Barroco Pernambucano ( Pernambucano ( III ) - Georgia Quintas
Barroco Pernambucano ( Pernambucano ( III ) - Georgia Quintas
Barroco Pernambucano ( Pernambucano ( III ) - Georgia Quintas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Barroco</strong><br />
<strong>Barroco</strong><br />
♦ GEORGIA QUINTAS<br />
Doutora em Antropologia pela Universidade de<br />
Salamanca (Espanha), mestre em Antropologia pela Universidade<br />
Federal de Pernambuco e pós-graduada em História da Arte pela<br />
Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP/SP.<br />
E-mail: georgia.quintas@gmail.com<br />
<strong>Pernambucano</strong> <strong>Pernambucano</strong> ( ( ( <strong>III</strong> <strong>III</strong> )<br />
)<br />
Grande parte do patrimônio da arquitetura<br />
barroca no Estado de Pernambuco encontra-se<br />
em Recife. Cada construção tem a sua<br />
particularidade, nuances plásticas, detalhes<br />
esmerados. Formas, linhas, texturas, ritmos e<br />
proporções ímpares. Estruturalmente, reconduziu<br />
o espaço para que igrejas, capelas, conventos e<br />
claustros funcionassem independentes - sem se<br />
estabelecer em modelos rígidos. Seria difícil<br />
propormos um paradigma para a planta e a
fachada desses monumentos. O mais sensato a<br />
fazer é observar as características de maneira<br />
isolada. De modo que, notaremos bem mais<br />
riquezas, ao contrário do que aconteceria se<br />
pasteurizássemos a arquitetura barroca como um<br />
todo e não pelas suas partes, com o olhar bem<br />
próximo das minúcias.<br />
Outra característica marcante nas igrejas<br />
do Nordeste é a escultura delicada que se<br />
obtém da pedra. Graças aos recursos em<br />
calcário dos Estados da Paraíba, de<br />
Pernambuco, das Alagoas, de Sergipe e da<br />
Bahia, é que a arte expandiu-se e explorou as<br />
possibilidades cênicas daquela matéria-prima.<br />
No entanto, a escultura em pedra moldou<br />
várias leituras. Afinal, da mesma forma que os<br />
artistas nativos imitaram as ornamentações<br />
barrocas portuguesas com a peculiaridade de<br />
empregar certo primitivismo, assim<br />
estabelecendo uma popularidade, o conceito<br />
rebuscado fora relido e manuseado com mais
liberdade e repassado para o interior das<br />
grandes cidades. O barroco português do<br />
Nordeste foi transposto na escultura de pedra<br />
com um relevo quase plano, extremamente<br />
simplista.<br />
Basta que consultemos às considerações<br />
do historiador Germain Bazin sobre esse<br />
assunto para reforçarmos a idéia de<br />
originalidade da arte barroca atrelada à<br />
percepção de uma sociedade cercada pela<br />
estética dos “outros”. Assim, dados<br />
encontrados na arquitetura que pensamos ser<br />
puro estilo manuelino nada mais é do que a<br />
apropriação de códigos alheios. Assim, a<br />
similitude/a simbiose e a as diversas antíteses<br />
perpassam o <strong>Barroco</strong> de Portugal com o do<br />
Brasil. Há quem argumente que o Brasil<br />
enriqueceu o <strong>Barroco</strong> dos colonizadores com<br />
valores próprios. E, por conseguinte, numa<br />
expressão autêntica, muito embora não<br />
totalmente purista. Foi o instante criativo que se
entrelaçou com a história a tal ponto que os<br />
historiadores o denominaram como sendo arte<br />
luso-brasileira.<br />
Eugenio d’Ors (historiador e crítico de arte<br />
contemporânea) considera o manuelino como<br />
um estilo barroco. Com relação a tal análise,<br />
Pamplona mais comedidamente denomina-o de<br />
“um pré-barroco”. Desse modo faz a seguinte<br />
teoria: “O manuelino pode, pois, estar<br />
integrado, embora de maneira bastante diluída,<br />
na seiva do barroco português e, através dele,<br />
na substância e no sangue do próprio barroco<br />
brasileiro (...)”.<br />
No campo do entalhe a importância está<br />
na liberdade formal de concebê-la e construí-la.<br />
Melhor seria adjetivá-la como arrebatadora,<br />
enquanto que a produzida em Portugal era bem<br />
mais serena, lírica e comportada.<br />
O que podemos ponderar, sem contudo<br />
ser definitivo ou conclusivo pois a temática não<br />
se esgota e aí é onde reside o fascínio e
virtuosismo do barroco, é que em Pernambuco<br />
características pontuais do estilo importado da<br />
Europa causaram efeitos: criatividade e<br />
poéticas autênticas. Permaneceram com os<br />
preceitos básicos de maximizar o ritmo e a<br />
harmonia, sem lançar mão da arte minuciosa e<br />
elaborada - peculiar dos entalhes, das pinturas<br />
e das esculturas em pedra. Também usaram<br />
volutas nos frontões das igrejas, mas em<br />
contrapartida, criaram soluções ornamentais de<br />
acabamento ou mesmo de decoração numa<br />
sintaxe belíssima e regional.<br />
Artigo publicado no Jornal do Commercio, Recife/PE 03/jun/2003