti, seu filho gaúcho e suas demonstrações de<br />
coragem e raça nas batalhas da Revolução farroupilha, contadas até hoje com muito<br />
orgulho, este amor, esta coragem e esta raça que <strong>Anita</strong> teve, foi uma semente que e<br />
platibanda em cada mulher no Rio Grande e em todo Brasil que germina e continua<br />
dando frutos com maior quantidade e cada vez mais forte.<br />
REFERÊNCIAS
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Legislativa, 1998.<br />
CADORIN, Adílio. <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong>, a guerreira das repúblicas. Florianópolis, Imprensa<br />
Oficial do Estado, 1999.<br />
CANDIDO, Salvatore. Giusepe <strong>Garibaldi</strong>: corsário riograndense 1837-1838. Trad. Maria<br />
Teresa Bassanesi. Porto Alegre, IEL;EDIPURGS, 1992.<br />
CAPUANO, Yvonne. De sonhos e utopias...; <strong>Anita</strong> e Giuseppe <strong>Garibaldi</strong>. São Paulo,<br />
Cia. Melhoramento, 1999.<br />
COLOR, Lindolfo.<strong>Garibaldi</strong> e a Guerra <strong>dos</strong> Farrapos. Rio de janeiro, Civilização<br />
Brasileira; Brasília, INL, 1997.(Retratos do Brasil,107).<br />
DUMAS, Alexandre. Memórias de <strong>Garibaldi</strong>. Trad. Antonio Caruccio Capora/e. Porto<br />
Alegre, L&PM, 1998.<br />
MARKUN, Paula. <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong>, uma <strong>heroína</strong> brasileira. São Paulo, ed. SENAC, 1999.<br />
MARTINS, Celso. Aninha virou <strong>Anita</strong>, Florianópolis, A notícia, 1999.<br />
SANT ’ANA, Elma. A cavalo.<strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong>: Piquete <strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong>. Porto Alegre, AGE,<br />
1993.<br />
SANT ’ANA, Elma. Menotti, o filho gaúcho de <strong>Anita</strong> e <strong>Garibaldi</strong>. Porto Alegre. Editora<br />
Tchê. 2003.<br />
SANT ’ANA, Elma. Bento e <strong>Garibaldi</strong> na Revolução Farroupilha. Porto Alegre. Cadernos<br />
de História. Memorial do rio Grande do sul 2005.<br />
Fonte:mostardasonline.hgp.ig.com.br<br />
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Maria_de_Jesus_Ribeiro