13.04.2013 Views

A CAPES vista por seu ex-diretor ou Nos bastidores da CAPES, na ...

A CAPES vista por seu ex-diretor ou Nos bastidores da CAPES, na ...

A CAPES vista por seu ex-diretor ou Nos bastidores da CAPES, na ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

em sema<strong>na</strong>s. Eu próprio não tinha um prognóstico certo. Fui demitido após quase três anos,<br />

uma permanência muito mais longa do que a sugeri<strong>da</strong> pelos cenários mais otimistas.<br />

Primeiro dia do novo Diretor Geral<br />

Meu contato inicial com a <strong>CAPES</strong> teve três momentos pitorescos e um susto. Ia saindo <strong>da</strong><br />

<strong>na</strong> sala do MEC, onde assinei o termo de posse. Pressurosa, a <strong>diretor</strong>a do serviço ofereceuse<br />

para conduzir-me até o elevador – hábitos <strong>da</strong> corte. Caminhava eu para o elevador <strong>da</strong><br />

plebe e ela insistia que embarcasse no <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des. Nesse momento, como até hoje, não<br />

estava de gravata. Como previ, o ascensorista me barr<strong>ou</strong> e fech<strong>ou</strong> a <strong>por</strong>ta, declarando que<br />

ali, só entravam autori<strong>da</strong>des. Lembro-me até hoje do sem-jeito <strong>da</strong> funcionária.<br />

Fiz uma visita a ca<strong>da</strong> departamento <strong>da</strong> <strong>CAPES</strong>, fazendo perguntas, <strong>por</strong> curiosi<strong>da</strong>de <strong>ou</strong> <strong>por</strong><br />

diplomacia, como foi o caso <strong>da</strong>s salas onde se administra a intrica<strong>da</strong> burocracia dos pedidos<br />

de bolsas de estudos. Perguntei, sem maiores refl<strong>ex</strong>ões, <strong>por</strong> que esse formulário, se o<br />

assunto já havia sido perguntado em um <strong>ou</strong>tro? Helio Barros franziu a cara, pens<strong>ou</strong> e disse:<br />

É, realmente não serve para <strong>na</strong><strong>da</strong>. Vamos acabar com ele agora. Dito e feito. Mas meu<br />

primeiro ato administrativo foi man<strong>da</strong>r desentupir o sanitário do meu gabinete, providência<br />

que surtiu o efeito desejado.<br />

O susto fic<strong>ou</strong> <strong>por</strong> conta <strong>da</strong> conversa que tive com o Secretário Geral do MEC, <strong>na</strong> posse <strong>da</strong><br />

Diretora do INEP. Ao saber o velho burocrata que eu era o novo dirigente <strong>da</strong> <strong>CAPES</strong>,<br />

declar<strong>ou</strong> em tom melodramático: “A <strong>CAPES</strong> já não é mais o que era! Imagine, um<br />

desembargador, um homem que merece todo o nosso respeito, pediu uma bolsa para o <strong>seu</strong><br />

filho. Pois não é que a bolsa foi nega<strong>da</strong>!” Fiz então, os piores prognósticos sobre o que me<br />

esperava, sob as asas do MEC.<br />

Na ver<strong>da</strong>de, as surpresas que tive foram muito reconfortantes. Descobri que imperava um<br />

nível elevado de probi<strong>da</strong>de administrativa. A <strong>CAPES</strong> tinha um time de gente honesta e bem<br />

intencio<strong>na</strong><strong>da</strong>. Era um bando dedicado, sério e de altos ideais. No tempo que passei lá, no<br />

máximo, descobrimos um contrato de limpeza que estava um p<strong>ou</strong>co inflado e, logo foi<br />

corrigido. No mais, probi<strong>da</strong>de de burocracia suíça. A idéia de burocratas preguiçosos,<br />

ve<strong>na</strong>is e conformados não correspondia de todo à reali<strong>da</strong>de.<br />

Não obstante, se a honesti<strong>da</strong>de era persegui<strong>da</strong> com fervor, a legali<strong>da</strong>de era impossível, <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

a rigidez <strong>da</strong>s regras do serviço público. Metade dos nossos funcionários era de carreira. O<br />

resto era emprestado <strong>ou</strong> contratado <strong>por</strong> via <strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>ções universitárias. E eram muitas<br />

fun<strong>da</strong>ções, artifício necessário para iludir os controles internos. Alguns funcionários<br />

recebiam ca<strong>da</strong> mês de uma fun<strong>da</strong>ção diferente. Eu próprio recebia uma complementação<br />

salarial, cria<strong>da</strong> pela Secretaria de Ensino Superior (SESu) e cuja fonte era também uma<br />

fun<strong>da</strong>ção. Nunca mais revi a conclusão de que é impossível ser um bom administrador<br />

público respeitando as regras formais. Em minhas conferências freqüentes, dizia sempre:<br />

“Reitor que não acor<strong>da</strong> à noite com pesadelos de haver sido flagrado pelo Tribu<strong>na</strong>l de<br />

Contas não pode ser um bom reitor”. Esse continua sendo o maior dilema moral de um<br />

dirigente público brasileiro.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!