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Trabalho - Ciência à Mão - USP

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APRENDENDO A ENSINAR CIÊNCIAS NOS ANOS INICIAIS DE<br />

ESCOLARIZAÇÃO<br />

AZEVEDO, Maria Nizete 1, 2 ; PIRES, Adelina Rodrigues 1 ; BORTOTTO, Regina Célia<br />

Soares 1 ; SELLGE, Giovana Pietrafesa 1 ; MOSCA, Andreia Gomes 1 ; XAVIER, Valéria<br />

Cristina 1 ; CAMARGO, Margarete 1 ; LIMA, Rosângela Ananias Medeiros 1<br />

1 EMEF Cândido Portinari; 2 Faculdade de Educação - <strong>USP</strong><br />

marianizete@gmail.com; rodri_ade@gmail.com; rebortoto@ig.com.br; gicasellge@ig.com.br;<br />

mosca@gmail.com; xaviervc@ig.com.br; Margoth_silva@ig.com.br; ropnana@uol.com.br<br />

Palavras Chaves: atividades investigativas, formação de professores, ensino de ciências<br />

RESUMO<br />

A intenção deste trabalho é relatar uma experiência de ensino e de<br />

aprendizagem em ciências, desenvolvido por um grupo de professoras que se<br />

desafia a ensinar sobre a formação do arco-íris para crianças que cursam o<br />

primeiro ano do Ensino Fundamental. Envolvidas em uma formação contínua<br />

praticada por meio de atividades investigativas de ensino, as docentes<br />

planejaram suas ações, as desenvolveram junto a seus alunos e refletiram<br />

sobre elas. Avaliaram que, dessa maneira, aprenderam a ensinar ciências e<br />

criaram situações de aprendizagem para seus alunos, introduzindo-os no<br />

universo da alfabetização científica, levando-os desenvolver habilidades de<br />

sócio-interação, oralidade, leitura e escrita.<br />

CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRABALHO<br />

Somos professoras da EMEF Cândido Portinari, escola da rede<br />

municipal da cidade de São Paulo, situada no bairro de Perus. Participamos do<br />

Projeto <strong>Mão</strong> na Massa desde 2004 e de acordo <strong>à</strong> metodologia investigativa<br />

adotada por esse projeto, acreditamos que as crianças aprendem por meio da<br />

construção de conhecimentos proporcionada no desenvolvimento de atividades<br />

investigativas de aprendizagem. Somos convencidas de que as atividades<br />

investigativas na aprendizagem em ciências criam na criança o “espírito” da<br />

investigação, da busca por aquilo que se quer desvendar e aprender, além de<br />

aproximá-la do mundo que a cerca e de encorajá-la a manipular os objetos, a<br />

dizer o que pensa, a indagar, a argumentar, a pesquisar, a ler e a escrever.<br />

Pelo fato de sermos professoras generalistas e, como tal, não sermos<br />

especificamente formadas em nenhuma das áreas do conhecimento, ensinar<br />

ciências torna-se um grande desafio. Entretanto, enfrentamos os nossos limites<br />

e respondemos pelo desenvolvimento cognitivo das crianças, abordando as<br />

bases conceituais de todas as áreas, além de alfabetizá-las na língua materna<br />

e colaborarmos, em grande medida, pela sua formação moral e ética. Como<br />

isso é possível? Diante de nossa experiência, afirmamos que resolvemos esse<br />

desafio, nos constituindo em um coletivo colaborativo de professores cujas<br />

parcerias nos ajudam a buscar respostas para as dificuldades enfrentadas no<br />

dia-a-dia da escola.<br />

Descobrimos que, juntos, podemos transformar as nossas<br />

necessidades e dificuldades em “problemas de ensino” que se bem


compreendidos podem nortear a busca de soluções para os mesmos.<br />

Compreender o problema de ensino significa ter clareza das intenções e dos<br />

conteúdos que se pretende ensinar. As soluções para o problema de ensino<br />

não são nada mais que as atividades investigativas de aprendizagem que<br />

planejamos e desenvolvemos junto aos nossos alunos.<br />

A condução dessas atividades investigativas juntos aos alunos requer,<br />

de nossa parte, uma observação atenta sobre os resultados, pois são esses<br />

resultados os indicadores por meio dos quais avaliamos se as atividades<br />

planejadas são, de fato, adequadas e se resolveram o problema de ensino<br />

compreendido pelo grupo.<br />

Chamamos a atenção para um aspecto importante: esse processo de<br />

ensino traz em sua essência a formação do professor que investiga a sua<br />

prática. A partir de um problema de ensino, levantamos hipóteses de trabalhos<br />

(ações), as estruturamos em atividades investigativas, as testamos junto aos<br />

nossos alunos, avaliamos os resultados, refletimos sobre eles e as<br />

reformulamos, caso seja necessário.<br />

Constituímos, desse modo, um processo cuja premissa básica é a<br />

articulação da investigação do professor, na realização da atividade<br />

investigativa de ensino com a do aluno no desenvolvimento da atividade<br />

investigativa de aprendizagem. Em síntese: o professor investiga e resolve<br />

problemas de ensino para aprender a ensinar enquanto os alunos investigam e<br />

resolvem problemas de aprendizagem para construir conhecimentos em<br />

ciências.<br />

Outro aspecto fundamental é o trabalho em colaboração na escola:<br />

aprendemos ao expormos nossas opiniões ao coletivo e ao ouvirmos as<br />

opiniões dos parceiros de trabalho; ao reconhecermos nossas próprias<br />

dificuldades e ao pedirmos ajudar e nos predispormos a ajudar o outro;<br />

aprendemos com as crianças em sala de aula, ao assumirmos nossas<br />

dificuldades perante <strong>à</strong>s perguntas das crianças e se pesquisarmos juntos com<br />

elas, ao ouvi-las com atenção e paciência, ao valorizarmos a construção de<br />

conhecimentos juntos aos nossos parceiros de trabalho e aos nossos alunos.<br />

RELATANDO UMA EXPERIÊNCIA: CICLO INVESTIGATIVO DE ENSINO<br />

“ARCO-ÍRIS NA ESCOLA”<br />

Relataremos a seguir algumas passagens do Ciclo investigativo de<br />

ensino “Arco-íris na escola”, cujas atividades foram planejadas e testadas pelo<br />

coletivo de professoras na escola e destinadas a crianças do primeiro ano do<br />

Ensino Fundamental I (Ciclo I). O relato será orientado pelas etapas de<br />

planejamento, desenvolvimento e reflexão, da maneira como ocorre em uma<br />

atividade investigativa de ensino.<br />

Do planejamento<br />

A fase do planejamento, composta por vários encontros, é marcada por<br />

um conjunto de decisões que delimitam o que ensinar, para que e para quem<br />

ensinar e por que ensinar. A partir do eixo temático “Diversidade das Cores”,<br />

escolhido pelo coletivo como tema do projeto a ser desenvolvido no primeiro<br />

ano, decidimos pela realização de vários ciclos de investigação, entre eles o<br />

“arco-íris na escola”.<br />

Referenciais como “o que é significativo para as crianças”, “o que<br />

as incentivam a gostar de aprender” , “o que é significativo para que elas<br />

comecem a investigar as cores”, “o que é concreto” , “que faça parte do


cotidiano” influenciaram a escolha do arco-íris como conteúdo a ser ensinado.<br />

Os objetivos estavam claros: “Queremos incentivar a investigação, a<br />

observação do que acontece ao nosso redor; incentivar a observação de um<br />

fenômeno diferente, que as crianças nunca pararam para pensar a respeito;<br />

introduzir o estudo das cores a partir da beleza do arco-íris; criar situações<br />

reais de escrita e leitura para garantirmos a alfabetização e o letramento e<br />

introduzir o conceito científico da decomposição da luz branca do sol ao entrar<br />

e sair de uma gota d’água, formando as sete cores”. Com base nesse conjunto<br />

de intenções, o problema de ensino foi delimitado: “como levar as crianças a<br />

aprender sobre a formação do arco-íris”.<br />

Traçar caminhos a seguir representa, exatamente, o “como ensinar<br />

para que o aluno aprenda”, ação nada simples para nosso coletivo em<br />

formação. Para que fosse possível levantar nossas hipóteses de trabalho,<br />

estudamos muito. Sabíamos que a formação do arco-íris insere-se entre os<br />

conhecimentos do campo do ensino da Física, reconhecido como “muito difícil”<br />

no âmbito do ensino fundamental, tanto para os alunos como para nós<br />

professoras. Fenômeno que além de ser explicado por um conjunto de<br />

conhecimentos científicos de grande complexidade, compõe o imaginário das<br />

pessoas desde a Antiguidade, sendo também explicado por mitos e lendas de<br />

origens diversas, o que pode dificultar a sua compreensão entre as crianças,<br />

no âmbito da conceituação científica. Dessa forma, “desvelar” o arco-íris pode<br />

significar também a sua “desmitificação”.<br />

Porém não desanimamos. Pensamos em todos os passos desde a<br />

contextualização e sensibilização do tema <strong>à</strong>s estratégias de investigação.<br />

Confessamos que não foi fácil, sobretudo a elaboração das situações<br />

problemas, pois temos consciência da complexidade que encerra um problema<br />

de aprendizagem, pelo fato de não se tratar de uma pergunta qualquer e sim<br />

de uma questão que gere ação e mobilize a criança a investigar.<br />

Por fim definimos, além das estratégias de sensibilização, duas<br />

questões “problemas”: como o arco-íris se forma no céu e como podemos<br />

formar um arco-íris na escola. Estruturamos a primeira atividade, a formação<br />

do arco-íris com o esguicho da mangueira e nos preparamos para apresentálas<br />

aos alunos.<br />

Em sala de aula<br />

Após sensibilizar as crianças e levá-las a revelar seus conhecimentos<br />

prévios sobre o tema, apresentamos-lhes os problemas formulados pelo<br />

coletivo.<br />

As argumentações das crianças em resposta aos problemas sugeridos<br />

foram de grande valor nas avaliações que fizemos sobre os resultados,<br />

sobretudo ao avaliarmos a qualidade de suas hipóteses. No caso do problema<br />

“como se forma o arco-íris no céu”, as hipóteses das crianças revelaram<br />

aspectos de sua vivência, associados a elementos que ocorrem com<br />

regularidades em todas as vezes em que o arco-íris foi visto – o Sol e a chuva.<br />

O segundo problema parece ter animado mais as crianças, pois as<br />

mobilizou, levando-as a propor ações. Embora as sugestões tenham sido<br />

apresentadas pelas crianças como relatos de vivências e não propriamente<br />

como uma proposta de ação (“Eu estava tomando banho de mangueira e aí eu<br />

comecei a brincar de jogar água e o arco-íris apareceu”; “Eu estava ajudando a<br />

minha mãe a molhar as plantas com o pulverizador e eu vi o arco-íris”), foi<br />

possível perceber que elas compreenderam o problema. Estas sugestões


foram interpretadas pelo coletivo de professoras e transformadas em atividades<br />

investigativas, com seus problemas de aprendizagem e estratégias de<br />

investigação, respectivos. A partir das sugestões das crianças, elaboramos e<br />

desenvolvemos várias atividades: arco-íris com o esguicho de mangueira; arcoíris<br />

com espelho e cd no Sol; arco-íris com espelho, cd e lâmpada, no<br />

laboratório de ciências; pesquisas no laboratório de informática sobre os<br />

cientistas que estudaram o arco-íris; arco-íris nas bolhas de sabão; disco de<br />

Newton, etc.<br />

Das reflexões individuais e coletivas<br />

Por fim, nos reunimos para avaliar coletivamente as ações por nós<br />

desenvolvidas com as crianças. Este foi um importante momento em nossa<br />

formação, pois foi possível abordar minuciosamente todos os avanços e<br />

dificuldades que enfrentamos no planejamento e desenvolvimento das<br />

atividades investigativas.<br />

Em nossas reflexões ressaltamos a participação e envolvimento das<br />

crianças: a alegria, a curiosidade, as inúmeras perguntas, o seu envolvimento<br />

ao testar as próprias hipóteses, bem como a sua mobilização para a escrita e<br />

para a leitura, foram elementos considerados como indicadores da qualidade<br />

das ações que planejamos. Embora soubéssemos, de antemão, do tanto que<br />

as crianças sabem nos surpreendemos com as variadas informações que elas<br />

trouxeram sobre a formação do arco-íris apreendidas em suas experiências<br />

pessoais.<br />

Outro aspecto ressaltado dizia respeito aos estudos coletivos que nós<br />

realizamos sobre os conhecimentos científicos: muitos textos foram<br />

selecionados e lidos e todas as atividades elaboradas foram realizadas pelo<br />

grupo antes de apresentá-las <strong>à</strong>s crianças, o que consideramos muito bom, pois<br />

nos preparamos e tiramos as dúvidas e, assim, ganhamos mais segurança em<br />

sala de aula.<br />

Houve argumentações em defesa do planejamento coletivo, do ensino<br />

de ciências orientado por atividades investigativas, do quanto se supera as<br />

dificuldades e os medos quando se predispõe a trabalhar coletivamente, do<br />

quanto as crianças sabem e gostam de aprender ciências e do quanto o<br />

professor aprende com seus pares e com as próprias crianças quando se<br />

ensina ciências da maneira proposta.<br />

Algumas atividades foram reformuladas e novos problemas de ensino<br />

foram sugeridos pelo coletivo, o que levou ao início de outro ciclo investigativo,<br />

o qual intitulamos de “ as cores do corpo humano”. Apresentaremos nossas<br />

reflexões sobre esse ciclo em outra oportunidade.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Para finalizar, ressaltamos a importância da organização do trabalho<br />

coletivo na escola, pois só em colaboração é possível vencer os inúmeros<br />

desafios do ensinar ciências por meio de atividades investigativas. O papel do<br />

professor é fundamental na mediação da aprendizagem, é preciso saber<br />

problematizar, saber estabelecer relações de comunicação, saber ouvir as<br />

crianças, aproximar-se afetivamente e respeitosamente de todas elas, ter certo<br />

domínio sobre o conteúdo que se está ensinando, predispondo-se a pesquisar<br />

em caso de dúvidas, saber fazer perguntas garantindo a argumentação e<br />

participação das crianças, enfim, são muitas as habilidades docentes<br />

necessárias ao ensino e <strong>à</strong> aprendizagem de ciências por meio de atividades


investigativas. Precisamos continuar estudando na perspectiva de nos<br />

formarmos como professores investigadores e, como tal, tomarmos<br />

consciência sobre o que fazemos, como fazemos e por que fazemos.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ABIB, Maria Lúcia V. dos Santos. A construção de conhecimentos sobre<br />

ensino na formação inicial do professor de física: “agora nós já temos<br />

as perguntas”. Tese de doutorado, São Paulo: FE<strong>USP</strong>, 1996.<br />

AZEVEDO, M. N. Pesquisa-ação e atividades investigativas na<br />

aprendizagem da docência em ciências. Dissertação de mestrado, São<br />

Paulo: FE<strong>USP</strong>, 2008.<br />

CACHAPUZ, Antonio (et al), org. A necessária renovação do ensino das<br />

ciências. 1ª Edição. São Paulo: Cortez, 2005.<br />

CARVALHO, A. M. P. et al. <strong>Ciência</strong>s no ensino fundamental. O<br />

conhecimento físico. São Paulo: Scipione, 1998. (Coleção Pensamento e<br />

Ação no Magistério).<br />

LOPES, M.L.M.L. “A dúvida de Descartes”. In: Revista <strong>Ciência</strong> Hoje das<br />

crianças. Ano 9/nº 61, p. 3-5. Rio de Janeiro: SBPC, agosto de 1996.<br />

MASSANI, L. “Um arco-íris no céu”. In: Revista <strong>Ciência</strong> Hoje para crianças.<br />

Ano 9/nº 61, p. 8 -12. Rio de Janeiro: SBPC, agosto de 1996.<br />

PEREIRA, Aline. “As incríveis descobertas de Isaac Newton”. In: <strong>Ciência</strong> Hoje<br />

das crianças –- 05/12/2001; disponível no<br />

site:http://cienciahoje.uol.com.br .]<br />

POZO, J. I. (org.). A solução de problemas: aprender a aprender, resolver<br />

para aprender. Porto Alegre: Artmed, 1998.<br />

VYGOTSKY, Lev S. Pensamento e Linguagem. 2ª edição. São Paulo: Martins<br />

Fontes, 1991.

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