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CÂMARA DOS DEPUTADOS<br />
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO<br />
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES<br />
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL<br />
COMISSÃO DE AGRICULTURA E POLÍTICA RURAL<br />
EVENTO: Seminário N°: 0453/03 DATA: 08/05/03<br />
INÍCIO: 10h42min TÉRMINO: 14h56min DURAÇÃO: 04h14min<br />
TEMPO DE GRAVAÇÃO: 04h12min PÁGINAS: 75 QUARTOS: 51<br />
REVISÃO: Cássia Regina, Cláudia Castro, Leine, Liz, Luciene Fleury, Maria Teresa, Marlúcia,<br />
Monica, Paulo Domingos, Tatiana, Veiga<br />
SUPERVISÃO: Amanda, Ana Maria, Estela, J. Carlos, Letícia, Maria Luíza<br />
CONCATENAÇÃO: Luci<br />
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO<br />
ERNESTO PATERNIANI - Professor Titular <strong>de</strong> Genética da USP/ESALQ e membro da Aca<strong>de</strong>mia<br />
Brasileira <strong>de</strong> Ciências e da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong> São Paulo.<br />
RUBENS NADARI - Professor da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />
JOSÉ MARIA FERREIRA JARDIM DA SILVEIRA - Professor do Núcleo <strong>de</strong> Estudos Agrícolas e<br />
Conselheiro do Centro <strong>de</strong> Formação em Biotecnologia da UNICAMP.<br />
SUMÁRIO: Seminário Inovações Tecnológicas na Agricultura. Tema: Inovações<br />
Biotecnológicas, Saú<strong>de</strong> e Competitivida<strong>de</strong> no Agronegócio.<br />
Há exibição <strong>de</strong> imagens.<br />
Há falha na gravação.<br />
OBSERVAÇÕES
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />
Nome: Comissão <strong>de</strong> Agricultura e Política Rural<br />
Número: 0453/03 Data: 08/05/03<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Wal<strong>de</strong>mir Moka) – Vamos dar início à<br />
segunda etapa do Seminário Inovações Biotecnológicas na Agricultura. O tema <strong>de</strong><br />
que agora vamos tratar é: Inovações Biotecnológicas, Saú<strong>de</strong> e Competitivida<strong>de</strong> no<br />
Agronegócio.<br />
Convidamos para fazer parte da Mesa o Dr. Rubens Nodari, Professor da<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, e o Dr. Ernesto Paterniani, Professor Titular<br />
<strong>de</strong> Genética da USP/ESALQ e membro da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Ciências e da<br />
Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Foi convidado o Dr. Carlos Brito Cruz, Reitor da UNICAMP e ex-Presi<strong>de</strong>nte da<br />
Fundação <strong>de</strong> Amparo à Pesquisa do Estado <strong>de</strong> São Paulo —FAPESP, que, por<br />
motivos <strong>de</strong> força maior, será representado pelo Dr. José Maria Ferreira Jardim da<br />
Silveira, Professor do Núcleo <strong>de</strong> Estudos Agrícolas e Conselheiro do Centro <strong>de</strong><br />
Formação em Biotecnologia da UNICAMP.<br />
O nosso seminário foi dividido em 4 etapas. A primeira foi realizada em 24 <strong>de</strong><br />
abril, quando discutimos o tema Cenários Mundiais <strong>de</strong> Inovações Biotecnológicas e<br />
Impactos Resultantes do Agronegócio, Saú<strong>de</strong> e Meio Ambiente. Hoje estamos<br />
realizando a segunda etapa, tendo como tema Inovações Biotecnológicas, Saú<strong>de</strong> e<br />
Competitivida<strong>de</strong> no Agronegócio. Dia 15 próximo realizaremos a terceira etapa,<br />
tratando do tema Novos Instrumentos <strong>de</strong> Inovação e Competitivida<strong>de</strong> da Agricultura<br />
Tropical. No dia 22, encerraremos o evento com o tema Biossegurança e Legislação.<br />
Para fazer justiça aos Deputados que propuseram o requerimento, convido o<br />
Deputado Leonardo Vilela para tomar assento e conduzir este seminário.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) – Bom dia a todos.<br />
Dando continuida<strong>de</strong> a este seminário, que foi dividido em 4 partes, conforme já<br />
observou o Presi<strong>de</strong>nte da Comissão <strong>de</strong> Agricultura, iniciamos esta segunda parte. E<br />
trabalharemos da seguinte forma: cada expositor terá 30 minutos para fazer a sua<br />
exposição e, a seguir, abriremos a palavra para o <strong>de</strong>bate.<br />
Sem mais <strong>de</strong>longas, vamos começar, conce<strong>de</strong>ndo 30 minutos ao Dr. Ernesto<br />
Paterniani, o primeiro a fazer sua exposição.<br />
O SR. ERNESTO PATERNIANI – Senhoras e Senhores, sem dúvida, é uma<br />
honra estar aqui para conversar com os ilustres Deputados e <strong>de</strong>mais assistentes<br />
sobre assunto que tem monopolizado a atenção da socieda<strong>de</strong>.<br />
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Nome: Comissão <strong>de</strong> Agricultura e Política Rural<br />
Número: 0453/03 Data: 08/05/03<br />
Em primeiro lugar, nunca pensei que um avanço científico suscitasse tanta<br />
polêmica e objeção. Na minha ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pouco mais <strong>de</strong> meio século relacionada<br />
à agricultura já assisti a muitas inovações em genética <strong>de</strong> grãos e plantas, sem<br />
gran<strong>de</strong>s problemas. Costumo dizer que a ciência progri<strong>de</strong> mais em função das<br />
discordâncias do que das concordâncias, mas é evi<strong>de</strong>nte que as discordâncias<br />
<strong>de</strong>vem ter uma base técnica, científica, racional. Discordâncias baseadas em<br />
opiniões ou i<strong>de</strong>ologias não são objeto <strong>de</strong> discussão científica, porque cada um tem o<br />
direito <strong>de</strong> ter a sua opinião.<br />
Hoje sou apenas um professor universitário aposentado. Vivo dos meus<br />
proventos <strong>de</strong> aposentado e não tenho vínculo funcional com nenhuma instituição<br />
pública ou privada. Portanto, sinto-me à vonta<strong>de</strong> em discutir este assunto.<br />
(Segue-se exibição <strong>de</strong> imagens.)<br />
Consi<strong>de</strong>ro a genética uma área da ciência a serviço da socieda<strong>de</strong> e do meio<br />
ambiente. Modificações genéticas vêm sendo feitas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a domesticação das<br />
plantas. Aqui temos uma gramínea, que, por seleção, <strong>de</strong>u origem ao milho. Aliás,<br />
todas as plantas cultivadas hoje são originariamente silvestres.<br />
Há 50 anos, em 1953, foi <strong>de</strong>scoberta a estrutura do DNA. Hoje, o DNA está<br />
bastante popularizado. Essa foi uma <strong>de</strong>scoberta bastante importante. Trata-se <strong>de</strong><br />
uma ca<strong>de</strong>ia em hélice dupla com dois corrimãos e os <strong>de</strong>graus.<br />
Quero respon<strong>de</strong>r à seguinte pergunta: por que fazer transgênico? É por isso<br />
que estou mostrando estas figuras.<br />
Aqui temos uma estrutura do DNA. Este seria um dos corrimãos, que é um<br />
fosfato, um açúcar. Entre eles há pares <strong>de</strong> bases. Há quatro bases nitrogenadas<br />
i<strong>de</strong>ntificadas por 4 letras: Citosina, Guanina, A<strong>de</strong>nina e Timina. O “C” sempre pareia<br />
com o “G”, e o “A” com o “T”. Esta a base do código genético, que se constitui a<br />
partir <strong>de</strong>ssas 4 letras. Portanto, essas 4 letras <strong>de</strong>terminam as variabilida<strong>de</strong>s<br />
genéticas da Terra. Consi<strong>de</strong>ro até surpreen<strong>de</strong>nte que a natureza, com 4 letras,<br />
tenha conseguido promover a biodiversida<strong>de</strong> existente.<br />
O código genético é universal e idêntico para todos os seres vivos. Funciona<br />
do mesmo jeito para bactérias, vírus, insetos, animais e plantas. Por exemplo, se eu<br />
tiver uma página em inglês e colocar no meio uma palavra em português, não dará<br />
sentido porque são códigos diferentes. Gostaria que ficasse patente que o código<br />
genético é universal, que só existe um para todos os seres vivos. Graças a essa<br />
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proprieda<strong>de</strong> foi possível transferir genes <strong>de</strong> uma espécie para outra. Ora, se o<br />
código genético é universal, se <strong>de</strong>scubro um gene num organismo e o transfiro para<br />
outro, esse novo organismo produzirá o mesmo que aquele outro produzia.<br />
Vejamos um breve resumo da evolução da biotecnologia. Em 1953 ocorre a<br />
<strong>de</strong>scoberta da estrutura do DNA. Os primeiros produtos transgênicos foram a<br />
insulina, em 1983, e a quimosina, para a produção <strong>de</strong> queijo, em 1985. Para a<br />
produção <strong>de</strong> queijo é preciso coalho. Antigamente, o coalho era obtido do estômago<br />
<strong>de</strong> bezerros recém-nascidos, que eram sacrificados. Do seu estômago, tirava-se o<br />
coalho para fazer queijo. Uma vez i<strong>de</strong>ntificado o gene, responsável pela quimosina,<br />
foi introduzida uma bactéria nesse gene, a Escherichia coli. Hoje, o coalho é obtido<br />
não do estômago <strong>de</strong> bezerro, mas da bactéria. E 80% dos diferentes queijos que<br />
estão no mercado, especialmente os mais elaborados, são feitos com quimosina<br />
transgênica. Isso já vem sendo feito há anos, com gran<strong>de</strong>s vantagens.<br />
Vemos aqui uma idéia dos países que cultivam transgênicos legalmente —<br />
esses <strong>de</strong>stacados na cor ver<strong>de</strong>. Observem o crescimento dos transgênicos a partir<br />
<strong>de</strong> 1996. Hoje, há praticamente 60 milhões <strong>de</strong> hectares.<br />
Vemos, <strong>de</strong> um lado, países industrializados, e, <strong>de</strong> outro, países <strong>de</strong> Terceiro<br />
Mundo, principalmente Argentina e China.<br />
Temos aqui a área global <strong>de</strong> transgênicos. Os senhores po<strong>de</strong>m ver os países<br />
que cultivam os transgênicos. Os principais são Estados Unidos, Argentina, Canadá,<br />
China e África do Sul. E <strong>de</strong>staco que a China é o país que mais avança em termos<br />
<strong>de</strong> biotecnologia e transgênicos.<br />
algodão.<br />
Vemos aqui as diferentes culturas: soja — a mais plantada — milho, canola e<br />
Quais são os impactos dos transgênicos? O mais evi<strong>de</strong>nte impacto dos<br />
transgênicos é a redução na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesticidas utilizados. Esses transgênicos<br />
obtidos — soja, milho e algodão — reduzem bastante a utilização <strong>de</strong> pesticidas.<br />
Temos aqui os dados do uso <strong>de</strong> pesticidas em milhões <strong>de</strong> quilos. No caso da<br />
soja, menos 13 mil toneladas. Vemos, <strong>de</strong> um lado, o ganho econômico para o país<br />
e, <strong>de</strong> outro, para o agricultor. No caso da soja, o agricultor ganha, em média, 50<br />
dólares por hectare; no caso do algodão, 35 dólares.<br />
Vejam este dado que se refere ao mamão papaia. O mamão tem uma<br />
doença, chamada mancha anelar, causada por um vírus. Pois já existe mamão<br />
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transgênico resistente a esse vírus, o que dá um rendimento <strong>de</strong> 2 mil 625 dólares<br />
por hectare. Como é uma cultura <strong>de</strong> alto valor, tem-se um ganho consi<strong>de</strong>rável. Esse<br />
mamão está sendo cultivado com muito sucesso no Havaí. A EMBRAPA está<br />
realizando pesquisas e já tem o mamão transgênico resistente à mancha anelar.<br />
Infelizmente, <strong>de</strong>vido a uma complicada regulamentação, um experimento <strong>de</strong> mamão<br />
no campo da EMBRAPA teve <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>struído e as pesquisas hoje estão<br />
paralisadas.<br />
Darei vários exemplos da China, que é um país em <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
comunista. Creio que é interessante sabermos o que está acontecendo por lá.<br />
Plantas transgênicas da China são resistentes a vírus: trigo, amendoim, tomate,<br />
melão etc. Não entrarei em <strong>de</strong>talhes, mas esses dados são para que os senhores<br />
tenham uma idéia da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies que lá estão sendo pesquisadas.<br />
Vejamos a adoção do algodão Bt. O cultivo <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> algodão, no mundo<br />
inteiro, chega, aproximadamente, a 4,5 milhões <strong>de</strong> hectares. Destacado na cor<br />
ver<strong>de</strong>, está o BT associado à resistência a herbicidas. O BT é resistente a insetos e<br />
o HT é resistente a herbicidas. Há inúmeros benefícios do algodão Bt nos Estados<br />
Unidos, não somente o da redução <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> inseticidas. Por exemplo, o ganho<br />
econômico por hectare é <strong>de</strong> aproximadamente 50 dólares para o agricultor.<br />
Vemos aqui o progresso da China, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997, e o avanço contínuo da área<br />
<strong>de</strong> algodão. Hoje existem 1 milhão 500 mil hectares plantados, que correspon<strong>de</strong>m a<br />
31% da área. Contudo, verifica-se um aumento a cada ano. Existem 13 milhões <strong>de</strong><br />
agricultores que plantam algodão, dos quais cerca <strong>de</strong> 5 milhões cultivam algodão<br />
transgênico.<br />
Uso <strong>de</strong> inseticida no algodão Bt e no não-Bt. O algodão não-Bt gasta, em<br />
média, 65 quilos <strong>de</strong> inseticida por hectare; o Bt, apenas 21 quilos.<br />
Vemos aqui a redução do uso do inseticida na China. A economia <strong>de</strong><br />
inseticidas em quilos por hectare, em média, é <strong>de</strong> 44 quilos. Essa tabela é muito<br />
interessante, porque mostra o ganho em dólares por hectare. Quem planta algodão<br />
Bt, nessa primeira fileira, em média, tem um ganho <strong>de</strong> 332 dólares por hectare;<br />
quem planta algodão não-Bt tem um prejuízo <strong>de</strong> 138 dólares por hectare. E é<br />
preciso explicar por que está negativo. Esse cálculo foi feito por um economista que<br />
computou o custo das horas <strong>de</strong> trabalho. Como esse tipo <strong>de</strong> agricultura é familiar,<br />
quem planta algodão não-Bt usa mais horas para pulverizar o campo;<br />
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conseqüentemente, gasta mais óleo diesel. Então, esse número <strong>de</strong> horas <strong>de</strong><br />
trabalho da família também foi computado como se fosse um valor que é gasto; não<br />
quer dizer que o agricultor tenha <strong>de</strong>sembolsado esse dinheiro. É apenas para<br />
mostrar a diferença.<br />
Porcentagem <strong>de</strong> agricultores intoxicados. Esse é outro dado muito<br />
interessante, porque sabemos que todos os inseticidas são tóxicos e <strong>de</strong>vem ser<br />
usados com os <strong>de</strong>vidos cuidados. Mas nem sempre os agricultores usam as<br />
cautelas necessárias. Na primeira linha, temos a porcentagem <strong>de</strong> agricultores<br />
intoxicados. Como o algodão Bt usa menos inseticida, a porcentagem <strong>de</strong> agricultores<br />
intoxicados é muito menor. O algodão Bt necessita também <strong>de</strong> alguns inseticidas,<br />
porque existem outras pragas que não são controladas. O Bt que existe no momento<br />
controla, por exemplo, a lagarta, um lepidóptero. Mas o algodão também é atacado<br />
por outras pragas, como a do bicudo, um coleóptero. Enquanto não existir um<br />
algodão com tal resistência genética, é preciso usar algum inseticida.<br />
Mercado global <strong>de</strong> agroquímicos. Em primeiro lugar estão os Estados Unidos,<br />
com 32% <strong>de</strong> todo o mercado; em segundo, o Japão; em terceiro, o Brasil; e, em<br />
quarto, a China. Cerca <strong>de</strong> 8% dos agroquímicos no mundo são gastos no Brasil.<br />
Benefício global do uso <strong>de</strong> algodão no mundo inteiro: China, Estados Unidos<br />
— apenas reforçando aqueles dados mostrados anteriormente.<br />
Investimento em pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento em biotecnologia agrícola.<br />
Também algo muito importante. Nos países <strong>de</strong>senvolvidos, o setor privado gastou,<br />
em 2001, 3 bilhões 100 milhões <strong>de</strong> dólares, enquanto o setor público, 1 bilhão 120<br />
milhões <strong>de</strong> dólares. Dentre os países em <strong>de</strong>senvolvimento, a China está em primeiro<br />
lugar, com 115 milhões <strong>de</strong> dólares gastos em pesquisa e <strong>de</strong>senvolvimento em<br />
biotecnologia agrícola; em segundo, a Índia, com 25 milhões; em terceiro, o Brasil,<br />
com 15 milhões.<br />
O Brasil, sem dúvida, é um país com potencial muito gran<strong>de</strong> e boa<br />
qualificação técnica <strong>de</strong> pesquisadores e cientistas, mas é preciso <strong>de</strong>cidir sobre se<br />
ele entra ou não na área <strong>de</strong> biotecnologia.<br />
Temos aqui uma fotografia da soja transgênica plantada no Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul. Visitei o Município <strong>de</strong> Tupanciretã. Po<strong>de</strong>mos observar aqui o aspecto <strong>de</strong>ssa<br />
soja. Como os senhores sabem, foram plantados 3 milhões <strong>de</strong> hectares no Rio<br />
Gran<strong>de</strong> do Sul com essa soja. Até on<strong>de</strong> a vista alcança, esse tipo <strong>de</strong> soja é cultivado<br />
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com alto nível técnico, superior ao dos países do Primeiro Mundo. Graças a isso, há<br />
uma produtivida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong>.<br />
Aqui temos um campo <strong>de</strong> soja não-transgênica. Os senhores sabem que a<br />
soja resistente ao glifosato tem essa particularida<strong>de</strong>. O mato é facilmente controlado,<br />
pulverizando-o com herbicida. A soja fica sem qualquer dano. Com a soja<br />
convencional, aparece bastante mato, o que faz com que diminua a produtivida<strong>de</strong> e<br />
a colheita fique mais complicada.<br />
Essa aqui é uma soja transgênica do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, cultivada pelo MST.<br />
Com os resultados muito surpreen<strong>de</strong>ntes da soja transgênica, eles também não<br />
<strong>de</strong>ixariam <strong>de</strong> aproveitar essa tecnologia. Então, é uma soja muito bem cultivada.<br />
Aqui temos um plantio <strong>de</strong> soja safrinha na palha do milho... (falha na<br />
gravação) ...é <strong>de</strong> plantio direto, que, como os senhores sabem, é o ecologicamente<br />
mais favorável que existe, porque ele imita o que acontece na floresta. Nele não há<br />
aração do solo, revolvimento ou erosão. Ele é baseado no acúmulo anual <strong>de</strong> matéria<br />
orgânica. Os restos <strong>de</strong> cultura são <strong>de</strong>positados no solo; há <strong>de</strong>composição e<br />
acúmulo.<br />
Aqui temos o exemplo <strong>de</strong> uma soja plantada no dia 25 <strong>de</strong> janeiro. Tirei a<br />
fotografia no dia 12 <strong>de</strong> fevereiro. Portanto, ela tinha um pouco menos <strong>de</strong> 20 dias. A<br />
soja transgênica resistente ao glifosato é especialmente adaptada ao plantio direto.<br />
Isso não quer dizer que com a outra não se possa fazer o mesmo, mas é<br />
complicado.<br />
Quero informar duas vantagens do plantio direto: evita erosão e diminuiu o<br />
assoreamento <strong>de</strong> represas hidroelétricas.<br />
Experimentos feitos em Ponta Grossa, pela Fundação ABC, mostraram que<br />
aqui no Brasil o plantio convencional per<strong>de</strong>, por erosão, cerca <strong>de</strong> 30 toneladas <strong>de</strong><br />
solo por hectare por ano. No plantio direto, a perda é <strong>de</strong> apenas 2 toneladas. E para<br />
on<strong>de</strong> vai esse solo arrastado pelas chuvas? Deposita-se nas represas hidroelétricas.<br />
É por isso que todos os anos diminui a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas represas. Então, só essa<br />
vantagem já seria suficiente; mas há muitas outras.<br />
Recentemente, alguns dados experimentais <strong>de</strong>monstraram que ele aumenta o<br />
seqüestro <strong>de</strong> carbono. Em vez <strong>de</strong> se transformar em CO², que vai para a atmosfera<br />
e promove o efeito estufa, o plantio direto reduz o aquecimento global em 88%.<br />
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Então, os transgênicos têm sido aprovados pelas Aca<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> Ciências do<br />
Brasil, dos Estados Unidos, da Inglaterra, do México, da Índia, da China, <strong>de</strong> vários<br />
países <strong>de</strong> Terceiro Mundo, e também pela Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ciências do Vaticano, pela<br />
Associação Médica Americana, havendo uma <strong>de</strong>claração assinada por mais <strong>de</strong> 3 mil<br />
cientistas, alguns <strong>de</strong>les contemplados com o Prêmio Nobel. É a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong><br />
Norman Borlaug, pai da “revolução ver<strong>de</strong>” e Prêmio Nobel da Paz.<br />
A agricultura é uma ativida<strong>de</strong> que tem se <strong>de</strong>senvolvido e aumentado sua<br />
eficiência em função dos progressos técnico-científicos. Só para ilustrar, antes da<br />
agricultura, quando o homem vivia da caça, eram necessários 2.500 hectares <strong>de</strong><br />
terra para alimentar uma pessoa. Com o pastoreio, melhorou em 10 vezes: 250<br />
hectares. Depois veio a agricultura <strong>de</strong> cova e a agricultura mo<strong>de</strong>rna com 250<br />
hectares, que nos permite alimentar 3.400 pessoas. Portanto, é importante a<br />
tecnologia na agricultura. Precisamos aumentar a produtivida<strong>de</strong> por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
área. E, para aumentar a produção, há dois caminhos: horizontalmente, avançando<br />
cada vez mais em novas áreas, ou verticalmente.<br />
Só para dar um exemplo, a Suécia, que tem uma agricultura <strong>de</strong> alto nível<br />
tecnológico, nos últimos 30 anos reduziu a área agrícola em 5 milhões <strong>de</strong> hectares e<br />
plantou florestas, on<strong>de</strong> há vida selvagem. O Equador, que tem uma agricultura <strong>de</strong><br />
baixa tecnologia, todos os anos avança em 2% <strong>de</strong> sua floresta tropical. Eu acho que<br />
não há dúvida <strong>de</strong> que uma tecnologia <strong>de</strong> alto nível protege o meio ambiente, porque<br />
evita o uso <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>stinadas ao meio ambiente.<br />
Estou mostrando rapidamente as técnicas <strong>de</strong> manipulação genética.<br />
Po<strong>de</strong>mos ter seleção, hibridação etc., bem como fazer manipulação genética sem<br />
reprodução sexual — ploidia, mutagênese, variação etc. Vejam como há várias<br />
técnicas com que po<strong>de</strong>mos produzir plantas diferentes sem reprodução sexual. A<br />
ploidia é a alteração no número dos cromossomos. Começou em 1920. Hoje já<br />
existem muitas plantas poliplói<strong>de</strong>s. A mutagênese é a produção <strong>de</strong> um gene<br />
artificialmente induzido por irradiações ionizantes.<br />
Estou mostrando um campo para produção <strong>de</strong> genes obtidos artificialmente.<br />
Este quadro mostra um campo no Japão. Coloca-se aqui no centro uma bomba <strong>de</strong><br />
cobalto que produz radiações gama. Ao redor, colocam-se plantas que <strong>de</strong>vem ser<br />
mutadas, que <strong>de</strong>vem produzir genes novos. Naturalmente, po<strong>de</strong>-se mudar a<br />
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distância, o tempo etc. Uma radiação po<strong>de</strong> atingir um par <strong>de</strong> base. Como vimos, isso<br />
correspon<strong>de</strong> a uma letra no código, que produzirá um gene novo.<br />
Estou mostrando isso só para comparar um gene obtido por uma mutação,<br />
que é um gene obtido totalmente ao acaso. Não se sabe a sua característica, a<br />
seqüência das suas bases, a proteína que produzirá. Hoje, existem cerca <strong>de</strong> 2 mil<br />
genes no comércio <strong>de</strong> plantas, cereais, frutas, hortaliças, entre os quais estamos<br />
usando genes obtidos artificialmente por mutagênese. Eles não têm risco porque<br />
foram avaliados pelos geneticistas — mas só que não existe esse conhecimento.<br />
Como se produz um transgênico? Primeiramente, trata-se <strong>de</strong> um gene<br />
conhecido, i<strong>de</strong>ntificado no organismo; conhece-se sua seqüência <strong>de</strong> base, on<strong>de</strong> ele<br />
estará localizado no cromossomo e a proteína que produzirá. Mas, mesmo com todo<br />
esse conhecimento, existe oposição.<br />
Finalmente, por que fazer transgênico? O melhoramento <strong>de</strong> plantas é uma<br />
ativida<strong>de</strong> que procura sempre produzir plantas melhores, evi<strong>de</strong>ntemente. No caso do<br />
milho, ele é muito atacado por uma lagarta, a Spodoptera fugiperda, que é a lagarta<br />
do cartucho. O melhorista quer produzir um milho resistente a esse inseto. Ele<br />
procura em toda a coleção <strong>de</strong> milho existente e não encontra nenhum milho que<br />
tenha gene para resistência a esse inseto, mas encontra uma bactéria que vive no<br />
solo, o Bacillus turingiensis — daí a inicial Bt —, que tem muitas proteínas e toxinas<br />
contra insetos. Então, i<strong>de</strong>ntifica-se um gene que produz uma toxina contra a lagarta<br />
e introduz-se esse gene no genoma do milho, que passa a produzir essa toxina nas<br />
folhas. Quando a lagarta vai comer a folha, ela morre. E isso promove uma<br />
economia <strong>de</strong> inseticida.<br />
Esse milho é prejudicial à saú<strong>de</strong>?! As avaliações dos produtos transgênicos<br />
são feitas com muito mais rigor do que os milhares <strong>de</strong> produtos alimentícios<br />
colocados no mercado continuamente. O gene Bt produz uma toxina contra<br />
lepidópteros, lagartas, mas inofensiva a abelhas, ratos, cobaias, mamíferos e peixes.<br />
Para testar em mamíferos — por exemplo, no rato —, dá-se ao rato uma<br />
ração concentrada <strong>de</strong>ssa proteína equivalente a 50 quilos <strong>de</strong> milho por dia. O rato<br />
não é capaz <strong>de</strong> comer 50 quilos <strong>de</strong> milho por dia, mas se isola a proteína<br />
correspon<strong>de</strong>nte a 50 quilos <strong>de</strong> milho e faz-se o rato comer isso todo dia. Depois <strong>de</strong><br />
um mês ou dois, sacrifica-se o rato para ver se ele teve algum problema e constata-<br />
se que não teve.<br />
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Depois <strong>de</strong> tudo isso, temos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre se é seguro ou não para a saú<strong>de</strong><br />
humana. Como? Em dois tubos <strong>de</strong> ensaio, coloco suco gástrico humano. Num <strong>de</strong>les,<br />
coloco milho convencional — evi<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong>sintegrado — e, em outro, o milho Bt,<br />
transgênico. Os dois milhos serão digeridos com suco gástrico humano no tubo <strong>de</strong><br />
ensaio. Depois se compara se houve alguma diferença. Constata-se que não há<br />
diferença nenhuma.<br />
Não conheço nenhum produto alimentício que tenha sido avaliado com esse<br />
rigor. As conclusões mais evi<strong>de</strong>ntes dos pesquisadores dizem que eles são tão ou<br />
mais seguros do que os convencionais, porque têm menos agroquímico.<br />
Essa a mensagem que gostaria <strong>de</strong> trazer. Depois, gostaria <strong>de</strong> contar com<br />
comentários e perguntas dos presentes.<br />
Muito obrigado. (Palmas.)<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Muito obrigado, Prof.<br />
Ernesto Paterniani.<br />
Lembro aos nobres Deputados Fe<strong>de</strong>rais e convidados que, na próxima<br />
semana, haverá discussão intensa acerca da Medida Provisória nº 113, que trata da<br />
comercialização da safra transgênica <strong>de</strong> 2003. Esperamos que, num futuro muito<br />
próximo, esta Casa também discuta novamente em plenário o projeto <strong>de</strong> lei, relatado<br />
pelo Deputado Confúcio Moura, que trata da regulamentação da biotecnologia, da<br />
transgenia.<br />
Este Seminário é extremamente importante para garantir base técnica aos<br />
Srs. Parlamentares que discutirão esse assunto. Sem sombra <strong>de</strong> dúvidas, foi o que<br />
me motivou, bem como os colegas Deputados que subscreveram o requerimento,<br />
para a realização <strong>de</strong>ste Seminário. Que ele sirva <strong>de</strong> subsídio para as discussões que<br />
ocorrerão nesta Casa nas próximas semanas.<br />
Dando seqüência à segunda etapa do nosso Seminário, ouviremos o segundo<br />
expositor, Dr. Rubens Nodari, que disporá <strong>de</strong> 30 minutos.<br />
O SR. RUBENS NODARI - Bom dia a todos. Estou imensamente honrado <strong>de</strong><br />
estar aqui novamente. Como o Prof. Paterniani, sou professor da Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina e recentemente tive a honra e o privilégio <strong>de</strong> ser<br />
convidado pela Ministra Marina Silva para fazer parte <strong>de</strong> sua equipe.<br />
Estou encarregado <strong>de</strong> duas tarefas no Ministério do Meio Ambiente. A<br />
primeira é sobre os recursos genéticos vegetais, ou seja, uso, conservação e acesso<br />
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a recursos genéticos. A segunda função é representar o Ministério do Meio Ambiente<br />
na Comissão Técnica Nacional <strong>de</strong> Biossegurança.<br />
Se os Srs. Deputados me permitirem, registro a presença <strong>de</strong> um colega da<br />
CIDASC, o Aldair. O nosso Estado também está muito preocupado com a ca<strong>de</strong>ia<br />
produtiva.<br />
O Prof. Paterniani mostrou muitos dados.<br />
Sou uma pessoa bastante crítica não à tecnologia em si. Do ponto <strong>de</strong> vista<br />
científico, não temos argumentos para ser contra ou a favor da tecnologia, mas<br />
nossas críticas têm sido feitas caso a caso, produto a produto. Gostaria <strong>de</strong> fazer este<br />
registro. Não somos contra nem a favor; somos pela precaução.<br />
Esta transparência é para fazer propaganda da nossa maravilhosa ilha <strong>de</strong><br />
Santa Catarina.<br />
Apresentarei duas ou três transparências. Se V.Exas. as consi<strong>de</strong>rarem<br />
impróprias, por favor, perdoem-me. É que gostaria <strong>de</strong> trazer a esta Casa a<br />
percepção pública dos transgênicos.<br />
(Segue-se exibição <strong>de</strong> imagens.)<br />
Temos aqui uma <strong>de</strong>claração do então candidato César Maia, na eleição para<br />
Prefeito do Rio <strong>de</strong> Janeiro, que disse o seguinte sobre o Con<strong>de</strong>: “Ele gosta <strong>de</strong> ser<br />
apadrinhado. Já o foi por mim e agora o é por Sérgio Cabral Filho. Não tem coluna<br />
vertebral. É um transgênico, fruto do DNA do Sérgio Cabral, do Garotinho e meu”.<br />
Ou seja, é a idéia da mistura <strong>de</strong> DNA, como disse o Prof. Paterniani. Isso permeia a<br />
socieda<strong>de</strong>, sendo que até os políticos conhecem bem o assunto.<br />
comi, sim”.<br />
Vemos aqui que os cartunistas, às vezes, exageram. A galinha diz: “Olha,<br />
Há outras percepções, como a das pessoas mais ligadas à tecnologia.<br />
Também tive o privilégio <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a fazer transgênico. Quando conhecemos a<br />
tecnologia, as idéias que temos na cabeça são maravilhosas. Pensamos realmente<br />
em contribuir com a socieda<strong>de</strong>, em modificar. O potencial da tecnologia é inegável.<br />
Há ainda a questão política. Quando o Ministro Graziano — na época, ainda<br />
não era Ministro — foi a Washington discutir o Programa Fome Zero, os Estados<br />
Unidos ofertaram ajuda na forma <strong>de</strong> transgênicos. Esta transparência mostra a<br />
versão <strong>de</strong> mais um cartunista.<br />
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Há alguns que querem salvar a espécie da extinção. V.Sas. <strong>de</strong>vem ter<br />
acompanhado, através da mídia, a notícia sobre a banana: que ela estaria<br />
ameaçada <strong>de</strong> extinção e que os transgênicos po<strong>de</strong>riam resolver o problema.<br />
Esta transparência retrata um fato mais recente. Ainda não temos<br />
conhecimento científico <strong>de</strong> que uma espécie foi exterminada por alguma doença;<br />
populações <strong>de</strong> planta, sim. Por exemplo, a epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> AIDS, possivelmente, não<br />
eliminará a espécie humana, mas parte da população.<br />
Às vezes somos induzidos a aceitar um conceito que não é verda<strong>de</strong>iro. O<br />
próprio IAC <strong>de</strong> Campinas <strong>de</strong>senvolveu uma varieda<strong>de</strong> resistente à sigatoga negra,<br />
como o Prof. Paterniani disse.<br />
Darei dois exemplos <strong>de</strong> transgênicos, para mostrar a capacida<strong>de</strong> da<br />
tecnologia. Este <strong>de</strong>senho esquemático mostra os componentes que estão<br />
possivelmente <strong>de</strong>ntro da soja transgênica. Gostaria <strong>de</strong> ilustrar o que foi mostrado<br />
pelo Prof. Paterniani, ou seja, que os melhoristas conseguem transferir genes <strong>de</strong><br />
plantas da mesma espécie e, com mais dificulda<strong>de</strong>, entre espécies um pouco<br />
aparentadas. Entretanto, a tecnologia do DNA recombinante permite ao homem tirar<br />
um pedaço <strong>de</strong> um vírus que ataca a couve-flor, um pedaço do DNA da petúnia, um<br />
pedaço <strong>de</strong> uma bactéria e um pedaço <strong>de</strong> outra bactéria e colocar numa planta. Isso<br />
a natureza ainda não faz. Já é possível passar pedaços individuais <strong>de</strong> uma espécie<br />
para outra, mas não juntar 4, 5 ou 6 pedaços. No ano passado, um comunicado<br />
científico ilustrou essa tecnologia. Um grupo <strong>de</strong> cientistas pegou aquela seqüência<br />
que o Dr. Paterniani mostrou e mandou fazer pedaços <strong>de</strong> DNA sintético, <strong>de</strong> 60 em<br />
60. Juntou todos. Só que os cientistas incluíram um pedacinho diferente. Então,<br />
temos o vírus da poliomielite sintetizado, que po<strong>de</strong>ria ser chamado <strong>de</strong> transgênico<br />
ou, pelo menos, <strong>de</strong> modificado geneticamente. Ele foi protegido com proteínas e<br />
inoculado em ratos. E os ratos mostraram os sintomas da poliomielite.<br />
Com esses dois exemplos, mostramos o po<strong>de</strong>r das tecnologias. E foi por<br />
causa <strong>de</strong>sse po<strong>de</strong>r que os Estados e os países começaram a legislar sobre a<br />
questão. Esta Casa o fez em 1994, com a Lei <strong>de</strong> Biossegurança, sancionada no<br />
início <strong>de</strong> 1995.<br />
Continuamos discutindo o assunto até hoje por dois motivos: primeiro, pelo<br />
número variável <strong>de</strong> produtos que po<strong>de</strong>m ser produzidos, cujos riscos a maioria não<br />
conhece; segundo, pela complexida<strong>de</strong> da matéria.<br />
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Do ponto <strong>de</strong> vista do cidadão brasileiro, duas pesquisas <strong>de</strong> opinião pública<br />
mostram que pequena — mas crescente parcela <strong>de</strong> pessoas que já ouviram falar do<br />
assunto e gran<strong>de</strong> parte da população preferem os produtos não transgênicos.<br />
Po<strong>de</strong>mos tentar i<strong>de</strong>ntificar por que o cidadão brasileiro está preocupado com<br />
a situação. O cenário seria o seguinte: a varieda<strong>de</strong> transgênica, comparada com a<br />
tradicional, percorre <strong>de</strong>terminado caminho até a sua aprovação. Primeiro, quem<br />
produz o transgênico tenta mostrar que se trata <strong>de</strong> produto diferente, para obter a<br />
patente, como é o caso da soja RR no Brasil. Depois, a instituição diz que não é<br />
diferente, ou que é pelo menos equivalente, para obter aprovação nos órgãos<br />
regulamentadores. Em seguida, ao agricultor é dito que é diferente; para nós,<br />
consumidores, a opção é a outra. A in<strong>de</strong>finição causa insegurança para o cidadão.<br />
Tenho catalogados — não falarei sobre todos — alguns problemas<br />
relacionados com os produtos <strong>de</strong>correntes da tecnologia. Um <strong>de</strong>les é que a maioria<br />
das plantas ainda carrega genes <strong>de</strong> resistência a antibióticos. Esses genes são<br />
utilizados como marcadores. A Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> recomenda a<br />
não-comercialização <strong>de</strong> produtos que têm tais genes, porque é possível que, no<br />
trato digestivo, eles passem para outras bactérias. O mesmo po<strong>de</strong> ocorrer no solo.<br />
Enfim, estamos disseminando genes <strong>de</strong> resistência a antibióticos.<br />
As seqüências que mostrei favorecem a transferência <strong>de</strong> genes em<br />
laboratório e, em tese, beneficiam a transferência <strong>de</strong> genes também na natureza.<br />
Então, estaríamos aumentando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong>ssas seqüências<br />
para outros organismos. O homem ainda não conseguiu controlar a expressão<br />
daquele material genético que chega na planta. Conhecemos muito bem genética <strong>de</strong><br />
microorganismos. Isolamos genes, cortamos, grudamos, fazemos funcionar. Mas,<br />
quando se trata das plantas ou dos animais, há mais dificulda<strong>de</strong>s, possivelmente<br />
porque não os conhecemos suficientemente. Então, muitas empresas têm <strong>de</strong> fazer<br />
vários transgênicos, porque não conseguem controlar a expressão daquele gene.<br />
Quanto ao fluxo gênico, o homem não segura nem o pólen nem a semente.<br />
Existem técnicas e proposições para que tal procedimento ocorra. Adiante, tecerei<br />
mais comentários acerca do assunto.<br />
Temos outros problemas ainda. Conhecemos muito pouco sobre os efeitos no<br />
ambiente e na saú<strong>de</strong> humana. Também discutirei bastante pertinência versus<br />
alternativas, em função da competitivida<strong>de</strong> — tema do seminário.<br />
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A complexida<strong>de</strong> que passo a ilustrar, do ponto <strong>de</strong> vista genético, é a seguinte:<br />
o <strong>de</strong>senho mostra a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> DNA, e aqui temos as diferentes proteínas — às<br />
vezes são <strong>de</strong>zenas, para que um gene seja expresso. Os eucariontes, como os<br />
animais e as plantas, têm uma máquina muito complexa para funcionar.<br />
Assim, ainda não conseguimos controlar os transgênicos, porque não<br />
conhecemos ainda muito bem essa máquina — somente um pouco, mas não tudo.<br />
Esta Casa já tem conhecimento <strong>de</strong> outro aspecto que <strong>de</strong>sejo apresentar, que<br />
diz respeito à competitivida<strong>de</strong>. Por exemplo, agora que o Governo baixou o <strong>de</strong>creto<br />
<strong>de</strong> rotulagem e permite a comercialização da safra, os agricultores americanos estão<br />
pressionando a empresa Monsanto para que ela cobre os royalties do Brasil. E pior:<br />
estamos sendo acusados <strong>de</strong> ladrões pelos agricultores americanos.<br />
De fato, o Brasil já outorgou 4 patentes à Monsanto. Tenho dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
enten<strong>de</strong>r isso, porque temos duas leis <strong>de</strong> proteção: uma <strong>de</strong> proteção industrial, que<br />
proíbe o patenteamento <strong>de</strong> genes, e uma <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> cultivares — seria a única<br />
forma <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plantas. Então, isso vai causar ônus adicional<br />
aos agricultores.<br />
Quanto às patentes, talvez o problema seja este: em 1997, os Estados Unidos<br />
exportaram 60% da soja mundial; hoje, exportam 43%. Des<strong>de</strong> 1997 eles têm<br />
transgênicos. Que tipo <strong>de</strong> problema os transgênicos estariam trazendo para os<br />
agricultores americanos? Deveríamos estudar a questão mais profundamente.<br />
Pesquisa feita recentemente pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Illinois mostra que os<br />
agricultores têm prejuízo <strong>de</strong> 3 dólares por saca, coberto pelo subsídio, com soja<br />
transgênica. Então, embora do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> segurança possa não haver<br />
problema, no que se refere à oportunida<strong>de</strong> comercial, nós, como socieda<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>vemos discutir o assunto mais profundamente.<br />
A introdução do transgênico no País cria problema para o restante da ca<strong>de</strong>ia.<br />
Temos processos <strong>de</strong> certificação em andamento, e quem não plantar transgênicos<br />
terá custo para certificar seu material.<br />
Assim, a introdução do transgênico cria problemas para a ca<strong>de</strong>ia produtiva,<br />
que vai ter <strong>de</strong> se organizar. Vamos aumentar o custo da produção <strong>de</strong> alimentos e <strong>de</strong><br />
outros materiais agrícolas. Na Europa, a estimativa é <strong>de</strong> que, entre a certificação, a<br />
rotulagem e os testes, o custo chegue a 41%.<br />
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No Brasil, segundo os jornais <strong>de</strong> ontem, o sindicato das indústrias <strong>de</strong><br />
alimentação já está estimando que o custo dos alimentos vai aumentar 10%, no caso<br />
<strong>de</strong> haver rotulagem. A introdução dos transgênicos cria alterações nos custos e na<br />
forma da ca<strong>de</strong>ia produtiva.<br />
Também falamos em produtivida<strong>de</strong>. Comparando os dados do Carvalho e da<br />
CONAB, a partir do cálculo da produtivida<strong>de</strong> média, entre 1996 e 2001 — naquele<br />
período tínhamos poucos transgênicos no campo —, o Brasil cresceu 25% em<br />
rentabilida<strong>de</strong> e os Estados Unidos, 4%. Tais dados mostram ainda que o<br />
melhoramento genético é ferramenta extraordinária que não po<strong>de</strong>remos abandonar<br />
neste momento.<br />
Sobre o fluxo gênico, há o <strong>de</strong>senho que adquiri em <strong>de</strong>terminada organização<br />
não-governamental, que mostra um pé <strong>de</strong> milho ao lado <strong>de</strong> uma cerca e outro pé <strong>de</strong><br />
milho ao lado <strong>de</strong> outra cerca. A gravura significa o seguinte: o fluxo gênico é um<br />
fenômeno que nós, da genética, <strong>de</strong>finimos como a dispersão ativo ou passiva <strong>de</strong><br />
genes por semente, por pólen ou por partes clonais. O fluxo gênico causa o que nós<br />
comumente chamamos <strong>de</strong> contaminação genética ou poluição genética. Ele po<strong>de</strong><br />
produzir efeitos, modificar o valor adaptativo das plantas que recebem os<br />
transgenes. Po<strong>de</strong>mos alterar a dinâmica das populações, e assim por diante.<br />
Próximo sli<strong>de</strong>. Visitei o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul 2 ou 3 vezes e observei varieda<strong>de</strong>s<br />
transgênicas e não-transgênicas lado a lado. Por incrível que pareça, essa é uma<br />
varieda<strong>de</strong> adaptada ao Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Essa é uma daquelas introduzidas da<br />
Argentina, que o agricultor não controlou direito. O importante é que muitos<br />
agricultores plantam lado a lado. A soja é uma planta <strong>de</strong> autofecundação. Sabemos<br />
que o cruzamento é muito restrito, mas, segundo trabalhos <strong>de</strong> pesquisadores da<br />
EMBRAPA, em até 8, 10 metros <strong>de</strong> distância ocorre cruzamento. Quando é lado a<br />
lado, a taxa <strong>de</strong> cruzamento é muito alta.<br />
O que vai ocorrer, se liberarmos o transgênico sem nenhuma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />
área ou <strong>de</strong> zoneamento? Se não tivermos isolamento, é possível que uma varieda<strong>de</strong><br />
transgênica contamine as <strong>de</strong>mais. Aí estaremos prejudicando o agricultor, que pensa<br />
que o material <strong>de</strong>le está livre e não está.<br />
Devemos ter muito cuidado no momento da liberação para evitar<br />
contaminação. Mesmo que a taxa <strong>de</strong> cruzamento seja baixa, ao longo <strong>de</strong> vários<br />
anos, o que po<strong>de</strong> acontecer? Vamos ter varieda<strong>de</strong>s totalmente transgênicas, ou<br />
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seja, 100%, e outras com 0,5%, 1%, 2% etc., porque vai acumulando. Isso po<strong>de</strong> criar<br />
problemas para produtores orgânicos, produtores <strong>de</strong> soja para alimentação e assim<br />
por diante.<br />
Infelizmente, não consegui colocar na apresentação que, enquanto ganhamos<br />
cerca <strong>de</strong> 150, 170 dólares por tonelada com o grão, po<strong>de</strong>mos ganhar 500 a 4 mil<br />
dólares por lecitina ou 500 dólares com o grão, para a alimentação humana.<br />
Triplicamos o valor do nosso produto. Esse é um cuidado que precisamos ter na<br />
liberação.<br />
Próximo sli<strong>de</strong>. Os perigos da contaminação são tão gran<strong>de</strong>s que os Estados<br />
Unidos restringiram em área confinada o cultivo <strong>de</strong> plantas produtoras <strong>de</strong> fármacos.<br />
Até o ano passado, milhos eram cultivados para a produção <strong>de</strong> vacinas, <strong>de</strong><br />
substâncias para uso farmacológico. Em função das contaminações do ano<br />
passado, este ano as agências americanas exigiram tanto das empresas que elas<br />
estão plantando somente em confinamento. Tivemos vários casos <strong>de</strong> contaminação.<br />
Próximo. Uma pergunta que temos <strong>de</strong> fazer nesta Casa é a seguinte: se<br />
formos liberar o milho com aquelas vantagens a que o Prof. Paterniani se referiu, o<br />
que acontecerá com as varieda<strong>de</strong>s crioulas dos agricultores?<br />
Em Santa Catarina, hoje, 20% a 25% da área são mantidos por pequenos<br />
agricultores. Eles reaproveitam a semente. Por exemplo, esse tipo é para o pão.<br />
Eles preferem o branco para o pão. E se isso for contaminado?<br />
Vejam que, do ponto <strong>de</strong> vista do Brasil, essas varieda<strong>de</strong>s crioulas são<br />
estratégicas. Por quê? Porque os agricultores estão conservando material genético<br />
<strong>de</strong> graça para o País. Este é o paradoxo do melhorista: ele <strong>de</strong>senvolve varieda<strong>de</strong>s e<br />
espera que os agricultores as cultivem. Também seria <strong>de</strong>sejável que uma parcela<br />
dos agricultores continuasse cultivando um número diferente <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s, porque<br />
temos diversida<strong>de</strong> genética muito gran<strong>de</strong> para po<strong>de</strong>r avançar no melhoramento. É<br />
verda<strong>de</strong> que gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sses materiais está guardada no CENAGEM. Mas<br />
também é verda<strong>de</strong> que, ao longo do tempo, essas plantas vão evoluindo e<br />
adquirindo novas combinações genéticas, novos genes por mutações, que nos<br />
po<strong>de</strong>rão ser úteis. É um processo evolutivo garantido. Temos <strong>de</strong> pensar seriamente<br />
nesses pequenos agricultores.<br />
Próximo sli<strong>de</strong>. Isso é o que algumas pessoas chamam <strong>de</strong> porta giratória. Por<br />
exemplo, falamos seguidamente que ela foi aprovada nos Estados Unidos, e foi<br />
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muito rigoroso. Mas lá existe uma porta giratória <strong>de</strong> executivos que saem do<br />
Governo, vão para a iniciativa privada, voltam para o Governo e ficam analisando os<br />
mesmos processos das suas empresas. Temos <strong>de</strong> ficar muitos atentos em relação a<br />
esses fatos, porque acontecem em outros países.<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista fisiológico, um transgênico que não altera o gene <strong>de</strong><br />
rendimento, em tese, tem penalida<strong>de</strong> fisiológica. O que quer dizer isso? Se<br />
introduzirmos um novo gene numa planta, ela precisará produzir uma proteína — por<br />
exemplo, o arroz — para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r do herbicida que será jogado em cima <strong>de</strong>la. De<br />
on<strong>de</strong> sairá essa energia? Geralmente, do grão. É claro que, se um agricultor plantar<br />
lado a lado uma varieda<strong>de</strong> transgênica e a mãe <strong>de</strong>ssa varieda<strong>de</strong>, que é não-<br />
transgênica, adotar os mesmos procedimentos e controlar os índices, o não-<br />
transgênico ren<strong>de</strong>rá mais. Entretanto, se o agricultor usar toda a tecnologia em cima<br />
do transgênico, sem dúvida aquele transgênico produzirá mais por área. Então, o<br />
transgênico sozinho não tem capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rendimento a mais, ele está associado<br />
ao sistema <strong>de</strong> produção. Isso precisa ficar claro. Ou seja, todos os testes que temos<br />
na literatura científica, quando se dão iguais condições, têm a penalida<strong>de</strong> fisiológica.<br />
Evi<strong>de</strong>ntemente, no sistema <strong>de</strong> cultivo isso <strong>de</strong>saparece.<br />
Existem problemas na Argentina, que são relatados pelo Dr. Walter Pengue;<br />
há outros, nos Estados Unidos e no Brasil. Temos <strong>de</strong> ficar atentos, pois daqui a<br />
algum tempo vamos ter muitas ervas daninhas que, num <strong>de</strong>terminado momento,<br />
exigirão outro tipo <strong>de</strong> controle, porque irão se tornar resistentes ao mesmo produto.<br />
Acho que o agricultor tem <strong>de</strong> ser avisado <strong>de</strong>sse problema. Precisamos estudar<br />
melhor a questão, porque ele terá <strong>de</strong> usar outro herbicida, qualquer hora <strong>de</strong>ssas,<br />
para fazer a sua lavoura. Isso é muito crescente.<br />
Neste sli<strong>de</strong> nós temos um exemplo do que já há no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />
Este outro mostra que a transgenia em fruta preocupa muito as autorida<strong>de</strong>s.<br />
Nós comemos in natura, e ali existem proteínas e genes <strong>de</strong> resistência a antibiótico.<br />
Essas preocupações, do ponto <strong>de</strong> vista da saú<strong>de</strong>, são ainda maiores com os<br />
produtos in natura.<br />
Próximo. Uma das conseqüências que po<strong>de</strong> ocorrer no futuro é o<br />
aparecimento <strong>de</strong> novas pragas, porque nós, ao usarmos um sistema diferente <strong>de</strong><br />
cultivo, alteramos a dinâmica das populações <strong>de</strong> plantas e insetos. Teríamos <strong>de</strong><br />
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estudar o assunto antes da liberação dos novos produtos. Também po<strong>de</strong>mos criar<br />
superpragas.<br />
Próximo sli<strong>de</strong>. A idéia aqui é a seguinte: se nós liberamos uma varieda<strong>de</strong><br />
muito resistente aos insetos, o que po<strong>de</strong>rá acontecer, se há insetos resistentes a<br />
essas toxinas, governados por genes dominantes? Rapidamente, eles aumentam <strong>de</strong><br />
freqüência. Então, em alguns anos, teremos inseto que não dará bola para aquela<br />
toxina e estaremos criando superpragas. Isso vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r dos genes <strong>de</strong><br />
resistência, da herança genética. Haverá outros casos em que o aumento da<br />
população <strong>de</strong> insetos resistentes será mais brando. Então, ainda temos esses dados<br />
para laboratório. Essa questão está sendo estudada. Por exemplo, po<strong>de</strong> ter<br />
implicações para os produtores orgânicos, porque, se há insetos resistentes às<br />
toxinas, vamos po<strong>de</strong>r usar cada vez menos os inseticidas biológicos.<br />
Próximo. Já existem estudos nos Estados Unidos que <strong>de</strong>monstram a<br />
eficiência do Bt, baseado no mo<strong>de</strong>lo que expliquei, está per<strong>de</strong>ndo a eficácia, em<br />
função <strong>de</strong> os organismos migrarem <strong>de</strong> uma região para outra e dos diferentes<br />
tempos <strong>de</strong> cultivo.<br />
Falarei agora sobre o arroz dourado. A primeira frase do sli<strong>de</strong> diz que ele<br />
evita a morte <strong>de</strong> crianças e a cegueira. Quando o arroz fica pronto, a criança precisa<br />
comer mais <strong>de</strong> dois quilos do produto. É impossível obter essa dose diária. No<br />
Nor<strong>de</strong>ste, um médico está usando a palma, que tem mais vitamina A do que o arroz<br />
transgênico. Portanto, temos alternativas para alguns <strong>de</strong>sses produtos.<br />
Todos sabemos que a agricultura é necessária, mas que ocasiona problemas.<br />
A Inglaterra <strong>de</strong>senvolveu estudo mostrando que ela polui o ar e provoca emissão <strong>de</strong><br />
gases. O Prof. Ernesto Paterniani disse que o plantio direto diminui o problema.<br />
Além disso, a agricultura produz erosão e acarreta problemas relacionados à<br />
biodiversida<strong>de</strong> — gastos com tratamento <strong>de</strong> água etc. Precisamos mudar nossas<br />
formas convencionais <strong>de</strong> agricultura.<br />
Estudo realizado na Inglaterra mostra que, se fossem remediados todos<br />
esses custos, eles praticamente estariam equilibrados com a receita da agricultura.<br />
Devemos pensar em novas formas <strong>de</strong> agricultura capazes <strong>de</strong> contaminar menos o<br />
ambiente.<br />
Neste sli<strong>de</strong> manifesto a posição do Ministério do Meio Ambiente quanto a<br />
esse tipo <strong>de</strong> agricultura. Nosso <strong>de</strong>safio é contribuir com a socieda<strong>de</strong> no sentido <strong>de</strong><br />
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obter alimentos <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> contaminando o mínimo possível o meio ambiente.<br />
Estamos convencidos <strong>de</strong> que é necessário diminuir a utilização <strong>de</strong> produtos<br />
químicos, que causam muitos problemas para a saú<strong>de</strong>. Além disso, temos <strong>de</strong><br />
otimizar a produtivida<strong>de</strong> e, talvez, selecionar cultivares adaptados ao ambiente, e<br />
não vice-versa, como fizemos durante a “revolução ver<strong>de</strong>”.<br />
Para encontrar alternativas que satisfaçam esses <strong>de</strong>safios, temos <strong>de</strong> nos<br />
centrar no princípio da precaução. Transcrevi a sua <strong>de</strong>finição na Convenção sobre<br />
Diversida<strong>de</strong> Biológica, documento aprovado por esta Casa: “on<strong>de</strong> há ameaças <strong>de</strong><br />
danos sérios ou irreversíveis, a falta <strong>de</strong> certeza científica não <strong>de</strong>ve ser a razão para<br />
postergar medidas para prevenir a <strong>de</strong>gradação ambiental”.<br />
Esse princípio tem quatro componentes: primeiro, a ação preventiva <strong>de</strong>ve ser<br />
tomada antes da prova científica, quando for o caso; segundo, o ônus da prova da<br />
biossegurança cabe ao proponente; terceiro, na presença <strong>de</strong> evidência <strong>de</strong> dano<br />
causado pela ativida<strong>de</strong>, um número razoável <strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado —<br />
todos comparam o transgênico ao convencional, mas po<strong>de</strong>ríamos compará-lo a<br />
outros sistemas <strong>de</strong> cultivo que não usam agrotóxicos — e a redução po<strong>de</strong> ser bem<br />
maior; quarto, para que a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão seja precautória, <strong>de</strong>ve ser aberta,<br />
transparente e <strong>de</strong>mocrática, além <strong>de</strong> ter envolvida a participação das partes<br />
afetadas.<br />
Nenhuma planta foi analisada tão profundamente quanto os transgênicos,<br />
conforme já foi <strong>de</strong>monstrado e reconhecido em livro recentemente publicado pela<br />
Aca<strong>de</strong>mia Nacional <strong>de</strong> Ciência dos Estados Unidos, que, apesar disso, diz: “A<br />
avaliação <strong>de</strong> plantas transgênicas <strong>de</strong>ve ser feita <strong>de</strong> maneira mais rigorosa e<br />
transparente — essa é uma crítica que a Aca<strong>de</strong>mia faz às três agências norte-<br />
americanas; e eu já vim a esta Comissão, alguns anos atrás, e disse que, do nosso<br />
ponto <strong>de</strong> vista, a análise não era muito rigorosa — e com a participação <strong>de</strong><br />
especialistas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e maior envolvimento da população em geral. As<br />
empresas po<strong>de</strong>m manter em sigilo — essa é uma constatação — uma quantida<strong>de</strong><br />
muito maior <strong>de</strong> informações do que em outros países”.<br />
O termo “não há evidência em suas avaliações ambientais” é ambíguo e po<strong>de</strong><br />
indicar tanto a inexistência <strong>de</strong> provas que i<strong>de</strong>ntifiquem impactos ambientais quanto a<br />
inexistência <strong>de</strong> estudos sobre o tema. Todos os laudos, todas as conclusões <strong>de</strong><br />
aprovação <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s transgênicas norte-americanas iniciam <strong>de</strong>sta forma: “não<br />
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Número: 0453/03 Data: 08/05/03<br />
há evidência <strong>de</strong>”. Esse termo é cientificamente ina<strong>de</strong>quado, impreciso; ou seja, é<br />
utilizado porque ainda não há conhecimento pleno sobre os efeitos.<br />
O órgão ambiental já se preparou, ao longo do tempo, para dar sua<br />
contribuição a essa análise <strong>de</strong> risco dos organismos geneticamente modificados. Há<br />
lei aprovada pelo Congresso Nacional que dispõe sobre a Política Nacional do Meio<br />
Ambiente, <strong>de</strong> 1981, e resolução que disciplina o licenciamento, <strong>de</strong> 1997.<br />
No ano passado o CONAMA aprovou as normas <strong>de</strong> licenciamento <strong>de</strong> OGMs,<br />
com a participação <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong>. Por dois anos foi <strong>de</strong>senvolvido estudo que<br />
contou com a participação da comunida<strong>de</strong> científica dos diferentes órgãos do<br />
Governo, <strong>de</strong> empresas, ONGs e do CONAMA, que é uma representação nacional do<br />
SISNAMA. O IBAMA vai tornar público o termo <strong>de</strong> referência para pesquisa em<br />
áreas experimentais, o que estava para ser feito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> julho do ano passado. Essa<br />
é a contribuição do Ministério.<br />
Temos <strong>de</strong> buscar nova agricultura. Falei mais sobre plantas transgênicas e<br />
quase nada sobre outros tipos <strong>de</strong> transgênicos, que não são minha especialida<strong>de</strong>.<br />
As características <strong>de</strong> transgênicos para a saú<strong>de</strong> têm consi<strong>de</strong>rações diferentes das<br />
que mencionei. Consi<strong>de</strong>ramos alimento opção pessoal, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da cultura.<br />
Quando se trabalha com alimentos, o cuidado é redobrado, porque é preciso<br />
respeitar a <strong>de</strong>cisão do cidadão. Somos um país que tem não só diversida<strong>de</strong> genética<br />
<strong>de</strong> plantas, animais e microorganismos, mas diversida<strong>de</strong> cultural invejável. Ao<br />
pensarmos em alimentação, <strong>de</strong>vemos levar em consi<strong>de</strong>ração esse componente com<br />
bastante ênfase.<br />
Fico à disposição para esclarecimentos.<br />
Muito obrigado. (Palmas.)<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Muito obrigado, Dr.<br />
Rubens Nodari, pela explanação.<br />
Lembro aos nobres Deputados e convidados que o contraditório é um dos<br />
motivos principais <strong>de</strong>ste evento. É preciso que haja idéias diferentes, a fim <strong>de</strong> que os<br />
membros do Congresso Nacional tomem posição sobre tema importante não só para<br />
a agricultura, mas para a socieda<strong>de</strong> brasileira.<br />
Dando continuida<strong>de</strong> à segunda etapa do nosso seminário sobre biotecnologia,<br />
convido a fazer uso da palavra o terceiro e último expositor <strong>de</strong> hoje, Dr. José Maria<br />
Ferreira Jardim da Silveira, que disporá <strong>de</strong> 30 minutos para sua exposição.<br />
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O SR. JOSÉ MARIA FERREIRA JARDIM DA SILVEIRA - Sr. Presi<strong>de</strong>nte,<br />
agra<strong>de</strong>ço a V.Exa. o convite. É uma honra ter sido indicado pelo Reitor Carlos<br />
Henrique <strong>de</strong> Brito, cientista renomado, com quem compartilho várias idéias sobre<br />
como ciência, tecnologia e inovação têm e po<strong>de</strong>m ser encaminhadas num país como<br />
o Brasil.<br />
A UNICAMP estará criando, no próximo dia 15 <strong>de</strong> maio, uma agência <strong>de</strong><br />
inovação. Na oportunida<strong>de</strong>, haverá seminário que contará com a presença <strong>de</strong> várias<br />
autorida<strong>de</strong>s, visando exatamente agilizar essa relação entre ciência, tecnologia e<br />
inovação; linha que a UNICAMP, na condição <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>, procura consolidar.<br />
Para a maioria das pessoas que atuam nesse campo, na UNICAMP, é muito<br />
claro que a separação entre ciência, tecnologia e inovação é absolutamente artificial<br />
e insustentável, principalmente no mundo mo<strong>de</strong>rno. Esse será um dos pontos que<br />
abordarei, já que não quero repetir os vários argumentos apresentados pelos outros<br />
conferencistas.<br />
O tema que vou tratar diz respeito à aplicação do princípio da precaução e<br />
suas conseqüências. Muitos enten<strong>de</strong>m que se po<strong>de</strong> continuar fazendo ciência e,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns anos, retornar ao mundo dos negócios. Temos <strong>de</strong> levar em<br />
consi<strong>de</strong>ração, entretanto, que o tempo econômico anda um pouco mais rápido.<br />
Não vejo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o Brasil entrar numa corrida <strong>de</strong>senfreada com a<br />
China, que tem feito commodities <strong>de</strong> quase todos os produtos no mundo, entre eles<br />
o glifosato — portanto, muito barato. Muitos dos argumentos <strong>de</strong> monopólio da<br />
Monsanto não se sustentam, porque isso é produzido por vários países, entre eles a<br />
China, que tem o hábito <strong>de</strong> exportar a preços vis e possui uma coleção <strong>de</strong> processos<br />
na costas. Muito disso se <strong>de</strong>ve à natureza pouco <strong>de</strong>mocrática do sistema que<br />
suporta e sustenta essas ativida<strong>de</strong>s. Um regime mais <strong>de</strong>mocrático sofre pressões<br />
um pouco mais complicadas.<br />
O que vou apresentar aqui tem a ver um pouco com essa questão. O princípio<br />
da precaução, apresentado do ponto <strong>de</strong> vista da ciência mo<strong>de</strong>rna, não tem qualquer<br />
sentido. Não se po<strong>de</strong> cobrar certeza <strong>de</strong> nada. Qualquer pessoa que tenha estudado<br />
ciência sabe que toda análise científica é probabilística, inclusive na economia. Nós,<br />
economistas, comparados a outras áreas, somos muito primitivos, mas adotamos <strong>de</strong><br />
certa maneira o princípio da incerteza como ponto importante <strong>de</strong> análise.<br />
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O princípio da precaução que leva à imobilida<strong>de</strong> ou que apenas <strong>de</strong>svincula os<br />
avanços da biotecnologia dos avanços dos negócios é meio complicado. Essa é<br />
uma estratégia corajosa, no mínimo. Concordo plenamente com o Prof. Rubens<br />
Nodari. É interessante, toda vez em que essas questões forem analisadas, ver<br />
também as alternativas. Só que as alternativas tecnológicas não vivem ao mesmo<br />
tempo. Chamamos isso <strong>de</strong> coevolução.<br />
A agricultura orgânica têm seu mercado. Atualmente, são 375 mil hectares<br />
plantados em áreas relativamente isoladas, on<strong>de</strong> é mais fácil produzir. Por exemplo,<br />
minha esposa compra produtos orgânicos — um professor universitário ganha o<br />
suficiente para comprar produto orgânico. É um nicho <strong>de</strong> mercado. O próprio Dr.<br />
Rubens Nodari falou <strong>de</strong> vários nichos on<strong>de</strong> as plantas transgênicas que temos não<br />
levariam vantagens; têm o direito <strong>de</strong> não ser contaminados, mas não precisamos<br />
remo<strong>de</strong>lar a agricultura inteira para isso. É preciso ver como esses elementos vão<br />
coevoluir.<br />
Há vários temas <strong>de</strong> conflitos sofisticados, e parte <strong>de</strong>les já preexistia, a<br />
exemplo do milho híbrido — advertência que o Dr. Ernesto Paterniani me fez —, que<br />
também é uma planta alógama, polinizada a gran<strong>de</strong>s distâncias e que contamina; há<br />
um fluxo gênico. Houve polêmica sobre o milho híbrido muito semelhante a esta, na<br />
década <strong>de</strong> 80.<br />
Essa discussão é um pouco complicada. O que <strong>de</strong>ixa as pessoas um pouco<br />
mais tranqüilas é o argumento <strong>de</strong> que é complicada porque é inovação radical, não<br />
havia antes. Mas não é radical, porque começou a ser feita em 1997, quando<br />
surgiram os primeiros resultados. Por exemplo, a soja transgênica não tem<br />
resistência a antibiótico. Essa foi uma das possibilida<strong>de</strong>s para produzi-la. A<br />
Monsanto teve competência para fazer a transferência sem levar junto um sítio <strong>de</strong><br />
resistência a antibiótico. Esses fatores <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram a corrida aos transgênicos.<br />
Tenho certa visão crítica <strong>de</strong> que não <strong>de</strong>vemos ser muito otimistas em relação<br />
a esses produtos. Não são produtos fantásticos. O Prof. Ernesto Paterniani disse<br />
que há limitações. Não vamos esperar que a transgenia, com esse tipo <strong>de</strong><br />
estratégia, suspenda as outras pesquisas. Ninguém <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> isso. E ninguém afirma<br />
que, com técnicas convencionais, seja mais produtivo e competitivo em relação à<br />
Monsanto. É claro que po<strong>de</strong> ser. Varieda<strong>de</strong>s não vão sofrer o problema da<br />
penitência do transgênico e po<strong>de</strong> ser mais vantajoso plantá-las.<br />
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No atual contexto, a comodida<strong>de</strong> — não é só redução <strong>de</strong> custos — que isso<br />
traz para o agricultor é um importante fator. Determina a adoção <strong>de</strong>ssa soja, sua<br />
preferência pelo agricultor. Parte da exposição do Dr. Rubens Nodari se referiu à<br />
produtivida<strong>de</strong> — se nós po<strong>de</strong>mos regulá-la. Nós, quem? Numa economia<br />
<strong>de</strong>scentralizada, quem faz esse controle? Já perdi completamente a ilusão <strong>de</strong> que<br />
fiscais regularão a produtivida<strong>de</strong>. Eles não regulam nem atentados ao meio<br />
ambiente. Se os economistas apren<strong>de</strong>ram a lição econômica, sabem que só se<br />
consegue levar técnicas, controles e regulações adiante se houver íntima e intensa<br />
participação daquele que é mais beneficiado — no caso, o produtor. Essa tem sido<br />
uma das razões <strong>de</strong> tensão dos transgênicos. O produtor é beneficiado. O<br />
consumidor europeu, que há muitos anos não pensa em produtivida<strong>de</strong> agrícola, até<br />
porque fizeram uma política agrícola terrível, na minha opinião... É engraçado<br />
falarem <strong>de</strong> Terceiro Mundo. Para eles <strong>de</strong>ve ser algo <strong>de</strong> Maomé, <strong>de</strong> países africanos.<br />
Para nós, é pau no lombo mesmo, é competição; sempre foi.<br />
Acompanhei, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1980, a oposição que os franceses faziam à soja<br />
brasileira. Economistas franceses diziam que o Brasil só era competitivo em soja<br />
porque concedia subsídio. Jean-Paul Bertrand, por exemplo, publicou trabalhos<br />
nessa área, e o País mostrou que isso não era correto.<br />
Vamos nos adiantar um pouco.<br />
Quero colocar a biotecnologia, primeiro, na sua infância. A questão da<br />
penitência abordada aqui ocorre muito na infância dos processos. O Dr. Rubens<br />
apresentou o problema dos operadores, dos controles <strong>de</strong> expressão. Acompanhei<br />
muito a vacina transgênica contra a febre aftosa, que teria todas as vantagens do<br />
mundo, inclusive em relação ao armazenamento, por não ser preciso fazer o seu<br />
refrigeramento — uma das piores situações para os pecuaristas. Mas não <strong>de</strong>u certo.<br />
Não conseguiram suficiente nível <strong>de</strong> expressão — não só o pessoal do centro <strong>de</strong><br />
biotecnologia do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, mas também a Pfizer e as gran<strong>de</strong>s empresas<br />
que não conseguiram controlar esse processo <strong>de</strong> expressão. Isso faz parte <strong>de</strong> um<br />
conjunto <strong>de</strong> ciências em evolução, que apresenta suas limitações.<br />
Quanto à biotecnologia, quero chamar a atenção sobre as perdas líquidas,<br />
que representam investimento em ciência e tecnologia. Nos Estados Unidos, foram 4<br />
bilhões <strong>de</strong> dólares <strong>de</strong> perda líquida, em 2001, com biotecnologia, significando<br />
capitais <strong>de</strong> risco, lançamentos <strong>de</strong> mercado, bolhas especulativas. Mas a<br />
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biotecnologia não caiu com o fim da bolha NASDAC. Não houve essa queda. Nós<br />
temos aí o esforço da socieda<strong>de</strong> americana em torno da biotecnologia. Um esforço<br />
mais repartido em perdas dos investidores; às vezes, em ganhos.<br />
Como po<strong>de</strong>m saber, a Pfizer comprou a Farma & Cia, que, por sua vez, havia<br />
comprado a Monsanto. Então, quem é a maior? Não dá a impressão <strong>de</strong> que os<br />
tubarões estão se engolindo? Essa é um pouco a idéia do setor farmacêutico, que<br />
tem sido poupado neste <strong>de</strong>bate. A agricultura é que está sofrendo. Os franceses<br />
chegam aqui e dizem que a agricultura não vai ter biotecnologia. Eles acham que<br />
vão sobreviver à concorrência no setor farmacêutico e que a biotecnologia <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
humana vai se dar muito bem.<br />
O fato <strong>de</strong> a Pfizer haver comprado a Farma & Cia relaciona-se ao Viagra e a<br />
alguns produtos. Isso, <strong>de</strong> certa maneira, é uma loteria. Uma empresa que estava em<br />
14º lugar, como a MercK Sharp & Dohme, passou a lí<strong>de</strong>r no setor veterinário, com o<br />
Ivomec. Essa dinâmica do setor é <strong>de</strong> altíssimo risco. Por isso, é preciso parar com a<br />
bobagem <strong>de</strong> que a Monsanto vai se beneficiar ou atingir 50% dos lucros. Não. Trata-<br />
se <strong>de</strong> processo altamente competitivo. Ela, <strong>de</strong> certa forma, colocou a cabeça na<br />
frente para apanhar. Não vou fazer comentários sobre isso, porque ela sofreu<br />
bastante, mas é um processo competitivo que continua.<br />
Como nos inserimos nesse problema? Se olharem bem, verão que esse é o<br />
quadro institucional da biotecnologia, não é mais a <strong>de</strong>fesa sanitária do Ministério da<br />
Agricultura. O Prof. Rubens colocou isso como custo, mas eu apresento como uma<br />
nova realida<strong>de</strong> que estamos vivendo.<br />
A Europa, agora, vai colocar sob suspeita 300 produtos químicos; pelo<br />
menos, está fazendo o serviço <strong>de</strong> casa. Chateiam os outros, mas dizem que não<br />
po<strong>de</strong>m ficar apenas perseguindo os transgênicos, já que eles próprios têm produtos<br />
que contaminam o meio ambiente, contidos nos alimentos, como conservantes e<br />
uma série <strong>de</strong> outros, que também têm <strong>de</strong> ser observados.<br />
É uma nova complexida<strong>de</strong>, e não dá mesmo para tratar a questão <strong>de</strong> maneira<br />
simplista. Tem <strong>de</strong> haver a CTNBio, que <strong>de</strong>pois tem <strong>de</strong> se articular com essas<br />
agências, senão não vai funcionar.<br />
A questão da biodiversida<strong>de</strong> não é meramente i<strong>de</strong>ológica. É óbvio que sua<br />
importância é enorme. O Ministério do Meio Ambiente sabe usar esse ponto. Há<br />
livros lindos. Fico impressionado, porque é difícil fazer um livro, mas se vêem livros<br />
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caríssimos, maravilhosos sobre biodiversida<strong>de</strong>. Existe todo um suporte i<strong>de</strong>ológico<br />
para se dizer que temos uma fantástica biodiversida<strong>de</strong>. Mas, para transformarmos<br />
isso em produtos farmacêuticos, precisaremos ter muita competência e nos associar<br />
a multinacionais; caso contrário, não vamos conseguir. Precisamos saber negociar<br />
com elas, principalmente na área <strong>de</strong> microorganismos, on<strong>de</strong> está a biodiversida<strong>de</strong><br />
que interessa.<br />
Direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> intelectual é um verda<strong>de</strong>iro imbróglio, que o Rubens<br />
levantou com gran<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>. Por quê? Porque, ao mesmo tempo em que<br />
reconhecemos o direito do pequeno agricultor <strong>de</strong> plantar sua própria semente,<br />
reconhecemos a lei <strong>de</strong> proteção dos cultivares, que dá royalties à EMBRAPA.<br />
Também estamos preocupados. A UNICAMP também quer receber royalties.<br />
Os contratos tecnológicos vão emergir toda vez que a Monsanto souber que<br />
um gene <strong>de</strong> transgenia, <strong>de</strong> tolerância ou glifosado, foi passado por uma varieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> interesse dos agricultores. Po<strong>de</strong> não ser da Monsanto, mas da EMBRAPA,<br />
ocasionando uma triangulação, como já ocorre nos Estados Unidos, on<strong>de</strong> há<br />
pagamento <strong>de</strong> royalties triangulado.<br />
Os agricultores sabem que, se essa estratégica for única <strong>de</strong> uma empresa<br />
multinacional, não representa gran<strong>de</strong> negócio. Sabemos que o agricultor põe a<br />
semente no solo e muda uma relação. Estava discutindo com o Dr. Levon a questão<br />
da seqüência. Se a semente plantada no solo custar muito caro, corre-se enorme<br />
risco. Transgênico ou não, o passarinho e a formiga po<strong>de</strong>m comê-la, ou po<strong>de</strong> haver<br />
enxurrada. Se forem colocados 50% do seu custo no solo, não será possível<br />
recuperá-lo. E o agricultor não trabalha só com custos. Apesar das avaliações<br />
levarem em conta apenas os custos, o agricultor tem aversão a riscos. Há limites na<br />
cobrança <strong>de</strong>sses preços. A estratégia <strong>de</strong> trazer todos os insumos para <strong>de</strong>ntro da<br />
semente é economicamente limitada.<br />
Há claro exemplo <strong>de</strong> que o Brasil foi muito bem-sucedido em relação à<br />
biotecnologia. Não consi<strong>de</strong>ro biotecnologia só a parte transgênica, mas todo o<br />
conjunto <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong> fiscalização, como é o caso do Resolv.<br />
Hoje, nós economizamos, e há impacto extremamente favorável na cultura da soja.<br />
As tecnologias são contraditórias? As empresas que produzem Resolv são<br />
milionárias? Elas possibilitam economia muito maior do que o que ganham com o<br />
Resolv. Alguém já fez esse cálculo? Eu fiz. A economia, por baixo, seria <strong>de</strong> 50<br />
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milhões <strong>de</strong> dólares. Todas as empresas produtoras <strong>de</strong> inoculantes, somadas, não<br />
faturam isso. Eles não conseguem repassar. Por quê? Porque, se tentarem subir<br />
esse preço, o agricultor não vai usar o produto. Depois, o agricultor po<strong>de</strong> usar por<br />
um, dois anos. Ele quer flexibilida<strong>de</strong> na <strong>de</strong>cisão dos seus custos. Isso faz com que a<br />
estratégia <strong>de</strong> trazer tudo para <strong>de</strong>ntro da semente seja limitada, em termos <strong>de</strong><br />
margem do que será cobrado no preço da semente.<br />
Cabe lembrar que temos, ainda, por incrível que pareça, nas áreas sociais <strong>de</strong><br />
vacina humana e veterinária, reagentes, toxinas, hormônios, diretamente afeitas à<br />
biotecnologia — também po<strong>de</strong>ria haver reatores <strong>de</strong> antibióticos com base<br />
biotecnológica, que estão voltando a ser elaborados —, saldo negativo <strong>de</strong><br />
importação. Importamos dos países <strong>de</strong>senvolvidos até fatores sangüíneos e<br />
exportamos para a Bolívia, o Peru, o Equador.<br />
Há um campo muito gran<strong>de</strong>. Tem a ver com a agricultura? Sim, porque a<br />
biotecnologia é interligada. Gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sses reagentes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> escala. Por<br />
exemplo, na parte <strong>de</strong> reagente, um dos gran<strong>de</strong>s mercados que está surgindo é o <strong>de</strong><br />
kits diagnósticos, para verificar se o produto é transgênico <strong>de</strong> forma mais <strong>de</strong>cente do<br />
que simplesmente através <strong>de</strong> uma fita que diz “sim” ou “não”. Se a MP for seguida<br />
agora, vai exigir mais do que isso, porque ela <strong>de</strong>termina que não po<strong>de</strong> haver<br />
nenhuma contaminação. Não basta dizer “sim” ou “não”. É preciso que haja melhor<br />
qualida<strong>de</strong> nesse teste.<br />
Lembro que o número <strong>de</strong> firmas, no Brasil, está crescendo. Em relação à<br />
ativida<strong>de</strong> da biotecnologia como um todo, o País é respeitado.<br />
No mercado <strong>de</strong> sementes, como no <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensivo, a posição do Brasil<br />
transcen<strong>de</strong> em relação às outras produções. Por exemplo, temos a honra <strong>de</strong> ter a<br />
15ª empresa <strong>de</strong> petroquímica do mundo, a Brasken — um dos poucos fatos<br />
marcantes da nossa indústria —, mas somos o quinto mercado do mundo em<br />
sementes.<br />
Isso po<strong>de</strong> parecer bobagem, porque somos um país <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> extensão,<br />
mas não é trivial. É uma conquista <strong>de</strong> tecnologia. Porém, no <strong>de</strong>bate da Convenção<br />
sobre Diversida<strong>de</strong> Biológica, muito avanços da produção <strong>de</strong> sementes, dos<br />
cuidados, das tecnologias são colocados como um mal. Mas foi um enorme avanço.<br />
Quando se compra a semente, tem-se a garantia da certificação da espécie que se<br />
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está plantando, da qualida<strong>de</strong>, da sanida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> vários fatores. É um mercado como<br />
outro qualquer, que a agricultura enfrenta.<br />
Como já foi mostrado, apesar da incerteza regulatória e da confusão interna<br />
— aquelas leis <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> intelectual, tudo se mistura —, o mercado, no mundo,<br />
cresceu. No Brasil, estamos nesse impasse, mas tivemos uma produção <strong>de</strong><br />
transgênicos — da pior maneira possível, mas tivemos.<br />
Enquanto os Estados Unidos per<strong>de</strong>ram mercado, a Argentina não per<strong>de</strong>u, e<br />
ele é <strong>de</strong> 90%. É lógico que, se perguntarem à Bung ou à DuPont — produtoras <strong>de</strong><br />
proteína <strong>de</strong> soja para consumo humano, proteína concentrada <strong>de</strong> soja, que compete<br />
com outras proteínas para enriquecimento <strong>de</strong> alimentos etc. — se fazem<br />
segregação, dirão que sim. No Brasil, fazem? Essas duas empresas são<br />
responsáveis por quase toda totalida<strong>de</strong> da segregação que está sendo feita hoje.<br />
Logo, temos um problema. Ou seja, tirando a economia contratual, em que há<br />
ligação muito forte entre empresas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte e produtores, nosso mercado <strong>de</strong><br />
commodities não está preparado para rotulagem nem para segregação.<br />
Isso aqui só confirma os dados do Paterniani. Só que há uma curiosida<strong>de</strong>:<br />
eles são feitos na Argentina, com a qual não po<strong>de</strong>mos comparar os benefícios da<br />
soja transgênica do Brasil. Possivelmente, os benefícios no Brasil não serão tão<br />
gran<strong>de</strong>s. Na Argentina, foi possível cultivar a soja transgênica mais rapidamente e<br />
ampliar o mercado. Ampliou-se a área interna, explorou-se mais intensivamente o<br />
fator terra. Naquele país, dadas as limitações para plantio <strong>de</strong> soja, isso foi<br />
importante. Por quê? Porque se fez o que já se fazia, ou seja, os dois cultivos, a<br />
safrinha, o cultivo trigo/soja, que não fazemos mais. Hoje, fazemos o cultivo<br />
soja/milho, e eles passaram a fazer o cultivo trigo/soja, usando as proprieda<strong>de</strong>s do<br />
plantio direto para reduzir seu ciclo <strong>de</strong> produção. Então, eles têm vantagem, porque<br />
ganharam alguns milhões <strong>de</strong> hectares para plantio <strong>de</strong> soja, e a tecnologia permitiu<br />
isso. No Brasil, não se vai ter esse tipo <strong>de</strong> impacto — ele é colocado como impacto<br />
da produção.<br />
O custo da soja transgênica foi reduzido na Argentina por todas as avaliações<br />
<strong>de</strong>ssa empresa <strong>de</strong> consultoria, cujo presi<strong>de</strong>nte, Eduardo Trigo, foi presi<strong>de</strong>nte do ICA.<br />
Ele tem gran<strong>de</strong> reputação e mostra que há redução <strong>de</strong> custos e benefícios totais<br />
estimados em 5 bilhões, nesse período.<br />
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Resumindo, houve ganho <strong>de</strong> 18% dos fornecedores <strong>de</strong> insumo — 22<br />
produtores <strong>de</strong> glifosato e 7, <strong>de</strong> sementes. Logo, há uma questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da<br />
concorrência na distribuição <strong>de</strong>ssas tecnologias. Lógico que há. Mas só nessas<br />
tecnologias? Quem não tem o Windows levante o braço! São questões que vamos<br />
ter <strong>de</strong> enfrentar. Quem levanta este ponto tem razão: 18% é pouco? Não são os<br />
100% que eu esperava? Mas não é tão pouco assim: são 22 produtores <strong>de</strong><br />
glifosatos e 7 produtores <strong>de</strong> sementes. A mais importante não é a Monsanto, na<br />
Argentina, e sim a Ni<strong>de</strong>ra. Houve redução <strong>de</strong> 12% <strong>de</strong> custo e aumento da produção<br />
<strong>de</strong> quase 70% na soja, gran<strong>de</strong> parte pela intensificação do uso da terra.<br />
Quanto aos pontos centrais da biotecnologia, concordo com os expositores e<br />
com o Sr. Rubens, apesar <strong>de</strong> não concordar com este quanto à forma <strong>de</strong> aplicação<br />
do princípio da precaução. Defendo, como exposto pela CTNBio, que <strong>de</strong>ve ser feito<br />
o cultivo monitorado da soja transgênica. É preciso haver competência para isso. Se<br />
não plantarmos, não teremos competência.<br />
Concordo que a biossegurança é um problema sério. A soja possui hoje uma<br />
margem brutal — o Deputado Ronaldo Caiado e outros plantadores sabem disso. Se<br />
for preciso uma medida provisória qualquer, com tal número, para segregar, rotular e<br />
inserir no mercado cada grão, como soja não-transgênica, assim será feito. E<br />
quando essa margem cair? Isso gera um custo fixo. É uma contradição? Não,<br />
porque se po<strong>de</strong> parar <strong>de</strong> plantar. As varieda<strong>de</strong>s, na EMBRAPA, não estão<br />
disponíveis? A própria Monsanto comprou as empresas, as sementes. Se ela não<br />
tiver interesse, não po<strong>de</strong> reven<strong>de</strong>r? Não po<strong>de</strong> voltar a ser 2 marcos? Por que a<br />
Agromen não vai mais plantar semente <strong>de</strong> soja? Essa é a solução final? Parece<br />
filme <strong>de</strong> Arnold Schwarzenegger. Devido ao fato <strong>de</strong> a Monsanto utilizar soja<br />
transgênica, haverá superpragas? Alguém se lembra o que o metribuzin causou? A<br />
Cynamid não ganhou muito dinheiro com o leiteiro? Foi uma superpraga criada pelo<br />
uso abusivo <strong>de</strong> um antigo herbicida, chamado metribuzin, que ficava no solo. Uma<br />
das características <strong>de</strong>sse herbicida era sua persistência. Hoje, não é mais permitida<br />
sua utilização. Faz-se crítica ao glifosato? Ela é feita corretamente. Há o problema.<br />
Ele <strong>de</strong>grada, mas será usado em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, como o Prof. Rubens e o Prof.<br />
Paterniani expuseram corretamente, num tipo <strong>de</strong> manejo ambientalmente <strong>de</strong>sejável,<br />
com um herbicida <strong>de</strong> baixa toxicida<strong>de</strong>. Se for utilizado um transgênico para uma<br />
uréia sulfonada, vamos ver que manejo será usado. Se o produto tiver rótulo<br />
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vermelho, não po<strong>de</strong>rá ser usado em gran<strong>de</strong>s extensões, e talvez não haja muitas<br />
vantagens na sua utilização.<br />
Portanto, quanto ao princípio da precaução, é preciso haver monitoração;<br />
caso contrário, não resolveremos os problemas. Tem <strong>de</strong> haver uma ligação entre a<br />
agricultura e a produção, e só se apren<strong>de</strong> fazendo, com os feedbacks. Se isso não<br />
ocorrer, não haverá ciência mo<strong>de</strong>rna.<br />
Agora, vamos aceitar as críticas. A agricultura é diferente, uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> extensão ambiental. Os alimentos são diferentes. Foi mencionada a questão<br />
dos fármacos. Não vejo nenhum problema <strong>de</strong> eles serem isolados. Produz-se<br />
pseudocommodities, especialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> alto valor agregado? Qual o<br />
problema? Isolem. Não se cultiva planta produtora <strong>de</strong> princípio ativo em larga escala.<br />
Isso não é problema.<br />
Quanto à <strong>de</strong>fesa da concorrência, teve concentração no mercado <strong>de</strong><br />
semente? Teve. Quem <strong>de</strong>u o parecer, errou? Não sei. Qual foi o argumento?<br />
Contraditoriamente, os benefícios da biotecnologia. A concentração <strong>de</strong> 60% do<br />
mercado, hoje, na Monsanto e a fortíssima concentração <strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong> sementes,<br />
no mundo inteiro, nas mãos das gran<strong>de</strong>s corporações são resultado da tentativa<br />
<strong>de</strong>ssas empresas <strong>de</strong> explorarem essas tecnologias. O que <strong>de</strong>ve ser feito? É um<br />
problema central. Proibimos? Não se po<strong>de</strong> produzir transgênicos, porque as<br />
empresas concentram? Então, não se po<strong>de</strong> produzir produtos farmacêuticos. Há<br />
protestos quanto à indústria <strong>de</strong> alimentos? O que é a Bung, hoje? É uma empresa<br />
americana. Eu estava orgulhoso, pensando que era brasileira, que tinha fugido da<br />
Argentina. Não é mais. Essa é uma realida<strong>de</strong> dura que <strong>de</strong>vemos enfrentar. Não<br />
incluo a EMBRAPA. Nesta reunião há representantes <strong>de</strong>ssa empresa, que está<br />
passando por um período <strong>de</strong> reorganização. Talvez esteja mudando sua visão <strong>de</strong><br />
mundo, mas compartilho enormemente <strong>de</strong> suas idéias.<br />
A EMBRAPA tomou a seguinte posição: o Brasil é um gran<strong>de</strong> país agrícola,<br />
um dos poucos países do Terceiro Mundo que possuem competitivida<strong>de</strong> em ciência<br />
e tecnologia. Conseguiu, com o orçamento — o Dr. Paterniani reduziu os valores —<br />
para a agricultura, não só 15 milhões; mais do que isso. E o que a universida<strong>de</strong> faz?<br />
E a ESALQ? Qual o orçamento da UNICAMP? O pessoal da ESALQ fez estudo<br />
sobre a contribuição da FAPESP e chegou a mais <strong>de</strong> 15 milhões. Não há ainda<br />
esforço corporativo que acompanhe esses ganhos.<br />
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Há também o direito dos consumidores.<br />
O que a Suíça, a Grã-Bretanha e a Bélgica têm em comum? De acordo com o<br />
meu ponto <strong>de</strong> vista, nada. Um país gosta <strong>de</strong> guerra. A Suíça gosta <strong>de</strong> dinheiro. A<br />
Bélgica gosta <strong>de</strong> cerveja, <strong>de</strong> mexilhões. Os padrões e hábitos ambientais são<br />
diferentes. O inglês come qualquer coisa. O que esses países têm em comum são<br />
fortes restrições a ingredientes transgênicos em alimentação humana e rações<br />
animais, por meio <strong>de</strong> contratos bilaterais, comerciais e da chamada aliança<br />
mercadológica.<br />
Vemos essa aliança com bons olhos no Brasil. Os supermercados<br />
aproveitaram — são as contradições do capitalismo — isso para fazer marketing. E<br />
também têm medo <strong>de</strong> criar linhas transgênicas, mesmo que costumem rotulá-las,<br />
tendo em vista o fato <strong>de</strong> o consumidor perceber que a transgênica po<strong>de</strong> estragar<br />
essas marcas, embora diga que não está muito interessado e que isso não seria<br />
problema. Existe intermediação, porque os supermercados estão diretamente em<br />
contato com o consumidor e criaram marcas próprias.<br />
Portanto, nesses países, o supermercado tem suas próprias marcas — por<br />
exemplo, o Carrefour. Não é fenômeno amplo na França, na Alemanha, na Itália,<br />
muito menos nos Estados Unidos e no Japão. Este último, tão conscencioso, não<br />
possui muitas restrições, porque não há marcas próprias nos supermercados.<br />
Portanto, trago mais um ator importante: o supermercado, com suas marcas<br />
próprias, que cria dificulda<strong>de</strong>s para o comércio <strong>de</strong> transgênicos.<br />
Então, temos a regulação, a promoção das empresas <strong>de</strong> biotecnologia, que<br />
não são incompatíveis. A biotecnologia não seria sustentada com capital <strong>de</strong> risco, se<br />
o único problema fosse o fato <strong>de</strong> a transferência do gene para a planta causar-lhe<br />
certa penalida<strong>de</strong>. Pouco conhecemos sobre a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manipulação genética.<br />
O genoma, o proteoma e o controle <strong>de</strong> metabolismo vão permitir libertar algumas...<br />
Em primeiro lugar, vamos partir do princípio <strong>de</strong> que a planta não produz grãos<br />
porque gosta. Tudo o que há no mercado é fruto do trabalho humano, <strong>de</strong><br />
comunida<strong>de</strong>s rurais, como as peruanas, por exemplo, na plantação <strong>de</strong> tomate, milho.<br />
Se o Bush não <strong>de</strong>vastou a Turquia em alguma guerra, ainda há tribos que têm<br />
biodiversida<strong>de</strong>, assim como na Armênia, que produzem trigo <strong>de</strong> diferentes<br />
varieda<strong>de</strong>s. No Brasil, em Rondônia, há varieda<strong>de</strong>s selvagens <strong>de</strong> mandiocas.<br />
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Então, existe todo esse cenário, mas a domesticação <strong>de</strong> plantas para<br />
diversos fins é arbitrarieda<strong>de</strong> humana. Nesse sentido, já lhes impusemos<br />
penalida<strong>de</strong>. O Pearcy percebe isso muito bem: ele diz que custa 200 libras, como<br />
bom inglês que não está preocupado com a agricultura — lá só tem pedra, não há<br />
cultura; fazem uísque. Que agricultura se faz na Inglaterra? Para o David Ricardo<br />
está bem, mas, para os países que se <strong>de</strong>finiram como agroindustriais e <strong>de</strong><br />
agronegócios, esse é um aspecto fundamental. Será que atingimos o teto com essa<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manipulação? Será que estamos no jogo <strong>de</strong> soma zero, on<strong>de</strong> há<br />
ganho na facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manejo e redução <strong>de</strong> custo econômica, em que insiro perda<br />
<strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>? Nas técnicas da soja transgênica, acredito que isso vá acontecer,<br />
mas estão se iniciando outras oportunida<strong>de</strong>s, ou está havendo geração <strong>de</strong> produtos<br />
<strong>de</strong> maior valor agregado.<br />
O Sr. Ernesto Paterniani fez um comentário sobre a palma e o arroz, dois<br />
produtos diferentes. Os japoneses gostam mais do arroz, e temos <strong>de</strong> respeitar seus<br />
hábitos alimentares. O gado gosta da palma, e também os nor<strong>de</strong>stinos, quando têm<br />
fome. Em 1999, an<strong>de</strong>i <strong>de</strong> Crateús até Fortaleza e não vi um pé <strong>de</strong> palma, porque a<br />
região passava por uma seca terrível. Mas as pessoas gostam <strong>de</strong> arroz.<br />
Quanto a essa produtivida<strong>de</strong>, muitos ecologistas gostam <strong>de</strong> fazer referência<br />
ao custo e ao balanço energético. Isso é meio esquisito. Balanço energético do quê?<br />
Estou ven<strong>de</strong>ndo um produto que gosto <strong>de</strong> comer, que vou manipular, transformar e<br />
aproveitar várias <strong>de</strong> suas particularida<strong>de</strong>s para enriquecer outros produtos,<br />
característica da indústria <strong>de</strong> alimentos. Temos <strong>de</strong> discutir o assunto <strong>de</strong> maneira<br />
mais complexa.<br />
A terceira questão diz respeito à contratualização. A agricultura está se<br />
tornando contratualizada. O mercado direto tem cada vez menos importância. É<br />
preciso ter consciência <strong>de</strong> que a rotulagem cria necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer<br />
contratos. As pessoas não acham lindo os contratos? Somos da universida<strong>de</strong> e<br />
<strong>de</strong>vemos achar lindo, porque fechamos apenas contrato <strong>de</strong> trabalho e mais nada.<br />
De vez em quando contratamos um estagiário, ele foge, e ficamos bravos com isso.<br />
Mas quem faz contrato gostaria <strong>de</strong> ter alguém para comprar sua colheita e ficar livre<br />
do sujeito. A pessoa não quer que o comprador controle o que ela está fazendo.<br />
O contrato dá estabilida<strong>de</strong>, mas permite o controle da ativida<strong>de</strong>. Os bancos<br />
têm controle sobre as ativida<strong>de</strong>s econômicas, e isso está sendo muito questionado.<br />
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A idéia da contratualização vai ocorrer crescentemente na agricultura. Precisamos<br />
tomar conta disso.<br />
Já abor<strong>de</strong>i a questão da <strong>de</strong>fesa da concorrência.<br />
Apresentei os quatro itens primordiais: regulação; promoção, que consi<strong>de</strong>ro<br />
central; contratualização, como vantagem e <strong>de</strong>svantagem; e <strong>de</strong>fesa da concorrência<br />
— problema que teremos <strong>de</strong> enfrentar.<br />
Por favor, po<strong>de</strong> ir passando os sli<strong>de</strong>s.<br />
Tudo isso já foi comentado. Vamos mais para a frente. É que eu não sabia<br />
quanto tempo era concedido a cada orador e preparei extensa apresentação. Po<strong>de</strong><br />
passar e parar no último. (Pausa.) Não apareceu nada. Então, os senhores terão <strong>de</strong><br />
acreditar em mim. As bolinhas sumiram <strong>de</strong> vez do sli<strong>de</strong>. Houve um boicote. Há mais<br />
algum dado? Esses recursos <strong>de</strong> tecnologia, às vezes, causam problemas. Daqui a<br />
pouco aparece um coelho no meio da tela.<br />
Basicamente, o fundo Votorantim é um dos exemplos <strong>de</strong> investimento em<br />
capital <strong>de</strong> risco na biotecnologia — no caso, a biotecnologia voltada para a<br />
agricultura. Po<strong>de</strong> ser que não dê certo, mas é disso que estamos falando. Não<br />
estamos falando <strong>de</strong> investimentos garantidos. A Alellyx — que é “xyllela” ao contrário<br />
—, que se situa no tecnopolo <strong>de</strong> Campinas, é financiada pelo fundo Votorantim. Se<br />
observarmos as diferentes aplicações <strong>de</strong>sse fundo, consi<strong>de</strong>raremos esse<br />
investimento <strong>de</strong> alto risco e <strong>de</strong> expectativa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> rentabilida<strong>de</strong>.<br />
Por que falarmos sobre o fundo Votorantim? Quem conhece bem a empresa<br />
sabe que ela sempre foi, e continua sendo, um grupo muito conservador no sentido<br />
do risco, da alavancagem <strong>de</strong> finanças, e trabalha, em gran<strong>de</strong> parte, com recursos<br />
próprios. É lógico que, perto dos 450 milhões que ela tem para investir anualmente,<br />
não se trata <strong>de</strong> volume muito gran<strong>de</strong>; mas é crescente, significativo. O investimento<br />
na Alellyx foi consi<strong>de</strong>rável, <strong>de</strong> 30 — por isso a bola do gráfico está gran<strong>de</strong>.<br />
O que a Alellyx ven<strong>de</strong>? Ela ven<strong>de</strong> informação — po<strong>de</strong> não dar certo — a<br />
outras empresas, na forma <strong>de</strong> contratos tecnológicos. Não estou dizendo que essa é<br />
realida<strong>de</strong> consolidada. Daquelas 300 empresas <strong>de</strong> biotecnologia que apresentamos,<br />
gran<strong>de</strong> parte é pequena e faz biotecnologias extremamente convencionais. Há uma<br />
invenção por empresa; ou seja, inventam um kit diagnóstico. A biotecnologia mais<br />
garantida é a do mercado <strong>de</strong> sementes, que encontrou alguns resultados e está<br />
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procurando explorá-los em troca <strong>de</strong> vantagens econômicas e conforto — no caso,<br />
dos agricultores.<br />
Esse horizonte <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s é muito gran<strong>de</strong>. Volto a me referir ao caso<br />
do mamão. Se querem controlar tecnologias, os transgênicos têm <strong>de</strong> ser analisados<br />
caso a caso. Mas não posso criar uma confusão institucional e um conjunto <strong>de</strong><br />
requerimentos tão exagerados em que eu prefira que o mamão fique migrando, por<br />
causa da mancha anelar, <strong>de</strong> um lugar para outro: corta-se a mata, planta-se mamão,<br />
corta-se a mata, planta-se mamão — enfim, fazem rotações diárias em nome da<br />
preservação ambiental. Em alguns casos existem estratégias <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> transgênicos<br />
extremamente inteligentes, que po<strong>de</strong>m ser até combinadas com o controle biológico,<br />
com métodos integrados <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> pragas.<br />
Obrigado. (Palmas.)<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Muito obrigado, Sr.<br />
José Maria Ferreira Jardim da Silveira.<br />
Após ouvirmos as 3 brilhantes exposições, algumas vezes conflitantes entre<br />
si, mas na maioria absoluta complementares, daremos início ao <strong>de</strong>bate.<br />
Antes <strong>de</strong> passar a palavra aos Srs. Deputados que já se inscreveram para o<br />
<strong>de</strong>bate, gostaria <strong>de</strong> passar a palavra aos outros co-autores do requerimento para a<br />
realização <strong>de</strong>ste seminário.<br />
Com a palavra o Deputado Wal<strong>de</strong>mir Moka, Presi<strong>de</strong>nte da Comissão <strong>de</strong><br />
Agricultura e Política Rural.<br />
O SR. DEPUTADO WALDEMIR MOKA - Inicialmente, quero agra<strong>de</strong>cer aos<br />
três expositores e manifestar minha alegria por tê-los nesta Comissão.<br />
Já houve embates aqui. Lembro-me da aprovação do projeto do Deputado<br />
Confúcio Moura. Foi terrível, porque houve momentos muito agressivos. Parecia que<br />
estávamos tratando <strong>de</strong> questão <strong>de</strong> vida ou <strong>de</strong> morte. Fico feliz, ao realizarmos este<br />
<strong>de</strong>bate — apesar das divergências dos expositores —, por esta reunião ter ocorrido<br />
<strong>de</strong> forma pacífico.<br />
Sou médico e <strong>de</strong>i aula <strong>de</strong> Química durante meta<strong>de</strong> da minha vida. Este<br />
assunto é apaixonante, porque po<strong>de</strong>mos fazer modificação ao introduzir um gene<br />
numa planta e perceber que ela não será mais atacada, por exemplo, por lagarta.<br />
Ouvi o Sr. Rubens Nodari dizer que <strong>de</strong>vemos ter precaução. A minha<br />
pergunta será dirigida a ele.<br />
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Certamente vamos ter <strong>de</strong> votar. Espero que o Congresso Nacional tome uma<br />
<strong>de</strong>cisão, neste ano, em relação à matéria. Sinceramente, a motivação da Comissão<br />
<strong>de</strong> Agricultura e Política Rural é para que possamos <strong>de</strong>bater e esclarecer este<br />
assunto, porque há muita <strong>de</strong>sinformação. Espero que, ainda neste ano, no máximo<br />
em agosto ou setembro, tomemos uma <strong>de</strong>cisão sobre o tema.<br />
Tenho muito respeito pelo que V.Sa. disse acerca do princípio da precaução.<br />
Como <strong>de</strong>i aula por muito tempo, lembro-me do princípio da incerteza, <strong>de</strong> Heizenberg,<br />
quando dizia que em <strong>de</strong>terminado momento aquele era o local mais provável para<br />
se encontrar o elétron. Creio que há uma confusão do princípio da incerteza com o<br />
princípio <strong>de</strong> precaução. Vamos parar tudo? Não vamos avançar? Como disse o Sr.<br />
José Maria, se não plantarmos isso, dificilmente vamos ter como conviver.<br />
Como é que a evolução se dará? Gostaria <strong>de</strong> ouvi-lo a respeito <strong>de</strong>ssa<br />
questão. Objetivamente, quanto ao princípio da precaução, V.Sa. <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o<br />
Brasil não plante, pare as ativida<strong>de</strong>s e aguar<strong>de</strong> um tempo para ver o que acontece?<br />
É isso o princípio da precaução, ou estou enganado?<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Obrigado, Deputado<br />
Wal<strong>de</strong>mir Moka.<br />
palestrantes.<br />
Vamos fazer as perguntas em blocos <strong>de</strong> 3. Depois, passarei a palavra aos<br />
Com a palavra o Deputado Confúcio Moura.<br />
O SR. DEPUTADO CONFÚCIO MOURA - Quero congratular-me com todos<br />
os palestrantes. Vou fazer algumas perguntas, mas não po<strong>de</strong>rei ouvir as respostas,<br />
porque tenho um compromisso.<br />
No Congresso Nacional, observamos que há projetos que nunca serão<br />
votados, como os que tratam da eutanásia, da pena <strong>de</strong> morte, <strong>de</strong> casamentos entre<br />
homossexuais. Debatem-se essas questões e elas nunca são votadas. Há algo<br />
estranho que não permite que votemos esses projetos.<br />
A questão da biotecnologia parece estar indo pelo mesmo caminho. De<br />
repente surge uma crença, uma pessoa parece criar um sentimento no coração<br />
contra o tema, com <strong>de</strong>voção: “Nunca vou aceitar isso, porque agri<strong>de</strong> a minha crença<br />
particular; e nada no mundo vai mudar a minha idéia. Jamais aceitarei isso”. E então<br />
movimenta o mundo todo contra esse pensamento. Trata-se <strong>de</strong> convicções difíceis,<br />
como o fundamentalismo no Afeganistão, em que a mulher tem <strong>de</strong> usar aquele pano<br />
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preto no rosto, andar na rua encoberta. Acontece isso no Brasil com a biotecnologia.<br />
E agora temos o Governo do Partido dos Trabalhadores. O PT ganhou as eleições,<br />
tem maioria no Congresso e po<strong>de</strong> impor a sua vonta<strong>de</strong>, porque estamos no<br />
presi<strong>de</strong>ncialismo. Quem manda é o Presi<strong>de</strong>nte, que faz maioria no Congresso e<br />
consegue aprovar tudo.<br />
Fazem o seguinte: “Está proibida, <strong>de</strong>finitivamente, a pesquisa <strong>de</strong> campo ou<br />
qualquer tentativa biotecnológica no Brasil. Suspen<strong>de</strong>-se qualquer tipo <strong>de</strong> iniciativa<br />
em contrário, inclusive para o uso da insulina”. Pronto, acabou. Está <strong>de</strong>finido, papo<br />
encerrado. E vamos amargar a solidão do abandono e da exclusão.<br />
Ora, o Ministério do Meio Ambiente é muito cuidadoso, extremamente<br />
cauteloso. O CONAMA é uma maravilha, composto <strong>de</strong> intelectuais que legislam<br />
muito mais do que o Congresso Nacional e todas as Câmaras <strong>de</strong> Vereadores do<br />
Brasil. Belíssimo o Conselho! Maravilhoso, espetacular!<br />
Seria melhor se o CONAMA baixasse uma sapientíssima resolução proibindo<br />
o uso <strong>de</strong> comida do Lixão, on<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> brasileiros alimentam-se hoje. Para que<br />
alimentação mais insalubre e mais pestilenta do que a comida podre ingerida por<br />
milhares <strong>de</strong> brasileiros nos Lixões? E o Ministério do Meio Ambiente nada faz.<br />
Ora, é um contra-senso histórico. Precaução... É lógico que todo mundo tem<br />
<strong>de</strong> se prevenir! Mas sem experimentar?<br />
Agora vamos entrar no aspecto constitucional. O impacto ambiental é o tema<br />
mais importante levantado pelo CONAMA, que quer excluir todos os outros<br />
Conselhos, para que se concentre no próprio órgão essa <strong>de</strong>cisão.<br />
Quero saber que estudo se fez sobre impacto ambiental no Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul, on<strong>de</strong> 80% da soja plantada são contraban<strong>de</strong>ados. Quais são as conseqüências<br />
<strong>de</strong>sse plantio contraban<strong>de</strong>ado? Que providência o Ministério do Meio Ambiente<br />
tomará para reparar os danos ambientais provocados pela soja transgênica<br />
contraban<strong>de</strong>ada à luz do Governo do PT, no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul?<br />
Estou emocionado, é lógico. Falei alto, vibrantemente, porque o tema<br />
emociona. As perguntas foram vagas. Apenas expus um ponto <strong>de</strong> vista.<br />
Infelizmente, Prof. Rubens Nodari, embora já o tenha ouvido aqui várias<br />
vezes, não po<strong>de</strong>rei fazê-lo hoje. Mas pegarei as notas taquigráficas e as lerei<br />
<strong>de</strong>pois.<br />
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O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Muito obrigado,<br />
Deputado Confúcio Moura.<br />
Para encerrar o primeiro bloco <strong>de</strong> perguntas, concedo a palavra ao Deputado<br />
Serafim Venzon. (Pausa.) (Ausente.)<br />
Concedo a palavra ao Deputado Darcísio Perondi.<br />
O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Parabéns a V.Exa., Deputado<br />
Leonardo Vilela, ao Deputado Wal<strong>de</strong>mir Moka, Presi<strong>de</strong>nte da Comissão <strong>de</strong><br />
Agricultura e Política Rural, e a todos os funcionários da Comissão pela realização<br />
<strong>de</strong>ste segundo seminário, para o qual foram convidados conferencistas <strong>de</strong> alto nível.<br />
As exposições <strong>de</strong> hoje foram <strong>de</strong> tal riqueza que todos <strong>de</strong>veremos estudar com calma<br />
o material produzido no seminário.<br />
O Dr. Rubens Nodari <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u posição com a qual não concordo, mas<br />
respeito. O Dr. Ernesto Paterniani, que já conhecíamos, é cientista <strong>de</strong> renome no<br />
Brasil e no mundo. O Dr. José Maria Ferreira da Silveira <strong>de</strong>monstrou ter<br />
conhecimento e fez observações em relação a outro companheiro da Mesa, mas<br />
com elegância e abrindo-nos a mente para muitas questões.<br />
Dois conferencistas mostraram que não estamos importando tecnologia, que<br />
não somos pobres em ciência biotecnológica, que <strong>de</strong>senvolvemos pesquisas e<br />
temos empresas e instituições competentes, tais como EMBRAPA, CODETEC,<br />
Instituto Agronômico <strong>de</strong> Campinas, UNICAMP, Viçosa. Enfim, não estamos<br />
importando tecnologia dos gringos, mas foi dito pelo Prof. José Maria da Silveira que<br />
precisamos <strong>de</strong> aliança, socieda<strong>de</strong>, inclusive com empresas multinacionais. Nossa<br />
própria EMBRAPA, com os RETs da vida, está per<strong>de</strong>ndo dinheiro e enfrentando<br />
enorme dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m orçamentária. O problema não surgiu no atual<br />
Governo. No anterior ele já existia, mas agora se agravou. A empresa não está<br />
conseguindo colocar para fora os tais RETs nem cobrar royalties — digo isso porque<br />
os cientistas que os estão criando são brasileiros.<br />
O SR. JOSÉ MARIA FERREIRA JARDIM DA SILVEIRA - Exige-se o<br />
Registro Especial Temporário, porque se consi<strong>de</strong>ra o transgênico um biocida. A soja<br />
Bt, por exemplo, é tratada como pesticida.<br />
O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - O que é um absurdo do<br />
CONAMA. O Dr. Rubens Nodari, que representa o Ministério do Meio Ambiente,<br />
po<strong>de</strong>ria manifestar-se e nos ajudar. Planta biocida é consi<strong>de</strong>rada veneno — por<br />
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exemplo, o feijão resistente ao mosaico dourado, que vai encher o prato do<br />
Programa Fome Zero, que Duda Mendonça veiculou na televisão. O Programa é<br />
motivo <strong>de</strong> orgulho para nós, mas não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver pesquisa sobre o feijão<br />
resistente ao vírus mosaico dourado <strong>de</strong>vido aos RETs. Talvez este ano nós<br />
percamos— se já não per<strong>de</strong>mos, não é, Dr. Paterniani? — , porque é o último ano<br />
para colocar o evento gênico do feijão para as sementeiras produzirem.<br />
Quero fazer uma observação quanto ao mercado <strong>de</strong> soja nos Estados Unidos.<br />
Foi levantada a seguinte dúvida: por que se está plantando menos soja transgênica<br />
nos Estados Unidos? Oh, talvez os americanos estejam percebendo que faz mal ao<br />
meio ambiente! Oh, está intoxicando os rios! Oh, talvez esteja envenenando as<br />
pessoas! Não se afirmou que os americanos estão plantando menos soja<br />
transgênica, mas levantou-se dúvida a respeito disso.<br />
Todos sabemos que o Governo americano oferece subsídio pesado a seus<br />
agricultores, assim como a simpática Europa — e aplaudimos os Bovés da vida<br />
quando vêm para cá. Nos Estados Unidos, planta-se muito milho, e nós nem temos<br />
o milho Bt ainda. Quiçá, resolvida a questão legal, tenhamos o milho Bt daqui a 5<br />
anos. Eles já têm há muito tempo. Quanto ao trigo, queira Deus que a EMBRAPA<br />
<strong>de</strong>scubra uma semente transgênica regional, adaptada ao clima brasileiro, para<br />
produzirmos mais e <strong>de</strong>ixarmos <strong>de</strong> importar o produto. Hoje, o trigo e o milho são<br />
importantes para o mercado norte-americano. Neste momento, o Governo<br />
americano está oferecendo mais subsídios para tais culturas, então o agricultor está<br />
plantando mais milho e trigo, porque vai ganhar mais. Evi<strong>de</strong>ntemente, o agricultor<br />
não vai plantar soja transgênica. Não se po<strong>de</strong> comparar a situação <strong>de</strong> lá com a<br />
daqui. Portanto, o motivo <strong>de</strong> os Estados Unidos estarem plantando menos soja<br />
transgênica são os subsídios, especialmente com a nova Farm Bill, que saiu<br />
recentemente, e não o fato <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rarem o produto um Frankenstein. É<br />
importante dizer isso.<br />
Outro ponto que quero mencionar diz respeito aos princípios da precaução e<br />
da obstrução. O Dr. Fernando Reinach, do grupo Votorantim, que participou da<br />
Comissão <strong>de</strong> Ciência e Tecnologia, falou, num seminário realizado pelo PMDB,<br />
sobre o princípio da precaução versus o princípio da obstrução. Os agricultores<br />
brasileiros estão per<strong>de</strong>ndo com o princípio da precaução. Nossas terras ainda estão<br />
sendo aradas porque não chegaram o milho Bt e o algodão Bt, e a soja Bt é<br />
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amaldiçoada pelo IDEC e pelo Greenpeace, financiado pela indústria mundial do<br />
veneno. Quem vai in<strong>de</strong>nizar-nos pela contaminação — esse é o termo que vale —<br />
<strong>de</strong> nossos lençóis freáticos por veneno, fato que tem acontecido ao longo do tempo<br />
e continuará a ocorrer se for mantido o índice <strong>de</strong> precaução exigido atualmente?<br />
O índice <strong>de</strong> precaução pára a roda da ciência. Aqui estão professores e<br />
cientistas. O básico da ciência são a incerteza e a discordância. Dizer que o índice<br />
<strong>de</strong> precaução tem <strong>de</strong> ser zero é parar tudo. Talvez o Brasil não estivesse livre da<br />
paralisia infantil se Sabin não tivesse inventado a vacina contra a poliomielite.<br />
Oswaldo Cruz quase foi crucificado, no início do século XX, quando <strong>de</strong>scobriu a<br />
vacina contra a febre amarela. Não vou nem falar <strong>de</strong> outros. Estamos repetindo isso.<br />
Gostaria <strong>de</strong> perguntar ao Prof. Ernesto Paterniani quais são os índices <strong>de</strong><br />
contaminação por toxinas — não sei se é esse o termo científico — do alimento<br />
orgânico e do transgênico.<br />
Quero fazer uma última observação, <strong>de</strong>sta vez ao Dr. Rubens Nodari. É óbvio<br />
que as empresas penetram nos Governos, e isso acontece em todos os países do<br />
mundo, em alguns mais, em outros menos. Ele disse que ocorre nos Estados<br />
Unidos. São os gran<strong>de</strong>s grupos da ca<strong>de</strong>ira giratória nos organismos<br />
norte-americanos oficiais ligados ao meio ambiente, à agricultura e à saú<strong>de</strong>. É difícil<br />
controlar isso. Neste ano, discutem-se as agências reguladoras, discussão<br />
provocada pelo Governo atual. Um dos objetivos das agências reguladoras é dar<br />
in<strong>de</strong>pendência aos diretores, que ficam 2 anos no Governo anterior, 2 anos no<br />
Governo posterior — agora tem relação com a eleição, ainda po<strong>de</strong> passar adiante —<br />
com um orçamento <strong>de</strong> taxas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Hoje, o Governo brasileiro quer esvaziar,<br />
asfixiar as agências reguladoras. Não é o que o representante do Ministério do Meio<br />
Ambiente disse aqui, acusando lá em cima.<br />
Hoje está no Ministério do Meio Ambiente a Dra. Marijane Lisboa, que foi<br />
Diretora-Executiva do Greenpeace nos últimos anos. Em uma audiência pública<br />
realizada há 30 dias, entreguei um documento à Ministra Marina Silva. S.Exa. não<br />
respon<strong>de</strong>u. O documento do Greenpeace confirmava que a atual Diretora <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Ambiental, Dra. Marijane — ela po<strong>de</strong> ser competente, honesta e<br />
preparada —, até um dia antes <strong>de</strong> ser convidada pela Ministra Marina Silva,<br />
trabalhava para o Greenpeace, organização não-governamental alimentada por<br />
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gran<strong>de</strong>s grupos internacionais do veneno e pela Europa, que não gosta da<br />
maravilhosa expansão da agricultura brasileira.<br />
Vou repetir a pergunta. o Dr. Nodari, que representa o Ministério do Meio<br />
Ambiente, confirma que a Dra. Marijane é funcionária daquele Ministério e sabia que<br />
ela era funcionária do Greenpeace?<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Agra<strong>de</strong>ço ao Deputado<br />
Darcísio Perondi, um dos autores do requerimento para realização <strong>de</strong>ste seminário.<br />
Gostaria <strong>de</strong>, em primeiro lugar, passar a palavra ao Dr. Nodari para suas<br />
consi<strong>de</strong>rações e, posteriormente, ao Dr. Paterniani, que também foi inquirido.<br />
O SR. RUBENS NODARI - Gostaria <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r ao Sr. Coor<strong>de</strong>nador e aos<br />
<strong>de</strong>mais Deputados. Todos tocaram na questão do princípio da precaução. De fato,<br />
no Brasil, ainda estamos utilizando o princípio da precaução, digamos, em poucas<br />
ativida<strong>de</strong>s, mas, no Ministério do Meio Ambiente, já é tradição bastante antiga.<br />
Talvez valha a pena mencionar que o princípio da precaução nasceu na<br />
Alemanha, em função da chuva ácida. Na Alemanha, existem muitas fábricas <strong>de</strong><br />
produtos químicos — acho que todos conhecemos as empresas que produzem<br />
diferentes grupos químicos. Evi<strong>de</strong>ntemente, a fumaça e os resíduos sólidos <strong>de</strong>sses<br />
produtos, mesmo em partículas muito pequenas, iam para o ar e vinha a chuva. Isso<br />
começou a prejudicar as plantações, a vegetação. Posteriormente, a chuva começou<br />
a causar problemas na pele das pessoas.<br />
Naquela época, surgiu a idéia do princípio da precaução, ou seja, colocar na<br />
legislação algumas exigências, tais como se há poluição e que medidas vamos<br />
tomar para evitá-la. Daí surgiu a idéia dos filtros, e assim por diante.<br />
O princípio da precaução, ao contrário do que alguns pensam, não é risco<br />
zero, não é trancar tudo. É levar em conta, na nossa <strong>de</strong>cisão, a incerteza. A primeira<br />
vez que vi o princípio da precaução tive um choque, porque, nós, da comunida<strong>de</strong><br />
científica, <strong>de</strong>cidimos mais com base no avanço do conhecimento científico e muito<br />
menos no que <strong>de</strong>sconhecemos. Mas o princípio da precaução nos leva a 2 ou 3<br />
proprieda<strong>de</strong>s muito relevantes. Primeiramente, vamos levar em conta também a<br />
incerteza. Vamos dizer o seguinte: se já conhecemos um pouco os efeitos, então<br />
vamos evitá-los. A isso chamamos <strong>de</strong> risco.<br />
Há outra parte do fenômeno que não conhecemos, ou conhecemos<br />
parcialmente, que chamamos <strong>de</strong> incerteza. E há ainda outra parte do fenômeno que<br />
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não conhecemos, sobre o qual somos ignorantes e que nem passou pela nossa<br />
cabeça que possa existir. A idéia do princípio da precaução é transformar algumas<br />
incertezas em riscos. Para fazer isso, precisamos aprofundar o conhecimento, temos<br />
<strong>de</strong> conseguir <strong>de</strong>tectar a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência e ter certa idéia da magnitu<strong>de</strong><br />
do efeito. Então, a idéia do princípio da precaução é diminuir um pouco a incerteza.<br />
Em hipótese alguma, nós, do Ministério do Meio Ambiente, queremos risco<br />
zero. Isso não passa pela nossa cabeça. A Ministra Marina Silva, no discurso <strong>de</strong><br />
posse e nas entrevistas que conce<strong>de</strong>u, disse que nós, do Ministério, <strong>de</strong>vemos fazer<br />
a coisa certa — S.Exa. usou a expressão “fazer <strong>de</strong> forma correta”. A forma correta,<br />
no caso do transgênico, baseia-se na hipótese <strong>de</strong> que <strong>de</strong>terminado transgênico não<br />
serve para nós, mas outro po<strong>de</strong> servir. O outro vai ser condicionado a algo. Essa é a<br />
forma correta. Portanto, o princípio da precaução não é para trancar nada, ao<br />
contrário do que às vezes se pensa.<br />
O Ministério do Meio Ambiente está regulamentando a Resolução nº 305 do<br />
CONAMA, em vigor <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong> julho do ano passado. E, neste Governo, já<br />
conseguimos elaborar o termo <strong>de</strong> referência, que já mencionei aqui, a fim <strong>de</strong> que as<br />
empresas, tais como a EMBRAPA, possam fazer sua pesquisa <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> forma<br />
segura.<br />
De outro lado, o princípio da precaução leva em conta alternativas. Ou seja,<br />
se existe um problema e há uma proposição para resolvê-lo com alternativa, o órgão<br />
ambiental, por natureza do princípio da precaução, pe<strong>de</strong> ao proponente alternativas<br />
para resolver a questão. Isso, às vezes, causa algum <strong>de</strong>sentendimento. A idéia do<br />
princípio da precaução é olhar para o interesse maior da socieda<strong>de</strong>: a qualida<strong>de</strong><br />
ambiental. Portanto, o fato <strong>de</strong> queremos preservar o meio ambiente, no fundo, tem<br />
implicação na saú<strong>de</strong>, porque hoje já está comprovada a relação entre qualida<strong>de</strong><br />
ambiental e saú<strong>de</strong>. Inclusive já ocorreram vários congressos sobre o princípio da<br />
precaução nos últimos anos.<br />
Não sei se esclareci tal princípio. Ele tem outros componentes, e nós, da<br />
socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>veríamos discuti-lo mais profundamente, porque ele está alastrando-se<br />
cada vez mais.<br />
No que se refere ao RET, o Ministério do Meio Ambiente cumpriu a<br />
<strong>de</strong>terminação judicial <strong>de</strong> normatizar a emissão do registro especial temporário para<br />
OGMs, ou seja, para transgênicos que tenham características <strong>de</strong> agrotóxicos. Mas<br />
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isso não é <strong>de</strong>corrente da Lei <strong>de</strong> Biossegurança nem do IBAMA, e sim da Lei <strong>de</strong><br />
Agrotóxicos. Ou seja, estamos cumprindo <strong>de</strong>terminações do Po<strong>de</strong>r Judiciário e <strong>de</strong>sta<br />
Casa.<br />
Não é apenas o Brasil que consi<strong>de</strong>ra veneno os transgênicos com<br />
características biocidas, mas também os Estados Unidos e a APA. Quem registra o<br />
milho Bt nos Estados Unidos é a Agência <strong>de</strong> Proteção Ambiental. Em outros países,<br />
também é assim. Não estamos inovando nada, apenas cumprindo a lei.<br />
Finalmente, gostaria <strong>de</strong> dizer ao Deputado Confúcio Moura, que, infelizmente,<br />
não se encontra presente, que vou levar ao conhecimento da Ministra Marina Silva o<br />
que S.Exa. disse em relação aos lixões.<br />
Os senhores hão <strong>de</strong> convir que o Presi<strong>de</strong>nte Lula está mais preocupado com<br />
a questão do que nós. Se <strong>de</strong>r certo o Programa Fome Zero, esperamos que os<br />
lixões não sejam mais visitados por pessoas.<br />
Com relação ao impacto ambiental na soja do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, o que tenho<br />
a dizer é que faço parte do atual Governo há pouco tempo e não tenho mandato<br />
para <strong>de</strong>fendê-lo, mas gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar minha impressão a respeito <strong>de</strong>ssa questão<br />
ambiental. Herdamos esse problema, como Governo e como socieda<strong>de</strong>. O fato<br />
positivo é que o Governo está enfrentando a questão.<br />
Não temos elementos completos para fazer a avaliação <strong>de</strong> impacto nessa<br />
soja, pois <strong>de</strong>víamos ter analisado alguns parâmetros antes e <strong>de</strong>pois do plantio. O<br />
Ministério do Meio Ambiente sempre apregoou que, antes da liberação comercial,<br />
fossem realizados esses estudos. Assim, teríamos base científica para dizer se está<br />
tudo bem ou não. Não gostaríamos <strong>de</strong>, neste momento, assinar um cheque em<br />
branco, porque, <strong>de</strong> fato, não teríamos como saber das implicações.<br />
Com relação ao que perguntou o Deputado Darcísio Perondi sobre a Dra.<br />
Marijane Lisboa, o assunto já foi respondido pela Ministra quando esteve nesta<br />
Casa. Portanto, julgo que posso ser dispensado <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r à pergunta.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Pois não. Deputado<br />
Wal<strong>de</strong>mir Moka e <strong>de</strong>pois... (Falha na gravação.)<br />
O SR. JOSÉ MARIA FERREIRA JARDIM DA SILVEIRA - Gostaria <strong>de</strong> me<br />
reportar a alguns <strong>de</strong>talhes técnicos. Hoje temos um transgênico, estamos<br />
aproveitando uma característica. Talvez, no futuro, tenhamos manipulações mais<br />
complexas. Fica a dúvida do quanto se vai exigir. Por exemplo, nesse dado do<br />
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registro, é puro evento. Então, se se está testando uma série <strong>de</strong> eventos, tem-se <strong>de</strong><br />
tirar um registro para cada um <strong>de</strong>les, que fazem parte do mesmo experimento. É<br />
uma fantástica burocracia. Duvido que a equipe exija <strong>de</strong>ssa maneira. Esse seria o<br />
primeiro ponto.<br />
O segundo ponto é como o Brasil se posiciona com relação à Convenção<br />
sobre Diversida<strong>de</strong> Biológica, ou seja, a que grupo ele a<strong>de</strong>re. Não se po<strong>de</strong> passar a<br />
impressão <strong>de</strong> que, por existir a Convenção e o Ministério do Meio Ambiente com ela<br />
concordar, todos os elementos legais a serem <strong>de</strong>cididos terão <strong>de</strong> ser aceitos pela<br />
legislação brasileira.<br />
A questão do princípio da precaução é usada nesse acordo fundamentado<br />
prévio. Por exemplo, para a doação <strong>de</strong> pesticidas pelo Japão para certos países do<br />
Terceiro Mundo, que são chamados donors, existe um protocolo no sentido <strong>de</strong> que<br />
esses países avisavam à FAO que os estavam recebendo e que existia um<br />
consentimento mútuo, tanto da entrega, quanto do recebimento, e que eles estavam<br />
cientes <strong>de</strong> alguns riscos ambientais. Estamos falando <strong>de</strong> DDT, e não <strong>de</strong> soja<br />
transgênica. Estamos falando <strong>de</strong> coisas perigosas.<br />
Portanto, muitos <strong>de</strong>sses cuidados, por exemplo, para pesticidas foram<br />
transferidos aos protocolos <strong>de</strong> biossegurança na questão do transfronteiriço <strong>de</strong><br />
organismos geneticamente modificados.<br />
Realmente, existe uma pauta em que há transformação da incerteza em risco.<br />
Esses protocolos internacionais têm <strong>de</strong> servir para que isso seja algo razoável,<br />
porque, se exigirem níveis extremamente sofisticados... Por exemplo, a soja é<br />
utilizada em 99,5% dos alimentos. Quanto mais complexa for essa mistura, mais<br />
difícil e mais cara custará a rotulagem — falaram em 10%, mas a estimativa po<strong>de</strong><br />
chegar a 17%. A margem da agricultura nem sempre é essa.<br />
É preciso pensar em como se chegar a acordos viáveis também do ponto <strong>de</strong><br />
vista das exigências <strong>de</strong> impacto e em quais são os resultados. O protocolo do<br />
acordo prévio permite que um país não aceite os resultados <strong>de</strong> outro. Se os Estados<br />
Unidos dizem que um local é seguro, eu posso dizer que não é. E isso está correto<br />
no que se refere à <strong>de</strong>fesa da soberania nacional. Concordo.<br />
No entanto, temos <strong>de</strong> ser inteligentes, se isso nos interessa. Até que ponto<br />
vou usar algumas informações, fornecidas por aqueles agentes, que se aplicam ao<br />
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Brasil? E não vou exigir que tudo seja feito novamente — um pouco <strong>de</strong>sses<br />
experimentos referidos pelo Prof. Paterniani.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Concedo a palavra ao<br />
Dr. Ernesto Paterniani.<br />
O SR. ERNESTO PATERNIANI - O Deputado Darcísio Perondi solicita que eu<br />
fale primeiramente sobre toxinas nos alimentos orgânicos. Não é bem esse nosso<br />
assunto, mas está relacionado a ele, porque se mencionou que os transgênicos<br />
po<strong>de</strong>m afetar o organismo.<br />
A agricultura orgânica é aquela que não usa agroquímicos nem adubos<br />
minerais solúveis, com exceção do cloreto <strong>de</strong> potássio, e é baseada essencialmente<br />
na adubação orgânica, feita com estercos <strong>de</strong> animais. Devido a essas limitações, é<br />
uma agricultura <strong>de</strong> baixa produtivida<strong>de</strong> e que exige muita mão-<strong>de</strong>-obra, porque os<br />
insetos têm <strong>de</strong> ser controlados manualmente. Então, evi<strong>de</strong>ntemente, o produto é<br />
caro, e ela se <strong>de</strong>stina a uma classe <strong>de</strong> alto po<strong>de</strong>r aquisitivo, que foi convencida <strong>de</strong><br />
que esses produtos são mais saudáveis, quando, na verda<strong>de</strong>, alguns trabalhos nos<br />
Estados Unidos mostraram que produtos da agricultura orgânica têm muito mais<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contaminação com microorganismos. Lá apareceu uma mutação<br />
na bactéria Escherichia coli, chamada mutação O157, extremamente virulenta, que<br />
ataca o fígado e o rim. E existem estatísticas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997, se não me engano, <strong>de</strong><br />
que milhares <strong>de</strong> pessoas foram afetadas e cerca <strong>de</strong> 300 morreram.<br />
A agricultura orgânica nos Estados Unidos é responsável por 1% <strong>de</strong> toda a<br />
agricultura americana, mas também é responsável por 7% das doenças, inclusive o<br />
câncer. Quer dizer, quem come produtos da agricultura orgânica tem 7 vezes mais<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter câncer do que quem come produtos da agricultura convencional.<br />
Não sou especialista no assunto, mas o Deputado Darcísio Perondi perguntou, e<br />
estou apenas transmitindo esses dados.<br />
Acho que a agricultura orgânica é um excelente negócio para o agricultor,<br />
porque ele ganha muito dinheiro, e sempre sou favorável ao agricultor. Se ele<br />
produz algo e pessoas com alto po<strong>de</strong>r aquisitivo estão dispostas a pagar um preço<br />
mais caro e dar lucro para o agricultor, acho ótimo, e tudo bem.<br />
Isso também envolve o princípio da precaução. E pergunto: alguém se<br />
preocupou com o princípio da precaução no uso da agricultura orgânica? Qual é a<br />
segurança <strong>de</strong> que uma planta subnutrida, menos nutrida do que uma planta que<br />
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recebe adubação completa, é mais saudável? Gostaria <strong>de</strong> saber <strong>de</strong> alguém que<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o princípio da precaução como é que ele <strong>de</strong>ve ser utilizado nesse caso.<br />
O princípio da precaução, que consi<strong>de</strong>ro importante, <strong>de</strong>ve ser usado<br />
racionalmente, com base científica, e não como está sendo usado no Brasil, ou seja,<br />
com obstrução.<br />
Tenho um trabalho muito bom sobre o princípio da precaução, cujo título é<br />
Segurança Absoluta é Absolutamente Impossível. Então, o princípio da precaução<br />
contém risco. Quando se segue o princípio da precaução, isso significa que vamos<br />
tomar uma <strong>de</strong>cisão baseada no princípio da precaução — ora, toda <strong>de</strong>cisão tem o<br />
risco <strong>de</strong> estar errada.<br />
O Deputado Darcísio Perondi já mostrou os riscos <strong>de</strong> precaução no passado:<br />
vacinas que levaram a problemas muito sérios. Mas vou dar um exemplo do lado<br />
perverso do princípio da precaução que ocorreu na última safra <strong>de</strong> algodão<br />
transgênico na Índia. Na Índia é mais ou menos parecido com o Brasil: os<br />
transgênicos estão proibidos, mas a pesquisa é mais avançada do que aqui. E, na<br />
última safra, muitos agricultores plantaram ilegalmente o algodão Bt, proibido, como<br />
é a soja transgênica no Brasil. O que aconteceu nesse ano? Houve violento ataque<br />
<strong>de</strong> lagarta rosada no algodão, acarretando gran<strong>de</strong> perda na safra. Faltou fibra para<br />
as indústrias, e o problema foi tão sério que muitos agricultores se suicidaram. O<br />
Presi<strong>de</strong>nte da Índia, que tem formação científica, baseado nesse fato, tomou atitu<strong>de</strong><br />
parecida com a do nosso Presi<strong>de</strong>nte. Aproveitou o dia 26 <strong>de</strong> janeiro, em que se<br />
comemoram 54 anos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência da Índia, e aprovou o algodão transgênico.<br />
Pergunto: será que é necessário esperar uma emergência <strong>de</strong>sse tipo para se tomar<br />
uma <strong>de</strong>cisão? Isso tudo esteve baseado, portanto, no princípio da precaução.<br />
Quando o Deputado Confúcio Moura referiu-se aos projetos “invotáveis”,<br />
mencionou, inclusive, o Greenpeace. A atual coor<strong>de</strong>nadora do Greenpeace<br />
conce<strong>de</strong>u, recentemente, entrevista em São Paulo, e numa das respostas ela disse<br />
o seguinte: “Se alguém tem esperança <strong>de</strong> que um dia o Greenpeace aprove os<br />
transgênicos, po<strong>de</strong> esquecer. Isso nunca vai acontecer”. Essa é uma afirmativa<br />
i<strong>de</strong>ológica, não científica. Pergunto ao amigo sentado ao meu lado, um excelente<br />
cientista, se existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se discutir ciência com uma afirmação <strong>de</strong>ssas.<br />
Não tem sentido discutir ciência em face <strong>de</strong> posições dogmáticas e imutáveis. Essa<br />
é a realida<strong>de</strong>.<br />
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Finalmente, foi mencionado o problema do Registro Especial Temporário —<br />
RET. Uma planta, na qual foi incluído um gene para resistência a certos vírus, é<br />
consi<strong>de</strong>rada, para todos os efeitos, como agroquímico. Mas não me respon<strong>de</strong>ram<br />
ainda a outra pergunta. O Bacilus thuringiensis é uma bactéria que possui cerca <strong>de</strong><br />
140 genes, que produzem toxinas contra insetos. Essa bactéria é usada como<br />
inseticida na agricultura orgânica, pulveriza-se na planta. É a única permitida. Só que<br />
ela não é consi<strong>de</strong>rada um inseticida, então não precisa <strong>de</strong> RET. Tira um gene e<br />
coloca no milho, e o milho vira um inseticida. A bactéria possui 140 genes, que<br />
produzem uma série <strong>de</strong> toxinas, e não é inseticida — está na lei —, mas coloca-se<br />
um gene no milho ou no algodão, o que for, e ele vira <strong>de</strong> imediato um agroquímico.<br />
Obrigado.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Peço aos nobres<br />
Deputados e aos palestrantes que sejam objetivos nas perguntas e respostas.<br />
or<strong>de</strong>m.<br />
Concedo a palavra ao Deputado Wal<strong>de</strong>mir Moka, para réplica.<br />
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presi<strong>de</strong>nte, peço a palavra pela<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Tem V.Exa. a palavra.<br />
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Há Deputados inscritos, mas o <strong>de</strong>bate<br />
está centralizado nos membros da Mesa. Quem já falou fala novamente.<br />
Fizeram-nos uma enorme crítica, foram embora, e ficamos apenas aplaudindo.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Passaremos ao<br />
segundo bloco <strong>de</strong> perguntas, mas antes ouviremos a réplica do Deputado Wal<strong>de</strong>mir<br />
Moka.<br />
O SR. DEPUTADO WALDEMIR MOKA - Sr. Presi<strong>de</strong>nte, estou<br />
suficientemente esclarecido <strong>de</strong>pois da intervenção dos dois expositores.<br />
Agra<strong>de</strong>ço ao professor a gentil resposta.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Passemos ao segundo<br />
bloco <strong>de</strong> perguntas.<br />
Concedo a palavra ao Deputado Francisco Turra. (Pausa.) Ausente.<br />
Concedo a palavra ao Deputado Adão Pretto.<br />
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presi<strong>de</strong>nte, prezados colegas,<br />
primeiramente, repudio a atitu<strong>de</strong> do Deputado Confúcio Moura, que nos fez enorme<br />
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crítica e <strong>de</strong>pois saiu. Não vou respon<strong>de</strong>r agora a S.Exa., porque os senhores nada<br />
têm a ver com o caso.<br />
Fico muito feliz com este <strong>de</strong>bate, porque ilustres cientistas tiram nossas<br />
dúvidas. Baseamo-nos no que dizem os cientistas e somos favoráveis às<br />
tecnologias, ao contrário do que disseram, e inclusive apostamos nisso.<br />
A EMBRAPA foi praticamente <strong>de</strong>smontada pelos Governos anteriores.<br />
Queremos fazer com que esse órgão <strong>de</strong>senvolva a pesquisa.<br />
O professor da UNICAMP disse que recebe um salário altíssimo e po<strong>de</strong><br />
consumir produtos orgânicos. Isso para mim tem valor fundamental, clareou muita<br />
coisa. Mas, sendo rápido, a fim <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r ao pedido do Presi<strong>de</strong>nte para limitarmos<br />
o tempo, eu queria perguntar ao professor...<br />
O SR. JOSÉ MARIA FERREIRA JARDIM DA SILVEIRA - A minha mulher é<br />
quem compra os produtos.<br />
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - E o senhor adora, não é? (Risos.)<br />
Eu queria fazer apenas uma pergunta ao Prof. Nodari. As multinacionais vêm<br />
instalar-se no Brasil não para ajudar o povo, mas para enriquecer, buscar lucro. Isso<br />
acontece no Brasil e em outros países do mundo. Sabemos que a Monsanto é uma<br />
das maiores produtoras <strong>de</strong> veneno do mundo. Então, o que <strong>de</strong>u na Monsanto para<br />
criar agora um produto que economiza veneno? O que <strong>de</strong>u nessa multinacional, que<br />
<strong>de</strong>sviou <strong>de</strong> rota em relação às <strong>de</strong>mais?<br />
Obrigado.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Dando continuida<strong>de</strong>,<br />
passo a palavra ao Deputado Orlando Desconsi.<br />
O SR. DEPUTADO ORLANDO DESCONSI - Sr. Presi<strong>de</strong>nte, colegas<br />
Deputados, <strong>de</strong>batedores e <strong>de</strong>mais autorida<strong>de</strong>s presentes, a discussão é muito rica e<br />
importante. Trata-se <strong>de</strong> tema polêmico, e precisamos <strong>de</strong> serenida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>batê-lo.<br />
Nós, que militamos no PT há muito tempo, apanhamos muito quando nadávamos<br />
contra a maré, porque os meios <strong>de</strong> comunicação e boa parte da elite brasileira,<br />
aliada a partidos com concepção i<strong>de</strong>ológica, <strong>de</strong>fendiam que o mo<strong>de</strong>rno eram as<br />
privatizações. Hoje, o Brasil se ressente <strong>de</strong> processo que levou boa parte — ainda<br />
bem que não foi tudo — <strong>de</strong> importantes setores. O discurso que vendiam à época<br />
era que o cidadão teria todas as vantagens, mas o que vemos hoje é que pagamos<br />
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preço bastante caro pelas privatizações. Até estradas foram sucateadas para serem<br />
privatizadas, e assim por diante.<br />
No Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, <strong>de</strong>fendíamos a vacinação contra a febre aftosa.<br />
Tentamos inúmeras vezes nesta Comissão trazer o Ministro Pratini e o Secretário <strong>de</strong><br />
Agricultura do Estado, para que pudéssemos encontrar uma solução negociada.<br />
Nunca tivemos o apoio da maioria <strong>de</strong>sta Comissão, que, na verda<strong>de</strong>, impedia que<br />
<strong>de</strong>batêssemos o assunto e tentássemos encontrar uma saída negociada. O tempo<br />
provou que o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul estava certo na busca da vacinação e que esse era<br />
o único caminho possível, uma vez que Estados e países vizinhos, como a<br />
Argentina, não exerciam controle suficiente.<br />
Portanto, precisamos ter cautela, sim. O <strong>de</strong>bate é apaixonante, e temos<br />
muitos acordos, como, por exemplo, com a pesquisa séria, financiada com dinheiro<br />
público, e não com a empresa interessada. Temos <strong>de</strong> fazer pesquisa, e ela tem <strong>de</strong><br />
nos dar a orientação e a <strong>de</strong>cisão, para tomarmos a <strong>de</strong>cisão política. O estudo<br />
técnico é fundamental para que tenhamos segurança. Acho que todas as visões<br />
políticas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a pesquisa. Não consigo compreen<strong>de</strong>r que alguns ainda<br />
insinuem que há alguém contra a pesquisa.<br />
A ciência trouxe para a humanida<strong>de</strong> excelentes avanços — alguns <strong>de</strong>les<br />
inimagináveis há poucos anos —, mas também trouxe problemas. Boa parte dos<br />
atuais vírus prejudiciais à saú<strong>de</strong> foram produzidos em laboratório. E agora temos<br />
mais uma gripe, cuja origem é <strong>de</strong>sconhecida. Há pouco tempo, uma novela tratou <strong>de</strong><br />
tema muito caro para a ciência: a clonagem. A ovelha Dolly, símbolo <strong>de</strong>ssa<br />
experiência, foi sacrificada pelos próprios criadores. Por quê? Porque a ciência<br />
também erra. Logo, não vamos dizer que tudo o que vem da ciência é <strong>de</strong> Deus, e<br />
que tudo que não vem da ciência é do diabo.<br />
Precisamos ter serenida<strong>de</strong> e cautela para tomar <strong>de</strong>cisões, e, às vezes, é<br />
necessário ter tempo para se fazer uma análise mais completa e com maior<br />
segurança.<br />
Há risco <strong>de</strong> o Brasil per<strong>de</strong>r o monopólio, como país da soberania alimentar,<br />
na medida em que nossa tecnologia estiver nas mãos <strong>de</strong> empresa internacional que<br />
hoje está num país que há pouco estava em guerra, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> acusar o Iraque <strong>de</strong><br />
ter armas químicas. A ONU foi lá, vasculhou e não encontrou nada.<br />
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Amanhã, nós, brasileiros, não po<strong>de</strong>remos ser a próxima vítima, por termos<br />
uma agricultura forte e capaz <strong>de</strong> ser uma ameaça para eles? Possuímos a Amazônia<br />
e água, riquezas insubstituíveis. Não po<strong>de</strong>mos ser impedidos <strong>de</strong> ter sementes? Eles<br />
não po<strong>de</strong>m impor ao País que tenhamos somente as sementes que eles querem<br />
para plantar? Deixo registradas essas questões.<br />
Não é irrelevante o fato <strong>de</strong> o consumidor querer saber o que está<br />
consumindo. Ele <strong>de</strong>ve ter o direito <strong>de</strong> saber o que está consumindo. No Rio Gran<strong>de</strong><br />
do Sul, há forte resistência em relação à rotulagem. Não querem rotular.<br />
O discurso antes da medida provisória era um. Pediam pelo amor <strong>de</strong> Deus<br />
que se resolvesse o problema <strong>de</strong>ssa safra. O Governo anterior teve 8 anos, mas não<br />
discutiu nem resolveu o problema dos transgênicos.<br />
Quero dizer ao Deputado Confúcio Moura, que, infelizmente, não está<br />
presente, que não temos maioria na base do Governo, mas eles tiveram maioria. A<br />
Oposição não tinha 120 Deputados nos 8 anos do Governo Fernando Henrique, que<br />
não tomou providências em relação a esse tema. Querem que o Governo Lula tome<br />
todas as <strong>de</strong>cisões em 6 meses, para que a pressa possa facilitar o interesse <strong>de</strong><br />
quem não busca, pela via legal, os instrumentos <strong>de</strong> que precisamos para ter no<br />
Brasil a situação dos transgênicos resolvida <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>finitiva.<br />
Quero saber dos expositores por que a empresa buscou o caminho da<br />
ilegalida<strong>de</strong>, usando os agricultores para tencionar a aprovação <strong>de</strong>sse processo. Por<br />
que não foi citada a questão dos royalties? São vendidas vantagens para o agricultor<br />
nesse primeiro momento.<br />
No jornal O Estado <strong>de</strong> S.Paulo, do dia 6, foram publicadas as seguintes<br />
manchetes: Monsanto quer “royalties” sobre transgênicos e Multinacional planeja<br />
cobrar <strong>de</strong> exportador para que este force o agricultor a pagar. Isso não era dito aos<br />
agricultores por quem <strong>de</strong>fendia os transgênicos.<br />
Qual é a explicação real dos Estados Unidos, que adotaram essa tecnologia e<br />
não acabaram com a fome? Muitos dizem que o produto transgênico vai acabar com<br />
a fome. Na Argentina, foi usado o transgênico, mas a fome aumentou. Portanto, o<br />
produto transgênico nada tem a ver com a fome. Na minha opinião, o que tem a ver<br />
com a fome é termos produção e distribuição <strong>de</strong> renda. E o Brasil, felizmente, po<strong>de</strong><br />
melhorar a terra e aumentar a área produtiva, por meio <strong>de</strong> tecnologia.<br />
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Número: 0453/03 Data: 08/05/03<br />
Portanto, somos uma ameaça, sim, aos Estados Unidos, que não têm mais<br />
como expandir sua produção. Por que o interesse em que se adote a transgenia no<br />
País? Para ficarmos na mesma condição e per<strong>de</strong>rmos o mercado <strong>de</strong> outros países<br />
que preferem o produto não transgênico.<br />
A China, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> setembro, está impondo restrições à importação <strong>de</strong> produto<br />
transgênico. Quer saber do rastreamento. Os agricultores que estão plantando com<br />
semente ilegal e mantendo-a em casa não vão mais po<strong>de</strong>r ven<strong>de</strong>r soja. Isso tem <strong>de</strong><br />
ser dito, porque vai ter <strong>de</strong> ser feito o rastreamento.<br />
Então, precisamos fazer um <strong>de</strong>bate sereno, transparente, sério. Tenho<br />
certeza <strong>de</strong> que todos querem a mesma coisa, ou seja, que a ativida<strong>de</strong> agrícola seja<br />
sustentável, tenha bons resultados e que o agricultor possa ter qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e,<br />
se possível, trabalhar menos, porque realiza um trabalho penoso.<br />
Concordamos que é preciso diminuir o veneno, e é isso que diz o Deputado<br />
Adão Pretto. É estranho o fato <strong>de</strong> que a empresa que ven<strong>de</strong> 38% dos venenos no<br />
Brasil, a Monsanto, tenha agora interesse <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r veneno com semente, porque o<br />
Roundup usado é veneno. Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser veneno. Isso também precisa ser dito.<br />
Eu tenho mais coisas a dizer, mas vou parar por aqui, concluindo com uma<br />
última pergunta sobre a experiência tão <strong>de</strong>batida do plantio direto, que teve, sem<br />
dúvida, muitos avanços. Existem outras experiências <strong>de</strong> plantio direto que po<strong>de</strong>m<br />
ser feitas sem o uso do secante, ou seja, sem usar essa tecnologia? Se não existe,<br />
não foi um instrumento usado como pacote agrícola para chegarmos à situação <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pendência? Por que os agricultores não conseguem controlar o inço nos dias <strong>de</strong><br />
hoje?<br />
Obrigado.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Obrigado, Deputado<br />
Orlando Desconsi.<br />
Para encerrar o segundo bloco <strong>de</strong> perguntas, passo a palavra ao Deputado<br />
Pompeo <strong>de</strong> Mattos.<br />
O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS - Sr. Presi<strong>de</strong>nte, Sras. e Srs.<br />
Deputados, senhoras e senhores, sou Deputado Fe<strong>de</strong>ral pelo PDT, partido <strong>de</strong><br />
esquerda. Nossa história comprova isso, e acho que não temos <strong>de</strong> “i<strong>de</strong>ologizar” o<br />
que é tecnologia. Uma coisa é i<strong>de</strong>ologia, outra é tecnologia. E hoje isso está bem<br />
<strong>de</strong>finido. Quem é da Esquerda é contra o produto transgênico, quem é da Direita é a<br />
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favor. Isso se consolidou no meu Estado, o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Aliás, dizem que<br />
somos da Direita e a favor do transgênico. Rotularam-nos assim. No Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul, a coisa evoluiu tanto que este <strong>de</strong>bate não tinha <strong>de</strong> ser feito aqui, mas naquele<br />
Estado.<br />
Eu ouvi, e não querem me ouvir. Aliás, fizemos um <strong>de</strong>bate nesse final <strong>de</strong><br />
semana, e o senhor não compareceu. Eu fui.<br />
O SR. DEPUTADO ORLANDO DESCONSI - Não fui convidado.<br />
O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS - Foi convidado. Tanto que estava<br />
lá o seu representante.<br />
seminário.<br />
O SR. DEPUTADO ORLANDO DESCONSI - Não fui convidado.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Vamos ater-nos ao<br />
O SR. DEPUTADO ORLANDO DESCONSI - Fui atacado e gostaria <strong>de</strong><br />
respon<strong>de</strong>r. O convite foi feito <strong>de</strong> última hora ao meu colega Deputado, que falou<br />
autorizado por mim e também em meu nome. Já tinha outra agenda, e ninguém me<br />
convidou. Inclusive nem ele foi convidado oficialmente.<br />
O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS - Então, o senhor foi convidado<br />
não a tempo. Houve o <strong>de</strong>bate. A coisa evoluiu a ponto <strong>de</strong> irem lá e queimarem a<br />
pesquisa. Nunca tinha visto isso. O Governo do Estado, inclusive na companhia <strong>de</strong><br />
li<strong>de</strong>rança do meu partido, o PDT, que estava no Governo. Foram lá e queimaram a<br />
pesquisa. Invadiram uma proprieda<strong>de</strong> para queimar outra pesquisa. Foram à<br />
EMBRAPA para queimar pesquisa também. Parece a história da Joana D’Arc. Não<br />
se respeitou a lei.<br />
O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Sr. Presi<strong>de</strong>nte, o palestrante está<br />
falando. Gostaria que V.Exa. pedisse silêncio ao Plenário. O Deputado Pompeo <strong>de</strong><br />
Mattos ficou quieto, ouvindo e agora está dando seu parecer.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - De acordo. Prossiga,<br />
Deputado Pompeo <strong>de</strong> Mattos.<br />
O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS - Repito: a coisa evoluiu tanto que<br />
um grupo <strong>de</strong> pessoas, li<strong>de</strong>ranças importantes dos sem-terra — sou filho <strong>de</strong> um sem-<br />
terra e não nego minha origem — abraçou a idéia e passou a vistoriar a lavoura.<br />
Constatou-se visualmente, porque não havia tecnologia disponível, que a cultura era<br />
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<strong>de</strong> soja transgênica e queimaram-na. Roçaram a lavoura. Criou-se, então, uma<br />
situação perigosa.<br />
Reconheço que o tema é palpitante, mas não po<strong>de</strong>mos levar para a questão<br />
i<strong>de</strong>ológica. Sempre digo que nós, políticos, sabemos <strong>de</strong> tudo um pouco. Po<strong>de</strong>m<br />
puxar qualquer assunto. Sabemos <strong>de</strong> tudo um pouco. Sobre qualquer assunto sei<br />
alguma coisa, não tudo, obviamente. A tecnologia é algo muito especial. Sei um<br />
pouquinho sobre os transgênicos. Mesmo os pesquisadores e cientistas não sabem<br />
tudo a respeito dos transgênicos. A única coisa que po<strong>de</strong>m afirmar é que eles não<br />
fazem mal à saú<strong>de</strong>. O ser humano po<strong>de</strong> comê-los como o faz com qualquer outro<br />
alimento. Estou apren<strong>de</strong>ndo mais sobre o tema com dois cientistas. Um <strong>de</strong>les,<br />
professor universitário; outro, do quadro da EMBRAPA. Eles falam que a tecnologia<br />
dos transgênicos é da Monsanto. Sei lá quem é essa empresa. Não sei nem se a<br />
mão <strong>de</strong>la é santa mesmo.<br />
Segundo o Deputado Orlando Desconsi, a Monsanto vai cobrar royalties. É<br />
claro que vai. Eu mesmo componho algumas músicas — sou um pouco poeta.<br />
Gravei um CD pelo qual recebo royalty, embora muito pequeno. Quem compõe e<br />
grava um CD, logicamente quer seus direitos autorais.<br />
O que faz o consumidor quando compra um CD a R$ 25,00? Pirateia com<br />
ele outros tantos. A Monsanto não po<strong>de</strong> cobrar royalty muito alto. Se assim o fizer, o<br />
consumidor vai comprar uma saca <strong>de</strong> transgênicos e <strong>de</strong>la fazer outras. Se o produto<br />
pirateado tiver bom preço, é claro que o agricultor vai comprá-lo.<br />
Critico a Monsanto por querer cobrar a safra atual. Para cobrá-la, vai ter <strong>de</strong><br />
entrar na Justiça. Sabe por que não vai fazê-lo? Porque, espertamente, ajudou a<br />
difundir a tecnologia para mostrar que era boa e no futuro <strong>de</strong>la se beneficiar. Ela<br />
não po<strong>de</strong> dar o pulo do gato. Vai chegar a hora <strong>de</strong> ela, lícita, justa e legalmente, ter<br />
o que <strong>de</strong> direito lhe pertence.<br />
Nossa tecnologia <strong>de</strong>ve ser clara e transparente, a fim <strong>de</strong> que possamos ter<br />
liberda<strong>de</strong>. Se disserem que o transgênico vai ser muito caro, tudo bem. Afinal<br />
quem o produziu, principalmente neste momento <strong>de</strong> crescimento da ciência, investiu<br />
e tem direito a vendê-lo com lucro. Quem compra o transgênico e o semeia está<br />
fazendo seu negócio. A agricultura é um bom negócio. Quem está comprando esses<br />
grãos <strong>de</strong> soja é porque consi<strong>de</strong>ra estar fazendo bom negócio. Se o mercado estiver<br />
bom, muito bem; senão — talvez por causa <strong>de</strong> a semente ser muito cara, <strong>de</strong> o<br />
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consumidor ficar receoso <strong>de</strong> consumir o produto —, voltaremos a plantar soja<br />
convencional. Quem vai dar o rumo dos transgênicos é o mercado. Estamos<br />
orientados pela ciência. Não po<strong>de</strong>mos ter medo. Não são os políticos que dirão se o<br />
produto transgênico é bom ou mau. Temos <strong>de</strong> avaliar as pesquisas e <strong>de</strong>bater o<br />
assunto. Não po<strong>de</strong>mos inventar uma i<strong>de</strong>ologia e fazer como o cavalo do pa<strong>de</strong>iro que<br />
olha só para um lado para não ver o que acontece ao redor. No mundo inteiro estão<br />
acontecendo coisas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto.<br />
Minha posição a respeito do assunto é muito clara. Temos <strong>de</strong> ter muito<br />
cuidado ao <strong>de</strong>batemos tão importante tema. Queremos liberda<strong>de</strong>. Ou seja, se<br />
plantamos, colhemos e comercializamos transgênicos, teremos um produto<br />
industrializado carimbado como tal. Ninguém <strong>de</strong>ve ter medo <strong>de</strong>sse rótulo. A própria<br />
medida provisória do Governo Lula já o rotulou. O transgênico está rotulado na<br />
medida provisória enviada ao Congresso pelo Presi<strong>de</strong>nte Lula. Diz a medida<br />
provisória que, se houver uma percentagem — não sei bem se é <strong>de</strong> 2%, 3% ou 4%<br />
— <strong>de</strong> organismo geneticamente modificado, o produto tem <strong>de</strong> ser rotulado.<br />
O <strong>de</strong>bate dos transgênicos repercutiu em todo o País. No Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />
está havendo uma coisa meio maluca. O Estado plantou soja transgênica. Num<br />
primeiro momento, a semente veio da Argentina; em outro, foi produzida in loco; em<br />
outro, tivemos uma realida<strong>de</strong> contra a qual ninguém tinha como se insurgir e muita<br />
gente teve <strong>de</strong> pôr a viola no saco diante <strong>de</strong>la. Não havia como queimar 6 milhões <strong>de</strong><br />
toneladas <strong>de</strong> soja.<br />
É muito forte o que lhes vou dizer: o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul plantou transgênicos<br />
— aliás, não apenas ele, mas os Estados do Paraná, Santa Catarina, Bahia, Goiás,<br />
Mato Grosso e tantos outros que não confessam. Muitos vão plantá-los mas não<br />
dizem nada para ninguém. O Rio Gran<strong>de</strong> do Sul faz questão <strong>de</strong> dizer a verda<strong>de</strong>, por<br />
isso está sendo criticado e prejudicado. Não quero que o assunto seja mais tratado<br />
como i<strong>de</strong>ologia, mas como tecnologia, ciência, enfim, como avanço.<br />
Que nós, os políticos, sejamos instrumentos <strong>de</strong>ssa transformação.<br />
Tenho ido a todos os <strong>de</strong>bates sobre o assunto. Há poucos dias fui a um do<br />
PMDB, embora não seja o meu partido. Ouvi um cientista da EMBRAPA dizer que a<br />
filha <strong>de</strong>le não achava o transgênico bom, mas passaria a consi<strong>de</strong>rá-lo a partir <strong>de</strong><br />
então, porque acreditava no pai como cientista. Sobre o assunto, há muito diz-que-<br />
diz. Não po<strong>de</strong> haver dúvida. Temos <strong>de</strong> sanar todas.<br />
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Aquele cientista explicou-me também que a vacina feita do modo<br />
convencional bombar<strong>de</strong>ava o vírus, tornando-o fraco. O vírus era introduzido no ser<br />
humano, que o enfrentava e ganhava a briga, porque o vírus estava fraco.<br />
Ganhando a briga, criava anticorpos e, quando viesse o próximo vírus forte, este<br />
encontraria um paredão e per<strong>de</strong>ria a briga. Assim acontece com a varíola.<br />
Houve casos em que o corpo humano não reagiu satisfatoriamente. Ainda<br />
que fraco, o vírus cresceu e a pessoa acabou ficando doente com a vacina, que fez<br />
efeito contrário. Em outra situação, houve casos em que a dose da vacina foi mal<br />
calculada, o vírus foi enfraquecido, mas não o suficiente e cresceu no corpo. Agora<br />
com a vacina e os métodos transgênicos não há chance alguma <strong>de</strong> isso voltar a<br />
acontecer. É como se <strong>de</strong>sligassem um fiozinho do vírus. Se o corpo não reagir a<br />
ponto <strong>de</strong> matar o vírus, ele vai morrer por si só, porque falta aquele fiozinho que liga<br />
não sei o quê. Não sou cientista, mas entendi porque não sou bobo.<br />
Conseqüentemente, temos <strong>de</strong> avaliar a ciência e <strong>de</strong>ixar a i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> lado.<br />
Ontem a Justiça autorizou a importação <strong>de</strong> 17,8 milhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong><br />
milho transgênico da Argentina. A carga <strong>de</strong>sembarcou no porto <strong>de</strong> Recife, em<br />
Pernambuco. No meu Estado, faz seis anos que estão alimentando com o milho<br />
transgênico os suínos e as aves que são exportados. Como não produzimos milho<br />
suficiente para alimentá-los, importamos o milho transgênico. Pergunto: estamos<br />
fazendo nhenhenhém para produzir soja transgênica, mas importar milho<br />
transgênico po<strong>de</strong>? O que é isso?<br />
Ontem a Assembléia Legislativa <strong>de</strong> Pernambuco votou a liberação do<br />
transgênico. Informaram-me por alto que a aprovação foi quase unânime — parece-<br />
me que foram 28 votos a favor e 8 contra. Os Deputados <strong>de</strong> esquerda, um <strong>de</strong>les do<br />
meu partido, votaram contra, não porque sabem a respeito do assunto, mas porque<br />
são da esquerda — preocuparam-se apenas com a i<strong>de</strong>ologia. Volto a repetir: não<br />
po<strong>de</strong>mos agir com i<strong>de</strong>ologia. Temos <strong>de</strong> primeiro ouvir os cientistas a respeito do<br />
assunto.<br />
Acabei não fazendo nenhuma pergunta, mas no fundo estou pondo para fora<br />
minha angústia. Contestem-me se por acaso disse alguma coisa errada.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Obrigado, Deputado<br />
Pompeo <strong>de</strong> Mattos.<br />
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Com a palavra o Deputado Abelardo Lupion. Depois os nossos palestrantes<br />
respon<strong>de</strong>rão o bloco das quatro perguntas.<br />
O SR. DEPUTADO ABELARDO LUPION - Sr. Presi<strong>de</strong>nte, quero parabenizar<br />
V.Exa. pela oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta tar<strong>de</strong>. Estamos participando da convenção nacional<br />
do nosso partido, por isso não tivemos — infelizmente — a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir<br />
todos os palestrantes, mas conheço a posição do Dr. Ernesto Paterniani.<br />
Meu maior medo na vida é o achismo. Essa palavra já levou países a<br />
per<strong>de</strong>rem a guerra. A Alemanha per<strong>de</strong>u a 1ª Guerra Mundial por conta <strong>de</strong>la;<br />
Napoleão per<strong>de</strong>u a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conquistar todo o mundo. Enfim, o achismo é<br />
algo extremamente <strong>de</strong>snecessário e muito perigoso.<br />
Temos nesta Casa a oportunida<strong>de</strong> que o povo nos <strong>de</strong>u para falar em seu<br />
nome. Para isso temos o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> promover a fiscalização e <strong>de</strong> fazer as leis. É óbvio<br />
e natural que existam discordâncias, porque a unanimida<strong>de</strong> é burra e nós<br />
precisamos ter o tempero, o calor da discussão, para chegarmos aos objetivos que a<br />
socieda<strong>de</strong> exige <strong>de</strong> nós: o <strong>de</strong> aprovar qualquer tese, mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> discuti-la.<br />
Estou nesta Casa há 7 anos. Durante todo esse tempo tenho falado <strong>de</strong><br />
biotecnologia. Participei <strong>de</strong> todas as Comissões Temáticas e Especiais para discutir<br />
o assunto e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o consumidor. O livre arbítrio é Divino, não é humano. Dentro<br />
do livre arbítrio, o princípio da liberda<strong>de</strong> está em se dar à pessoa a oportunida<strong>de</strong> do<br />
saber, do estudo e da <strong>de</strong>cisão. Elaboramos uma lei sobre a rotulagem exatamente<br />
para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o produtor e o consumidor. Dessa forma, eles po<strong>de</strong>rão tomar <strong>de</strong>cisões<br />
sem o tal do achismo.<br />
Nós, nesta Casa, estamos envolvidos numa guerra <strong>de</strong> interesses. Fomos à<br />
Argentina há dois anos para conhecer sua biotecnologia. Lá colhemos dados<br />
estarrecedores: a importação <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensivos diminuiu drasticamente — <strong>de</strong> 1 bilhão e<br />
400 milhões foi para 600 milhões no ano. Alguém per<strong>de</strong>u nessa história, porque<br />
jabuti não sobe em árvore.<br />
Por trás <strong>de</strong> toda a discussão há interesse dos dois lados. Cabe a nós —<br />
eliminando o achismo — <strong>de</strong>cidirmos o assunto em nome do povo que nos elegeu.<br />
Parabenizo o Deputado Pompeo <strong>de</strong> Mattos pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> síntese.<br />
Entramos na guerra da soja transgênica. O que vamos fazer com a<br />
vassoura-<strong>de</strong>-bruxa para preservar a Mata Atlântica no litoral baiano? O mais<br />
importante nessa discussão é preservar a Mata Atlântica.<br />
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Número: 0453/03 Data: 08/05/03<br />
O Deputado Ronaldo Caiado sempre diz que o maior inimigo da ecologia é a<br />
fome. É verda<strong>de</strong>. Se o agricultor não pu<strong>de</strong>r plantar o cacau na Mata Atlântica, ele vai<br />
plantar milho para comer.<br />
O que vamos fazer com os pomares <strong>de</strong> laranja sem o meu querido Instituo<br />
Agronômico do Paraná — IAPAR, do Paraná, que <strong>de</strong>senvolveu a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
controlarmos o amarelinho?<br />
O que vamos fazer agora que estamos abrindo fronteiras no Centro-Oeste,<br />
possibilitando nossos companheiros a plantar algodão, para pararmos <strong>de</strong> ficar<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> importação, quando ficamos durante décadas importando esse<br />
produto? Não po<strong>de</strong>remos exportar algodão para o mundo se não pu<strong>de</strong>rmos<br />
combater o bicudo e as lagartas.<br />
Já fui o maior produtor <strong>de</strong> feijão do Paraná, mas do dia para a noite tive <strong>de</strong><br />
ven<strong>de</strong>r uma proprieda<strong>de</strong> que her<strong>de</strong>i <strong>de</strong> meu avô, porque o malfadado vírus do<br />
mosaico dourado atacou minha plantação. Perdi tudo. Tive <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r a fazenda<br />
para pagar meus financiamentos e meus credores.<br />
Sou produtor rural, agricultor e pecuarista e orgulho-me disso. Represento<br />
minhas cooperativas, minhas socieda<strong>de</strong>s rurais e meus produtores, mas não tenho<br />
direito <strong>de</strong> falar com o coração. Vou falar com a razão. Preciso dar oportunida<strong>de</strong> para<br />
que eles possam sobreviver. Não se trata <strong>de</strong> discussão i<strong>de</strong>ológica, como disse o<br />
Deputado Pompeo <strong>de</strong> Mattos. Precisamos realmente dar uma solução para o<br />
problema. Não interessa se a soja é ou não transgênica. O mais importante é que<br />
não po<strong>de</strong>mos dar as costas à ciência. Não temos o direito <strong>de</strong> dar guarida aos<br />
mal-intencionados. Estamos discutindo o princípio <strong>de</strong> precaução. Com ela preocupo-<br />
me um pouco. A precaução maior tem <strong>de</strong> ser contra os mal-intencionados,<br />
principalmente muitas ONGs, porque lançam uma idéia, têm recursos fartos para<br />
<strong>de</strong>senvolvê-la e um monte <strong>de</strong> gente fica vivendo nas costas <strong>de</strong> uma idéia durante<br />
anos e anos.<br />
Acredito muito na EMBRAPA. Quando o Presi<strong>de</strong>nte da República, Fernando<br />
Henrique Cardoso, fez um <strong>de</strong>creto proibindo o funcionamento <strong>de</strong> todas as empresa<br />
que não <strong>de</strong>ssem lucro no seu Governo, apresentei um projeto dizendo que empresa<br />
que pesquisa não precisa dar lucro, não havia necessida<strong>de</strong> disso. E voltaram atrás,<br />
porque o bom senso imperou. Não po<strong>de</strong>ríamos extinguir a EMBRAPA. Discordo<br />
quando dizem que a EMBRAPA acabou. Ninguém <strong>de</strong>strói a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar.<br />
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Ninguém <strong>de</strong>strói a capacida<strong>de</strong> da inteligência. Temos <strong>de</strong> nos orgulhar do que temos<br />
hoje na EMBRAPA. Seus funcionários estão ganhando salário <strong>de</strong> fome, mas estão<br />
com os olhos voltados para <strong>de</strong>ntro daquilo que todos nós precisamos. Viabilizamos o<br />
Brasil porque a EMBRAPA existe. O Centro-Oeste todo foi viabilizado por causa da<br />
soja <strong>de</strong>senvolvida pela EMBRAPA. Todas as vezes que tem sido chamada respon<strong>de</strong><br />
à altura.<br />
Esta Comissão sempre se empenhou em alocar recursos para pesquisa,<br />
respeita os cientistas bem-intencionadas, aqueles que têm amor à pesquisa e com<br />
ela trabalham em <strong>de</strong>dicação exclusiva diariamente.<br />
Nobres Deputados, preocupo-me muito com a agricultura como um todo, com<br />
o cartel <strong>de</strong> fertilizantes instalado neste País. Atualmente, apenas duas empresas<br />
multinacionais dominam todo o fertilizante nacional. Isso tem <strong>de</strong> ser combatido nesta<br />
Casa. A Monsanto ou qualquer outra empresa não nos po<strong>de</strong> responsabilizar amanhã<br />
pela conta que o nosso produtor terá <strong>de</strong> lhes pagar. Isso não acontecerá. Se houver<br />
essa ameaça, em três dias po<strong>de</strong>remos mobilizar esta Casa e, com <strong>de</strong>creto<br />
legislativo, vamos resolver esse problema. Ninguém vai dar as costas ao nosso<br />
agricultor.<br />
Muitos Estados possuem soja transgênica: Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, Paraná, São<br />
Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Goiás, Maranhão, Piauí, Bahia. Cabe a<br />
nós sermos inteligentes, bem-intencionados e não darmos àqueles que precisam<br />
daquele lucro a mais a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r fazer, por meio da transgenia, com<br />
que suas lavouras possam dar subsistência, mas sem os tais achismos. Por isso<br />
apoiamos a CTNBio e lhe <strong>de</strong>mos condições para que ela pu<strong>de</strong>sse pensar por nós.<br />
Ou será que ela não tem capacida<strong>de</strong> para isso?<br />
Os maiores cientistas brasileiros estiveram nesta Casa — não sou um <strong>de</strong>les,<br />
por isso, como disse o nobre Deputado Pompeo <strong>de</strong> Mattos, tenho <strong>de</strong> receber as<br />
informações para po<strong>de</strong>r tomar <strong>de</strong>cisões — para falar sobre os transgênicos.<br />
A CTNBio é o órgão com força suficiente para tratar do assunto. Insurgi-me<br />
na semana passada — como todos o fizeram — contra a ousadia do Governo, que<br />
enviou para esta Casa uma medida provisória que tirava o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cisivo da<br />
CTNBio. Não aceito isso.<br />
O Ministro José Dirceu disse nesta Comissão <strong>de</strong> Agricultura e Política Rural<br />
que não tomaria nenhuma <strong>de</strong>cisão sobre transgenia sem conversar conosco. E é<br />
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Nome: Comissão <strong>de</strong> Agricultura e Política Rural<br />
Número: 0453/03 Data: 08/05/03<br />
isso que esperamos: respeito. Da mesma forma respeitamos os nossos palestrantes<br />
que nos trouxeram idéias e subsídios para discutirmos e divergirmos ou<br />
concordarmos com alguns pontos, com o objetivo <strong>de</strong> encontrar o que for melhor para<br />
o País, para a biotecnologia e para o agricultor brasileiro.<br />
Não tenho nenhuma pergunta a fazer.<br />
Parabenizo o Presi<strong>de</strong>nte, Deputado Leonardo Vilela, pela gran<strong>de</strong><br />
oportunida<strong>de</strong> que nos dá <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ouvir mais uma vez nesta Comissão os<br />
ensinamentos dos entendidos no assunto e, assim, tomarmos a <strong>de</strong>cisão acertada.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Muito obrigado,<br />
Deputado Abelardo Lupion.<br />
or<strong>de</strong>m.<br />
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presi<strong>de</strong>nte, peço a palavra pela<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Pela or<strong>de</strong>m, concedo<br />
a palavra ao nobre Deputado Ronaldo Caiado. Em seguida, terá a palavra o nobre<br />
Deputado Darcísio Perondi.<br />
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presi<strong>de</strong>nte, não vou fazer<br />
discurso. Temos <strong>de</strong> ir ao Plenário daqui a pouco, não é?<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Temos uma questão<br />
regimental, que é o horário. Já ultrapassamos em praticamente uma hora o período<br />
<strong>de</strong>terminado para o encerramento. E apesar <strong>de</strong> o tema ser extremamente palpitante<br />
e atual, pediria escusas aos nossos convidados para, após as consi<strong>de</strong>rações dos<br />
palestrantes, ouvirmos apenas o nobre Deputado Ronaldo Caiado e encerrarmos o<br />
<strong>de</strong>bate.<br />
Gostaria <strong>de</strong> lembrar a todos que esta reunião se esten<strong>de</strong>rá nas próximas<br />
duas quintas-feiras, quando teremos oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> voltar ao tema.<br />
Concedo a palavra ao nobre Deputado Ronaldo Caiado.<br />
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presi<strong>de</strong>nte, quero parabenizar<br />
V.Exa. pela iniciativa <strong>de</strong>sta reunião. Cumprimento também o Presi<strong>de</strong>nte da<br />
Comissão, nobre Deputado Wal<strong>de</strong>mir Moka, pela oportunida<strong>de</strong> ímpar que nos <strong>de</strong>u<br />
<strong>de</strong> discutir tão importante tema.<br />
Não pu<strong>de</strong> assistir a toda a reunião <strong>de</strong>sta manhã porque estava na Convenção<br />
Nacional do meu partido. Acompanhei a exposição apenas <strong>de</strong> dois palestrantes,<br />
mas não tive oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir o terceiro.<br />
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Nome: Comissão <strong>de</strong> Agricultura e Política Rural<br />
Número: 0453/03 Data: 08/05/03<br />
Não vou formular questões, apenas contribuir com o <strong>de</strong>bate. Sou médico<br />
ortopedista, especializado em cirurgia da coluna vertebral. Durante muitos anos,<br />
convivi com situação extremamente difícil. Muitos pacientes tinham <strong>de</strong> ser<br />
submetidos à cirurgia da coluna vertebral, mas muitos profissionais não tinham a<br />
capacida<strong>de</strong> técnica para fazê-la. Essas cirurgias <strong>de</strong>licadas exigiam muitas técnicas<br />
que naquele momento eram apenas praticadas na França. Muitos colegas que não<br />
eram especialista não enganavam, graças a Deus, os pacientes. Como não tinham o<br />
conhecimento suficiente, recusavam-se a operá-los. Sabiam que se fizessem a<br />
operação esses pacientes corriam o risco <strong>de</strong> nunca mais andar. Não existe nada pior<br />
do que isso. Depois que dizíamos isso aos pacientes, nada era capaz <strong>de</strong> convencê-<br />
los a fazer a cirurgia da coluna vertebral. Havia muitas pessoas com tumor numa<br />
vértebra, que po<strong>de</strong>ria ser ressecado, e elas terem uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida melhor no<br />
futuro. Quantas pessoas, vítimas <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte, com lesão parcial, que, se fossem<br />
operadas imediatamente, teriam melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida? Quantos foram<br />
impedidos por esse verda<strong>de</strong>iro terrorismo implantado por aqueles que não queriam<br />
evoluir na ciência, que não queriam exatamente apren<strong>de</strong>r novas técnicas, <strong>de</strong>dicar-se<br />
ao ato cirúrgico? Sem dúvida, existe o risco do óbito no ato cirúrgico, que é maior do<br />
que em um tratamento conservador, mas negar ao cidadão a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />
melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida! Não. Isso não mais po<strong>de</strong> acontecer.<br />
Por isso, digo que esse assunto — não vi a explanação dos Deputados<br />
Pompeo <strong>de</strong> Mattos e Abelardo Lupion — não tem nada <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológico. Esta Casa<br />
<strong>de</strong>ixou claro que quer ouvir os fundamentos dos professores, dos técnicos, dos<br />
cientistas e dos pesquisadores. Nós, Parlamentares, queremos uma coisa apenas —<br />
e não é com “achismos.” Não é com medo das gran<strong>de</strong>s multinacionais que esta<br />
Casa vai se curvar.<br />
Senhores pesquisadores, estejam certos os senhores, vamos em direção<br />
daquilo que realmente po<strong>de</strong>rá dar melhor oportunida<strong>de</strong> para a agricultura e a<br />
pecuária brasileira. Mas não é apenas isso. Esta Comissão não olha apenas para os<br />
setores da agricultura e da pecuária. Somos Parlamentares com noção da realida<strong>de</strong><br />
política em que vivemos e da importância do setor. Tivemos coragem <strong>de</strong> assumir a<br />
<strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> um setor rural, quando à época muitos consi<strong>de</strong>ravam isso sinal <strong>de</strong><br />
sub<strong>de</strong>senvolvimento. Esta Casa mostrou que estávamos certos, tanto é que o setor<br />
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Nome: Comissão <strong>de</strong> Agricultura e Política Rural<br />
Número: 0453/03 Data: 08/05/03<br />
rural é hoje não apenas o sustentáculo da moeda, mas o superávit comercial <strong>de</strong>ste<br />
País, dando-lhe condição <strong>de</strong> governabilida<strong>de</strong>.<br />
O que exigimos — parabenizo novamente o Presi<strong>de</strong>nte — é qualida<strong>de</strong> na<br />
exposição, que venham ou não com achismos, com terrorismo <strong>de</strong> frases, ou com<br />
outros cartunistas, mas que venham com sentimento científico. Isso fará com que eu<br />
possa mudar minha posição. Sem dúvida alguma, mudo minha técnica cirúrgica no<br />
momento em que me convencerem <strong>de</strong> que os resultados <strong>de</strong> outra serão melhores.<br />
Se nos convencermos <strong>de</strong> que alguma coisa vai comprometer a saú<strong>de</strong> da<br />
população e colocar em risco o meio ambiente, jamais nos curvaremos perante<br />
pressões ou intimidações <strong>de</strong> quem quer que seja. Temos <strong>de</strong> buscar um Brasil<br />
competitivo, levando cidadania ao campo, dando às pessoas a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r ter lucro e oferecendo aos 50 milhões que não têm alimentação correta a<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comer.<br />
Esta Comissão cumpre sua função. Teremos <strong>de</strong> <strong>de</strong>smistificar essa<br />
preocupação que hoje infelizmente é a <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da população brasileira que,<br />
por <strong>de</strong>sconhecimento do ponto <strong>de</strong> vista científico, tem às vezes idéia totalmente<br />
distorcida sobre o assunto.<br />
Já sofri muito na vida. Quando dizíamos como se fazer uma reforma agrária,<br />
rotulavam-nos <strong>de</strong> anti-reforma agrária; quando <strong>de</strong>fendíamos o setor rural, diziam que<br />
éramos caloteiros; quando dizíamos que o produtor rural era iniciativa competitiva<br />
em nível internacional, riam <strong>de</strong> nós. Então, já que superamos essas etapas,<br />
queremos apoiar o que for melhor para o Brasil, para o nosso setor rural, para o<br />
nosso meio ambiente.<br />
Disse o companheiro Abelardo Lupion que o maior inimigo do meio ambiente<br />
é a miséria, a pobreza. Os pobres e miseráveis, infelizmente, não têm oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> viver com cidadania. Sequer têm condições <strong>de</strong> manter suas proprieda<strong>de</strong>s com as<br />
condições mínimas <strong>de</strong> tecnologia hoje exigidas. Apenas no momento em que<br />
<strong>de</strong>rmos a eles conhecimento técnico, assessoria, posição <strong>de</strong> crédito condizente e<br />
comercialização da safra <strong>de</strong> seus produtos veremos o resultado.<br />
Não po<strong>de</strong>mos aceitar que uma medida provisória afirme para o Brasil que o<br />
transgênico não causa nenhum mal e que po<strong>de</strong> ser exportado para a China. Vejam<br />
bem, quer dizer que até o dia 31 <strong>de</strong> janeiro o produto não causará problema? Ele<br />
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Número: 0453/03 Data: 08/05/03<br />
po<strong>de</strong> existir, ser comercializado e exportado para a China. E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ssa data?<br />
Será que tem <strong>de</strong> ser incinerado? Como é que po<strong>de</strong>!<br />
Não po<strong>de</strong>mos aceitar tamanha hipocrisia. Estão querendo menosprezar<br />
nossa inteligência? Não somos profundos conhecedores da matéria, como os<br />
expositores <strong>de</strong>sta reunião, mas não somos bobos.<br />
Com o conhecimento que os senhores nos passam, se Deus quiser,<br />
saberemos, na Medida Provisória nº 113, iniciar um gran<strong>de</strong> passo para a<br />
regulamentação do assunto.<br />
A CTNBio é altamente conhecida e conceituada pelos maiores cientistas.<br />
Espero que ela não seja impedida <strong>de</strong> se pronunciar sobre a matéria. A CTNBio não<br />
po<strong>de</strong> ser um órgão consultivo, tem <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>liberativo. É a CTNBio que conhece a<br />
fundo a matéria ora em discussão.<br />
Agra<strong>de</strong>ço ao Presi<strong>de</strong>nte a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> me manifestar e parabenizo todos<br />
os palestrantes pelas belas exposições.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) – Agra<strong>de</strong>ço ao<br />
Deputado Ronaldo Caiado a contribuição.<br />
Com a palavra o Deputado Darcísio Perondi.<br />
O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI – Sr. Presi<strong>de</strong>nte, no dia 23 <strong>de</strong><br />
março <strong>de</strong>ste ano, a Comunida<strong>de</strong> Européia abandonou o princípio da precaução.<br />
Tenho o documento no meu gabinete, se alguém quiser posso enviá-lo. Ela<br />
reavaliou que o princípio da precaução estava prejudicando e não protegendo o<br />
meio ambiente.<br />
Quando questionei a Ministra Marina Silva se <strong>de</strong>terminada doutora era uma<br />
alta funcionária do Greenpeace, S.Exa. confirmou. Mas nas três vezes, na réplica e<br />
na tréplica, em nenhum momento disse que sabia que a doutora tal era funcionária<br />
da Greenpeace. De fato, S.Exa. sabia, mas não po<strong>de</strong>ria dizer porque ficaria<br />
registrado nos Anais.<br />
Na primeira parte, a Ministra disse: “Sim, a doutora é minha funcionária”. Na<br />
segunda, porém, a mais importante — entreguei-lhe o documento —, ignorou a<br />
pergunta três vezes. No Ministério do Meio Ambiente há duas ONGs: uma brasileira,<br />
financiada por um banco internacional, e outra pelo Greenpeace.<br />
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Número: 0453/03 Data: 08/05/03<br />
Para encerrar, Sr. Presi<strong>de</strong>nte, quero fazer duas perguntas. A primeira ao Prof.<br />
Ferreira. Se tivéssemos o algodão ou o milho Bt, nosso negócio não se expandiria<br />
no que diz respeito à importação e exportação?<br />
Dr. Paterniani, ouvi falar que o fluxogênico assusta. Gostaria que V.Sa.<br />
esclarecesse <strong>de</strong> forma mais científica essa questão que <strong>de</strong>ixou a mim e a muitos da<br />
platéia preocupados.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Com a palavra o<br />
Deputado Orlando Desconsi.<br />
O SR. DEPUTADO ORLANDO DESCONSI - Gostaria <strong>de</strong> fazer uma correção<br />
no que disse o Deputado Pompeo <strong>de</strong> Mattos. Não se trata <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate i<strong>de</strong>ológico.<br />
Temos no PT pessoas a favor e outras contra. No entanto, a posição do partido é<br />
contrária. Durante a campanha, o Presi<strong>de</strong>nte Lula já manifestava sua posição<br />
contrária.<br />
Entretanto, nós, sensíveis a um problema local <strong>de</strong> safra do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul, tivemos serenida<strong>de</strong> e nos empenhamos junto ao Governo para resolvê-lo. Isso<br />
nunca é dito nem reconhecido. Aqueles que estavam <strong>de</strong>sesperados por uma<br />
solução, porque estavam na ilegalida<strong>de</strong>, hoje tripudiam sobre todos nós. Portanto,<br />
exigimos também um pouco <strong>de</strong> respeito.<br />
Travamos uma luta. Sempre foi dito que os Parlamentares <strong>de</strong> todos os<br />
partidos buscariam a solução. Agora, por termos posição clara e assumida, nunca<br />
escondida, estamos sendo acusados.<br />
Pergunto: <strong>de</strong> que partido é o Jaime Lerner, ex-Governador do Paraná, que<br />
queimou soja? Do PFL. De que partido é o Requião, Governador <strong>de</strong> lá? De que<br />
partido é o Luiz Henrique, <strong>de</strong> Santa Catarina? É importante registrarmos que se esse<br />
<strong>de</strong>bate fosse entre direita e esquerda, o ex-Presi<strong>de</strong>nte Fernando Henrique teria<br />
aprovado essa matéria com facilida<strong>de</strong> no Congresso. A direita tem e sempre teve<br />
ampla maioria nesta Casa; a esquerda não passava <strong>de</strong> 120 Deputados, contando<br />
com o PDT.<br />
Portanto, se o <strong>de</strong>bate fosse i<strong>de</strong>ológico, não estaríamos mais discutindo esse<br />
tema hoje. Ele já estaria resolvido há muito tempo. Por isso, gostaríamos que as<br />
coisas fossem colocadas em seus <strong>de</strong>vidos lugares.<br />
Com relação à funcionária do Ministério do Meio Ambiente, eu estava<br />
presente no dia. A Ministra requisitou as notas taquigráficas para encaminhar o<br />
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processo legal necessário àquela acusação do Deputado Darcísio Perondi. É<br />
importante que isso fique claro, pois foi omitido pelo Deputado em sua exposição. No<br />
atual Governo, existem pessoas ligadas à Monsanto. Estranho o fato <strong>de</strong> elas não<br />
serem citadas.<br />
Se o Ministério tem um posicionamento contrário, ele não é <strong>de</strong> hoje, não é<br />
<strong>de</strong>ste Governo. O Ministério do Meio Ambiente e o CONAMA têm posição contrária<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Governo anterior. Queremos que isso fique registrado.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) – Muito obrigado,<br />
Deputado Orlando Desconsi.<br />
Passo a palavra, para as consi<strong>de</strong>rações finais, ao Dr. Rubens Nodari.<br />
O SR. RUBENS NODARI – Vou tentar respon<strong>de</strong>r a todos os Deputados.<br />
Primeiro, ao Deputado Adão Pretto, que me indagou se a Monsanto é <strong>de</strong>svio <strong>de</strong><br />
rota. Não conheço bem a Monsanto, mas, do ponto <strong>de</strong> vista da agricultura, tivemos<br />
intensificação do uso <strong>de</strong> produtos químicos na agricultura a partir da Segunda<br />
Guerra. Os primeiros transgênicos colocados na agricultura ou consomem<br />
agrotóxico ou produzem o seu próprio agrotóxico.<br />
Como a tecnologia é muito po<strong>de</strong>rosa, é provável que no futuro existirão outros<br />
tipos <strong>de</strong> transgênicos, mas, nesse caso, a soja resistente ao Roundup não tem outra<br />
função que não ser acompanhada <strong>de</strong>le, senão ela per<strong>de</strong> sua função tecnológica. Na<br />
minha mo<strong>de</strong>sta avaliação, há o claro objetivo <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r o produto químico.<br />
O Deputado Orlando Desconsi fez algumas consi<strong>de</strong>rações acerca da ciência.<br />
É a ciência que nos dá avanço no conhecimento, mas a socieda<strong>de</strong>, ao longo do<br />
tempo, apren<strong>de</strong>u a controlar a tecnologia quando isso é importante ou relevante.<br />
Não é <strong>de</strong> hoje que as tecnologias são acompanhadas pela socieda<strong>de</strong>. Existem<br />
comitês, formados por cidadãos, cientistas e mistos, que fazem esse controle. Nos<br />
Estados Unidos, por exemplo, há comissões mistas para a análise da energia<br />
nuclear.<br />
Gostaria <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r as outras perguntas sobre a ciência. A ciência é<br />
relevante e imprescindível, mas talvez não seja suficiente para algumas questões<br />
que dizem respeito à opção do cidadão. Talvez tenhamos <strong>de</strong> encontrar um sistema<br />
sobre o qual a socieda<strong>de</strong> possa se manifestar, não sobre a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um fato<br />
científico, mas acerca <strong>de</strong> um uso que, do ponto <strong>de</strong> vista ético, moral, econômico ou<br />
social, po<strong>de</strong> causar implicações.<br />
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É nesse sentido a importância da participação da socieda<strong>de</strong>, nunca para<br />
contrastar um fato científico; ao contrário, para levar em consi<strong>de</strong>ração também<br />
aspectos que a ciência não aborda.<br />
Deputado Orlando Desconsi, quanto ao risco <strong>de</strong> monopólio da segurança<br />
alimentar, essa é uma preocupação sobre a qual vou expressar meu ponto <strong>de</strong> vista,<br />
mas não sei a posição do Ministério. Consi<strong>de</strong>ro alimento uma questão <strong>de</strong> segurança<br />
nacional. Eu, como cidadão, gostaria que toda a produção <strong>de</strong> alimentos fosse<br />
controlada pelo Governo.<br />
O fato <strong>de</strong> as tecnologias serem patenteadas por um pequeno grupo <strong>de</strong><br />
empresas é <strong>de</strong> fato um risco que <strong>de</strong>veríamos avaliar. Concordo com V.Exa. sobre o<br />
direito ao consumidor. O Governo <strong>de</strong>u resposta à altura com a edição <strong>de</strong> um <strong>de</strong>creto<br />
sobre rotulagem, que está sendo regulamentado para sua total aplicação.<br />
Por que a empresa preferiu a ilegalida<strong>de</strong>? Na nossa avaliação, é para criar<br />
um fato consumado. O milho também foi importado recentemente pela <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />
um juiz, sem autorização do Ministério da Agricultura. É por intermédio <strong>de</strong> fatos<br />
consumados que a tecnologia quer entrar no País.<br />
Qual a explicação para a fome não ter acabado? V.Exa. mesmo respon<strong>de</strong>u<br />
que a fome está ligada à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso ao alimento e à falta <strong>de</strong> condições<br />
financeiras para comprá-lo. Existem outras experiências com o plantio direto? Sim,<br />
eu conheço outros sistemas que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> produtos químicos. Po<strong>de</strong>remos<br />
discutir isso posteriormente.<br />
<strong>de</strong> Mattos.<br />
Na seqüência, se não estou enganado, vem a pergunta do Deputado Pompeo<br />
Esclareço a S.Exa. que a tecnologia produz muitos produtos e alguns já estão<br />
em uso há mais <strong>de</strong> 20 anos. Entretanto, alguns <strong>de</strong>les contêm <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si<br />
substâncias que não estamos acostumados a usar diariamente na alimentação.<br />
O fato <strong>de</strong> consumirmos em larga escala uma substância que ainda não<br />
conhecemos em sua plenitu<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>ixa preocupados. E aí eu gostaria <strong>de</strong> emendar<br />
com as preocupações do Deputado Ronaldo Caiado. Também queremos estudos. A<br />
preocupação do Ministério do Meio Ambiente é essa. Até hoje não temos estudos<br />
sobre os impactos ambientais da soja. Tanto ela quanto o milho foram liberados no<br />
Brasil sem esses estudos.<br />
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Nós, mais do que ninguém, estamos trabalhando para liberar licenças para<br />
pesquisas e, por outro lado, gostaríamos <strong>de</strong> exercer nosso mandato constitucional<br />
<strong>de</strong> exigir os estudos, porque, como não sabemos se ocorrerão problemas, a única<br />
maneira <strong>de</strong> saber é exigindo os estudos.<br />
Concordamos plenamente com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos. Peço <strong>de</strong>sculpas<br />
por ter exibido um cartoon, mas foi apenas para mostrar a percepção pública das<br />
diferentes pessoas da socieda<strong>de</strong>.<br />
Quanto ao princípio da precaução, é bom que se esclareça o seguinte: ele<br />
está na CDB, nas leis ambientais e foi aprovado por este Congresso. Então, não é<br />
apenas o MMA que está ligado ao princípio da precaução, mas a socieda<strong>de</strong>, ou seja,<br />
estamos respeitando as <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong>sta Casa. Não temos muito tempo, mas<br />
po<strong>de</strong>ríamos fazer uma reunião para falarmos apenas sobre o princípio da<br />
precaução, porque estamos colocando algumas noções sobre o assunto que não<br />
são as reais.<br />
Esclareço ao Dr. Paterniani que o RET é obrigatório para tudo, inclusive o<br />
Dipel, que teve um registro especial temporário. Não há exceção. Para os<br />
agrotóxicos afins serem registrados é necessário que se façam pesquisas.<br />
Em relação ao que foi falado sobre fluxogênico, é evi<strong>de</strong>nte que sempre houve<br />
fluxogênico e continua havendo entre plantas da mesma espécie; isso é normal. O<br />
problema é que agora temos um gene que está patenteado e às vezes ele é uma<br />
toxina. Hoje, nos Estados Unidos, há 2 mil agricultores processados por causa <strong>de</strong>le.<br />
Ele tem, portanto, sua relevância.<br />
Há sempre fluxogênico entre as plantas, mas agora temos uma coisa nova. O<br />
que existe <strong>de</strong>ntro do transgene é uma unida<strong>de</strong> funcional, vai produzir um produto,<br />
está patenteado. Num regime <strong>de</strong>mocrático, o cidadão tem seus direitos. Posso não<br />
querer saber disso na minha proprieda<strong>de</strong>. Temos <strong>de</strong> estudar mais o assunto. Se<br />
liberamos apressadamente, causaremos problemas para terceiros A discussão se<br />
<strong>de</strong>u nesse sentido, não que fluxogênico seja novida<strong>de</strong>.<br />
Sobre Mata Atlântica, consi<strong>de</strong>ramos que não há um melhor ou pior<br />
<strong>de</strong>gradador do meio ambiente. Qualquer um que o <strong>de</strong>gra<strong>de</strong> está contribuindo para<br />
uma piora no meio ambiente. É evi<strong>de</strong>nte que os pobres têm uma característica, mas<br />
não são apenas eles que <strong>de</strong>gradam o meio ambiente.<br />
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Número: 0453/03 Data: 08/05/03<br />
O Brasil possui uma área <strong>de</strong> <strong>de</strong>sertos muito maior do que os senhores<br />
imaginam. Temos <strong>de</strong> cuidar do nosso meio ambiente, para <strong>de</strong>ixá-lo como herança<br />
para os nossos netos e para as futuras pessoas que irão habitar o Brasil.<br />
processo.<br />
<strong>de</strong>cisões.<br />
Agra<strong>de</strong>ço a V.Exa a oportunida<strong>de</strong>.<br />
Estamos à disposição no Ministério do Meio Ambiente para contribuir com o<br />
Com efeito, gostaríamos <strong>de</strong> contar com essas informações antes <strong>de</strong> tomar as<br />
Muito obrigado.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) – Agra<strong>de</strong>ço ao Dr.<br />
Rubens Nodari a importante contribuição.<br />
Com a palavra o Dr. Ernesto Paterniani para as consi<strong>de</strong>rações finais.<br />
O SR. ERNESTO PATERNIANI - Em primeiro lugar, quero dizer que o<br />
monopólio não é problema <strong>de</strong> genética, mas <strong>de</strong> legislação, a qual <strong>de</strong>ve ser adaptada<br />
a cada país, como acontece no Brasil.<br />
No caso específico, discute-se muito transgênico por causa da Monsanto.<br />
Como não tenho absolutamente nada a ver com essa empresa, procuro discutir<br />
transgênico do ponto <strong>de</strong> vista científico, seja ele produzido por uma empresa<br />
privada, seja por uma pública, como a EMBRAPA.<br />
Sobre o herbicida glifosato, que será utilizado pela Monsanto nas plantações<br />
<strong>de</strong> soja, quero dizer que sua patente já expirou. Existe no Brasil cerca <strong>de</strong> oito<br />
empresas brasileiras que produzem o glifosato. No Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, por exemplo,<br />
muitos agricultores compram glifosato <strong>de</strong> outras empresas. É livre, cada um compra<br />
<strong>de</strong> quem quiser. Não há monopólio.<br />
Com relação às sementes, a EMBRAPA conta hoje com 50 varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
soja com gene para resistência à herbicida com varieda<strong>de</strong>s adaptadas a todas as<br />
condições do Brasil, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul até o Maranhão. No dia em que for<br />
aprovada, teremos varieda<strong>de</strong>s na EMBRAPA resistentes ao herbicida, adaptadas a<br />
diferentes regiões do Brasil. Aliás, essa varieda<strong>de</strong> será melhor do que a<br />
contraban<strong>de</strong>ada da Argentina, porque será <strong>de</strong>senvolvida especificamente no Rio<br />
Gran<strong>de</strong> do Sul. Estamos esperando isso. Então, repito, não haverá monopólio.<br />
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Número: 0453/03 Data: 08/05/03<br />
Não tenho nada a ver com a Monsanto, mas quero dizer que ela não é<br />
culpada <strong>de</strong> o agricultor ter contraban<strong>de</strong>ado semente da Argentina; pelo contrário, ela<br />
foi até contra, o que po<strong>de</strong> ser observado em vários jornais.<br />
O Deputado Darcísio Perondi pediu-me para falar a respeito do fluxogênico.<br />
A discussão dos fluxogênicos começou com os transgênicos, com a<br />
<strong>de</strong>smistificação da agricultura. As pessoas que mais se preocupam com os<br />
fluxogênicos são os geneticistas, que <strong>de</strong>les se utilizam <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada para<br />
preservar seu material. E se preocupam tanto que organizaram um banco <strong>de</strong><br />
germoplasma <strong>de</strong> todas as plantas cultivadas tanto no Brasil quanto em outros<br />
países, inclusive das espécies silvestres aparentadas para evitar exatamente sua<br />
extinção. O agricultor <strong>de</strong> Santa Catarina, por exemplo, tem gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>;<br />
todavia, se seu vizinho plantar milho híbrido, que não é transgênico, vai contaminar<br />
do mesmo jeito sua plantação. Esse argumento não funciona. Fluxogênico existe e<br />
sempre existirá; po<strong>de</strong>remos discutir sobre fluxogênico muito mais. É uma ilusão<br />
pensar que vamos manter os seres vivos sem mutação; isso é da natureza. Então, é<br />
uma ilusão. Os geneticistas, contudo, tomam as <strong>de</strong>vidas precauções contra isso.<br />
O Deputado Adão Pretto ressaltou que a ciência erra. Segundo jornais<br />
publicados pelas ONGs, críticas têm sido feitas aos cientistas e à ciência. Dizem<br />
eles que a ciência e os cientistas são irresponsáveis. Não posso, evi<strong>de</strong>ntemente,<br />
concordar com isso; senão, estarei sendo contrário à minha vida profissional.<br />
A ciência não erra. Ela apren<strong>de</strong>. Vou dar um exemplo, embora não seja da<br />
minha área, com o qual aprendi.<br />
Todo mundo sabe que a talidomida foi amplamente utilizada como excelente<br />
tranqüilizante. De repente, verificou-se que nas mulheres grávidas ela produzia<br />
<strong>de</strong>formações nos membros dos fetos. Essa substância foi avaliada, como todos os<br />
medicamentos anteriores, nos animais cobaias. Verificou-se que a talidomida não<br />
causava dano algum às cobaias grávidas. A ciência apren<strong>de</strong>u com o fato, tanto que,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sse acontecimento, os novos medicamentos são testados não apenas nas<br />
ratas cobaias, mas também em outros animais, especialmente nos macacos. De<br />
modo que a ciência apren<strong>de</strong>. Ninguém podia culpar os médicos por aprovarem<br />
medicamento avaliado <strong>de</strong>ntro da metodologia existente. O que existe em ciência é<br />
uma coisa que se chama metodologia científica. Ou nós usamos metodologia<br />
científica ou não.<br />
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No caso dos transgênicos, temos fatos concretos conhecidos e<br />
<strong>de</strong>sconhecidos <strong>de</strong> benefícios evi<strong>de</strong>ntes e que estão sendo cada vez mais utilizados<br />
no mundo inteiro. Do outro lado, temos hipóteses. Sinto muito em afirmar, mas tudo<br />
o que foi dito pelo caro colega Nodari po<strong>de</strong>rá acontecer no futuro. Aliás, por<br />
conhecer o geneticista Nodari há seis anos, esperava, como pesquisador, que nesse<br />
tempo ele tivesse produzido alguma pesquisa que mostrasse algum risco em uma<br />
das hipóteses feitas por ele, mas até hoje não vejo. Então, são hipóteses. Temos<br />
fatos e hipóteses. Hipóteses po<strong>de</strong>mos fazer quantas quisermos.<br />
Mencionarei algumas coisas aqui.<br />
Em princípio, estou <strong>de</strong> acordo com o direito do consumidor. Ele tem seus<br />
direitos. Precisamos, contudo, ver se é justo exigirmos uma informação que vai<br />
aumentar o custo <strong>de</strong>sse produto para a população, principalmente para a <strong>de</strong> baixa<br />
renda. Vou esclarecer isso.<br />
Em alguns países, como Estados Unidos e Argentina, não há rotulagem. Eles<br />
dão ênfase ao produto e não ao processo. Preocupam-se em dar um produto seguro<br />
para a população. Isso é o suficiente para eles. Não interessa se ele foi feito por<br />
esse ou por aquele processo. No Brasil, estamos dando ênfase ao procedimento <strong>de</strong><br />
produção do produto. E o que vai acontecer? Se tenho um óleo <strong>de</strong> soja transgênico<br />
e outro convencional, os dois não são distinguíveis. No entanto, existem<br />
organizações que fazem questão que seja rotulado aquele que veio <strong>de</strong> uma soja<br />
transgênica, ainda que não se possa fazer a distinção entre os dois. Ora, isso, a meu<br />
ver, não aten<strong>de</strong> ao interesse do consumidor, pois além <strong>de</strong> ser irracional é prejudicial<br />
a ele. O correto, porque a situação atual é uma hipocrisia, seria a elaboração <strong>de</strong> uma<br />
pesquisa na qual seria perguntado à população <strong>de</strong> baixa renda o que ela acha da<br />
rotulagem <strong>de</strong> produtos absolutamente iguais com valor 20% mais caro. Essa<br />
pergunta nunca foi feita. Ou seja, quem está <strong>de</strong>cidindo são pessoas <strong>de</strong> alto po<strong>de</strong>r<br />
aquisitivo, que exigem a rotulação do processo e não do produto.<br />
Para mostrar como isso é irracional, temos uma porção <strong>de</strong> produtos assim no<br />
mercado. A indústria mais milionária dos últimos tempos foi a dos adoçantes<br />
artificiais. Pergunto ao pessoal preocupado com o princípio da precaução: alguém se<br />
preocupou em obter mais experimentos e informações antes <strong>de</strong> autorizar o uso<br />
<strong>de</strong>sses adoçantes artificiais? Podia dizer aos senhores que já existem informações<br />
disponíveis. Uma <strong>de</strong>las, por exemplo, da Farmacologia da USP, mostrou que um<br />
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<strong>de</strong>les, feito em ratos, reduz o nível <strong>de</strong> testosterona, o hormônio masculino. Imaginem<br />
se essa informação for divulgada! No entanto, está aí. Por que nesse caso não<br />
existe?<br />
Não quero falar muito, mas antes <strong>de</strong> concluir quero salientar o gran<strong>de</strong> drama<br />
da agricultura. Sabe qual é, meu caro Presi<strong>de</strong>nte — admiro muito seu ponto <strong>de</strong> vista<br />
—, o gran<strong>de</strong> drama da agricultura, principalmente da agricultura brasileira, é ser<br />
muito eficiente. Esse é o gran<strong>de</strong> problema.<br />
Há alguns anos, pesquisa feita nos Estados Unidos com alunos <strong>de</strong> 1º e 2º<br />
graus avaliou o nível cultural dos alunos. Uma das perguntas era: on<strong>de</strong> são<br />
produzidos alimentos como arroz, milho, feijão etc? Muitos alunos respon<strong>de</strong>ram que<br />
são produzidos nos supermercados. Mas isso é brinca<strong>de</strong>ira. Só que, do ponto <strong>de</strong><br />
vista prático, nossa socieda<strong>de</strong> se comporta como se os produtos fossem produzidos<br />
no supermercado. Sabem por quê? Porque as pessoas conseguem adquirir os<br />
produtos durante o ano todo no supermercado. Faça frio ou calor, chova ou não, a<br />
pessoa vai ao supermercado e adquire tudo. Nunca falta o produto. Então, por que<br />
dar importância à agricultura? As pessoas só consi<strong>de</strong>ram importante quando falta.<br />
Quando do apagão, todo mundo <strong>de</strong>u importância à eletricida<strong>de</strong>. As pessoas só dão<br />
importância à saú<strong>de</strong> quando ficam doentes. O gran<strong>de</strong> drama da agricultura,<br />
principalmente da agricultura brasileira, é sua eficiência. Por isso é muito contestada<br />
pela socieda<strong>de</strong> que não a consi<strong>de</strong>ra importante.<br />
Para concluir, quero dizer, especialmente para o nosso caro Deputado Adão<br />
Pretto, do PT, que o Brasil recentemente <strong>de</strong>u a mais eloqüente <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />
fracasso do Princípio <strong>de</strong> Precaução quando a esperança venceu o medo e elegeu o<br />
atual Presi<strong>de</strong>nte. Milhões <strong>de</strong> eleitores que, pelo princípio da precaução, não votaram<br />
no Presi<strong>de</strong>nte, hoje, por enquanto, votariam. De modo que precaução é isso.<br />
(Palmas.)<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) – Agra<strong>de</strong>cemos ao Dr.<br />
Ernesto Paterniani sua contribuição a este seminário.<br />
Como o Dr. Rubens Nodari foi citado no pronunciamento, eu lhe darei 1<br />
minuto para réplica.<br />
O SR. RUBENS NODARI – Gostaria <strong>de</strong> registrar minha indignação pela<br />
acusação leviana do Prof. Paterniani ao afirmar que mostrei hipóteses. Os sli<strong>de</strong>s<br />
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estão gravados, há citações bibliográficas; muitas são constatações científicas e<br />
estão citadas. Vou encaminhar a esta Comissão texto explicativo a respeito disso.<br />
Não sei qual o interesse em fazer essa acusação leviana, mas não po<strong>de</strong>ria<br />
<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar isso.<br />
Também fiz duas viagens ao Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, fiz várias constatações, fiz<br />
um relatório. Esse relatório encontra-se anexado ao processo da soja no Tribunal<br />
Regional Fe<strong>de</strong>ral.<br />
Nodari.<br />
da Silveira.<br />
Obrigado, Sr. Presi<strong>de</strong>nte.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) – Obrigado, Dr. Rubens<br />
Com a palavra, para as consi<strong>de</strong>rações finais, o Dr. José Maria Ferreira Jardim<br />
O SR. JOSÉ MARIA FERREIRA JARDIM DA SILVEIRA - Sr. Presi<strong>de</strong>nte, em<br />
princípio, quero respon<strong>de</strong>r a pergunta do Deputado Adão Pretto, que consi<strong>de</strong>ro<br />
pertinente, e inseri-la no contexto <strong>de</strong> encerramento da minha apresentação.<br />
Meu ponto <strong>de</strong> vista é que estamos vivendo um novo momento. Não foram<br />
apenas os transgênicos. As pessoas gostam, as pessoas... O Prof. João Manuel<br />
Cardoso <strong>de</strong> Melo, por exemplo, que é uma pessoa muito articulada, uma vez<br />
comentou que isso é uma esculhambação, é feito <strong>de</strong> um dia para o outro.<br />
Esse processo é longo. Os transgênicos não apareceram antes por questões<br />
técnicas. Muitos <strong>de</strong>les foram recusados porque tinham princípios alérgicos, quer<br />
dizer, havia o filtro.<br />
A maneira <strong>de</strong> tratar as empresas multinacionais, do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong><br />
assumirem riscos ambientais, a meu ver, não bate com a experiência da realida<strong>de</strong>.<br />
Hoje as empresas são globalizadas. O aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Bophal foi difícil, a Union Carbi<strong>de</strong><br />
se tornou praticamente empresa <strong>de</strong> consultoria. Ela pagou caríssimo por isso, foi<br />
comprada agora pela DuPont. Com o exemplo da SARS, no mundo globalizado,<br />
uma empresa sabe o custo <strong>de</strong> um aci<strong>de</strong>nte que causa.<br />
O Governo chinês — tenho minhas dúvidas se ele está tão preocupado com<br />
isso, não tenho muita simpatia pelos chineses —, sempre usado como exemplo, tem<br />
graves problemas ambientais, ou seja, a maneira que fez a agricultura e está<br />
tentando compensar rapidamente.<br />
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No caso do Brasil, entramos <strong>de</strong> cabeça na agricultura mo<strong>de</strong>rna. A <strong>de</strong>speito,<br />
criamos, segundo meu entendimento, um fato inédito, porque, quando as instituições<br />
públicas dão certo, há um aspecto que também se ven<strong>de</strong> muito, porque as coisas<br />
são fantásticas, todas funcionam. Hoje estamos terminando um processo <strong>de</strong> seleção<br />
<strong>de</strong> instituições públicas — algumas funcionaram, outras não. Não vou citar as que<br />
não funcionaram, porque é <strong>de</strong>sagradável, mas vários laboratórios, que <strong>de</strong>veriam<br />
cuidar <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes, foram colocados em lugares péssimos até no tempo da ditadura<br />
militar. Se falar aqui ninguém sabe que existe.<br />
Enquanto isso, tivemos a EMBRAPA — não é só marketing, porque ela<br />
funcionou. A FIOCRUZ tem problemas. A FIOCRUZ fez uma vacina que causou<br />
problemas na região <strong>de</strong> Campinas — sei porque minha mulher trabalha na saú<strong>de</strong><br />
pública —, mas são instituições que conseguiram milagrosamente, na minha opinião,<br />
criar e manter um corpo técnico. E fico meio em dúvida se elas estão tão prontas<br />
assim para o exercício <strong>de</strong> reengenharia onipotente: colocam todos os <strong>de</strong>sejos,<br />
vonta<strong>de</strong>s e ansieda<strong>de</strong>s e disfarça. Tenho minhas dúvidas a respeito.<br />
Quero usar o princípio da precaução com essas instituições; quero usar o<br />
cuidado que se <strong>de</strong>ve ter <strong>de</strong> permitir que nossas instituições públicas continuem um<br />
jogo que, do ponto <strong>de</strong> vista não da ciência, porque não vim falar <strong>de</strong> ciência, sou<br />
economista <strong>de</strong> profissão, quer dizer, sou engenheiro agrônomo <strong>de</strong> formação, e<br />
economistas não são cientistas, somos cientistas sociais... Isso é um pouco<br />
diferente.<br />
Temos <strong>de</strong> respeitar, por exemplo, quando a moça do Greenpeace não<br />
permite transgênicos, porque ela está fazendo um jogo <strong>de</strong> cena, posso até usar a<br />
teoria dos jogos, para ser mais científico, mas digo que ela está jogando para a<br />
platéia que o Greenpeace vai continuar endurecendo nessa questão, mantendo<br />
posições. Não vou acreditar que ela tenha o princípio da certeza, porque ela anteviu<br />
superpragas fantásticas criadas pela tecnologia “a” ou “b”. Ela não sabe disso, mas<br />
há um princípio geral e acha, sob o ponto <strong>de</strong> vista das ciências humanas, que,<br />
quando eles endurecem <strong>de</strong> um lado, outros tentam endurecer pelo outro e, com isso,<br />
vai-se caminhando. Não sei se é a melhor maneira. Vocês, Deputados, sabem disso,<br />
e qual é a melhor. Às vezes, vota-se por solução <strong>de</strong> compromisso e chega-se no pior<br />
dos mundos — a economia mostra isso também.<br />
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Então, minha questão central: é preciso, concordo plenamente,<br />
“<strong>de</strong>si<strong>de</strong>ologizar”, no sentido político-partidário, o PT e o PDT, ou seja, retirar o<br />
conteúdo i<strong>de</strong>ológico. Primeiro, o conteúdo i<strong>de</strong>ológico limita-se a olhar só o Brasil. O<br />
mapa mostra que todos os gran<strong>de</strong>s países agricultores interessados têm<br />
transgênicos, mas o Brasil não. Então, somos alguma coisa. Estamos fazendo algo<br />
fantástico ou não? Como o Brasil, ao invés <strong>de</strong> assumir posição passiva, <strong>de</strong> um país<br />
livre <strong>de</strong> transgênicos, que vai aproveitar <strong>de</strong> uma porcaria <strong>de</strong> uma margem, que po<strong>de</strong><br />
acabar no momento em que acabar e esse produto <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser interessante, não<br />
sei, a vida <strong>de</strong>sse produto talvez não seja longa.<br />
O glifosato tem 30 anos <strong>de</strong> vida, o que é fantástico. Nenhum herbicida durou<br />
tanto, mas po<strong>de</strong> ser que esse produto não vingue e aí fizemos uma estratégia toda<br />
acoplada. Viraram estrategistas agora, enten<strong>de</strong>m <strong>de</strong> mercado, fantástico. E os<br />
<strong>de</strong>alers sabem fazer isso.<br />
O cara que ven<strong>de</strong> proteína <strong>de</strong> soja quer rotulagem e está <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo seu<br />
ponto <strong>de</strong> vista. Mas o Brasil precisa, por meio da diplomacia, por meio das leis,<br />
interferir nos fóruns internacionais para dizer o que é o interesse <strong>de</strong> um país<br />
exportador do agronegócio. Como tem <strong>de</strong> falar <strong>de</strong> subsídios, tem <strong>de</strong> falar nessas<br />
questões. Qual o conjunto <strong>de</strong> protocolos que vamos aceitar em termos <strong>de</strong><br />
biossegurança, <strong>de</strong> rotulagem, <strong>de</strong> segregação?<br />
Concordo totalmente com o Prof. Paterniani quando diz que é irracional<br />
rotular óleo <strong>de</strong> soja, seja <strong>de</strong> on<strong>de</strong> for. É óleo <strong>de</strong> soja, não tem proteína, o que<br />
estamos falando? Agora, um produto <strong>de</strong> maior valor, uma proteína vegetal<br />
concentrada <strong>de</strong> soja, um tofu, talvez o consumidor <strong>de</strong> tofu queira saber.<br />
O ponto dos supermercados, a que ele se referiu, está <strong>de</strong> acordo com os<br />
dados que mostrei, ou seja, os supermercados criaram uma estratégia <strong>de</strong> marketing.<br />
Eles são “curtoprazistas”, “medioprazistas”; eles po<strong>de</strong>m mudar, nós não.<br />
Não estamos falando <strong>de</strong> médio e curto prazos. Estamos falando <strong>de</strong> ciência,<br />
<strong>de</strong> tecnologia e inovação, o que significa competição. E aí respondo ao Deputado<br />
Adão. O uso <strong>de</strong> DNA recombinante vem sendo procurado. Por exemplo, o Ciba-<br />
Geigy, que hoje é Novartis, que já houve spin-off, a parte agrícola virou uma<br />
empresa não muito gran<strong>de</strong> chamada Syngenta, que se separou — são outros<br />
acionistas, inclusive. Essa empresa tinha indústria <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1970 que se<br />
chamava Funk Seeds, até um nome meio psicodélico, porque acredito que fosse a<br />
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área psicodélica da empresa. Inclusive <strong>de</strong>pois eles entraram na parte <strong>de</strong> Bt, partes<br />
consi<strong>de</strong>radas heterodoxas pelos produtores <strong>de</strong> pesticidas. Então, isso não é uma<br />
novida<strong>de</strong>. Esse é o primeiro ponto.<br />
Segundo, eles, como o Brasil, aí sim eles são nossos interlocutores, e<br />
discordo completamente <strong>de</strong> quem diz que eles não têm autorida<strong>de</strong>, porque têm, sim.<br />
Eles investem bilhões, correm riscos brutais. Como não têm autorida<strong>de</strong>? Eles são<br />
nossos interlocutores, porque são formuladores <strong>de</strong> estratégias a longo prazo para o<br />
lucro? Têm <strong>de</strong> ser controlados? Claro que sim.<br />
Temos alguns instrumentos que fracassaram, que pelo meu gosto não<br />
funcionam, como o processo <strong>de</strong> privatização do setor <strong>de</strong> fertilizante. Acompanhei<br />
passo a passo. Primeiro éramos importadores e tínhamos empresas estatais, que<br />
eram os fornecedores. E as empresas ditas nacionais eram meramente <strong>de</strong>alers,<br />
compradoras <strong>de</strong> fertilizantes, reven<strong>de</strong>doras e formuladoras <strong>de</strong> última etapa — não o<br />
essencial dos fertilizantes.<br />
Houve, aí sim, em nome da eficiência, uma verticalização. E a economia<br />
explica porque houve ganhos <strong>de</strong> eficiência na ca<strong>de</strong>ia produtiva <strong>de</strong> empresas.<br />
Naquele momento eram nacionais ou argentinas, que viraram nacionais. Hoje são<br />
empresas internacionais. Uma ligada ao setor <strong>de</strong> mineração e outra à DuPont,<br />
inclusive.<br />
Então, temos um problema a enfrentar. Quando as pessoas falam que o setor<br />
<strong>de</strong> alimento é sagrado, é segurida<strong>de</strong> alimentar, eu me lembro, então, da indústria<br />
alimentar que, para mim, é a mais concentrada. Não vi tantas gritas assim. É uma<br />
indústria com po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> manipulação, como disse o Dr. Paterniani, porque ela<br />
prescin<strong>de</strong>.<br />
Quanto à idéia <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> origem <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> também dá vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> dar risada. Estamos falando <strong>de</strong> quê? Já tomaram sorvete na vida? On<strong>de</strong> está a<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> daquilo? Estamos falando <strong>de</strong> quê? Conhecemos a marca e compramos o<br />
sorvete no supermercado. Se o supermercado resolver retirar as marcas Kibon e<br />
Gelatto e colocar Tesco e Carrefour vai fazê-lo. E aí vai dizer que é isento <strong>de</strong> soja<br />
transgênica, porque a soja entra no sorvete, mas é absolutamente processada e<br />
controlada por 4 ou 5 empresas mundiais. Exige-se um conjunto <strong>de</strong> procedimentos.<br />
Acredito que foi uma ban<strong>de</strong>ira fácil pegar apenas uma tecnologia que era<br />
nova e dizer: “Olha, aqui temos <strong>de</strong> colocar protocolos <strong>de</strong> biossegurança, <strong>de</strong><br />
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rotulagem e temos <strong>de</strong> ser muito rigorosos”. Quanto ao resto, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar para<br />
ver no que vai dar.<br />
Em relação aos transgênicos, nessa última rodada dos últimos anos, ainda<br />
que não tenhamos conseguido extrair soluções práticas, precisamos <strong>de</strong> soluções<br />
práticas.<br />
Na minha opinião, os transgênicos têm <strong>de</strong> ser liberados. E os liberem numa<br />
certa seqüência, escolham produtos <strong>de</strong> baixíssimo impacto ambiental, produtos<br />
fáceis <strong>de</strong> monitorar, não sei, mas não po<strong>de</strong> continuar bloqueando todos os<br />
transgênicos do jeito que está sendo feito, porque se bloquear, se colocar essa<br />
pauta da soja transgênica, o juiz não julga e ninguém faz nada. Isso não po<strong>de</strong><br />
acontecer. Isso vai matar a ativida<strong>de</strong>, porque hoje não existe ativida<strong>de</strong> científica que<br />
não esteja acoplada ao interesse econômico.<br />
O Estado tem interesse econômico. A idéia <strong>de</strong> que o Estado regula a<br />
agricultura é fantástica. Regula até certo ponto. Não temos orçamento plurianual<br />
para a agricultura. Sem o Estado, a agricultura não existe — com isso, eu concordo<br />
—, porque tem <strong>de</strong> haver articulação. E sem o Estado muitas ativida<strong>de</strong>s econômicas<br />
brasileiras não existem — essa é a nossa maneira <strong>de</strong> articular as coisas. Qualquer<br />
pessoa consciente sabe disso.<br />
Hoje estamos com setores <strong>de</strong> base pedindo pelo amor <strong>de</strong> Deus, estamos<br />
quase batendo na capacida<strong>de</strong>. O Brasil não vai crescer porque não po<strong>de</strong>mos<br />
crescer a 4%, porque estoura a capacida<strong>de</strong> do setor <strong>de</strong> papel e celulose. Estão<br />
pedindo para quem? Para mim, que ganho, respon<strong>de</strong>ndo ao Dr. Adão, a mesma<br />
coisa que o pesquisador da EMBRAPA? O senhor diz que sou rico na UNICAMP, aí<br />
fica um paradoxo. Ele vai pedir ao BNDES.<br />
Temos <strong>de</strong>, claramente, <strong>de</strong>finir a pauta, como vai ser a estratégia <strong>de</strong> combinar<br />
a liberação progressiva dos transgênicos, se esse for o caso.<br />
Um dos argumentos mais fortes foi o da Profa. Maria Alice Garcia, da<br />
UNICAMP. Ela disse que nós estamos <strong>de</strong>sequipados para a biossegurança, como<br />
estamos <strong>de</strong>sequipados para a fiscalização sanitária, talvez, na agricultura. Talvez<br />
esse seja o problema. Fui fazer uma inspeção e vi — esse foi o único argumento que<br />
me disse alguma coisa até agora. Dizer que po<strong>de</strong>m sair superpragas voadoras não<br />
me convence.<br />
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A idéia do Ministério do Meio Ambiente <strong>de</strong> centralizar tudo me arrepia, porque<br />
aí vale a tradição. Como não? Quem tem competência? Não vamos pegar o<br />
caminho mais longo, não vamos criar laboratórios malucos no meio <strong>de</strong> uma mina <strong>de</strong><br />
cimento, tentando ser isento <strong>de</strong> contaminação, como no passado. Não vamos<br />
inventar coisas absurdas. Vamos usar as competências e vamos <strong>de</strong>finir pautas<br />
daquilo que econômica e cientificamente é necessário.<br />
Se sabemos que o StarLink prejudica a ativida<strong>de</strong> das micorrizas, então<br />
po<strong>de</strong>mos ver em que nível está. Se vai começar a gerar <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> fósforo na<br />
planta, não adianta adubar, vai ter problema. Sou contra. Se isso foi verificado, o<br />
produto não serve. Não quer dizer que outro milho transgênico Bt possa ser feito.<br />
Esse talvez tenha esse problema ou não.<br />
Então, temos <strong>de</strong> ter competência. Vamos gastar mais dinheiro? Vamos. Por<br />
isso <strong>de</strong>vemos economizar dinheiro em ativida<strong>de</strong>s irrelevantes, como rotular produtos<br />
como o óleo <strong>de</strong> soja.<br />
A última questão é a dos royalties. Por exemplo, a COPERÇUCAR cobra<br />
royalties. Foi comentado aqui que o pesquisador da EMBRAPA ganha mal, que o<br />
pesquisador da UNICAMP ganha bem. O que é mal ou bem? Quanto? Quatro mil e<br />
oitocentos reais ou cinco mil e duzentos reais? É isso que estamos discutindo?<br />
Talvez com 25 anos <strong>de</strong> serviço chegue a R$6.000,00? É mais ou menos isso?<br />
A gran<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> é a seguinte: quanto se ganhou com a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cafés?<br />
Quanto a Colômbia ganhou com a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cafés brasileiros? Essa é uma<br />
resposta que <strong>de</strong>volvo àqueles que são empe<strong>de</strong>rnidos inimigos do royalty. Como se<br />
espera que a COPERÇUCAR faça a pesquisa? Financiada por quem, senão pelos<br />
usineiros? Até do ponto <strong>de</strong> vista social é melhor do que imposto, que já é uma<br />
gran<strong>de</strong> confusão. É mais focado o imposto, é mais direto. Eles cobram royalties dos<br />
usineiros que querem. E eles usam satélite para dizer: “É colorido, olhe aqui a cor,<br />
essa é a varieda<strong>de</strong> Coperçucar”. Vai pegar pequeno agricultor? Quanto custa pegar<br />
um técnico para ir até lá e provar que é Coperçucar? Não vai pegar pequeno<br />
agricultor. De jeito nenhum. A Monsanto vai sair atrás <strong>de</strong> agricultor <strong>de</strong> 40 hectares<br />
para ver se a soja é transgênica? Esse é um processo redistributivo.<br />
Concordo que a entrada das empresas internacionais no setor <strong>de</strong> sementes<br />
foi <strong>de</strong> uma agressivida<strong>de</strong> que tem muito mais a ver com a competição interoligopólio.<br />
Ou seja, eles estavam reagindo. Como se diz, eu dou um passo à frente para<br />
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bloquear a ação. Por que bloqueia? Por que a Monsanto não chegou e instalou a<br />
sua unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> beneficiamento <strong>de</strong> sementes e <strong>de</strong>pois tentou? Porque daí tem <strong>de</strong><br />
fazer contato com os agricultores. Não é qualquer agricultor que seja cooperado em<br />
sementes. Tem <strong>de</strong> ser um agricultor bom. Há problema <strong>de</strong> contrato. A economia<br />
contratual é baseada num certo nível <strong>de</strong> confiança. Não há enforcement possível.<br />
Você não consegue ir na lei: “Ah!, o cara não fez a semente legal”. A única coisa que<br />
você po<strong>de</strong> fazer é renunciar. Aí você não é bom.<br />
O conhecimento comprado <strong>de</strong> empresas, na aquisição, foi o que eles tinham<br />
da agricultura regional: quais os padrões <strong>de</strong> produção dos agricultores que diferem,<br />
algumas varieda<strong>de</strong>s não são tão boas assim. Porque eles vão ter <strong>de</strong> negociar.<br />
Agora, isso foi feito <strong>de</strong> maneira extremamente agressiva, porque chegar a 60% do<br />
mercado com 400 empresas é complicado.<br />
Minha mensagem final é exatamente em relação ao cenário <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>.<br />
E vamos ter <strong>de</strong> tomar uma <strong>de</strong>cisão. Espero que alguma <strong>de</strong>cisão ainda seja tomada<br />
neste ano. (Palmas.)<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) - Muito obrigado, Dr.<br />
José Maria Ferreira Jardim da Silveira.<br />
Sei que há aqui muitas pessoas que muito po<strong>de</strong>m contribuir com o <strong>de</strong>bate.<br />
Mas estamos discutindo há mais <strong>de</strong> 4 horas. Não seria justo com aqueles que<br />
querem acompanhar todas as ativida<strong>de</strong>s e com os palestrantes, pois serão mais<br />
sacrificados.<br />
O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS - Quero registrar, Sr. Presi<strong>de</strong>nte,<br />
a presença <strong>de</strong> uma caravana <strong>de</strong> Chapada, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. São Prefeitos,<br />
Vereadores, Secretários, pesquisadores, inclusive um agrônomo, que vieram<br />
prestigiar este encontro.<br />
O SR. COORDENADOR (Deputado Leonardo Vilela) – Agra<strong>de</strong>ço aos<br />
senhores a presença.<br />
Quero lembrar a todos que teremos mais duas oportunida<strong>de</strong>s para discutir<br />
esse tema. De antemão, convido os presentes para a terceira etapa, que acontecerá<br />
na próxima quinta-feira, 15 <strong>de</strong> maio, às 10h, no Auditório do Espaço Cultural da<br />
Câmara dos Deputados.<br />
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Mais uma vez, agra<strong>de</strong>ço aos Deputados aqui presentes, ao Presi<strong>de</strong>nte da<br />
Comissão <strong>de</strong> Agricultura e Política Rural, Deputado Wal<strong>de</strong>mir Moka, e aos ilustres<br />
palestrantes que nos honraram com suas brilhantes exposições.<br />
Muito obrigado.<br />
Boa tar<strong>de</strong> a todos.<br />
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