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Fisiopatologia do estresse em animais selvagens em ... - Unip

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8<br />

Assim, uma vez d<strong>em</strong>onstrada a importância <strong>do</strong> cativeiro<br />

na conservação de espécies <strong>selvagens</strong> e visto<br />

que a introdução <strong>do</strong>s <strong>animais</strong> na natureza n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />

é possível 10 , deve haver uma preocupação com a qualidade<br />

de vida destes <strong>animais</strong> durante o perío<strong>do</strong> de cativeiro.<br />

O sucesso desta prática, ou seja, a manutenção<br />

<strong>em</strong> cativeiro de espécies <strong>selvagens</strong> geneticamente<br />

viáveis, depende da adaptação <strong>do</strong>s <strong>animais</strong> à esta nova<br />

condição 25 .<br />

Animais não adapta<strong>do</strong>s ao cativeiro pod<strong>em</strong> apresentar<br />

probl<strong>em</strong>as de saúde e b<strong>em</strong>-estar, freqüent<strong>em</strong>ente<br />

relaciona<strong>do</strong>s a uma situação de <strong>estresse</strong> crônico, que<br />

se reflete sobretu<strong>do</strong> <strong>em</strong> seu comportamento normal,<br />

causan<strong>do</strong> alterações 2, 22 .<br />

Esta revisão visa descrever os eventos relaciona<strong>do</strong>s<br />

ao <strong>estresse</strong> causa<strong>do</strong> pela manutenção de <strong>animais</strong><br />

<strong>selvagens</strong> <strong>em</strong> cativeiro, enfatizan<strong>do</strong> a importância <strong>do</strong><br />

comportamento como um indica<strong>do</strong>r desta condição.<br />

Busca também apresentar algumas técnicas que<br />

pod<strong>em</strong> ser utilizadas para minimizar os efeitos<br />

deletérios que a condição estressora pode causar nos<br />

<strong>animais</strong> <strong>selvagens</strong> confina<strong>do</strong>s.<br />

Revisão da literatura<br />

O <strong>estresse</strong><br />

Definição e classificações<br />

O <strong>estresse</strong> deve ser entendi<strong>do</strong> como um processo fisiológico,<br />

neuro-hormonal, pelo qual passam os seres<br />

vivos para enfrentar uma mudança ambiental, na tentativa<br />

de se adaptar às novas condições e, assim, manter a<br />

sua homeostasia 3 . Trata-se de um esta<strong>do</strong> manifesta<strong>do</strong><br />

por um conjunto de respostas específicas <strong>do</strong> organismo<br />

e desencadea<strong>do</strong> por diferentes tipos de agentes, que<br />

são denomina<strong>do</strong>s estressores 26 .<br />

O conjunto de respostas desencadeadas frente a um<br />

agente estressante (estressor) é chama<strong>do</strong> de Síndrome<br />

Geral da Adaptação (SGA) e pode ser dividi<strong>do</strong> <strong>em</strong> três<br />

estágios que se diferenciam <strong>em</strong> decorrência <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po<br />

26 . O primeiro estágio é chama<strong>do</strong> de reação de alarme<br />

e ocorre quan<strong>do</strong> o animal se defronta com o estressor.<br />

Nesta fase, ocorre uma mobilização geral <strong>do</strong> organismo<br />

na tentativa de adaptação às novas condições,<br />

haven<strong>do</strong> a participação <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a nervoso autônomo<br />

simpático na estimulação da medula adrenal para a liberação<br />

de catecolaminas 5 .<br />

O segun<strong>do</strong> estágio, conheci<strong>do</strong> como adaptação ou<br />

resistência, ocorre <strong>em</strong> decorrência <strong>do</strong> primeiro, quan<strong>do</strong><br />

o estímulo estressor continua sen<strong>do</strong> manti<strong>do</strong> 26 . Nesta fase,<br />

o sist<strong>em</strong>a nervoso autônomo simpático entra <strong>em</strong> hiperatividade<br />

e há uma estimulação intensa <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a<br />

neuro-endócrino para a liberação de glicocorticóides<br />

pelo córtex adrenal. O animal busca habituar-se à presença<br />

<strong>do</strong> estressor, entran<strong>do</strong> num esta<strong>do</strong> no qual a resposta<br />

a este se torna diminuída e pode ocorrer até mesmo<br />

diante da perspectiva <strong>do</strong> estímulo 5 .<br />

O último estágio, chama<strong>do</strong> de exaustão, ocorre quan<strong>do</strong><br />

o estressor é manti<strong>do</strong> até que o animal não tenha<br />

mais capacidade de se adaptar. Não há descanso, n<strong>em</strong><br />

retorno à homeostasia 26 . As reservas energéticas vão se<br />

esgotan<strong>do</strong> e o processo evolui até a morte <strong>do</strong> animal<br />

por falência orgânica múltipla. Esta fase não é necessariamente<br />

irreversível; depende da importância <strong>do</strong>s órgãos<br />

afeta<strong>do</strong>s. Além disso, o animal pode vir a óbito já<br />

na fase de alarme, pela descompensação orgânica<br />

causada pelo processo 5 .<br />

Outra classificação importante <strong>do</strong> <strong>estresse</strong> é relacionada<br />

a sua natureza, forma de manifestação e conseqüências<br />

desencadeadas. Assim, o <strong>estresse</strong> pode ser<br />

chama<strong>do</strong> de eustresse (quan<strong>do</strong> se tratar de um evento<br />

positivo, ou seja, <strong>do</strong> <strong>estresse</strong> necessário à sobrevivência<br />

<strong>do</strong> indivíduo frente a uma adversidade) ou distresse<br />

(quan<strong>do</strong> o <strong>estresse</strong> desencadea<strong>do</strong> acabar sen<strong>do</strong> prejudicial<br />

ao organismo). O eustresse normalmente se relaciona<br />

à fase de alarme <strong>do</strong> <strong>estresse</strong>, quan<strong>do</strong> há retorno<br />

à homeostasia, e o distresse às duas últimas fases (resistência<br />

e exaustão), nas quais já pod<strong>em</strong> começar a<br />

ocorrer danos orgânicos 11 .<br />

Causas<br />

As causas de <strong>estresse</strong> para os <strong>animais</strong> <strong>selvagens</strong><br />

manti<strong>do</strong>s <strong>em</strong> cativeiro são variadas 22 . O animal encontra-se<br />

geralmente <strong>em</strong> um ambiente restritivo, com variedade<br />

de substratos, plantas, alimentos e t<strong>em</strong>peratura<br />

diferentes das oferecidas na natureza 16 . Muitas vezes o<br />

horário de alimentação e a composição de grupos e<br />

casais são determina<strong>do</strong>s pelos humanos, e o contato<br />

hom<strong>em</strong>-animal acaba sen<strong>do</strong> muito próximo 17 . O animal<br />

normalmente não necessita de nenhum esforço para<br />

buscar alimentos ou procurar um parceiro para a formação<br />

de casais. Em algumas espécies, portanto, não<br />

ocorre interesse <strong>em</strong> explorar o ambiente <strong>em</strong> que se encontram<br />

presentes 13 . A própria condição de desconforto<br />

gerada pelo meio, associada à impossibilidade de<br />

fuga, gera uma condição de <strong>estresse</strong> intensa para<br />

estes <strong>animais</strong> 19 .<br />

As principais causas de <strong>estresse</strong> para os <strong>animais</strong> <strong>selvagens</strong><br />

<strong>em</strong> cativeiro pod<strong>em</strong> ser agrupadas <strong>em</strong> algumas<br />

categorias 7 .<br />

• Estressores somáticos: sons, imagens e o<strong>do</strong>res estranhos,<br />

manipulação, mudança de espaço físico (de<br />

ambiente), calor e frio excessivos e efeitos de fármacos<br />

e agentes químicos.<br />

• Estressores psicológicos: sentimentos de apreensão,<br />

que pod<strong>em</strong> intensificar-se para ansiedade, me<strong>do</strong> e<br />

terror, na sua forma mais severa.<br />

• Estressores comportamentais: disputas territoriais ou<br />

hierárquicas, superpopulação, condições não familiares<br />

de ambiente, mudanças no ritmo biológico, falta de<br />

contato social, de privacidade, de alimentos e de estímulos<br />

naturais e probl<strong>em</strong>as induzi<strong>do</strong>s pelo próprio hom<strong>em</strong>,<br />

como o alojamento próximo de espécies antagônicas<br />

(por ex<strong>em</strong>plo, um preda<strong>do</strong>r próximo a uma presa).<br />

• Estressores mistos: má-nutrição, intoxicações, ação<br />

de agentes infecciosos e parasitários, queimaduras, cirurgias,<br />

administração de fármacos, imobilização química<br />

e física e confinamento.<br />

Orsini H, Bondan EF. <strong>Fisiopatologia</strong> <strong>do</strong> <strong>estresse</strong> <strong>em</strong> <strong>animais</strong> <strong>selvagens</strong> <strong>em</strong> cativeiro e suas implicações no comportamento e b<strong>em</strong>-estar<br />

animal – revisão da literatura. Rev Inst Ciênc Saúde. 2006; 24(1):7-13.

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