13.04.2013 Views

Pimenta - A História de uma Vida - Scpd.com.br

Pimenta - A História de uma Vida - Scpd.com.br

Pimenta - A História de uma Vida - Scpd.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

P i m e n t a<<strong>br</strong> />

A <strong>História</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> vida<<strong>br</strong> />

2


“Caros leitores – gostaria <strong>de</strong> esclarecer-lhes<<strong>br</strong> />

que este livro fora escrito mediante a narrativa<<strong>br</strong> />

direta do Exu <strong>Pimenta</strong> e os vícios <strong>de</strong> linguagem<<strong>br</strong> />

foram mantidos a pedido <strong>de</strong>le”<<strong>br</strong> />

Renata A. Tavares<<strong>br</strong> />

3


Índice<<strong>br</strong> />

Capítulo 1 ....................................................... 4<<strong>br</strong> />

Capítulo 2 ...................................................... 48<<strong>br</strong> />

Capítulo 3....................................................... 56<<strong>br</strong> />

Capítulo 4....................................................... 78<<strong>br</strong> />

Capítulo 5....................................................... 99<<strong>br</strong> />

Capítulo 6....................................................... 104<<strong>br</strong> />

4


Capítulo Um - <strong>Vida</strong> Terrena<<strong>br</strong> />

Meu nome era Taso, eu morava nas<<strong>br</strong> />

terras, que beiravam o que vcs conhecem <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

rio Nilo.<<strong>br</strong> />

5


Eu nasci (esta informação não é precisa)<<strong>br</strong> />

no ano <strong>de</strong> 660 DC.<<strong>br</strong> />

O vilarejo on<strong>de</strong> eu morava, não era<<strong>br</strong> />

muito gran<strong>de</strong>, algo próximo a 200 habitantes,<<strong>br</strong> />

cada um <strong>com</strong> seu pedaço <strong>de</strong> terra.<<strong>br</strong> />

As construções eram <strong>de</strong> argila, ma<strong>de</strong>ira e<<strong>br</strong> />

plantas no telhado.<<strong>br</strong> />

Plantávamos nossa própria <strong>com</strong>ida e<<strong>br</strong> />

tínhamos criação.<<strong>br</strong> />

6


A água era carregada do rio em bolsas<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> couro ou poços eram cavados, e a água era<<strong>br</strong> />

transportada para áreas mais afastadas.<<strong>br</strong> />

Eu tinha pai, mãe, um irmão e duas<<strong>br</strong> />

irmãs.<<strong>br</strong> />

Eu era o mais velho.<<strong>br</strong> />

O meu pai, era um o homem que tinha<<strong>br</strong> />

mais posses do vilarejo, vivia dos ca<strong>br</strong>itos, e<<strong>br</strong> />

das plantações, e alg<strong>uma</strong>s criações pequenas.<<strong>br</strong> />

Eu, <strong>com</strong>o mais velho, estava sempre ao<<strong>br</strong> />

lado do meu pai apren<strong>de</strong>ndo os afazeres <strong>de</strong>le.<<strong>br</strong> />

Sabia plantar, sabia o tempo da colheita,<<strong>br</strong> />

alimentar os animais, colocar para cria, sabia<<strong>br</strong> />

até <strong>com</strong>o abater para <strong>com</strong>er.<<strong>br</strong> />

Meu pai estava me criando para ser seu<<strong>br</strong> />

sucessor.<<strong>br</strong> />

Os seus funcionários já gostavam <strong>de</strong> mim<<strong>br</strong> />

por meu jeito <strong>de</strong> tratar todos.<<strong>br</strong> />

7


Sabia o nome <strong>de</strong> todos, sabia quem<<strong>br</strong> />

convocar para cada tipo <strong>de</strong> tarefa incluindo as<<strong>br</strong> />

viagens.<<strong>br</strong> />

Nas viagens eu ia no meu próprio animal<<strong>br</strong> />

e <strong>de</strong>le eu cuidava.<<strong>br</strong> />

Sabia o caminho, conhecia a região <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

a palma <strong>de</strong> minha mão.<<strong>br</strong> />

Sabia <strong>com</strong>o se a<strong>br</strong>igar das tempesta<strong>de</strong>s,<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o se proteger do sol forte durante o dia e<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o procurar água quando a nossa estava por<<strong>br</strong> />

acabar.<<strong>br</strong> />

Como a cada viagem meu pai tinha um<<strong>br</strong> />

objetivo, caçar, procurar animais selvagens<<strong>br</strong> />

para trazer para nossa criação, arrebanhar<<strong>br</strong> />

funcionários, conquistar terras e outros, que<<strong>br</strong> />

tive que apren<strong>de</strong>r tudo já <strong>com</strong> tão pouca ida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Quando eu <strong>com</strong>pletei nove anos, meu pai<<strong>br</strong> />

se foi, por conta <strong>de</strong> <strong>uma</strong> enfermida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Foi quando ele resolveu sair para caçar e<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sta vez acabou que não me levou junto.<<strong>br</strong> />

8


Os homens saiam para caçar, e alguns<<strong>br</strong> />

para pescar, ele se machucou <strong>com</strong> a própria<<strong>br</strong> />

caça.<<strong>br</strong> />

Demorou muito tempo para retornar da<<strong>br</strong> />

caçada.<<strong>br</strong> />

A <strong>de</strong>mora era <strong>de</strong>vida por ele estar<<strong>br</strong> />

voltando <strong>de</strong> carroça, já não reconhecia quase<<strong>br</strong> />

ninguém.<<strong>br</strong> />

Os funcionários cuidaram do ferimento<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o podiam e conheciam os recursos eram<<strong>br</strong> />

muito limitados e não tinha homem da capa<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>anca (médico).<<strong>br</strong> />

Quando ele chegou foi tentado <strong>de</strong> todo o<<strong>br</strong> />

conhecimento para a cura.<<strong>br</strong> />

Nessa época era muito <strong>com</strong>um, macerar<<strong>br</strong> />

ervas, <strong>com</strong> sal, (se queimava a ma<strong>de</strong>ira, até<<strong>br</strong> />

virar cinza pra salgar os alimentos), os<<strong>br</strong> />

preparos <strong>de</strong> ervas foram feitos <strong>de</strong> todos os<<strong>br</strong> />

jeitos pelo povo da al<strong>de</strong>ia, mas não resolveu e<<strong>br</strong> />

ele morreu. De um ferimento na coxa.<<strong>br</strong> />

9


Coisa tão simples nos dia <strong>de</strong> hoje <strong>de</strong> se<<strong>br</strong> />

curar mas, para nós não tinha <strong>com</strong>o resolver.<<strong>br</strong> />

Quando ele se foi, minha mãe me<<strong>br</strong> />

chamou e falou que a partir daquele momento<<strong>br</strong> />

eu ficaria no lugar <strong>de</strong>le. Para cuidar <strong>de</strong> tudo o<<strong>br</strong> />

que ele tinha conseguido, para sustentar todos<<strong>br</strong> />

e aumentar os bens.<<strong>br</strong> />

Meu pai foi limpo, na própria cama que<<strong>br</strong> />

se encontrava.<<strong>br</strong> />

Minha própria mãe se encarregou <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

banhá-lo, limpar o ferimento do melhor jeito<<strong>br</strong> />

para <strong>de</strong>ixar <strong>uma</strong> boa aparência e <strong>de</strong>pois o<<strong>br</strong> />

vestiu <strong>com</strong> a melhor vestimenta que ele tinha.<<strong>br</strong> />

Colocou suas armas também junto.<<strong>br</strong> />

Deixou o <strong>com</strong>o se estivesse preparado<<strong>br</strong> />

para um gran<strong>de</strong> festejo.<<strong>br</strong> />

Ao mesmo tempo eu or<strong>de</strong>nei que nossos<<strong>br</strong> />

funcionários se encarregassem <strong>de</strong> fazer a caixa<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira aon<strong>de</strong> ele seria colocado.<<strong>br</strong> />

10


Como ninguém da família tinha morrido<<strong>br</strong> />

até o momento não tinha cemitério ou lugar<<strong>br</strong> />

aon<strong>de</strong> colocar os mortos.<<strong>br</strong> />

Man<strong>de</strong>i os funcionários preparar um<<strong>br</strong> />

local, próximo a <strong>uma</strong> bela árvore e lá levamos<<strong>br</strong> />

meu pai para enterrar.<<strong>br</strong> />

Foi <strong>uma</strong> cerimônia muito triste e eu além<<strong>br</strong> />

da dor <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r meu pai estava <strong>com</strong> muito<<strong>br</strong> />

medo da gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> que minha<<strong>br</strong> />

mãe me <strong>de</strong>ra.<<strong>br</strong> />

Depois <strong>de</strong>ste dia, eu fazia tudo o que eu<<strong>br</strong> />

tinha aprendido <strong>com</strong> ele, eu saia para caçar, ia<<strong>br</strong> />

num cavalo que mal enxergava do outro lado,<<strong>br</strong> />

os funcionários me colocavam no animal, as<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>idas iam todas no lombo do cavalo para<<strong>br</strong> />

salgar, e eu dava or<strong>de</strong>ns para os funcionários<<strong>br</strong> />

do que tinha que ser feito.<<strong>br</strong> />

Sempre muito bem protegido por meus<<strong>br</strong> />

funcionários eu conseguia chegar ao <strong>de</strong>stino e<<strong>br</strong> />

fazer o que tinha ido fazer.<<strong>br</strong> />

Na volta da minha primeira caça, quando<<strong>br</strong> />

eu a<strong>de</strong>ntrei a al<strong>de</strong>ia, todos saíram <strong>de</strong> on<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

11


estavam para saldar-me. A criança <strong>de</strong> nove<<strong>br</strong> />

anos que já caçava e <strong>com</strong>andava.<<strong>br</strong> />

Foi muito impressionante para mim. A<<strong>br</strong> />

sensação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que eu sentia era sem<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>scrição. Entrando na vila, em primeiro <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

todos e <strong>com</strong> todos os funcionários atrás <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

respeito e as carroças abastecidas <strong>com</strong> as<<strong>br</strong> />

caças.<<strong>br</strong> />

12


O olhar do povo era <strong>de</strong> muito respeito e<<strong>br</strong> />

espanto pois eu era muito pequeno para tal<<strong>br</strong> />

feito.<<strong>br</strong> />

Eu fui olhando nos olhos <strong>de</strong> todos, e eu<<strong>br</strong> />

vi <strong>uma</strong> moleca <strong>com</strong> a mesma ida<strong>de</strong> que a<<strong>br</strong> />

minha, e os olhos <strong>de</strong>la não saiam <strong>de</strong> cima <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

mim.<<strong>br</strong> />

Eu também não conseguia parar <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

olhar, ela era linda.<<strong>br</strong> />

De cabelos negros, pele clara <strong>com</strong>o leite,<<strong>br</strong> />

olhos negros marcantes.<<strong>br</strong> />

Eu nunca esqueceria aquele momento.<<strong>br</strong> />

Além da melhor sensação que eu tinha<<strong>br</strong> />

sentido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eu me lem<strong>br</strong>ava, ainda sinto<<strong>br</strong> />

nascer <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> paixão em momentos.<<strong>br</strong> />

Seu nome era Kiuza, a partir <strong>de</strong>ste dia,<<strong>br</strong> />

eu não perdia ela <strong>de</strong> vista, e ela não me perdia.<<strong>br</strong> />

O tempo foi passando, eu fui indo cada<<strong>br</strong> />

vez mais longe nas caçadas, e <strong>com</strong> isso eu<<strong>br</strong> />

pensei:<<strong>br</strong> />

13


Que estava indo caçar em terras que não<<strong>br</strong> />

eram minhas, e que não tinham dono, e era<<strong>br</strong> />

hora <strong>de</strong> fazer <strong>com</strong> que estas terras fossem<<strong>br</strong> />

minhas para que pu<strong>de</strong>sse caçar o que estava<<strong>br</strong> />

em minhas terras.<<strong>br</strong> />

Sem imaginar as consequências, mas<<strong>br</strong> />

também se medo algum.<<strong>br</strong> />

Eu reuni todos os funcionários que eu<<strong>br</strong> />

tinha e os que eu não tinha, e a partir do dia,<<strong>br</strong> />

que eu tive esta idéia, fiquei, em torno <strong>de</strong> oito<<strong>br</strong> />

anos só viajando e cercando as terras que eu<<strong>br</strong> />

queria que fossem minha.<<strong>br</strong> />

Muitas vezes tinha guerras, porque a<<strong>br</strong> />

terra tinha dono, e a oferta que eu fazia, não<<strong>br</strong> />

era aceita, e então eu tomava as terras assim<<strong>br</strong> />

mesmo.<<strong>br</strong> />

Cada terra que eu fazia eu <strong>de</strong>ixava pelo<<strong>br</strong> />

menos três funcionários, para cuidar, engordar<<strong>br</strong> />

a criação e a plantação.<<strong>br</strong> />

Deixava um trabalho gran<strong>de</strong> para eles<<strong>br</strong> />

cuidarem das terras, das plantações e dos<<strong>br</strong> />

animais.<<strong>br</strong> />

14


Meu plano era povoar estas novas terras<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> povo meu para que <strong>com</strong> o tempo eu só<<strong>br</strong> />

caminhasse em terras minhas.<<strong>br</strong> />

Os anos se passaram e minhas posses e<<strong>br</strong> />

animais iam aumentando.<<strong>br</strong> />

Com as trocas que também eram<<strong>br</strong> />

frequentes eu acabava tendo um outro tipo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

riqueza que eram as pedras preciosas e ouro.<<strong>br</strong> />

De tudo quanto era tipo.<<strong>br</strong> />

Eu fui ficando conhecido, e in<strong>com</strong>odando<<strong>br</strong> />

muita gente, os conflitos eram freqüentes, as<<strong>br</strong> />

tentativas, <strong>de</strong> tomar minhas terras eram<<strong>br</strong> />

muitas.<<strong>br</strong> />

15


As tentativas <strong>de</strong> invasão aconteciam<<strong>br</strong> />

muito, mas ao mesmo tempo eu crescia a<<strong>br</strong> />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> funcionários em cada terra<<strong>br</strong> />

apossada.<<strong>br</strong> />

As estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa que eu<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvia, cada vez funcionavam mais.<<strong>br</strong> />

Os inimigos geralmente não conseguiam<<strong>br</strong> />

o que vinham tomar <strong>de</strong> mim.<<strong>br</strong> />

16


E geralmente eu ainda fazia mais<<strong>br</strong> />

funcionários.<<strong>br</strong> />

No início, estes, eram tratados <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

escravos, alguns tentavam fugir ou lutar e<<strong>br</strong> />

acabavam mortos.<<strong>br</strong> />

Quando passaram estes anos, um dia<<strong>br</strong> />

olhei em volta, e pensei em cada lugar que eu<<strong>br</strong> />

tinha conquistado, em cada luta que eu tinha<<strong>br</strong> />

travado e achei que estava bom, que eu já<<strong>br</strong> />

estava cansado <strong>de</strong> viajar.<<strong>br</strong> />

Resolvi que iria mudar um pouco minhas<<strong>br</strong> />

ações frente a meus homens e minhas posses.<<strong>br</strong> />

Neste tempo eu <strong>com</strong>ecei a ficar mais no<<strong>br</strong> />

vilarejo, e <strong>com</strong> o ouro que fui arrecadando, eu<<strong>br</strong> />

fui construindo cabanas, minha casa aumentou<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> tamanho, e cada casa que tinham minhas<<strong>br</strong> />

terras eu aumentei.<<strong>br</strong> />

Tive que conseguir cada vez mais<<strong>br</strong> />

funcionários pois as posses aumentavam e eu<<strong>br</strong> />

precisava cada vez mais <strong>de</strong> gente para cuidar.<<strong>br</strong> />

17


Os funcionários <strong>de</strong> confiança eram muito<<strong>br</strong> />

poucos.<<strong>br</strong> />

Estes homens acabaram viajando em<<strong>br</strong> />

meu lugar para levar os novos funcionários<<strong>br</strong> />

para as novas terras, levar animais e ver <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

as coisas estavam indo.<<strong>br</strong> />

Inclusive criar as famílias para que<<strong>br</strong> />

minhas terras fossem <strong>com</strong>pletas: plantações,<<strong>br</strong> />

criações, machos, fêmeas e suas crias.<<strong>br</strong> />

Nesta época, para você po<strong>de</strong>r ter <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

fêmea, você tinha que <strong>com</strong>pra-la.<<strong>br</strong> />

Qualquer fêmea, você tinha a hora que<<strong>br</strong> />

queria. Para ser sua esposa reconhecida, tinha<<strong>br</strong> />

que ser <strong>com</strong>prada.<<strong>br</strong> />

Nesses anos todos que eu passei<<strong>br</strong> />

viajando e conquistando, eu tive quantas<<strong>br</strong> />

fêmeas eu quis.<<strong>br</strong> />

Eu tinha fêmeas fiéis a mim, nos quatro<<strong>br</strong> />

cantos on<strong>de</strong> que passei.<<strong>br</strong> />

O vilarejo <strong>com</strong>eçou a aumentar e eu<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>ecei a preparar, uns <strong>com</strong>ércios, para mim,<<strong>br</strong> />

18


<strong>de</strong>ntro do vilarejo, em volta do meu vilarejo,<<strong>br</strong> />

que era à beira do rio, e por isso tinha muitas<<strong>br</strong> />

riquezas, tinha água em abundancia, peixe, e<<strong>br</strong> />

as criações tinham <strong>com</strong>ida fácil.<<strong>br</strong> />

Existiam outros vilarejos, que não eram<<strong>br</strong> />

perto do rio, portanto esses eram mais po<strong>br</strong>e,<<strong>br</strong> />

bem mais po<strong>br</strong>e, eu era um homem invejado, e<<strong>br</strong> />

também tinham muitos homens que queriam<<strong>br</strong> />

minha cabeça.<<strong>br</strong> />

Alg<strong>uma</strong>s pessoas <strong>de</strong>stes vilarejos não<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sejam lutar, e vinham pedir empregos.<<strong>br</strong> />

E eram bem recebidos, quando<<strong>br</strong> />

chegavam tinham um local, um espécie <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

celeiro, que os recém chegados, trabalhavam e<<strong>br</strong> />

dormiam. Eu nunca aceitei nenhum escravo em<<strong>br</strong> />

minhas terras, só os que eram capturados nas<<strong>br</strong> />

invasões.<<strong>br</strong> />

Com o tempo este povo ia conquistando<<strong>br</strong> />

a confiança dos meus fiéis funcionários, <strong>de</strong>pois<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> certo tempo, os meus capatazes, estavam<<strong>br</strong> />

sempre me falando da evolução dos recém<<strong>br</strong> />

chegados, um se <strong>de</strong>stacavam mais para<<strong>br</strong> />

19


plantação, outros pra criação, outros eram<<strong>br</strong> />

treinados para a guerra, o tempo ia passando,<<strong>br</strong> />

eles iam conquistando o direito <strong>de</strong> fazer <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

família.<<strong>br</strong> />

Mulheres também vinham, às vezes<<strong>br</strong> />

vinham famílias inteiras, as mulheres<<strong>br</strong> />

trabalhavam na limpeza, criação, lavando<<strong>br</strong> />

roupa, ajudavam em partos, cuidavam dos<<strong>br</strong> />

animais.<<strong>br</strong> />

A cada período os capatazes vinham me<<strong>br</strong> />

contar o feito <strong>de</strong> cada um, e perguntavam se<<strong>br</strong> />

podiam dar mais confiança. Mas este povo<<strong>br</strong> />

novo estava sempre so<strong>br</strong>e a guarda dos meus<<strong>br</strong> />

homens <strong>de</strong> confiança.<<strong>br</strong> />

Sempre sendo observados <strong>com</strong> cautela.<<strong>br</strong> />

Depois <strong>de</strong> o tempo passado, é que os<<strong>br</strong> />

capatazes i<strong>de</strong>ntificavam os homens ou<<strong>br</strong> />

mulheres que eram mais falantes e trazia para<<strong>br</strong> />

as prosas para perguntar das estratégias <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

guerra <strong>de</strong> cada povoado, e isso era feito muitas<<strong>br</strong> />

vezes, para ter certeza que ninguém caia em<<strong>br</strong> />

20


contradição, até que realmente se podia<<strong>br</strong> />

acreditar nas histórias.<<strong>br</strong> />

Meu povo nunca foi escravo. Todos que<<strong>br</strong> />

estavam lá eram livres e estavam ali porque<<strong>br</strong> />

queriam esta ali.<<strong>br</strong> />

Eu conquistei seis funcionários fiéis a<<strong>br</strong> />

mim, que eram quem cuidava dos outros<<strong>br</strong> />

funcionários, me protegiam e protegiam os<<strong>br</strong> />

meus.<<strong>br</strong> />

21


As tentativas <strong>de</strong> invasão e roubo eram<<strong>br</strong> />

muito freqüentes.<<strong>br</strong> />

O povo vinha na calada da noite,<<strong>br</strong> />

esperava os homens estar bêbados, para<<strong>br</strong> />

estuprar as mulheres, roubar os bens e<<strong>br</strong> />

mulheres, e matavam todos os homens.<<strong>br</strong> />

Os únicos que não dormiam eram os<<strong>br</strong> />

meus.<<strong>br</strong> />

Meu vilarejo nunca foi roubado nem<<strong>br</strong> />

minha família.<<strong>br</strong> />

As folgas que eu dava para meus<<strong>br</strong> />

funcionários, um a cada seis podiam beber. Por<<strong>br</strong> />

isso nunca fui pego.<<strong>br</strong> />

Então achei que era hora <strong>de</strong> fazer minha<<strong>br</strong> />

família, e para isso tinha que <strong>com</strong>prar minha<<strong>br</strong> />

mulher.<<strong>br</strong> />

A partir do momento que eu resolvi fazer<<strong>br</strong> />

isso, eu man<strong>de</strong>i um funcionário meu, na<<strong>br</strong> />

cabana do pai da moça, dizendo, que em dois<<strong>br</strong> />

dias, eu iria fazer <strong>uma</strong> visita, para <strong>uma</strong> prosa<<strong>br</strong> />

muito importante na vida da família <strong>de</strong>le.<<strong>br</strong> />

22


Eu me preparei durante estes dois dias,<<strong>br</strong> />

eu man<strong>de</strong>i fazer <strong>uma</strong> vestimenta nova, muito<<strong>br</strong> />

formosa, eu man<strong>de</strong>i preparar, um animal que<<strong>br</strong> />

eu gostava muito, pra <strong>de</strong>ixar formoso também.<<strong>br</strong> />

Man<strong>de</strong>i os meus homens reunir alg<strong>uma</strong>s<<strong>br</strong> />

armas, reunir alg<strong>uma</strong>s pedras preciosas, reunir<<strong>br</strong> />

alg<strong>uma</strong>s peças <strong>de</strong> ouro, que eu só conheci<<strong>br</strong> />

encarnado, (hoje eu não sei o que é isso. Exu<<strong>br</strong> />

que é exu não conhece ouro – só o estanho a<<strong>br</strong> />

prata).<<strong>br</strong> />

23


Man<strong>de</strong>i reunir, 30 ca<strong>br</strong>itos e ca<strong>br</strong>as, 10<<strong>br</strong> />

cavalos, man<strong>de</strong>i 10 funcionários <strong>com</strong> as<<strong>br</strong> />

famílias, e o principal, eu peguei <strong>uma</strong> das<<strong>br</strong> />

minhas proprieda<strong>de</strong>s que era perto, e man<strong>de</strong>i<<strong>br</strong> />

esvaziar, para o pai <strong>de</strong>la, <strong>com</strong> plantação e<<strong>br</strong> />

tudo, man<strong>de</strong>i meus homens levar os animais e<<strong>br</strong> />

as famílias para lá, pra tocar as terras <strong>com</strong>o se<<strong>br</strong> />

fossem minha. Para que cuidassem <strong>com</strong>o se<<strong>br</strong> />

fosse eu.<<strong>br</strong> />

Tudo isso em dois dias. Eu <strong>de</strong>i <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

cabana melhor para cada funcionário que veio<<strong>br</strong> />

daquela terra.<<strong>br</strong> />

Chegado o gran<strong>de</strong> dia, eu me banhei,<<strong>br</strong> />

coloquei a veste nova e mais a minha<<strong>br</strong> />

24


indumentária <strong>de</strong> guerra, peguei meu animal<<strong>br</strong> />

preparado, os funcionários já <strong>com</strong> <strong>uma</strong> carroça<<strong>br</strong> />

toda preparada <strong>com</strong> os presentes e mais 30<<strong>br</strong> />

homens pra me a<strong>com</strong>panhar, e fui pro<<strong>br</strong> />

encontro. Quando eu cheguei, na proprieda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

do pai da moça, ele se encontrava sentado, na<<strong>br</strong> />

frente da cabana, perto da porteira, e estava<<strong>br</strong> />

me esperando. Quando ele viu a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

homem que eu trouxe, mais a carroça <strong>com</strong> os<<strong>br</strong> />

presentes, ele se levantou, a mulher <strong>de</strong>le<<strong>br</strong> />

apareceu também, todos espantados, e sem<<strong>br</strong> />

enten<strong>de</strong>r o que estava acontecendo.<<strong>br</strong> />

25


O que não era o caso da moça, ela já<<strong>br</strong> />

estava pronta, toda formosa, os cabelos<<strong>br</strong> />

negros, preparados, ela apareceu por traz dos<<strong>br</strong> />

pais, antes <strong>de</strong> eu <strong>de</strong>smontar o animal, eu a vi<<strong>br</strong> />

olhando direto nos meus olhos, ela tinha muita<<strong>br</strong> />

felicida<strong>de</strong> no olhar, mas ainda tinha duvidas<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e o que eu tinha ido fazer lá.<<strong>br</strong> />

Eu <strong>de</strong>smontei, e quando eu <strong>de</strong>smontava<<strong>br</strong> />

em qualquer lugar que eu ia, os meus homens<<strong>br</strong> />

criavam um limite <strong>de</strong> proteção em torno <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

mim.<<strong>br</strong> />

Foi quando eu pedi permissão para o pai<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>la, se eu podia entrar na proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>le,<<strong>br</strong> />

para conversar.<<strong>br</strong> />

E ele estava <strong>com</strong>eçando a enten<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />

minha intenção, porque até então ele não tinha<<strong>br</strong> />

visto <strong>com</strong>o a filha <strong>de</strong>le estava vestida.<<strong>br</strong> />

Foi me dado <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> banco para<<strong>br</strong> />

sentar, que dava para sentar <strong>uma</strong>s quatro<<strong>br</strong> />

pessoas, mas eu fiquei sozinho.<<strong>br</strong> />

Foi-me oferecido água, porque era<<strong>br</strong> />

sempre muito calor e estava muito quente,<<strong>br</strong> />

26


embora a distancia não fosse muito longa, eu<<strong>br</strong> />

viajei algo em torno <strong>de</strong> meia hora pra chegar,<<strong>br</strong> />

me foi oferecido água por educação.<<strong>br</strong> />

Como eu nunca fui um homem <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />

tempo, eu cumprimentei todos os presentes, e<<strong>br</strong> />

fui direto ao assunto <strong>com</strong> o pai da moça.<<strong>br</strong> />

E eu disse assim: olhe moço, eu to cá<<strong>br</strong> />

hoje, <strong>com</strong> <strong>uma</strong> boa farda, <strong>com</strong> um bom animal,<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> todos estes presentes, que meu povo vai<<strong>br</strong> />

lhe trazer agora, que é ouro e pedras<<strong>br</strong> />

preciosas, e mais alguns trapos pra vocês<<strong>br</strong> />

fazerem roupa pra trocar por esta moça<<strong>br</strong> />

formosa que está ai atrás. E tem mais, aquela<<strong>br</strong> />

proprieda<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> do meu capataz, que o<<strong>br</strong> />

senhor sabe quem é também será sua.<<strong>br</strong> />

27


Já foi <strong>de</strong>socupada, e agora tem os<<strong>br</strong> />

animais, ca<strong>br</strong>ito, ca<strong>br</strong>a, cavalo, é <strong>uma</strong> terra<<strong>br</strong> />

fértil, já <strong>com</strong> plantação e mais 10 homens da<<strong>br</strong> />

minha confiança pra lhe cuidar, então a partir<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> agora, o senhor passa a ser, além do pai da<<strong>br</strong> />

minha mulher, um homem rico, <strong>de</strong> posses e<<strong>br</strong> />

respeitado por minha or<strong>de</strong>m.<<strong>br</strong> />

Os funcionários que lá estão tem or<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />

para me levar pessoalmente qualquer um que<<strong>br</strong> />

lhe <strong>de</strong>srespeite <strong>de</strong> agora em diante. E que a<<strong>br</strong> />

sua família, os que nascerem daqui pra frente,<<strong>br</strong> />

tanto <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte direto, <strong>com</strong>o dos vossos<<strong>br</strong> />

28


filhos, tenha a proteção e o direito a terra que<<strong>br</strong> />

eu lhe <strong>de</strong>i.<<strong>br</strong> />

Antes <strong>de</strong> o homem respon<strong>de</strong>r, eu fiz <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

pausa e olhei nos olhos <strong>de</strong>le e nos olhos da<<strong>br</strong> />

mulher <strong>de</strong>le, e <strong>de</strong>pois nos olhos da moça.<<strong>br</strong> />

Posso lhe falar que cada olhar refletia <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

felicida<strong>de</strong> diferente.<<strong>br</strong> />

Eu man<strong>de</strong>i meus homens entregarem os<<strong>br</strong> />

presentes, e man<strong>de</strong>i a mulher <strong>de</strong>le receber. E<<strong>br</strong> />

perguntei a ela, se era suficiente, e se estava<<strong>br</strong> />

bom.<<strong>br</strong> />

A mulher <strong>com</strong>o não tinha po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fala<<strong>br</strong> />

ou <strong>de</strong> mando, simplesmente me acenou <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

um esboço <strong>de</strong> sorriso, e <strong>com</strong> aquilo eu pu<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

perceber o tamanho da alegria <strong>de</strong>la, por estar<<strong>br</strong> />

se tornando <strong>uma</strong> mulher rica, respeitada e<<strong>br</strong> />

protegida.<<strong>br</strong> />

29


Eu perguntei ao macho se ele estava <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

acordo, ele se levantou, eu me levantei, ele<<strong>br</strong> />

caminhou na minha direção, olhou <strong>de</strong>ntro dos<<strong>br</strong> />

meus olhos, olhou pra trás, para a filha, e falou<<strong>br</strong> />

pra mim:<<strong>br</strong> />

Agra<strong>de</strong>cido, eu confio no senhor.<<strong>br</strong> />

E eu disse quem está agra<strong>de</strong>cido sou eu.<<strong>br</strong> />

Agora eu me vou <strong>com</strong> a moça, ela po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ixar tudo o que é <strong>de</strong>la.<<strong>br</strong> />

E eu vou <strong>de</strong>ixar 10 dos meus homens pra<<strong>br</strong> />

lhe escoltar até sua terra nova agora e em<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>eve eu lhe faço outra visita.<<strong>br</strong> />

30


Eu estendi a minha mão para a moça, ela<<strong>br</strong> />

veio na minha direção, pegou na minha mão,<<strong>br</strong> />

olhou para mim, <strong>com</strong> um olhar, <strong>de</strong> que aquilo<<strong>br</strong> />

que estava finalmente acontecendo, era o<<strong>br</strong> />

resultado <strong>de</strong> <strong>uma</strong> espera longa, olhou para o<<strong>br</strong> />

pai e para a mãe, a mãe <strong>com</strong>o toda fêmea,<<strong>br</strong> />

escorria lágrimas dos olhos, <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

O pai veio na direção <strong>de</strong>la, olhou <strong>de</strong>ntro<<strong>br</strong> />

dos olhos <strong>de</strong>la e só disse <strong>uma</strong> coisa, “vá fazer<<strong>br</strong> />

sua família”.<<strong>br</strong> />

Eu <strong>de</strong>i um sinal para meus homens,<<strong>br</strong> />

montei no cavalo, coloquei-a no lombo, e voltei<<strong>br</strong> />

pras minhas terras.<<strong>br</strong> />

31


Quando eu cheguei na minha cabana,<<strong>br</strong> />

todos os meus funcionários, as mulheres e as<<strong>br</strong> />

crianças, estavam reunidos em duas filas,<<strong>br</strong> />

esperando para eu passar no meio, para<<strong>br</strong> />

conhecer minha rainha.<<strong>br</strong> />

Os olhares eram <strong>de</strong> muito respeito,<<strong>br</strong> />

curiosida<strong>de</strong> e espanto por sua beleza.<<strong>br</strong> />

Ela <strong>de</strong>smontou <strong>com</strong> minha ajuda, eu<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>smontei e todos vieram cumprimentar minha<<strong>br</strong> />

mulher.<<strong>br</strong> />

Seu cheiro <strong>de</strong>ixou todos ine<strong>br</strong>iados <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

tal perfume, que até hoje eu não sei o que era<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o ela fazia tal mistura tão cheirosa.<<strong>br</strong> />

Eu já tinha escolhido três mucamas que<<strong>br</strong> />

iriam lhe servir o tempo todo. As mucamas a<<strong>br</strong> />

levaram pra conhecer os aposentos.<<strong>br</strong> />

Com o tempo ela iria po<strong>de</strong>r conhecer a<<strong>br</strong> />

proprieda<strong>de</strong> toda.<<strong>br</strong> />

Quando ela chegou na cabana, ela<<strong>br</strong> />

conheceu a todos meus familiares.<<strong>br</strong> />

32


Minha mãe <strong>de</strong> pronto se i<strong>de</strong>ntificou muito<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> ela, meus irmãos foram todos muito<<strong>br</strong> />

respeitadores e acolheu ela <strong>com</strong>o eu estava<<strong>br</strong> />

esperando.<<strong>br</strong> />

Haviam preparado presentes e <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

refeição muito saborosa para sua chegada.<<strong>br</strong> />

O festejo aconteceu no início da noite<<strong>br</strong> />

pois, todos os funcionários que não estava<<strong>br</strong> />

presentes quiseram vir prestigiar e partilhar <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

minha felicida<strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />

Este festejo foi noite a<strong>de</strong>ntro <strong>com</strong> muita<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>ida, música e alegria.<<strong>br</strong> />

É muito importante falar que eu e meu<<strong>br</strong> />

povo sempre estávamos protegidos pelos<<strong>br</strong> />

homens.<<strong>br</strong> />

Para se dar um festejo <strong>de</strong>stes só <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

muita proteção e estratégia para que se<<strong>br</strong> />

acontecer <strong>uma</strong> tentativa <strong>de</strong> invasão, que seja<<strong>br</strong> />

contida no início e o povo que está no festejo<<strong>br</strong> />

nem fique sabendo <strong>de</strong> imediato, só assim eu<<strong>br</strong> />

ficava tranquilo.<<strong>br</strong> />

33


Ao final do festejo retomamos a nossa<<strong>br</strong> />

cabana para finalmente <strong>de</strong>scansar.<<strong>br</strong> />

Eu sentia a mesma felicida<strong>de</strong> quando a vi<<strong>br</strong> />

pela primeira vez quando eu voltava <strong>de</strong> minha<<strong>br</strong> />

primeira caçada.<<strong>br</strong> />

Foram dias <strong>de</strong> intensa felicida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

O tempo foi passando, e ela era <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

mulher, que sempre que podia estar em minha<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>panhia, nas viagens pequenas e nas visitas,<<strong>br</strong> />

eu levava junto.<<strong>br</strong> />

Fazia questão <strong>de</strong> sua <strong>com</strong>panhia e<<strong>br</strong> />

proteção.<<strong>br</strong> />

Já se era sabido, por todos, que ela<<strong>br</strong> />

estava sempre <strong>com</strong>igo.<<strong>br</strong> />

Só não ia <strong>com</strong>igo quando eu achava que<<strong>br</strong> />

podia haver risco.<<strong>br</strong> />

Fazia muito passeio na minha<<strong>br</strong> />

proprieda<strong>de</strong> <strong>com</strong> ela, aon<strong>de</strong>, pelo menos três<<strong>br</strong> />

dos meus rebentos foram feitos nestes<<strong>br</strong> />

passeios.<<strong>br</strong> />

34


Dentro das minhas terras tinham<<strong>br</strong> />

afluentes <strong>de</strong> rio, e em alguns passeios, eram<<strong>br</strong> />

escolhidos por mim, por ser formoso, e eu<<strong>br</strong> />

gostava <strong>de</strong> levar minha mulher, sempre<<strong>br</strong> />

cercados pelos meus homens, nunca tão perto<<strong>br</strong> />

pra ver ou ouvir, mas nunca tão longe que não<<strong>br</strong> />

pu<strong>de</strong>sse me proteger.<<strong>br</strong> />

Nos meus passeios ou nas minhas<<strong>br</strong> />

viagens distantes, sempre, meu irmão ia<<strong>br</strong> />

junto. Em alguns momentos, eu já levava<<strong>br</strong> />

os meus filhos pra apren<strong>de</strong>r.<<strong>br</strong> />

Estava fazendo <strong>com</strong>o meu gran<strong>de</strong> pai fez<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>igo.<<strong>br</strong> />

Alguns anos se passaram e eu tive<<strong>br</strong> />

alguns filhos.<<strong>br</strong> />

Logo após o nascimento do meu primeiro<<strong>br</strong> />

filho, minha mãe também morreu. Eu tinha 17<<strong>br</strong> />

anos.<<strong>br</strong> />

35


Ela teve <strong>uma</strong> infecção nos <strong>de</strong>ntes, o<<strong>br</strong> />

médico da época, arrancou o que podia<<strong>br</strong> />

arrancar, queimou o que podia queimar.<<strong>br</strong> />

Queimou para fazer o que vocês chamam<<strong>br</strong> />

hoje <strong>de</strong> cauterizar.<<strong>br</strong> />

Mas não teve jeito, ela se foi.<<strong>br</strong> />

Fizemos então, minha mulher foi quem<<strong>br</strong> />

cuidou, <strong>uma</strong> preparação muito gran<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Ela foi muito bem limpa, foi muito bem<<strong>br</strong> />

vestida <strong>com</strong> a túnica que ela mais gostava.<<strong>br</strong> />

Foi colocado todas as joias que ela mais<<strong>br</strong> />

gostava.<<strong>br</strong> />

36


Eu man<strong>de</strong>i preparar a caixa pois, ela<<strong>br</strong> />

queria ficar junto <strong>com</strong> meu pai.<<strong>br</strong> />

Assim que tudo estava pronto e<<strong>br</strong> />

preparado a cerimonia se iniciou e ela foi para<<strong>br</strong> />

junto <strong>de</strong>le.<<strong>br</strong> />

So<strong>br</strong>aram meus irmãos que moravam<<strong>br</strong> />

todos <strong>com</strong>igo.<<strong>br</strong> />

Um dia eu percebi meu irmão <strong>de</strong> olhos<<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong>s para minha mulher.<<strong>br</strong> />

Quis acreditar que eu estava<<strong>br</strong> />

caraminholando sozinho.<<strong>br</strong> />

Sempre que eu voltava <strong>de</strong> qualquer<<strong>br</strong> />

viagem, fosse pra ver terras distantes, fosse<<strong>br</strong> />

pra caça, ou fosse pra negócios, sempre minha<<strong>br</strong> />

volta era motivo <strong>de</strong> festejos.<<strong>br</strong> />

Alguns animais eram abatidos e assados<<strong>br</strong> />

na <strong>br</strong>asa, e a noite se estendia num festejo.<<strong>br</strong> />

E nos festejos, se <strong>com</strong>e, se bebe e se<<strong>br</strong> />

dança.<<strong>br</strong> />

37


Depois <strong>de</strong> um tempo, eu <strong>com</strong>ecei a<<strong>br</strong> />

perceber, nestes festejos que meu irmão<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>uma</strong> certa hora, que a bebida falava<<strong>br</strong> />

mais alto, ele se afastava um pouco, se<<strong>br</strong> />

amoitava em algum lugar.<<strong>br</strong> />

Na primeira vez, que senti falta <strong>de</strong>le, eu<<strong>br</strong> />

procurei até encontrar, ele estava encostado<<strong>br</strong> />

n<strong>uma</strong> arvore, f<strong>uma</strong>ndo, e não tirava os olhos<<strong>br</strong> />

da minha mulher, que não parava <strong>de</strong> dançar.<<strong>br</strong> />

Neste momento, olhei para meu capataz,<<strong>br</strong> />

e mostrei meu irmão <strong>com</strong> os olhos.<<strong>br</strong> />

O homem olhou pro meu irmão, olhou <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

volta para mim, acenou <strong>com</strong> a cabeça.<<strong>br</strong> />

Ele já tinha entendido tudo, e a partir<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ste dia, nenhum <strong>de</strong> nós teve mais sossego.<<strong>br</strong> />

Eu quis acreditar que nada estava<<strong>br</strong> />

acontecendo, mas <strong>com</strong>o burro eu nunca fui, eu<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ixei um funcionário especial <strong>de</strong> olho nele.<<strong>br</strong> />

Passado alguns anos, eu voltei a viajar,<<strong>br</strong> />

viagens rápidas, eu ia até <strong>uma</strong> terra minha, e<<strong>br</strong> />

voltava.<<strong>br</strong> />

38


Quando se passaram dois anos <strong>de</strong>ssas<<strong>br</strong> />

viagens, eu voltei e meus funcionários estavam<<strong>br</strong> />

esperando no caminho para me dar a noticia.<<strong>br</strong> />

Enquanto eu não estava em casa, meu<<strong>br</strong> />

irmão me traiu. Ele foi <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> erva daninha<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ntro da família (e todos meus funcionários<<strong>br</strong> />

eram consi<strong>de</strong>rados da minha família) ele<<strong>br</strong> />

utilizou <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r que não tinha, e que os<<strong>br</strong> />

homens não sabiam que ele não tinha, ele<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>eçou a montar o exército, <strong>com</strong>o ele fez<<strong>br</strong> />

isso??<<strong>br</strong> />

39


Roubando <strong>de</strong> mim, dando <strong>com</strong>ida, e<<strong>br</strong> />

animais, para meus inimigos. E ele foi muito<<strong>br</strong> />

inteligente, porque meus homens não<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sco<strong>br</strong>iram o que ele vinha fazendo.<<strong>br</strong> />

Até que ele conseguiu reunir os homens<<strong>br</strong> />

necessários, ele preparou um festejo (<strong>com</strong>o se<<strong>br</strong> />

eu estivesse chegando) fez <strong>com</strong> que meus<<strong>br</strong> />

homens bebessem e matou todos.<<strong>br</strong> />

Mas os meus homens eram muito bem<<strong>br</strong> />

treinados, poucos ficaram no festejo, não<<strong>br</strong> />

tinham 30 <strong>de</strong>les no festejo.<<strong>br</strong> />

Enquanto todos festejavam, os traidores<<strong>br</strong> />

não <strong>com</strong>iam, nem bebiam, e foi muito fácil<<strong>br</strong> />

executar seu plano.<<strong>br</strong> />

Mas a gritaria, das mulheres e animais,<<strong>br</strong> />

chamou atenção dos meus homens que<<strong>br</strong> />

lutaram, tentando proteger minha família. Mas<<strong>br</strong> />

ainda assim ele conseguiu fugir.<<strong>br</strong> />

Meu irmão matou meus funcionários,<<strong>br</strong> />

especialmente o que <strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> olho nele, e<<strong>br</strong> />

40


levou embora minha mulher para outro vilarejo,<<strong>br</strong> />

sem ouro nenhum.<<strong>br</strong> />

Só que ele era po<strong>br</strong>e, vivia dos meus<<strong>br</strong> />

bens, não tinha nada.<<strong>br</strong> />

Só que eu cheguei antes do que eles<<strong>br</strong> />

esperavam.<<strong>br</strong> />

Às vezes eu fazia isto para que nunca<<strong>br</strong> />

estivessem seguros <strong>de</strong> que eu dormia no<<strong>br</strong> />

ponto.<<strong>br</strong> />

Cheguei no dia seguinte, e eles me<<strong>br</strong> />

esperavam pelo menos 10 dias pra frente.<<strong>br</strong> />

Foi tempo <strong>de</strong> eu chegar, trocar <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

animal, reunir os homens, e ir para o vilarejo<<strong>br</strong> />

aon<strong>de</strong> ele tinha ido.<<strong>br</strong> />

Meus homens haviam seguido os rastros<<strong>br</strong> />

pra <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>ir on<strong>de</strong> eles estavam escondidos.<<strong>br</strong> />

Nós fomos para o vilarejo, eu esperei<<strong>br</strong> />

anoitecer, fiz um plano muito bem feito, o<<strong>br</strong> />

número <strong>de</strong> homens que eu levei era seis vezes<<strong>br</strong> />

maior que o que tinha no vilarejo.<<strong>br</strong> />

41


óleo.<<strong>br</strong> />

Eu levei seis carroças <strong>com</strong> armamento e<<strong>br</strong> />

Eu fiz <strong>uma</strong> estratégia aon<strong>de</strong>, 1/3 dos<<strong>br</strong> />

homens eu man<strong>de</strong>i cercar a al<strong>de</strong>ia, por que se<<strong>br</strong> />

alguém escapasse eles estariam lá para pegar.<<strong>br</strong> />

Eu man<strong>de</strong>i cavar um fosso pra servir <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

armadilha, ao redor do vilarejo.<<strong>br</strong> />

Tudo muito silencioso.<<strong>br</strong> />

Nós esperamos dar meia noite para ter<<strong>br</strong> />

certeza que estavam todos bêbados e<<strong>br</strong> />

dormindo.<<strong>br</strong> />

A <strong>com</strong>emoração era <strong>de</strong>smedida pois,<<strong>br</strong> />

jamais imaginariam que eu estava <strong>de</strong> volta e há<<strong>br</strong> />

poucos metros <strong>de</strong>les.<<strong>br</strong> />

Invadimos a al<strong>de</strong>ia, também em circulo,<<strong>br</strong> />

e minha or<strong>de</strong>m era matar todos e quando<<strong>br</strong> />

encontrar ele e a mulher me chame.<<strong>br</strong> />

Depois <strong>de</strong> muito conflito, meus homens<<strong>br</strong> />

me chamaram para me mostrar on<strong>de</strong> estavam<<strong>br</strong> />

escondidos. Na cabana que eles estavam tinha<<strong>br</strong> />

47 pessoas, além <strong>de</strong> minha mulher e ele.<<strong>br</strong> />

42


Eu entrei primeiro, olhei nos olhos <strong>de</strong>les,<<strong>br</strong> />

man<strong>de</strong>i amarrar cada um dos 49 traidores num<<strong>br</strong> />

pedaço <strong>de</strong> pau, juntei todos e ateei fogo.<<strong>br</strong> />

Transformando toda al<strong>de</strong>ia n<strong>uma</strong> gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

fogueira.<<strong>br</strong> />

Saí <strong>de</strong> lá <strong>com</strong> muita raiva e dor.<<strong>br</strong> />

A mulher que eu amava havia se ido para<<strong>br</strong> />

sempre.<<strong>br</strong> />

43


A notícia do ocorrido alastrou-se<<strong>br</strong> />

rapidamente, a todos os vilarejos, e em pouco<<strong>br</strong> />

tempo, e eu recebi muita ameaça.<<strong>br</strong> />

Depois da matança, eu man<strong>de</strong>i chamar a<<strong>br</strong> />

família toda <strong>de</strong>la, à minha presença (eles ainda<<strong>br</strong> />

não sabiam do ocorrido) e eu contei <strong>com</strong> os<<strong>br</strong> />

menores <strong>de</strong>talhes o que aconteceu.<<strong>br</strong> />

A tristeza foi muito gran<strong>de</strong>, assim <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

foi para mim, mas eu ainda não sei se foi por<<strong>br</strong> />

conveniência ou por obediência, eles<<strong>br</strong> />

permaneceram do meu lado, ate minha morte.<<strong>br</strong> />

Meu povo sofreu muitas baixas, saiam<<strong>br</strong> />

para caçar e não voltavam. Todos mortos<<strong>br</strong> />

espreitados.<<strong>br</strong> />

Meu filho mais velho foi encontrado<<strong>br</strong> />

amarrado n<strong>uma</strong> arvore, <strong>com</strong> os pés pra cima,<<strong>br</strong> />

sem pele no corpo inteiro.<<strong>br</strong> />

Foi torturado e <strong>de</strong>ixado para morrer e<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>pois servir <strong>de</strong> alimento para os animais<<strong>br</strong> />

famintos.<<strong>br</strong> />

44


Você quando é po<strong>de</strong>roso, tem muitos<<strong>br</strong> />

inimigos, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ste feito, os inimigos<<strong>br</strong> />

cresceram mais ainda.<<strong>br</strong> />

E eu sempre me protegendo, sempre<<strong>br</strong> />

andando cercado.<<strong>br</strong> />

A al<strong>de</strong>ia foi crescendo e foram<<strong>br</strong> />

aparecendo novos <strong>com</strong>ércios. De bebida, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

grãos, <strong>de</strong> pós, temperos, pequenos animais,<<strong>br</strong> />

alguns animais selvagens (pequenos felinos,<<strong>br</strong> />

hienas, este tipo <strong>de</strong> animal era muito <strong>com</strong>um<<strong>br</strong> />

para mostrar po<strong>de</strong>r, em negociações ficavam<<strong>br</strong> />

jogando alimento, para os animais para<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r) <strong>de</strong> carnes.<<strong>br</strong> />

Um dia, eu conheci <strong>uma</strong> fêmea, que veio<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> terra distante junto <strong>com</strong> a família. Pedir<<strong>br</strong> />

morada e trabalho.<<strong>br</strong> />

Eu me engracei <strong>com</strong> a mulher. Está foi<<strong>br</strong> />

minha ruína.<<strong>br</strong> />

Depois que esta família chegou, <strong>de</strong>pois<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> passar pelo capataz, eu fui informado que<<strong>br</strong> />

<strong>uma</strong> mulher que embora maltratada pela vida,<<strong>br</strong> />

talvez pu<strong>de</strong>sse me interessar.<<strong>br</strong> />

45


Comparando as mulheres, a outra era<<strong>br</strong> />

elegante, apesar <strong>de</strong> não ser rica, era muito<<strong>br</strong> />

elegante, e toda mulher elegante on<strong>de</strong> passa<<strong>br</strong> />

nunca faz muito estardalhaço, porque ela sabe<<strong>br</strong> />

o lugar <strong>de</strong>la e os outros também sabem seu<<strong>br</strong> />

lugar.<<strong>br</strong> />

Essa mulher nova, era <strong>uma</strong> mulher que<<strong>br</strong> />

quando eu olhei a primeira vez, notei que a<<strong>br</strong> />

força da vida saia por ela, era <strong>uma</strong> mulher que<<strong>br</strong> />

todos gostavam da presença <strong>de</strong>la, mas<<strong>br</strong> />

ninguém queria bulir nela.<<strong>br</strong> />

É <strong>com</strong>o se ela fizesse bem para todo<<strong>br</strong> />

mundo, era <strong>uma</strong> mulher que sempre tinha <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

flor presa no cabelo, sempre estava sorrindo, a<<strong>br</strong> />

risada <strong>de</strong>la se ouvia <strong>de</strong> longe, e foi assim que<<strong>br</strong> />

eu me encantei, ela não era tão formosa<<strong>br</strong> />

quanto à outra, mas a formosura vinha <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ntro.<<strong>br</strong> />

A família ainda não tinha sua cabana,<<strong>br</strong> />

nem um ano tinha se passado <strong>de</strong> quando eles<<strong>br</strong> />

pediram a<strong>br</strong>igo e emprego, foi quando eu<<strong>br</strong> />

resolvi ter ela pra mim.<<strong>br</strong> />

46


O custo foi mais baixo, porque eu <strong>de</strong>i um<<strong>br</strong> />

pedaço <strong>de</strong> terra pequeno pra família, pai, mãe<<strong>br</strong> />

e irmãos pequenos, eu <strong>de</strong>i um casal <strong>de</strong> cavalos<<strong>br</strong> />

pra família e <strong>de</strong>i um ca<strong>br</strong>ito e cinco ca<strong>br</strong>as.<<strong>br</strong> />

Eu <strong>de</strong>i porque eu sou justo, porque eu<<strong>br</strong> />

não precisava dar nada. Se eu só tirasse <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

on<strong>de</strong> estava já estaria bom.<<strong>br</strong> />

Eu levei-a pra minhas terras, e <strong>com</strong>o pra<<strong>br</strong> />

outra, ela foi apresentada, ganhou os mesmo<<strong>br</strong> />

presentes, e foi consi<strong>de</strong>rada rainha, e neste<<strong>br</strong> />

tempo todo, muita vestimenta foi feita pra ela,<<strong>br</strong> />

muitos adornos eram forjados, jóias para o<<strong>br</strong> />

cabelo, <strong>br</strong>aceletes. (ela ate <strong>br</strong>ilhava <strong>de</strong> tantas<<strong>br</strong> />

pedras preciosas, diamantes, rubis,<<strong>br</strong> />

esmeraldas).<<strong>br</strong> />

Existiam funcionários só para fazer jóias<<strong>br</strong> />

para a rainha.<<strong>br</strong> />

Eu <strong>com</strong>ecei, a sair sozinho <strong>com</strong> a mulher<<strong>br</strong> />

para passeios, e viagens, e n<strong>uma</strong> noite,<<strong>br</strong> />

dormindo na mata, no meio <strong>de</strong> <strong>uma</strong> viagem, eu<<strong>br</strong> />

fui surpreendido por uns 10 machos e quando<<strong>br</strong> />

eu acor<strong>de</strong>i estava <strong>com</strong> o obé (faca) no meu<<strong>br</strong> />

47


pescoço, e minha mulher sangrando na barriga<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> a barrigada caindo, morrendo e me<<strong>br</strong> />

olhando, quando ela morreu, eles passaram a<<strong>br</strong> />

faca no meu pescoço bem <strong>de</strong>vagar, para eu<<strong>br</strong> />

sentir tudo.<<strong>br</strong> />

Demora uns 3 minutos enquanto o<<strong>br</strong> />

sangue se esvai e finalmente se morre.<<strong>br</strong> />

Eles foram embora e nos largaram lá.<<strong>br</strong> />

Alguns dias se passaram, <strong>de</strong> 2 a 3, e<<strong>br</strong> />

meus homens encontraram-nos mortos<<strong>br</strong> />

assassinados.<<strong>br</strong> />

Nos colocaram em <strong>uma</strong> carroça e<<strong>br</strong> />

levaram os corpos para minhas terras.<<strong>br</strong> />

Nossos corpos foram preparados <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

muito cuidado.<<strong>br</strong> />

48


Fomos muito bem vestidos.<<strong>br</strong> />

Eles construíram as caixas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira,<<strong>br</strong> />

cavaram e me enterraram nas minhas terras, e<<strong>br</strong> />

a mulher nas terras <strong>de</strong>la.<<strong>br</strong> />

Minha morte aconteceu em 696. (esta<<strong>br</strong> />

data é aproximada).<<strong>br</strong> />

Nota: Cabe informar que fora perguntado ao<<strong>br</strong> />

Exu se em algum momento ele perguntara à<<strong>br</strong> />

Kiusa se ela era inocente. Se havia fugido ou<<strong>br</strong> />

sido sequestrada. Tal pergunta não aconteceu.<<strong>br</strong> />

49


Capítulo Dois - O Suplício<<strong>br</strong> />

50


Alguns anos se passaram, por voltar <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

12 anos, foi quando eu a<strong>br</strong>i os olhos e não vi<<strong>br</strong> />

nada, e senti as ma<strong>de</strong>iras fechadas em cima <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

mim, o ar não existia, eu achava que conseguia<<strong>br</strong> />

gritar, mas estava todo cortado, os<<strong>br</strong> />

pensamentos vinham e eu não entendia o que<<strong>br</strong> />

estava acontecendo.<<strong>br</strong> />

O ser h<strong>uma</strong>no normal, o que não tira a<<strong>br</strong> />

vida <strong>de</strong> outro. No momento que a<strong>br</strong>ir os olhos,<<strong>br</strong> />

vai estar em outro lugar, já estará sendo<<strong>br</strong> />

auxiliado, para enten<strong>de</strong>r o que esta<<strong>br</strong> />

acontecendo.<<strong>br</strong> />

O tempo foi se passando, e a dor que eu<<strong>br</strong> />

tinha no corpo era muito gran<strong>de</strong>, eu sentia as<<strong>br</strong> />

mordidas dos animais me <strong>com</strong>endo. Ratos,<<strong>br</strong> />

insetos, e co<strong>br</strong>as.<<strong>br</strong> />

Eu xingava, eu es<strong>br</strong>avejava, eu<<strong>br</strong> />

repudiava o criador o quanto eu podia.<<strong>br</strong> />

O ódio era tamanho que eu jamais<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong>ria perdoar o criador pelo que eu sentia.<<strong>br</strong> />

51


Um dia eu escutei duas vozes me<<strong>br</strong> />

propondo um trato.<<strong>br</strong> />

Fiquei muito assustado pois, os únicos<<strong>br</strong> />

barulhos que eu escutava era dos animais<<strong>br</strong> />

roendo meu corpo ou a ma<strong>de</strong>ira da caixa.<<strong>br</strong> />

Eu não conseguia enten<strong>de</strong>r direito no<<strong>br</strong> />

início.<<strong>br</strong> />

As vozes me pareciam vozes <strong>de</strong> fêmea,<<strong>br</strong> />

mas eram vozes que eu não conhecia.<<strong>br</strong> />

Faziam-me propostas que eu ficava<<strong>br</strong> />

amedrontado e arrepiado.<<strong>br</strong> />

No início achei que eu estava <strong>de</strong>lirando<<strong>br</strong> />

ou sonhando.<<strong>br</strong> />

Quando eu percebi que só podia ser <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

proposta do <strong>de</strong>mônio.<<strong>br</strong> />

Como o <strong>de</strong>mônio tem várias caras e<<strong>br</strong> />

vozes, só podia ser eu pensei.<<strong>br</strong> />

Eu es<strong>br</strong>avejei, ex<strong>com</strong>unguei e fui<<strong>br</strong> />

ameaçado. Se eu não aceitasse, o pior me<<strong>br</strong> />

aconteceria ali mesmo.<<strong>br</strong> />

52


Continuei achando que era <strong>de</strong>lírio por<<strong>br</strong> />

estar só há muito tempo e que eu estava<<strong>br</strong> />

ficando louco.<<strong>br</strong> />

Eu mantive, a minha <strong>de</strong>cisão e continuei<<strong>br</strong> />

xingando, es<strong>br</strong>avejando e negando qualquer<<strong>br</strong> />

aceitação da proposta.<<strong>br</strong> />

Mas a dúvida permanecia.<<strong>br</strong> />

Quando eu cansei <strong>de</strong> es<strong>br</strong>avejar, eu ouvi<<strong>br</strong> />

dois barulhos perto dos pés da ma<strong>de</strong>ira se<<strong>br</strong> />

que<strong>br</strong>ando, foi quando as duas vozes vieram<<strong>br</strong> />

falar no meu ouvido.<<strong>br</strong> />

Já que eu não iria aceitar a proposta, a<<strong>br</strong> />

tortura <strong>com</strong>eçaria ali.<<strong>br</strong> />

53


O que entrou no caixão foram duas<<strong>br</strong> />

co<strong>br</strong>as, e elas falaram para eu me preparar<<strong>br</strong> />

para a dor <strong>de</strong> não ter aceitado a proposta, ela<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>eçaram a me mor<strong>de</strong>r, e <strong>com</strong>er tudo o que<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>ara da carne podre que ainda tinha.<<strong>br</strong> />

A dor era in<strong>de</strong>scritível, a sensação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

pânico, <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r lutar, se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

não saber quando iria acabar, era infinita.<<strong>br</strong> />

Ate que eu <strong>de</strong>smaiei <strong>de</strong> dor, quando eu<<strong>br</strong> />

retomei a consciência, elas já tinham ido.<<strong>br</strong> />

O meu corpo passou por um período<<strong>br</strong> />

rígido, eu não conseguia me mover, <strong>de</strong> tanto<<strong>br</strong> />

veneno que fora <strong>de</strong>positado.<<strong>br</strong> />

54


Passaram alguns dias, <strong>uma</strong> das vozes<<strong>br</strong> />

voltou, dizendo que eu fui imobilizado, e a<<strong>br</strong> />

única coisa que não tinha sido imobilizada era a<<strong>br</strong> />

fala, para que a hora que eu sucumbisse eu<<strong>br</strong> />

pu<strong>de</strong>sse aceitar a proposta.<<strong>br</strong> />

E foi embora.<<strong>br</strong> />

Como o buraco estava aberto chovia e a<<strong>br</strong> />

terra entrava, os animais entravam e todos se<<strong>br</strong> />

banqueteavam do meu corpo.<<strong>br</strong> />

55


Já tinha se passado, quando eu atinei,<<strong>br</strong> />

dois anos neste sofrimento.<<strong>br</strong> />

Calado sem acreditar, xingando o criador.<<strong>br</strong> />

A dor persistia só que eu já não tinha<<strong>br</strong> />

mais nenh<strong>uma</strong> carne, só osso, mas era <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

se meu corpo estivesse intacto, eu o sentia<<strong>br</strong> />

assim.<<strong>br</strong> />

Foi quando eu tomei a <strong>de</strong>cisão, <strong>de</strong> que,<<strong>br</strong> />

se era pra ficar <strong>uma</strong> eternida<strong>de</strong> trancafiado,<<strong>br</strong> />

que eu ficasse <strong>uma</strong> eternida<strong>de</strong>, fora dali.<<strong>br</strong> />

O curioso é que quando eu tomei a<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>cisão, eu não precisei falar.<<strong>br</strong> />

56


Nota.: Que fique claro para o conhecimento do<<strong>br</strong> />

homem da terra, a ma<strong>de</strong>ira é absorvida pela<<strong>br</strong> />

terra, os vermes contido <strong>de</strong>ntro do corpo,<<strong>br</strong> />

inerte, digere tudo, junto <strong>com</strong> a umida<strong>de</strong> da<<strong>br</strong> />

terra, e entra em <strong>de</strong><strong>com</strong>posição muito rápida, e<<strong>br</strong> />

a ma<strong>de</strong>ira usada na minha época, era <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

<strong>uma</strong> caixa <strong>de</strong> frutas no dia <strong>de</strong> hoje, e também<<strong>br</strong> />

os sete palmos não eram respeitados, o normal<<strong>br</strong> />

eram 4 palmos no máximo, então quando o<<strong>br</strong> />

exú citou anos <strong>de</strong> suplicio no caixão, na<<strong>br</strong> />

verda<strong>de</strong>, sua alma estava encantada, pra sentir<<strong>br</strong> />

a penitência do vale da morte, que cada ser<<strong>br</strong> />

h<strong>uma</strong>no que merece tem a sua.<<strong>br</strong> />

Quero que fique claro: eu já estava no<<strong>br</strong> />

vale da morte ou dos suicidas que acaba sendo<<strong>br</strong> />

mesmo lugar e que meu sofrimento era<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>pletamente esperado pelo outro lado,<<strong>br</strong> />

principalmente pelo criador.<<strong>br</strong> />

Tudo o que eu estava passando fazia<<strong>br</strong> />

parte da minha penitencia por ter tirado tantas<<strong>br</strong> />

vidas.<<strong>br</strong> />

Havia outros sofredores <strong>com</strong>o eu mas,<<strong>br</strong> />

ninguém se vê eu se encontra neste lugar.<<strong>br</strong> />

57


Capítulo Três - O Aprendizado<<strong>br</strong> />

58


Quando eu pensei na <strong>de</strong>cisão as duas<<strong>br</strong> />

apareceram, olharam para mim, e é <strong>com</strong>o se<<strong>br</strong> />

eu tivesse dormido novamente, ou <strong>com</strong>o se eu<<strong>br</strong> />

tivesse piscado, quando a<strong>br</strong>i os olhos eu estava<<strong>br</strong> />

em <strong>uma</strong> masmorra preso nos grilhões, pés,<<strong>br</strong> />

mãos e pescoço acorrentados.<<strong>br</strong> />

Quase não tinha luz, mas <strong>com</strong> o tempo a<<strong>br</strong> />

visão acostumou e eu conseguia ver tudo em<<strong>br</strong> />

volta.<<strong>br</strong> />

Que fique claro <strong>de</strong> novo, este novo lugar<<strong>br</strong> />

eram as profun<strong>de</strong>zas do inferno, pois eu<<strong>br</strong> />

aceitara o trato e minha arma fora trocada <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

algum po<strong>de</strong>roso <strong>de</strong> lá.<<strong>br</strong> />

59


Era <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> gruta on<strong>de</strong> tinha<<strong>br</strong> />

mais uns 200 animais <strong>com</strong>o eu na mesma<<strong>br</strong> />

situação.<<strong>br</strong> />

Só que <strong>de</strong>sta vez eu ouvia todos mas,<<strong>br</strong> />

ver era difícil.<<strong>br</strong> />

Eu estava <strong>com</strong>o se eu tivesse 30 dias <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

morto, meu corpo estava em processo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

apodrecimento.<<strong>br</strong> />

O chão <strong>de</strong>ste lugar era cheio <strong>de</strong> canais,<<strong>br</strong> />

pequenos canais, e esses canais, eram <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

mistura <strong>de</strong> sangue <strong>com</strong> vinagre, urina, fezes, e<<strong>br</strong> />

também o cheiro dos grilhões enferrujados, é<<strong>br</strong> />

um odor que vocês encarnados jamais irão<<strong>br</strong> />

sentir.<<strong>br</strong> />

Depois <strong>de</strong> passado este momento on<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

consegui me acost<strong>uma</strong>r <strong>com</strong> tudo em volta,<<strong>br</strong> />

consegui i<strong>de</strong>ntificar os cheiros, ai eu lem<strong>br</strong>ei,<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> tudo, e fiquei mais revoltado porque aceitei<<strong>br</strong> />

o trato e fui acorrentado mesmo assim.<<strong>br</strong> />

Como eu podia estar preso? Eu aceitara a<<strong>br</strong> />

proposta. Por quanto tempo eu estaria preso?<<strong>br</strong> />

Quem me explicaria on<strong>de</strong> eu estava?<<strong>br</strong> />

60


Durante sete dias eu via o que hoje eu<<strong>br</strong> />

sei que é exu, mas pra mim, eram <strong>de</strong>mônios<<strong>br</strong> />

encapados e <strong>com</strong> capuz, levando travessas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

liquido, e servindo a todos que estavam nos<<strong>br</strong> />

grilhões.<<strong>br</strong> />

Eu fui o único que não fui servido.<<strong>br</strong> />

Porque eu estava revoltado, eu gritava,<<strong>br</strong> />

eu xingava, e insultava o tempo todo,<<strong>br</strong> />

sem parar.<<strong>br</strong> />

61


Até que quando <strong>de</strong>ve ter se passado 60<<strong>br</strong> />

dias, um <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>mônios, estava lá longe me<<strong>br</strong> />

olhando e eu xingando e insultando, ele parou ,<<strong>br</strong> />

virou e olhou para mim, eu só vi duas bolas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

fogo me olhando.<<strong>br</strong> />

Se você pensa que eu me amedrontei, se<<strong>br</strong> />

engana.<<strong>br</strong> />

Eu xinguei e insultei mais ainda, porque eu não<<strong>br</strong> />

aguentava mais aquela situação.<<strong>br</strong> />

Ele caminhou na minha direção, <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />

capa fechada, parou perto <strong>de</strong> mim e não disse<<strong>br</strong> />

<strong>uma</strong> palavra, mas a capa se a<strong>br</strong>iu, ele tinha<<strong>br</strong> />

<strong>uma</strong> bucha na mão, era preta, esver<strong>de</strong>ada, e<<strong>br</strong> />

cheirava muito forte.<<strong>br</strong> />

Ele olhou para mim, e enfiou a bucha na<<strong>br</strong> />

minha boca, <strong>com</strong>o se tivesse me dando água.<<strong>br</strong> />

62


Mas era vinagre.<<strong>br</strong> />

Quando eu engasguei, ele tirou da minha<<strong>br</strong> />

boca, e aquilo parecia que se enchia sozinho.<<strong>br</strong> />

Ele espremeu aquela bucha <strong>com</strong> vinagre<<strong>br</strong> />

no meu corpo inteiro.<<strong>br</strong> />

Esse tratamento, vamos enten<strong>de</strong>r <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

tratamento, acontecia varias vezes por dia, o<<strong>br</strong> />

tempo todo, eu xingava, eu insultava, e as<<strong>br</strong> />

vezes vinham dois ou três <strong>de</strong>mônios, para me<<strong>br</strong> />

dar o banho <strong>de</strong> vinagre. Nunca me foi trazido,<<strong>br</strong> />

nem água, nem alimento.<<strong>br</strong> />

63


Eu calculo que eu fiquei, nesta <strong>br</strong>iga <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

os <strong>de</strong>mônios, por uns 10 anos. Sempre na<<strong>br</strong> />

mesma posição.<<strong>br</strong> />

Um dia, eu <strong>com</strong>ecei a perceber que<<strong>br</strong> />

alguns dos que estavam <strong>com</strong>igo, foram indo<<strong>br</strong> />

embora, eu não sabia por que. Então resolvi<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> achar que ainda era dono <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

coisa ou <strong>de</strong> alguém e que estava na hora <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ser inteligente.<<strong>br</strong> />

Porque neste tempo todo alem <strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />

torturado <strong>com</strong> este liquido, eu era açoitado.<<strong>br</strong> />

Quando eu estava melhorando eu era<<strong>br</strong> />

açoitado novamente e era colocado o liquido<<strong>br</strong> />

(vinagre).<<strong>br</strong> />

Esses 10 anos, pareceram <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

eternida<strong>de</strong>, porque os berros <strong>de</strong> todos nunca<<strong>br</strong> />

cessavam, então eu resolvi ser mais inteligente<<strong>br</strong> />

que todos.<<strong>br</strong> />

Eu <strong>de</strong>cidi que faria qualquer coisa, que<<strong>br</strong> />

eu seria um <strong>de</strong>mônio daqueles, mas pelo<<strong>br</strong> />

menos estaria solto.<<strong>br</strong> />

64


A partir do momento que eu <strong>de</strong>cidi,<<strong>br</strong> />

apareceram três <strong>de</strong>mônios na minha frente.<<strong>br</strong> />

O do meio a<strong>br</strong>iu a capa e tirou <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

bucha, só que esta bucha era clara, ele a<<strong>br</strong> />

colocou na minha boca, e eu acost<strong>uma</strong>do <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

o gosto ruim, relutei no <strong>com</strong>eço mas, então eu<<strong>br</strong> />

percebi que era água.<<strong>br</strong> />

Eu tomei tudo que me foi dado e<<strong>br</strong> />

agra<strong>de</strong>ci <strong>com</strong> um movimento <strong>de</strong> cabeça.<<strong>br</strong> />

A partir <strong>de</strong>ste momento eu continuei a<<strong>br</strong> />

ser testado, por pelo menos três vezes ao dia,<<strong>br</strong> />

um dos <strong>de</strong>mônios vinham e espremia vinagre<<strong>br</strong> />

65


nas minhas feridas, e eu não gritei nem xinguei<<strong>br</strong> />

mais.<<strong>br</strong> />

A vonta<strong>de</strong> era enorme mas, finalmente<<strong>br</strong> />

estava falando mais alto a inteligência.<<strong>br</strong> />

Eu apenas olhava para ele e baixava<<strong>br</strong> />

minha cabeça em <strong>com</strong>primento.<<strong>br</strong> />

Eu calculo que mais meio ano se passou<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sse jeito.<<strong>br</strong> />

É muito difícil falar do tempo <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

certeza.<<strong>br</strong> />

O teste acontecia o tempo todo, não é<<strong>br</strong> />

porque eu resolvi ser bonzinho que o <strong>de</strong>mônio<<strong>br</strong> />

acreditou.<<strong>br</strong> />

Ele me testou e testou e testou.<<strong>br</strong> />

Ate que um dia outra idéia eu tive, e<<strong>br</strong> />

quando um dos <strong>de</strong>mônios estava passando.<<strong>br</strong> />

Eu o chamei <strong>com</strong> a educação e<<strong>br</strong> />

inteligência que eu tinha e fiz <strong>uma</strong> proposta<<strong>br</strong> />

para ele.<<strong>br</strong> />

66


Eu propus fazer o trabalho <strong>de</strong>le, e que<<strong>br</strong> />

ele ficasse no <strong>de</strong>scanso, ele a<strong>br</strong>ia a capa, e<<strong>br</strong> />

espremeu mais vinagre em mim.<<strong>br</strong> />

Mais uns 10 dias se passaram e o mesmo<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>mônio veio, para me jogar o vinagre, e água,<<strong>br</strong> />

e <strong>de</strong>sta vez ele passou água nas minhas<<strong>br</strong> />

feridas, e foi quando eu soube que ele tinha<<strong>br</strong> />

aceitado minha proposta.<<strong>br</strong> />

A bonda<strong>de</strong> não existe naquele lugar,<<strong>br</strong> />

educação muito menos.<<strong>br</strong> />

67


Depois que ele jogou água nas feridas,<<strong>br</strong> />

ele jogou nos olhos, eu fechei os olhos e<<strong>br</strong> />

quando a<strong>br</strong>i os olhos eu estava em outra<<strong>br</strong> />

caverna, que não cheirava mal, esta era muito<<strong>br</strong> />

mais quente que a outra, e cheia dos <strong>de</strong>mônios<<strong>br</strong> />

encapados, tantos que eu não conseguia nem<<strong>br</strong> />

contar, pareciam morcego em caverna, quando<<strong>br</strong> />

eu me <strong>de</strong>i conta eu já estava encapado<<strong>br</strong> />

também.<<strong>br</strong> />

O mais curioso, é que não se passou<<strong>br</strong> />

muito tempo e n<strong>uma</strong> parte alta da caverna,<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o um platô, veio um <strong>de</strong>mônio encapado,<<strong>br</strong> />

segurando um tri<strong>de</strong>nte, e o mais curioso é que<<strong>br</strong> />

ele falava <strong>com</strong> todos sem mexer a boca.<<strong>br</strong> />

Eu percebi que no meio <strong>de</strong> todos, tinham<<strong>br</strong> />

alguns chefes ou mandantes e o resto eram<<strong>br</strong> />

todos funcionários.<<strong>br</strong> />

Esse <strong>de</strong>mônio que me libertou era um<<strong>br</strong> />

dos chefes, eu passei a trabalhar para ele por<<strong>br</strong> />

muitos e muitos anos.<<strong>br</strong> />

Aon<strong>de</strong> eu recebia os recém-chegados,<<strong>br</strong> />

on<strong>de</strong> eu torturava quem tinha que torturar,<<strong>br</strong> />

68


on<strong>de</strong> eu limpava o que tinha que ser limpo, até<<strong>br</strong> />

que um dia quando eu estava torturando um<<strong>br</strong> />

po<strong>br</strong>e coitado, recém-chegado <strong>com</strong>o eu fui.<<strong>br</strong> />

Neste momento tudo voltou em minha<<strong>br</strong> />

cabeça mas, percebi que eram apenas<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>anças do <strong>com</strong>eço do meu aprendizado <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o so<strong>br</strong>eviver nas profun<strong>de</strong>zas do inferno.<<strong>br</strong> />

Eu tive <strong>uma</strong> idéia... E pensei... O que<<strong>br</strong> />

tenho que fazer para ser chefe?<<strong>br</strong> />

Se existe chefes eles fizeram por<<strong>br</strong> />

merecer.<<strong>br</strong> />

Como eles apren<strong>de</strong>ram? Quem ensinou?<<strong>br</strong> />

Tudo isto teria que ser <strong>de</strong>scoberto e que<<strong>br</strong> />

levasse o tempo que for.<<strong>br</strong> />

Neste tempo todo eu fui fazendo<<strong>br</strong> />

amiza<strong>de</strong>, e conhecendo todos os <strong>de</strong>mônios.<<strong>br</strong> />

69


Fui apren<strong>de</strong>ndo o que tinha que fazer<<strong>br</strong> />

para mandar.<<strong>br</strong> />

Eu não tive pudor nenhum em fazer<<strong>br</strong> />

qualquer coisa pra chegar a mandante.<<strong>br</strong> />

O que era mandado eu fazia e ganhava<<strong>br</strong> />

alg<strong>uma</strong> confiança.<<strong>br</strong> />

As torturas eram as mais diversas que<<strong>br</strong> />

tinham.<<strong>br</strong> />

Ate separar partes <strong>de</strong> esqueletos inteiros,<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ixava cada parte num grilhão, por muito<<strong>br</strong> />

70


tempo, o necessário era reproduzir a dor, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o se estivesse encarnado.<<strong>br</strong> />

O tempo foi passando ate que um dia, eu<<strong>br</strong> />

fui chamado para outra caverna, aon<strong>de</strong> tinha<<strong>br</strong> />

outro superior.<<strong>br</strong> />

Este superior estava sentado num trono<<strong>br</strong> />

feito <strong>de</strong> osso <strong>de</strong> ser h<strong>uma</strong>no, <strong>com</strong> vários<<strong>br</strong> />

crânios em volta, e ele segurava um tri<strong>de</strong>nte,<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> três caveiras espetadas em cima.<<strong>br</strong> />

Eu fiquei parado olhando ate que ele<<strong>br</strong> />

mandou me chamar.<<strong>br</strong> />

Eu já havia até aprendido à forma <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

cumprimentar no inferno. Que é se ajoelhar,<<strong>br</strong> />

baixar a cabeça e colocar a mão fechada no<<strong>br</strong> />

peito, eu me abaixei, sau<strong>de</strong>i o diabo, e ele me<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>u um novo posto <strong>de</strong> <strong>com</strong>ando, a partir <strong>de</strong>ste<<strong>br</strong> />

dia eu tinha acesso, a lugares que os outros<<strong>br</strong> />

não tinham, e em pouco tempo eu me tornei<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>aço direito <strong>de</strong>ste diabo.<<strong>br</strong> />

Como eu tinha livre caminhar para<<strong>br</strong> />

qualquer lugar, eu não perdia tempo, eu<<strong>br</strong> />

aprendia tudo que eu podia, do céu, inferno,<<strong>br</strong> />

71


dos encarnados e <strong>de</strong>sencarnados, eu encontrei<<strong>br</strong> />

algo parecido <strong>com</strong> <strong>uma</strong> biblioteca, eram<<strong>br</strong> />

pergaminhos, da escrita do inferno, mas <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

toda verda<strong>de</strong> que podia existir. Aquilo era a<<strong>br</strong> />

escrita verda<strong>de</strong>ira.<<strong>br</strong> />

Quando eu falo escrita verda<strong>de</strong>ira, o que<<strong>br</strong> />

foi escrito tinha um propósito, um livro <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

72


<strong>com</strong>o foi criado à doença e a cura, o ódio e o<<strong>br</strong> />

amor, etc.<<strong>br</strong> />

Eu li todos os escritos que existiam<<strong>br</strong> />

referentes à criação, ao ser h<strong>uma</strong>no, referentes<<strong>br</strong> />

à personalida<strong>de</strong> do ser h<strong>uma</strong>no, as guerras, as<<strong>br</strong> />

curas e a família.<<strong>br</strong> />

Uma coisa que me chamou muita<<strong>br</strong> />

atenção, quando eu <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>i este lugar, é que<<strong>br</strong> />

existia a evolução, eu percebi que existiam<<strong>br</strong> />

alguns <strong>de</strong>mônios sempre escrevendo.<<strong>br</strong> />

Que eram uns <strong>de</strong>mônios que já faziam<<strong>br</strong> />

parte da luz, que eram funcionários <strong>de</strong> algum<<strong>br</strong> />

EXU evoluído, portanto, nessa sala <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

informação, eu percebi que era dividido, ou<<strong>br</strong> />

separado por épocas, então eu <strong>com</strong>ecei pela<<strong>br</strong> />

escrita original e fui lendo so<strong>br</strong>e a evolução, e<<strong>br</strong> />

fui vendo coisas que eu não tinha visto<<strong>br</strong> />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>s que eu não conseguia enten<strong>de</strong>r.<<strong>br</strong> />

A minha se<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r era tão<<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong>, que eu fazia meu <strong>de</strong>ver, e estava<<strong>br</strong> />

sempre apren<strong>de</strong>ndo e lendo, <strong>com</strong> isso eu fui<<strong>br</strong> />

73


evoluindo na hierarquia, até chegar um dia que<<strong>br</strong> />

meu protetor, já não fazia mais nada.<<strong>br</strong> />

Foi quando um dia, eu tive outra idéia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

conversar <strong>com</strong> ele, e perguntar o que ele<<strong>br</strong> />

queria fazer, ou o que queria que eu fizesse,<<strong>br</strong> />

<strong>uma</strong> vez que eu já era tão po<strong>de</strong>roso.<<strong>br</strong> />

Este dia ele parou, olhou pra mim e<<strong>br</strong> />

pediu pra vir <strong>com</strong> ele.<<strong>br</strong> />

Foi neste dia que eu conheci o inferno, e<<strong>br</strong> />

este dia eu nunca vou esquecer.<<strong>br</strong> />

74


Ele me tirou das profun<strong>de</strong>zas e nós<<strong>br</strong> />

saímos para terra aberta, on<strong>de</strong> eu vi toda a<<strong>br</strong> />

fornalha pegando fogo, on<strong>de</strong> eu vi cada castelo<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> EXU, on<strong>de</strong> ele me mostrou o que um EXU<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong>roso que eu já era, on<strong>de</strong> eu podia pisar e<<strong>br</strong> />

o que po<strong>de</strong>ria fazer.<<strong>br</strong> />

Depois que me foi apresentado à parte<<strong>br</strong> />

boa do inferno, eu tracei meu objetivo, <strong>de</strong> on<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

eu queria chegar.<<strong>br</strong> />

Quando eu tracei o plano, eu cheguei pro<<strong>br</strong> />

meu protetor, que nesta época era meu gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

amigo, quando ele me apresentou o inferno ele<<strong>br</strong> />

me <strong>de</strong>u minha carta <strong>de</strong> alforria.<<strong>br</strong> />

Neste dia, ele, <strong>de</strong> chefe virou meu<<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong> amigo. Que agora eu falo <strong>com</strong> toda<<strong>br</strong> />

honra que era EXU Capa Preta, toda honra e<<strong>br</strong> />

agra<strong>de</strong>cimentos.<<strong>br</strong> />

75


Quando eu contei a ele meu plano ele<<strong>br</strong> />

disse, que eu tinha total condição, e permissão<<strong>br</strong> />

pra chegar aon<strong>de</strong> eu quisesse porque eu era<<strong>br</strong> />

dono <strong>de</strong> mim, e ainda iria ter <strong>uma</strong> ultima<<strong>br</strong> />

surpresa, e alegria <strong>com</strong>o EXU, e que não<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>moraria muito.<<strong>br</strong> />

O tempo continuou passando e eu fui<<strong>br</strong> />

criando meus exércitos, diferente do que vocês<<strong>br</strong> />

imaginam quando falam exércitos, vocês<<strong>br</strong> />

pensam em 500, ou 1000 homens, os exércitos<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> EXU, é um numero que vocês não<<strong>br</strong> />

conseguem calcular, fazendo <strong>uma</strong> <strong>com</strong>paração<<strong>br</strong> />

bem simples, você imagine um formigueiro<<strong>br</strong> />

crescendo. Um exército <strong>de</strong> exu é <strong>com</strong>o vários<<strong>br</strong> />

76


formigueiros, porque cada formigueiro é um<<strong>br</strong> />

funcionário graduado meu.<<strong>br</strong> />

Até que eu consegui atingir um numero<<strong>br</strong> />

tal <strong>de</strong> funcionários, que eu passei a ser<<strong>br</strong> />

chamado <strong>de</strong> general <strong>de</strong> guerra.<<strong>br</strong> />

Com isso, vieram meus castelos e as<<strong>br</strong> />

moradas <strong>de</strong> todos meus EXUS.<<strong>br</strong> />

Quando eu atingi a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

funcionários e moradia necessária, pra um EXU,<<strong>br</strong> />

da minha categoria, e quando eu digo isso, eu<<strong>br</strong> />

não era po<strong>de</strong>roso porque eu me tornei um<<strong>br</strong> />

general <strong>de</strong> guerra, ou porque eu tinha <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

falange sem fim, tudo o que eu conquistei, eu<<strong>br</strong> />

conquistei sem saber qual era o fim, porque<<strong>br</strong> />

meu amigo tinha me dito que a gran<strong>de</strong> alegria<<strong>br</strong> />

ainda estava por vir, e eu não sabia o que era.<<strong>br</strong> />

Todos os meus funcionários, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<<strong>br</strong> />

mais ralé ate os capitães foram <strong>de</strong>staque,<<strong>br</strong> />

porque a minha linha <strong>de</strong> trabalho foi à<<strong>br</strong> />

doutrina, do bem maior.<<strong>br</strong> />

Os meus funcionários pegavam os EXUS,<<strong>br</strong> />

recém-chegados <strong>com</strong>o eu fui, e fazia <strong>uma</strong> coisa<<strong>br</strong> />

77


diferente do que os <strong>de</strong>mônios fizeram <strong>com</strong>igo,<<strong>br</strong> />

porque eu tinha agora as minhas profun<strong>de</strong>zas<<strong>br</strong> />

do inferno, eu tinha minhas catacumbas, eu<<strong>br</strong> />

tinha meus grilhões. Portanto ninguém<<strong>br</strong> />

mandava no meu trabalho.<<strong>br</strong> />

Qual era o meu trabalho? Era o bem<<strong>br</strong> />

maior, era fazer <strong>com</strong> que, os EXUS que<<strong>br</strong> />

chegavam se tornassem funcionários cada vez<<strong>br</strong> />

mais rápidos.<<strong>br</strong> />

Portanto, eu criei um método <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

trabalho, aon<strong>de</strong> qualquer funcionário meu,<<strong>br</strong> />

pegava os EXUS recém-chegados, e ao invés <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

maltratar o tempo todo, ensinava <strong>com</strong>o tinha<<strong>br</strong> />

que ser para sair dos grilhões mais rápidos. E<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> isso eu cresci.<<strong>br</strong> />

Ganhavam cada vez mais funcionários,<<strong>br</strong> />

aumentava o meu mando e ganhava meus<<strong>br</strong> />

pontos.<<strong>br</strong> />

Quando, eu já era um EXU rico, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

funcionários e proprieda<strong>de</strong>s, o meu amigo,<<strong>br</strong> />

pediu <strong>uma</strong> convocação para <strong>uma</strong> conversa, e<<strong>br</strong> />

78


eu pedi que ele escolhesse qual castelo ele<<strong>br</strong> />

queria a conversa.<<strong>br</strong> />

E foi quando ele me trouxe a revelação,<<strong>br</strong> />

e foi quando ele disse que seria a última boa<<strong>br</strong> />

notícia, que ele havia prometido.<<strong>br</strong> />

79


Capítulo Quatro - O BEM<<strong>br</strong> />

80


Nesta conversa, ele me contou que<<strong>br</strong> />

chegara a hora, <strong>de</strong> ser me passada a<<strong>br</strong> />

concessão.<<strong>br</strong> />

Foi quando eu recebi a gran<strong>de</strong> honra <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong>r me encontrar <strong>com</strong> a luz.<<strong>br</strong> />

Quando ele me contou, que eu tinha a<<strong>br</strong> />

concessão para encontrar a luz, neste<<strong>br</strong> />

momento eu me senti <strong>uma</strong> criança ignorante.<<strong>br</strong> />

Porque por todo o tempo que eu tinha<<strong>br</strong> />

passado no inferno, eu sequer tinha ouvido<<strong>br</strong> />

falar da luz.<<strong>br</strong> />

81


Nunca ia po<strong>de</strong>r imaginar que existia<<strong>br</strong> />

alg<strong>uma</strong> condição <strong>de</strong> tal encontro.<<strong>br</strong> />

Para mim a luz havia se ido e a escuridão<<strong>br</strong> />

mandava em tudo e todos.<<strong>br</strong> />

Foi quando ele me explicou que existem,<<strong>br</strong> />

alguns pontos no inferno, que nós temos a<<strong>br</strong> />

permissão <strong>de</strong> se encontrar <strong>com</strong> a luz, quando<<strong>br</strong> />

nos é solicitado.<<strong>br</strong> />

E, que esta concessão, era dada pelo<<strong>br</strong> />

criador.<<strong>br</strong> />

Neste momento eu só ouvia, não<<strong>br</strong> />

conseguia falar nada.<<strong>br</strong> />

Porque eu jamais pu<strong>de</strong> pensar que um<<strong>br</strong> />

cão ruim <strong>com</strong>o eu, encarnado e <strong>de</strong>sencarnado,<<strong>br</strong> />

no <strong>com</strong>eço da minha escalada, eu maltratei<<strong>br</strong> />

muito EXU, porque era o que eu havia<<strong>br</strong> />

aprendido, e eu só quis fazer <strong>com</strong> eles o que<<strong>br</strong> />

fizeram <strong>com</strong>igo.<<strong>br</strong> />

Ai eu recebo <strong>uma</strong> informação que eu fui<<strong>br</strong> />

agraciado <strong>com</strong> a permissão <strong>de</strong> me encontrar<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> a luz, que eu nem me lem<strong>br</strong>ava mais que<<strong>br</strong> />

82


o bem existia, fazia tanto tempo que eu estava<<strong>br</strong> />

lá que eu não sabia que existia.<<strong>br</strong> />

Então meu amigo me explicou que eu iria<<strong>br</strong> />

trabalhar, junto <strong>com</strong> a luz em diversas<<strong>br</strong> />

situações, quando a luz me chamasse, po<strong>de</strong>ria<<strong>br</strong> />

ser, pra <strong>uma</strong> troca, um resgate <strong>de</strong> alma do<<strong>br</strong> />

inferno, e que se eu aceitasse a proposta da<<strong>br</strong> />

luz, eu <strong>com</strong>eçaria a ganhar meus pontos <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />

criador.<<strong>br</strong> />

Foi neste momento que eu emiti a<<strong>br</strong> />

primeira palavra, e foi nesta hora que eu me<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>ei <strong>de</strong> tudo o que aconteceu <strong>com</strong>igo,<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eu nasci.<<strong>br</strong> />

83


Ai foi que eu perguntei a ele... Quer dizer<<strong>br</strong> />

que se eu juntar os pontos necessários, eu vou<<strong>br</strong> />

ser perdoado?<<strong>br</strong> />

Com tanto tempo passado, eu já nem<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>ava <strong>de</strong> porque estava lá, eu só lem<strong>br</strong>ava<<strong>br</strong> />

que eu era o EXU po<strong>de</strong>roso, o general <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

guerra.<<strong>br</strong> />

Foi quando meu amigo me disse que este<<strong>br</strong> />

pensamento, era o pensamento que todo EXU<<strong>br</strong> />

tinha quando recebia esta concessão.<<strong>br</strong> />

Mas que junto <strong>com</strong> a concessão vinha<<strong>br</strong> />

outra concessão, e que esta era o gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>safio <strong>de</strong> todo exu.<<strong>br</strong> />

Revelando, eu po<strong>de</strong>ria tomar o corpo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

um médium, e que a partir do momento em<<strong>br</strong> />

que eu tomasse o corpo <strong>de</strong> um médium eu não<<strong>br</strong> />

iria querer largar mais.<<strong>br</strong> />

Meu sábio amigo.<<strong>br</strong> />

Foi permitido a 27 exús <strong>Pimenta</strong>, a<<strong>br</strong> />

tomarem médiuns, mas eu sou o original.<<strong>br</strong> />

Porque os outros 26 <strong>Pimenta</strong>s da falange<<strong>br</strong> />

84


são exus ligados diretamente a Oxóssi. E<<strong>br</strong> />

em todos os médiuns que eu baixei<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> minha concessão, tinham <strong>com</strong>o pai<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> cabeça, Oxóssi. Todos. E foi pra mais<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> 100 médiuns.<<strong>br</strong> />

E nestes anos todos em que tomei os<<strong>br</strong> />

médiuns, muitas vezes foi escondido, porque<<strong>br</strong> />

não era permitido pro médium.<<strong>br</strong> />

Ou eu baixava <strong>com</strong> o médium dormindo,<<strong>br</strong> />

ou no meio <strong>de</strong> <strong>uma</strong> seção qualquer pra <strong>de</strong>pois<<strong>br</strong> />

ser ex<strong>com</strong>ungado, porque eu não tinha o po<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />

85


que eu tenho hoje, muitas vezes aconteceu o<<strong>br</strong> />

exorcismo no corpo que eu peguei.<<strong>br</strong> />

Do século passado pra cá, este é o<<strong>br</strong> />

terceiro e último corpo que eu tomo (talvez,<<strong>br</strong> />

kkkkkkkkkkkkk).<<strong>br</strong> />

Os outros 26 exus <strong>Pimenta</strong> que<<strong>br</strong> />

trabalham na terra, sempre tomam médiuns<<strong>br</strong> />

filhos <strong>de</strong> Oxóssi.<<strong>br</strong> />

A diferença é que meu filho é filho <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Zazi (Xangô).<<strong>br</strong> />

86


Com o caminho em Oxóssi.<<strong>br</strong> />

Eu me encantei pela pureza <strong>de</strong>le, e pela<<strong>br</strong> />

fé <strong>de</strong> um abiã. (novato)<<strong>br</strong> />

E, pra provar a todos que este médium<<strong>br</strong> />

esta rezado pra ser pai <strong>de</strong> santo, mas que não<<strong>br</strong> />

vai ser, e é por isso que ele foi escolhido, pela<<strong>br</strong> />

pureza, e pela <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> em primeiro<<strong>br</strong> />

lugar, cuidar da família <strong>de</strong>le, que foi o que eu<<strong>br</strong> />

mais preservei, quando eu era encarnado.<<strong>br</strong> />

Agora vocês, que me ouvem, vão<<strong>br</strong> />

enten<strong>de</strong>r, porque eu nunca quis nenhum<<strong>br</strong> />

escravo.<<strong>br</strong> />

87


Eu sou o primeiro e último exu <strong>Pimenta</strong>,<<strong>br</strong> />

o resto é minha concessão.<<strong>br</strong> />

E que todos os outros, trabalham sob a<<strong>br</strong> />

minha supervisão, mas nenhum trabalha <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

eu, porque os exus <strong>Pimenta</strong> que eu permito<<strong>br</strong> />

trabalhar, principalmente na umbanda, ou<<strong>br</strong> />

quase na sua totalida<strong>de</strong>, usam um fio <strong>de</strong> conta<<strong>br</strong> />

ver<strong>de</strong>, misturado <strong>com</strong> preto, e alg<strong>uma</strong>s<<strong>br</strong> />

ferramentas <strong>de</strong> trabalho, mais <strong>uma</strong> capa,<<strong>br</strong> />

parecida <strong>com</strong> <strong>uma</strong> capa <strong>de</strong> um mago <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

capuz, mais alguns utilizam <strong>uma</strong> panela <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ferro, on<strong>de</strong> se coloca <strong>br</strong>asa, e mais o que cada<<strong>br</strong> />

exu agrega pra fazer sua macumba, sempre<<strong>br</strong> />

sob minha supervisão.<<strong>br</strong> />

Eu ro<strong>de</strong>i o mundo <strong>de</strong> vocês, para<<strong>br</strong> />

escolher os médiuns, eu sai do da terra que<<strong>br</strong> />

vocês chama <strong>de</strong> oriente, on<strong>de</strong> todos que eram<<strong>br</strong> />

médiuns, eram tratados <strong>com</strong>o <strong>br</strong>uxos, e eram<<strong>br</strong> />

queimados na fogueira, e em conversas, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

outros exus disseram para procurar médiuns<<strong>br</strong> />

em outras terras, eu fui pra Europa,<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>eçando pela Inglaterra, Italia, e França,<<strong>br</strong> />

on<strong>de</strong> fiquei mais tempo, e este foi o pior, os<<strong>br</strong> />

médiuns eram queimados mais rapidamente.<<strong>br</strong> />

88


Médiuns mulheres eram mais fáceis <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ser encontrados, nos cabarés, <strong>com</strong> mulheres<<strong>br</strong> />

que bebiam e f<strong>uma</strong>vam, baixava, e <strong>com</strong>eçava,<<strong>br</strong> />

a falar, balbuciar, e logo os homens pegavam e<<strong>br</strong> />

amarravam e jogavam na fogueira.<<strong>br</strong> />

Eu conversava <strong>com</strong> meus <strong>com</strong>panheiros<<strong>br</strong> />

no inferno, e <strong>com</strong>partilhava as experiências, e<<strong>br</strong> />

meu amigo me falou que foi criada <strong>uma</strong> religião<<strong>br</strong> />

na terra, on<strong>de</strong> somos cultuados, e alimentados,<<strong>br</strong> />

este é um povo sofrido, mas forte <strong>de</strong> corpo e<<strong>br</strong> />

alma, ai eu fui conhecer este povo, na África.<<strong>br</strong> />

Ali eu <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>i que este povo criou <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

religião que vocês chamam <strong>de</strong> candomblé, e<<strong>br</strong> />

tinha <strong>uma</strong> outra religião que eu baixei em 3<<strong>br</strong> />

médiuns e não gostei, que fugia da minha<<strong>br</strong> />

educação, da minha doutrina, e era a magia<<strong>br</strong> />

negra, e que os médiuns daquela época, o<<strong>br</strong> />

equivalente <strong>de</strong> hoje <strong>de</strong> pai <strong>de</strong> santo, que<<strong>br</strong> />

faziam malda<strong>de</strong>, e os sacrifícios, inclusive<<strong>br</strong> />

sacrifícios h<strong>uma</strong>nos, e quando eu entendi o que<<strong>br</strong> />

se tratava, eu me retirei e segui o meu plano,<<strong>br</strong> />

que era o candomblé.<<strong>br</strong> />

89


O candomblé criou <strong>uma</strong> linguagem<<strong>br</strong> />

própria, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> três nações nasceram, neste<<strong>br</strong> />

tempo, eu só baixava, em médiuns muito<<strong>br</strong> />

po<strong>br</strong>es, mas era quem tinha fé.<<strong>br</strong> />

Isso chegou ao século passado. Nesta<<strong>br</strong> />

terra que vocês habitam, e foi criada a<<strong>br</strong> />

macumba, chamada umbanda.<<strong>br</strong> />

Logo no <strong>com</strong>eço, do século, e o povo era<<strong>br</strong> />

negro, igual na África.<<strong>br</strong> />

Neste tempo eu tomava um médium, do<<strong>br</strong> />

Oxóssi, na terra que vocês conhecem <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

Bahia.<<strong>br</strong> />

Embora, a umbanda, tenha nascido num<<strong>br</strong> />

lugar chamado Rio <strong>de</strong> Janeiro.<<strong>br</strong> />

Este médium faleceu na primeira guerra<<strong>br</strong> />

mundial.<<strong>br</strong> />

Quando ele estava prestes a morrer, os<<strong>br</strong> />

meus <strong>com</strong>panheiros no inferno me avisaram, e<<strong>br</strong> />

eu recebi a nomeação <strong>de</strong> outro médium, no Rio<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Janeiro. Eu tomei este médium por 40 anos,<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>pois, eu fiquei alguns anos no inferno,<<strong>br</strong> />

90


aguardando, a nomeação do próximo, que é o<<strong>br</strong> />

médium que eu tomo até hoje.<<strong>br</strong> />

Quando eu soube da data <strong>de</strong> nascimento<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>le, me foi imposto, 16 anos, pra que eu<<strong>br</strong> />

pu<strong>de</strong>sse <strong>com</strong>eçar a me manifestar, embora, a<<strong>br</strong> />

luz <strong>com</strong>eçasse a dar indícios, <strong>de</strong> que este<<strong>br</strong> />

homem, era médium nos primeiros dois anos<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> vida, a partir disto eu nomeei, dois<<strong>br</strong> />

funcionários pra cuidar <strong>de</strong>le, até o dia em que<<strong>br</strong> />

eu fosse incorporar ele.<<strong>br</strong> />

Quando eu tive a permissão pra baixar<<strong>br</strong> />

neste médium ele não estava preparado, e<<strong>br</strong> />

levou quase 20 anos pra ele estar preparado,<<strong>br</strong> />

mas eu tive que <strong>com</strong>eçar a mostrar minha<<strong>br</strong> />

presença, na forma <strong>de</strong> proteção que o ser<<strong>br</strong> />

h<strong>uma</strong>no precisa.<<strong>br</strong> />

91


Evitando aci<strong>de</strong>ntes, evitando doenças,<<strong>br</strong> />

ajudando a família, quando chegaram os 20<<strong>br</strong> />

anos que me foram dados, o médium se casou<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> <strong>uma</strong> fêmea, que já era da macumba, e<<strong>br</strong> />

que levou este médium à primeira mãe <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

santo da vida <strong>de</strong>le, embora, ele <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 18<<strong>br</strong> />

anos na terra, ele já me sentia, e ao exu do<<strong>br</strong> />

santo Sr. Tranca Ruas das Almas, Guardião.<<strong>br</strong> />

92


O médium sabia, sem contar pra<<strong>br</strong> />

ninguém, que alg<strong>uma</strong> coisa estranha acontecia<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> ele.<<strong>br</strong> />

Foi quando, já casado <strong>com</strong> esta fêmea,<<strong>br</strong> />

ele sentia a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda espiritual,<<strong>br</strong> />

porque sem saber, ele sentia que um egum lhe<<strong>br</strong> />

a<strong>com</strong>panhava, que era <strong>uma</strong> jovem sua parente,<<strong>br</strong> />

que havia morrido há três anos.<<strong>br</strong> />

93


Foi quando ele foi introduzido na<<strong>br</strong> />

umbanda, e seu primeiro ebó eku, fora tirado.<<strong>br</strong> />

Quatro anos <strong>de</strong>pois, o médium passou a<<strong>br</strong> />

frequentar um terreiro <strong>de</strong> <strong>uma</strong> mãe <strong>de</strong> santo, e<<strong>br</strong> />

lhe fora dito que <strong>de</strong>veria fazer um buri para<<strong>br</strong> />

Oxóssi, que Oxóssi estava co<strong>br</strong>ando, mais<<strong>br</strong> />

precisamente o cabloco Sultão das Matas,<<strong>br</strong> />

co<strong>br</strong>ava este buri.<<strong>br</strong> />

94


Isso aconteceu porque o médium sempre<<strong>br</strong> />

teve <strong>uma</strong> ligação muito forte <strong>com</strong> a mata,<<strong>br</strong> />

mesmo sendo das pedras, que é Zazi.<<strong>br</strong> />

E sempre sentindo a presença da lua em<<strong>br</strong> />

vossa vida, e da tempesta<strong>de</strong> ou o raio que é<<strong>br</strong> />

Zazi.<<strong>br</strong> />

Quando, eu tomei o primeiro médium, e<<strong>br</strong> />

isso já tem muitos e muitos anos, eu senti<<strong>br</strong> />

novamente, todos os prazeres carnais, a<<strong>br</strong> />

bebida, o fumo, o toque no ser h<strong>uma</strong>no, o<<strong>br</strong> />

cheiro.<<strong>br</strong> />

No inicio era muito difícil, fazer <strong>com</strong> que<<strong>br</strong> />

o médium bebesse.<<strong>br</strong> />

Na primeira vez, que eu tomei um<<strong>br</strong> />

médium e que eu senti tudo isso, que eu não<<strong>br</strong> />

senti há muito tempo, pisar no solo, sentir o<<strong>br</strong> />

solo, tocar o ser h<strong>uma</strong>no, eu pensei... Pra luz<<strong>br</strong> />

eu não vou nunca mais, sabe por quê? Porque<<strong>br</strong> />

na luz as regras são outras, na luz eu teria<<strong>br</strong> />

quase que nada <strong>de</strong> contato <strong>com</strong> as coisas que<<strong>br</strong> />

eu gosto.<<strong>br</strong> />

95


Agora, se eu continuasse sendo EXU, no<<strong>br</strong> />

grau que eu já tinha atingido, veja só, eu<<strong>br</strong> />

estava trabalhando <strong>com</strong> a luz, ganhando meus<<strong>br</strong> />

pontos, e tomando quem eu quisesse, bebendo<<strong>br</strong> />

e f<strong>uma</strong>ndo.<<strong>br</strong> />

E o próximo passo, <strong>de</strong>pois da Luz, seria a<<strong>br</strong> />

reencarnação.<<strong>br</strong> />

Muito bem, passado esta experiência<<strong>br</strong> />

formidável, tinha a parte das responsabilida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

também que eu fui apren<strong>de</strong>ndo rapidamente.<<strong>br</strong> />

96


O trabalho <strong>com</strong> a luz é um trabalho<<strong>br</strong> />

infindável, a cada segundo <strong>de</strong> vocês da terra, a<<strong>br</strong> />

luz, esta entrando em contato <strong>com</strong> todos meus<<strong>br</strong> />

funcionários, pra pedir que minha parte seja<<strong>br</strong> />

cumprida.<<strong>br</strong> />

O que significa, parte cumprida é:<<strong>br</strong> />

Dar o socorro aos h<strong>uma</strong>nos quando<<strong>br</strong> />

precisam.<<strong>br</strong> />

Usando um médium, ou o corpo <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />

médium para tal socorro.<<strong>br</strong> />

É mandar os funcionários dar o pronto<<strong>br</strong> />

atendimento nos seres h<strong>uma</strong>nos que<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sencarnam nos aci<strong>de</strong>ntes fatais.<<strong>br</strong> />

É resgatar <strong>uma</strong> alma perdida, no que<<strong>br</strong> />

você chama <strong>de</strong> vale da morte, ou dos suicidas.<<strong>br</strong> />

97


Explicando melhor... O ser h<strong>uma</strong>no se<<strong>br</strong> />

mata (este é o pior pecado para o criador. O<<strong>br</strong> />

ser h<strong>uma</strong>no se matar e também matar o<<strong>br</strong> />

próximo) e que o vale do suicida se apresenta<<strong>br</strong> />

do jeito que cada um merecer, dando um<<strong>br</strong> />

exemplo, o meu foi <strong>de</strong>ntro do caixão.<<strong>br</strong> />

Cada um tem o seu lugar reservado.<<strong>br</strong> />

Quando vocês pensam no vale do<<strong>br</strong> />

suicida, vocês imaginam um lugar frio, sem<<strong>br</strong> />

alimento, sem bebida, e que fica todo mundo<<strong>br</strong> />

andando, e <strong>br</strong>igando um <strong>com</strong> o outro.<<strong>br</strong> />

98


Isso que eu falei existe claro.<<strong>br</strong> />

E que este lugar é um lugar que só os<<strong>br</strong> />

EXUS da minha confiança e mais eu, pisamos<<strong>br</strong> />

pra fazer a troca quando a luz pe<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

E pra <strong>de</strong>ixar muito bem explicado...<<strong>br</strong> />

Nenhum EXU gosta <strong>de</strong> pisar neste lugar,<<strong>br</strong> />

este lugar tem os olhos do criador em<<strong>br</strong> />

cima o tempo todo, é um lugar maldito<<strong>br</strong> />

até pra EXU.<<strong>br</strong> />

Ás vezes a luz pe<strong>de</strong> o resgate <strong>de</strong> <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

alma, e quando eu e meus funcionários<<strong>br</strong> />

estamos <strong>de</strong>scendo para o resgate, o criador dá<<strong>br</strong> />

<strong>uma</strong> or<strong>de</strong>m e um clarão vem e leva tudo o que<<strong>br</strong> />

tiver lá, até eu... Por isso nenhum EXU gosta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

pisar lá porque é o lugar <strong>de</strong> maior risco ate<<strong>br</strong> />

mesmo para mim.<<strong>br</strong> />

A troca, <strong>de</strong>ssas almas con<strong>de</strong>nadas, é<<strong>br</strong> />

quando eu ganho a maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

pontos.<<strong>br</strong> />

Os outros trabalhos para luz, que não<<strong>br</strong> />

seja resgate <strong>de</strong> alma no vale do suicida, são<<strong>br</strong> />

resgates <strong>de</strong> riscos, mas o mais importante é a<<strong>br</strong> />

99


negociação, porque as outras almas pedidas<<strong>br</strong> />

pela luz, geralmente estão na falange <strong>de</strong> outros<<strong>br</strong> />

EXUS.<<strong>br</strong> />

Neste momento, ou vão os meus<<strong>br</strong> />

funcionários, ou eu <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do EXU que é<<strong>br</strong> />

ou da alma em questão, para que aconteça a<<strong>br</strong> />

negociação.<<strong>br</strong> />

Então eu me sento <strong>com</strong> o EXU dono da<<strong>br</strong> />

alma, e pergunto o que ele quer para troca.<<strong>br</strong> />

Sempre a troca, é funcionário meu, às<<strong>br</strong> />

vezes um castelo inteiro.<<strong>br</strong> />

Com isso, <strong>com</strong> todo o trabalho que eu<<strong>br</strong> />

realizo pra luz, e já tenho pontos suficientes<<strong>br</strong> />

pra ir pra luz, há mais <strong>de</strong> 50 anos.<<strong>br</strong> />

100


Capítulo Cinco – Trabalho<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> Médiuns<<strong>br</strong> />

101


Com todo o conhecimento acumulado,<<strong>br</strong> />

hoje no tempo atual, este é o ultimo médium<<strong>br</strong> />

que eu tomo. Talvez... kkkkkkkkkkkkkkk<<strong>br</strong> />

O meu trabalho hoje, é voltado à limpeza<<strong>br</strong> />

do ser h<strong>uma</strong>no e sua cabana, abertura dos<<strong>br</strong> />

caminhos, alguns tipos <strong>de</strong> curas realizadas no<<strong>br</strong> />

próprio ser h<strong>uma</strong>no ou em outro que ele tenha<<strong>br</strong> />

bem querer.<<strong>br</strong> />

A cura só não vai acontecer por dois<<strong>br</strong> />

motivos,<<strong>br</strong> />

1- Se o ser h<strong>uma</strong>no que estiver sendo<<strong>br</strong> />

curado não tiver Fé.<<strong>br</strong> />

102


2- Se o criador não permitir.<<strong>br</strong> />

O EXU que contou a vossa historia, é um<<strong>br</strong> />

EXU que vem da linha <strong>de</strong> Oxóssi, e que é<<strong>br</strong> />

conhecido <strong>com</strong> EXU <strong>Pimenta</strong>.<<strong>br</strong> />

As características <strong>de</strong>ste EXU, que se não<<strong>br</strong> />

estiver no seu ambiente <strong>de</strong> trabalho, pra ele<<strong>br</strong> />

fazer seu trabalho, um metro quadrado basta,<<strong>br</strong> />

mas é um EXU que gosta mais <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r que<<strong>br</strong> />

ensinar, é um EXU, que f<strong>uma</strong> charuto e bebe<<strong>br</strong> />

pinga o tempo todo que estiver em terra.<<strong>br</strong> />

Conheço tudo que existe no mundo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

vocês, estou sempre apren<strong>de</strong>ndo <strong>com</strong> vocês e<<strong>br</strong> />

ensinando.<<strong>br</strong> />

É um EXU que vocês nunca irão ver<<strong>br</strong> />

sentado, que nunca para <strong>de</strong> caminhar, e<<strong>br</strong> />

enquanto ele caminha ele resolve o problema<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> todos, é um EXU, que erra porque ainda<<strong>br</strong> />

esta apren<strong>de</strong>ndo.<<strong>br</strong> />

Este EXU adquiriu <strong>com</strong> este médium seu<<strong>br</strong> />

maior grau <strong>de</strong> rumbê (educação).<<strong>br</strong> />

103


Ainda tem choques, no sentido cultural, pois<<strong>br</strong> />

hoje em dia é tudo muito diferente da época<<strong>br</strong> />

em que era encarnado, e para isso conta <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />

ajuda <strong>de</strong> seus funcionários, que lhe contam<<strong>br</strong> />

tudo so<strong>br</strong>e o mundo atual. E mais a corrente<<strong>br</strong> />

natural, on<strong>de</strong> o que um exu apren<strong>de</strong> o outro<<strong>br</strong> />

naturalmente também sabe.<<strong>br</strong> />

Trabalha vestido <strong>com</strong> sua capa, é um EXU<<strong>br</strong> />

que não usa chapéu, sua capa possui um<<strong>br</strong> />

capuz, igual ao capuz <strong>de</strong> mago, que o utiliza<<strong>br</strong> />

quando realiza as suas curas e trabalhos, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

<strong>uma</strong> vela e seu capuz vestido.<<strong>br</strong> />

104


Uso chapéu apenas nos festejos <strong>de</strong> EXU.<<strong>br</strong> />

Trata-se <strong>de</strong> um EXU alquimista. F<strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

charuto qualquer e pinga qualquer, e que<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ntro da sua alquimia, a sua pinga tem o<<strong>br</strong> />

gosto do que precisar ter, da melhor bebida, do<<strong>br</strong> />

melhor remédio, ou do pior veneno, este sou<<strong>br</strong> />

eu pra quem quiser conhecer, sou simples.<<strong>br</strong> />

Eu vou <strong>de</strong>ixar a minha melhor chave:<<strong>br</strong> />

EU SOU O CÃO QUE FAZ O CERTO DAR<<strong>br</strong> />

ERRADO E O ERRADO DAR CERTO.<<strong>br</strong> />

Pra quem acreditar em mim.<<strong>br</strong> />

Eu sou Marabô, dono <strong>de</strong> todos os grãos<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> areia do seu mundo.<<strong>br</strong> />

Conhecido <strong>com</strong>o EXU <strong>Pimenta</strong>.<<strong>br</strong> />

105


Capítulo Seis – Enten<strong>de</strong>ndo<<strong>br</strong> />

o que é EXU<<strong>br</strong> />

106


Exu é o orixá da <strong>com</strong>unicação. É o<<strong>br</strong> />

guardião das al<strong>de</strong>ias, cida<strong>de</strong>s, casas e do axé,<<strong>br</strong> />

das coisas que são feitas e do <strong>com</strong>portamento<<strong>br</strong> />

h<strong>uma</strong>no. A palavra Èsù em yorubá significa<<strong>br</strong> />

“esfera” e, na verda<strong>de</strong>, Exu é o orixá do<<strong>br</strong> />

movimento.<<strong>br</strong> />

Ele é quem <strong>de</strong>ve receber as oferendas<<strong>br</strong> />

em primeiro lugar a fim <strong>de</strong> assegurar que tudo<<strong>br</strong> />

corra bem e <strong>de</strong> garantir que sua função <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

mensageiro entre o Orun e o Aiye, o mundo<<strong>br</strong> />

material e o mundo espiritual, seja plenamente<<strong>br</strong> />

realizada.<<strong>br</strong> />

Na África na época das colonizações, o<<strong>br</strong> />

Exu foi sincretizado erroneamente <strong>com</strong> o diabo<<strong>br</strong> />

cristão pelos colonizadores, <strong>de</strong>vido ao seu estilo<<strong>br</strong> />

irreverente, <strong>br</strong>incalhão e a forma <strong>com</strong>o é<<strong>br</strong> />

representado no culto africano, um falo<<strong>br</strong> />

h<strong>uma</strong>no ereto, simbolizando a fertilida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Por ser provocador, in<strong>de</strong>cente, astucioso<<strong>br</strong> />

e sensual, é <strong>com</strong>umente confundido <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />

figura <strong>de</strong> Satanás, o que é um absurdo na<<strong>br</strong> />

construção teológica yorubá (língua falada),<<strong>br</strong> />

posto que não esteja em oposição à Deus,<<strong>br</strong> />

muito menos é consi<strong>de</strong>rada <strong>uma</strong> personificação<<strong>br</strong> />

do mal. Mesmo porque nesta religião não<<strong>br</strong> />

existem diabos ou entida<strong>de</strong>s encarregadas<<strong>br</strong> />

107


única e exclusivamente <strong>de</strong> coisas ruins <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

fazem as religiões cristãs. Estas pregam que<<strong>br</strong> />

tudo o que acontece <strong>de</strong> errado é culpa <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />

único ser que foi expulso; pelo contrário, na<<strong>br</strong> />

mitologia yoruba, bem <strong>com</strong>o no candomblé,<<strong>br</strong> />

cada <strong>uma</strong> das entida<strong>de</strong>s (Orixás) tem sua<<strong>br</strong> />

porção positiva e negativa assim <strong>com</strong>o o<<strong>br</strong> />

próprio ser h<strong>uma</strong>no.<<strong>br</strong> />

De caráter irascível, ele se satisfaz em<<strong>br</strong> />

provocar disputas e calamida<strong>de</strong>s àquelas<<strong>br</strong> />

pessoas que estão em falta <strong>com</strong> ele.<<strong>br</strong> />

No entanto, <strong>com</strong>o tudo no universo<<strong>br</strong> />

possui <strong>de</strong> um modo geral dois lados, positivo e<<strong>br</strong> />

negativo, Exu também funciona <strong>de</strong> forma<<strong>br</strong> />

positiva quando é bem tratado. Daí ser Exu<<strong>br</strong> />

consi<strong>de</strong>rado o mais h<strong>uma</strong>no dos orixás, pois o<<strong>br</strong> />

seu caráter lem<strong>br</strong>a o do ser h<strong>uma</strong>no que é <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

um modo geral muito mutante em suas ações e<<strong>br</strong> />

atitu<strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />

Conta-se na Nigéria que Exu teria sido<<strong>br</strong> />

um dos <strong>com</strong>panheiros <strong>de</strong> Oduduà (divinda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

primordial) quando da sua chegada a Ifé(antiga<<strong>br</strong> />

cida<strong>de</strong> Yoruba no sudoeste da Nigéria.<<strong>br</strong> />

Evidências da povoação da cida<strong>de</strong> foram<<strong>br</strong> />

encontradas e remonta a 500 aC) e chamavase<<strong>br</strong> />

Èsù Obasin. Mais tar<strong>de</strong>, tornou-se um dos<<strong>br</strong> />

108


assistentes <strong>de</strong> Orunmilá e ainda Rei <strong>de</strong> Ketu,<<strong>br</strong> />

sob o nome <strong>de</strong> Èsù Alákétú.<<strong>br</strong> />

A palavra elegbara significa “aquele que<<strong>br</strong> />

é possuidor do po<strong>de</strong>r (agbará)” e está ligado à<<strong>br</strong> />

figura <strong>de</strong> Exu.<<strong>br</strong> />

Um dos cargos <strong>de</strong> Exu na Nigéria, mais<<strong>br</strong> />

precisamente em Oyó, é <strong>de</strong>nominado Èsù<<strong>br</strong> />

Àkeró ou Àkesán, que significa "chefe <strong>de</strong> <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

missão", pois este cargo tem <strong>com</strong>o objetivo<<strong>br</strong> />

supervisionar as ativida<strong>de</strong>s do mercado do rei.<<strong>br</strong> />

Exu praticamente não possui ewós ou<<strong>br</strong> />

quizilas. Aceita quase tudo que lhe oferecem.<<strong>br</strong> />

Os yorubás cultuam Exu em um pedaço<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> pedra porosa chamada Yangi, ou fazem um<<strong>br</strong> />

montículo grotescamente mo<strong>de</strong>lado na forma<<strong>br</strong> />

h<strong>uma</strong>na <strong>com</strong> olhos, nariz e boca feita <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

búzios. Ou ainda representam Exu em <strong>uma</strong><<strong>br</strong> />

estatueta enfeitada <strong>com</strong> fileiras <strong>de</strong> búzios tendo<<strong>br</strong> />

em suas mãos pequeninas cabaças on<strong>de</strong> ele,<<strong>br</strong> />

Exu, carrega diversos pós <strong>de</strong> elementais da<<strong>br</strong> />

terra usados <strong>de</strong> forma bem precisa em seus<<strong>br</strong> />

trabalhos.<<strong>br</strong> />

Exu tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser o mais sutil<<strong>br</strong> />

e astuto <strong>de</strong> todos os orixás. E quando as<<strong>br</strong> />

109


pessoas estão em falta <strong>com</strong> ele, simplesmente<<strong>br</strong> />

provoca mal entendido e discussões entre elas<<strong>br</strong> />

e prepara-lhes inúmeras armadilhas. Diz um<<strong>br</strong> />

orìkì que: “Exu é capaz <strong>de</strong> carregar o óleo que<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>prou no mercado n<strong>uma</strong> simples peneira<<strong>br</strong> />

sem que este óleo se <strong>de</strong>rrame”.<<strong>br</strong> />

E assim é Exu, o orixá que faz o erro<<strong>br</strong> />

virar acerto e o acerto virar erro.<<strong>br</strong> />

Èsù Alákétú possui essa <strong>de</strong>nominação<<strong>br</strong> />

quando Exu, por meio <strong>de</strong> <strong>uma</strong> artimanha,<<strong>br</strong> />

conseguiu ser o rei da região, tornando-se um<<strong>br</strong> />

dos reis <strong>de</strong> Ketu. Sendo que as <strong>com</strong>unida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ssa nação no Brasil o reverenciam também<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> este nome.<<strong>br</strong> />

Todos os assentamentos <strong>de</strong> Exu<<strong>br</strong> />

possuem elementos ligados às suas ativida<strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />

Ativida<strong>de</strong>s múltiplas que o fazem estar em<<strong>br</strong> />

todos os lugares: a terra, pó, a poeira vinda<<strong>br</strong> />

dos lugares on<strong>de</strong> ele atuará. Ali estão<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>positados <strong>com</strong>o elemento <strong>de</strong> força diante dos<<strong>br</strong> />

pedidos.<<strong>br</strong> />

110


Brasil<<strong>br</strong> />

No Brasil, no candomblé, Exu é um dos<<strong>br</strong> />

mais importantes Orixás e sempre são os<<strong>br</strong> />

primeiros a receberem as oferendas, as<<strong>br</strong> />

cantigas, as rezas, é saudado antes <strong>de</strong> todos os<<strong>br</strong> />

Orixás, antes <strong>de</strong> qualquer cerimônia ou evento.<<strong>br</strong> />

O Exu Orixá não incorpora em ninguém para<<strong>br</strong> />

dar consultas <strong>com</strong>o fazem os Exus <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Umbanda, eles são assentados na entrada das<<strong>br</strong> />

casas <strong>de</strong> candomblé <strong>com</strong>o guardiões, e em<<strong>br</strong> />

toda casa <strong>de</strong> candomblé tem um quarto para<<strong>br</strong> />

Exu, sempre separado dos outros Orixás, on<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ficam todos os assentamentos dos exus da casa<<strong>br</strong> />

e dos filhos <strong>de</strong> santo que tenham exu<<strong>br</strong> />

assentado.<<strong>br</strong> />

É astucioso, vaidoso, culto e dono <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong> sabedoria, gran<strong>de</strong> conhecedor da<<strong>br</strong> />

natureza h<strong>uma</strong>na e dos assuntos mundanos daí<<strong>br</strong> />

a assimilação <strong>com</strong> o diabo pelos primeiros<<strong>br</strong> />

missionários que, assustados, <strong>de</strong>le fizeram o<<strong>br</strong> />

símbolo da malda<strong>de</strong> e do ódio. Porém "… nem<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>pletamente mau, nem <strong>com</strong>pletamente bom<<strong>br</strong> />

… ", na visão <strong>de</strong> Pierre Verger no texto <strong>de</strong> sua<<strong>br</strong> />

autoria "Iniciação" - contido no documentário<<strong>br</strong> />

"Iconografia dos Deuses Africanos no<<strong>br</strong> />

Candomblé da Bahia", Exu reage<<strong>br</strong> />

111


favoravelmente quando tratado<<strong>br</strong> />

convenientemente, i<strong>de</strong>ntificado no jogo do<<strong>br</strong> />

merindilogun pelo odu okaran.<<strong>br</strong> />

Sacrifício para Exu.<<strong>br</strong> />

Exu recebe diversos nomes, <strong>de</strong> acordo<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> a função que exerce ou <strong>com</strong> suas<<strong>br</strong> />

qualida<strong>de</strong>s: Elegbá ou Elegbará, Bará ou Ibará,<<strong>br</strong> />

Alaketu, Agbô, Odara, Akessan, Lalu, Ijelu<<strong>br</strong> />

(aquele que rege o nascimento e o crescimento<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> tudo o que existe), Ibarabo, Yangi, Baraketu<<strong>br</strong> />

(guardião das porteiras), Lonan (guardião dos<<strong>br</strong> />

caminhos), Iná (reverenciado na cerimônia do<<strong>br</strong> />

padê).<<strong>br</strong> />

A segunda-feira é o dia da semana<<strong>br</strong> />

consagrado a Exu. Suas cores são o vermelho e<<strong>br</strong> />

o preto; seu símbolo é o ogó (bastão <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

cabaças que representa o falo); suas contas e<<strong>br</strong> />

cores são o preto e o vermelho; as oferendas<<strong>br</strong> />

são bo<strong>de</strong>s e galos, pretos <strong>de</strong> preferência, e<<strong>br</strong> />

aguar<strong>de</strong>nte, a<strong>com</strong>panhado <strong>de</strong> <strong>com</strong>idas feitas<<strong>br</strong> />

no azeite <strong>de</strong> <strong>de</strong>ndê. Aconselha-se nunca lhe<<strong>br</strong> />

oferecer certo tipo <strong>de</strong> azeite, o Adí, por ser<<strong>br</strong> />

extraído do caroço e não da polpa do <strong>de</strong>ndê e<<strong>br</strong> />

portar a violência e a cólera. Sua saudação é<<strong>br</strong> />

112


"Larôye!" que significa o bem falante e<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>unicador.<<strong>br</strong> />

Consiste o padê em um prato <strong>de</strong> farofa<<strong>br</strong> />

amarela, acaçá, azeite-<strong>de</strong>-<strong>de</strong>ndê e um copo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

água ou cachaça, que são “arriados” para Exu.<<strong>br</strong> />

Na nação <strong>de</strong> angola ou candomblé <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Angola Exu recebe o nome <strong>de</strong> Aluvaiá, Pambu<<strong>br</strong> />

Njila, e Legbá, no Candomblé Jeje.<<strong>br</strong> />

Não <strong>de</strong>ve ser confundido <strong>com</strong> a entida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Exu <strong>de</strong> Umbanda. Os exus <strong>de</strong> umbanda<<strong>br</strong> />

sao entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>sencarnadas<<strong>br</strong> />

que, por motivos <strong>de</strong> evoluçao espiritual,<<strong>br</strong> />

retornaram a terra para cumprir essa<<strong>br</strong> />

missão junto aos seus seguidores. Essas<<strong>br</strong> />

entida<strong>de</strong>s são confundidas <strong>com</strong> esu ou<<strong>br</strong> />

exu do Candomblé <strong>de</strong>vido à proximida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

que Exu tem <strong>com</strong> os homens. Entretanto,<<strong>br</strong> />

não são consi<strong>de</strong>rados orixás <strong>com</strong>o o Exu,<<strong>br</strong> />

e sim quiumbas - conhecedores das<<strong>br</strong> />

vonta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> homens e mulheres no<<strong>br</strong> />

plano terrestre, tendo vivido em épocas<<strong>br</strong> />

diferentes, porém <strong>com</strong> os mesmos<<strong>br</strong> />

problemas, <strong>de</strong>sejos e sonhos.<<strong>br</strong> />

113


Arquétipos<<strong>br</strong> />

Seus filhos são sensuais, dominadores e<<strong>br</strong> />

inteligentes. Gostam da vida cercada <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

barulho, muitas pessoas e romances <strong>de</strong> todo<<strong>br</strong> />

tipo. Adoram festas e não se pren<strong>de</strong>m a<<strong>br</strong> />

ninguém, são muito impulsivos. Mas se amam<<strong>br</strong> />

alguém, dão sua vida se for preciso, sem<<strong>br</strong> />

pensar em nada. Gostam <strong>de</strong> ajudar e trabalhar,<<strong>br</strong> />

mas po<strong>de</strong>m se tornar vingativos e<<strong>br</strong> />

extremamente crueis.<<strong>br</strong> />

PRECE DE EXU<<strong>br</strong> />

Nota: Capítulo Seis – Enten<strong>de</strong>ndo o que é EXU<<strong>br</strong> />

Texto extraído do Wikipedia em 03/07/2012<<strong>br</strong> />

http://pt.wikipedia.org/wiki/Exu_%28orix%C3%A1%29<<strong>br</strong> />

Sou EXU, Senhor. Pai permite que assim<<strong>br</strong> />

te chame, pois, na realida<strong>de</strong>, Tu o és, <strong>com</strong>o és<<strong>br</strong> />

meu criador. Formaste-me da poeira Ástrica,<<strong>br</strong> />

mas <strong>com</strong>o tudo que provém <strong>de</strong> Ti, sou real e<<strong>br</strong> />

eterno.<<strong>br</strong> />

114


Permite Senhor, que eu possa servir-Te<<strong>br</strong> />

nas mais humil<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sprezíveis tarefas<<strong>br</strong> />

criadas pelos teus h<strong>uma</strong>nos filhos. Os homens<<strong>br</strong> />

me tratam <strong>de</strong> anjo <strong>de</strong>caído, <strong>de</strong> povo traidor, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

rei das trevas, <strong>de</strong> gênio do mal e <strong>de</strong> tudo o<<strong>br</strong> />

mais em que encontram palavras para exprimir<<strong>br</strong> />

o seu <strong>de</strong>sprezo por mim; no entanto, nem<<strong>br</strong> />

suspeitam que nada mais sou do que o reflexo<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>les mesmos. Não reclamo não me queixo<<strong>br</strong> />

porque esta é a Tua vonta<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Sou escorraçado, sou con<strong>de</strong>nado a<<strong>br</strong> />

habitar as profun<strong>de</strong>zas escuras da terra e<<strong>br</strong> />

trafegar pelas sendas tortuosas da provação.<<strong>br</strong> />

Sou invocado pela inconsciência dos<<strong>br</strong> />

homens a prejudicar o seu semelhante. Sou<<strong>br</strong> />

usado <strong>com</strong>o instrumento para aniquilar aqueles<<strong>br</strong> />

que são odiados, movido pela covardia e<<strong>br</strong> />

malda<strong>de</strong> h<strong>uma</strong>nas sem contudo, po<strong>de</strong>r negarme<<strong>br</strong> />

ou recorrer.<<strong>br</strong> />

Pelo pensamento dos inconscientes, sou<<strong>br</strong> />

arrastado a exercer a <strong>de</strong>scrença, a confusão e<<strong>br</strong> />

a ignominia, pois esta é a condição que Tu me<<strong>br</strong> />

impuseste. Não reclamo Senhor, mas fico triste<<strong>br</strong> />

por ver os teus filhos, que criaste à Tua<<strong>br</strong> />

imagem e semelhança, serem envolvidos pelo<<strong>br</strong> />

turbilhão <strong>de</strong> iniquida<strong>de</strong>s que<<strong>br</strong> />

Eles mesmos criam, e eu, por Tua lei<<strong>br</strong> />

inflexível, <strong>de</strong>las tenho que participar.<<strong>br</strong> />

115


No entanto, Senhor, na minha infinita pequenez<<strong>br</strong> />

e miséria, <strong>com</strong>o me sinto, gran<strong>de</strong> e feliz<<strong>br</strong> />

quando encontro n'algum coração, um oásis <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

amor e sou solicitado a ajudar na prestação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>uma</strong> carida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Aceito sem queixumes, Senhor, a lei que,<<strong>br</strong> />

na Tua infinita sabedoria e justiça, me<<strong>br</strong> />

impuseste, a <strong>de</strong> executor das consciências, mas<<strong>br</strong> />

lamento e sofro mais porque os homens até<<strong>br</strong> />

hoje, não conseguiram <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>r-me.<<strong>br</strong> />

Peço-Te, Oh Pai infinito, que lhes perdoe.<<strong>br</strong> />

Peço-Te, não por mim, pois sei que<<strong>br</strong> />

tenho que <strong>com</strong>pletar o ciclo da minha<<strong>br</strong> />

provação, mas por eles, os teus h<strong>uma</strong>nos<<strong>br</strong> />

filhos.<<strong>br</strong> />

Perdoa-os, e torna-os bons, porque<<strong>br</strong> />

somente através da bonda<strong>de</strong> do seu coração,<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong>rei sentir a vi<strong>br</strong>ação do Teu amor e a<<strong>br</strong> />

graça do Teu perdão.<<strong>br</strong> />

Fleruty (Exu Tiriri)<<strong>br</strong> />

(Esta prece foi psicografada por A. J. Castro, da Cabana <strong>de</strong> Lázaro)<<strong>br</strong> />

Tipos <strong>de</strong> EXUS<<strong>br</strong> />

EXU PAGÃO: é aquele que não sabe distinguir o<<strong>br</strong> />

Bem do Mal, trabalha para quem pagar mais. Não é<<strong>br</strong> />

confiável, pois se pego, é castigado pelas falanges do<<strong>br</strong> />

Bem, então volta-se contra quem o mandou.<<strong>br</strong> />

116


EXU BATIZADO: é todo aquele que já conhece<<strong>br</strong> />

o Bem e o Mal, praticando os dois conscientemente; são<<strong>br</strong> />

os capangueiros ou empregados das entida<strong>de</strong>s, a cujo<<strong>br</strong> />

serviço evolui na prática do bem, porém conservando<<strong>br</strong> />

suas forças <strong>de</strong> co<strong>br</strong>ança.<<strong>br</strong> />

EXU COROADO: é aquele que após gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

evolução <strong>com</strong>o empregado das Entida<strong>de</strong>s do Bem,<<strong>br</strong> />

recebem por mérito, a permissão <strong>de</strong> se apresentarem<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o elementos das linhas positivas, Caboclos, Pretos<<strong>br</strong> />

Velhos, Crianças, Oguns, Xangôs e até <strong>com</strong>o Senhoras.<<strong>br</strong> />

117


118

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!