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Fascículo I Compreendendo a Deficiência Visual - Ministério da ...

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MEC<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação<br />

Secretaria de Educação Especial<br />

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO<br />

DE RECURSOS HUMANOS DO<br />

ENSINO FUNDAMENTAL<br />

DEFICIÊNCIA VISUAL<br />

VOLUME 1<br />

SÉRIE<br />

ATUALIDADES PEDAGÓGICAS<br />

6<br />

1


Presidente <strong>da</strong> República Federativa do Brasil<br />

Fernando Henrique Cardoso<br />

Ministro <strong>da</strong> Educação<br />

Paulo Renato Souza<br />

Secretária Executiva<br />

Maria Helena Guimarães de Castro<br />

Secretária de Educação Especial<br />

Marilene Ribeiro dos Santos<br />

2


MEC<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação<br />

Secretaria de Educação Especial<br />

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO<br />

DE RECURSOS HUMANOS DO<br />

ENSINO FUNDAMENTAL<br />

DEFICIÊNCIA VISUAL<br />

VOLUME 1<br />

SÉRIE<br />

ATUALIDADES PEDAGÓGICAS<br />

6<br />

3


<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação<br />

Esplana<strong>da</strong> dos <strong>Ministério</strong>s, Bloco L, 6º an<strong>da</strong>r, sala 600<br />

CEP 70047-901 - Brasília - DF<br />

Fone (061) 410-8651 – 410-8642<br />

Fax (061) 410-9265<br />

4<br />

Programa de Capacitação de Recursos Humanos do<br />

Ensino Fun<strong>da</strong>mental: deficiência visual vol. 1<br />

fascículos I – II – III / Maril<strong>da</strong> Moraes Garcia Bruno,<br />

Maria Glória Batista <strong>da</strong> Mota, colaboração: Instituto<br />

Benjamin Constant. _______Brasília: <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />

Educação, Secretaria de Educação Especial, 2001<br />

196 p. (Série Atuali<strong>da</strong>des Pe<strong>da</strong>gógicas; 6)<br />

1. <strong>Deficiência</strong> <strong>Visual</strong>. I. Série<br />

CDU. 376.352


APRESENTAÇÃO<br />

A Secretaria de Educação Especial do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />

Educação, objetivando a divulgação de conhecimentos<br />

técnico-científicos mais atualizados acerca <strong>da</strong>s diferentes áreas<br />

de deficiência, bem como relativos à superdotação, edita textos<br />

e sugestões de práticas pe<strong>da</strong>gógicas referentes à educação<br />

dos alunos com necessi<strong>da</strong>des especiais.<br />

A presente série trata <strong>da</strong> Educação de aluno portador<br />

de deficiência visual.<br />

MARILENE RIBEIRO DOS SANTOS<br />

Secretária de Educação Especial<br />

5


<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação<br />

Secretaria de Educação Especial<br />

<strong>Deficiência</strong> <strong>Visual</strong><br />

Vol. 1<br />

<strong>Fascículo</strong> I - II - III<br />

Brasília, 2001<br />

Conteudistas:<br />

Maril<strong>da</strong> Moraes Garcia Bruno<br />

Maria Glória Batista <strong>da</strong> Mota<br />

Colaboração<br />

Instituto Benjamin Constant<br />

7


VOLUME 1<br />

SUMÁRIO GERAL<br />

<strong>Fascículo</strong> I - <strong>Compreendendo</strong> a <strong>Deficiência</strong> <strong>Visual</strong><br />

• A deficiência visual através dos tempos<br />

• Sistema e função visual - conceituando a deficiência visual<br />

• Prevenção <strong>da</strong> deficiência visual na infância<br />

• Desenvolvimento visual e aprendizagem<br />

• Metodologia de avaliação clínico – funcional <strong>da</strong> visão<br />

• A<strong>da</strong>ptação de recursos ópticos específicos<br />

Bibliografia<br />

Anexo<br />

<strong>Fascículo</strong> II - Educação Infantil - Educação Precoce<br />

• O processo de inclusão em creches<br />

• Trabalhando juntos: família – escola – comuni<strong>da</strong>de<br />

• Programa de estimulação visual na faixa etária<br />

de zero a três anos<br />

• Programa de intervenção precoce na abor<strong>da</strong>gem<br />

pe<strong>da</strong>gógica<br />

Bibliografia<br />

Anexo<br />

<strong>Fascículo</strong> III - Educação Infantil – Pré-Escola<br />

• A escola inclusiva<br />

• Educação infantil e deficiência visual<br />

• Proposta pe<strong>da</strong>gógica e currículo na educação infantil<br />

• A<strong>da</strong>ptação curricular às necessi<strong>da</strong>des educacionais<br />

especiais<br />

• Diagnóstico e identificação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des<br />

educacionais especiais<br />

• Necessi<strong>da</strong>des específicas de desenvolvimento e<br />

aprendizagem na pré-escola<br />

• O processo de inclusão na pré-escola<br />

Bibliografia<br />

Anexo<br />

9


VOLUME 2<br />

<strong>Fascículo</strong> IV - A Escolarização do Aluno com <strong>Deficiência</strong><br />

<strong>Visual</strong><br />

• Fase inicial para alfabetização<br />

• Aprendizagem do Sistema Braille e o processo de<br />

alfabetização<br />

• O Sistema Braille: processo de leitura – escrita<br />

• Alfabetização do aluno de baixa visão<br />

• Recursos didáticos aplicados à educação dos alunos<br />

com deficiência visual<br />

• A inclusão do aluno com deficiência visual no ensino<br />

regular<br />

• A questão do ensino superior<br />

• A<strong>da</strong>ptações curriculares para alunos com deficiência visual<br />

• Comunicação e relação interpessoal<br />

Bibliografia<br />

Anexo<br />

VOLUME 3<br />

<strong>Fascículo</strong> V - Complementações Curriculares Específicas<br />

para a Educação do Aluno com <strong>Deficiência</strong> <strong>Visual</strong><br />

• Sorobã<br />

• Ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Diária<br />

• Orientação e Mobili<strong>da</strong>de<br />

• Escrita Cursiva<br />

Bibliografia<br />

Anexo<br />

<strong>Fascículo</strong> VI - O Processo de Socialização e<br />

Profissionalização <strong>da</strong> Pessoa com <strong>Deficiência</strong> <strong>Visual</strong><br />

• Competência social<br />

• Tecnologia na educação <strong>da</strong> pessoa cega e de baixa<br />

visão<br />

• Orientação para a escolha profissional<br />

10


• Estudo profissiográfico e encaminhamento ao mercado<br />

de trabalho<br />

Bibliografia<br />

Anexo<br />

<strong>Fascículo</strong> VII - Reabilitação<br />

• A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> visão na i<strong>da</strong>de adulta<br />

• O processo de reabilitação<br />

• Orientação profissional<br />

Bibliografia<br />

Anexo<br />

11


<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação<br />

Secretaria de Educação Especial<br />

<strong>Fascículo</strong> I<br />

<strong>Compreendendo</strong> a <strong>Deficiência</strong> <strong>Visual</strong><br />

Brasília, 2001<br />

Conteudistas<br />

Maril<strong>da</strong> Moraes Garcia Bruno<br />

Maria Glória Batista <strong>da</strong> Mota<br />

Colaboração<br />

Instituto Benjamin Constant<br />

13


SUMÁRIO<br />

FASCÍCULO I - COMPREENDENDO A DEFICIÊNCIA VISUAL<br />

• A deficiência visual através dos tempos<br />

• Sistema e função visual - conceituando a deficiência visual<br />

• Prevenção <strong>da</strong> deficiência visual na infância<br />

• Desenvolvimento visual e aprendizagem<br />

• Metodologia de avaliação clínico – funcional <strong>da</strong> visão<br />

• A<strong>da</strong>ptação de recursos ópticos específicos<br />

Bibliografia<br />

Anexo<br />

15


APRESENTAÇÃO<br />

Prezado Professor<br />

<strong>Compreendendo</strong> a <strong>Deficiência</strong> <strong>Visual</strong> é um texto de<br />

apoio a professores e profissionais que trabalham com crianças<br />

cegas e de baixa visão. Discute formas de prevenção, aspectos<br />

de anatomia, fisiologia e função visual necessários à<br />

compreensão do desempenho visual do aluno.<br />

Traz informações sobre os métodos mais modernos de<br />

avaliação <strong>da</strong>s funções visuais, dos recursos ópticos especiais,<br />

<strong>da</strong> alta tecnologia, <strong>da</strong>s estratégias pe<strong>da</strong>gógicas, dos recursos<br />

didáticos e, ain<strong>da</strong>, propicia orientação ao professor do ensino<br />

comum.<br />

17


OBJETIVO GERAL<br />

OBJETIVOS<br />

Capacitar o professor de educação infantil, ensino fun<strong>da</strong>mental<br />

e médio para a identificação, diagnóstico, encaminhamento<br />

e educação de alunos com deficiência visual.<br />

OBJETIVOS ESPECÍFICOS<br />

O professor atuará no sentido de:<br />

• identificar os sinais, sintomas e conduta do aluno<br />

com deficiência visual, encaminhando-o para os<br />

serviços complementares;<br />

• articular as ações dos serviços de saúde, educação<br />

e assistência social para obtenção dos recursos<br />

ópticos especiais necessários à aprendizagem <strong>da</strong><br />

leitura-escrita;<br />

• sensibilizar a comuni<strong>da</strong>de para a problemática <strong>da</strong><br />

deficiência visual, formas de prevenção, atendimento<br />

e inclusão social do aluno;<br />

• informar quanto aos recursos especiais, metodologia<br />

e estratégias pe<strong>da</strong>gógicas que facilitam o processo<br />

ensino-aprendizagem.<br />

19


INFORMAÇÕES INICIAIS<br />

1. Leia os objetivos específicos do fascículo.<br />

2. Estude o texto do fascículo.<br />

3. Teste seus conhecimentos, respondendo às avaliações<br />

propostas.<br />

4. Confira suas respostas com a <strong>da</strong> chave de correção, no<br />

final do fascículo.<br />

5. Se conseguir responder a todos as questões, passe para o<br />

fascículo seguinte.<br />

6. Se não conseguir respondê-las integralmente, reestude o<br />

texto.<br />

7. Respon<strong>da</strong> novamente a avaliação. Se não conseguir<br />

responder plenamente as questões, consulte o professor<br />

aplicador do fascículo.<br />

21


ALTERNATIVAS DE APRENDIZAGEM DO PROFESSOR<br />

1 - Estude o texto relativo ao fascículo.<br />

2 - Reveja o vídeo para tirar dúvi<strong>da</strong>s.<br />

3 - Recorra ao professor aplicador <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de, caso a dúvi<strong>da</strong><br />

persista.<br />

4 - Realize a avaliação proposta e as ativi<strong>da</strong>des sugeri<strong>da</strong>s.<br />

23


A DEFICIÊNCIA VISUAL ATRAVÉS DOS TEMPOS<br />

Conceito Histórico-Social<br />

A história <strong>da</strong> deficiência visual na humani<strong>da</strong>de é comum<br />

a todos os tipos de deficiências. Os conceitos foram evoluindo<br />

conforme as crenças, valores culturais, concepção de homem e<br />

transformações sociais que ocorreram nos diferentes momentos<br />

históricos.<br />

Assim sendo, na antigui<strong>da</strong>de as pessoas com<br />

deficiência mental, física e sensorial eram apresenta<strong>da</strong>s como<br />

aleija<strong>da</strong>s, mal constituí<strong>da</strong>s, débeis, anormais ou deforma<strong>da</strong>s.<br />

Percebidos como degeneração <strong>da</strong> raça humana no<br />

período em que predominava o princípio <strong>da</strong> eugenia, essas<br />

pessoas eram abandona<strong>da</strong>s ou elimina<strong>da</strong>s. As obras de Platão<br />

e Sêneca refletem as práticas helênicas e gregas que retratam<br />

essa concepção.<br />

Na I<strong>da</strong>de Média, com o apogeu do Cristianismo, elas<br />

passam a ser alvo de proteção, cari<strong>da</strong>de e compaixão. Ao<br />

mesmo tempo, justifica-se a deficiência pela expiação de<br />

pecados ou como passaporte indispensável ao reino dos céus.<br />

Surgem assim, as primeiras instituições asilares com encargo<br />

de <strong>da</strong>r assistência e proteção às pessoas deficientes.<br />

Na I<strong>da</strong>de Moderna, a filosofia Humanista começa a <strong>da</strong>r<br />

conta dos problemas relacionados ao homem, tendo por base<br />

a evolução <strong>da</strong>s ciências. O conhecimento científico assegura<br />

as tentativas <strong>da</strong> educação de pessoas deficientes sob o enfoque<br />

<strong>da</strong> patologia.<br />

Na I<strong>da</strong>de Contemporânea, os ideais <strong>da</strong> Revolução<br />

Francesa – igual<strong>da</strong>de, liber<strong>da</strong>de e fraterni<strong>da</strong>de – se expandem<br />

na construção de uma consciência social e movimentos<br />

mundiais evocam direitos e deveres do homem, assegurando<br />

às minorias o exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia no jogo democrático.<br />

Transformações político-sócio-culturais se processam deixando<br />

vir à tona formas diferencia<strong>da</strong>s de ser ou de vir a ser.<br />

25


Nessa historici<strong>da</strong>de, destacaram-se pessoas cegas<br />

com suas expressivas contribuições nas diferentes áreas do<br />

conhecimento, revelando o ilimitado potencial humano de<br />

pessoas como:<br />

• Homero – para alguns figura lendária – teria sido<br />

o responsável pelo registro de fatos sociais que<br />

possibilitaram o levantamento <strong>da</strong> história de um<br />

povo.<br />

• Didymus de Alexandria, Séc. IV d.C., professor de<br />

Filosofia, Teologia, Geometria e Astrologia.<br />

• Nicholas Saunderson (1682-1739) um dos mais<br />

renomados cientistas cegos. Matemático, foi<br />

professor de Cambridge e membro <strong>da</strong> Royal<br />

Society.<br />

• John Gough, biólogo inglês, especialista na<br />

classificação de animais e plantas.<br />

• Leonardo Euler, matemático, duas vezes premiado<br />

pela Academia de Ciências de Paris.<br />

• François Huber, zoólogo inglês, Séc. XVIII, tido<br />

como a maior autori<strong>da</strong>de sobre o comportamento<br />

<strong>da</strong>s abelhas.<br />

É interessante apontar que as antigas concepções<br />

sobre a deficiência permearam todos os períodos históricos e<br />

ain<strong>da</strong> se refletem neste final de milênio. Somos constantemente<br />

surpreendidos pela percepção de que a deficiência é uma<br />

herança maldita, possessão de espíritos, doença incurável,<br />

incapaci<strong>da</strong>de generaliza<strong>da</strong>, objeto de maldição ou obra do<br />

divino.<br />

26<br />

A Educação<br />

As preocupações de cunho educacional em relação às<br />

pessoas cegas, surgiram no Séc. XVI, com Girolínia Cardono –<br />

médico italiano – que testou a possibili<strong>da</strong>de de algum<br />

aprendizado de leitura através do tato. Peter Pontamus, Fleming<br />

(cego) e o padre Lara Terzi escreveram os primeiros livros sobre<br />

a educação <strong>da</strong>s pessoas cegas.


A partir de então, as idéias difundi<strong>da</strong>s vão ganhando<br />

força até que, no Séc. XVIII, 1784, surge em Paris, cria<strong>da</strong> por<br />

Valentin Haüy, a primeira escola para cegos: Instituto Real dos<br />

Jovens Cegos. Nela Haüy exercita sua invenção – um sistema<br />

de leitura em alto relevo com letras em caracteres comuns.<br />

No Séc. XIX, proliferaram na Europa e nos Estados<br />

Unidos escolas com a mesma proposta educacional. Um novo<br />

sistema com caracteres em relevo para escrita e leitura de<br />

cegos é desenvolvido por Louis Braille e tornado público em<br />

1825 – o Sistema Braille. Assim, o processo de ensinoaprendizagem<br />

<strong>da</strong>s pessoas cegas deslancha, possibilitandolhes<br />

maior participação social.<br />

A repercussão do sucesso <strong>da</strong>s novas técnicas e<br />

métodos e a credibili<strong>da</strong>de na capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pessoas cegas<br />

chegam ao Brasil encarna<strong>da</strong>s em José Álvares de Azevedo ao<br />

regressar de seus estudos em Paris, no Instituto Real dos Jovens<br />

Cegos.<br />

José Álvares de Azevedo ensina o Sistema Braille à<br />

Adèle Sigaud, filha cega do Dr. Xavier Sigaud, médico do Paço,<br />

e logo Adèle é leva<strong>da</strong> à presença de D. Pedro II pelo Dr. Sigaud<br />

e pelo Barão do Bom Retiro para apresentar suas idéias de terse<br />

no Brasil um colégio onde as pessoas cegas pudessem<br />

estu<strong>da</strong>r. A concretização desse ideal se consubstanciou na<br />

criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos a 17 de<br />

setembro 1854, hoje Instituto Benjamin Constant.<br />

O Instituto Benjamin Constant (IBC) foi o primeiro<br />

educandário para cegos na América Latina e é a única Instituição<br />

Federal de ensino destina<strong>da</strong> a promover a educação <strong>da</strong>s<br />

pessoas cegas e <strong>da</strong>s portadoras de baixa visão no Brasil.<br />

Além de ter criado a primeira Imprensa Braile do País<br />

(1926), tem-se dedicado a capacitação de recursos humanos,<br />

a publicações científicas e a inserção de pessoas deficientes<br />

visuais no mercado de trabalho.<br />

A cronologia dos acontecimentos em prol <strong>da</strong> educação<br />

de pessoas cegas no Brasil apontam o surgimento em outros<br />

27


estados do país, seguindo o mesmo modelo educacional do IBC,<br />

as primeiras escolas especiais para alunos cegos:<br />

1926 – Instituto São Rafael – Belo Horizonte-MG<br />

1928 – Instituto Padre Chico – São Paulo-SP<br />

1929 – Instituto de Cegos <strong>da</strong> Bahia – Salvador-BA<br />

1941 – Instituto Santa Luzia – Porto Alegre-RS<br />

1943 – Instituto de Cegos do Ceará – Fortaleza-CE<br />

1957 – Instituto de Cegos Florisvaldo Vargas – Campo<br />

Grande-MS<br />

Um grande marco na história <strong>da</strong> educação de pessoas<br />

cegas foi a criação, em 1946, <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção para o Livro do Cego<br />

no Brasil, hoje denomina<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Dorina Nowill para cegos<br />

que, com o objetivo original de divulgar livros do Sistema Braille,<br />

alargou sua área de atuação, apresentando-se como pioneira<br />

na defesa do ensino integrado, prestando relevantes serviços<br />

na capacitação de recursos humanos e de práticas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas.<br />

Em 1950, a ci<strong>da</strong>de de São Paulo e, em 1957, a ci<strong>da</strong>de<br />

do Rio de Janeiro inauguram em escolas comuns, pertencentes<br />

à Rede Regular de Ensino, o ensino integrado. A partir de então,<br />

em inúmeras regiões do Brasil a oportuni<strong>da</strong>de de educar<br />

pessoas com deficiência visual é ofereci<strong>da</strong> em salas de<br />

recursos, salas especiais e mais recentemente nos Centros de<br />

Apoio Pe<strong>da</strong>gógico.<br />

Na déca<strong>da</strong> de 80 e 90, com o avanço científico, foram<br />

criados nas universi<strong>da</strong>des os cursos para capacitação de<br />

professores e a criação de Centros de Atendimentos com<br />

Núcleos de Estudos, tais como: UNESP - Marília, UNICAMP -<br />

SP, USP, SANTA CASA - SP e UERJ-RJ.<br />

Nesse mesmo período surgem as Associações de Pais,<br />

Deficientes e Amigos como Associação Catarinense para<br />

Integração do Cego - ACIC de Santa Catarina, Associação de<br />

28


Amigos do Deficiente <strong>Visual</strong> - AADV, do Distrito Federal,<br />

Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais de<br />

Caxias do Sul - APADEV, do Rio Grande do Sul, Associação<br />

Brasileira de Assistência ao Deficiente <strong>Visual</strong> - LARAMARA,<br />

de São Paulo e outras que além de advogar o direito de<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia têm lutado pela melhoria de vi<strong>da</strong> e quali<strong>da</strong>de na<br />

educação de pessoas com deficiência visual.<br />

A socie<strong>da</strong>de dá indícios de que precisa se preparar para<br />

atender às necessi<strong>da</strong>des de seus membros. O modelo social<br />

<strong>da</strong> deficiência se fortalece como processo bilateral no qual, na<br />

conjugação de esforços, pessoas e sistemas sociais se<br />

reestruturam, simultaneamente, com vistas à edificação de uma<br />

socie<strong>da</strong>de para todos.<br />

SISTEMA E FUNÇÃO VISUAL - CONCEITUANDO A<br />

DEFICIÊNCIA VISUAL<br />

A formação <strong>da</strong> imagem visual depende de uma rede<br />

integra<strong>da</strong>, de estrutura complexa, <strong>da</strong> qual os olhos são apenas<br />

uma parte desse sistema, envolvendo aspectos fisiológicos,<br />

função sensório-motora, perceptiva e psicológica.<br />

A capaci<strong>da</strong>de de ver e interpretar as imagens visuais<br />

depende fun<strong>da</strong>mentalmente <strong>da</strong> função cerebral de receber,<br />

codificar, selecionar, armazenar e associar essas imagens a<br />

outras experiências anteriores.<br />

Para ver o mundo em formas e cores, é necessário um<br />

nervo óptico e retina (cama<strong>da</strong> interna que reveste a câmara<br />

ocular) intactos. A retina é forma<strong>da</strong> por células fotorreceptoras,<br />

os cones, responsáveis pela visão central e de cores e pelos<br />

bastonetes, responsáveis pela visão periférica e a<strong>da</strong>ptação a<br />

pouca iluminação – visão noturna.<br />

A concentração <strong>da</strong>s células nervosas na retina passa a<br />

constituir a mácula, ponto central <strong>da</strong> visão, cuja função é a<br />

29


acui<strong>da</strong>de visual, responsável pela visão níti<strong>da</strong> e de detalhes. As<br />

terminações dessas células nervosas constituem o nervo óptico<br />

que conduz o estímulo visual ao cérebro, onde as imagens são<br />

interpreta<strong>da</strong>s.<br />

A parte externa é constituí<strong>da</strong> pela esclerótica, membrana<br />

fibrosa e resistente, o branco dos olhos, responsável por sua<br />

proteção. A córnea é transparente para possibilitar a passagem<br />

dos raios luminosos.<br />

A túnica média é constituí<strong>da</strong> pela coróide, membrana<br />

pigmenta<strong>da</strong>, rica em vasos sangüíneos responsáveis pela<br />

irrigação e nutrição <strong>da</strong> retina.<br />

O corpo ciliar é o espessamento <strong>da</strong> túnica média,<br />

ligando a coróide à íris. Produz o humor aquoso, fluido<br />

transparente que ocupa o espaço entre a córnea e o cristalino,<br />

parte anterior. Junto com o humor vítreo (substância gelatinosa<br />

e transparente) ocupam espaço posterior do cristalino e retina,<br />

formando os meios líquidos.<br />

A íris, o disco colorido dos olhos, é forma<strong>da</strong> na parte<br />

central pela pupila (menina dos olhos) que controla a entra<strong>da</strong> e<br />

quanti<strong>da</strong>de do estímulo luminoso. Pela ação dos músculos <strong>da</strong><br />

íris controlado pelo sistema autônomo, a pupila se dilata no<br />

escuro e se contrai em alta iluminação, regulando a quanti<strong>da</strong>de<br />

de luz que penetra no olho.<br />

Atrás <strong>da</strong> íris, fica o cristalino, uma lente biconvexa,<br />

transparente, responsável pelo foco e nitidez <strong>da</strong> imagem. O<br />

estímulo atravessa os diversos meios transparentes, córnea,<br />

humor aquoso, cristalino e corpo vítreo, para chegar ao fundo<br />

do olho. Qualquer malformação ou alteração nesse sistema,<br />

pode prejudicar seriamente a função visual.<br />

As sensações visuais recebi<strong>da</strong>s, inverti<strong>da</strong>s pela<br />

retina, são leva<strong>da</strong>s ao cérebro pelo nervo óptico e corrigi<strong>da</strong>s<br />

pelo córtex visual occipital que interpreta<strong>da</strong>s tornam-se<br />

conscientes.<br />

30


Fig. 1. Estrutura do globo ocular.<br />

Os cones e bastonetes fazem sinapses com células<br />

bipolares, que conecta<strong>da</strong>s às células ganglionares, formam os<br />

axônios do nervo óptico.<br />

Córtex <strong>Visual</strong><br />

As imagens visuais se formam através <strong>da</strong> excitação pela<br />

luz <strong>da</strong>s moléculas fotossensíveis, desencadeando reações<br />

químicas e gerando impulsos nervosos que são conduzidos pelo<br />

nervo óptico ao córtex visual, responsável pela decodificação,<br />

interpretação e associação de imagens.<br />

31


Fig. 2. Processamento visual.<br />

A Visão Tridimensional<br />

A visão tridimensional ou estereoscópica, ocorre<br />

quando há binoculari<strong>da</strong>de, possibilitando a percepção <strong>da</strong><br />

posição dos objetos no espaço, o cálculo <strong>da</strong> distância entre eles<br />

e a noção de profundi<strong>da</strong>de.<br />

A imagem integra<strong>da</strong> no cérebro ocorre porque a<br />

informação visual de ambos os olhos (visão binocular) é fundi<strong>da</strong><br />

em uma única imagem pelas células corticais conecta<strong>da</strong>s às<br />

vias ópticas de ambos os olhos.<br />

A visão binocular se desenvolve normalmente, se os<br />

dois olhos trabalharem juntos. Com imagens diferentes por<br />

desvio dos olhos (estrabismo) ou por erro de refração não<br />

ocorre a fusão. Dessa forma a criança passa a preferir o<br />

melhor olho, suprimindo a imagem do outro ou fixando<br />

alterna<strong>da</strong>mente, podendo desenvolver a ambliopia ou baixa<br />

visão.<br />

32


As alterações <strong>da</strong> visão binocular, as dificul<strong>da</strong>des de<br />

convergência (desvio) e acomo<strong>da</strong>tivas (acomo<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> lente<br />

ocular para ver em diferentes distâncias) podem acarretar na<br />

criança sensações desagradáveis como: imagens duplas<br />

(diplopia), dificul<strong>da</strong>de de figura e fundo e de orientação no<br />

espaço.<br />

Essas dificul<strong>da</strong>des devem ser corrigi<strong>da</strong>s por correção<br />

óptica, oclusão ou intervenção cirúrgica quando for o caso, o<br />

mais cedo possível, antes <strong>da</strong> redução <strong>da</strong> plastici<strong>da</strong>de neuronal<br />

e cortical para que a criança tenha um desenvolvimento normal<br />

do sistema e função visual.<br />

CONCEITUANDO A DEFICIÊNCIA VISUAL<br />

Baixa Visão<br />

É a alteração <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de funcional <strong>da</strong> visão,<br />

decorrente de inúmeros fatores isolados ou associados tais<br />

como: baixa acui<strong>da</strong>de visual significativa, redução importante<br />

do campo visual, alterações corticais e/ou de sensibili<strong>da</strong>de aos<br />

contrastes que interferem ou limitam o desempenho visual do<br />

indivíduo.<br />

A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> função visual pode ser em nível severo,<br />

moderado ou leve, podendo ser influencia<strong>da</strong> também por fatores<br />

ambientais inadequados.<br />

Cegueira<br />

É a per<strong>da</strong> total <strong>da</strong> visão até a ausência de projeção<br />

de luz.<br />

Do ponto de vista educacional, deve-se evitar o<br />

conceito de cegueira legal (acui<strong>da</strong>de visual igual ou menor que<br />

20/200 ou campo visual inferior a 20° no menor olho), utiliza<strong>da</strong><br />

apenas para fins sociais, pois não revelam o potencial visual<br />

útil para execução de tarefas.<br />

33


Classificação Clínica<br />

A classificação clínica de baixa visão proposta pela Dra.<br />

Fon<strong>da</strong> G. (1961) em quatro grupos, de acordo com a acui<strong>da</strong>de<br />

visual e as relativas dificul<strong>da</strong>des de a<strong>da</strong>ptação de recursos<br />

ópticos, estabelece:<br />

Grupo I – Percepção luminosa a 1/200 – Difícil utilização<br />

<strong>da</strong> visão residual.<br />

Grupo II – Visão de 2/200 a 4/200 – Difícil a<strong>da</strong>ptação<br />

de recursos ópticos específicos.<br />

Grupo III – Visão de 5/200 a 20/300 – O indivíduo pode<br />

a<strong>da</strong>ptar-se, dependendo <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de, a auxílios para perto<br />

ou longe.<br />

Grupo IV – Visão de 20/250 a 20/600 os auxílios ópticos<br />

podem produzir melhor efeito e bom resultado para perto e longe.<br />

O índice de acui<strong>da</strong>de representado nos números<br />

fracionários 6/18 e 20/70 (por exemplo) significa que o indivíduo<br />

vê, a uma distância de 6m ou 20 pés, o que uma pessoa, de<br />

visão normal, veria à distância de 18m ou 70 pés.<br />

É importante que o professor especializado conheça<br />

essa classificação para interpretação do relatório oftalmológico,<br />

mas não deve ser utiliza<strong>da</strong> como parâmetro para inclusão de<br />

alunos em programas de baixa visão.<br />

Abor<strong>da</strong>gem Educacional<br />

A comprovação de que portadores do mesmo grau<br />

de acui<strong>da</strong>de apresentam níveis diferentes de desempenho<br />

visual e a necessi<strong>da</strong>de de relacionar a utilização máxima <strong>da</strong><br />

visão residual com o potencial de aprendizagem <strong>da</strong> criança<br />

levou as Dras. Faye e Barraga a enfatizarem a necessi<strong>da</strong>de<br />

de uma avaliação funcional, pela observação criteriosa <strong>da</strong><br />

capaci<strong>da</strong>de e desempenho visual <strong>da</strong> criança. Sob esse<br />

aspecto e, portanto, para fins educacionais, são por elas<br />

considerados:<br />

Pessoas com baixa visão – aquelas que apresentam<br />

“desde condições de indicar projeção de luz até o grau em que<br />

a redução <strong>da</strong> acui<strong>da</strong>de visual interfere ou limita seu<br />

34


desempenho”. Seu processo educativo se desenvolverá,<br />

principalmente, por meios visuais, ain<strong>da</strong> que com a utilização<br />

de recursos específicos.<br />

Cegas – pessoas que apresentam “desde ausência total<br />

de visão até a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> projeção de luz”. O processo de<br />

aprendizagem se fará através dos sentidos remanescentes (tato,<br />

audição, olfato, pala<strong>da</strong>r), utilizando o Sistema Braille, como<br />

principal meio de comunicação escrita.<br />

No ano de 1992, em Bangkok – Tailândia a Organização<br />

Mundial de Saúde e o Conselho Internacional de Educação de<br />

Deficientes Visuais (ICEVI) reuniram-se para discutir o<br />

atendimento <strong>da</strong>s crianças com baixa visão no mundo.<br />

Elaboraram uma nova definição clínico funcional, tendo em vista<br />

que o desempenho visual é mais um processo funcional do que<br />

simples expressão numérica <strong>da</strong> acui<strong>da</strong>de visual. Diante disto,<br />

foi proposta a seguinte definição:<br />

Baixa Visão<br />

Segundo o Conselho Internacional de Educação de<br />

<strong>Deficiência</strong> <strong>Visual</strong> - Organização Mundial de Saúde (OMS), baixa<br />

visão é o comprometimento do funcionamento visual em ambos<br />

os olhos, mesmo após tratamento e ou correção de erros<br />

refracionais comuns:<br />

• acui<strong>da</strong>de visual inferior a 0,3, até percepção de<br />

luz;<br />

• campo <strong>Visual</strong> inferior a 10º do seu ponto de<br />

fixação;<br />

• capaci<strong>da</strong>de potencial de utilização <strong>da</strong> visão para<br />

o planejamento e execução de tarefas.<br />

Os critérios visuais incluídos nessa definição seguem a<br />

Classificação Internacional <strong>da</strong>s Doenças (CID) e não devem ser,<br />

portanto, utilizados para elegibili<strong>da</strong>de de educação ou<br />

reabilitação, sem incluir <strong>da</strong>dos de avaliação de outras funções<br />

visuais igualmente importantes, como:<br />

• sensibili<strong>da</strong>de aos contrastes;<br />

• a<strong>da</strong>ptação a iluminação.<br />

35


Desta forma, propõe-se uma avaliação clínico-funcional<br />

realiza<strong>da</strong> por oftalmologista e pe<strong>da</strong>gogo especializados em<br />

baixa visão, levando em conta:<br />

Avaliação Clínica<br />

36<br />

• diagnóstico e prognóstico;<br />

• avaliação <strong>da</strong> acui<strong>da</strong>de visual para perto e longe;<br />

• avaliação do campo visual;<br />

• avaliação <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de aos contrastes e<br />

visão de cores;<br />

• prescrição e orientação de recursos ópticos<br />

especiais.<br />

Classificação Funcional<br />

Dra. Eva Lindsted (1993) faz interessante classificação<br />

do nível de Visão Funcional, de acordo com o método Bust:<br />

Visão de Perto:<br />

I – Nível 1 – A.v – 0,01 – 0,05<br />

1. reconhece faces a 0,5m, 1,0m, 2,0m;<br />

2. reconhece brinquedos grandes; bola, boneca a<br />

15cm;<br />

3. reconhece a colher e garfo – objeto do Bust;<br />

4. reconhece peças de roupa.<br />

II – Nível 2 – A.v. – 0, 05 – 0,1<br />

5. brinquedos – correspondente Bust N° 1 – 3 a 25cm;<br />

6. bola de gude;<br />

7. uvas passas – correspondendo Bust N° 4 – 5 a<br />

25cm;<br />

8. lego pequeno;<br />

9. pera Indiana;<br />

10. jogos de números – baralho;<br />

11. baralho de figuras cômicas;


12. quebra-cabeça fácil c/ peças grandes;<br />

13. figuras pequenas – Bust – N° 5 – 7 a 25cm.<br />

III – Nível 3 – A.v. – 0,1 a 0,3<br />

14. letras grandes – Bust – N° 8 – 9 a 25cm;<br />

15. trabalho de agulha.<br />

IV – nível 4 – A.v.+ 0,3;<br />

16. figura muito pequena – Bust – N° 6 – 9 a 25cm;<br />

17. letras pequenas – Bust – N° 6 – 9 a 40cm.<br />

Avaliação Funcional<br />

É a observação do desempenho visual do aluno em<br />

to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des diárias, desde como se orienta e locomovese<br />

no espaço, alimenta-se, brinca, até como usa a visão para a<br />

realização de tarefas escolares ou práticas.<br />

A Avaliação Funcional <strong>da</strong> Visão revela <strong>da</strong>dos<br />

qualitativos de observação informal sobre:<br />

• o nível de desenvolvimento visual do aluno;<br />

• o uso funcional <strong>da</strong> visão residual para ativi<strong>da</strong>des<br />

educacionais, de vi<strong>da</strong> diária, orientação e<br />

mobili<strong>da</strong>de;<br />

• a necessi<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptação à luz e aos<br />

contrastes;<br />

• a<strong>da</strong>ptação de recursos ópticos, não-ópticos e<br />

equipamentos de tecnologia avança<strong>da</strong>.<br />

É importante ressaltar que a Avaliação Funcional <strong>da</strong><br />

Visão pode ser a única fonte de informação em crianças préverbais<br />

ou em crianças com deficiências associa<strong>da</strong>s, ou seja,<br />

que apresenta comprometimento intelectual, físico ou sensorial.<br />

Recomen<strong>da</strong>-se a avaliação clínico-funcional o mais<br />

cedo possível para a detecção <strong>da</strong>s alterações funcionais <strong>da</strong><br />

visão, no primeiro ano de vi<strong>da</strong>, para que a criança tenha<br />

oportuni<strong>da</strong>de de adquirir experiências, prevenindo-se, desta<br />

forma, alterações e defasagens importantes no desenvolvimento<br />

global.<br />

37


PREVENÇÃO DA DEFICIÊNCIA VISUAL NA INFÂNCIA<br />

Em nosso meio, a baixa visão ain<strong>da</strong> passa muitas<br />

vezes despercebi<strong>da</strong> a pais e professores, manifestando-se,<br />

com freqüência, no momento em que aumentam na escola os<br />

níveis de exigência quanto ao desempenho visual <strong>da</strong> criança<br />

para perto. Por sua vez, a cegueira é mais facilmente detecta<strong>da</strong><br />

e geralmente diagnostica<strong>da</strong> mais cedo.<br />

A detecção precoce de quaisquer dos problemas, pode<br />

constituir fator decisivo no desenvolvimento global <strong>da</strong> criança,<br />

desde que sejam propicia<strong>da</strong>s condições de estimulação<br />

adequa<strong>da</strong> às suas necessi<strong>da</strong>des de maturação, favorecendo o<br />

desenvolvimento máximo <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des, minimizando as<br />

limitações impostas pela incapaci<strong>da</strong>de visual.<br />

Em to<strong>da</strong>s as situações escolares a professora tem,<br />

normalmente, oportuni<strong>da</strong>de de observar sinais, sintomas,<br />

posturas e condutas do aluno que indicam a necessi<strong>da</strong>de de<br />

encaminhamento a um exame clínico apurado.<br />

Sintomas e sinais mais comuns de alterações visuais<br />

38<br />

Sintomas:<br />

• tonturas, náuseas e dor de cabeça;<br />

• sensibili<strong>da</strong>de excessiva à luz (fotofobia);<br />

• visão dupla e embaça<strong>da</strong>;<br />

Condutas do aluno:<br />

• aperta e esfrega os olhos;<br />

• irritação, olhos avermelhados e/ou lacrimejantes;<br />

• pálpebras com as bor<strong>da</strong>s avermelha<strong>da</strong>s ou<br />

incha<strong>da</strong>s;<br />

• purgações e terçóis;<br />

• estrabismo;<br />

• nistagmo (olhos em constante oscilação);<br />

• pisca excessivamente;<br />

• crosta na área de implante dos cílios;


• franzimento <strong>da</strong> testa ou piscar contínuo para fixar<br />

perto ou longe;<br />

• dificul<strong>da</strong>de para seguimento de objeto;<br />

• cautela excessiva ao an<strong>da</strong>r;<br />

• tropeço e que<strong>da</strong> freqüentes;<br />

• desatenção e falta de interesse;<br />

• inquietação e irritabili<strong>da</strong>de;<br />

• dificul<strong>da</strong>de para leitura e escrita;<br />

• aproximação excessiva do objeto que está sendo<br />

visto;<br />

• postura inadequa<strong>da</strong>;<br />

• fadiga ao esforço visual.<br />

A avaliação <strong>da</strong> acui<strong>da</strong>de visual por si só não é fator<br />

determinante na detecção <strong>da</strong> deficiência visual. Torna-se,<br />

portanto, de suma importância a observação dos sinais e<br />

sintomas antes relacionados sobre as condutas dos alunos.<br />

Incidência, causas e formas de prevenção<br />

Dados <strong>da</strong> Organização Mundial de Saúde revelam a<br />

existência de aproxima<strong>da</strong>mente 40 milhões de pessoas<br />

deficientes visuais no mundo, dos quais 75% são provenientes<br />

de regiões considera<strong>da</strong>s em desenvolvimento.<br />

O Brasil, segundo essa mesma fonte, deve apresentar<br />

taxa de incidência de deficiência visual entre 1,0 a 1,5% <strong>da</strong><br />

população. Sendo a estimativa <strong>da</strong> cegueira infantil de uma entre<br />

3.000 crianças e de uma entre 500 crianças para a baixa visão.<br />

Observando-se que esta corresponde a 80% dos casos e a 20%<br />

de pessoas totalmente cegas.<br />

Calcula-se que os <strong>da</strong>dos estimados poderiam ser<br />

reduzidos pelo menos à metade, se fossem toma<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s<br />

preventivas eficientes.<br />

39


Causas mais freqüentes:<br />

Congênitas:<br />

40<br />

• Retinopatia <strong>da</strong> Prematuri<strong>da</strong>de, grau III, IV, V, (por<br />

imaturi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> retina em virtude de parto<br />

prematuro ou por excesso de oxigênio na<br />

incubadora).<br />

• Corioretinite por toxoplasmose na gestação.<br />

• Catarata congênita (rubéola, infecções na gestação<br />

ou hereditária).<br />

• Glaucoma congênito (hereditário ou por infecções).<br />

• Atrofia óptica por problema de parto (hipoxia,<br />

anoxia ou infecções perinatais).<br />

• Degenerações retinianas (Síndrome de Leber,<br />

doenças hereditárias ou diabetes).<br />

• <strong>Deficiência</strong> visual cortical (encefalopatias,<br />

alteração de sistema nervoso central ou<br />

convulsões)<br />

Adquiri<strong>da</strong>s:<br />

Por doenças como diabetes, descolamento de retina,<br />

glaucoma, catarata, degeneração senil e traumas oculares.<br />

Formas de Prevenção<br />

As causas de origem genética e familiar como retinite<br />

pigmentosa, glaucoma e catarata congênita podem ser evita<strong>da</strong>s<br />

com aconselhamento genético.<br />

Dentre as causas congênitas, destacam-se os fatores<br />

mais freqüentes: gestação precoce, desnutrição <strong>da</strong> gestante,<br />

drogas em geral, álcool, infecções durante a gravidez (rubéola,<br />

sífilis, AIDS, toxoplasmose e citomegalovirus).<br />

Existe alta incidência de deficiência visual severa<br />

associa<strong>da</strong> à múltipla deficiência, em nosso meio, em vista <strong>da</strong><br />

falta de prevenção (vacinação de meninas contra a rubéola) o


que evitaria o nascimento de crianças com catarata congênita,<br />

surdez e deficiência mental.<br />

To<strong>da</strong> mulher deve ser vacina<strong>da</strong> antes de engravi<strong>da</strong>r<br />

ou, de preferência, no início <strong>da</strong> adolescência, pois o vírus <strong>da</strong><br />

rubéola materna atravessa a placenta, alterando o processo<br />

de formação embrionária. A prevenção depende apenas <strong>da</strong><br />

política pública devendo a investigação epidemiológica a ser<br />

realiza<strong>da</strong> pelos governos Estaduais e Municipais.<br />

A toxoplasmose é transmiti<strong>da</strong> pelo protozoário<br />

“toxoplasma gondii”, geralmente por meio do contato com<br />

animais domésticos infectados: cães, coelhos, gatos, galinhas,<br />

pombos e alimentos mal cozidos. A mãe contagia<strong>da</strong> nos<br />

primeiros trimestres de gestação pode gerar uma criança com<br />

deficiência visual severa, microcefalia e calcificações cerebrais.<br />

As doenças virais e bacterianas como sarampo,<br />

meningites, encefalites podem acarretar hidrocefalia ou<br />

microcefalias. São também causas de deficiência visual que<br />

podem ser reduzi<strong>da</strong>s por medi<strong>da</strong>s eficientes de prevenção de<br />

saúde, com detecção precoce <strong>da</strong>s alterações visuais, triagem<br />

em berçário, creches e pré-escolas.<br />

Triagem ocular<br />

No exame ocular de bebês (pelo método Teller) a partir<br />

do 1º mês de vi<strong>da</strong> e de crianças a partir de 2 anos (Teste Bust,<br />

LH, Light House) é possível detectar tal deficiência, mas<br />

infelizmente esses testes não estão disponíveis em larga escala<br />

no mercado nacional.<br />

41


Os pais e professores de crianças, de creche e <strong>da</strong> préescola<br />

podem solicitar, em caso de presença de sintomas ou sinais,<br />

uma avaliação funcional <strong>da</strong> visão para detecção de possíveis<br />

alterações no desenvolvimento visual.<br />

42<br />

Fig. 3. Teste Bust.<br />

São funções <strong>da</strong> Escola:<br />

• aplicar testes para triagem ocular de pré-escolares para<br />

verificação <strong>da</strong> acui<strong>da</strong>de visual;<br />

• encaminhar a criança com urgência ao médico oftalmologista,<br />

quando necessário;<br />

• proporcionar orientação quanto à higiene e à prevenção<br />

dos problemas oculares;<br />

• buscar junto aos pais e ou comuni<strong>da</strong>de recursos para o<br />

melhor atendimento <strong>da</strong> criança.<br />

O método de avaliação e triagem de pré-escolares e<br />

escolares mais simples e eficaz é o <strong>da</strong> Escala Optométrica de<br />

Snellen ou teste do E (ou ganchos) que pode ser aplicado em<br />

crianças a partir de 4 anos.<br />

O teste de Snellen não adequado para avaliação de<br />

acui<strong>da</strong>de visual de crianças com visão subnormal, é aconselhável<br />

apenas para triagem <strong>da</strong> população escolar.


Fig. 4. Teste Light House.<br />

43


Aplicando o teste de acui<strong>da</strong>de visual<br />

Primeiramente, selecionar o material necessário:<br />

• escala optométrica de Snellen ou Light House;<br />

• ponteiro ou lápis preto;<br />

• fita métrica;<br />

• giz, cadeira;<br />

• modelo do “gancho”, confeccionado em cartolina<br />

ou papel cartão preto;<br />

• cartão para cobrir o olho;<br />

• lista nominal dos alunos para registro dos<br />

resultados.<br />

A seguir, providenciar o local adequado para a aplicação<br />

do teste:<br />

• ter no mínimo 5 (cinco) metros;<br />

• ser bem iluminado, mas sem ofuscamento (luz deve<br />

vir de trás ou dos lados <strong>da</strong> criança que será<br />

testa<strong>da</strong>);<br />

• sem barulho e sem estímulos que desviem a<br />

atenção do aluno.<br />

Toma<strong>da</strong>s estas primeiras providências, procede-se <strong>da</strong><br />

seguinte maneira:<br />

• colocar a tabela de modo que a linha<br />

correspondente à acui<strong>da</strong>de 1,0 fique no nível dos;<br />

olhos <strong>da</strong> criança, quando senta<strong>da</strong>;<br />

• riscar no chão uma linha à distância de 5 (cinco)<br />

metros, para indicar onde o aluno deverá colocarse<br />

durante a aplicação;<br />

• colocar uma cadeira com os pés traseiros sobre<br />

a linha risca<strong>da</strong> no chão;<br />

• apontar os “ganchos” de preferência, com lápis<br />

preto.<br />

Grande parte do êxito do teste de acui<strong>da</strong>de visual<br />

depende <strong>da</strong> adoção prévia de medi<strong>da</strong>s por parte dos escolares.<br />

Para tanto, o professor deve explicar detalha<strong>da</strong>mente o<br />

que vai fazer, mostrando as diferentes posições nas quais os<br />

“ganchos” aparecem na tabela. Com auxílio do modelo, verificar<br />

44


se a explicação foi bem compreendi<strong>da</strong> pedindo a ca<strong>da</strong> aluno<br />

que informe a posição de um dos “ganchos”.<br />

Individualmente explicar ao aluno, junto à tabela, o que<br />

se espera que ele faça, mostrando um ou dois “ganchos” e<br />

verificando se ele entendeu bem o que foi pedido. À distância<br />

de 5 metros, colocar o aluno sentado numa cadeira, em frente à<br />

tabela. Ensinar a cobrir um olho com o cartão, colocado<br />

obliquamente sobre o nariz, sem pressionar o globo ocular (o<br />

olho deve permanecer aberto).<br />

Quanto à aplicação propriamente dita, são os seguintes<br />

os cui<strong>da</strong>dos necessários:<br />

• se a criança usar óculos, testar primeiro com eles<br />

e depois sem eles;<br />

• testar sempre o olho direito (O.D.) primeiro e<br />

depois o esquerdo (O.E.), para evitar confusão nas<br />

anotações;<br />

• usar lápis preto ou ponteiro para indicar o sinal a<br />

ser lido;<br />

• começar de cima para baixo indicando dois ou<br />

três sinais de linha, sem estabelecer rotina;<br />

• mu<strong>da</strong>r de um sinal para o outro, ritmicamente,<br />

evitando apressar o aluno, mas sem demorar<br />

demasia<strong>da</strong>mente;<br />

• mostrar o maior número de sinais <strong>da</strong>s linhas 0,9 e<br />

1,0;<br />

• se a criança ficar indecisa em determina<strong>da</strong> linha,<br />

indicar um número maior de sinais, para certificar<br />

se é realmente falha de visão;<br />

• anotar como resultado do teste, o valor decimal<br />

correspondente à última linha em que não<br />

encontrou dificul<strong>da</strong>de, registrando separa<strong>da</strong>mente<br />

os resultados de O.D. e O.E. . Exemplo: O.D.=<br />

1,0 O.E.= 0,8;<br />

• quando a criança não enxergar os sinais maiores<br />

– linha 0,1 – registrar “


46<br />

• encaminhar ao oftalmologista, prioritariamente,<br />

o aluno que obteve no teste resultado igual ou<br />

inferior a 0,8 em qualquer olho ou que apresente<br />

diferença de duas linhas ou mais entre os<br />

resultados de um e de outro olho. Antes de fazer<br />

o encaminhamento realize o reteste usando a<br />

mesma técnica descrita.<br />

Principais Alterações Visuais na Infância e Formas de Prevenção<br />

As principais alterações visuais na infância são:<br />

hipermetropia, miopia, astigmatismo, ambliopia e estrabismo.<br />

Embora essas alterações não constituam deficiência visual, são<br />

problemas visuais que devem ser detectados e tratados<br />

precocemente com intervenção clínica oftalmológica adequa<strong>da</strong><br />

para que a criança atinja um desenvolvimento <strong>da</strong>s funções visuais<br />

dentro dos padrões de normali<strong>da</strong>de.<br />

O olho humano pode ver com nitidez objetos a curta<br />

distância, desde 25cm até muitos quilômetros de distância. Para<br />

que isto ocorra, os meios ópticos e vias ópticas devem estar<br />

intactos, de modo que a imagem capta<strong>da</strong> pela retina seja<br />

transmiti<strong>da</strong> pelo nervo óptico até o córtex visual, responsável<br />

pela decodificação e interpretação <strong>da</strong>s imagens visuais.<br />

A detecção precoce e correção <strong>da</strong>s principais alterações<br />

visuais, no primeiro ano de vi<strong>da</strong>, permitem que as imagens de ambos<br />

os olhos sejam iguais e de boa quali<strong>da</strong>de para que o cérebro seja<br />

capaz de realizar a fusão. As duas imagens se fundem tornando<br />

uma percepção única, processo responsável pela visão binocular.<br />

A visão binocular tem um rápido desenvolvimento a<br />

partir <strong>da</strong> coordenação ocular dos 3 até os 12 meses, o que<br />

proporciona a percepção espacial e a visão de profundi<strong>da</strong>de.<br />

As conexões celulares e a plastici<strong>da</strong>de neuronal são intensas<br />

até os 3 anos, por isso as alterações visuais como ambliopia e<br />

estrabismo devem ser corrigidos de preferência no primeiro ano<br />

de vi<strong>da</strong>, para resultados de grande eficácia.<br />

Embora a binoculari<strong>da</strong>de se complete por volta dos cinco<br />

– seis anos, os resultados obtidos depois dos cinco anos serão


em menores. Por isso, deveria ser prática comum em nosso<br />

meio a avaliação oftalmológica nas creches e pré-escolas.<br />

AMBLIOPIA<br />

É a para<strong>da</strong> ou regressão do desenvolvimento visual em<br />

um ou ambos os olhos, ocorrendo a diminuição <strong>da</strong> acui<strong>da</strong>de<br />

visual sem uma alteração orgânica aparente.<br />

A ambliopia pode ser causa<strong>da</strong> por:<br />

• estrabismo, 50% dos casos;<br />

• privação sensorial (ex-anopsia-catarata ou<br />

ptose);<br />

• anisometria – discrepância de erros de refração;<br />

• ametropia – altos erros de refração<br />

(hipermetropia, miopia e astigmatismo).<br />

Como vimos pelos tipos de ambliopia, o tratamento e<br />

controle é exclusivamente de responsabili<strong>da</strong>de do<br />

oftalmologista que fará a prescrição do recurso óptico e<br />

indicação <strong>da</strong> oclusão.<br />

Os médicos dão preferência à oclusão direta na pele,<br />

com oclusor antialérgico e recomen<strong>da</strong>m a oclusão nos óculos<br />

somente nos casos de ambliopia leve.<br />

A orientação <strong>da</strong> conduta de oclusão nos casos de<br />

ambliopia e estrabismo não são de competência do professor<br />

especializado, esse deve sim orientar a família para ter consistência<br />

e perseverança na conduta, bem como, orientar ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />

que possam distrair e estimular visualmente a criança.<br />

ESTRABISMO<br />

É a ausência de paralelismo e sincronia dos músculos<br />

oculares para uma perfeita coordenação de ambos os olhos,<br />

responsável por uma imagem níti<strong>da</strong> no mesmo ponto <strong>da</strong> retina<br />

que possibilita a fusão. A criança estrábica terá grande<br />

dificul<strong>da</strong>de para realizar a binoculari<strong>da</strong>de, podendo apresentar:<br />

47


Tipos de Estrabismo<br />

48<br />

• diplopia – imagem dupla;<br />

• anular ou suprimir a imagem do olho desviado;<br />

• visão monocular ;<br />

• baixa de acui<strong>da</strong>de visual no olho desviado;<br />

• desconforto visual para leitura, televisão, etc.;<br />

• embaçamento ou embaralhamento visual;<br />

• dificul<strong>da</strong>de para desenho e ativi<strong>da</strong>des que<br />

requeiram tridimensionali<strong>da</strong>de;<br />

• piscar muito e dirigir à noite.<br />

• Convergente (esotropia) E.T.;<br />

• congênito – quando a esotropia é congênita pode<br />

ter tratamento cirúrgico entre 6 e 12 meses para o<br />

alinhamento ocular e desenvolvimento <strong>da</strong> visão,<br />

porque geralmente apresenta fixação cruza<strong>da</strong> com<br />

pouca motili<strong>da</strong>de ocular;<br />

• adquirido – Acomo<strong>da</strong>tivo ou Essencial.<br />

O estrabismo acomo<strong>da</strong>tivo pode ocorrer por excesso<br />

de acomo<strong>da</strong>ção. Acomo<strong>da</strong>ção é o ajuste do olho para ver a<br />

diferentes distâncias e formar imagem clara pela mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong><br />

forma do cristalino e ação dos músculos ciliares.<br />

O estrabismo acomo<strong>da</strong>tivo pode ser causado por<br />

hipermetropia ou por alteração de convergência de origem<br />

central. Quando tratado com correção óptica nos primeiros 6<br />

meses tende a desaparecer.<br />

Exotropia - Estrabismo Divergente XT<br />

O estrabismo divergente ou XT aparece geralmente<br />

mais tarde e está associado à miopia. Os exercícios ortópticos<br />

podem aju<strong>da</strong>r muito no tratamento.<br />

A cirurgia pode ser indica<strong>da</strong> para adquirir função, ou<br />

seja, recuperar a visão binocular ou puramente por estética.


ERROS DE REFRAÇÃO<br />

HIPERMETROPIA<br />

É uma dificul<strong>da</strong>de acomo<strong>da</strong>tiva (capaci<strong>da</strong>de de ver<br />

perto) pelo achatamento do globo ocular. Nesse caso a imagem<br />

se forma atrás <strong>da</strong> retina e são utiliza<strong>da</strong>s lentes convergentes ou<br />

positivas para tornar o cristalino mais convergente.<br />

O portador de hipermetropia, mesmo com esforço<br />

acomo<strong>da</strong>tivo, não consegue enxergar niti<strong>da</strong>mente um objeto<br />

quando olha para perto.<br />

A criança mostra-se desinteressa<strong>da</strong> para ver figuras,<br />

TV, leitura e pode ter atraso de desenvolvimento visual nas altas<br />

hipermetropias por baixa capaci<strong>da</strong>de de fixação e seguimento<br />

visual.<br />

Crianças portadoras de alterações neurológicas podem<br />

apresentar baixa capaci<strong>da</strong>de acomo<strong>da</strong>tiva, mostrando<br />

funcionamento visual pobre. É de suma importância a detecção<br />

precoce e correção de refração nessas crianças, para otimizar<br />

o desenvolvimento visual e cognitivo.<br />

MIOPIA<br />

A miopia é dificul<strong>da</strong>de para ver longe, em virtude do<br />

alongamento do globo ocular que forma a imagem antes <strong>da</strong><br />

retina.<br />

As pessoas com miopia não enxergam com nitidez<br />

objetos distantes. A correção é feita utilizando-se lentes<br />

divergentes ou negativas. Os alunos com miopia não detecta<strong>da</strong><br />

apresentam muita dificul<strong>da</strong>de para copiar <strong>da</strong> lousa, são tidos<br />

como desinteressados, preguiçosos e lentos.<br />

Apresentam, como sintomas, piscar constantemente,<br />

fechar a pálpebra (esforço acomo<strong>da</strong>tivo), coçar os olhos, etc.<br />

Muitos bebês com alta miopia não detecta<strong>da</strong> podem<br />

apresentar atraso neuropsicomotor, retar<strong>da</strong>ndo o engatinhar e<br />

a marcha em virtude <strong>da</strong> tensão ou medo de se deslocar no<br />

espaço e pela falta de controle do ambiente.<br />

49


Os portadores <strong>da</strong> Síndrome de Down e outras que<br />

podem apresentar alta miopia, devem ser avaliados e corrigi<strong>da</strong><br />

a refração para prevenir alterações de desenvolvimento.<br />

ASTIGMATISMO<br />

Ocorre quando a córnea não apresenta a mesma<br />

curvatura em to<strong>da</strong>s as direções, ocasionando uma deformação<br />

<strong>da</strong> imagem.<br />

Os sintomas mais freqüentes do astigmatismo são:<br />

dores de cabeça, olhos lacrimejantes, queimação e coceira nos<br />

olhos e deformação ou distorção <strong>da</strong> imagem. Nos grandes<br />

astigmatismos a acui<strong>da</strong>de visual é baixa. A lente para correção<br />

do astigmatismo é cilíndrica.<br />

DESENVOLVIMENTO VISUAL E APRENDIZAGEM<br />

Acreditava-se até há pouco tempo que o recém-nascido<br />

reagia apenas a movimentos, luzes, sons fortes e à voz materna.<br />

Pesquisas recentes têm demonstrado que os bebês já<br />

nascem programados para enxergar do ponto de vista anátomofisiológico.<br />

Ain<strong>da</strong> na vi<strong>da</strong> intra-uterina, por volta <strong>da</strong> 33ª semana<br />

de vi<strong>da</strong>, o bebê já apresenta a capaci<strong>da</strong>de de fixação. Entretanto,<br />

essa habili<strong>da</strong>de só será desenvolvi<strong>da</strong> se ele tiver oportuni<strong>da</strong>de<br />

de realizar experiências visuais.<br />

Embora a acui<strong>da</strong>de visual de um recém-nascido seja<br />

muito reduzi<strong>da</strong> (0,03) e ele não possa captar imagens níti<strong>da</strong>s,<br />

estudiosos do desenvolvimento neonatal têm observado a<br />

surpreendente capaci<strong>da</strong>de do bebê de pesquisar o mundo a<br />

sua volta, apresentando momentaneamente a capaci<strong>da</strong>de de<br />

fixação e seguimento visual de objetos bem próximos.<br />

Experimentos de laboratório do Dr. Fantz, psicólogo que<br />

pesquisou a capaci<strong>da</strong>de do bebê de reagir a padrões visuais,<br />

revelam que os recém-nascidos preferem padrões de alto<br />

contraste como preto/branco, cinza/preto, padrões de grating<br />

(listras), círculos, figuras simples e depois preferem figuras de<br />

padrões complexos.<br />

50


Luria também coloca que, do ponto de vista perceptivo,<br />

o bebê se interessa mais por cores fortes e padrões de contraste<br />

do que por formas.<br />

Acreditamos que o desenvolvimento visual ocorre por<br />

meio <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des reflexas, <strong>da</strong> organização <strong>da</strong>s percepções,<br />

por estímulos significativos, media<strong>da</strong>s pela interação sócio-afetiva.<br />

Graças ao desenvolvimento óculo-motor, aos contatos<br />

celulares <strong>da</strong> retina, vias ópticas e <strong>da</strong> córtex visual o bebê<br />

reconhece a figura materna e, por volta <strong>da</strong> quinta semana de<br />

vi<strong>da</strong>, já sorri ao rosto <strong>da</strong> mãe espontaneamente, realizando as<br />

primeiras discriminações.<br />

O desenvolvimento pós-natal <strong>da</strong> fóvea e <strong>da</strong> área<br />

pericentral é muito rápido nos primeiros meses. Por isso, de 2 a<br />

3 meses os olhos já estão bem posicionados, há convergência,<br />

seguimento espontâneo dos objetos e o inicio <strong>da</strong> acomo<strong>da</strong>ção,<br />

porém com campo visual ain<strong>da</strong> restrito.<br />

A acui<strong>da</strong>de visual aos 3 meses é de 0,1 o que já permite<br />

fazer algumas discriminações. Aos 4 meses, com o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de focalização e acomo<strong>da</strong>ção<br />

ocular, o bebê começa a explorar os objetos e ambiente a seu<br />

redor. Inicia nessa fase a coordenação olho-mão, movendo suas<br />

mãos para pegar os objetos e sacudi-los, começando assim a<br />

provocar pequenos espetáculos.<br />

Aos 6 meses, a visão central e periférica já se<br />

desenvolvem o suficiente para permitir o seguimento por todo o<br />

campo visual, realizando seguimento de 180 graus na linha<br />

horizontal e vertical, realizando o que Piaget chama de busca<br />

dirigi<strong>da</strong> pelo olhar.<br />

Entre o 7º e o 8º mês, o bebê é capaz de localizar<br />

objetos no espaço, tanto perto quanto mais longe, desenvolvendo<br />

também a visão de profundi<strong>da</strong>de, o que o impulsiona a deslocarse<br />

em busca dos objetos.<br />

Por isso é o momento <strong>da</strong> descoberta: agora ele vai<br />

explorar visualmente o objeto de todos os ângulos, vai manipular,<br />

bater, sacudir, jogar, puxar, experimentar com a boca,<br />

observando as mu<strong>da</strong>nças e resultados imediatos.<br />

51


Só no final do primeiro ano, graças à independência<br />

adquiri<strong>da</strong> pela locomoção, é que os objetos são procurados depois<br />

que saem do campo visual. Isto aju<strong>da</strong> a construir a noção do objeto.<br />

Em relação às funções visuais, podemos dizer que o bebê<br />

aos doze meses, apresenta nível de desenvolvimento visual próximo<br />

ao adulto. A acui<strong>da</strong>de visual é muito boa, os movimentos oculares<br />

são suaves e contínuos, a acomo<strong>da</strong>ção ocular é satisfatória e o<br />

desempenho visual para longe já é eficiente, possibilitando a marcha.<br />

Como podemos observar, nas etapas iniciais do<br />

desenvolvimento, os esquemas motores e perceptivos<br />

constroem-se juntos, com grande rapidez, constituindo um único<br />

sistema, formado pelos esquemas sensório-motores.<br />

Na etapa de 2 a 4 anos, em virtude do bom desenvolvimento<br />

<strong>da</strong>s funções visoperceptivas, que possibilita o exercício <strong>da</strong> memória<br />

visual e formação <strong>da</strong>s imagens mentais, a criança faz a passagem<br />

<strong>da</strong>s representações concretas às representações simbólicas.<br />

Esse período, também chamado de figurativo, é<br />

caracterizado pelo aparecimento do símbolo, <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de<br />

distinguir entre significado e significante e pela formação <strong>da</strong>s<br />

representações conceituais.<br />

A criança imita o que observa visualmente, ampliando<br />

sua capaci<strong>da</strong>de motora, tornando mais complexa e planeja<strong>da</strong> a<br />

ação. É capaz de observar diferenças e semelhanças o que<br />

permite fazer agrupamentos por forma, cor, tamanho,<br />

comprimento e estabelecer relações. A riqueza de imagens<br />

visuais e a possibili<strong>da</strong>de de poder representar o mundo permitem<br />

o aparecimento do desenho nessa etapa.<br />

O período de 4 a 7 anos, denominado de pensamento<br />

intuitivo ou pré-operacional é marcado pela capaci<strong>da</strong>de de<br />

antecipação, de revisualização. Há o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

atenção, <strong>da</strong> organização e <strong>da</strong> construção <strong>da</strong>s noções espaçotemporais,<br />

<strong>da</strong>s noções de classificação e seriações simples,<br />

para futura abstração, associação e generalização.<br />

Após os sete anos, com o desenvolvimento do<br />

pensamento lógico, as crianças são capazes de analisar,<br />

52


classificar e seriar de forma mais complexa, e começam a<br />

adquirir as noções, representações e constâncias perceptivas.<br />

Para Yakalov, o desenvolvimento <strong>da</strong>s funções perceptivas<br />

superiores pode ocorrer até os dezesseis anos. Acreditamos que o<br />

desenvolvimento não é só biologicamente determinado, mas<br />

socialmente facilitado. E que o mundo não é visto simplesmente em<br />

cor e forma, mas sentido pela vivência e elaborado pelo significado.<br />

METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO CLÍNICO- FUNCIONAL DA<br />

VISÃO<br />

A prática em relação à avaliação funcional <strong>da</strong> visão é<br />

construí<strong>da</strong> a partir de um trabalho diferenciado, mediante a<br />

integração <strong>da</strong>s áreas médica e educacional.<br />

O oftalmologista especializado em visão subnormal<br />

realiza a avaliação oftalmológica pelos exames de rotina,<br />

corrige as possíveis alterações de refração que possam<br />

impedir o desenvolvimento visual e faz a avaliação <strong>da</strong>s funções<br />

visuais que são de grande valia para orientação do trabalho<br />

pe<strong>da</strong>gógico.<br />

Na avaliação <strong>da</strong>s funções visuais o oftalmologista utiliza<br />

testes objetivos e subjetivos para medir a acui<strong>da</strong>de visual,<br />

sensibili<strong>da</strong>de aos contrastes, acomo<strong>da</strong>ção, campo visual, visão<br />

para cores e a<strong>da</strong>ptação à luz.<br />

A avaliação <strong>da</strong> acui<strong>da</strong>de visual é realiza<strong>da</strong> através de<br />

testes padronizados para crianças pequenas portadoras de<br />

deficiências associa<strong>da</strong>s, como o método do Olhar Preferencial<br />

de Dobson e Teller.<br />

A partir dos dois anos são utilizados os testes Bust <strong>da</strong><br />

Dra. Eva Lindstedt e o teste LH <strong>da</strong> Dra. Léa Hyvarinen. Ambos<br />

medem visão para perto e longe. O teste Sheri<strong>da</strong>n de Bolas nos<br />

dá uma ligeira indicação do nível de visão, esfera visual e campo<br />

visual e, numa menor proporção, <strong>da</strong> acui<strong>da</strong>de visual para longe.<br />

53


A sensibili<strong>da</strong>de aos contrastes é avalia<strong>da</strong> pelo teste de<br />

Bally para bebês e pelo teste LH para alterações de contraste<br />

em crianças maiores.<br />

Até os seis anos, o campo visual e a acomo<strong>da</strong>ção são<br />

avaliados pelo sistema de confrontação e pela acui<strong>da</strong>de visual<br />

de perto e longe. A visão de cores pode ser avalia<strong>da</strong> pelo teste<br />

London City Hospital (teste <strong>da</strong>s bolinhas colori<strong>da</strong>s).<br />

A avaliação funcional realiza<strong>da</strong> pelo pe<strong>da</strong>gogo<br />

especializado é de fun<strong>da</strong>mental importância para o<br />

diagnóstico e conduta oftalmológica porque, além de conter<br />

<strong>da</strong>dos de observação do desempenho visual <strong>da</strong> criança em<br />

termos práticos e qualitativos, informa o nível de<br />

desenvolvimento global e principalmente, como a criança<br />

utiliza a visão residual para integração com as pessoas e com<br />

o mundo que a cerca.<br />

Nossa experiência e metodologia baseiam-se em<br />

diversos estudos sobre o desenvolvimento visual realizados nos<br />

Estados Unidos pelas Dras. Fay, Natalie Barraga e Anne Corn;<br />

na Europa pelas Dras. Eva Lindstedt e Léa Hyvarinen.<br />

A avaliação funcional é um processo de observação<br />

informal do comportamento visual <strong>da</strong> criança em relação ao nível<br />

<strong>da</strong> consciência visual, <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> recepção, assimilação,<br />

54<br />

Fig. 5. Teste Bust.


integração e elaboração dos estímulos visuais em termos<br />

perceptivos e conceptuais. Observa-se a maneira como a<br />

criança utiliza a visão no brinquedo, na mobili<strong>da</strong>de, na escola e<br />

nas ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> diária. Por isso avaliamos a criança na<br />

presença <strong>da</strong> família.<br />

Antes <strong>da</strong> avaliação funcional devemos fazer uma<br />

entrevista com a família para conhecer a queixa, a expectativa e<br />

obter informações complementares. Pode-se nesse momento<br />

observar a quali<strong>da</strong>de de interação sócio-afetiva e o nível de<br />

compreensão <strong>da</strong> família acerca <strong>da</strong> condição visual <strong>da</strong> criança.<br />

Fazemos também uma avaliação global do<br />

desenvolvimento, compreendendo as funções sensório-motoras,<br />

a comunicação e a linguagem, as funções simbólicas e préoperatórias,<br />

a relação sócio-afetiva, a autonomia e a<br />

independência. Isto para a elaboração do programa pe<strong>da</strong>gógico<br />

e/ou encaminhamento, se necessário, ao atendimento<br />

complementar de fisioterapia, terapia ocupacional,<br />

fonoaudiologia e, ain<strong>da</strong>, para o atendimento psicológico.<br />

Avaliação funcional é estrutura<strong>da</strong> em termos de funções<br />

visuais básicas, visomotoras e visoperceptivas.<br />

Funções visuais básicas<br />

Verificamos o nível de consciência e atenção visual<br />

mediante a luz natural e artificial, a a<strong>da</strong>ptação ao escuro, à luz e<br />

ao brilho. Observamos a reação a padrões de alto e de baixo<br />

contraste, a cores de alta e baixa intensi<strong>da</strong>de, a formas simples<br />

e complexas, ao contato visual, campo visual e esfera visual<br />

(distância que provoca uma reação visual).<br />

Para isto, utilizam-se diferentes tipos de iluminação,<br />

luzes colori<strong>da</strong>s, painéis coloridos, rosto humano e desenhos de<br />

rostos iluminados. Podem ser utilizados também luvas colori<strong>da</strong>s,<br />

brinquedos de formas simples, de diferentes tamanhos e<br />

tonali<strong>da</strong>des. Padrões de alto contraste (amarelo/preto –preto/<br />

branco – cinza/preto), cores fluorescentes, utensílios de uso<br />

diário, materiais com brilho e movimento.<br />

55


Pode-se entender a importância <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong>s funções<br />

visuais se consideramos que a orientação e a localização espacial<br />

dependem <strong>da</strong> visão de contrastes e do campo visual. A habili<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> criança em ver detalhes dependerá <strong>da</strong> acui<strong>da</strong>de visual e a<br />

percepção de formas requer uma boa visão para contraste.<br />

Funções Óculo-Motoras<br />

A capaci<strong>da</strong>de de fixação, seguimento visual e<br />

acomo<strong>da</strong>ção (ajustar o poder de refração do olho para focalizar<br />

objetos) são comportamentos visuais que dependem dos<br />

músculos extrínsecos e intrínsecos do olho e também <strong>da</strong><br />

adequação do meio ambiente em termos do nível <strong>da</strong> visão,<br />

iluminação, contraste e a<strong>da</strong>ptação visual.<br />

Para que o desenvolvimento <strong>da</strong> fixação e seguimento<br />

visual ocorram é de fun<strong>da</strong>mental importância a orientação<br />

56<br />

Fig. 6. Avaliação <strong>da</strong>s funções visuais.


oftalmológica para melhorar a acomo<strong>da</strong>ção, aumentando a<br />

quali<strong>da</strong>de, nitidez e tamanho <strong>da</strong> imagem.<br />

A acomo<strong>da</strong>ção é observa<strong>da</strong> em relação à focalização<br />

de luzes, de padrões coloridos, de objetos e gravuras de<br />

diferentes tamanhos a uma distância inferior a 40cm. Podemos<br />

constatar dificul<strong>da</strong>des de acomo<strong>da</strong>ção quando uma criança<br />

aproxima muito um objeto para fixar e discriminar ou quando<br />

fixa e discrimina melhor à distância ou, ain<strong>da</strong>, quando pisca<br />

muito, franze a testa demonstrando esforço acomo<strong>da</strong>tivo.<br />

As funções óculo-motoras são avalia<strong>da</strong>s pela fixação e<br />

seguimento de luzes, rosto, objetos em movimento, partindo do<br />

ponto focal e distâncias varia<strong>da</strong>s.<br />

Os esquemas de coordenação olho/mão e olho/objeto<br />

são melhor observados na manipulação do brinquedo e nas<br />

ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> diária. Para isto, utilizamos um varal e um<br />

painel de brinquedos que criamos. Todos esses recursos<br />

permitem avaliar as funções visomotoras em relação às<br />

diferentes posturas e posicionamento dos olhos. É importante<br />

que se avalie a criança em decúbito ventral e em decúbito lateral,<br />

que possibilitam melhor controle óculo-motor, pelo relaxamento<br />

<strong>da</strong> musculatura, e melhor focalização, permitindo que o alcance<br />

do objeto seja visualmente dirigido.<br />

Uma criança com postura desorganiza<strong>da</strong> e insegura terá<br />

grande dificul<strong>da</strong>de para fixar e seguir os objetos. Sentar<br />

adequa<strong>da</strong>mente a criança, facilitando o controle cefálico, o<br />

controle de tronco, e apoio dos pés, melhora consideravelmente<br />

as respostas visuais.<br />

É importante observar o posicionamento <strong>da</strong> cabeça,<br />

sem fazer retificação postural, porque nos dá indicação do campo<br />

visual utilizado. Depois devemos avaliá-la novamente com<br />

organização postural.<br />

Avaliar a criança em pé, an<strong>da</strong>ndo, subindo e descendo<br />

esca<strong>da</strong>s, jogando bola nos dá informações a respeito <strong>da</strong>s pistas<br />

visuais capta<strong>da</strong>s do ambiente, esfera visual, acomo<strong>da</strong>ção e<br />

localização espacial.<br />

Em relação às ativi<strong>da</strong>des gráficas, avaliamos a<br />

quali<strong>da</strong>de do traçado, o tempo de focalização, a coordenação<br />

57


olho/mão, a veloci<strong>da</strong>de de realização <strong>da</strong> tarefa, a acomo<strong>da</strong>ção<br />

para escrita e leitura de perto e a focalização na lousa.<br />

Funções Visoperceptivas<br />

As funções visoperceptivas estão relaciona<strong>da</strong>s com a<br />

assimilação, integração, decodificação e elaboração dos<br />

estímulos visuais presentes como também com a capaci<strong>da</strong>de<br />

de generalizar e associá-los às experiências passa<strong>da</strong>s.<br />

Para efetuar-se uma avaliação visoperceptiva adequa<strong>da</strong><br />

sobre o nível de desenvolvimento geral <strong>da</strong> criança, devem-se<br />

conhecer as etapas do desenvolvimento cognitivo e visual para<br />

a<strong>da</strong>ptar-se às ativi<strong>da</strong>des e possibili<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> criança. Para<br />

isso utiliza-se uma Avaliação Funcional do Desenvolvimento<br />

Global, contemplando as áreas de linguagem, sensório-motora,<br />

cognitiva, AVD, orientação e mobili<strong>da</strong>de.<br />

É de fun<strong>da</strong>mental importância que o professor conheça<br />

a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s experiências visuais que essa criança possui,<br />

a quali<strong>da</strong>de e tamanho do material a ser apresentado, o nível de<br />

interesse e motivação, e os aspectos psicoafetivos que possam<br />

interferir nas funções perceptivas.<br />

Iniciamos pela observação <strong>da</strong> discriminação e<br />

compreensão <strong>da</strong>s expressões faciais, gestos e movimentos; <strong>da</strong><br />

forma de interação e exploração do meio, do nível de curiosi<strong>da</strong>de,<br />

frustração ou satisfação em ver.<br />

Um levantamento do repertório visual <strong>da</strong> criança é<br />

interessante, ou seja, a discriminação e reconhecimento visual<br />

de objetos de formas simples (objetos de uso diário, brinquedos,<br />

utensílios, frutas e outros alimentos).<br />

Observa-se a capaci<strong>da</strong>de de discriminação de formas<br />

tridimensionais e bidimensionais, relacionando-as em termos<br />

de cor, tamanho e espessura. Podem ser usa<strong>da</strong>s figuras sóli<strong>da</strong>s,<br />

blocos lógicos, prancha de figuras e quebra-cabeças.<br />

58


Um acervo grande de objetos tridimensionais variados,<br />

objetos esses de formas simples e complexas, de tamanho e cores<br />

que serão comparados entre si e depois associados a gravuras.<br />

As gravuras devem ser apresenta<strong>da</strong>s de três formas:<br />

uma cartela deve representar o objeto real, a outra deve conter<br />

a forma cheia, a última só o contorno do objeto; to<strong>da</strong>s com<br />

bastante contraste.<br />

Verifica-se a capaci<strong>da</strong>de de discriminação mais fina<br />

de detalhes internos e externos de objetos e figura, relacionandoos<br />

às diferentes posições e direções no espaço. Jogos<br />

pe<strong>da</strong>gógicos como dominós, lotos de animais, painéis de figuras<br />

para classificação e seriação, painéis para elaboração e<br />

construção de cenas são interessantes. São usados jogos de<br />

seqüência, jogos de memória, figura/sombra, figura/fundo, jogos<br />

de construção, elaboração e/ou discriminação de cenas e<br />

maquetes.<br />

Observa-se a discriminação de letras em diferentes<br />

estilos, tamanhos e materiais (plástico, madeira e cartelas do<br />

alfabeto); a leitura visual de sílabas; as palavras e a frase.<br />

Conforme a dificul<strong>da</strong>de de acomo<strong>da</strong>ção para perto, já testamos<br />

lupas de mesa e as diferentes lupas manuais.<br />

Podem ser utiliza<strong>da</strong>s as lupas eletrônicas, o C.F.TV (Circuito<br />

Fechado de TV) como mais um recurso para avaliação perceptiva,<br />

de contraste e campo visual.<br />

Deve ser considera<strong>da</strong> a importância do nível de iluminação<br />

no ambiente em relação à patologia do aluno a ser avaliado.<br />

Utilizamos um dispositivo para controle de iluminação, diferentes<br />

tipos de luminárias com focos dirigíveis e cores diferentes, com<br />

azul e amarelo para diminuir o brilho, a reflexão e aumentar o<br />

contraste.<br />

59


Fig. 7. Equipamentos para avaliação visual.<br />

Tanto as funções visoperceptivas como as visomotoras<br />

devem ser avalia<strong>da</strong>s primeiro em ambos os olhos depois em<br />

ca<strong>da</strong> olho alterna<strong>da</strong>mente, utilizando o tampão para oclusão.<br />

Para o bebê utilizamos “o tampão pirata” em tecido.<br />

A organização do ambiente, a interferência de ruídos e<br />

movimentos podem prejudicar muito a avaliação funcional. O<br />

avaliador deve aguçar sua sensibili<strong>da</strong>de para observar a<br />

quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação e experiência visual <strong>da</strong> criança, a<br />

motivação, o nível de consciência visual, a auto-imagem e<br />

possíveis frustrações desenvolvi<strong>da</strong>s.<br />

É muito importante que uma avaliação funcional não<br />

considere apenas o nível de desenvolvimento potencial, para que<br />

se possa traçar uma programação pe<strong>da</strong>gógica adequa<strong>da</strong>. E<br />

lembrar que a organização <strong>da</strong>s percepções e a internalização<br />

<strong>da</strong>s funções psicológicas superiores dependem, em grande parte,<br />

<strong>da</strong> solicitação do meio e <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> interação sócio-afetiva.<br />

Baixa Visão<br />

– Principais Patologias<br />

60


ATROFIA ÓPTICA<br />

É a per<strong>da</strong> total ou parcial <strong>da</strong> visão decorrente de lesões<br />

ou doenças no nervo óptico, disco óptico, papila, podendo haver<br />

degenerações <strong>da</strong>s fibras tanto <strong>da</strong>s células ganglionares como<br />

do corpo geniculado.<br />

Tipos de Atrofia Óptica<br />

Simples – quando o disco óptico perde a cor rosa<strong>da</strong>,<br />

torna-se pálido ou branco. Geralmente há uma escoriação <strong>da</strong><br />

papila, <strong>da</strong>s bor<strong>da</strong>s para o centro, ocorrendo a palidez temporal<br />

<strong>da</strong> papila. Esse tipo de atrofia pode ser decorrente de<br />

hidrocefalia, meningiomas e sífilis.<br />

Secundária – é decorrente de neurite óptica,<br />

neurorretinite e edema papilar. Neste caso a aparência <strong>da</strong> papila<br />

é branco-azula<strong>da</strong>, turva ou acinzenta<strong>da</strong>. As alterações podem<br />

afetar as regiões vizinhas <strong>da</strong> retina. Podem ocorrer por doenças<br />

infecciosas, bactérias, vírus, protozoários, hemorragias, diabete,<br />

Leber, traumatismos e tumores.<br />

Atrofia Glaucomatosa – há um aumento <strong>da</strong> escavação,<br />

atingindo todo o disco óptico, atrofia de papila e deslocamento<br />

do tronco central.<br />

Funcionamento <strong>Visual</strong>:<br />

• diminuição <strong>da</strong> acui<strong>da</strong>de visual (AV) para perto e<br />

longe;<br />

• queixa de visão turva ou embaça<strong>da</strong> com<br />

aparecimento de escotomas;<br />

• diminuição do sentido luminoso – funcionamento<br />

visual pode ser melhor ao anoitecer. Outros podem<br />

necessitar de alta iluminação;<br />

• redução e ou alteração de campo visual:<br />

− escotomas central ou periférico<br />

− hemianopsias nos diferentes quadrantes (lateral,<br />

superior, inferior, nasal, pericentral, bilateral);<br />

61


62<br />

• dificul<strong>da</strong>de para integração e formação de<br />

imagens mentais;<br />

• interferência em tarefas de percepção de detalhes<br />

e análise-síntese visual;<br />

• dificul<strong>da</strong>de para discriminar objetos a distância ou<br />

perto;<br />

• sensibili<strong>da</strong>de aos contrastes diminuídos;<br />

• dificul<strong>da</strong>de para leitura;<br />

• a<strong>da</strong>ptação à iluminação diminuí<strong>da</strong>.<br />

Recursos Ópticos e Pe<strong>da</strong>gógicos Especiais:<br />

• lupas manuais de altas dioptrias;<br />

• alto nível de iluminação com filtro para potencializar<br />

contraste e diminuir reflexão e brilho;<br />

• contraste e ampliação (dependendo <strong>da</strong> alteração<br />

do campo);<br />

• lentes esféricas e prismáticas;<br />

• telessistemas;<br />

• magnificação eletrônica, com controle de<br />

contraste, brilho e profundi<strong>da</strong>de;<br />

• porta texto e caderno de pauta amplia<strong>da</strong> ou<br />

reforça<strong>da</strong>;<br />

• jogos de computador para elaboração de desenhos<br />

e cenas.<br />

Estratégias Pe<strong>da</strong>gógicas:<br />

• verificar o potencial de visão central preserva<strong>da</strong>;<br />

• compreender as dificul<strong>da</strong>des de percepção de<br />

detalhes que o aluno apresente e a necessi<strong>da</strong>de<br />

de aproximação <strong>da</strong> lousa ou material pe<strong>da</strong>gógico;<br />

• facilitar a discriminação de detalhes,<br />

potencializando o contraste e a iluminação do<br />

material a ser discriminado;<br />

• favorecer o desenvolvimento <strong>da</strong> consciência<br />

visual, aju<strong>da</strong>ndo o aluno a analisar e interpretar


NISTAGMO<br />

formas mais complexas de objetos e figuras;<br />

• favorecer a ampliação do repertório visual do aluno,<br />

através de múltiplas experiências, incluindo até<br />

aju<strong>da</strong>s táteis e auditivas quando a visão não for<br />

suficiente;<br />

• motivar o aluno a construir as imagens mentais a<br />

partir <strong>da</strong> experiência concreta com os objetos para<br />

a representação tridimensional e a representação<br />

simbólica;<br />

• aju<strong>da</strong>r o aluno a compreender suas reais<br />

alterações de campo visual, as dificul<strong>da</strong>des com<br />

escotoma (ponto cego) buscando o melhor<br />

posicionamento de cabeça ou do material que<br />

favoreça melhor desempenho visual.<br />

São oscilações involuntárias e rítmicas dos olhos, que<br />

ocasionam alteração do sistema sensório-motor ocular. O<br />

nistagmo pode ser congênito, quando surge durante os seis<br />

primeiros meses, ou adquirido.<br />

A origem do nistagmo ain<strong>da</strong> não é bem conheci<strong>da</strong>, pode<br />

ser por alteração neurológica, vestibular, lesões do sistema<br />

nervoso central, por origem cerebelar ou tumor intracraniano.<br />

O nistagmo pode estar presente nas cataratas<br />

congênitas, atrofias ópticas, albinismo, acromatopsias, alterações<br />

retinianas e outras.<br />

Tipos de nistagmo:<br />

• movimento pendular;<br />

• ondulatórios – igual veloci<strong>da</strong>de, duração – direção<br />

• em mola;<br />

• movimentos mais lentos e retorno rápido –<br />

freqüentes em alterações neurológicas e<br />

vestibulares;<br />

• mistos.<br />

63


Os movimentos podem ser horizontal, vertical, oblíquo,<br />

rotatório e circular.<br />

SPASMUS NUTANS<br />

Surge por volta dos seis meses a um ano de vi<strong>da</strong>.<br />

Caracteriza-se por nistagmo de cabeça com movimentos anteroposteriores<br />

e laterais, rápidos, bem nítidos quando a posição é<br />

senta<strong>da</strong>.<br />

Deita<strong>da</strong> tende a desaparecer, a origem é desconheci<strong>da</strong><br />

e tende à cura.<br />

64<br />

Funcionamento <strong>Visual</strong>:<br />

• capaci<strong>da</strong>de de fixação e seguimento visual<br />

prejudicados;<br />

• A.V. reduzi<strong>da</strong> para perto e longe;<br />

• torcicolo de “Ciancia” – inclinação involuntária <strong>da</strong><br />

cabeça para bloquear o nistagmo;<br />

• interferência nas tarefas de percepção visual e<br />

coordenação visomotora;<br />

• sensibili<strong>da</strong>de aos contrastes pode estar diminuí<strong>da</strong>;<br />

• sensibili<strong>da</strong>de à luz altera<strong>da</strong> – fotofobia intensa ou<br />

média.<br />

Recursos Ópticos e Pe<strong>da</strong>gógicos Especiais:<br />

• lentes prismáticas ou esfero-prismáticas;<br />

• lentes manuais ou de apoio;<br />

• lupas de régua;<br />

• os telessistemas para longe podem ser de difícil<br />

a<strong>da</strong>ptação, depende <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de o aluno<br />

realizar a compensação de cabeça para bloqueio<br />

do nistagmo;<br />

• lentes escureci<strong>da</strong>s ou filtro amarelo para<br />

potencializar o contraste.


Estratégias Pe<strong>da</strong>gógicas<br />

O professor deve compreender que as dificul<strong>da</strong>des<br />

oculomotoras de focalização, seguimento visual e coordenação<br />

olho-mão, podem dificultar a realização de ativi<strong>da</strong>des práticas<br />

de coordenação visomotora, como encaixes, desenhos, cópia<br />

<strong>da</strong> lousa e escrita.<br />

Evitar alta iluminação direta, reflexão e brilho na lousa<br />

ou material a ser discriminado.<br />

Orientar o aluno para melhor organização espacial,<br />

posição para leitura e adequação do material ao ponto de<br />

compensação e distância que consiga focalizar e discriminar.<br />

Evitar corrigir a posição de cabeça que é a única forma de<br />

bloqueio dos movimentos involuntários.<br />

Utilizar pistas visuais para melhor organização do<br />

campo gráfico, tanto para leitura como para escrita. Guias para<br />

leitura.<br />

Proporcionar ativi<strong>da</strong>des lúdicas que favoreçam o<br />

exercício dos movimentos oculares, graduando as dificul<strong>da</strong>des:<br />

boliche, jogos de peteca, bola ao cesto, futebol, tiro ao alvo,<br />

natação. Jogos de integração sensorial e equilíbrio.<br />

CORIO-RETINITE<br />

É a inflamação <strong>da</strong> coróide (coroidite) e quando afeta<br />

ambas as cama<strong>da</strong>s coróide e retina, chama-se corio-retinite.<br />

A causa é a toxoplasmose por infestação do protozoário<br />

gondii adquirido pelo contato com animais infectados: cães,<br />

coelho, gatos, pombo, galinha e na carne suína.<br />

É importante o diagnóstico diferencial de sífilis,<br />

tuberculose, herpes, AIDS e uveítes. O teste específico para<br />

avaliar os anticorpos para toxoplasmose é a imunofluorescência<br />

ou Elisa. O quadro neurológico pode ser de alteração focal com<br />

lesões cicatriza<strong>da</strong>s, placas maculares e convulsões.<br />

65


66<br />

Funcionamento <strong>Visual</strong>:<br />

• acui<strong>da</strong>de visual baixa em virtude <strong>da</strong> lesão macular,<br />

visão a distância bastante prejudica<strong>da</strong>;<br />

• escotoma central <strong>da</strong> visão, com dificul<strong>da</strong>de para<br />

detalhes;<br />

• utilização de retina perifoveal e periférica;<br />

• campo visual periférico geralmente preservado o<br />

que possibilita uma boa orientação espacial e<br />

locomoção;<br />

• sensibili<strong>da</strong>de aos contrastes – não ocorre<br />

alteração significativa para média e baixa<br />

freqüência;<br />

• visão para cores – pode estar prejudica<strong>da</strong> nas<br />

extensas lesões maculares e perifoveais;<br />

• dificul<strong>da</strong>de para olhar no ponto que se olha;<br />

• alta freqüência de miopia.<br />

Recursos Ópticos e Pe<strong>da</strong>gógicos Especiais :<br />

• óculos de correção refracional comum;<br />

• lentes bifocais;<br />

• lupas manuais ou de mesa para magnificação;<br />

• lentes esfero-prismáticas entre 6 e 12 graus – com<br />

acui<strong>da</strong>de visual semelhante em A.O.;<br />

• lentes esféricas de altas adições com visão<br />

monocular;<br />

• telescópio tipo Galileu – 2x, 3x, 4x e 6x manuais<br />

são preferíveis a telescópios fixos em armações;<br />

Estratégias Pe<strong>da</strong>gógicas:<br />

O professor precisa compreender que muitas vezes é<br />

impossível a criança olhar para frente ou nos olhos do professor,<br />

pois os olhos desviam para fugir do ponto cego, <strong>da</strong> cicatriz<br />

macular.<br />

Os mesmos procedimentos pe<strong>da</strong>gógicos <strong>da</strong> atrofia<br />

óptica, pois o funcionamento visual é semelhante.


Considerar que nas alterações maculares importantes<br />

a discriminação de figuras complexas como de animais tornase<br />

difícil.<br />

Embora o aluno apresente nível gráfico elementar o professor<br />

pode e deve oferecer materiais simbólicos como letras e outros.<br />

A cópia <strong>da</strong> lousa é bastante difícil em virtude de, à<br />

distância, a visão ficar prejudica<strong>da</strong> ou apresentar escotomas<br />

no campo visual.<br />

Aju<strong>da</strong>r o aluno a buscar a melhor posição e distância<br />

para facilitar a cópia na lousa.<br />

Organizar o campo gráfico <strong>da</strong> lousa em relação à<br />

necessi<strong>da</strong>de do aluno.<br />

ALTERAÇÕES RETINIANAS:<br />

a) Retinopatia <strong>da</strong> Prematuri<strong>da</strong>de ou Fibroplasia<br />

Retrolental<br />

A retinopatia <strong>da</strong> prematuri<strong>da</strong>de pode ser decorrente de<br />

imaturi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> retina por baixa i<strong>da</strong>de gestacional e ou por alta<br />

dose de oxigênio na incubadora. O oxigênio em alta concentração<br />

provoca a vasoconstrição, impedindo a irrigação <strong>da</strong> retina e pode<br />

ocorrer a formação de pregas retinianas, massa fibrosa ou<br />

cicatricial, retração <strong>da</strong> retina, ou deslocamento total ou parcial.<br />

Podem ocorrer ain<strong>da</strong> complicações como a catarata,<br />

glaucoma ou uveíte. O procedimento cirúrgico nos<br />

descolamentos de retina tem pouco sucesso, do ponto de vista<br />

funcional, sendo muitas vezes preferível à estimulação <strong>da</strong> visão<br />

residual remanescente, mesmo que pouca.<br />

Funcionamento <strong>Visual</strong>:<br />

• a retinopatia nível I, II e III geralmente apresentam<br />

bom desempenho visual;<br />

• acui<strong>da</strong>de visual bastante reduzi<strong>da</strong> na retinopatia<br />

grau IV e V;<br />

67


68<br />

• fotofobia;<br />

• e freqüente a alteração de campo visual periférico<br />

e central com presença de escotomas;<br />

• iluminação intensa indireta melhora o<br />

funcionamento visual.<br />

Recursos Ópticos e Pe<strong>da</strong>gógicos Especiais<br />

Para perto:<br />

• óculos acoplados com lentes de aumento;<br />

• lentes para miopia;<br />

• lentes de aumento manual;<br />

• lupas ilumina<strong>da</strong>s tipo copo ou de mesa.<br />

Para longe: sistemas telescópicos<br />

b) Retinose Pigmentar<br />

Distrofia hereditária dos receptores retinianos por<br />

transmissão autossômica recessiva dominante liga<strong>da</strong> ao X. Constitui<br />

síndromes como: Laurence-Moon, Bardet-Bield, Usher, sendo<br />

rigorosamente necessária a prevenção por aconselhamento genético.<br />

São muitos os tipos de retinose pigmentar, geralmente<br />

de caráter progressivos com degeneração de cones<br />

(responsável pela visão de cores) e bastonetes (visão de formas),<br />

no estágio final com alteração macular.<br />

Funcionamento <strong>Visual</strong>:<br />

• cegueira noturna – Baixa de A.V. no escuro;<br />

• a<strong>da</strong>ptação à luz, lenta;<br />

• per<strong>da</strong> de campo periférico;<br />

• ocorre iniciar por per<strong>da</strong> de visão central (mais<br />

raro);<br />

• dificul<strong>da</strong>de para locomoção à noite;<br />

• sensibili<strong>da</strong>de aos contrastes altera<strong>da</strong>;<br />

• alteração de visão de cores.


Recursos Ópticos e Pe<strong>da</strong>gógicos Especiais:<br />

• alto nível de iluminação;<br />

• circuito de TV;<br />

• lâmpa<strong>da</strong> com raios infravermelhos;<br />

• ampliação e potencialização de contrastes com<br />

filtro amarelo;<br />

• lupa manual até 11 di;<br />

• campo restrito dificulta a leitura.<br />

c) Retinopatia Diabética<br />

É uma alteração retiniana por obstrução dos vasos<br />

capilares <strong>da</strong> região <strong>da</strong> mácula e retina com formação de cicatriz<br />

ou escotomas extensos, podendo formar edema ou cistos de<br />

mácula.<br />

Pode haver descolamentos de retina. O tratamento<br />

pode ser a vitrectomia e a fotocoagulação que estabilizam o<br />

quadro de edema. Há associações com catarata ou<br />

glaucoma.<br />

Funcionamento <strong>Visual</strong>:<br />

• baixa AV para longe;<br />

• visão embaça<strong>da</strong>;<br />

• dificul<strong>da</strong>de para percepção de detalhes;<br />

• Imagens distorci<strong>da</strong>s;<br />

• alteração <strong>da</strong> visão de cores e sensibili<strong>da</strong>de aos<br />

contrastes.<br />

d) Síndrome de Leber ou Amurose Congênita de Leber<br />

É caracteriza<strong>da</strong> por degeneração retiniana com<br />

eletroretinograma extinto. Manifesta-se por uma neurite óptica<br />

hereditária mais freqüente na 2ª infância, lesando de forma<br />

69


usca os olhos. É transmiti<strong>da</strong> pela mãe e afeta geralmente o<br />

sexo masculino, podendo afetar o sistema nervoso.<br />

Há degenerações retinianas que afetam também<br />

meninas e são do tipo progressivo. A função visual é bastante<br />

prejudica<strong>da</strong>, AV muito reduzi<strong>da</strong> e nível de funcionamento visual<br />

bastante heterogêneo.<br />

70<br />

e) Retinoblastoma<br />

Tumor na retina que pode aparecer nas primeiras<br />

semanas até os 2 anos. Os primeiros sinais são leucocoria<br />

(mancha branca), podendo ser uni ou bilateral, estrabismo e<br />

ligeira midríase. O tratamento é a enucleação de urgência,<br />

radioterapia ou quimioterapia conforme resultado<br />

anatomopatológico.<br />

Estratégias Pe<strong>da</strong>gógicas<br />

Motivar o aluno a utilizar ao máximo o potencial visual<br />

mesmo nos descolamentos de retina ou em degenerações<br />

progressivas.<br />

Nos descolamentos de retina ou redução extrema do<br />

campo visual, as dificul<strong>da</strong>des de leitura se acentuam. Entretanto<br />

o professor deve encorajar o aluno a utilizar a visão residual,<br />

sem temor de perdê-la ou gastá-la.<br />

Recursos de alta iluminação, controle de luz por dimmer<br />

e potencialização de contrastes melhoram o desempenho visual<br />

do aluno.<br />

Lápis ou canetas fluorescentes aju<strong>da</strong>m na visualização.<br />

Na acui<strong>da</strong>de visual muito baixa ou restrição acentua<strong>da</strong><br />

do campo visual, a cópia <strong>da</strong> lousa se torna muito difícil. Podem<br />

ser utiliza<strong>da</strong>s ampliações para perto ou recurso eletrônico para<br />

cópia <strong>da</strong> lousa, por varredura.<br />

Lentes escureci<strong>da</strong>s melhoram o funcionamento visual e<br />

aju<strong>da</strong>m nas ativi<strong>da</strong>des recreativas.


GLAUCOMA<br />

Decorrente <strong>da</strong> alteração na circulação do líquido humor<br />

aquoso, responsável pela nutrição do cristalino, íris e córnea.<br />

Há o aumento <strong>da</strong> pressão intra-ocular, a mais de 20 milímetros<br />

pela obstrução do líquido pela pupila ou drenagem através do<br />

seio camerular.<br />

Sintomas mais freqüentes: dor intensa, fotofobia, olho<br />

buftálmico e azulado.<br />

Há estudos recentes que apontam uma predisposição<br />

genética para o glaucoma congênito. É mais freqüente após a<br />

4ª déca<strong>da</strong>, em altas hipermetropias, em diabéticos e em negros.<br />

O tratamento é cirúrgico e o mais precoce possível<br />

obtendo bons resultados. Pode haver complicações como<br />

luxações do cristalino, descolamento de retina, atrofia óptica e<br />

hemorragias.<br />

O glaucoma pode estar associado a aniridia, (ausência<br />

de íris) síndrome de Marfan, Axenfeld e Sturge-Weber.<br />

Funcionamento <strong>Visual</strong>:<br />

• lacrimejamento e fotofobia;<br />

• flutuação <strong>da</strong> visão, controla<strong>da</strong> por medicação;<br />

• per<strong>da</strong> <strong>da</strong> acui<strong>da</strong>de visual por atrofia óptica;<br />

• o glaucoma crônico simples pode levar à per<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> visão periférica;<br />

• no glaucoma primário de ângulo fechado a per<strong>da</strong><br />

visual é severa e pode progredir para cegueira<br />

rapi<strong>da</strong>mente;<br />

• alteração do campo visual varia<strong>da</strong> e difusa,<br />

podendo haver também escotomas centrais;<br />

• a per<strong>da</strong> é mais acentua<strong>da</strong> no setor nasal, havendo<br />

mais preservação do campo temporal ou central;<br />

• visão periférica e visão noturna rebaixa<strong>da</strong>;<br />

• visão tubular ou de túnel permite visão boa para perto;<br />

• dificul<strong>da</strong>de para discriminar objetos grandes,<br />

locomoção e visão à distância.<br />

71


72<br />

Recursos Ópticos e Pe<strong>da</strong>gógicos Especiais:<br />

• iluminação potente sem reflexão e brilho;<br />

• lupa de mesa com iluminação;<br />

• alto contraste e filtros;<br />

• lupas manuais;<br />

• para leitura, lentes microscópicas;<br />

• para longe telelupas de baixa dioptria (di).<br />

Estratégias Pe<strong>da</strong>gógicas<br />

O professor precisa compreender que o nível de visão<br />

do aluno com glaucoma flutua muito. Ele se estressa com<br />

freqüência pela dor, fotofobia e flutuação <strong>da</strong> visão. Isto não<br />

significa que o aluno seja desmotivado e preguiçoso.<br />

Analisar cui<strong>da</strong>dosamente as alterações de campo visual<br />

que possam ser diferentes em ca<strong>da</strong> olho. Aju<strong>da</strong>r o aluno a<br />

compreender e buscar a melhor posição para o trabalho visual.<br />

Aju<strong>da</strong>r o aluno a identificar o melhor equipamento de<br />

magnificação, de lupas manuais, de copo, mesa ou lupas<br />

ilumina<strong>da</strong>s. Muitas vezes a a<strong>da</strong>ptação desses auxílios ficam<br />

dificulta<strong>da</strong>s pela reflexão de luz e brilho.<br />

Em virtude <strong>da</strong>s alterações de campo visual, nem sempre<br />

o material ampliado facilita a discriminação e a leitura.<br />

Utilização de porta-texto dá maior conforto para a leitura<br />

CATARATA<br />

É a opacificação do cristalino produzindo a leucocoria<br />

ou mancha branca na pupila.<br />

As causas congênitas podem ser decorrentes <strong>da</strong><br />

rubéola (síndrome <strong>da</strong> rubéola congênita) do sarampo, de fator<br />

hereditário, do citomegalovirus, <strong>da</strong> toxoplasmose e <strong>da</strong> sífilis.<br />

Alterações cromossômicas como Síndrome de Down, Lowe,<br />

Trissomia 13-15 e Síndrome de Cockayne.


Pode ocorrer também por irradiações, medicações<br />

tóxicas e consumo de drogas.<br />

A catarata congênita é uma <strong>da</strong>s maiores causas de<br />

cegueira na infância, a prevenção é a cirurgia precoce, e,<br />

principalmente a vacinação e controle epidemiológico <strong>da</strong> rubéola<br />

e aconselhamento genético.<br />

Funcionamento <strong>Visual</strong>:<br />

• baixa de AV importante na catarata congênita<br />

opera<strong>da</strong> tardiamente;<br />

• catarata não opera<strong>da</strong>: visão nubla<strong>da</strong>, borra<strong>da</strong>,<br />

visão de estrelas, raios brilhantes;<br />

• visão dupla no olho afetado;<br />

• visão melhor para longe do que para perto ;<br />

• visão noturna melhor;<br />

• sensibili<strong>da</strong>de aos contrastes pode estar diminuí<strong>da</strong><br />

• rara alteração de campo visual e visão de cores.<br />

Recursos Ópticos e Pe<strong>da</strong>gógicos Especiais:<br />

• lente de contato ou óculos;<br />

• lente intra-ocular nos primeiros anos de vi<strong>da</strong> ;<br />

pode ocasionar mais rejeição, sendo<br />

desaconselhável pela mu<strong>da</strong>nça de refração;<br />

• óculos de até 20 di são bem aceitos por crianças,<br />

podendo ser tenta<strong>da</strong> a correção <strong>da</strong> hipermetropia<br />

e astigmatismo. Os bifocais com mais de 6 di<br />

podem ser testados;<br />

• lupa de mesa ilumina<strong>da</strong>;<br />

• lupas manuais tipo régua;<br />

• controle de iluminação no ambiente.<br />

Estratégias Pe<strong>da</strong>gógicas<br />

O aluno que teve a catarata opera<strong>da</strong> precocemente e com<br />

boa correção óptica dificilmente necessitará de aju<strong>da</strong>s adicionais.<br />

Nos casos de altas correções ópticas, há necessi<strong>da</strong>de<br />

de grande aproximação do material a ser lido o que pode acarretar<br />

73


cansaço e estresse na leitura. É importante investigar com o aluno<br />

e o médico, se uma correção óptica de menor dioptria com adição<br />

manual não favorece o processo de leitura-escrita.<br />

Nas cataratas não opera<strong>da</strong>s, lupas ilumina<strong>da</strong>s e controle<br />

de iluminação no ambiente com luminárias de foco dirigíveis<br />

podem melhorar o desempenho visual.<br />

ADAPTAÇÃO DE RECURSOS ÓPTICOS ESPECÍFICOS<br />

A capaci<strong>da</strong>de de funcionamento e o desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> eficiência visual dependem fun<strong>da</strong>mentalmente, segundo Dra.<br />

Barraga, <strong>da</strong> experiência visual. A oportuni<strong>da</strong>de de enfocar, olhar<br />

e interpretar imagens visuais são mecanismos ativadores <strong>da</strong>s<br />

funções cerebrais.<br />

Muitos indivíduos com baixa visão severa ou modera<strong>da</strong>,<br />

poderão se beneficiar <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> de recursos ópticos específicos<br />

para perto ou longe como forma de facilitação do processo<br />

ensino-aprendizagem.<br />

Os mesmos recursos ópticos têm a função de correção<br />

<strong>da</strong>s ametropias, ou seja, melhorar a focalização por ampliação,<br />

proporcionando mais nitidez de imagem pela correção <strong>da</strong> refração.<br />

Com a<strong>da</strong>ptação de recursos ópticos esféricos<br />

adequados, a ampliação <strong>da</strong> imagem retiniana permite a<br />

conexão celular e a formação de imagens níti<strong>da</strong>s e detalha<strong>da</strong>s<br />

que possibilitam o desenvolvimento <strong>da</strong> eficiência visual para<br />

ativi<strong>da</strong>des de perto, como leitura, escrita, visualização <strong>da</strong> tela<br />

do computador, TV e a decodificação de estímulos visuais a<br />

longa distância.<br />

Os recursos ópticos especiais, geralmente se<br />

caracterizam por lentes de grande aumento para correção <strong>da</strong><br />

visão de perto ou longe, são eles:<br />

74<br />

Auxílio para perto:<br />

• óculos bifocais ou monofocais;<br />

• sistemas telemicroscópicos;<br />

• lupas manuais e de apoio.


Os bifocais aumentam a imagem do objeto e dão mais<br />

nitidez com as lentes convergentes de +4, +6, +8, +10 DE.<br />

Fig. 8. Óculos bifocais e monofocais.<br />

Lentes esferoprismáticas<br />

São forma<strong>da</strong>s por lentes positivas convergentes com<br />

adição de prisma na base nasal para melhorar a fixação, a<br />

convergência e <strong>da</strong>r conforto para ativi<strong>da</strong>des de leitura. Essas<br />

lentes geralmente são combina<strong>da</strong>s em seu poder dióptrico como<br />

por exemplo: +5 DE/7P ( dióptrica e prismática ). Menos de 10<br />

DE são aconselháveis para as pessoas que possuem visão<br />

binocular ou pouca per<strong>da</strong> visual, para maiores de 10 DE/12 P<br />

monoculares.<br />

As lentes esféricas podem ser simples, sem adição de<br />

prisma, indica<strong>da</strong>s para pessoas com visão binocular ou<br />

monocular que não apresentam acui<strong>da</strong>de visual muito baixa, pois<br />

vão até 10 DE.<br />

Lentes asféricas<br />

São lentes monoculares em virtude <strong>da</strong> alta dioptria,<br />

variando de 10 di asférica até 24 di.<br />

75


São utiliza<strong>da</strong>s para ativi<strong>da</strong>des de leitura para perto e a<br />

distância olho-objeto deve ser mais próxima à medi<strong>da</strong> que<br />

aumentam as dioptrias.<br />

Há uma pequena fórmula para chegar-se à distância focal:<br />

F = 100/D<br />

F = 100/20D<br />

F = 5cm<br />

A distância focal varia de acordo com a patologia,<br />

acui<strong>da</strong>de visual e nível de magnificação <strong>da</strong> lente. A distância<br />

ideal para melhorar a função visual, deve ser pesquisa<strong>da</strong><br />

individualmente com ca<strong>da</strong> aluno, pois deve variar de 15 a 5cm<br />

ou menos. Essas lentes podem ser monta<strong>da</strong>s em óculos ou<br />

adiciona<strong>da</strong>s tipo clipes.<br />

76<br />

Lentes microscópicas<br />

São lentes de alta dioptria, com +28 D, variando de 7x<br />

até 12xde aumento. Para chegar ao valor dióptrico multiplica-se<br />

por 4.<br />

Essas lentes geralmente são prescritas para pessoas<br />

com acui<strong>da</strong>de visual muito baixa. Como são lentes convexas<br />

positivas de alta dioptria a distância focal é muito pequena com<br />

a desvantagem de limitação acentua<strong>da</strong> de campo visual.<br />

Como a coordenação dos movimentos oculares, postura<br />

de cabeça e mãos são necessários, o tempo é mais longo e a<br />

a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>s lentes microscópicas é mais difícil. Para melhor<br />

conforto do aluno, para leitura/escrita, é de fun<strong>da</strong>mental<br />

importância a utilização de suporte para leitura/escrita, mesa<br />

adequa<strong>da</strong>, pesquisa de iluminação e contraste que podem<br />

facilitar o desempenho visual.<br />

Lupas manuais e de apoio<br />

São recursos auxiliares importantes para pessoas que<br />

não se a<strong>da</strong>ptam aos recursos descritos, de fácil uso e<br />

funcionamento, dispensando o treinamento para a<strong>da</strong>ptação.


Fig. 9. Lupas manuais e de apoio.<br />

As lentes manuais com lentes esféricas ou asféricas<br />

possuem melhor quali<strong>da</strong>de óptica. Variam de 2x até 10x de<br />

aumento. A distância focal <strong>da</strong>s lentes manuais de apoio é tira<strong>da</strong><br />

pela mesma fórmula dos óculos.<br />

As lentes manuais de alta dioptria têm o campo visual<br />

muito restrito, já as lupas de apoio possuem um campo visual<br />

mais ampliado, porque são de aumentos menores. Têm ain<strong>da</strong><br />

a vantagem de possuir foco mais fixo e deixa as mãos livres.<br />

São aconselháveis para crianças em etapa pré-escolar e idosos.<br />

Tanto as lupas manuais como de apoio podem ser<br />

usa<strong>da</strong>s como complementação de óculos especiais. Podem ser<br />

ilumina<strong>da</strong>s ou não e terem diferentes formatos: lupas manuais,<br />

tipo régua, copo, folha, lanterna, gancho, etc.<br />

Telemicroscópios em óculos<br />

São telelupas de acoplagem em óculos monoculares,<br />

binoculares ou manuais que permitem trabalho em uma distância<br />

maior.<br />

77


Essas lentes, embora tenham restrição de campo,<br />

permitem conforto visual pela quali<strong>da</strong>de de iluminação e por<br />

deixar as mãos livres.<br />

Auxílio para longe:<br />

Telelupas - permitem o aumento e aproximação do<br />

objeto a ser visto.<br />

78<br />

Tipos de Telelupas:<br />

• Galilei – Forma<strong>da</strong> por duas lentes, uma<br />

convergente e uma divergente. São muito práticas<br />

e de fácil a<strong>da</strong>ptação.<br />

• Kepler ou Prismática – É composta por duas<br />

lentes convergentes que invertem a imagem, por<br />

isso é usa<strong>da</strong> com lente prismática.<br />

As telelupas podem ser manuais ou acopla<strong>da</strong>s a óculos<br />

monoculares ou binoculares. As telelupas binoculares<br />

geralmente são de pequeno poder dióptrico, são prescritas para<br />

pessoas que tenham acui<strong>da</strong>de visual semelhante em ambos os<br />

olhos. São usa<strong>da</strong>s para ver TV, teatro e jogos.<br />

As telelupas monoculares manuais são mais bem<br />

aceitas por alunos e adolescentes em função <strong>da</strong> estética,<br />

entretanto têm a desvantagem de não liberar as duas mãos para<br />

a escrita.<br />

Para os alunos que têm dificul<strong>da</strong>de de coordenação<br />

oculomotora e ou alteração de campo visual, as telelupas<br />

manuais são de mais fácil a<strong>da</strong>ptação.<br />

Os aumentos <strong>da</strong>s telelupas variam de 2x até 12x, sendo<br />

melhor iniciar o processo de a<strong>da</strong>ptação com aumentos<br />

gra<strong>da</strong>tivos.<br />

No processo de a<strong>da</strong>ptação de recursos ópticos, o aluno<br />

deve levar o recurso para casa, para poder pesquisar livremente<br />

em seu ambiente, nos espaços externos de sua preferência, e<br />

decidir seguramente a melhor opção.


BIBLIOGRAFIA<br />

ARAÚJO, Sônia Maria D. Elementos para se pensar a educação<br />

dos indivíduos cegos no Brasil: a história do Instituto<br />

Benjamin Constant. São Paulo: IBC.<br />

BARRAGA, Natalie. Disminuídos visuales y aprendizaje.<br />

Espanha: ONCE,1985.<br />

———— Desenvolvimento <strong>da</strong> eficiência visual. São Paulo:<br />

Trad. Fun<strong>da</strong>ção do Livro do Cego, 1986.<br />

BLANKSBY, Dixie C. Manual VAP-CAP. Avaliação e programa.<br />

Austrália: Royal Instituto, 1993.<br />

BRUNO, Maril<strong>da</strong> MG. O desenvolvimento integral do portador<br />

de deficiência visual. São Paulo: Laramara, 1993<br />

———— Reflexão <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica. São Paulo:<br />

Laramara,1997.<br />

———— Orientação e visão subnormal. CENP/SE/SP, 1988.<br />

CARVALHO, Erenice Natália S. de. A educação especial: concepção<br />

de deficiência - caderno <strong>da</strong> TV Escola. Brasília,<br />

1996<br />

CARVALHO, Keyla Monteiro e Outros - Visão subnormal. São<br />

Paulo: Unicamp - Campinas, 1994.<br />

CASTRO, Danilo M. e outros. Visão subnormal. Rio de Janeiro:<br />

Ed Cultura Médica, 1994.<br />

CORN, Anne. <strong>Visual</strong> function - Journal of <strong>Visual</strong><br />

Impairment,1993.<br />

FAYE, E.E. Clinical low vision. Little brown and company.<br />

Boston.1994.<br />

HYVARINEN, Lea. O desenvolvimento normal e anormal <strong>da</strong><br />

visão. São Paulo: Santa Casa.<br />

79


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Relatório de Bangkok,1992<br />

KARA, José e ALVES, Milton. O olho e a visão. Rio de Janeiro:<br />

Vozes,1996.<br />

LEMOS, Edson Ribeiro. Educação de excepcionais. Evolução<br />

histórica e desenvolvimento no Brasil. Niterói. UFF. Tese<br />

de livre docência, 1981.<br />

LINDSTEDT, Eva - O quanto uma criança vê. São Paulo: Santa<br />

Casa, 1989<br />

MINISTER of Education Victoria. <strong>Visual</strong> skills - A curriculum<br />

guide. Australia,1988<br />

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão. Construindo uma<br />

socie<strong>da</strong>de para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997.<br />

SOMBRA, Luzimar Alvino. Educação integração profissional de<br />

pessoas excepcionais. Análise <strong>da</strong> legislação. Dissertação<br />

de Mestrado UERJ, 1983.<br />

80


ANEXO<br />

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DO<br />

PROFESSOR<br />

1. Complete adequa<strong>da</strong>mente as lacunas:<br />

Segundo Natalie Barraga,<br />

a) Enxergar é habili<strong>da</strong>de________________________________________<br />

b) Pelos métodos _____________________________________________ e<br />

______________________é possível avaliar a visão de bebês.<br />

c) A avaliação <strong>da</strong>s seguintes funções visuais _____________________<br />

___________________________, ______________________________,<br />

______________________________, _____________________________,<br />

____________________________ entre outras igualmente importantes.<br />

d) A avaliação _________________________ <strong>da</strong> visão é realiza<strong>da</strong> pelo professor<br />

especializado.<br />

e) Podemos considerar visão subnormal a per<strong>da</strong> visual em<br />

_____________________________________ os olhos, após a máxima<br />

__________________________, ________________________ possível.<br />

81


2. Indique a alternativa correta:<br />

82<br />

a) A corioretinite apresenta alteração macular e dificul<strong>da</strong>de<br />

para ver longe.<br />

b) Na retinopatia <strong>da</strong> prematuri<strong>da</strong>de é freqüente o<br />

deslocamento <strong>da</strong> retina.<br />

c) Na retinose pigmentar há cegueira noturna e alteração <strong>da</strong><br />

visão de cores.<br />

d) A catarata e o glaucoma não operados podem levar a<br />

cegueira.<br />

e) To<strong>da</strong>s as alternativas são corretas.<br />

3. Marque a(s) alternativa(s) ver<strong>da</strong>deira(s)<br />

a) As pessoas com baixa visão devem poupar o pouco de<br />

visão remanescente.<br />

b) A função visual desenvolve-se por uso e função do Sistema<br />

<strong>Visual</strong>.<br />

c) É desaconselhável o uso de óculos em bebê.<br />

d) Os recursos ópticos especiais facilitam o processo de<br />

aprendizagem de leitura-escrita.<br />

e) To<strong>da</strong>s as alternativas são ver<strong>da</strong>deiras.


1.<br />

2. e<br />

CHAVE PARA CORREÇÃO DA AVALIAÇÃO<br />

a) aprendi<strong>da</strong><br />

b) olhar preferencial de Dobson e Teller<br />

c) acui<strong>da</strong>de visual, sensibili<strong>da</strong>de aos contrastes, campo<br />

visual, visão de cores e funções ópticas<br />

d) funcional<br />

e) ambos, correção óptica.<br />

3. b, d<br />

83


<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação<br />

Secretaria de Educação Especial<br />

<strong>Fascículo</strong> II<br />

Educação Infantil<br />

Educação Precoce<br />

Brasília, 2001<br />

Conteudistas:<br />

Maril<strong>da</strong> Moraes Garcia Bruno<br />

Maria Glória Batista <strong>da</strong> Mota<br />

Colaboração<br />

Instituto Benjamin Constant<br />

85


SUMÁRIO<br />

FASCÍCULO II - A EDUCAÇÃO INFANTIL - EDUCAÇÃO<br />

PRECOCE<br />

• O processo de inclusão em creches<br />

• Trabalhando juntos: família – escola – comuni<strong>da</strong>de<br />

• Programa de estimulação visual na faixa etária<br />

de zero a três anos<br />

• Programa de intervenção precoce na abor<strong>da</strong>gem<br />

pe<strong>da</strong>gógica<br />

Bibliografia<br />

Anexo<br />

87


Prezado Professor<br />

APRESENTAÇÃO<br />

O fascículo Educação Infantil I traz informações básicas<br />

sobre o processo de desenvolvimento, aprendizagem e educação<br />

de crianças com deficiência visual na faixa etária de zero a<br />

três anos.<br />

Discute o levantamento <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des educativas<br />

especiais e a elaboração do programa de educação que<br />

contemple o desenvolvimento integral do aluno.<br />

Propõe um trabalho conjunto Escola-Família-Comuni<strong>da</strong>de,<br />

tendo em vista a interação-comunicação, a aprendizagem<br />

significativa e a inclusão social <strong>da</strong> criança com deficiência visual.<br />

89


OBJETIVO GERAL<br />

OBJETIVOS<br />

Capacitar o professor de educação infantil, ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental e médio, para a identificação, diagnóstico e<br />

encaminhamento de alunos com deficiência visual, discutindo<br />

metodologias, estratégias pe<strong>da</strong>gógicas e recursos especiais<br />

que facilitam o processo ensino-aprendizagem e o trabalho<br />

conjunto Escola-Família-Comuni<strong>da</strong>de.<br />

OBJETIVOS ESPECÍFICOS<br />

O professor deverá ser capaz de:<br />

• identificar sinais, sintomas e condutas do aluno<br />

com deficiência visual, encaminhando-o para<br />

serviços complementares;<br />

• articular ações dos serviços de saúde, educação<br />

e assistência social para obtenção dos recursos<br />

ópticos e outros atendimentos necessários ao<br />

desenvolvimento e à aprendizagem do aluno;<br />

• subsidiar o professor para o desenvolvimento de<br />

programas pe<strong>da</strong>gógicos, fun<strong>da</strong>mentados na interrelação,<br />

comunicação e ação funcional;<br />

• orientar o professor para o trabalho conjunto<br />

escola-família e quanto às estratégias de inclusão<br />

em creches.<br />

91


INFORMAÇÕES INICIAIS<br />

1. Leia os objetivos específicos do fascículo.<br />

2. Estude o texto do fascículo.<br />

3. Teste seus conhecimentos, respondendo às avaliações<br />

propostas.<br />

4. Confira suas respostas com as <strong>da</strong> chave de correção,<br />

no final do fascículo.<br />

5. Se conseguir responder a to<strong>da</strong>s às questões, passe<br />

para o fascículo seguinte.<br />

6. Se não conseguir respondê-las integralmente, reestude<br />

o texto.<br />

7. Respon<strong>da</strong> novamente à avaliação. Se não conseguir<br />

responder plenamente às questões, consulte o professor<br />

aplicador do fascículo.<br />

93


ALTERNATIVAS DE APRENDIZAGEM DO PROFESSOR<br />

1 - Estude o texto relativo ao fascículo.<br />

2 - Reveja o vídeo para tirar dúvi<strong>da</strong>s.<br />

3 -Recorra ao professor aplicador <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de, caso a<br />

dúvi<strong>da</strong> persista.<br />

4 - Realize a avaliação proposta e as ativi<strong>da</strong>des sugeri<strong>da</strong>s.<br />

95


A EDUCAÇÃO INFANTIL - EDUCAÇÃO PRECOCE<br />

O PROCESSO DE INCLUSÃO EM CRECHES<br />

O bebê com deficiência visual, como qualquer criança,<br />

necessita de ambiente familiar continente, de maternagem, isto<br />

é, de receber afeto, carinho e atenção para sentir-se seguro.<br />

Necessita ain<strong>da</strong> de pessoas que aten<strong>da</strong>m a suas necessi<strong>da</strong>des<br />

básicas de alimentação, higiene e descanso, pois ele se estressa<br />

com facili<strong>da</strong>de.<br />

Se o ambiente familiar for aconchegante, tranqüilo,<br />

possibilitando o desenvolvimento integral de to<strong>da</strong>s as<br />

possibili<strong>da</strong>des psicoafetivas do bebê, a i<strong>da</strong> para a creche pode<br />

ser adia<strong>da</strong>, pois a mãe desempenha importante papel na<br />

interpretação do mundo, <strong>da</strong>ndo segurança para a criança<br />

explorar e fazer as primeiras descobertas.<br />

Na reali<strong>da</strong>de de hoje as mães se angustiam muito por<br />

não ter com quem deixar o bebê. Sem dúvi<strong>da</strong> que, nesses casos,<br />

a creche será o melhor lugar substituto <strong>da</strong> família, onde a criança<br />

poderá encontrar pessoas disponíveis a compreender, interpretar<br />

e atender a seus apelos e necessi<strong>da</strong>des.<br />

Para incluir um bebê com deficiência visual em creches<br />

ou berçários, to<strong>da</strong>s as pessoas precisam ser orienta<strong>da</strong>s:<br />

diretora, coordenadora, professora e auxiliares. Essa é uma<br />

tarefa que pode ser desenvolvi<strong>da</strong> em parceria com os serviços<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, professores especializados ou instituições que<br />

desenvolvam programas de Educação Infantil.<br />

O que deve ficar claro é que a criança com deficiência<br />

visual necessita de um período maior de a<strong>da</strong>ptação do que as<br />

outras crianças. Principalmente porque a visão exerce papel<br />

fun<strong>da</strong>mental no conhecimento, controle e a<strong>da</strong>ptação ao meio.<br />

97


Essas crianças vão necessitar de mais tempo para<br />

conhecer as pessoas novas, identificá-las por suas vozes,<br />

cheiros e passos para poder aceitá-las.<br />

Até aos três anos de i<strong>da</strong>de, as crianças com deficiência<br />

visual dispõem ain<strong>da</strong> de poucos recursos para diferençar as<br />

pessoas e reconhecê-las, em meio a muito barulho.<br />

Torna-se então indispensável um ambiente acolhedor,<br />

tranqüilo e mais organizado. Ambiente sem ruídos ameaçadores<br />

ou agitação que possam assustar o bebê, dificultando a<br />

interação com o meio.<br />

Outro fator importante que deve ser ain<strong>da</strong> considerado<br />

é que o entorno familiar pode desorganizar-se com a i<strong>da</strong> de um<br />

bebê para a creche. Os pais e avós podem sentir dificul<strong>da</strong>de de<br />

separar-se <strong>da</strong> criança. Isso acarreta medo, insegurança,<br />

sentimentos de culpa e ansie<strong>da</strong>de. É uma relação sofri<strong>da</strong>. Por<br />

isso é muito importante que a creche receba o bebê e sua família<br />

para o período de a<strong>da</strong>ptação. Permita que inicialmente a mãe<br />

faça uma a<strong>da</strong>ptação gra<strong>da</strong>tiva. Leve o bebê para conhecer a<br />

escola, as pessoas, os objetos, o parque e familiarizar-se com<br />

os ruídos, cheiros e brinquedos. A a<strong>da</strong>ptação pode demorar até<br />

meses.<br />

É importante deixar a mãe mostrar como interage e se<br />

relaciona com sua criança, revelar o que lhe dá prazer, satisfação<br />

e medo para descobrir do que a criança gosta e o que rejeita.<br />

Se a família percebe que há um ambiente acolhedor para sua<br />

criança e pessoas interessa<strong>da</strong>s em compreender e aju<strong>da</strong>r em<br />

suas dificul<strong>da</strong>des, sem dúvi<strong>da</strong> alguma, haverá sentimentos de<br />

segurança e relação de confiança com a escola.<br />

98


TRABALHANDO JUNTOS: FAMÍLIA – ESCOLA –<br />

COMUNIDADE<br />

Interangindo e Comunicando<br />

As primeiras interações para serem agradáveis devem<br />

despertar satisfação no bebê. Interaja com ele no início, sem<br />

retirá-lo do colo <strong>da</strong> mãe que é o espaço mais desejado,<br />

aconchegante e seguro. Descubra o que lhe desperta interesse:<br />

se é o toque seguro nas mãos ou braços, se a voz interessante<br />

com alternância de tom e ritmo, se o cochicho ao ouvido ou o<br />

movimento do corpo. No primeiro contato com pessoas<br />

desconheci<strong>da</strong>s, o bebê não deve vivenciar experiências<br />

desagradáveis de manipulações bruscas ao pegá-lo do colo<br />

<strong>da</strong> mãe, carrinho ou berço. Ele poderá desorganizar-se,<br />

sentindo-se desprotegido e perdido no espaço. Com bastante<br />

continência, dê ao bebê referências para o toque, como pegar<br />

as mãos ou os braços <strong>da</strong> pessoa que o estiver segurando, e<br />

conversar com ele sobre o que vai acontecer .<br />

Alguns bebês, principalmente os prematuros que<br />

passaram muito tempo em UTI neonatal, que sofreram<br />

experiências desagradáveis e traumatizantes nos berçários,<br />

tendem a desorganizar-se com mais freqüência. Qualquer<br />

movimento muito brusco, vozes estranhas e objetos<br />

desconhecidos podem representar ameaça.<br />

Por isso deve-se ter paciência e tentar compreender a<br />

angústia do bebê, tentar acalmá-lo com o diálogo corporal,<br />

toques, massagens e vibração pelo corpo. Procurar usar a<br />

mesma forma de agir, tocar e falar que a mãe usa para acalmálo<br />

é uma boa estratégia. Deve-se ter mais tempo de a<strong>da</strong>ptação<br />

para essas crianças. Dispense a família só quando o professor<br />

já der conta de consolar a criança.<br />

99


A forma de pegar, carregar, falar e acalmar o bebê são<br />

fun<strong>da</strong>mentais para a interação, comunicação e criação do<br />

vínculo. Por isso, a professora que recebe a criança deve ser<br />

sempre a mesma, com o mesmo código de comunicação<br />

estabelecido, pois a criança pequena gosta de rituais.<br />

O professor não deve esquecer-se de que o cheiro também<br />

é um forte indício que a criança deficiente visual usa para antecipar e<br />

reconhecer as pessoas. Evite perfumes muito extravagantes, usando<br />

sempre o mesmo perfume ou o desodorante a que esteja habitua<strong>da</strong>.<br />

A oportuni<strong>da</strong>de de olhar bem de pertinho (se tiver<br />

visão), tocar, pegar, sentir o rosto <strong>da</strong>s pessoas, perceber as<br />

expressões enquanto fala podem ser espetáculos fascinantes<br />

que encantam o bebê e o aju<strong>da</strong>m a construir a imagem do eu e<br />

do outro.<br />

100<br />

Fig. 10. Relação professor-aluno.


Quando o bebê ain<strong>da</strong> é pequeno, é natural que ele não<br />

consiga ain<strong>da</strong> localizar e alcançar as pessoas pela fonte sonora<br />

(voz – passos) por isso é importante que se achegue para falar<br />

com ele, para que perceba que o que ouve pode ser tocado.<br />

O bebê que enxerga desenvolve mais rápido a atenção,<br />

a consciência e a escuta do som, porque tem a confirmação<br />

visual. Quando o bebê começa a emitir som, balbuciar,<br />

cantarolar, aproxime-se, imite-o, para ele perceber que você<br />

está interessa<strong>da</strong> em estabelecer meios de comunicação.<br />

Toque-o também como forma de aprovação <strong>da</strong> intenção<br />

comunicativa.<br />

É importante que ele toque o rosto, a cabeça, as mãos<br />

<strong>da</strong> pessoa que fala com ele. Gostosas brincadeiras de falar<br />

não, mão, braço, barriga e pescoço <strong>da</strong> criança podem encantála<br />

e motivá-la para um bom bate-papo.<br />

Conhecer e tocar os amiguinhos, fazendo o rastreamento<br />

tátil, aju<strong>da</strong> a construir a auto-imagem e formar a imagem mental<br />

do outro.<br />

As comunicações sociais como bater palmas, <strong>da</strong>r tchau,<br />

jogar beijinhos, as crianças com deficiência visual podem aprender<br />

na mesma i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s outras crianças. Isso se forem aju<strong>da</strong><strong>da</strong>s por<br />

detrás a realizar os movimentos para poder imitá-los.<br />

Essas criança demonstram prazer e alegria ao ouvir<br />

músicas, talvez por isso as pessoas permitam que fiquem muito<br />

tempo ouvindo rádio. Isto não é aconselhável, pois tem pouco<br />

significado quanto ao conteúdo e estimula o verbalismo.<br />

O melhor é que a professora cante junto com a criança,<br />

pequenas cantigas, ensinando por detrás os gestos para poder<br />

compreender e imitar. A expressão gestual aju<strong>da</strong> a criança a<br />

compreender os significados reais <strong>da</strong>s palavras e a representação<br />

simbólica.<br />

101


102<br />

Fig. 11. Relação professor-aluno.<br />

Construção do Sistema de Significação e Linguagem<br />

A construção do sistema de significação depende <strong>da</strong><br />

inicialmente <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de a criança agir e de perceber com<br />

o corpo suas próprias ações e as dos outros.<br />

A capaci<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong> criança ao meio está<br />

diretamente relaciona<strong>da</strong> à quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s primeiras interações:<br />

forma de falar, carregar, transmitir informações, sentimentos,<br />

emoções.<br />

A pessoa que cui<strong>da</strong> do bebê com deficiência visual deve<br />

estar disponível e interessa<strong>da</strong> a propiciar-lhe essas experiências<br />

agradáveis que se constituem a base <strong>da</strong> comunicação e são os<br />

animadores e motivadores <strong>da</strong> expressão fonética do gorjeio,<br />

do balbucio, do choro, do riso e <strong>da</strong> imitação silábica.<br />

O significado dessas primeiras formas de comunicação<br />

e interação será construído, se a criança encontrar, nos familiares<br />

e na pessoa que cui<strong>da</strong> dela na escola, a atenção e a resposta a


suas primeiras formas de expressão e comunicação verbal.<br />

Poderá ser usado o toque, a modulação de tom e de ritmo de<br />

voz como resposta.<br />

Da possibili<strong>da</strong>de de encontrar pessoas que<br />

compreen<strong>da</strong>m e interpretem o que as crianças querem<br />

expressar, <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de ação, <strong>da</strong> imitação fônica e gestual<br />

é que surgem a imitação dos signos <strong>da</strong> linguagem e a<br />

comunicação.<br />

A quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> comunicação e do manuseio e a<br />

instalação <strong>da</strong> rotina diária permitem à criança com per<strong>da</strong> visual<br />

perceber os indícios que aju<strong>da</strong>m a antecipar o que vai acontecer.<br />

Esses indícios podem ser a voz, os passos, os cheiros,<br />

o barulho dos objetos, o movimento e a maneira de pegar. Todos<br />

esses indícios além de aju<strong>da</strong>r a criança a organizar-se para a<br />

ação, evitando sustos, aju<strong>da</strong>m na antecipação – capaci<strong>da</strong>de<br />

de prever o que vai acontecer.<br />

Na criança que enxerga, to<strong>da</strong>s essas informações são<br />

elabora<strong>da</strong>s automaticamente e de forma global pela visão. A<br />

criança que vê pouco ou não vê na<strong>da</strong> necessita dessas pistas<br />

integra<strong>da</strong>s: auditivas – táteis – cinestésicas – olfativas para<br />

poder antecipar.<br />

Para Piaget a construção <strong>da</strong> linguagem depende <strong>da</strong><br />

função simbólica, ou seja, <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de que a criança adquire<br />

por volta de um ano e meio ou dois anos de distinguir o<br />

significado do significante.<br />

A criança com deficiência visual para isso necessita<br />

que, ao tocar o objeto, a mãe, a professora ou a pessoa que<br />

cuide dela lhe diga o nome, ajude a explorar e pesquisar<br />

visualmente ou tatilmente os objetos, sem contudo passar os<br />

conceitos de seu ponto de vista de vidente.<br />

A criança precisa conhecer os objetos de seu jeito –<br />

explorar pelo tato, som ou cheiro, saber como funciona, o que<br />

faz com ele, para que serve – para poder compreender-lhes o<br />

significado.<br />

Valendo-se dessa interação e <strong>da</strong> relação com<br />

pessoas e objetos, de sua organização interna, pela vivência<br />

103


corporal e pelo fazer coisas, organizando suas próprias ações<br />

dentro <strong>da</strong> relação espaço-temporal, é que a criança deficiente<br />

visual poderá construir o seu sistema de significação e<br />

linguagem.<br />

A criança com deficiência visual, quando pequena, utiliza<br />

muito o canal auditivo para interação e controle do meio. Talvez<br />

por isso desenvolva logo cedo boa capaci<strong>da</strong>de imitativa <strong>da</strong> fala<br />

– o que é chamado de verbalismo.<br />

O professor deve estar atento para o verbalismo, que é<br />

fala repetitiva, destituí<strong>da</strong> de significado. A família, o professor e<br />

os coleguinhas, através do brinquedo e <strong>da</strong> experiência prática,<br />

podem aju<strong>da</strong>r a criança a construir suas próprias experiências<br />

e seus significados.<br />

Um bom caminho para aju<strong>da</strong>r a criança pequena a<br />

construir significados é brincar junto, fazer coisas junto, ajudála<br />

nas ações de rotina – alimentação, higiene. Levá-la a<br />

participar <strong>da</strong> elaboração do lanche, do brinquedo. Tudo o que<br />

a criança vidente compreende automaticamente pela visão, a<br />

criança com deficiência visual necessita vivenciar com seu<br />

próprio corpo, de forma integra<strong>da</strong>. Assimilando as informações<br />

por ela mesma, poderá internalizar as ações para representálas<br />

depois.<br />

A aquisição <strong>da</strong> linguagem só se torna possível quando<br />

a criança representa por imagens aquilo que vivenciou, organizou<br />

e estruturou no período sensório motor.<br />

Conviver com outras crianças e pessoas na creche,<br />

aprender a cantar, a brincar, a expressar seus desejos, sentimentos,<br />

emoções, enfim, participar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, são marcadores temporais e<br />

espaciais basilares para a construção do sistema de significação<br />

e linguagem, além de possibilitar-lhe ser e participar do mundo...<br />

104


Fig. 12. Ativi<strong>da</strong>de lúdica.<br />

Despertando o Desejo de Tocar – Mover-se – Conhecer –<br />

Brincar.<br />

Para a criança com deficiência visual o contato pele-apele<br />

e o diálogo corporal são formas primárias de comunicação<br />

e interação; são fronteiras vitais para a construção do eu e do<br />

outro e motivador essencial para despertar o desejo de busca<br />

<strong>da</strong>s pessoas e objetos.<br />

A mãe ou a pessoa que cui<strong>da</strong> <strong>da</strong> criança torna-se<br />

depositária <strong>da</strong>s tensões, desejos, ansie<strong>da</strong>des e frustrações <strong>da</strong><br />

criança e, ao mesmo tempo, torna-se fonte de prazer e satisfação.<br />

Logo os primeiros movimentos de descentração –<br />

busca externa –serão <strong>da</strong> pessoa ou dos objetos significativos<br />

que dão prazer. Primeiro a mãe – pessoa que cui<strong>da</strong>, dá o<br />

alimento, de quem ouve a voz e percebe o movimento; só depois<br />

os objetos externos.<br />

105


A criança com per<strong>da</strong> visual, valendo-se de uma relação<br />

dialógica consistente que compreen<strong>da</strong> o que lhe dá prazer e<br />

segurança, poderá ser motiva<strong>da</strong> a mover-se e aventurar-se a<br />

tocar e buscar o desconhecido.<br />

Os familiares, a professora <strong>da</strong> creche e os amiguinhos,<br />

pela forma de tocá-la, abordá-la e <strong>da</strong>r-lhe segurança para os<br />

deslocamentos no espaço, poderão ajudá-la a descobrir novos<br />

caminhos e obter novas experiências.<br />

O tocar, explorar, fazer descobertas e brincar, para a criança<br />

com deficiência visual, está diretamente relacionado à possibili<strong>da</strong>de<br />

de mover-se com segurança e independência nos espaços.<br />

Para mover-se seguramente em busca do objeto, sem<br />

sentir medo ou estar perdi<strong>da</strong> no espaço, é que utilizamos a calça<br />

<strong>da</strong> vovó para os primeiros movimentos e para o brincar. A criança<br />

com deficiência visual necessita ter vivências corporais e exercitar<br />

sua musculatura pela ação de brincar em diferentes posições.<br />

Os brinquedos precisam estar disponíveis, ao alcance<br />

tátil <strong>da</strong> criança, para poder tocá-lo, perdê-lo e ir em busca. Para<br />

isso sugerimos o móbile sensorial no berço, colocado bem<br />

106<br />

Fig. 13. Ativi<strong>da</strong>de lúdica.


próximo <strong>da</strong> criança, e o varal (PVC) para crianças maiores<br />

brincarem em diferentes posições no chão.<br />

PROGRAMA DE ESTIMULAÇÃO VISUAL NA FAIXA<br />

ETÁRIA DE ZERO A TRÊS ANOS<br />

A estimulação visual é parte integrante do Programa<br />

Geral de Intervenção Precoce e não deve ser realiza<strong>da</strong> em<br />

separado, sem contemplar to<strong>da</strong>s as áreas do desenvolvimento<br />

integral <strong>da</strong> criança.<br />

Dessa forma tem como objetivos:<br />

• interação e comunicação;<br />

• otimização <strong>da</strong>s funções visuais básicas;<br />

• potencialização do desenvolvimento sensóriomotor<br />

e cognitivo;<br />

• desenvolvimento psicoafetivo-social;<br />

• apoio e suporte à família.<br />

Importância <strong>da</strong> Estimulação <strong>Visual</strong><br />

A estimulação visual é realiza<strong>da</strong> no período optimal do<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> retina, <strong>da</strong>s vias ópticas e <strong>da</strong> plastici<strong>da</strong>de<br />

neuronal do córtex visual.<br />

Estudos <strong>da</strong> neuropsicobiologia tem apontado a real<br />

importância <strong>da</strong> Estimulação <strong>Visual</strong>. Apontam que a densi<strong>da</strong>de<br />

neuronal de um bebê de 28 semanas gestacionais é similar a<br />

do adulto. E que na 33ª semana, apresenta a capaci<strong>da</strong>de de<br />

fixação, de receber e de processar informações.<br />

Esses estudos têm demonstrado que o córtex visual<br />

primário tem uma rápi<strong>da</strong> expansão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> fetal até os 4 meses.<br />

Há intensa mielinização <strong>da</strong> retina e vias ópticas até o 8º mês.<br />

A ativação progressiva <strong>da</strong>s ramificações dendríticas,<br />

as sinapses e as conexões de células <strong>da</strong> retina e nervo óptico<br />

ocorrem entre os 18 e os 24 meses.<br />

Becker (1991) tem mostrado que há pouca mu<strong>da</strong>nça<br />

significativa dos neurônios entre os 24 meses e os 7 anos,<br />

107


embora a área frontal do córtex visual, responsável pela área<br />

associativa desenvolva-se até os 7 anos.<br />

Esses estudos apontam que aos 2 anos a criança tem,<br />

em relação ao adulto, 55% <strong>da</strong> área associativa desenvolvi<strong>da</strong> e<br />

aos 7 anos, apenas 10% menor que a do adulto.<br />

Dra. Patrícia Sonksen, neurologista inglesa que estu<strong>da</strong><br />

o desenvolvimento do córtex visual, afirma que nas deficiências<br />

visuais corticais o desenvolvimento optimal ocorre entre os 13 e<br />

os 18 meses.<br />

Essas pesquisas reforçam os estudos realizados pela<br />

Dra. Natalie Barraga (1986), para quem enxergar não é<br />

habili<strong>da</strong>de inata, é aprendi<strong>da</strong>. As crianças sem alterações<br />

visuais, não necessitam de estimulação visual, pois desenvolvem<br />

naturalmente suas funções visuais.<br />

A criança com baixa visão necessita de uma avaliação<br />

clínico-funcional <strong>da</strong> visão para compreensão do potencial visual,<br />

<strong>da</strong>s alterações funcionais que possam comprometer o<br />

desenvolvimento e verificação <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de correção<br />

óptica, para melhorar o desempenho visual.<br />

Programa de Estimulação <strong>Visual</strong>: Metodologia e Materiais<br />

108<br />

• Promover o desenvolvimento <strong>da</strong> atenção visual:<br />

consciência e processamento visual por meio de<br />

esquemas sensório-motores e função psicoafetiva;<br />

• apoiar e aju<strong>da</strong>r a mãe e familiares a encontrar a<br />

melhor posição (campo visual) e distância para<br />

realizar o contato visual. O toque físico e o contato<br />

verbal estimulam os movimentos de varredura visual<br />

em busca do rosto materno;<br />

• aju<strong>da</strong>r o bebê a realizar o rastreamento visual de<br />

pessoas e objetos em posição corporal tipo concha.<br />

Sustentação e apoio cefálico na posição occipital (atrás,<br />

acima do pescoço), aju<strong>da</strong>ndo o bebê a movimentar a<br />

cabeça, fazendo rotação em busca de um estímulo


visual interessante (rosto com voz, objetos de alto<br />

contraste ou objetos com luz dentro);<br />

• respeitar o tempo do bebê e as reações oculares<br />

defensivas como: fechar, piscar e virar os olhos.<br />

Essas reações são bastante freqüentes em crianças<br />

com dificul<strong>da</strong>des de fixação e alteração de campo<br />

visual. Os bebês com alterações neurológicas e<br />

deficiência visual cortical tendem a apresentar<br />

freqüentes desligamentos (olhar vago e distante ou<br />

sustos, olhar paralisado);<br />

• evitar estímulos agressivos como luzes fortes, piscapisca,<br />

objetos com sons estridentes, que podem<br />

estressar e desorganizar o bebê. Por isso sugerimos<br />

à mamãe e à vovó criarem interessantes brinquedos<br />

multissensoriais que agra<strong>da</strong>m e estimulam o bebê.<br />

Fig. 14. Material educativo.<br />

Desenvolvendo a Fixação<br />

Compreender que o processo de focalização<br />

(direcionamento do olhar) e fixação central são muito lentos<br />

em bebês com visão subnormal severa. Por isso torna-se<br />

109


importante além dos materiais de alto-contraste, <strong>da</strong>r mais tempo<br />

para que o bebê possa captar as impressões visuais.<br />

Há crianças que apresentam dificul<strong>da</strong>de de<br />

a<strong>da</strong>ptação à luz por fotofobia (sensibili<strong>da</strong>de à luz) ou por baixa<br />

resolução visual no escuro. Para o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

capaci<strong>da</strong>de de fixação deve ser observado o melhor controle<br />

de iluminação no ambiente. Alta iluminação fluorescente,<br />

incandescente, penumbra ou ambiente escuro com luz indireta<br />

podem ser usados. Utilizar inicialmente o que a criança<br />

melhor se a<strong>da</strong>ptar.<br />

A reação a cores é particular a ca<strong>da</strong> criança, com<br />

reações diferencia<strong>da</strong>s, mesmo entre as mesmas patologias<br />

visuais. Há crianças que preferem o amarelo e laranja<br />

(apresentam mais luminância), outras mostram mais interesse<br />

pelo rosa forte, verde limão ou vermelho. Há as que reagem<br />

apenas aos altos contrastes como preto/branco, amarelo/preto,<br />

azul/amarelo, roxo/amarelo.<br />

Os objetos mais significativos e próximos <strong>da</strong> criança<br />

como a própria mão em movimento, a mamadeira, chupeta,<br />

caneca e móbile com contraste são recursos interessantes para<br />

despertar atenção visual e facilitar a fixação.<br />

A família e o professor devem entender que não há<br />

apenas um momento específico e único para fazer a estimulação<br />

visual. Mas que a criança deve ser motiva<strong>da</strong> a usar o potencial<br />

visual em to<strong>da</strong>s as suas ativi<strong>da</strong>des diárias: no brinquedo, na<br />

busca <strong>da</strong>s pessoas, na alimentação, nos passeios, etc.<br />

Facilitando a Busca e o Seguimento <strong>Visual</strong><br />

As crianças com baixa visão severa decorrente de<br />

alterações retinianas, com alteração de campo visual periférico<br />

central e com nistagmo podem apresentar dificul<strong>da</strong>de nas tarefas<br />

de seguimento visual dirigido. Muitas acompanham apenas o<br />

som ou os movimentos.<br />

110


Deve haver facilitação para a adequação postural em<br />

crianças pequenas ou com comprometimentos neuromotores,<br />

que não adquiriram ain<strong>da</strong> o controle cefálico e de tronco.<br />

É muito importante, para facilitar tanto o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

fixação como o seguimento visual. Para isso o professor poderá<br />

sugerir:<br />

• posição de bruço ou de lado no colo: muitas crianças<br />

não conseguem organizar-se na posição senta<strong>da</strong> por<br />

falta de controle cefálico e de tronco ou por dificul<strong>da</strong>de<br />

de equilíbrio. Na posição de bruço ou de lado, ela<br />

pode ficar mais relaxa<strong>da</strong> e organiza<strong>da</strong> para tentar<br />

fixar e realizar o seguimento visual;<br />

• na calça <strong>da</strong> vovó – Nas posições acima descritas,<br />

semi-senta<strong>da</strong> em ângulo de 60° a 70° tipo concha,<br />

na calça ou de bruços, com o rolo (perna <strong>da</strong> calça)<br />

embaixo <strong>da</strong>s axilas;<br />

Fig. 15. Material educativo.<br />

• varal Sensorial – O bebê só busca aquilo que é<br />

conhecido e que está disponível. Por isso usamos<br />

o varal sensorial que pode ser improvisado com<br />

PVC ou até mesmo com cor<strong>da</strong> de varal. Onde os<br />

objetos significativos serão dependurados por<br />

111


Fig. 16. Material educativo.<br />

112<br />

elásticos para permitir o toque, o pegar, o puxar, o<br />

aproximar ou o empurrar. A seleção dos objetos<br />

depende do nível de desenvolvimento psicoafetivomotor,<br />

<strong>da</strong> reação visual, motivação e interesse <strong>da</strong><br />

criança;<br />

• o Tapete Sensorial – é um recurso interessante<br />

para a estimulação visual em casa e na escola,<br />

podendo ser utilizado para o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

fixação, busca visual e coordenação olho-mão.<br />

Quando a visão é muito baixa, muitas vezes o estímulo<br />

visual não é suficiente para despertar a fixação e a busca visual.<br />

Por isso combinamos estímulos táteis em relevo, texturas diferentes<br />

com alto contraste e formas com variação de figura/fundo.<br />

• bolas, balões iluminados ou fluorescentes, objetos<br />

com movimentos e que mu<strong>da</strong>m de forma são<br />

recursos motivadores para facilitar o seguimento<br />

visual.<br />

Favorecendo a Coordenação Olho-Mão<br />

A coordenação olho-mão fica muitas vezes prejudica<strong>da</strong><br />

não apenas pelo déficit visual, mas principalmente pelas<br />

inadequações posturais que são freqüentes tais como:


assimetria corporal, cabeça lateraliza<strong>da</strong> em extensão ou flexão,<br />

braços abertos e mãos lateraliza<strong>da</strong>s.<br />

O professor precisa aju<strong>da</strong>r a mãe e o bebê a encontrar<br />

a melhor posição para organização postural, permitindo melhor<br />

controle dos movimentos oculares e trazendo as mãos e os<br />

objetos em linha média para poder fixá-los.<br />

Brincadeiras de contato visual e toques no rosto <strong>da</strong> mãe,<br />

procurando a boca, nariz, cabelo e os olhos são excelentes<br />

exercícios de coordenação óculo-motora.<br />

Brincar com luvas na mão <strong>da</strong> criança e do adulto, tirar e<br />

pôr, pintar as mãos <strong>da</strong> criança com batom, para olhar que tem<br />

algo novo, com cheiro, e tirar as meias podem ser bons recursos.<br />

Os móbiles multissensoriais que a criança possa pegar,<br />

puxar, bater e levar à boca são também interessantes, mas devem<br />

estar bem próximos e no campo visual para a criança visualizá-los.<br />

Para aperfeiçoar as funções óculo-motoras: fixação,<br />

acomo<strong>da</strong>ção, seguimento visual, coordenação olho-mão e as<br />

habili<strong>da</strong>des visoperceptivas é importante que o tamanho dos<br />

objetos seja também diminuído gra<strong>da</strong>tivamente. Muitas vezes<br />

subestimamos a capaci<strong>da</strong>de perceptiva dessas crianças ou a<br />

nivelamos por baixo, apresentando apenas objetos grandes.<br />

Fig. 17. Material educativo.<br />

113


Ampliando a Esfera e o Campo <strong>Visual</strong><br />

Esfera visual é a distância em que as pessoas podem<br />

realizar discriminações. Isto depende muito do nível de acui<strong>da</strong>de<br />

visual e <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de acomo<strong>da</strong>tiva do olho.<br />

Para a estimulação visual é fun<strong>da</strong>mental saber: o que e<br />

como a criança pode ver? A que distância? Em que posição?<br />

Esses são os pontos chaves. Sem essas informações os<br />

recursos mais sofisticados, caros e bonitos podem ser utilizados<br />

sem que surtam muito efeito.<br />

Como a baixa visão se caracteriza essencialmente pela<br />

visão prejudica<strong>da</strong> à distância, é importante o professor observar<br />

a que distância a criança consegue realizar tarefas visuais, com<br />

boa resolução.<br />

Há crianças que só conseguem discriminar a 3cm dos<br />

olhos ou do nariz ou em posição temporal, nasal, inferior, superior<br />

em distâncias diferentes.<br />

É importante a família saber que para essas crianças<br />

não faz mal aproximar, não haverá excesso de convergência;<br />

esta é a única forma pela qual elas conseguem ver.<br />

A partir do momento em que a criança adquire a<br />

consciência visual <strong>da</strong> distância e de seu melhor campo visual, o<br />

professor poderá ajudá-la afastando objetos já conhecidos para<br />

que ela possa exercitar a focalização em diferentes distâncias<br />

e utilizar os esquemas associativos.<br />

Por essa razão é que raramente crianças com baixa<br />

visão, severa ou modera<strong>da</strong>, mostram interesse por TV, jogos<br />

de vídeo e outros.<br />

As brincadeiras de esconde-esconde com pessoas e<br />

objetos, os jogos de ioiô, petecas, boliche, bolas de sabão<br />

colori<strong>da</strong>s, carros que batem e voltam favorecem essas<br />

ativi<strong>da</strong>des.<br />

O professor e a família poderão criar inúmeras<br />

brincadeiras que estimulem as funções visoperceptivas.<br />

114


Enriquecendo as Experiências Perceptivas<br />

As crianças com baixa visão leve podem utilizar os<br />

livrinhos de histórias disponíveis no mercado, desde que os<br />

critérios sejam a seleção de estímulos, formas simples e<br />

quali<strong>da</strong>de do contraste.<br />

Para crianças que têm pouco interesse pelo figurativo,<br />

o professor poderá utilizar as lupas de mesa ou de copo,<br />

aju<strong>da</strong>ndo a criança a pesquisar os detalhes primeiro em objetos<br />

concretos e depois em figuras.<br />

Os pais podem criar interessantes livrinhos tipo<br />

sanfona de papelão, colando com a criança figuras <strong>da</strong><br />

experiência real <strong>da</strong> criança. Elaborar livrinhos ou álbuns, com<br />

fotos dos eventos significativos <strong>da</strong> família também é uma<br />

idéia interessante. Entretanto, as crianças com visão muito<br />

baixa, terão dificul<strong>da</strong>de de discriminar fotos, então sugerimos<br />

os livros sensoriais.<br />

Construindo Livros Sensoriais<br />

Podem ser elaborados com materiais concretos,<br />

sucatas de materiais de festa, lanchonete (copo descartável,<br />

canudo, pratinho, talheres plásticos) aquilo que tiver significado<br />

para a criança, incluindo os símbolos gráficos.<br />

A partir <strong>da</strong> vivência <strong>da</strong> criança em festas, passeios, lanches,<br />

etc., reconstitui-se a história ou cena narra<strong>da</strong> pela criança que será<br />

representa<strong>da</strong> com os objetos bi e tridimensionais.<br />

Os livros podem ser elaborados ain<strong>da</strong> com materiais<br />

multissensoriais, de texturas diferentes ou com tintas que dão<br />

relevo (tipo tinta de farinha) e servirão tanto para crianças cegas<br />

como para as de baixa visão.<br />

115


Fig. 18. Livro a<strong>da</strong>ptado.<br />

116


PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PRECOCE NA<br />

ABORDAGEM PEDAGÓGICA<br />

Objetivos e Enfoque Curricular<br />

A Intervenção pe<strong>da</strong>gógica precoce na abor<strong>da</strong>gem sóciointeracionista<br />

contempla aspectos prioritários de motivadores<br />

internos e externos que possibilitam o desenvolvimento psicoafetivo,<br />

a competência funcional e a a<strong>da</strong>ptação social do aluno. Nessa<br />

concepção o Programa de Intervenção Precoce deve priorizar a<br />

relação dialógica:<br />

mãe – criança<br />

mãe – mãe<br />

criança – criança<br />

Ação Funcional:<br />

• análise <strong>da</strong>s priori<strong>da</strong>des <strong>da</strong> criança e familiares;<br />

• desenvolvimento de to<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

criança: psicoafetiva, social, cognitiva e física.;<br />

• primazia <strong>da</strong> interação e <strong>da</strong> comunicação através<br />

de ativi<strong>da</strong>des significativas, lúdicas e prazerosas.<br />

Em nosso meio, os programas de intervenção precoce<br />

geralmente são desenvolvidos em instituições especializa<strong>da</strong>s,<br />

infelizmente poucos acontecem na escola pública. Alguns<br />

programas adotam o enfoque terapêutico outros o educacional.<br />

Serão analisa<strong>da</strong>s as principais diferenças entre esses dois<br />

programas.<br />

117


Quadro 1. Reflexões sobre a mu<strong>da</strong>nça de foco<br />

118<br />

Programa com enfoque Programa com<br />

terapêutico enfoque educacional<br />

centrado na correção do déficit centrado na potenciali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> criança<br />

priori<strong>da</strong>des do programa: ponto de atendimento às necessi<strong>da</strong>des<br />

do terapeuta ou do professor específicas <strong>da</strong> criança e às<br />

priori<strong>da</strong>des <strong>da</strong> família- comuni<strong>da</strong>de<br />

relação unilateral relação dialógica – experiência compartilha<strong>da</strong>:<br />

mãe – criança, mãe – professor,<br />

mãe – mãe, criança - criança<br />

sessão individual ativi<strong>da</strong>de grupal<br />

Na relação dialógica cita-se com mais freqüência a mãe<br />

porque é quem acompanha a criança aos atendimentos e escola.<br />

Entretanto a relação compartilha<strong>da</strong> envolve to<strong>da</strong> a família e a<br />

comuni<strong>da</strong>de no processo (pai, irmãos, avós, tios, primos, amigos<br />

e vizinhos). Para integração na família e na comuni<strong>da</strong>de, muitos<br />

países têm adotado como modelo o atendimento e orientação<br />

domiciliar.<br />

Proposta Pe<strong>da</strong>gógica e Organização do Programa<br />

O currículo escolar é o referencial básico e fun<strong>da</strong>mental<br />

para a identificação e avaliação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des educacionais<br />

especiais e para determinação dos apoios específicos que a<br />

criança e a família possam necessitar.<br />

Dessa forma, o professor especializado ou de apoio tem<br />

um papel importante na avaliação e identificação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des<br />

educativas especiais. Através de observações sistemáticas do<br />

desenvolvimento do aluno, realizará, quando necessário, os<br />

encaminhamentos e intercâmbios com a equipe de complementação


pe<strong>da</strong>gógica: oftalmologista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta<br />

ocupacional, psicólogo e assistente social existentes na comuni<strong>da</strong>de.<br />

Como essa equipe não está disponível no contexto<br />

escolar, deve-se realizar intercâmbio e parceria com serviços de<br />

saúde <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, instituições especializa<strong>da</strong>s na área <strong>da</strong><br />

deficiência visual, centros integrados ou de apoio à Educação<br />

Especial para que numa ação inter ou transdisciplinar se realizem<br />

as avaliações e elaboração do Programa de Intervenção Precoce.<br />

A proposta pe<strong>da</strong>gógica fun<strong>da</strong>menta-se na<br />

aprendizagem significativa e no enfoque de currículo misto,<br />

contemplando:<br />

O Enfoque Sensorial<br />

O Enfoque Funcional<br />

• A interação e comunicação (linguagem receptiva<br />

e expressiva);<br />

• o desenvolvimento dos esquemas sensório<br />

motores, cognitivos, incluindo a estimulação visual;<br />

• elementos psicoafetivos-sociais pela interação<br />

nas brincadeiras e nos jogos sociais.<br />

• Contempla as necessi<strong>da</strong>des, interesses, desejos<br />

<strong>da</strong> criança e familiares;<br />

• prioriza as interações através de ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />

e funcionais (fazer coisas);<br />

• desenvolve um programa de ativi<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />

diária (AVD) e orientação e mobili<strong>da</strong>de (OM);<br />

• valoriza a construção do conhecimento em grupo<br />

de crianças e familiares através <strong>da</strong> recreação e<br />

do lazer;<br />

• promove a participação <strong>da</strong> família como parceira<br />

no processo de desenvolvimento e aprendizagem.<br />

119


Organização do Programa<br />

O programa de intervenção precoce pode ser<br />

organizado por meio de duas formas básicas de atendimento:<br />

• momento individual – avaliações e orientações<br />

particulares quanto aos aspectos de desenvolvimento;<br />

• momento grupal – situações lúdicas na sala,<br />

espaço lúdico, espaço de Ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong><br />

Diária (AVD) e Orientação e Mobili<strong>da</strong>de (OM).<br />

Suporte e apoio à família<br />

120<br />

• Reuniões de interação: escuta e orientações com<br />

apoio <strong>da</strong> área psicossocial sempre que possível;<br />

• grupo de pais de acordo com interesses e<br />

priori<strong>da</strong>des aponta<strong>da</strong>s por eles;<br />

• vivências sensoriais e lúdicas, OM e AVD com<br />

crianças e familiares;<br />

• palestras, cursos, seminários para pais;<br />

• oficinas de arte e brinquedos;<br />

• participação em associação de pais.<br />

Procedimentos Metodológicos e Didáticos<br />

Ativi<strong>da</strong>des Individuais:<br />

• realizar avaliação funcional e orientação para<br />

estimulação visual e do desenvolvimento integral;<br />

• apoiar a interação e relação mãe-criança-família;<br />

• aju<strong>da</strong>r a escuta materna: compreendendo e<br />

interpretando a intenção comunicativa do bebê e<br />

<strong>da</strong> mãe;<br />

• favorecer a criação de novas formas de comunicar<br />

e de brincar.


Ativi<strong>da</strong>des em Grupo<br />

- Brincadeiras e Jogos:<br />

• jogos vocálicos – escuta e imitação;<br />

• jogos de imitação – olhar, toque e gestos;<br />

• jogos corporais – vivência do corpo no espaço ;<br />

• músicas com gestos – cantigas, melodias e<br />

pequenos versos com rimas;<br />

• jogos de auto-simulação;<br />

• brincadeiras de faz-de-conta;<br />

• criação de novas brincadeiras.<br />

- Brinquedos e Objetos:<br />

• alcance e busca do objeto;<br />

• exploração ativa do objeto e meio;<br />

• brinquedo espontâneo <strong>da</strong>s crianças;<br />

• continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ação por motivação e aprovação;<br />

• aju<strong>da</strong> nas ativi<strong>da</strong>des manipulativas;<br />

• canalização de formas estereotipa<strong>da</strong>s de brincar<br />

<strong>da</strong>ndo significado e função ao objeto;<br />

• aju<strong>da</strong> na construção do conceito do objeto por<br />

meio <strong>da</strong> experimentação ativa e <strong>da</strong> função deles;<br />

• estimulação do brincar ativo e independente para<br />

novas descobertas.<br />

A forma de estruturar as ativi<strong>da</strong>des na abor<strong>da</strong>gem<br />

pe<strong>da</strong>gógica vai depender <strong>da</strong>s condições ambientais. Depende<br />

ain<strong>da</strong> do número de crianças integra<strong>da</strong>s e do nível de interesse<br />

do grupo. O ideal é que as ativi<strong>da</strong>des individuais sejam também<br />

realiza<strong>da</strong>s para orientação <strong>da</strong> família e <strong>da</strong> escola.<br />

Procedimentos Metodológicos:<br />

• possibilitar o conhecimento, identificação e troca<br />

de experiência entre mães e crianças;<br />

121


122<br />

• estruturar situações de interações naturais<br />

positivas e também conflitivas (choro, birra, medo,<br />

briga entre crianças);<br />

• incentivar o diálogo corporal, o toque, a<br />

verbalização, formas de acalmar e consolar a<br />

criança;<br />

• aju<strong>da</strong>r na interpretação <strong>da</strong> intenção comunicativa<br />

<strong>da</strong>s crianças e mães;<br />

• apoiar as mães, aju<strong>da</strong>ndo-as a expressarem seus<br />

sentimentos, desejos, dúvi<strong>da</strong>s e temores, em<br />

relação às crianças e meio;<br />

• aju<strong>da</strong>r as mães a encontrar com as crianças<br />

formas de trocas afetivas: fazer juntas coisas:<br />

brincar, passear ou ativi<strong>da</strong>des que dêem prazer<br />

pessoal e ao grupo;<br />

• aju<strong>da</strong>r as mães a li<strong>da</strong>r com as ativi<strong>da</strong>des de rotina<br />

diária, alimentação, higiene e OM.<br />

É importante respeitar o interesse pelo brinquedo e<br />

desenvolvimento psicoafetivo.<br />

Dificul<strong>da</strong>de e limites dos pais, <strong>da</strong>s crianças e<br />

profissionais deve ser discutido com o psicólogo <strong>da</strong> escola,<br />

instituição ou comuni<strong>da</strong>de.<br />

O Papel do Professor na Educação Infantil<br />

Papel do Professor Especializado ou de Apoio:<br />

• favorecer e mediar as relações;<br />

• escutar necessi<strong>da</strong>des, interesses, priori<strong>da</strong>des e<br />

desejos <strong>da</strong> criança, familiares e creche;<br />

• realizar avaliação funcional do desenvolvimento em<br />

inter e transdisciplinari<strong>da</strong>de e intercâmbio com<br />

outros profissionais <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de;<br />

• analisar o meio (casa – família – escola –<br />

comuni<strong>da</strong>de), as possibili<strong>da</strong>des reais e potenciais<br />

do aluno;<br />

• elaborar em conjunto com os demais profissionais<br />

envolvidos, o Programa de Intervenção Precoce;


• apoiar e aju<strong>da</strong>r a família a li<strong>da</strong>r com a criança<br />

(cui<strong>da</strong>dos básicos, alimentação, higiene);<br />

• favorecer a busca do prazer e do lúdico.<br />

Papel do Professor na Creche:<br />

A criança com cegueira ou baixa visão necessita ficar<br />

mais tempo no ambiente familiar, pois precisa de segurança,<br />

motivação e de pessoas disponíveis para ajudá-la a explorar e<br />

conhecer o mundo a sua volta. Entretanto, há famílias que<br />

precisam trabalhar e por isso colocam cedo as crianças em<br />

creches ou escolas maternais.<br />

O professor do ensino comum necessita de orientação,<br />

supervisão e apoio do professor especializado para a inclusão<br />

escolar. O papel do professor do ensino comum, dentre outros,<br />

será:<br />

• motivar e organizar interação e formas de<br />

comunicação com a criança, integrando-a ao<br />

grupo;<br />

• planejar, em conjunto com o professor<br />

especializado, ativi<strong>da</strong>des significativas, lúdicas e<br />

funcionais que despertem o interesse <strong>da</strong> criança;<br />

• aju<strong>da</strong>r a criança a realizar coisas que sozinha não<br />

conseguiria;<br />

• ajudá-la a explorar o meio e a brincar ativamente;<br />

• evitar subestimá-la ou superprotegê-la;<br />

• ajudá-la a desenvolver a independência no lanche,<br />

na higiene e no brinquedo.<br />

123


124


BIBLIOGRAFIA<br />

BARDISA, M. Dolores. Guia de estimulacion precoz en niños<br />

ciegos. Instituto Nacional de Serviço Sociales. España-<br />

Madrid, 1983.<br />

BARRAGA, C. Natalie. Sensory perceptual development. AF.<br />

B. teory and practice. N.Y: Schott Edit, 1986.<br />

BRUNO, Maril<strong>da</strong> M. G. O Desenvolvimento integral do portador<br />

de deficiência visual. São Paulo: Loyola, 1992.<br />

—————— Intervenção precoce - momento de interação e<br />

comunicação. In: perspectivas e reflexões - CENP/SEE/<br />

SP, 1993.<br />

CLAMPERT, C. Denise. The development of self concept in<br />

blind children, visual impairment and blidness, 1981.<br />

FRAIBERG S, Insights from the blind. London, 1977.<br />

GUINOT, Vicenta Maria. El Juego en los ninos ciegos. Madrid:<br />

Once, 1989.<br />

HUPTENLOCHER, Peter. Morphometric study of cerebral<br />

cortex. Neuropsychologie, vol. 28, nº 06, 1990.<br />

LEONHARDT, Merce. Traballant amb pares, quaderns pera<br />

l’educació del deficient sensorial. Fun<strong>da</strong>ció Caixa de<br />

Pensions. Barcelona, 1988.<br />

LOWENFELD, B. The psychoanalitic contribution to the<br />

understanding of erly development of blind children. N.Y:<br />

AFB, 1981.<br />

PALLAGROSI, Mauro. Neuroplasticity of the developing brain<br />

and child cortical visual impairment. Universitá “La<br />

Sapienza”. Roma-Italy, 1993.<br />

125


SAMPAIO, Eliana - Le development precoce de enfantes<br />

aveugles: Les travaux pionners de Selma Fraiberg,<br />

Psychiatrie de l’enfant. Paris, 1994.<br />

SIAULYS, Mara O.C. - Papai e mamãe, vamos brincar?<br />

Laramara. S.P, 1997.<br />

ZAMBONE, Alana e outros. Team focus working with young blind<br />

and their families. N.Y: AFB, 1992.<br />

126


ANEXO<br />

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DO<br />

PROFESSOR<br />

1- Complete adequa<strong>da</strong>mente as lacunas:<br />

a) O período ................................ 0 – 2 anos é fun<strong>da</strong>mental<br />

para a construção do conhecimento.<br />

b) A criança com deficiência visual necessita de encontrar<br />

.............................. para ajudá-la a interpretar o mundo.<br />

c) A ausência <strong>da</strong> visão limita as possibili<strong>da</strong>des de<br />

........................... e .............................. ao meio.<br />

d) As formas de ...................................................... e<br />

................................., a .................................<strong>da</strong>s ações<br />

sensório-motoras e a ..................................... com o meio<br />

possibilitam a construção do conhecimento.<br />

e) A ................................ e a ................................. aju<strong>da</strong>m<br />

a criança a interpretar e compreender o mundo a sua<br />

volta.<br />

2- Indique as alternativas corretas.<br />

a) ( ) O programa de educação precoce deve ser elaborado<br />

em conjunto com a família e os serviços complementares<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

127


) ( ) A estimulação visual deve ser realiza<strong>da</strong> preferencialmente<br />

nos primeiros anos de vi<strong>da</strong>.<br />

c) ( ) O programa de estimulação visual deve conter luzes<br />

que são os recursos mais eficazes para estimulação.<br />

d) ( ) A família não deve participar do programa de educação<br />

precoce, pois só a criança deve ser estimula<strong>da</strong>.<br />

e) ( ) To<strong>da</strong>s as alternativas são corretas.<br />

3- Marque a(s) alternativa(s) ver<strong>da</strong>deira(s).<br />

a) ( ) O objetivo do Programa de Educação Precoce é buscar<br />

a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> pela interação e<br />

comunicação com pessoas, objetos e eventos.<br />

b) ( ) A criança com deficiência visual não pode ir cedo para<br />

a creche.<br />

c) ( ) O bebê com deficiência visual, desenvolve-se físico-psicológico<br />

e socialmente pelo brinquedo.<br />

d) ( ) As crianças pequenas ain<strong>da</strong> não apresentam necessi<strong>da</strong>des<br />

educativas especiais.<br />

e) ( ) Nenhuma <strong>da</strong>s alternativas é ver<strong>da</strong>deira.<br />

128


1.<br />

CHAVE PARA CORREÇÃO DA<br />

AVALIAÇÃO<br />

a) sensório-motor<br />

b) pessoas disponíveis<br />

c) apreensão, controle e a<strong>da</strong>ptação<br />

d) comunicação e interação, a integração, troca<br />

e) a mãe e a professora<br />

2. a, b<br />

3. a, c<br />

129


130


<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação<br />

Secretaria de Educação Especial<br />

<strong>Fascículo</strong> III<br />

Educação Infantil<br />

Pré - Escola<br />

Brasília, 2001<br />

Conteudistas:<br />

Maril<strong>da</strong> Moraes Garcia Bruno<br />

Maria Glória Batista <strong>da</strong> Mota<br />

Colaboração:<br />

Instituto Benjamin Constant<br />

131


132


SUMÁRIO<br />

FASCÍCULO III – EDUCAÇÃO INFANTIL – PRÉ-ESCOLA<br />

• A escola inclusiva<br />

• Educação infantil e deficiência visual<br />

• Proposta pe<strong>da</strong>gógica e currículo na educação infantil<br />

• A<strong>da</strong>ptação curricular às necessi<strong>da</strong>des educacionais<br />

especiais<br />

• Diagnóstico e identificação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des<br />

educacionais especiais<br />

• Necessi<strong>da</strong>des específicas de desenvolvimento e<br />

aprendizagem na pré-escola<br />

• O processo de inclusão na pré-escola<br />

Bibliografia<br />

Anexo<br />

133


134


Prezado Professor<br />

APRESENTAÇÃO<br />

O <strong>Fascículo</strong> III - Educação Infantil discute a questão <strong>da</strong><br />

inclusão pré-escolar do aluno com deficiência visual, levando<br />

em consideração importantes aspectos do desenvolvimento, <strong>da</strong><br />

aprendizagem e inclusão escolar.<br />

Abor<strong>da</strong> o currículo aberto, com enfoque sensorial e<br />

funcional, as necessi<strong>da</strong>des educacionais especiais, as<br />

a<strong>da</strong>ptações curriculares, metodologias, estratégias e formas de<br />

atuação do professor especializado e do ensino regular.<br />

135


136


OBJETIVOS GERAIS<br />

OBJETIVOS<br />

Capacitar o professor <strong>da</strong> pré-escola para a inclusão<br />

escolar e social do aluno com cegueira ou com baixa visão.<br />

OBJETIVOS ESPECÍFICOS<br />

O professor deverá ser capaz de:<br />

• analisar o meio (família-escola-comuni<strong>da</strong>de),<br />

identificando as possibili<strong>da</strong>des reais, o potencial<br />

e as necessi<strong>da</strong>des específicas do aluno;<br />

• motivar e organizar interações, planejando<br />

ativi<strong>da</strong>des significativas, lúdicas e funcionais;<br />

• elaborar, em conjunto com o professor<br />

especializado, a<strong>da</strong>ptação curricular, se<br />

necessária ao processo de ensino-aprendizagem.<br />

137


138


INFORMAÇÕES INICIAIS<br />

1. Leia os objetivos específicos do fascículo.<br />

2. Estude o texto do fascículo.<br />

3. Teste seus conhecimentos, respondendo às avaliações<br />

propostas.<br />

4. Confira suas respostas com as <strong>da</strong> chave de correção, no<br />

final do fascículo.<br />

5. Se conseguir responder a to<strong>da</strong>s as questões, passe para<br />

os fascículos segintes.<br />

6. Se não conseguir respondê-las integralmente, reestude<br />

o texto.<br />

7. Respon<strong>da</strong> novamente à avaliação. Se não conseguir<br />

responder plenamente as questões, consulte o professor<br />

aplicador do fascículo.<br />

139


140


ALTERNATIVAS DE APRENDIZAGEM DO PROFESSOR<br />

1 - Estude o texto relativo ao fascículo.<br />

2 - Reveja o vídeo para tirar dúvi<strong>da</strong>s.<br />

3 - Recorra ao professor aplicador <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de, caso a dúvi<strong>da</strong><br />

persista.<br />

4 - Realize a avaliação proposta e as ativi<strong>da</strong>des sugeri<strong>da</strong>s.<br />

141


142


EDUCAÇÃO INFANTIL – PRÉ-ESCOLA<br />

A ESCOLA INCLUSIVA<br />

O modelo integracionista, pioneiro na educação<br />

especial <strong>da</strong> América Latina, foi introduzido em 1945 pela<br />

Fun<strong>da</strong>ção para o Livro do Cego no Brasil (SP), hoje Fun<strong>da</strong>ção<br />

Dorina Nowill, ao realizar os primeiros atendimentos<br />

educacionais de alunos deficientes visuais, matriculados no<br />

Sistema Estadual de Ensino.<br />

Na déca<strong>da</strong> de 60 foram criados os seguintes serviços:<br />

o itinerante, as classes de braile e as de conservação de vista<br />

para amblíopes, em parceria com a Secretaria de Educação de<br />

São Paulo e Fun<strong>da</strong>ção para o Livro do Cego, capacitando<br />

professores para o atendimento de alunos no ensino regular.<br />

Cabe esclarecer que o nome <strong>da</strong>s classes refletia o<br />

conhecimento científico <strong>da</strong> época, ou seja, o aluno com baixa<br />

visão não poderia “gastar” a visão residual, deveria poupá-la.<br />

Graças ao desenvolvimento científico e tecnológico <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong> de 70, os alunos com baixa visão começaram a ser<br />

diagnosticados e orientados quanto ao desenvolvimento <strong>da</strong><br />

eficiência visual pelo uso e função <strong>da</strong> visão.<br />

Em virtude desses avanços e dos conceitos de<br />

desenvolvimento e aprendizagem em educação, é que foram<br />

criados nas grandes ci<strong>da</strong>des os centros de atendimento em<br />

universi<strong>da</strong>des, hospitais e outras instituições, com o objetivo de<br />

realizar avaliação visual, avaliação de desenvolvimento,<br />

orientação médica e psicope<strong>da</strong>gógica, desde a intervenção<br />

precoce, a educação pré-escolar, a escolar e a reabilitação.<br />

Nessa mesma época houve grande expansão do<br />

atendimento educacional especializado, principalmente nos<br />

estados do Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e outros<br />

estados, por meio <strong>da</strong> criação do ensino itinerante e <strong>da</strong>s salas<br />

de recursos, em escolas públicas.<br />

143


To<strong>da</strong>s as iniciativas integracionistas foram centra<strong>da</strong>s no<br />

modelo do Sistema em Cascata com diferentes níveis de<br />

integração, tendo por objetivos o atendimento às necessi<strong>da</strong>des<br />

específicas nas salas de recursos ou no ensino itinerante, o apoio<br />

e a suplementação pe<strong>da</strong>gógica para integração gra<strong>da</strong>tiva do<br />

aluno ao ensino comum.<br />

A integração como filosofia não implica negação <strong>da</strong><br />

deficiência, mas aceitação <strong>da</strong>s diferenças e oferecimento de<br />

oportuni<strong>da</strong>de para o desenvolvimento <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des. A<br />

inserção social e participativa do deficiente visual na escola e<br />

na comuni<strong>da</strong>de foram, desde o início, aceitas e deseja<strong>da</strong>s pelos<br />

alunos com deficiência visual, pelos professores de apoio e<br />

principalmente pelos familiares.<br />

Entretanto, na prática, o enfoque <strong>da</strong> integração do aluno<br />

deficiente visual teve-se limitado muitas vezes aos componentes<br />

físicos e temporais, com o significado de incluir o aluno na classe,<br />

simplesmente, objetivando a integração e a participação social.<br />

A Política Nacional de Educação Especial (MEC, 1994)<br />

conceitua a integração educativa escolar como:<br />

Processo gradual e dinâmico que pode tomar<br />

distintas formas de acordo com as necessi<strong>da</strong>des e<br />

habili<strong>da</strong>des do educando. Processo de educarensinar,<br />

no mesmo grupo, as crianças com<br />

necessi<strong>da</strong>des educativas especiais, durante uma<br />

parte ou a totali<strong>da</strong>de do tempo de permanência na<br />

escola. (p.18).<br />

Dessa mesma forma, a real integração abrange a<br />

dimensão social, física, funcional e comunitária, pela utilização<br />

cooperativa e compartilha<strong>da</strong> dos recursos educacionais e<br />

comunitários disponíveis para o desenvolvimento pessoal e<br />

social do aluno.<br />

O conceito de escola inclusiva foi introduzido na<br />

Declaração de Salamanca – Espanha (1994), sob o patrocínio <strong>da</strong><br />

Unesco e do Governo <strong>da</strong> Espanha que adotam como linha de ação:<br />

“O termo necessi<strong>da</strong>des educacionais especiais referese<br />

a to<strong>da</strong>s aquelas crianças ou jovens, cujas necessi<strong>da</strong>des se<br />

144


originam em função de deficiências ou dificul<strong>da</strong>des de<br />

aprendizagem. As escolas têm de encontrar maneiras de educar<br />

com êxito to<strong>da</strong>s as crianças, até mesmo as que têm deficiências<br />

graves” (p. 17). O grifo é nosso para mostrar que o foco de<br />

atenção deixa de ser a deficiência e passa a ser o aluno e o<br />

processo ensino-aprendizagem, que deve ser a<strong>da</strong>ptado às<br />

necessi<strong>da</strong>des específicas do aluno no contexto escolar, familiar<br />

e comunitário.<br />

O modelo de inclusão está centrado na metáfora do<br />

caleidoscópio, que sugere uma visão integral do ser, tornandose<br />

fun<strong>da</strong>mental um interrelacionamento positivo e dinâmico, de<br />

troca e de parceria, em busca <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e melhoria<br />

do ensino.<br />

Nesse processo, as diferentes partes que o compõem:<br />

escola – aluno – professor do ensino regular – professor de apoio<br />

– consultor – pais – comuni<strong>da</strong>de, priorizam o aluno e a<br />

construção do conhecimento. Aprendem a trabalhar juntos,<br />

compartilham conceitos, informações, experiências,<br />

reconstruindo valores e significados, buscando novos caminhos<br />

para a prática pe<strong>da</strong>gógica e social.<br />

O conceito de inclusão admite a dimensão individual<br />

<strong>da</strong>s relações intra e interpessoais de a<strong>da</strong>ptação ao meio; do<br />

atendimento às necessi<strong>da</strong>des específicas do aluno para o<br />

processo de desenvolvimento, aprendizagem; <strong>da</strong> autonomia e<br />

independência, que são os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia na<br />

concepção sócio-construtivista.<br />

A inclusão total não adota programas e currículos<br />

especiais, mas propõe a eliminação dos obstáculos que<br />

impedem que o aluno progri<strong>da</strong> e avance no processo ensinoaprendizagem.<br />

Conclui-se, sob essa proposta, que o<br />

redimensionamento <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica, contemplando o<br />

processo de desenvolvimento, aprendizagem, avaliação<br />

145


funcional e qualitativa, os conteúdos significativos para<br />

aprendizagem conceitual são essenciais. Entretanto, não se<br />

pode negligenciar os recursos específicos, o uso <strong>da</strong> tecnologia,<br />

que são também instrumentos indispensáveis para acesso,<br />

permanência e sucesso do processo de integração escolar.<br />

146<br />

EDUCAÇÃO INFANTIL E DEFICIÊNCIA VISUAL<br />

Dimensão Sociopolítica<br />

Inicialmente na déca<strong>da</strong> 70 e 80, a educação infantil, em<br />

sua ain<strong>da</strong> curta trajetória no País, cumpriu o papel<br />

assistencialista, de caráter compensatório, para suprir as<br />

necessi<strong>da</strong>des socioeconômicas e culturais <strong>da</strong>s crianças<br />

oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> classe trabalhadora.<br />

Ela surge dessa forma, desvincula<strong>da</strong> de intenção<br />

educativa mais abrangente, volta<strong>da</strong> para os direitos<br />

fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> criança, os compromissos com o processo de<br />

desenvolvimento, a aprendizagem e o atendimento aos<br />

interesses e necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> família e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

A integração de crianças com deficiência na educação<br />

infantil tem constituído, na reali<strong>da</strong>de, iniciativas isola<strong>da</strong>s,<br />

geralmente em escolas particulares, nos grandes centros onde<br />

a mulher integra a força de trabalho. Necessita-se, portanto, de<br />

espaço confiável em que a criança possa receber cui<strong>da</strong>dos e<br />

ter a oportuni<strong>da</strong>de de convivência social, ain<strong>da</strong> restrita na<br />

comuni<strong>da</strong>de.<br />

Embora a Política Nacional de Educação Especial do<br />

MEC (1994) venha recomen<strong>da</strong>ndo a implantação de programas<br />

de educação precoce e pré-escolar no sistema de ensino<br />

público, essas iniciativas têm sido raras, ocorrendo em maior<br />

escala nas Instituições Especializa<strong>da</strong>s.<br />

Em termos de política pública, integrando educação<br />

infantil e especial, a nova LDB (Lei Darcy Ribeiro – 9.394/<br />

12.9.96) representa um grande avanço:


Art° 58 – Educação Especial ofereci<strong>da</strong> preferencialmente na<br />

rede regular de ensino.<br />

§ 1° – Haverá, quando necessário, serviços de apoio<br />

especializado, na escola regular, para atender às peculiari<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> clientela de Educação Especial.<br />

§ 2° – O atendimento educacional será feito em classes,<br />

escolas ou serviços especializados, sempre que, em função<br />

<strong>da</strong>s condições específicas dos alunos, não for possível sua<br />

integração nas classes comuns de ensino regular.<br />

§ 3º – A oferta de Educação Especial, dever constitucional do<br />

estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante<br />

a Educação Infantil.<br />

Embora alguns críticos considerem o conceito de<br />

educação especial como mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de educação escolar, um<br />

subsistema paralelo não favorável à integração no ensino, devese<br />

ponderar que se encontra aqui uma nova visão de educação<br />

especial, não um serviço à parte, mas uma produção e<br />

construção de conhecimentos a serviço do aluno e <strong>da</strong> escola.<br />

A educação especial, neste novo enfoque, tem o papel<br />

fun<strong>da</strong>mental de <strong>da</strong>r apoio, suporte e orientação para a construção<br />

do projeto político pe<strong>da</strong>gógico e <strong>da</strong> proposta pe<strong>da</strong>gógica<br />

curricular de ca<strong>da</strong> escola. A comuni<strong>da</strong>de aqui é representa<strong>da</strong><br />

pelos Conselhos Estaduais e Municipais de atenção à pessoa<br />

com necessi<strong>da</strong>des educativas especiais, que têm o<br />

compromisso de garantir a melhoria dos serviços de saúde –<br />

educação – assistência social às pessoas com deficiência.<br />

Nesse conceito, ca<strong>da</strong> escola terá autonomia para<br />

delinear sua intenção educativa, definir ações e estratégias que<br />

assegurem o desenvolvimento global do educando, a quali<strong>da</strong>de<br />

do ensino, a criativi<strong>da</strong>de do aluno e do professor no fazer<br />

pe<strong>da</strong>gógico.<br />

O princípio filosófico que permeia a nova deliberação é<br />

de base humanística, fun<strong>da</strong>mentado na sócio-interação,<br />

a<strong>da</strong>ptado à transformação e busca de novas alternativas para<br />

construção e reconstrução do conhecimento.<br />

Nesta vira<strong>da</strong> de século, sob o enfoque tecnológico e<br />

humanístico de universalização <strong>da</strong> educação, inclusão total<br />

147


significa acesso ao ensino de boa quali<strong>da</strong>de, uso <strong>da</strong> alta<br />

tecnologia em educação e desenvolvimento <strong>da</strong> autonomia.<br />

Busca-se também o bem-estar, a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e o prazer<br />

como forma intrínseca de motivação cognitiva e satisfação<br />

pessoal.<br />

Para atingir esses objetivos a escola atual deve<br />

redimensionar sua prática pe<strong>da</strong>gógica, ir em busca de parceria<br />

com universi<strong>da</strong>des, instituições e pessoas que detenham<br />

conhecimento e informação que permitam permanente reflexão,<br />

discussão de problemas, alternativas de soluções, para que se<br />

garantam a aprendizagem e o ensino de quali<strong>da</strong>de.<br />

Esse processo de participação coletiva envolve a<br />

educação especial, a comuni<strong>da</strong>de, os pais e a escola de<br />

educação infantil. A escola deverá preparar-se e capacitar os<br />

professores para li<strong>da</strong>rem com as diferenças, com a forma de<br />

construção do conhecimento, em níveis diversificados de<br />

desenvolvimento, com as necessi<strong>da</strong>des específicas, métodos,<br />

técnicas e recursos que facilitam o processo ensinoaprendizagem.<br />

O movimento para a inclusão de crianças com<br />

deficiência em creches e na pré-escola é hoje mundialmente<br />

um fenômeno indiscutível. Entretanto, a orientação básica para<br />

a<strong>da</strong>ptação curricular deve ser assegura<strong>da</strong> pela educação<br />

especial, assim como o suporte e apoio pe<strong>da</strong>gógico para o<br />

processo de avaliação, de desenvolvimento e de aprendizagem<br />

<strong>da</strong>s crianças com deficiência visual. Somente a participação, a<br />

discussão coletiva e o trabalho conjunto garantem a implantação<br />

de nova proposta pe<strong>da</strong>gógica, capaz de transformar a reali<strong>da</strong>de<br />

e o contexto escolar.<br />

148<br />

PROPOSTA PEDAGÓGICA E CURRÍCULO NA<br />

EDUCAÇÃO INFANTIL<br />

As diretrizes de Educação Infantil do MEC retratam o<br />

momento de transição na educação brasileira, apresentando<br />

diferenças conceituais entre currículo e proposta pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Apresenta a concepção de diferentes pesquisadores de educação


infantil, que têm concebido currículo como “explicitação de intenções<br />

que dirigem a organização <strong>da</strong> escola, visando colocar em prática<br />

experiências de aprendizagem considera<strong>da</strong>s relevantes para<br />

crianças e seus pais.<br />

Essas experiências de aprendizagem, segundo o<br />

objetivo que se espera atingir, enfatizam aspectos filosóficos,<br />

relacionados ao desenvolvimento infantil, no qual devem<br />

predominar ou integrar facetas cognitivas, afetivas, sociais,<br />

físicas, privilegiando o atendimento infantil e as necessi<strong>da</strong>des<br />

dos pais. A opção por fortalecer a linguagem e os conteúdos<br />

acadêmicos visa atender aos aspectos criativos e expressivos.<br />

O currículo deve incluir conceitos, princípios,<br />

procedimentos, atitudes, meios e formas de avaliação, pois é a<br />

explicitação <strong>da</strong>s intenções que permitirá a orientação <strong>da</strong> prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica. Considera ain<strong>da</strong> os alunos, individuali<strong>da</strong>des distintas<br />

que interpretam e vivenciam situações de formas varia<strong>da</strong>s,<br />

entendendo nesse sentido que ca<strong>da</strong> aluno deve ter um currículo.<br />

Estudiosos <strong>da</strong> concepção sócio-interacionista<br />

concebem currículo como o roteiro de uma viagem coordena<strong>da</strong><br />

por um parceiro mais eficiente – o professor. As ativi<strong>da</strong>des são<br />

programa<strong>da</strong>s, estruturando um cotidiano dinâmico,<br />

agra<strong>da</strong>velmente disciplinado pela adequa<strong>da</strong> participação de<br />

todos, sobretudo com autonomia e cooperação. Embora<br />

também inclua as necessárias tarefas de cui<strong>da</strong>do como meren<strong>da</strong><br />

e higiene, as ativi<strong>da</strong>des têm seu foco central no trabalho<br />

propriamente pe<strong>da</strong>gógico realizado com as crianças.<br />

Enfatiza que o planejamento curricular deve explicitar<br />

além <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentação teórica, as distintas formas de encarar<br />

o homem e a socie<strong>da</strong>de, bem como propor alternativas de<br />

estruturação do ambiente de aprendizagem e desenvolvimento,<br />

incluindo a organização do espaço físico-social, uma vez que<br />

este dá suporte para a realização de explorações e brincadeiras,<br />

garantindo segurança e confiança às crianças e oportuni<strong>da</strong>des<br />

de construção de competências.<br />

149


Embora não haja consenso se currículo e proposta<br />

pe<strong>da</strong>gógica são utilizados com o mesmo significado, Cesar Coll<br />

defende a idéia de currículo aberto: “O currículo aberto, concede<br />

grande importância às diferenças individuais, no contexto social,<br />

cultural e geográfico em que se aplica o programa pe<strong>da</strong>gógico.<br />

Propõe a interação permanente entre o sistema e seu entorno,<br />

integrando as influências externas no próprio desenvolvimento<br />

do programa educativo, que está aberto a um contínuo processo<br />

de revisão e reorganização” (Coll, 1991, p. 451).<br />

A construção do currículo deve levar em conta a<br />

heterogenei<strong>da</strong>de dos alunos e do ambiente, privilegiando os<br />

fatores sociais e culturais, relevantes para o processo<br />

educativo. Esses fatores implicam a conquista <strong>da</strong> autonomia,<br />

<strong>da</strong> cooperação, do autoconceito e <strong>da</strong> inserção crítica <strong>da</strong><br />

criança na socie<strong>da</strong>de.<br />

Torna-se importante discutir e pontuar esses conceitos<br />

porque pela nova Lei de Diretrizes e Bases, as propostas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas e o currículo são de responsabili<strong>da</strong>de do entorno<br />

escolar. Se houver aluno integrado, direção, professores,<br />

especialistas em educação especial, pais e comuni<strong>da</strong>de em<br />

geral, todos são chamados a participar.<br />

A concepção de currículo aberto, com a responsabili<strong>da</strong>de<br />

de todos, abre sem dúvi<strong>da</strong> perspectivas para uma educação de<br />

melhor quali<strong>da</strong>de para as crianças com deficiência visual em<br />

nosso país.<br />

150<br />

ADAPTAÇÃO CURRICULAR<br />

ÀS NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS<br />

A proposta pe<strong>da</strong>gógica para criança com deficiência<br />

visual promoverá os mesmos objetivos gerais <strong>da</strong> educação préescolar:<br />

desenvolvimento físico, psicológico, intelectual e social,<br />

complementando a ação <strong>da</strong> família e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

O conteúdo curricular será idêntico ao dos demais<br />

alunos, requerendo, no entanto, algumas a<strong>da</strong>ptações -<br />

complementações ou ajustes - necessários ao desenvolvimento<br />

<strong>da</strong>s crianças com cegueira ou com baixa visão que precisam


de aprendizagem contextualiza<strong>da</strong> e significativa.<br />

Essas a<strong>da</strong>ptações curriculares partirão <strong>da</strong> proposta<br />

pe<strong>da</strong>gógica de ca<strong>da</strong> escola, do trabalho pe<strong>da</strong>gógico<br />

desenvolvido no cotidiano, <strong>da</strong>s diretrizes metodológicas, dos<br />

recursos e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des contempla<strong>da</strong>s.<br />

Há escolas que adotam como eixo organizador do<br />

trabalho pe<strong>da</strong>gógico as áreas do desenvolvimento, os jogos e<br />

as brincadeiras. Outras partem <strong>da</strong> seleção de temas trazidos<br />

pelos alunos, organizando ativi<strong>da</strong>des e seleção de materiais a<br />

partir dos <strong>da</strong>dos elaborados na intervenção. Incentivam a<br />

participação de ativi<strong>da</strong>des culturais como teatro, cinema, vídeo,<br />

brinquedoteca, museus e bibliotecas.<br />

No entanto, há escolas que não dispõem de estrutura<br />

física, recursos e materiais disponíveis para uma aprendizagem<br />

significativa e conceitual.<br />

Em ambos os casos, a proposta pe<strong>da</strong>gógica e as<br />

a<strong>da</strong>ptações curriculares serão elabora<strong>da</strong>s com to<strong>da</strong>s as<br />

pessoas envolvi<strong>da</strong>s no processo de desenvolvimento,<br />

aprendizagem e inclusão escolar do aluno.<br />

O atendimento às necessi<strong>da</strong>des educacionais<br />

especiais do aluno é de responsabili<strong>da</strong>de de todos: direção,<br />

coordenação, professor de educação infantil, especialista em<br />

educação especial ou professor de apoio e, principalmente,<br />

<strong>da</strong> família, como parceira eficiente para explicitar essas<br />

necessi<strong>da</strong>des.<br />

A a<strong>da</strong>ptação curricular para a educação infantil requer<br />

muitas vezes, um conjunto de experiências de avaliação de<br />

desenvolvimento integral, aprendizagem, metodologia e recursos<br />

materiais não disponíveis ain<strong>da</strong> no sistema escolar.<br />

Daí a função <strong>da</strong> instituição escolar de buscar a<br />

articulação nas diferentes esferas do ensino público e a parceria<br />

com serviços e instituições não governamentais <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

que possam <strong>da</strong>r suporte, apoio e orientação para a<strong>da</strong>ptação e<br />

complementação curricular.<br />

A articulação ou integração entre escola – família –<br />

comuni<strong>da</strong>de garantirá a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong><br />

educação <strong>da</strong>s crianças com deficiência visual.<br />

151


DIAGNÓSTICO E IDENTIFICAÇÃO DAS NECESSIDADES<br />

EDUCATIVAS ESPECIAIS<br />

O processo de inclusão de crianças com deficiência<br />

visual na etapa pré-escolar tem ocorrido de forma gradual em<br />

escolas públicas, onde a responsabili<strong>da</strong>de de avaliação,<br />

atendimento complementar e orientação tem sido exclusiva do<br />

professor especializado <strong>da</strong>s salas de recursos ou do ensino<br />

itinerante.<br />

As experiências integradoras em escolas particulares<br />

de educação infantil têm sido hoje mais expressivas, embora a<br />

responsabili<strong>da</strong>de pela orientação e desenvolvimento <strong>da</strong> criança<br />

seja atribuí<strong>da</strong> ao programa de educação pré-escolar que ela<br />

freqüenta em instituições especializa<strong>da</strong>s.<br />

Observa-se que, predominantemente, o objetivo <strong>da</strong><br />

educação infantil tem sido oferecer cui<strong>da</strong>do e oportuni<strong>da</strong>de de<br />

integração social a essas crianças.<br />

Como o currículo escolar será o referencial básico, com<br />

a identificação e a avaliação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des educacionais<br />

especiais, essa tarefa deverá ser então compartilha<strong>da</strong>, e<br />

múltiplos saberes serão somados.<br />

Os conhecimentos acerca do desenvolvimento, do ritmo<br />

de aprendizagem, <strong>da</strong> experiência metodológica e prática do<br />

professor especializado, <strong>da</strong> tecnologia dos centros de apoio<br />

pe<strong>da</strong>gógico, <strong>da</strong>s instituições especializa<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des<br />

serão referenciais indispensáveis e elementos enriquecedores<br />

do processo de avaliação e de identificação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des<br />

educativas especiais.<br />

O diagnóstico pe<strong>da</strong>gógico e a avaliação <strong>da</strong>s<br />

necessi<strong>da</strong>des educacionais especiais devem ter caráter global<br />

e funcional, permitindo:<br />

• identificar o nível, o grau e o tipo de especifici<strong>da</strong>de<br />

necessária à a<strong>da</strong>ptação curricular;<br />

• caracterizar as especifici<strong>da</strong>des de<br />

desenvolvimento e de aprendizagem <strong>da</strong> criança<br />

cega ou baixa visão;<br />

152


• identificar e valorizar a construção do sistema de<br />

significação e os conhecimentos adquiridos pela<br />

criança;<br />

• reconhecer e respeitar a forma diferencia<strong>da</strong> e o<br />

caminho próprio que ca<strong>da</strong> criança utiliza para<br />

perceber, compreender o mundo e adquirir<br />

conhecimento;<br />

• evitar avaliações comparativas e analógicas do<br />

desenvolvimento e produção <strong>da</strong> criança cega com<br />

a criança que enxerga;<br />

• considerar que a criança com deficiência visual<br />

necessita de mais tempo para construir esquemas<br />

simbólicos, pré-operatórios e conceituais do que<br />

as outras crianças;<br />

• utilizar como referencial para avaliação situações<br />

de brinquedos, jogos e ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vivência e<br />

<strong>da</strong> experiência prática <strong>da</strong> criança.<br />

NECESSIDADES ESPECÍFICAS DE DESENVOLVIMENTO<br />

E APRENDIZAGEM NA PRÉ-ESCOLA<br />

Interação e comunicação<br />

A criança com deficiência visual deve ser compreendi<strong>da</strong><br />

como um ser integral, que dispõe de outros meios que não o<br />

visual para interagir e comunicar-se com o meio.<br />

Possui uma maneira de ser, de perceber e de relacionarse<br />

única e própria de sua individuali<strong>da</strong>de que a diferencia <strong>da</strong>s<br />

demais crianças.<br />

Necessita <strong>da</strong> organização e <strong>da</strong> integração dos demais<br />

sentidos, de movimentação espontânea e de participação ativa<br />

para relacionar-se com pessoas, objetos e eventos.<br />

Para uma relação positiva dialógica, intra e interpessoal,<br />

é importante que a escola levante com a família e o professor,<br />

os significados que a criança já possui, o que conhece, do que<br />

153


gosta, como manifesta seus desejos e interesses, como se<br />

expressa e se comunica.<br />

Observar que tipo de brincadeiras verbais, corporais e<br />

que cantigas e demais músicas lhe despertam prazer e interesse.<br />

Quais os objetos e brinquedos significativos, cujo uso funcional<br />

já conhece e domina, para poder brincar.<br />

A partir do repertório de experiência <strong>da</strong> criança, o professor<br />

vai propor formas alternativas de relacionamento e comunicação<br />

que estabelecem vínculo de confiança, pela possibili<strong>da</strong>de de a<br />

criança compreender e ter domínio sobre o meio para poder agir.<br />

As dificul<strong>da</strong>des de interação que uma criança com<br />

deficiência visual pode apresentar na escola estão relaciona<strong>da</strong>s<br />

mais a atitudes super protetoras <strong>da</strong>s pessoas que se relacionam<br />

com ela do que pela problemática em si. Geralmente, as<br />

pessoas assumem papel paternalista e tendem a pensar,<br />

resolver problemas e expressar-se por ela.<br />

Freqüentemente, o pré-escolar não necessita de um<br />

currículo individualizado na área de comunicação e linguagem,<br />

a não ser que não tenha construído seu sistema de significação<br />

e de linguagem.<br />

A construção do sistema de significação e de linguagem<br />

se estabelece pela possibili<strong>da</strong>de de a criança com deficiência visual<br />

vivenciar, explorar e conhecer o mundo, integrando experiências<br />

corporais com informações verbais, em diferentes situações sociais.<br />

O núcleo familiar social mais próximo e a escola<br />

desempenham importante papel nessa tarefa.<br />

O professor deve estar atento pois muitas crianças<br />

chegam à escola com fala exclusivamente reprodutora, destituí<strong>da</strong><br />

de significado. São crianças que estiveram expostas apenas à<br />

informação verbal, sem experiência corporal ou ação funcional<br />

para a construção do sistema de significação.<br />

Como desenvolvem uma boa memória auditiva,<br />

manipulam e impressionam verbalmente. A tarefa <strong>da</strong> pré-escola<br />

nesse caso é aju<strong>da</strong>r a criança a construir significados e conceitos<br />

154


eais pela vivência prática e representação dessa reali<strong>da</strong>de<br />

elabora<strong>da</strong> pela própria criança.<br />

Desenvolvimento Psicoafetivo<br />

A quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s primeiras interações, a relação<br />

dialógica – física e verbal – são fatores fun<strong>da</strong>mentais para a<br />

estabili<strong>da</strong>de emocional, a motivação e a intencionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

criança com deficiência visual.<br />

A forma como as pessoas significativas se relacionam<br />

e se comunicam com ela, como brincam, carregam e alimentam,<br />

revelam na reali<strong>da</strong>de os sentimentos e emoções que vivem<br />

diante <strong>da</strong> deficiência visual.<br />

Em virtude dessas questões, do próprio histórico <strong>da</strong><br />

per<strong>da</strong> visual, <strong>da</strong>s alterações orgânicas na concepção ou<br />

imaturi<strong>da</strong>de neurológica que também podem ser freqüentes<br />

nessas crianças, é que há uma grande heterogenei<strong>da</strong>de do<br />

desenvolvimento psicoafetivo e cognitivo na população cega ou<br />

com baixa visão.<br />

Há crianças que são fragiliza<strong>da</strong>s emocionalmente pela<br />

história traumática de longa permanência em UTI neonatal, outras<br />

o são por inúmeras cirurgias oculares, na tentativa de preservar<br />

a visão.<br />

Esses fatores ambientais, nos primeiros anos de vi<strong>da</strong>,<br />

também são responsáveis por comportamento de medo, tensão,<br />

reação negativa nas relações sociais e diante de situações<br />

novas.<br />

Por isso, muitas vezes, a criança pode apresentar uma<br />

relação simbiótica com a figura materna, necessitando de mais<br />

tempo do que as outras crianças para a<strong>da</strong>ptação a situações<br />

novas e à separação materna.<br />

A escola deve compreender que as crianças com boa<br />

estrutura cognitiva também prolongam esses comportamentos.<br />

Necessitam, portanto, de pessoas boas, capazes de<br />

155


compreender e interpretar seus sentimentos e emoções. Nesses<br />

casos, uma orientação do psicólogo para a família e a escola é<br />

fun<strong>da</strong>mental.<br />

A disponibili<strong>da</strong>de interna do professor para li<strong>da</strong>r com a<br />

deficiência visual, sua mediação segura, <strong>da</strong>ndo modelo de<br />

interação, incentivando a participação ativa <strong>da</strong> criança nas<br />

ativi<strong>da</strong>des escolares, possibilitando-lhe fazer coisas, brincar com<br />

outras crianças, aju<strong>da</strong>rá muito o desenvolvimento de autoimagem<br />

positiva e de competência social.<br />

Ação Sensório-Motora e Aplicação Significativa<br />

No período sensório-motor a criança com deficiência<br />

visual precisa utilizar todos os sentidos de forma integra<strong>da</strong> para<br />

poder experimentar o mundo, vivenciar com seu próprio corpo o<br />

espaço e os objetos, para poder compreender a reali<strong>da</strong>de<br />

externa e construir os esquemas de ação.<br />

A proposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> pré-escola deve contemplar<br />

experiências sensório-motoras integra<strong>da</strong>s e articula<strong>da</strong>s<br />

globalmente, para o desenvolvimento de imagem corporal tátilcinestésica,<br />

a reação de equilíbrio e o desenvolvimento<br />

perceptivo mais refinado, como o uso <strong>da</strong> mão para construção<br />

<strong>da</strong> inteligência prática.<br />

Torna-se importante observar como o desenvolvimento<br />

ocorre na ausência <strong>da</strong> visão, para uma intervenção pe<strong>da</strong>gógica<br />

adequa<strong>da</strong>. O desenvolvimento sensório-motor começa a<br />

diferenciar-se, na criança vidente, entre o 3° e o 4° mês, quando<br />

a visão exerce grande influência na movimentação ativa do bebê:<br />

coordenação olho-mão e coordenação olho-objeto.<br />

A coordenação entre os movimentos dos dedos <strong>da</strong>s<br />

mãos e dos punhos é estimula<strong>da</strong> e guia<strong>da</strong> pela visão <strong>da</strong> mão,<br />

quando ela passa a entrar no campo visual do bebê, servindo<br />

de estímulo para a repetição <strong>da</strong> ação e dos movimentos.<br />

Se o bebê não foi adequa<strong>da</strong>mente estimulado por<br />

sensações táteis agradáveis (toque, calor, movimento de<br />

156


aproximação e fuga, texturas, rotação de punho e mãos), poderá<br />

chegar à pré-escola com mãos rígi<strong>da</strong>s, com pouca flexão, sem<br />

movimentos de buscas intencionais e ativas.<br />

Os movimentos de aproximação e distanciamento e o<br />

deslocamento <strong>da</strong> mão no espaço guiados pela visão, serão<br />

acionadores importantes de movimentação e coordenação<br />

sensório-motora integra<strong>da</strong>s como movimento de rotação e<br />

extensão, flexão e elevação dos membros superiores.<br />

Para a criança com deficiência visual, não apenas a<br />

mão deve entrar em ação, mas o corpo todo. O deslocamento<br />

<strong>da</strong> mão no campo tátil deve ser seguido pelo movimento <strong>da</strong><br />

cabeça e do tronco. São movimentos indissociáveis que devem<br />

ser motivados pelo toque de objetos de texturas agradáveis, que<br />

despertem o interesse tátil e auditivo <strong>da</strong> criança, que deles se<br />

aproxima e se afasta em diferentes posições no espaço, a partir<br />

do eixo corporal <strong>da</strong> criança, para que possa buscá-lo em<br />

diferentes posições.<br />

Essas ações sensório-motoras coordena<strong>da</strong>s fornecerão<br />

a imagem proprioceptivas <strong>da</strong>s mãos, pescoço, ombro e tronco,<br />

associa<strong>da</strong>s às reações labirínticas de equilíbrio do movimento<br />

do corpo. Principalmente o movimento de cabeça e a imagem<br />

tátil do objeto tocado é que <strong>da</strong>rão condições para a criança<br />

desenvolver os diferentes padrões de postura e manipulação.<br />

Muitas crianças chegam à pré-escola com vivências<br />

sensório motoras muito restritas, sem o uso do corpo para ação<br />

intencional, sem deslocamentos independentes, com ausência<br />

de busca do objeto e de seu uso funcional.<br />

A proposta pe<strong>da</strong>gógica deve contemplar a vivência e o<br />

conhecimento do espaço interno e externo, tocar, explorar<br />

paredes, corredores, portas, janelas, móveis, brinquedos, parque<br />

para poder formar o mapa mental do ambiente, que permitirá<br />

um deslocamento seguro.<br />

O professor deve mediar a construção do real,<br />

incentivando e encorajando a criança a fazer novas descobertas<br />

com seu próprio corpo: subir, entrar em espaços apertados,<br />

157


transpor obstáculos, agachar, rastejar. Usar os membros<br />

superiores para fortalecê-los, dependurar-se, balançar-se,<br />

empurrar, puxar, para desenvolver a força muscular.<br />

As ativi<strong>da</strong>des de equilíbrio em balanço, escorregador,<br />

gangorra e barca podem no início acarretar insegurança à<br />

criança com pouca experiência corporal. O professor pode<br />

ajudá-la com apoio físico ou modificando a postura de como<br />

escorregar deita<strong>da</strong> (de bruços, cabeça e braços apontados para<br />

a frente, parte alta do escorregador). São essenciais os cui<strong>da</strong>dos<br />

básicos para que os brinquedos no parque não tenham materiais<br />

cortantes (latas, pregos, lascas de madeira). Os cortes em dedos<br />

devem ser evitados para não prejudicar a discriminação tátil.<br />

Os movimentos de cabeça, dos braços e <strong>da</strong>s mãos são<br />

gestos imitados precocemente quando a criança começa a<br />

identificar os quadros sensoriais e coordenar as ações sensóriomotoras.<br />

Para a criança com deficiência visual poder imitar<br />

esses movimentos, ela necessita percebê-los globalmente e<br />

parcialmente, vivenciando-os, para poder também representálos.<br />

O professor necessita intermediar essa relação interpessoal.<br />

A criança precisa tocar os colegas e ao professor cabe ajudá-la<br />

a observar tátilmente as posturas e os movimentos para poder<br />

imitá-los.<br />

Algumas crianças com deficiência visual tendem a<br />

prolongar até a etapa pré-escolar a exploração ativa dos objetivos<br />

com os outros sentidos: bater, agitar, raspar, jogar ao chão para<br />

ouvir barulho, cheirar e levar a boca para ter confirmação tátil.<br />

Essas explorações multissensoriais ocorrem também com<br />

crianças que têm bom potencial cognitivo.<br />

Essas ações nem sempre constituem condutas<br />

estereotipa<strong>da</strong>s. Se forem constantes, sem modificação ou<br />

criação de novos meios de ação, pode ser indício de que a<br />

criança não elaborou o significado dos objetos e não<br />

compreendeu o uso e função deles. O professor poderá<br />

discretamente, com a aju<strong>da</strong> tátil-cinestésica realizar movimentos<br />

coativos, isto é, fazer junto, mostrando a ação.<br />

158


Há crianças que, quando vêm para a escola, mostram<br />

pouco a ação funcional <strong>da</strong> mão, não desenvolveram ain<strong>da</strong> o<br />

mecanismo de preensão, tocam de leve ou rapi<strong>da</strong>mente os<br />

objetos e rejeitam materiais de texturas marcantes ou diferentes,<br />

o que dificulta uma exploração tátil ativa para formar a imagem<br />

mental do objeto.<br />

O professor deve compreender que a criança pode<br />

necessitar de apoio para tocar objetos novos. As sensações<br />

táteis vão sendo assimila<strong>da</strong>s à proporção que a mão desliza,<br />

apalpa e manipula o objeto. O professor deve segurar<br />

delica<strong>da</strong>mente a mão <strong>da</strong> criança em forma de concha, colocando<br />

o objeto entre as mãos dela, aju<strong>da</strong>ndo-a a mantê-lo, movendo<br />

devagar para poder apreender o objeto como um todo.<br />

Com a mão dominante, aju<strong>da</strong>r a criança a realizar o<br />

rastreamento tátil com a ponta dos dedos, realizando<br />

movimentos apalpatórios amplos e leves, detendo-se para<br />

perceber os detalhes que compõem o objeto. Dessa forma a<br />

criança poderá construir a imagem mental do objeto e<br />

compreender o que pode fazer com ele.<br />

Para o desenvolvimento tátil-perceptivo atingir etapa de<br />

reconhecimento e promover discriminações de detalhes, além<br />

<strong>da</strong> experiência sensório-motora integra<strong>da</strong>, a linguagem também<br />

deve exercer importante papel na construção dos significados,<br />

possibilitando associar semelhanças e diferenças de texturas,<br />

formas, consistência, tamanho e volume dos objetos.<br />

Quando a criança já possui o uso funcional <strong>da</strong> mão, já<br />

construiu a inteligência prática, discrimina e reconhece os<br />

objetos, o professor deve favorecer os mecanismos de<br />

combinação e associação mental, a descoberta e criação de<br />

novos meios, <strong>da</strong>ndo função diferencia<strong>da</strong> aos objetos,<br />

estimulando também a representação simbólica deles.<br />

É comum pais, professores e colegas quererem<br />

solucionar problemas para a criança com deficiência visual,<br />

antecipando e explicando como as coisas funcionam. Sem <strong>da</strong>r<br />

tempo para ela investigar, solucionar e criar novos mecanismos<br />

159


de ação. O professor deve estar atento para instigar a<br />

curiosi<strong>da</strong>de, problematizar, aju<strong>da</strong>r a criança a continuar<br />

investigando, fornecendo apenas algumas dicas e pistas que<br />

sejam necessárias.<br />

Dessa maneira o professor aju<strong>da</strong>rá a criança a formar<br />

seus próprios conceitos, não a partir <strong>da</strong> ótica de vidente, mas a<br />

partir de seus próprios significados, ampliando as possibili<strong>da</strong>des<br />

de associação e generalização para pensamentos mais<br />

complexos, necessários à aquisição de conhecimento e síntese<br />

<strong>da</strong>s experiências que é o papel fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> visão.<br />

Função Simbólica e Conceitual<br />

Na educação de crianças com deficiência visual fica<br />

evidente a importância <strong>da</strong> utilização de estratégias<br />

metodológicas que assegurem a integração e a articulação do<br />

sistema multissensorial e que favoreça a construção do sistema<br />

de significação e <strong>da</strong> linguagem pela ação <strong>da</strong> criança no tempo<br />

e no espaço.<br />

Da noção de permanência do objeto, formação de<br />

imagem mental do eu e do outro e <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de evocar e<br />

representar as ações vivi<strong>da</strong>s numa organização espaçotemporal-causal<br />

é que surge a função simbólica.<br />

A formação <strong>da</strong> imagem mental é a base <strong>da</strong> função<br />

simbólica. Talvez por esses fatores é que estudos apontam<br />

atraso significativo de crianças cegas em relação às videntes,<br />

na construção dos esquemas sensório-motores e em relação à<br />

função simbólica. Esse atraso geralmente é compensado a partir<br />

dos seis ou sete anos, quando a linguagem exerce a função de<br />

comprovar e reformular hipóteses perceptivas e de elaborar pelo<br />

poder de argumentação novos caminhos de ação e pensamento.<br />

Deve-se considerar ain<strong>da</strong> que o jogo simbólico ocorre<br />

quando a criança pode imaginar-se e imaginar o outro em ação.<br />

Enfatizamos aqui a importância de uma ação pe<strong>da</strong>gógica<br />

precoce consistente, que priorize as brincadeiras corporais, o<br />

160


toque, a imitação, os gestos, a ação funcional e a vivência <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong>des diárias que são os conteúdos básicos <strong>da</strong><br />

representação simbólica.<br />

O professor que trabalha com crianças deficientes<br />

visuais na etapa pré-escolar deve compreender que a construção<br />

do sistema sensório-perceptivo e o conteúdo de representação<br />

simbólica se dá de forma diferente, e, se organiza por um<br />

caminho também diferente. Daí a importância de mediar essa<br />

organização, possibilitando a articulação com a experiência e a<br />

vivência de outros colegas, fazendo com que a criança com<br />

deficiência participe do jogo compartilhado com outras crianças.<br />

Muitas crianças apresentam a imitação sensório-motora<br />

e a representação de cenas domésticas, por volta dos quatro<br />

anos. Podem encontrar maior dificul<strong>da</strong>de para simular outras<br />

crianças, aplicar diferentes esquemas de ação e recriar o jogo.<br />

Isto porque só vai representar aquilo que viveu, experimentou,<br />

imaginou e fantasiou. Outras, entretanto, por volta dos cinco anos<br />

já têm um repertório verbal bastante rico, com tendência de<br />

liderar e planejar verbalmente o jogo, sem contudo vivenciar e<br />

compartilhar com os outros colegas a ação.<br />

A restrição <strong>da</strong> linguagem, <strong>da</strong> expressão gestual e <strong>da</strong><br />

observação <strong>da</strong> seqüência de ações espaço-temporais dificultam<br />

o planejamento do jogo simbólico. Essas ativi<strong>da</strong>des podem ser<br />

vivencia<strong>da</strong>s desde cedo, aju<strong>da</strong>ndo a criança a associar e<br />

representar gestos com versinhos, rimas e cantigas. Ao contar<br />

histórias, além <strong>da</strong> narração enfática com alternância de ritmo,<br />

entonação e melodia <strong>da</strong> voz, é importante que o professor ou<br />

auxiliar, descreva as expressões fisionômicas, realizando a ação<br />

em conjunto com a criança.<br />

Da mesma forma, ao participar de teatro, as ações e<br />

expressões devem ser descritas e, preferencialmente, que a<br />

criança tenha em suas mãos o objeto ou algo que o represente<br />

para poder observar, compreender e poder representar a ação.<br />

As ilustrações de cenas dos livros de histórias que<br />

favorecem a evocação e representação imagética não têm<br />

161


significado para a criança cega ou de visão muito baixa. Poder<br />

elaborar tridimensionalmente os objetos, personagens, ilustração<br />

de cenas, com transformação de materiais e sucatas são<br />

recursos importantes para a formação <strong>da</strong> imagem mental e<br />

representação simbólica. A professora não precisa preocuparse<br />

com a beleza <strong>da</strong> produção, o mais importante é a criança<br />

poder elaborar e expressar sua forma de perceber e assimilar o<br />

mundo.<br />

Algumas crianças podem apresentar receio em transitar<br />

entre o imaginário e o fantástico, principalmente nas histórias e<br />

dramatizações de forte conteúdo emocional: tensão, medo,<br />

animais ameaçadores e monstros. A possibili<strong>da</strong>de de antecipar,<br />

prever, imaginar, fantasiar e recriar trará, sem dúvi<strong>da</strong>, maior<br />

possibili<strong>da</strong>de de li<strong>da</strong>r com emoções fortes, com o novo e o<br />

imprevisível.<br />

A criança com deficiência visual também necessita<br />

expressar seus sentimentos, pensamentos e fantasias através<br />

do desenho. Para isso a professora poderá usar tintas: guache,<br />

plástica, pintura-a-dedo, com materiais sensoriais variados<br />

(areia, fubá, chá, sementes e pastas) que dêem relevo e volume.<br />

Elementos retirados <strong>da</strong> natureza: gravetos, pedras,<br />

conchas, folhas secas, sementes e outros são excelentes<br />

materiais para elaboração de murais, livros sensoriais. Contato<br />

com exposições, museus e esculturas são importantes para<br />

aquisição de conhecimento e percepção de formas<br />

diferencia<strong>da</strong>s de expressão.<br />

Trabalhar em grupo, montando painéis, rotas lúdicas,<br />

maquetas com materiais sensoriais é de fun<strong>da</strong>mental<br />

importância para a criança com deficiência visual, pois é na<br />

integração e na comunicação com outras crianças e adultos que<br />

ela adquire a capaci<strong>da</strong>de de solucionar problemas, de formar<br />

novos conceitos, reorganizar o pensamento, tornando-o mais<br />

flexível.<br />

162


As Ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Diária (AVD) são situações ricas<br />

para o desenvolvimento cognitivo: noções espaço-temporais,<br />

pensamento lógico, classificações e seriações, raciocínio<br />

matemático e principalmente a compreensão <strong>da</strong>s<br />

transformações.<br />

O treinamento sensorial, descontextualizado do fazer,<br />

contribui pouco para a aquisição <strong>da</strong> linguagem significativa e<br />

de conceitos. O desenvolvimento dos sentidos (tátil-cinestésicoauditivo-olfativo-gustativo)<br />

deve ser estimulado naturalmente em<br />

todos os momentos <strong>da</strong> rotina diária.<br />

Se a criança com deficiência visual tiver a oportuni<strong>da</strong>de<br />

de vivenciar concretamente as situações de compra dos<br />

alimentos na pa<strong>da</strong>ria, feira, supermercados e puder manipulálos,<br />

experimentando-os, descobrindo seus atributos,<br />

semelhanças e diferenças, poderá adquirir conceitos lógicomatemáticos<br />

de classificação, seriação e inclusão de classe<br />

de maneira natural e agradável.<br />

Fig. 19. Ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Diária.<br />

163


A criança com deficiência visual necessita participar do<br />

processo de preparação e elaboração dos alimentos, recebendo<br />

informações tátil-cinestésico-auditivas para poder observar o<br />

processo de transformação dos alimentos, fazendo experiências<br />

para comprovar suas hipóteses perceptivas.<br />

Orientação e Mobili<strong>da</strong>de<br />

A independência e autonomia do aluno com deficiência<br />

visual é limita<strong>da</strong>, muitas vezes, por falta de um programa de<br />

Orientação e Mobili<strong>da</strong>de (OM) na pré-escola. A criança cega<br />

ou com baixa visão severa necessita locomover-se com<br />

segurança para aquisição de movimentos autônomos e<br />

independentes com o domínio do espaço para realizar<br />

descobertas e ter iniciativa no brinquedo.<br />

Fig. 20. Orientação e Mobili<strong>da</strong>de.<br />

Em nosso meio, os programas de Orientação e<br />

Mobili<strong>da</strong>de são oferecidos mais tarde na adolescência. Muitos<br />

acreditam, ain<strong>da</strong>, ser necessária a maturação, a prontidão, ter<br />

164


oa coordenação motora e condições cognitivas para a<br />

utilização <strong>da</strong> bengala como instrumento de locomoção.<br />

Concebemos Orientação e Mobili<strong>da</strong>de como um<br />

processo que se inicia a partir dos primeiros movimentos<br />

espontâneos e intencionais do indivíduo com o corpo no espaço.<br />

Na escola, o professor poderá auxiliar o aluno a tornarse<br />

mais independente com a utilização de técnicas básicas de<br />

proteção, de coleta de informações, de rastreamento, de<br />

alinhamento e utilização de guia vidente.<br />

A introdução <strong>da</strong> bengala o mais cedo possível é de suma<br />

importância para prevenir alterações posturais, pois permite<br />

melhor alinhamento, simetria corporal e aju<strong>da</strong> na organização<br />

postural, na flexibili<strong>da</strong>de e controle dos movimentos, diminuindo<br />

a tensão e insegurança que tanto interferem no padrão de marcha<br />

<strong>da</strong>s pessoas com deficiência visual.<br />

O professor de sala de recursos poderá recorrer à<br />

orientação e assessoria de professores e técnicos em<br />

Orientação e Mobili<strong>da</strong>de ou buscar orientação em literatura<br />

específica.<br />

Papel do Professor na Educação Infantil<br />

A elaboração <strong>da</strong> proposta pe<strong>da</strong>gógica e o projeto<br />

curricular deve ser uma tarefa compartilha<strong>da</strong> entre o professor<br />

do ensino regular, o professor especializado ou de apoio e todo<br />

o entorno escolar.<br />

A identificação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des educacionais<br />

especiais, as estratégias de intervenção, as a<strong>da</strong>ptações<br />

curriculares que se fizerem necessárias para ca<strong>da</strong> aluno que<br />

participa do ensino regular, devem ser discuti<strong>da</strong>s e elabora<strong>da</strong>s<br />

em conjunto, incluindo a participação <strong>da</strong> coordenação,<br />

orientação, supervisão pe<strong>da</strong>gógica e direção <strong>da</strong> escola.<br />

Papel do Professor na Classe Regular<br />

• Observar as formas de interação e comunicação<br />

165


166<br />

utiliza<strong>da</strong>s pelo aluno, bem como, as necessi<strong>da</strong>des<br />

específicas para boa a<strong>da</strong>ptação escolar;<br />

• mediar a construção do conhecimento elaborado<br />

pela criança com deficiência visual no contexto<br />

familiar e escolar;<br />

• motivar e organizar interações por meio do<br />

planejamento de ativi<strong>da</strong>des significativas, lúdicas<br />

e funcionais, discuti<strong>da</strong>s e planeja<strong>da</strong>s em conjunto<br />

com o professor especializado;<br />

• aju<strong>da</strong>r a criança a realizar tarefas que não <strong>da</strong>ria<br />

conta de fazer sozinha. Li<strong>da</strong>r com suas<br />

possibili<strong>da</strong>des e dificul<strong>da</strong>des, estimulando a<br />

organização e formas alternativas de comunicação<br />

e construção do conhecimento;<br />

• orientar e apoiar a família para li<strong>da</strong>r com o<br />

desenvolvimento de hábitos, atitudes e<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> competência social evitando<br />

a superproteção;<br />

• favorecer as trocas afetivas pela busca do prazer,<br />

do lúdico e <strong>da</strong> participação social.<br />

Papel do Professor Especializado<br />

• Dar apoio, suporte e orientação para elaboração<br />

do projeto pe<strong>da</strong>gógico e <strong>da</strong> proposta curricular <strong>da</strong><br />

escola;<br />

• realizar a avaliação funcional do desenvolvimento<br />

e <strong>da</strong> aprendizagem, articulando a inter e a<br />

transdisciplinari<strong>da</strong>de com outras áreas (médica,<br />

psicológica, AVD, OM e outras) que se fizerem<br />

necessárias;<br />

• trabalhar em conjunto com o professor <strong>da</strong><br />

educação infantil, propondo estratégias<br />

metodológicas de acesso ao currículo, a<strong>da</strong>ptando<br />

materiais e recursos alternativos para o processo


de desenvolvimento e aprendizagem;<br />

• orientar e aju<strong>da</strong>r na elaboração e a<strong>da</strong>ptação de<br />

materiais, recursos específicos necessários ao<br />

processo de aprendizagem;<br />

• orientar quanto à adequação ambiental: número<br />

de alunos na sala, tempo necessário para<br />

execução <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, organização dos<br />

espaços e ativi<strong>da</strong>des. Observando que salas<br />

muito amplas e com número grande de alunos,<br />

ambientes barulhentos e agitado prejudicam a<br />

orientação e organização dos alunos que utilizam<br />

<strong>da</strong> audição como principal meio de orientação e<br />

domínio do ambiente;<br />

• ensinar o sistema braile à família, aos professores<br />

e a colegas interessados em colaborar.<br />

Estratégias Metodológicas e Meios de Acesso ao Currículo<br />

• O atendimento às necessi<strong>da</strong>des especiais<br />

envolvem a dimensão do desenvolvimento integral:<br />

psicoafetivo, cognitivo, sensório-motor, enfatizando<br />

os aspectos <strong>da</strong> sócio-interação, comunicação e<br />

linguagem no contexto escolar, familiar e cultural;<br />

• analisar as possibili<strong>da</strong>des e priori<strong>da</strong>des <strong>da</strong> criança<br />

e de sua família mediante análise do meio,<br />

utilizando os serviços de suporte e apoio de<br />

profissionais <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de;<br />

• delinear as possibili<strong>da</strong>des e necessi<strong>da</strong>des de<br />

desenvolvimento (pontos fortes e fracos) e as<br />

habili<strong>da</strong>des funcionais que permitam<br />

independência e autonomia do aluno, por<br />

intermédio <strong>da</strong> avaliação funcional do<br />

desenvolvimento integral, incluindo AVD e OM;<br />

• a relação dialógica, a ativi<strong>da</strong>de grupal, as<br />

interações sociais, os jogos e as brincadeiras<br />

167


168<br />

devem ser o aspecto central do trabalho<br />

pe<strong>da</strong>gógico;<br />

• a dinâmica pe<strong>da</strong>gógica deve partir do nível de<br />

interesse e conhecimento do aluno, ampliando<br />

suas experiências pelo conhecimento <strong>da</strong> natureza,<br />

incentivando a pesquisa, a compreensão <strong>da</strong>s<br />

transformações, valorizando a produção <strong>da</strong><br />

criança, sua forma de perceber e elaborar o<br />

mundo:<br />

• contemplar o desenvolvimento <strong>da</strong> auto-estima pela<br />

competência social, participando de ativi<strong>da</strong>des<br />

lúdicas, recreativas e artísticas;<br />

valorizando o potencial e o sentimento de pertencer<br />

ao grupo de colegas e à escola;<br />

• a complementação curricular – Programa de AVD<br />

(Ativi<strong>da</strong>de de Vi<strong>da</strong> Diária) e OM (Orientação e<br />

Mobili<strong>da</strong>de) – constitui programas específicos e<br />

individuais de avaliação e orientação geralmente<br />

não disponíveis no ensino regular. A escola deve<br />

encaminhar o aluno para a avaliação por serviços<br />

ou profissionais na comuni<strong>da</strong>de que se<br />

comprometerem a orientar o professor, para aju<strong>da</strong>r<br />

com a conduta adequa<strong>da</strong>, o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

autonomia e <strong>da</strong> independência do aluno no<br />

contexto escolar.<br />

Facilitar o acesso ao conteúdo curricular deve ser o<br />

compromisso do projeto político pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola, <strong>da</strong><br />

proposta pe<strong>da</strong>gógica do professor do ensino regular e do papel<br />

do professor especializado de apoio e, ain<strong>da</strong>, <strong>da</strong> família e <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de.


Fig. 21. Ativi<strong>da</strong>des pe<strong>da</strong>gógicas com material a<strong>da</strong>ptado.<br />

Os alunos com baixa visão poderão necessitar de<br />

recursos ópticos específicos para a discriminação e a<br />

visualização de figuras, livros, textos e gráficos. Auxílios como<br />

lupa de apoio, luminárias e materiais de alto contraste podem<br />

ser também necessários.<br />

Recursos de alta tecnologia como lupas eletrônicas,<br />

recursos de TV podem ser utilizados pelo aluno nos centros de<br />

apoio pe<strong>da</strong>gógicos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, bem como maquetas<br />

sensoriais e outras a<strong>da</strong>ptações de jogos sensoriais e livros<br />

a<strong>da</strong>ptados.<br />

Os alunos com ausência total de visão necessitam de<br />

brinquedos e de jogos a<strong>da</strong>ptados a suas necessi<strong>da</strong>des<br />

sensoriais. Materiais tridimensionais, materiais para elaboração<br />

de trilha, percursos, construção de representação simbólica,<br />

representação do ambiente e maquetas.<br />

Jogos a<strong>da</strong>ptados para iniciação e concretização <strong>da</strong><br />

matemática, acesso ao ambiente de leitura e escrita em relevo<br />

e pelo sistema braile também são necessários.<br />

Recursos específicos para escrita como reglete,<br />

punção, máquina braile, sorobã a<strong>da</strong>ptado e jogos pe<strong>da</strong>gógicos<br />

169


para leitura-escrita e matemática também devem ser<br />

providenciados.<br />

Fig. 22. Ativi<strong>da</strong>des pe<strong>da</strong>gógicas com material a<strong>da</strong>ptado.<br />

Para a a<strong>da</strong>ptação de jogos, materiais didáticos,<br />

elaboração e criação de livros sensoriais e em braile, o professor<br />

especializado poderá contar com a colaboração de professores<br />

de arte, pais dos alunos com deficiência e voluntários.<br />

Outro recurso interessante, que pode ser oferecido para<br />

acesso à literatura infantil, é o livro falado. Pode-se contar com<br />

serviço voluntário <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de para gravação de histórias<br />

infantis em cassete ou CD.<br />

170<br />

O PROCESSO DE INCLUSÃO NA PRÉ-ESCOLA<br />

A concepção de aprendizagem significativa não se<br />

baseia apenas na assimilação do meio externo e na quanti<strong>da</strong>de<br />

de informação capta<strong>da</strong>, sem conexão com experiências<br />

concretas significativas. Não se utiliza de treinamento,<br />

aprendizagem mecânica ou essencialmente reprodutora dos<br />

conhecimentos transmitidos.


Crê-se num processo de aprendizagem funcional e<br />

significativa: aprendizagem fruto <strong>da</strong> construção do conhecimento<br />

e internalização dos conceitos vividos pelo próprio sujeito. Este<br />

conhecimento decorre de sua ação no mundo e <strong>da</strong> significação<br />

que suas percepções adquirem pela interação e relação com o<br />

meio.<br />

Compreende, então, que o processo educacional deve<br />

começar ain<strong>da</strong> no berço, por meio do apoio e <strong>da</strong> orientação à<br />

família para interação com sua criança. Uma criança bem<br />

a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> e integra<strong>da</strong> a sua família, conseqüentemente, terá<br />

condições de a<strong>da</strong>ptar-se e integrar-se à escola.<br />

A criança com deficiência visual pode e deve ser<br />

incluí<strong>da</strong> na pré-escola, desde que tenha condições mínimas de<br />

comunicação, interação, condições de explorar e de descobrir<br />

o meio e possibili<strong>da</strong>de de organizar-se para compreender o<br />

ambiente a sua volta.<br />

O processo de inclusão escolar é possível<br />

mediante exercício <strong>da</strong> independência e <strong>da</strong> autonomia <strong>da</strong><br />

criança com deficiência visual. A inclusão não é simplesmente<br />

aproximação física, estar junto, mas a possibili<strong>da</strong>de de<br />

comunicação-ação-participação. Há integração quando há<br />

interação, quando existe troca pelo conversar, pelo brincar ou<br />

pelo compreender.<br />

A importância <strong>da</strong> inclusão escolar para a criança com<br />

deficiência visual consiste também na oportuni<strong>da</strong>de de conhecer<br />

outras crianças de sua i<strong>da</strong>de, com alterações sensoriais ou não,<br />

para que possa conhecer-se e identificar-se com elas. A partir<br />

de experiências compartilha<strong>da</strong>s, estas crianças têm a<br />

oportuni<strong>da</strong>de de enriquecer seu mundo interior e de ampliar suas<br />

vivências.<br />

171


Fig. 23. Ativi<strong>da</strong>de lúdica entre pares.<br />

Não se deve esquecer que antes de serem portadoras<br />

de uma alteração sensorial, são crianças que têm as mesmas<br />

necessi<strong>da</strong>des, embora com maneira diferencia<strong>da</strong> de aprender<br />

e organizar suas experiências. Somente por meio dessa relação<br />

solidária: a<strong>da</strong>ptando-se a si mesma, a suas limitações<br />

sensoriais, às pessoas e às coisas é que a criança com<br />

deficiência visual poderá estruturar e organizar seu<br />

conhecimento.<br />

O objetivo <strong>da</strong> inclusão escolar do aluno deficiente visual<br />

é mais abrangente que proporcionar a oportuni<strong>da</strong>de de<br />

socialização; é o de oportunizar o desenvolvimento máximo de<br />

suas possibili<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>r oportuni<strong>da</strong>de para adquirir<br />

experiências sensório-motoras integra<strong>da</strong>s, noções espaçotemporais<br />

pela vivência corporal, favorecer a construção do<br />

sistema de significação e representação simbólica por<br />

intermédio de ativi<strong>da</strong>des funcionais e lúdicas e, principalmente,<br />

poder desenvolver autonomia e independência.<br />

172


Para que isto ocorra, é importante que a família e a escola<br />

sejam bem orienta<strong>da</strong>s e trabalhem juntas no processo de<br />

integração, evitando-se assim ansie<strong>da</strong>des, frustrações,<br />

discriminações, superproteções ou rejeições. As atitudes<br />

inadequa<strong>da</strong>s e as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s para a integração<br />

estão mais relaciona<strong>da</strong>s à falta de informação, conscientização<br />

e orientação do que ao processo em si.<br />

Para o processo de inclusão escolar uma condição<br />

básica é o apoio pe<strong>da</strong>gógico especializado, equipamentos e<br />

materiais específicos para a educação destas crianças, o que<br />

infelizmente não é uma prática comum em nosso País. Deve-se<br />

garantir o acompanhamento do processo de desenvolvimento e<br />

aprendizagem, o atendimento às necessi<strong>da</strong>des específicas do<br />

aluno, a a<strong>da</strong>ptação e a complementação curricular.<br />

O sucesso <strong>da</strong> inclusão escolar não depende apenas <strong>da</strong><br />

existência do professor especializado ou de recursos e<br />

equipamentos disponíveis, mas, acima de tudo, <strong>da</strong> compreensão<br />

<strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>s limitações, <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> criança<br />

e <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escola para com o aluno. Para isso é<br />

importante que a escola to<strong>da</strong> seja prepara<strong>da</strong> na chega<strong>da</strong> do<br />

aluno com deficiência visual, desde a direção, a coordenação<br />

pe<strong>da</strong>gógica, o professor que vai atuar com o aluno, os demais<br />

professores, to<strong>da</strong>s as crianças <strong>da</strong> escola, enfim todos os<br />

envolvidos no processo.<br />

Poderá haver necessi<strong>da</strong>de de informação ou orientação<br />

aos pais dos outros alunos, tendo em vista o fato de ser ain<strong>da</strong><br />

pouco freqüente a integração de crianças com deficiências em<br />

nossas escolas.<br />

Após a conscientização e a orientação <strong>da</strong> escola,<br />

realiza-se a familiarização, isto é, o conhecimento do ambiente<br />

e <strong>da</strong>s pessoas pela própria criança, como forma de garantir a<br />

segurança e a utilização de pontos de referência importantes<br />

para sua orientação, organização, autonomia e independência.<br />

É muito importante a aju<strong>da</strong> do professor de Orientação e<br />

Mobili<strong>da</strong>de para que a integração pré-escolar seja uma<br />

173


experiência positiva, e para que a criança tenha a oportuni<strong>da</strong>de<br />

de participar com segurança de to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des.<br />

Todos necessitam compreender que a criança com<br />

ausência de visão não precisa ser superprotegi<strong>da</strong> e<br />

“paparica<strong>da</strong>”. Ela necessita vivenciar to<strong>da</strong>s as situações,<br />

necessita ter as mesmas regras e obedecer aos mesmos limites<br />

estabelecidos para seus colegas, deve ser respeita<strong>da</strong> como<br />

criança “não vidente”, que tem seu modo particular de perceber,<br />

agir e elaborar a reali<strong>da</strong>de.<br />

A meta <strong>da</strong> educação do pré-escolar com deficiência<br />

visual deve ser o desenvolvimento de sua autonomia. Autonomia<br />

significa pensar e governar-se a si próprio. Isso depende<br />

primeiramente de sua autonomia física, possibili<strong>da</strong>de de guiarse<br />

e não de ser guiado, possibili<strong>da</strong>de de locomover-se, de ir e<br />

vir, deslocar-se no tempo-espaço para exercitar sua<br />

intencionali<strong>da</strong>de.<br />

Daí a importância do desenvolvimento de um programa<br />

de orientação e mobili<strong>da</strong>de, o mais precoce possível, para que,<br />

a partir <strong>da</strong> autonomia física, a criança com deficiência visual<br />

conquiste sua autonomia nas demais áreas.<br />

Para o construtivismo sociointeracionista, a interação<br />

num grupo de crianças é fun<strong>da</strong>mental para o desenvolvimento<br />

cognitivo, considerando que o raciocínio, antes que ocorra<br />

como uma ativi<strong>da</strong>de interna, é elaborado num grupo de crianças<br />

como uma discussão que tem por objetivo checar as bases do<br />

pensamento, a partir do ponto de vista de ca<strong>da</strong> um.<br />

A possibili<strong>da</strong>de de a criança usar a capaci<strong>da</strong>de de<br />

pensar logicamente em nível pré-operacional e depois, mais<br />

tarde, em nível operacional e abstrato, depende, principalmente,<br />

<strong>da</strong> autonomia social, intelectual e moral. A criança poderá<br />

tornar-se mais participante e criativa se for estimula<strong>da</strong> a trocar<br />

pontos de vista, a expressar e refletir suas próprias<br />

experiências, sem medo de errar. Isso será possível se a<br />

criança encontrar um professor disposto a compreendê-la,<br />

disposto a perceber o que está sentindo ou pensando, para<br />

174


poder ajudá-la a recriar a reali<strong>da</strong>de, construindo uma autoimagem<br />

positiva.<br />

A oportuni<strong>da</strong>de de viver em grupo, poder participar de<br />

jogos e realizar as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> diária independentemente<br />

é que aju<strong>da</strong>rá a criança com deficiência visual a adquirir a<br />

autonomia moral, intelectual e social. Dessa competência e<br />

autonomia dependerá também a aceitação no grupo e a<br />

integração pré-escolar.<br />

Fig. 24. Ativi<strong>da</strong>des grupais.<br />

Outra questão a ser discuti<strong>da</strong> é que a prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica nas salas de recursos tem-se fun<strong>da</strong>mentado nos<br />

princípios básicos que norteiam a educação especial:<br />

individualização e concretização do ensino. Com isto, alguns<br />

professores se detêm na metodologia do concreto – observar e<br />

fazer – suprimindo desse modo formas mais elabora<strong>da</strong>s de<br />

pensamento abstrato.<br />

175


A orientação concreta é imprescindível nos estágios<br />

iniciais de desenvolvimento e servirá para o aluno com<br />

deficiência visual como ponte e meio para alcançar níveis<br />

abstratos de pensamento. Para isso, são fun<strong>da</strong>mentais<br />

ativi<strong>da</strong>des em grupo, em que a criança seja estimula<strong>da</strong> a<br />

representar suas vivências valendo-se do brinquedo, do jogo<br />

simbólico, do jogo dramático e dos jogos de regras.<br />

A criança com deficiência visual deve ter oportuni<strong>da</strong>de<br />

de participar de ativi<strong>da</strong>des de elaboração e criação de<br />

brinquedos e jogos em grupo, elaborar e criar cenas e histórias<br />

e representar suas experiências com sucata, argila e<br />

modelagem.<br />

Por outro lado, a convivência e interação só com<br />

pessoas e crianças videntes podem gerar conceitos irreais, que<br />

são chamados de verbalismo, ou seja, a tendência de emprego<br />

de palavras e expressões de conteúdo puramente visual, sem<br />

ter real significado para a criança.<br />

O professor deve estar atento para respeitar e aceitar<br />

formas diferencia<strong>da</strong>s de experiências sensoriais elabora<strong>da</strong>s<br />

pelo aluno e não querer compensá-lo com conceitos puramente<br />

visuais. Conceitos de determinados fenômenos <strong>da</strong> natureza<br />

como: luar, brilho <strong>da</strong>s estrelas, arco-íris, ou determina<strong>da</strong>s<br />

transformações de reações químicas ou microscópicas, por<br />

exemplo, são experiências e espetáculos estritamente visuais,<br />

inacessíveis à observação do aluno com cegueira.<br />

Esses conceitos não devem, portanto, ser passados<br />

metaforicamente para o aluno, com a experiência de videntes.<br />

O aluno formará seus conceitos utilizando as imagens mentais<br />

tátil-cinestésico-auditivo-olfativo-gustativas por suas próprias e<br />

particulares experiências sensoriais; portanto, há muitos<br />

fenômenos ou eventos que não podem ser objetivados, nem<br />

experimentados sensorialmente pela criança cega.<br />

Entretanto, há conceitos que podem ser adquiridos por<br />

meio <strong>da</strong> utilização dos outros canais sensoriais, desde que o<br />

aluno possa estabelecer relações de semelhança e diferença e<br />

176


o emprego de analogia com experiências já vivi<strong>da</strong>s. É importante<br />

que o sistema seja construído pelo próprio aluno e não ensinado<br />

pelo professor.<br />

O professor criativo, que usa o método <strong>da</strong> investigação<br />

e reflexão, pode aju<strong>da</strong>r o aluno a adquirir seus próprios conceitos<br />

a respeito de horizonte, luz, sol, estrela, espelho, brilho, sombra,<br />

relâmpago e outros, aju<strong>da</strong>ndo o aluno na superação de suas<br />

dificul<strong>da</strong>des naturais, ao mesmo tempo em que estimula a sua<br />

curiosi<strong>da</strong>de para aprender.<br />

O Processo de Construção <strong>da</strong> Leitura e Escrita e o Sistema<br />

Braille<br />

Foi realizado um levantamento literário buscando novas<br />

metodologias ou propostas alternativas para introdução do<br />

sistema braile nas séries iniciais. Concluiu-se que grande parte<br />

dos educadores no Brasil, na América Latina, Espanha e<br />

América do Norte utilizam-se de metodologia tradicional e<br />

consideram como pré-requisito para a alfabetização o<br />

desenvolvimento sensório-perceptivo e conceitual.<br />

Consideram o aluno preparado para a aprendizagem<br />

<strong>da</strong> leitura e escrita quando:<br />

• sabe seguir direções e reconhecer direita/<br />

esquer<strong>da</strong>;<br />

• pode imitar posições de figuras ou objetos que se<br />

apresentam num esquema;<br />

• sabe apontar semelhanças e diferenças<br />

• classifica objetos por tamanho, consistência,<br />

forma, textura;<br />

• usa as mãos de forma coordena<strong>da</strong>;<br />

• emprega o tato com fim exploratório;<br />

• maneja conceitos espaciais;<br />

• adquire prática no uso correto dos dedos leitores,<br />

pressão e movimento;<br />

• apresenta coordenação motora fina e orientação<br />

espacial (requisitos para a escrita com reglete).<br />

177


O sistema de leitura e de escrita para cegos foi criado<br />

por Louis Braille, em 1829, e até hoje não está superado. Pois<br />

na<strong>da</strong> surgiu para substituir o sistema de representação simbólica<br />

do alfabeto por combinação dos seis pontos que constituem o<br />

sistema braile.<br />

Os fun<strong>da</strong>mentos do Sistema Braille são indiscutíveis e<br />

eficazes. Entretanto, os métodos, as formas e o caminho para<br />

introduzi-los devem ser questionados e outros devem ser<br />

investigados para facilitação <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita por esse<br />

sistema.<br />

Os princípios básicos envolvidos no processo de<br />

aquisição <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita são os mesmos para os alunos<br />

cegos e videntes. Trata-se de uma ativi<strong>da</strong>de basicamente de<br />

função conceitual e representativa para interpretar, mediante o<br />

tato, os símbolos do Sistema Braille que representam as letras.<br />

Para essa tarefa, o fun<strong>da</strong>mental é experimentar, perceber,<br />

decodificar, conceitualizar.<br />

O aluno só poderá chegar a esse nível de abstração se<br />

estiver exposto e tiver acesso ao sistema braile desde cedo. O<br />

aluno vidente está desde bebê exposto à simbologia gráfica:<br />

ao desenho, às letras, aos rótulos, livros de história, cartazes,<br />

etc. A criança cega, geralmente, terá acesso à simbologia<br />

gráfica em relevo só quando estiver na fase de alfabetização.<br />

É de fun<strong>da</strong>mental importância que a família seja<br />

estimula<strong>da</strong> para a aprendizagem do Sistema Braille, para que<br />

possa motivar a criança, acompanhá-la e orientá-la na construção<br />

<strong>da</strong> leitura e escrita.<br />

A parceria mães-professores criativos poderão aju<strong>da</strong>r<br />

as crianças cegas a elaborarem livros funcionais, criando<br />

histórias a partir de situações vivi<strong>da</strong>s ou objetos escolhidos. Os<br />

livros poderão conter colagens de objetos, reprodução e<br />

elaboração de desenhos em relevo, construção de maquetas e<br />

produção de textos espontâneos, utilizando fichas ou cartelas<br />

com alfabeto braile.<br />

A criança cega deve ter livros infantis atraentes e<br />

criativos a sua disposição para que a leitura seja uma<br />

experiência prazerosa e lúdica.<br />

178


Grande parte do professorado tem estabelecido uma<br />

seqüência para introduzir a simbologia braile, talvez em virtude<br />

<strong>da</strong> experiência anterior de graduar as dificul<strong>da</strong>des relativas à<br />

fonética e à ortografia. Sistematizam o Sistema Braille de uma<br />

forma linear, organizado em seqüência de letras mais fáceis, de<br />

forma numérica, ponto a ponto, temendo que o aluno confun<strong>da</strong><br />

símbolos similares e apren<strong>da</strong> errado.<br />

De acordo com essa experiência, demonstra-se que:<br />

• as letras que utilizam pontos nos extremos e na<br />

mesma direção são mais fáceis de se perceber<br />

tatilmente e de se escrever (x, 1, c);<br />

• as letras em espelho (e - i, d - f, h - j) confundem o<br />

leitor inicialmente, criando problemas para sua<br />

identificação;<br />

• alguns sons e combinações apresentam<br />

dificul<strong>da</strong>des fonéticas (ga - go, gu - ge - gi, que -<br />

qui, ca - ce - co).<br />

Constata-se aqui a mesma preocupação com a<br />

adequação e correção ortográfica e a transcrição do sistema<br />

sonoro para o gráfico, destituído do aspecto construtivo, no qual<br />

a criança poderá compreender e interpretar sua construção,<br />

descobrindo que os símbolos que representam as letras<br />

conservam uma posição, ordem e seqüência e que têm<br />

significado.<br />

Há controvérsias dentro <strong>da</strong> metodologia tradicional. Há<br />

professores que são adeptos do método alfabético e/ou silábico,<br />

julgando-os mais rápidos. Outros preferem o método global,<br />

partindo <strong>da</strong> palavra geradora para ensinar a reconhecer a palavra<br />

como um todo.<br />

A dificul<strong>da</strong>de que o professor especializado encontra<br />

para investigar novas propostas se deve, em grande parte, ao<br />

fato de que os livros braile, disponíveis nas séries iniciais, sejam<br />

só cartilhas que utilizam os métodos acima descritos.<br />

Pessoalmente, pudemos orientar e acompanhar o<br />

processo inicial de aprendizagem de leitura e escrita de vários<br />

179


alunos cegos, dotados de bom desenvolvimento global, integrados<br />

em pré-escola que introduzia a alfabetização aos 5 e 6 anos.<br />

A nossa preocupação inicial não foi usar passos, regras<br />

ou normas para a introdução do sistema braile; foi permitir à<br />

criança com cegueira participar do trabalho pe<strong>da</strong>gógico e <strong>da</strong><br />

construção coletiva do processo de leitura e escrita.<br />

Orientamos etiquetar em braile to<strong>da</strong> a comunicação<br />

escrita na classe: nome dos colegas, caixas de materiais, seções<br />

de ativi<strong>da</strong>des, etc.<br />

Como as demais crianças possuíam sua caixa de letras<br />

e sílabas, fizemos o mesmo. Representamos as letras<br />

inicialmente por pequenos botões de camisa de bebê,<br />

elaboramos o alfabeto braile em fichas de cartolina. Para as<br />

fichas silábicas, utilizamos pontos de cola plástica para diminuir<br />

o tamanho. Para a escrita, improvisamos uma reglete a<strong>da</strong>ptando<br />

uma tela plástica dos jogos de pino.<br />

Incentivamos a família a produzir, em conjunto com a<br />

criança, livros funcionais e criar histórias com pequenos textos<br />

em braile. Motivamos o uso dos poucos livros infantis <strong>da</strong><br />

biblioteca braile. Desta forma, os alunos puderam iniciar seu<br />

processo de construção de leitura e de escrita, através <strong>da</strong><br />

produção de seus próprios textos. Esses alunos estão bem<br />

integrados à classe comum, são questionadores,<br />

pesquisadores, com produção de textos criativos.<br />

O Processo de Alfabetização <strong>da</strong> Criança com Baixa Visão<br />

O processo de alfabetização <strong>da</strong> criança com baixa<br />

visão subnormal muitas vezes pode ser mais complexo, em<br />

relação ao <strong>da</strong> criança cega.<br />

Isto em função <strong>da</strong>s diversas variáveis envolvi<strong>da</strong>s no uso<br />

funcional <strong>da</strong> visão, tais como:<br />

• tipo de experiências visuais adquiri<strong>da</strong>s –<br />

perceptivas e conceituais;<br />

180


• potencial visual utilizável para leitura e escrita;<br />

• possíveis alterações <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de aos<br />

contrastes e visão de cores;<br />

• necessi<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptação ambiental quanto à<br />

iluminação e às condições posturais;<br />

• necessi<strong>da</strong>des de a<strong>da</strong>ptação de recursos ópticos<br />

ou não-ópticos.<br />

Essas necessi<strong>da</strong>des serão levanta<strong>da</strong>s na avaliação<br />

funcional <strong>da</strong> visão, na forma como o aluno se a<strong>da</strong>pta ao ambiente<br />

e utiliza os materiais escolares.<br />

Tendo em vista a utilização máxima do potencial visual<br />

do aluno, o professor especializado deve discutir com o<br />

oftalmologista to<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des de correção óptica e/ou<br />

aju<strong>da</strong> que sejam necessárias para melhorar o desempenho<br />

visual para perto e longe.<br />

O professor deve levar em conta que crianças com visão<br />

subnormal, mesmo portadores <strong>da</strong> mesma patologia, têm<br />

necessi<strong>da</strong>des particulares e atingem níveis diferentes de<br />

desenvolvimento visual e uso funcional <strong>da</strong> visão.<br />

A programação pe<strong>da</strong>gógica respeitará os diferentes<br />

níveis e o potencial do aluno. Há crianças que funcionalmente<br />

operam apenas em nível de consciência visual do estímulo.<br />

Reagem e agem pela compreensão do significado <strong>da</strong> luz, direção<br />

<strong>da</strong> fonte luminosa e de vultos, coordenando ações motoras e<br />

sensoriais.<br />

Essas crianças com per<strong>da</strong>s visuais severas necessitarão<br />

de recursos auditivos, táteis e <strong>da</strong> aprendizagem do Sistema<br />

Braille para ativi<strong>da</strong>des de comunicação e leitura/escrita.<br />

Da mesma forma, alunos com grande alteração de<br />

campo visual ou necessi<strong>da</strong>de de aproximação extrema do<br />

material a ser lido podem utilizar-se do Sistema Braille, como<br />

complementação e facilitação do processo de leitura/escrita.<br />

Crianças que funcionalmente operam em níveis<br />

perceptivos e conceituais, decodificando estímulos visuais,<br />

181


interpretando imagens visuais, (contornos, detalhes, cores,<br />

configurações e padrões de objetos e letras) devem ser<br />

estimula<strong>da</strong>s a utilizarem ao máximo a visão residual para<br />

ativi<strong>da</strong>des de leitura/escrita.<br />

Entre essas crianças há as que encontram muita<br />

dificul<strong>da</strong>de para discriminar figuras complexas por alteração <strong>da</strong><br />

visão macular (responsável por percepção de detalhes), o que<br />

o professor não deverá confundir com deficiência mental. Muitos<br />

alunos encontram dificul<strong>da</strong>des para discriminar fotos, figuras de<br />

animais e desenhos abstratos.<br />

Há professores que retar<strong>da</strong>m o processo de<br />

alfabetização dessas crianças, porque julgam que, em virtude<br />

<strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de perceptiva, terão dificul<strong>da</strong>de para discriminar<br />

letras. Discriminar letras e números é mais fácil do que figuras<br />

complexas. Pela experiência visual com letras, números e<br />

figuras, a criança vai aprendendo a construir suas hipóteses<br />

perceptivas, antecipando, identificando e generalizando<br />

imagens visuais.<br />

O aluno com visão subnormal pode desenvolver<br />

eficiência visual com aju<strong>da</strong> de auxílios ópticos adequados,<br />

materiais a<strong>da</strong>ptados a suas necessi<strong>da</strong>des visuais e<br />

principalmente pela organização e adequação do ambiente.<br />

Há alunos que, de acordo com a patologia, necessitam<br />

de alta iluminação para poder visualizar os estímulos, enquanto<br />

para outros a luminosi<strong>da</strong>de e brilho podem dificultar a fixação e<br />

discriminação visual. O professor deverá pesquisar com o aluno<br />

qual o tipo de iluminação mais adequa<strong>da</strong> (luz fluorescente ou<br />

incandescente), quanti<strong>da</strong>de e direção do foco luminoso. O<br />

controle de iluminação na sala de aula é fator importante para a<br />

eficiência e conforto visual do aluno.<br />

Muitas crianças podem apresentar dificul<strong>da</strong>des<br />

acomo<strong>da</strong>tivas (dificul<strong>da</strong>des para ver de perto), o desempenho<br />

visual poderá ser lento e gerar estresse e cansaço pelo esforço<br />

visual de acomo<strong>da</strong>ção, fato que não deve ser confundido com<br />

preguiça ou falta de motivação.<br />

182


Fig. 25. Exploração visual de brinquedo pe<strong>da</strong>gógico.<br />

A programação pe<strong>da</strong>gógica deve objetivar o<br />

enriquecimento de experiências visuais significativas através de<br />

ativi<strong>da</strong>des lúdicas a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s às necessi<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> aluno.<br />

Pois torna-se impossível a padronização de brinquedos, jogos,<br />

materiais ou textos para alunos com baixa visão.<br />

Os jogos pe<strong>da</strong>gógicos interativos pelo computador são<br />

hoje muito utilizados nos países desenvolvidos, como recurso<br />

motivador do uso funcional <strong>da</strong> visão, desenvolvendo as funções<br />

visomotoras, perceptivas e conceituais. Além de ser um<br />

processo lúdico e interativo, o computador permite a utilização<br />

de contraste e ampliação <strong>da</strong> imagem, conforme a necessi<strong>da</strong>de<br />

de ca<strong>da</strong> aluno.<br />

Para portadores de baixa visão com dificul<strong>da</strong>de motora<br />

associa<strong>da</strong>, o computador e a máquina de <strong>da</strong>tilografia amplia<strong>da</strong><br />

tornam-se excelentes recursos para aprendizagem <strong>da</strong> leitura/<br />

escrita.<br />

183


Alunos com per<strong>da</strong>s visuais severas, alteração de campo<br />

visual ou sensibili<strong>da</strong>de aos contrastes poderão beneficiar-se do<br />

circuito fechado de televisão (CCTV) como recurso auxiliar de<br />

leitura/escrita.<br />

Para ampliação de textos, o professor poderá utilizar o<br />

caderno de pauta amplia<strong>da</strong>, caneta hidrocor e lápis Regente<br />

6B para aumentar o contraste. O uso de filtro amarelo também<br />

intensifica o contraste do texto.<br />

Quando não se dispõe de recursos sofisticados de alta<br />

tecnologia para facilitar o processo de leitura/escrita, o professor<br />

poderá pesquisar com o aluno os diferentes tipos de lupas<br />

manuais disponíveis no mercado.<br />

Há lupas que facilitam as tarefas visuais para perto<br />

como: lupas de mão de diferentes formas e modelos, lupas<br />

cefálicas e lupas de mesa ilumina<strong>da</strong>s ou não. O professor deverá<br />

aju<strong>da</strong>r o aluno a descobrir o melhor ponto focal e a melhor<br />

distância para não haver distorção de formas.<br />

Para visão a distância e leitura <strong>da</strong> lousa, a prescrição<br />

dos telessistemas será realiza<strong>da</strong> pelo oftalmologista quando<br />

necessária. Na dificul<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptação do aluno às telelupas,<br />

poderá ser utilizado um telessistema acoplado ao CCTV ou de<br />

lupa eletrônica. Como não se dispõe no mercado nacional desse<br />

tipo de equipamento, o professor orientará a aproximação do<br />

aluno à lousa, à distância necessária.<br />

184


Fig. 26. Utilização de telelupa.<br />

Alunos com acui<strong>da</strong>de visual muito baixa, com ausência<br />

de coordenação visomotora ou alteração de campo visual<br />

podem encontrar muita dificul<strong>da</strong>de de realizar cópia <strong>da</strong> lousa. O<br />

professor poderá orientar a utilização de recursos sonoros como<br />

gravação <strong>da</strong> aula, cópia de texto próximo ou a colaboração de<br />

colegas tirando cópia do texto para o aluno.<br />

Há alunos que, mesmo com recursos ópticos potentes,<br />

necessitam aproximar-se muito para poderem ler de perto. O<br />

professor deve estar atento à adequação postural do aluno,<br />

posicionando o porta-texto para leitura.<br />

Geralmente, o oftalmologista encaminha o laudo médico,<br />

a indicação do tamanho de letra (impressão em tamanho<br />

métrico) que o aluno é capaz de discriminar. Se isso não ocorrer,<br />

o professor poderá pesquisar com o aluno qual o tipo e o<br />

tamanho de letra mais adequado e acessível.<br />

Os alunos com baixa visão leve e modera<strong>da</strong> podem,<br />

muitas vezes, utilizar-se dos jogos e letras disponíveis no<br />

mercado, com cores contrastantes.<br />

185


O professor deverá a<strong>da</strong>ptar as letras, palavras e textos,<br />

levando em consideração a acui<strong>da</strong>de visual, alteração <strong>da</strong><br />

sensibili<strong>da</strong>de aos contrastes, alteração de campo visual e<br />

possíveis escotomas (pontos cegos). Nem sempre o maior tipo<br />

de letra é o mais adequado.<br />

Inicialmente alguns alunos podem necessitar de<br />

ampliação para facilitar o processo de leitura/escrita; o professor<br />

deverá gra<strong>da</strong>tivamente diminuir a ampliação, para que o aluno<br />

também adquira eficiência com tipos menores. Muitos alunos<br />

adquirem eficiência, apesar de seu quadro de alteração visual,<br />

chegando a ler revistas, jornais e os livros didáticos disponíveis<br />

no mercado, com ou sem auxílios ópticos.<br />

Outros alunos poderão necessitar de recursos ampliados,<br />

iluminação adequa<strong>da</strong> e mesmo assim apresentar lentidão no<br />

processo de leitura/escrita. A quali<strong>da</strong>de do traçado gráfico do<br />

aluno com visão subnormal é bastante variável, em virtude <strong>da</strong>s<br />

condições visuais de ca<strong>da</strong> um. Há alunos que persistirão no uso<br />

de letra grande, traçado irregular ou incoordenação, sem<br />

conotação de alteração motora. A quali<strong>da</strong>de do traçado gráfico<br />

não deverá ser também critério para introdução <strong>da</strong> leitura/escrita.<br />

Há alunos com visão subnormal severa que têm grande<br />

dificul<strong>da</strong>de de elaboração de formas e desenhos, entretanto, têm<br />

desempenho visual suficiente para leitura e escrita por meios<br />

visuais. Na baixa visão como na cegueira, o que determina a<br />

capaci<strong>da</strong>de de leitura/escrita é o nível conceitual do aluno.<br />

Deve-se compreender que o domínio do processo de<br />

leitura/escrita pelo Sistema Braille ou por meios visuais<br />

dependerá também <strong>da</strong> experiência compartilha<strong>da</strong> no grupo<br />

social. A intervenção pe<strong>da</strong>gógica competente, a experiência de<br />

outros colegas mais adiantados e o domínio do Sistema Braille<br />

pela família serão mediadores eficazes para se alcançar avanços<br />

no domínio desse sistema.<br />

186


Fig. 27. Ativi<strong>da</strong>des compartilha<strong>da</strong>s.<br />

A inclusão no sistema de ensino público e comunitário pode<br />

ser uma reali<strong>da</strong>de mediante tarefa compartilha<strong>da</strong> e compromisso<br />

de todos. A criança com deficiência visual é capaz, necessita<br />

apenas de oportuni<strong>da</strong>de.<br />

187


188


BIBLIOGRAFIA<br />

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trabalho do portador de <strong>Deficiência</strong> <strong>Visual</strong> - tendências e<br />

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189


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Laramara, 1997.<br />

TV – ESCOLA – Série <strong>Deficiência</strong> <strong>Visual</strong>.<br />

190


ANEXO<br />

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DO<br />

PROFESSOR<br />

1. Indique a(s) alternativa(s) correta(s):<br />

a) ( ) Na Nova LDB 1997, o acesso e a permanência de<br />

crianças com deficiência na educação infantil é<br />

assegurado, quando necessário, por intermédio do<br />

serviço de apoio, de modo a atender às peculiari<strong>da</strong>des<br />

desse alunado.<br />

b) ( ) O Projeto Político-Pe<strong>da</strong>gógico e a Proposta Pe<strong>da</strong>gógica<br />

são de responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escola regular.<br />

c) ( ) As necessi<strong>da</strong>des educativas especiais, a a<strong>da</strong>ptação e<br />

complementação curricular e os recursos educacionais<br />

deverão ser contemplados no ensino comum.<br />

d) ( ) A educação especial tem o papel de <strong>da</strong>r apoio, suporte e<br />

orientação para a elaboração <strong>da</strong> Proposta Pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong><br />

escola.<br />

e) ( ) To<strong>da</strong>s as alternativas são corretas.<br />

2- Assinale as alternativas corretas:<br />

a) ( ) A aprendizagem <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita pelo Sistema<br />

Braille é de natureza conceitual e representativa por<br />

interpretar pelo tato a simbologia do código braile.<br />

b) ( ) O aluno cego deve ter acesso ao código braile somente<br />

quando estiver no ensino fun<strong>da</strong>mental.<br />

c) ( ) A criança cega deve estar exposta desde cedo à<br />

simbologia gráfica em relevo, a materiais e<br />

representações bi e tridimensionais, a desenhos e<br />

símbolos em relevo.<br />

d) ( ) Os alunos com visão subnormal necessitam de uma<br />

avaliação clínico-funcional para orientação dos recursos<br />

191


ópticos especiais, de aju<strong>da</strong>s não ópticas e de recursos<br />

pe<strong>da</strong>gógicos que auxiliem o processo de aprendizagem<br />

e a escolarização.<br />

e) ( ) A família, a escola e os demais colegas não precisam<br />

aprender o braile. Esta é uma tarefa somente do professor<br />

especializado.<br />

3- Indique as afirmativas ver<strong>da</strong>deiras:<br />

a) ( ) O conceito de necessi<strong>da</strong>des educativas especiais remete<br />

não só às dificul<strong>da</strong>des de aprendizagem, mas também<br />

aos recursos educacionais necessários para atender a<br />

essas necessi<strong>da</strong>des.<br />

b) ( ) A escola deve se preocupar apenas com o conteúdo<br />

programático. As necessi<strong>da</strong>des especiais do aluno e<br />

provisão dos recursos não é de competência <strong>da</strong> escola.<br />

c) ( ) Recursos educacionais refere-se à capacitação de<br />

professores, aos recursos específicos, aos materiais<br />

didáticos e principalmente ao domínio do processo de<br />

avaliação funcional.<br />

d) ( ) A integração pré-escolar exige trabalho compartilhado:<br />

professor de apoio – professor do ensino comum – família<br />

– comuni<strong>da</strong>de.<br />

e) ( ) To<strong>da</strong>s as alternativas são ver<strong>da</strong>deiras.<br />

192


CHAVE PARA CORREÇÃO DA AVALIAÇÃO<br />

1. e<br />

2. a, c, d<br />

3. a, c, d<br />

193


194


Nota de agradecimento<br />

Agradecemos a colaboração do Centro Ensino Especial<br />

de Deficientes Visuais de Brasília, ao Instituto Benjamin Constant<br />

e a LARAMARA pela cedência <strong>da</strong>s fotos e a permissão para<br />

sua publicação nesse trabalho.<br />

Nosso carinho aos alunos e professores que, por meio<br />

dessas imagens, aju<strong>da</strong>m a difundir conhecimentos aos que<br />

desejam aprender a atuar com pessoas com deficiência visual.<br />

195


196<br />

Produção Editorial <strong>da</strong> Educação Especial<br />

Com objetivo de expandir a oferta <strong>da</strong> educação especial<br />

no Brasil, bem como <strong>da</strong>r estímulo às inovações pe<strong>da</strong>gógicas<br />

que venham a contribuir para a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do<br />

atendimento, a Secretaria de Educação Especial do MEC, está<br />

divulgando textos e informações para atualizar e orientar a<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica do sistema educacional. Para tanto, ela criou<br />

uma linha editorial contendo quatro séries: Institucional, Diretrizes,<br />

Atuali<strong>da</strong>des Pe<strong>da</strong>gógicas e Legislação, assim especifica<strong>da</strong>s:<br />

SÉRIE INSTITUCIONAL – destina<strong>da</strong> à publicação de textos<br />

oficiais com vistas à divulgação de políticas educacionais e<br />

demais produções de órgãos gestores nacionais e<br />

internacionais.<br />

SÉRIE DIRETRIZES – visa a informar, sugerir e orientar a<br />

elaboração de planos de trabalho a serem implementados nos<br />

estados e municípios brasileiros.<br />

SÉRIE ATUALIDADES PEDAGÓGICAS – objetiva a<br />

difusão e estímulo às inovações pe<strong>da</strong>gógicas na área de<br />

educação especial, a fim de promover a formação continua<strong>da</strong><br />

dos professores.<br />

SÉRIE LEGISLAÇÃO – pretende divulgar as leis referente<br />

às pessoas com necessi<strong>da</strong>des especiais, seus direitos e<br />

deveres.<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação<br />

Secretaria de Educação Especial<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação<br />

Secretaria de Educação Especial<br />

GOVERNO<br />

FEDERAL<br />

Trabalhando em todo o Brasil

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