Origem do Acoplamento Não-Colinear nas ... - CCE/UFES
Origem do Acoplamento Não-Colinear nas ... - CCE/UFES
Origem do Acoplamento Não-Colinear nas ... - CCE/UFES
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO<br />
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS<br />
PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO EM FÍSICA<br />
Breno Rodrigues Segatto<br />
<strong>Origem</strong> <strong>do</strong> <strong>Acoplamento</strong> <strong>Não</strong>-<strong>Colinear</strong> <strong>nas</strong><br />
Superestruturas tipo Fe/Mn/Fe Crescidas por Molecular<br />
Beam Epitaxy<br />
VITÓRIA<br />
2007
BRENO RODRIGUES SEGATTO<br />
<strong>Origem</strong> <strong>do</strong> <strong>Acoplamento</strong> <strong>Não</strong>-<strong>Colinear</strong> <strong>nas</strong><br />
Superestruturas tipo Fe/Mn/Fe Crescidas por Molecular<br />
Beam Epitaxy<br />
VITÓRIA<br />
2007<br />
Dissertação apresentada ao<br />
Programa de Pós-Graduação em<br />
Física <strong>do</strong> Centro de Ciências<br />
Exatas da Universidade Federal<br />
<strong>do</strong> Espírito Santo, como requisito<br />
parcial para obtenção <strong>do</strong> Grau de<br />
Mestre em Física, na área de<br />
concentração de Física da<br />
Matéria Condensada. Orienta<strong>do</strong>r:<br />
Prof. Dr. Edson Passamani<br />
Caetano.
Dedico esta dissertação aos poucos que irão lê-la<br />
e ao seleto grupo de pessoas que irão<br />
aproveitá-la para algum fim.
“the most important things<br />
are in the little things”<br />
Sherlock Holmes
Agradecimentos<br />
Gostaria de expressar minha gratidão e admiração à Natureza, por ser bela, simples e<br />
generosa. E por nos permitir tentar compreendê-la, pelo menos, em parte.<br />
Agradeço ao Prof. Dr. Edson Passamani Caetano por me orientar neste trabalho, estan<strong>do</strong><br />
sempre presente para a discussão e esclarecimentos de dúvidas e por ter me motiva<strong>do</strong><br />
nos momentos de dificuldades.<br />
Agradeço ao Prof. Dr. Manoelito Martins de Souza, por ter me motiva<strong>do</strong> a fazer<br />
Ciência, por ter me orienta<strong>do</strong> de maneira assídua, pela oportunidade de conhecer um<br />
pouco a física teórica e por ter me aceita<strong>do</strong> como seu aluno de iniciação científica<br />
quan<strong>do</strong> outros me “renegaram”.<br />
Agradeço ao Dr. Paulo de Antonio Souza Jr. por ter me apresenta<strong>do</strong> a Espectroscopia<br />
Mössbauer, por ter me da<strong>do</strong> a oportunidade de conhecer o mun<strong>do</strong> da indústria e por me<br />
permitir usar a física em prol da sociedade de maneira direta. Agradeço também pelos<br />
ensinamentos e pela confiança depositada em mim, me fazen<strong>do</strong> descobrir virtudes que<br />
eu até então desconhecia.<br />
Agradeço ao Prof. Dr. Valberto Pedruzzi Nascimento por me ajudar <strong>nas</strong> medidas de<br />
Dicroísmo Circular Magnético por Absorção de Raios-X(XMCD) perden<strong>do</strong> preciosas
horas de sono para acompanhar as medidas, por ter me ajuda<strong>do</strong> no ajuste <strong>do</strong>s espetros<br />
de XMCD e pelas discussões ao longo deste trabalho.<br />
Agradeço ao Prof. Dr. José Rafael Cápua Proveti pela odisséia de ficar mais de 24 horas<br />
acorda<strong>do</strong> para acompanhar os experimentos de XMCD no LNLS, por ter me ajuda<strong>do</strong> no<br />
ajuste <strong>do</strong>s mesmos e pelos momentos de descontração.<br />
Agradeço aos Profs. Drs. Larica, Arman<strong>do</strong> Yoshihaki Takeuchi e Emmanuel Favre-<br />
Nicolin, pelas valiosas discussões durante os seminários e pela ajuda na preparação <strong>do</strong>s<br />
mesmos.<br />
Agradeço ao Prof. Dr. Fernan<strong>do</strong> Pelegrini pelas medidas de FMR, pela discussão <strong>do</strong>s<br />
espectros e pela sua dedicação e gentileza demonstrada a mim durante minha estada em<br />
Goiânia.<br />
Agradeço ao grupo <strong>do</strong> Prof. Dr. A. Vantomme <strong>do</strong> Instituut Voor Kern–en<br />
Stralingsfysica (IKS), da Katholieke Universiteit Leuven (KULeuven), na Bélgica, onde<br />
as amostras foram preparadas e parcialmente caracterizadas, pelo orienta<strong>do</strong>r deste<br />
trabalho. Em especial, gostaria de agradecer ao Francisco Almeida por ter feito<br />
melhorias no programa de ajuste de curvas de magnetização e por ter me esclareci<strong>do</strong> as<br />
dúvidas para a execução <strong>do</strong> programa.<br />
Aos amigos Carlos Wagner Costa Araújo <strong>do</strong> Espaço Ciência e Arte da Univasf e José<br />
Ballester Julian Jr. <strong>do</strong> Núcleo de Ciências da <strong>UFES</strong> por ter descoberto em mim o talento<br />
para a divulgação científica.
Aos amigos <strong>do</strong> LEMAG, Fabio Xavier, Alexsandro Masioli, André Luis Alves, Farley<br />
Sardinha, Aline Demunere e Dr. Mauricio Gomes das Virgens meus agradecimentos por<br />
to<strong>do</strong> apoio e companheirismo.<br />
Ao Amigo e Prof. Rodrigo Dias Pereira pela grande ajuda na formatação deste trabalho.<br />
Agradeço aos amigos da graduação Josenilson Ádnei Marinho, Bruna Dayana Lemos<br />
Pinto, Izaias Martins Jr., Gustavo Tosta Nicoli, Júlio César A. da Silva, Célio Marques,<br />
Ro<strong>do</strong>lfo Araújo Victor, Moacyr Souza Bezerra e Paulo Sergio Moscon.<br />
Agradeço aos amigos da pós-graduação em Física Alex Rios Costa , Deborah F. Jardim,<br />
Jardel da C. Brozeguini, Luis I. M. Bautista, Juliano P. Campos, Luiz A. S. Carrillo,<br />
Raphael Fracalossi, José A. Lourenço, Fernan<strong>do</strong> Leal, Paulo Oliveira, Alexrenan de<br />
Oliveira , Fábio Fagundes e aos amigos <strong>do</strong> LPT e LMC.<br />
Ao José Carlos, secretário da Pós-Graduação em Física pelos seus serviços presta<strong>do</strong>s.<br />
Agradeço aos meus familiares por to<strong>do</strong> o apoio dedica<strong>do</strong> a mim.<br />
À CAPES pela ajuda financeira para a Execução deste trabalho.<br />
À FAPES e FINEP pelo apoio aos projetos <strong>do</strong> LEMAG<br />
Ao LNLS pelas medidas de XMCD.
Resumo<br />
Neste trabalho, estudamos os efeitos das interfaces no ângulo de acoplamento<br />
magnético das camadas de Fe separadas pela fase metaestável bcc-Mn (δ-Mn), em três<br />
tricamadas tipo MgO[100]/Fe(5-20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si(8nm), preparadas por<br />
Molecular Beam Epitaxy. Provocamos interfaces distintas <strong>nas</strong> tricamadas modifican<strong>do</strong><br />
(i) a temperatura de crescimento <strong>do</strong>s filmes (temperatura <strong>do</strong> substrato) e (ii) a espessura<br />
da camada de Fe crescida sobre o substrato de MgO e/ou modifican<strong>do</strong> a rugosidade <strong>do</strong><br />
substrato, com crescimento de uma camada de Ag de 10nm (rugosidade superficial de<br />
uma monocamada). Investigamos sistematicamente o crescimento epitaxial das camadas<br />
e suas rugosidades interfaciais (estrutural e/ou química) através das técnicas de difração<br />
por reflexão de elétrons de alta energia e de espectroscopia Mössbauer por elétrons de<br />
conversão (camada (1nm) de 57 Fe depositada <strong>nas</strong> interfaces). Mostramos que a fase δ-<br />
Mn pode ser estruturada até 2,5 nm, diferentemente <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> inicialmente publica<strong>do</strong><br />
na literatura. Estudamos também as propriedades magnéticas volumétricas por meio da<br />
magnetometria de amostra vibrante, da ressonância ferromagnética e <strong>do</strong> dicroísmo<br />
circular magnético por absorção de raios-X. Simulamos, através <strong>do</strong> modelo proposto<br />
por Slonczewski, as curvas de magnetização (M(H)) medidas e dessa forma, obtivemos<br />
os diferentes ângulos de acoplamentos magnéticos entre as camadas de Fe. Em geral, os<br />
resulta<strong>do</strong>s indicam que: (i) a camada de Mn é antiferromagnética e (ii) as rugosidades<br />
estrutural e/ou química são as responsáveis pelos diferentes ângulos de acoplamento<br />
magnético. Portanto, fomos capazes de elucidar que o comportamento reporta<strong>do</strong> na<br />
literatura para o ângulo de acoplamento das camadas de Fe não é puramente devi<strong>do</strong> à<br />
variação da espessura da camada <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r (δ-Mn), mas principalmente devi<strong>do</strong> às<br />
rugosidades mencionadas.
Abstract<br />
In this work, we have studied the interface effects on the magnetic coupling of<br />
Fe layers separated by a bcc-Mn (δ-Mn) metastable phase in MgO[100]/Fe(5-<br />
20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si(8nm) trilayers, prepared by Molecular Beam Epitaxy.<br />
Different interfaces, in all studied trilayers, have been induced changing (i) substrate<br />
growth temperature and (ii) Fe thicknesses grown on MgO single crystals and/or<br />
modifying the substrate roughness with a deposition of 100 nm Ag layer (surface<br />
roughness of one monolayer). We have systematically investigated the layer epitaxy and<br />
structural or/and chemical roughnesses of the individual layers by High Energy Electron<br />
Diffraction and conversion Mössbauer spectroscopy (depositing 57 Fe (1nm) layers at the<br />
trilayers interfaces). We have also shown that the metastable δ-Mn phase can be<br />
stabilized up to 2.5 nm thick, differently from the results previously published in the<br />
literature. In addition, we have studied the bulk magnetic properties using vibrating<br />
sample magnetometer, ferromagnetic resonance and X-rays magnetic circular dicroism<br />
techniques. We have simulated the measured magnetization curves (M(H)) through the<br />
Slonczewski model and therefore we have obtained, for all trilayers, the magnetic<br />
coupling angle of Fe layers sandwiched by the 1nm δ-Mn phase. In general, our results<br />
suggest that structural or/and chemical roughnesses are the main causes for the different<br />
calculated Fe coupling angles. Moreover, we have shown that: (i) the δ-Mn layer is<br />
probably in a antiferromagnetic state and (ii) the observed magnetic coupling angle<br />
variation with δ-Mn thickness, as reported in the literature, is intrinsically connected<br />
with the mentioned roughnesses (interface Fe fractions are very different in all<br />
measured samples).
Sumário<br />
Capítulo 1 ....................................................................................................................... 20<br />
Introdução....................................................................................................................... 20<br />
Capítulo 2 ....................................................................................................................... 26<br />
Aspectos Gerais: <strong>Acoplamento</strong>s Magnéticos entre Camadas Adjacentes...................... 26<br />
Capítulo 3 ....................................................................................................................... 36<br />
Técnicas Experimentais.................................................................................................. 36<br />
3.1 Preparação das tricamadas (Tr-Fe/Mn/Fe) ............................................................... 37<br />
3.1.1 Epitaxia por Feixe de Moléculas ................................................................... 37<br />
3.1.2 Escolha e Preparo <strong>do</strong> Substrato MgO............................................................ 38<br />
3.1.3 Deposição das tricamadas (Tr-Fe/Mn/Fe) ..................................................... 40<br />
3.2 Caracterização das Tricamadas de Fe/Mn/Fe........................................................... 43<br />
3.2.1 Caracterização Estrutural............................................................................... 43<br />
3.2.1.1 Difração por Reflexão de Elétrons de Alta Energia (RHEED) .............. 43<br />
3.2.1.2 Espectroscopia de Retro-espalhamento Rutherford (RBS) .................... 47<br />
3.2.2 Caracterização Hiperfina ............................................................................... 49<br />
3.2.2.1 Espectroscopia Mössbauer por Conversão de Elétrons (CEMS) ........... 49<br />
3.2.3 Caracterização Magnética.............................................................................. 56<br />
3.2.3.1 Magnetometria de Amostra Vibrante (VSM)......................................... 56<br />
3.2.3.2 Ressonância Ferromagnética (FMR)...................................................... 57<br />
3.2.3.3 Dicroísmo Circular Magnético por Absorção de Raios-X (XMCD)...... 65
Capítulo 4 ....................................................................................................................... 69<br />
Análise <strong>do</strong>s Resulta<strong>do</strong>s................................................................................................... 69<br />
4.1 Resulta<strong>do</strong>s de RHEED.............................................................................................. 69<br />
4.2 Resulta<strong>do</strong>s de RBS ................................................................................................... 73<br />
4.3 Resulta<strong>do</strong>s de CEMS................................................................................................ 74<br />
4.4 Resulta<strong>do</strong>s de XMCD............................................................................................... 82<br />
4.5 Resulta<strong>do</strong>s de VSM .................................................................................................. 85<br />
4.6 Resulta<strong>do</strong>s de FMR .................................................................................................. 94<br />
4.6.1 Dependência angular no plano e fora <strong>do</strong> plano ............................................. 98<br />
Capítulo 5 ..................................................................................................................... 103<br />
Conclusão ..................................................................................................................... 103<br />
Referências: .................................................................................................................. 105
Lista de Figuras<br />
Figura 1- Representação da variação de espessura na interface e acoplamento<br />
biquadrático. Nesta representação temos o caso de tricamadas (Tr), com a espessura <strong>do</strong><br />
espaça<strong>do</strong>r varian<strong>do</strong> periodicamente entre n e n+1 camadas atômicas. As setas indicam a<br />
variação local na direção da magnetização de C1 (parte inferior) e C3 (parte superior).<br />
L corresponde a largura <strong>do</strong> terraço (parte plana). A variação de j1 ocorre entre degraus<br />
consecutivos (n e n+1), sen<strong>do</strong> dada por ∆J [22]............................................................. 29<br />
Figura 2 - Ilustração hipotética <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s quase-antiferromagnéticos <strong>do</strong> modelo de<br />
uur<br />
Slonczewski para um espaça<strong>do</strong>r de Cr ou Mn. Os momentos de C1 e C3 ( M 1 e M 3<br />
uur )<br />
estão extremamente vincula<strong>do</strong>s em serem não-colineares. Em (a), o espaça<strong>do</strong>r possui<br />
um número impar de camadas atômicas (m = 3). Em (b) possui um número par (m = 4)<br />
[19]. ................................................................................................................................ 32<br />
Figura 3 - Diagrama de fase a campo magnético externo nulo. S e AS representam<br />
respectivamente, as configurações simétricas e assimétricas. As regiões S e AS estão<br />
separadas pelas retas 3C- - C+ = 0 e C- - 3C+ = 0. As configurações de spins são<br />
mostradas em cada fase, M1 e M2(no nosso caso M3) representam as magnetizações das<br />
camadas de Fe superior e inferior respectivamente, h e e representam o eixo de difícil<br />
(“hard”) e fácil magnetização (“easy”), respectivamente [28]....................................... 34<br />
Figura 4 - Visão esquemática <strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong> Fe ccc sobre o substrato de<br />
MgO(001)[29]. ............................................................................................................... 39
Figura 5 - Geometria usada nos experimentos de RHEED. Um feixe de elétrons<br />
(~10keV) (fecha negra) incide sobre a superfície de uma amostra e é difrata<strong>do</strong> em uma<br />
tela fosforescente. O ângulo entre o feixe e a superfície da amostra é de ~ 3º[36]........ 44<br />
Figura 6 - Representação de um processo de difração usan<strong>do</strong> a representação da esfera<br />
de Ewald, construída a partir <strong>do</strong> vetor de onda <strong>do</strong> feixe incidente (ki) e requeren<strong>do</strong> que o<br />
feixe difrata<strong>do</strong> também se encontre sobre a circunferência devida pela energia <strong>do</strong> feixe<br />
incidente. Assim, gera-se uma condição que é k = ki + k, onde k é a diferença de<br />
fase[36]. .......................................................................................................................... 45<br />
Figura 7 - Representação da esfera de Ewald e esquematização de um processo de<br />
difração usual da geometria <strong>do</strong> RHEED [36]................................................................. 46<br />
Figura 8 - Figura esquemática <strong>do</strong>s níveis de energia <strong>do</strong> núcleo de 57 Fe da fonte (a) e<br />
para o absorve<strong>do</strong>r em três situações distintas: (b) absorve<strong>do</strong>r com átomos de Fe ten<strong>do</strong><br />
GCE = Bhf = 0,( c) absorve<strong>do</strong>r com átomos de Fe ten<strong>do</strong> GCE ≠ 0 e Bhf = 0 e( d)<br />
absorve<strong>do</strong>r com átomos de Fe ten<strong>do</strong> GCE = 0 e Bhf ≠ 0 [45]........................................ 53<br />
Figura 9 - Espectros Mössbauer para o átomo sonda 57 Fe consideran<strong>do</strong> o ângulo θ entre<br />
o feixe γ e a magnetização da amostra, como: a) 0 o<br />
θ ≈ ,b) 90 o<br />
θ ≈ e c) para um<br />
policristal magnético (magnetização isotrópica). ........................................................... 56<br />
Figura 10 - Precessão da magnetização da amostra devi<strong>do</strong> a ação <strong>do</strong> campo magnético<br />
externo ext<br />
H e <strong>do</strong> campo oscilante h ( t)<br />
........................................................................ 58<br />
Figura 11 - Diagrama mostran<strong>do</strong> os subníveis de energia em um sistema de spin ½(,não<br />
degenera<strong>do</strong>s pelo efeito Zeeman). Ef representa a energia <strong>do</strong> fóton incidente necessária<br />
para que haja ressonância. .............................................................................................. 60<br />
Figura 12 - Representação esquemática para os mo<strong>do</strong>s acústico e óptico <strong>nas</strong><br />
configurações transversal e longitudinal [47]................................................................. 61
Figura 13 - Magnetização M , campo magnético H e anisotropia uniaxial k<br />
representa<strong>do</strong>s em um sistema de coordenadas onde o filme encontra-se no plano XY<br />
[48]. ................................................................................................................................ 63<br />
Figura 14 - Curva característica de uma varredura no plano para uma tricamada de<br />
NiFe/FeMn/NiFe [48]..................................................................................................... 63<br />
Figura 15 - Curva característica de uma varredura fora <strong>do</strong> plano para uma tricamada de<br />
NiFe/FeMn/NiFe[48]...................................................................................................... 64<br />
Figura 16 - Transições <strong>do</strong>s níveis 2p para os buracos vazios <strong>do</strong> nível 3d <strong>do</strong>s metais de<br />
transição, as bolas azuis representam os elétrons com spin up e as verdes com spin<br />
<strong>do</strong>wn [53]........................................................................................................................ 66<br />
Figura 17 - Espectro de Absorção e dicroísmo (azul) para uma amostra de Fe[48]. ..... 67<br />
Figura 18 - Padrões de RHEED da MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si, (amostra A1)<br />
toma<strong>do</strong>s para diferentes espessuras das camadas de Fe e Mn, conforme indica<strong>do</strong> pelas<br />
letras (a-f). Do la<strong>do</strong> direito de cada padrão encontramos as figuras de RHEED obtidas<br />
pela câmera digital. Obtivemos cada padrão através de uma varredura ao longo da figura<br />
de RHEED. A linha vermelha marca a região onde foi feita à varredura para obter as<br />
figuras de RHEED.......................................................................................................... 72<br />
Figura 19 - Figuras de RHEED de um filme MgO/Fe(20nm)/Mn(2,5nm) prepara<strong>do</strong> a<br />
175ºC. Em (a) 20 nm de Fe; (b) 1nm de Mn; (c) 1,5nm de Mn e (d) 2,5nm de Mn. .... 72<br />
Figura 20 - Espectros de RBS/channeling e RBS/ran<strong>do</strong>m <strong>do</strong> filme MgO/Fe<br />
(5nm)/Mn(1nm)/Fe(1 nm)/a-Si(8nm) (amostra A1) preparada a 150°C. A figura inserida<br />
é uma ampliação da região de energia para mostrar as amplitudes <strong>do</strong>s sinais de RBS das<br />
camadas superior e inferior, como indicadas por setas. ................................................. 74<br />
Figura 21 - Espectros CEMS obti<strong>do</strong>s à temperatura ambiente para bicamada em (D) e<br />
tricamadas em (A), (B), e (C) preparadas a 50ºC, 100ºC e 150ºC. Os pontos são da<strong>do</strong>s
experimentais, enquanto as linhas correspondem aos sub-espectros e ao ajuste total. No<br />
centro desta figura as curvas de distribuição de Bhf, enquanto no la<strong>do</strong> direito um<br />
esquema <strong>do</strong>s filmes [14]................................................................................................. 76<br />
Figura 22 - Esquematização da distribuição <strong>do</strong>s átomos de Fe e Mn <strong>nas</strong> tricamadas e<br />
bicamada de Fe/Mn.A faixa verde, acima das bolinhas, representa a camada Si amorfa.<br />
........................................................................................................................................ 78<br />
Figura 23 - Em (a) espectro de CEMS, obti<strong>do</strong> à temperatura ambiente, para a tricamada<br />
MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 150 o C (Amostra A1). Em (b) a curva de<br />
distribuição de campos magnéticos hiperfinos para a Amostra A1. ............................... 80<br />
Figura 24 -Em (a) espectro CEMS obti<strong>do</strong> à temperatura ambiente para a tricamada<br />
MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) prepara<strong>do</strong> a 50 o C (Amostra A3). Em<br />
(b) a curvade distribuição de campos magnéticos hiperfinos para a Amostra A3. ......... 81<br />
Figura 25 - Espectro de XMCD da amostra MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si<br />
(amostra A1) na faixa de absorção <strong>do</strong> Fe com o feixe de radiação incidente a 45º <strong>do</strong><br />
plano da amostra. Em verde e vermelho são as absorções para polarização a direita e a<br />
esquerda, enquanto em preto temos os sinal de dicroísmo............................................. 83<br />
Figura 26 - Espectro de XMCD da tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si<br />
(amostra A1) na faixa de absorção <strong>do</strong> Mn com o feixe de radiação incidente a 45º <strong>do</strong><br />
plano da amostra............................................................................................................. 83<br />
Figura 27 - Visão esquemática da direção <strong>do</strong> campo aplica<strong>do</strong> para as medidas de<br />
magnetização das tricamadas MgO/Fe/Mn/Fe. .............................................................. 85<br />
Figura 28 - Curvas de magnetização (M(H)) em diferentes temperaturas das tricamadas<br />
MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A1 ) em (a),<br />
MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si ............................................................................ 86
Figura 29 - Padrões de <strong>do</strong>mínios observa<strong>do</strong>s em um Whisker de Fe/Mn/Fe. As<br />
espessuras das camadas de Fe permanecem constantes enquanto espessura <strong>do</strong> Mn varia<br />
em: (a) 0,08 – 0,25 nm;(b) 0,25 - 0,42 nm; (c) 0,38 – 0,55 nm (d) 0,5 – 0,67 nm; (e)<br />
0,62 – 0,79nm; (f) 0,79 – 0,96nm; (g)1,0 – 1,17 nm; (h) 1,13 – 1,3nm; ( i) 1,25 – 1,42<br />
nm ; (j) 1,5 – 1,7 nm; ( k) 2,5 – 2,7 nm e l) 0,55 – 0,63 nm. As setas sólidas e<br />
pontilhadas representam as magnetizações das camadas superior e inferir de Fe,<br />
respectivamente. De (a) a (k) as figuras têm a mesma escala e em (l) a imagem está em<br />
alta resolução [10]. ......................................................................................................... 87<br />
Figura 30 - Curva M(H), obtida a 290K, para a tricamada<br />
MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 175ºC (amostra A2). A linha vermelha,<br />
passan<strong>do</strong> pelos pontos experimentais, é o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuste usan<strong>do</strong> o modelo de<br />
Slonczewski. Os Valores das constantes de anisotropia das camadas superior (K1) e<br />
inferior (K2) assim como o ângulo de acoplamento θ são mostra<strong>do</strong>s nesta figura......... 91<br />
Figura 31 - Comportamento da energia magnética em função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento<br />
para a tricamada MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 175ºC (amostra A2).91<br />
Figura 32 - Curva M(H), obtida a 290K, para a tricamada<br />
MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 150ºC (amostra A1). A linha vermelha,<br />
passan<strong>do</strong> pelos pontos experimentais, é o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuste usan<strong>do</strong> o modelo de<br />
Slonczewski. Os valores das constantes de anisotropia das camadas superior (K1) e<br />
inferior (K2) assim como o ângulo de acoplamento θ são mostra<strong>do</strong>s nesta figura......... 92<br />
Figura 33 - Comportamento da energia magnética em função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento<br />
para a tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 150ºC(amostra A1) ... 92<br />
Figura 34 - Curva M(H), obtida a 290K, para a tricamada MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/<br />
/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 50ºC (amostra A3). A linha vermelha, passan<strong>do</strong> pelos<br />
pontos experimentais, é o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuste usan<strong>do</strong> o modelo de Slonczewski. Os
valores das constantes de anisotropia das camadas superior (K1) e inferior (K2) assim<br />
como o ângulo de acoplamento θ são mostra<strong>do</strong>s nesta figura........................................ 93<br />
Figura 35 -Comportamento da energia magnética em função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento<br />
para a tricamada MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 50ºC (<br />
amostra A2)..................................................................................................................... 93<br />
Figura 36 -Espectro de FMR (banda Q - 34 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e com<br />
campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />
MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A3). HR é o campo de<br />
ressonância...................................................................................................................... 94<br />
Figura 37 - Espectro de FMR (banda Q - 34 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e<br />
com campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da amostra <strong>do</strong> filme<br />
MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)( amostra A1). HR é o campo de ressonância. .......... 95<br />
Figura 38 - Espectro de FMR (banda X – 9,6 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e<br />
com campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />
MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) ( amostra A1). HR é o campo de ressonância. ......... 96<br />
Figura 39 - Espectro de FMR (banda Q – 34 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e<br />
com campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />
MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A2). HRI e HRS são os campos de<br />
ressonância devi<strong>do</strong> às camadas de Fe inferior e superior, respectivamente................... 97<br />
Figura 40 - Espectro de FMR (banda X - 9,6 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e<br />
com campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada MgO/<br />
Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A2). HRI e HRS são os campos de ressonância<br />
devi<strong>do</strong> às camadas de Fe inferior e superior, respectivamente....................................... 98<br />
Figura 41 - Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong> na banda<br />
Q (34 GHz), com campo estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada
MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A3). Amostra posicionada<br />
inicialmente, com relação ao campo, ao longo <strong>do</strong> eixo de fácil magnetização da camada<br />
de Fe [100] (vide Figura 27) .......................................................................................... 99<br />
Figura 42 -Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong> na<br />
Banda X (9,6GHz), com campo estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />
MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A1). Amostra posicionada inicialmente,<br />
com relação ao campo, ao longo <strong>do</strong> eixo de difícil magnetização da camada de Fe [110]<br />
(vide Figura 27) . ............................................................................................................ 99<br />
Figura 43 -Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong> na banda<br />
X (9,6 GHz), com campo estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />
MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A2). Amostra posicionada inicialmente,<br />
com relação ao campo, ao longo <strong>do</strong> eixo de fácil magnetização da camada de Fe [100]<br />
(vide Figura 27). Em vermelho a componente associada a camada de Fe inferior e em<br />
preto a componente associada a camada de Fe superior. ............................................. 100<br />
Figura 44 -Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong>s na banda<br />
Q (34 GHz) com campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> plano da tricamada<br />
MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A2)........................................................ 101<br />
Figura 45 - Dependência angular em relação ao campo de ressonância (banda Q 34<br />
GHz) com campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> filme Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra<br />
A1 )................................................................................................................................ 102<br />
Figura 46 - Dependência angular em relação ao campo de ressonância (banda X 9,6<br />
GHz) com campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> filme Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra<br />
A1 )................................................................................................................................ 102
Lista de Tabelas<br />
Tabela 1 – Técnicas utilizadas para a caracterização magnética e estrutural de cada<br />
amostra. .......................................................................................................................... 42<br />
Tabela 2 - Intensidades relativas de absorção para interação Zeeman nuclear em átomos<br />
de Fe [44]........................................................................................................................ 55<br />
Tabela 3 – Valores calcula<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s momentos de spin (<br />
eff<br />
ms f ) e orbital (ml ) <strong>do</strong>s átomos<br />
de Fe e de Mn na tricamada MgO/Fe(5 nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparadas a 150 ºC<br />
(amostra A1).................................................................................................................... 84<br />
Tabela 4 - Valores calcula<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s momentos de spin (<br />
eff<br />
ms f ) e orbital (ml ) <strong>do</strong>s átomos<br />
de Fe e de Mn na tricamada MgO/Fe(20 nm)/ Mn(1nm)/Fe(5nm) preparadas a 175 ºC<br />
(amostra A2).................................................................................................................... 84<br />
Tabela 5 - Valores de campo coercivo (Hc) e da razão entre as magnetizações<br />
remanente (Mr) e de saturação das tricamadas MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si<br />
(amostra A1), MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A2) e<br />
MgO/Ag(100nm)/Fe(105nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A3)................................. 86
Capítulo 1<br />
Introdução<br />
Há milênios (aproximadamente 3500 anos A.C.), nós humanos utilizamos as<br />
propriedades magnéticas da matéria para melhoria de nossas condições de vida.<br />
Podemos talvez afirmar que um <strong>do</strong>s marcos no uso <strong>do</strong> magnetismo da matéria ocorreu<br />
com a bússola, que foi vastamente utilizada pelos explora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> planeta Terra durante<br />
suas navegações. Entretanto, é na sociedade moderna que as aplicações <strong>do</strong> magnetismo<br />
da matéria tomaram suas devidas proporções e são hoje encontradas em quase to<strong>do</strong>s os<br />
lugares <strong>do</strong> nosso cotidiano, desde pequenos ímãs de geladeira (enfeites), passan<strong>do</strong> por<br />
núcleos de transforma<strong>do</strong>res e motores elétricos e chegan<strong>do</strong> a dispositivos sofistica<strong>do</strong>s<br />
tais como: grava<strong>do</strong>res magneto-ópticos, sensores magnéticos de posição, de<br />
temperatura, etc. Está, portanto demonstra<strong>do</strong> a forte dependência da nossa sociedade<br />
com as propriedades magnéticas da matéria (novas utilizações <strong>do</strong> magnetismo são<br />
propostas diariamente). Podemos ainda dizer que talvez um <strong>do</strong>s maiores impactos <strong>do</strong><br />
magnetismo atualmente ocorre via os dispositivos de armazenamento de da<strong>do</strong>s, os<br />
quais, em geral, se consistem de estruturas artificiais de materiais magnéticos<br />
prepara<strong>do</strong>s e investiga<strong>do</strong>s inicialmente nos laboratórios de pesquisa de instituições de<br />
pesquisa/ensino e também nos laboratórios das grandes empresas como, por exemplo,<br />
na IBM.<br />
Um <strong>do</strong>s objetivos atuais é a busca por armazenamento e leitura de grandes<br />
volumes de informações em espaços e tempos cada vez menores. Portanto, <strong>nas</strong> últimas<br />
quatro décadas, cientistas (físicos, químicos, engenheiros, etc) de materiais vêm<br />
20
concentran<strong>do</strong> suas investigações <strong>nas</strong> propriedades de materiais (sistemas) cada vez<br />
menores, principalmente buscan<strong>do</strong> entender e controlar melhor as propriedades de<br />
sistemas nanoscópicos (10 -9 m). Logo, o entendimento e o controle das propriedades<br />
destes sistemas são fundamentais, uma vez que, o esta<strong>do</strong> da arte <strong>do</strong>s dispositivos<br />
eletrônicos e mídia de armazenamento de da<strong>do</strong>s alcançaram um nível em que os<br />
materiais magnéticos têm que ser adapta<strong>do</strong>s à escala de tamanhos cada vez menores.<br />
Cabe ressaltar que esta evolução científica tem si<strong>do</strong> possível graças aos avanços na<br />
produção e caracterização de filmes finos durante as cinco últimas décadas <strong>do</strong> século<br />
passa<strong>do</strong>, ou seja, somos capazes de crescer (produzir) e caracterizar objetos magnéticos<br />
em escala atômica desde filmes finos (dimensão da camada perpendicular ao plano <strong>do</strong><br />
substrato da ordem de nanômetros, enquanto no plano os efeitos de bordas podem ser<br />
despreza<strong>do</strong>s) e fios unidimensionais (duas dimensões nanométricas e uma ao longo de<br />
um <strong>do</strong>s eixos com tamanho macroscópico) até os chama<strong>do</strong>s pontos quânticos (todas as<br />
dimensões da ordem de nanômetros).<br />
Devi<strong>do</strong> aos inúmeros efeitos observa<strong>do</strong>s e ainda pela “facilidade” de crescermos,<br />
de “controlarmos” e de reproduzirmos grande parte destes efeitos, as multicamadas<br />
(filmes) são de forte interesse nos dias atuais (aplicabilidade na indústria de tecnologia<br />
de gravação, de sensores, entre outras) [1]. As multicamadas são estruturas artificiais<br />
compostas por camadas alternadas de filmes finos de <strong>do</strong>is ou mais diferentes materiais.<br />
Nestes sistemas têm si<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>s novos fenômenos, cujas origens estão na quebra de<br />
simetria de longo alcance da rede cristalina e nos efeitos intrínsecos de interface<br />
(número de átomos <strong>nas</strong> interfaces próximos aos números encontra<strong>do</strong>s no bulk<br />
(volume)). Entre os vários resulta<strong>do</strong>s reporta<strong>do</strong>s na literatura sobre as multicamadas,<br />
ressaltamos alguns que entendemos que são mais relevantes: (a) o acoplamento de troca<br />
em filmes finos conten<strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>res magnéticos ou não-magnéticos [2], (b) a<br />
21
magnetorresistência gigante [3], (c) a magnetorresistência de tunelamento quântico [4],<br />
(d) o efeito de exchange bias [5], (e) os efeitos de baixa dimensionalidade em<br />
supercondutores [6], (f) as propriedades mecânicas anômalas [7], (g) as propriedades<br />
ópticas [8], entre outras.<br />
Neste trabalho, focalizamos nosso estu<strong>do</strong> no acoplamento entre camadas de ferro<br />
(Fe) separadas pela fase metaestável <strong>do</strong> manganês (δ-Mn). Cabe lembrar que o Mn é o<br />
único <strong>do</strong>s elementos da tabela periódica, da família <strong>do</strong> ferro (3d), que não se cristaliza<br />
<strong>nas</strong> fases cúbica de face centrada (cfc), cúbica de corpo centra<strong>do</strong> (ccc) ou hexagonal.<br />
Em condições de equilíbrio, abaixo de 720 ºC, o Mn possui uma estrutura cúbica<br />
conten<strong>do</strong> 58 átomos por célula unitária, chamada fase α (α-Mn). Entre 720ºC e 1100 ºC,<br />
ele ainda é cúbico, porém sua célula unitária contém 20 átomos (β-Mn). Acima de 1100<br />
ºC e abaixo de 1136 ºC, o Mn pode possuir uma estrutura cfc (γ -Mn) ou pode retornar<br />
para a fase α. Entre 1136 ºC e 1244 ºC, ele se encontra na fase δ-Mn (estrutura ccc).<br />
Para temperaturas superiores, o Mn passa ao esta<strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> [9]. Portanto, a única<br />
maneira de se produzir às fases cfc ou ccc <strong>do</strong> Mn é através de processos de crescimento<br />
de filmes por epitaxia [10, 11, 12, 13 e 14]. Este processo de crescimento nada mais é<br />
<strong>do</strong> que aquele de crescimento de camadas com a forma cristalina <strong>do</strong> substrato, ou seja,<br />
com a rede cristalina e parâmetro de rede próximo ao <strong>do</strong> substrato. Um <strong>do</strong>s primeiros a<br />
investigar o crescimento de filmes de Mn por técnica de epitaxia foi Kim e cols.[15].<br />
Entretanto, vários pontos estão ainda em aberto com relação às superestruturas conten<strong>do</strong><br />
camadas de Mn, principalmente em sistemas que possuem as fases cfc-(γ-Mn) ou ccc-<br />
(δ-Mn) <strong>do</strong> Mn estabilizadas à temperatura ambiente (fases metaestáveis). Queremos<br />
frisar que Qiu e cols.[ 16] mostraram teoricamente que cristais de elementos metálicos<br />
(elementos 3d) , com estrutura tetragonal (tcc), possuem <strong>do</strong>is esta<strong>do</strong>s magnéticos (um<br />
fundamental e um metaestável) de equilíbrio, dependen<strong>do</strong> das diferentes razões <strong>do</strong>s<br />
22
parâmetros c/a (a é o parâmetro de rede no plano e c o parâmetro de rede fora <strong>do</strong> plano).<br />
Para o Mn o esta<strong>do</strong> fundamental deveria ser antiferromagnético (AFM). Portanto, entre<br />
possíveis investigações com sistemas conten<strong>do</strong> camadas de Mn, ressaltamos que devem<br />
ser feitos mais estu<strong>do</strong>s sobre o esta<strong>do</strong> magnético das fases metaestáveis δ-Mn e γ-Mn.<br />
Além disso, devemos buscar entender o mecanismo de acoplamento magnético<br />
existente entre camadas fi<strong>nas</strong> ferromagnéticas (FM) de Fe separadas pela fase δ-Mn, já<br />
que a fase γ-Mn não pode ser crescida por epitaxia sobre uma camada de Fe.<br />
A primeira questão (crescimento da fase δ-Mn) foi inicialmente estudada por<br />
Andrieu e cols. [13], utilizan<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> de crescimento chama<strong>do</strong> de Molecular Beam<br />
Epitaxy (MBE). Os autores investigaram a possibilidade de crescimento de camadas de<br />
Mn sobre um disco (wisker) de Fe monocristalino (substrato) e usaram as técnicas de<br />
absorção de raios-X EXAFS (Extended X-ray Absorption Fine Structure) e XMCD (X-<br />
ray Magnetic Circular Dichroism) para estudarem o magnetismo e tipo de estrutura.<br />
Eles mostraram que para filmes de Mn (descobertos) têm uma transição estrutural e<br />
magnética, quan<strong>do</strong> duas ou três monocamadas de Mn (~ 0,55 nm) são crescidas sobre o<br />
disco de Fe. Antes da transição estrutural, o esta<strong>do</strong> magnético <strong>do</strong> Mn, cresci<strong>do</strong><br />
epitaxialmente sobre o disco de Fe, parece ser <strong>do</strong> tipo AFM. Por outro la<strong>do</strong>, Passamani<br />
e cols. [14] estudaram tricamadas de Fe(5nm)/Mn(0,5-3,0nm)/Fe(5nm) crescidas sobre<br />
substratos de MgO monocristalinos. Eles mostraram que: (i) a camada de Mn, com a<br />
fase metaestável δ-Mn, era estabilizada até espessuras de 1nm, independente da<br />
temperatura de crescimento <strong>do</strong> filme (TS); (ii) a rugosidade química aumentava à<br />
medida que a TS aumentava e finalmente (iii) as interfaces superior e inferior eram<br />
diferentes <strong>do</strong> ponto de vista da rugosidade, sen<strong>do</strong> a interface inferior menos rugosa.<br />
Com relação à questão <strong>do</strong> acoplamento magnético entre as camadas de Fe,<br />
podemos enfatizar que as superestruturas <strong>do</strong> tipo Fe/Mn têm atraí<strong>do</strong> considerável<br />
23
atenção <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res nos últimos anos devi<strong>do</strong> à riqueza e variedade das estruturas<br />
magnéticas encontradas nestes acoplamentos, que dependem da espessura da camada de<br />
Mn (δ-Mn) e/ou da intensidade <strong>do</strong> campo magnético aplica<strong>do</strong> [10]. É importante<br />
mencionar que a compreensão <strong>do</strong> mecanismo responsável pelo acoplamento de camadas<br />
FM separadas por espaça<strong>do</strong>res AFM ou não-magnéticos é ainda tema atual de várias<br />
pesquisas, já que vários são os fatores responsáveis pelos diferentes resulta<strong>do</strong>s<br />
reporta<strong>do</strong>s na literatura [17-18]. Por exemplo, além de fatores intrínsecos das interfaces<br />
(rugosidade, interdifusão, etc), é importante levar em conta o fato de se tratar com<br />
espaça<strong>do</strong>res AFM (tipo Cr), que são não-passivos ou com espaça<strong>do</strong>res não-magnéticos,<br />
que são ditos passivos. Particularmente para espaça<strong>do</strong>res AFM, Slonczewski [19]<br />
propôs um modelo fenomenológico que descreve ao ângulo de acoplamento planar entre<br />
as camadas de Fe, basea<strong>do</strong> em uma estrutura em espiral <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r AFM.<br />
Gostaríamos também de mencionar que os diferentes ângulos de acoplamentos<br />
planares entre as camadas de Fe separadas por distintas espessuras da camada de δ-Mn<br />
ainda carecem de investigação, já que estes ângulos variam desde ângulos pequenos<br />
valores (~30°), passam por um valor de 180° e depois retornam ao valor de 90° à<br />
medida que a espessura de Mn cresce de 2 monocamadas para 8 monocamadas de Mn<br />
[10]. Além disso, Tulchinsky e cols. [20] mostraram que o acoplamento não colinear é<br />
favoreci<strong>do</strong> para TS ≥ 150°C. Portanto, fizemos nesta dissertação um estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> efeito<br />
causa<strong>do</strong> por diferentes interfaces (diferentes graus de rugosidades) sobre o ângulo de<br />
acoplamento entre as camadas de Fe separadas por uma camada de δ-Mn de 1 nm (~ 6<br />
monocamadas). Obtivemos as diferentes interfaces preparan<strong>do</strong> tricamadas tipo Fe(5-<br />
20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) crescidas sobre substrato de MgO em diferentes TS. Assim,<br />
estudamos o processo de epitaxia das camadas de Fe e Mn por MBE e caracterizamos<br />
localmente e volumetricamente as propriedades magnéticas destas camadas (e das<br />
24
tricamadas) com as técnicas de Difração por Reflexão de Elétrons de Altas Energias<br />
(RHEED), Espalhamento Rutherford (RBS), Espectroscopia Mössbauer Elétrons de<br />
Conversão (CEMS), Dicroísmo Circular Magnético por Absorção de Raios-X (XMCD),<br />
Ressonância Ferromagnética (RFM) e Magnetometria de Amostra Vibrante (VSM).<br />
Além das tricamadas acima mencionadas, preparamos um filme de δ-Mn com<br />
aproximadamente 15 monocamadas, para investigar as discrepâncias entre os resulta<strong>do</strong>s<br />
reporta<strong>do</strong>s na literatura referente ao crescimento epitaxial das camadas de Mn (limite<br />
para espessura da fase δ-Mn) [10, 13 e 14]. No capítulo 2 desta dissertação,<br />
apresentamos alguns conceitos básicos sobre o magnetismo de tricamadas, incluin<strong>do</strong> o<br />
modelo proposto por Slonczewski. No capítulo 3, descreveremos as técnicas de<br />
preparação e caracterização das tricamadas. No capítulo 4, apresentaremos os resulta<strong>do</strong>s<br />
e discussões das medidas realizadas <strong>nas</strong> tricamadas deste trabalho. Finalmente, no<br />
capítulo 5 teceremos nossas conclusões sobre o trabalho realiza<strong>do</strong> nesta dissertação.<br />
25
Capítulo 2<br />
Aspectos Gerais: <strong>Acoplamento</strong>s Magnéticos entre Camadas Adjacentes<br />
Filmes finos são materiais que, depois de deposita<strong>do</strong>s sobre um substrato<br />
conveniente, possuem uma espessura da ordem de Angstrons (10 -10 m) e suas<br />
propriedades físicas são ditadas pela superposição <strong>do</strong>s efeitos de interface (superfície) e<br />
de bulk (volume). Os filmes finos sóli<strong>do</strong>s podem ser aqueles em forma de solução sólida<br />
metaestável (liga) ou em forma de multicamadas. Por um la<strong>do</strong>, os filmes em forma de<br />
ligas são prepara<strong>do</strong>s, geralmente, a partir da co-deposição de vapores <strong>do</strong>s metais que se<br />
deseja produzir os filmes. Por outro la<strong>do</strong>, as multicamadas são obtidas através de<br />
empilhamentos alterna<strong>do</strong>s de camada individuais distintas, mas cada uma com<br />
espessura da ordem de alguns Angstrons (Ǻ). Cabe dizer que uma camada individual<br />
pode ser um filme em forma de liga (solução sólida), amplian<strong>do</strong> a gama de pesquisas<br />
devidas às infinitas possibilidades de combinações entre os elementos químicos para<br />
formarem uma liga.<br />
Particularmente, <strong>nas</strong> multicamadas, devi<strong>do</strong> à quebra de simetria entre as<br />
camadas adjacentes (região de interface), vários novos fenômenos têm si<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>s<br />
<strong>nas</strong> últimas três décadas [2, 3, 4 e 5]. Portanto, como em uma multicamada existem<br />
várias interfaces, complican<strong>do</strong> excessivamente o entendimento <strong>do</strong>s mecanismos<br />
responsáveis por esses novos efeitos (exemplo: acoplamento magnético entre as<br />
camadas magnéticas separadas por camadas magnéticas ou não), ultimamente tem-se<br />
busca<strong>do</strong> sistemas mais simples, mas que trazem no seu bojo os efeitos das interfaces<br />
sobre as propriedades físicas das multicamadas. Dentre estes sistemas “simples”<br />
destacamos as bicamadas (Bi) e tricamadas (Tr). Esta última classe possui basicamente<br />
26
as seguintes interfaces: substrato(S)/camada1(C1); C1/C2; C2/C3 e finalmente C3/ar ou<br />
C3/C-protetora. As interfaces S/C1 e C3/ar (C3/C-protetora) são geralmente escolhidas<br />
de mo<strong>do</strong> a não influenciar no caráter magnético <strong>nas</strong> propriedades <strong>do</strong> sistema (Tr). Em<br />
geral, as camadas C1 e C3 são camadas magnéticas monoatômicas ou em forma de liga,<br />
enquanto a C2 (espaça<strong>do</strong>r) pode ser não-magnética ou magnética. Quan<strong>do</strong> a C2 for não<br />
magnético o espaça<strong>do</strong>r é conheci<strong>do</strong> com passivo <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> magnetismo, já<br />
que os elétrons de condução, responsáveis por um possível acoplamento magnético<br />
entre as camadas C1 e C3, não sofrem modificações direta na sua polarização de spins.<br />
Neste caso, um modelo aceitável para descrever o mecanismo de interação magnética<br />
entre as camadas C1 e C3 é o modelo de Heisenberg modifica<strong>do</strong>, ou seja, é o modelo<br />
que leva em conta termos superiores da interação <strong>do</strong> spin total da C1 com o da C3.<br />
Quan<strong>do</strong> o espaça<strong>do</strong>r é magnético (ativo), os elétrons de condução da C1 possuem suas<br />
polarizações modificadas pelos spins da C2, assim como os da C3 são influencia<strong>do</strong>s<br />
pela C2 e assim por diante. Neste caso, o modelo para espaça<strong>do</strong>r ativo é descrito por<br />
Slonczewski [19, 21, 22 e 23].<br />
Suponha uma Tr conforme descrito acima, mas que as interfaces não sejam<br />
perfeitamente pla<strong>nas</strong>, mas possuem rugosidade em forma de degraus (Figura 1). O<br />
hamiltoniano da parte magnética (supon<strong>do</strong> campo externo nulo) que descreve a<br />
interação magnética entre C1 e C3, supon<strong>do</strong> também um espaça<strong>do</strong>r passivo (não-<br />
magnético), é simplesmente o de Heisenberg, com ordens superiores <strong>nas</strong> interações<br />
entre os spins (magnetização líquida das camadas – Mi) das camadas C1 e C3, ou seja, o<br />
hamiltoniano conten<strong>do</strong> termos quadráticos e biquadráticos entre Mi das camadas [19].<br />
27
1<br />
2<br />
( ) 2<br />
cos<br />
28<br />
E = − j cosθ + j θ<br />
(1.1)<br />
Especificamente, o termo j1 representa a interação bilinear (quadrático) entre as<br />
uuur uuur<br />
camadas ferromagnéticas (C1 e C3), isto é, j1 é proporcional à M1 M 3 , onde<br />
uuuv<br />
M1<br />
e 3 M<br />
uuuv são os vetores magnetizações das C1 e C3 separadas por um espaça<strong>do</strong>r não-<br />
magnético (C2) e θ é o ângulo forma<strong>do</strong> entre os vetores magnetizações de C1 e C3. O<br />
termo j2 representa a interação biquadrática entre as camadas C1 e C3, com j2<br />
uuuur uuur<br />
2<br />
proporcional à ( M M ) . Termos de jn(cosθ) n , com n≥ 3, são desconsidera<strong>do</strong>s devi<strong>do</strong><br />
1 3<br />
suas magnitudes inferiores em relação os termos j1 e j2 [21]. Em resumo, o termo j2 é<br />
adiciona<strong>do</strong> às contribuições de energia magnética, pois j1 só produz valores de mínimos<br />
de energia para θ = 0 (ferromagnetismo) e θ = π (antiferromagnetismo). Portanto, j2 é<br />
um termo que levará em conta a rugosidade interfacial (frustração de spins <strong>nas</strong><br />
interfaces), poden<strong>do</strong> fazer com que o ângulo de acoplamento entre C1 e C3 esteja entre<br />
zero e π.<br />
Slonczewski [22] propôs que j2 fosse proporcional à<br />
(<br />
∆ 2<br />
J ) × L<br />
, onde ∆J é a<br />
amplitude de oscilação sofrida por j1 entre <strong>do</strong>is terraços (regiões pla<strong>nas</strong> da interface), L<br />
é o tamanho médio <strong>do</strong>s terraços e Aex é a constante de rigidez de troca <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r<br />
(intralayer Exchange stiffness) (Figura 1).<br />
Aex
Figura 1- Representação da variação de espessura na interface e acoplamento biquadrático.<br />
Nesta representação temos o caso de tricamadas (Tr), com a espessura <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r varian<strong>do</strong><br />
periodicamente entre n e n+1 camadas atômicas. As setas indicam a variação local na direção<br />
da magnetização de C1 (parte inferior) e C3 (parte superior). L corresponde a largura <strong>do</strong><br />
terraço (parte plana). A variação de j1 ocorre entre degraus consecutivos (n e n+1), sen<strong>do</strong> dada<br />
por ∆J [22].<br />
É importante ressaltar que j1 e j2 são, em certo senti<strong>do</strong>, as integrais de troca e<br />
onde seus valores e sinais são aqueles de energia magnética mínima em relação à θ .<br />
Portanto, minimizan<strong>do</strong> a energia magnética da interação da Tr podemos escrever que:<br />
E = − j cos θ + j (cos θ )<br />
1 2<br />
dE<br />
= j1senθ − 2 j2 cosθ<br />
senθ<br />
dθ<br />
dE<br />
= senθ ( j1 − 2 j2<br />
cos θ )<br />
dθ<br />
2<br />
29<br />
(1.2)<br />
dE<br />
Obrigatoriamente, no ponto de mínimo da energia, temos = 0 . Logo, temos<br />
dθ<br />
que ou senθ = 0 e neste caso, θ nπ<br />
= com n inteiro ou 1<br />
j<br />
cosθ<br />
= (ou ambos<br />
2 j<br />
satisfazen<strong>do</strong> as relações para os valores de θ). Para n = 0 (acoplamento ferromagnético)<br />
2
a integral de troca J é positiva para garantir que o princípio de mínima ação seja<br />
respeita<strong>do</strong>. Para n = 1 (acoplamento antiferromagnético) a integral de troca J é negativa<br />
j1<br />
pela mesma razão e/ou podemos ter −1<br />
≤ ≤ 1.<br />
Portanto, para acoplamentos<br />
2 j<br />
coplanares podemos, em princípio, obter qualquer valor para θ entre zero e π. Cabe<br />
dizer que para o acoplamento ortogonal entre C1 e C3, j1 (valor médio) necessariamente<br />
tem que ser nulo. O modelo até aqui discuti<strong>do</strong> é conheci<strong>do</strong> como o de Heisenberg<br />
modifica<strong>do</strong>, que toma como base o fato que a camada espaça<strong>do</strong>ra (C2) ser não-<br />
magnética (passiva magneticamente).<br />
Entretanto, nesta dissertação de mestra<strong>do</strong>, C2 é uma fase sólida <strong>do</strong> Mn, que<br />
estritamente falan<strong>do</strong> pode ser não-magnético, similar ao caso <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r Cr (fase<br />
cúbica de face centrada é antiferromagnética (AFM)) [24]. No caso <strong>do</strong> Cr, uma série de<br />
artigos teóricos mostra um arranjo helicoidal quase-AFM <strong>do</strong>s spins para o Cr <strong>nas</strong><br />
tricamadas (Fe/Cr/Fe), como solução da aproximação de tight-binding[24]. Assim,<br />
podemos esperar efeito semelhante no caso de espaça<strong>do</strong>res AFM, como pode ser o caso<br />
da fase cúbica de corpo centra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Mn. [25 e 26]<br />
Dada a complexidade <strong>do</strong>s cálculos por méto<strong>do</strong>s de primeiros princípios (méto<strong>do</strong><br />
Hartree-Fock) é útil interpretar as medidas de acoplamento entre camadas magnéticas<br />
usan<strong>do</strong> uma descrição fenomenológica, que reflita a física <strong>do</strong> problema. Pensan<strong>do</strong><br />
heuristicamente em termos da aproximação tight-binding, o spin efetivo da i-ésima<br />
célula atômica dentro <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r é dada por [19]:<br />
ur<br />
Onde 〈 σ ( x)<br />
〉<br />
ur<br />
≡ 〈 σ ( ) 〉<br />
∫<br />
Si 3<br />
dr x<br />
i<br />
2<br />
30<br />
(1.3)<br />
é <strong>do</strong> valor espera<strong>do</strong> <strong>do</strong> opera<strong>do</strong>r de densidade de spin <strong>do</strong> elétron<br />
itinerante. Assumin<strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s os spins estão colineares no esta<strong>do</strong> fundamental, vamos<br />
uur<br />
tomar uma pequena rotação relativa entre os momentos magnéticos M 1 e M 3<br />
uur para fora
<strong>do</strong> equilíbrio. Consideran<strong>do</strong> o desvio relativoϕ ij (> 0) das monocamadas i e j de um<br />
arranjo colinear (aqui não distinguiremos o sinal de Si),a diferença (aumento) da energia<br />
livre magnética de acoplamento <strong>do</strong> sistema (W) pode ser escrita como sen<strong>do</strong><br />
∑<br />
[19]: K S S (1 − cos ϕ ) , onde Kij é uma integral de troca efetiva de cada interação<br />
ij<br />
ij i j ij<br />
camada-camada. Assumin<strong>do</strong> que Kij contribui energeticamente somente para vizinhos<br />
próximos, e que ϕ i, i+<br />
1 é pequeno em relação à θ (ângulo entre as camadas), em uma<br />
porção <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r possuin<strong>do</strong> m monocamadas, o desvio relativo será da<strong>do</strong> por<br />
ϕ i, i+<br />
1 ≈<br />
{ θ }<br />
, se o acoplamento é ferromagnético (<br />
m<br />
fundamental e ϕ i, i+<br />
1 ≈<br />
31<br />
uur uur<br />
M 1 M 3<br />
uur = uur ) para o esta<strong>do</strong><br />
M 1 M 3<br />
uur uur<br />
{ π −θ}<br />
M 1 M 3<br />
se o acoplamento for antiferromagnético ( uur = − uur )<br />
m<br />
M 1 M 3<br />
para o esta<strong>do</strong> fundamental. A notação entre chaves indica que θ ≤ π . Assim, W é<br />
quadrático emϕ ij , consequentemente em { θ} e/ou{ π − θ}<br />
, uma vez que,<br />
cosϕij<br />
= ∑<br />
[19]:<br />
0<br />
( 1) ( ϕ )<br />
∞ −<br />
n 2n<br />
ij<br />
(2 n)!<br />
. Assim, é possível escrevermos a energia magnética dada por<br />
W = C { θ} + C { π − θ}<br />
, (1.4)<br />
2 2<br />
+ −<br />
Os coeficientes C+ e C- refletem as contribuições magnéticas das regiões, onde o<br />
espaça<strong>do</strong>r possui um número impar(Figura 2 (a)) ou par (Figura 2 (b)) de<br />
monocamadas, respectivamente.
Figura 2 - Ilustração hipotética <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s quase-antiferromagnéticos <strong>do</strong> modelo de<br />
uur uur<br />
Slonczewski para um espaça<strong>do</strong>r de Cr ou Mn. Os momentos de C1 e C3 ( M 1 e M 3 ) estão<br />
extremamente vincula<strong>do</strong>s em serem não-colineares. Em (a), o espaça<strong>do</strong>r possui um número<br />
impar de camadas atômicas (m = 3). Em (b) possui um número par (m = 4) [19].<br />
Em outras palavras, C+ e C- refletem as contribuições de acoplamentos<br />
ferromagnéticas e antiferromagnéticas entre as camadas ferromagnéticas (no nosso caso<br />
α-Fe). Vale chamar atenção que esta modelagem foi realizada sob as seguintes<br />
considerações: (i) assumimos que a magnetização da camada FM está paralela ao plano<br />
<strong>do</strong> filme, (ii) não “há” campos de demagnetização (valor desprezível em relação aos<br />
outros termos de energia) e finalmente (iii) também assumimos que os spins de uma<br />
camada individual FM permanecem paralelos uns com os outros devi<strong>do</strong> a um forte<br />
acoplamento de troca (intralayer-exchange). No nosso caso(Fe/Mn/Fe) para medidas<br />
com campos externos, temos que levar em conta para a energia magnética termos tais<br />
como: (a) energia de anisotropia cúbica <strong>do</strong> Fe, (b) energia Zeeman e (c) energia de<br />
acoplamento na forma da equação 1.4.<br />
32
Portanto, podemos escrever a energia total E por unidade de área como [27]:<br />
E = E + E + E ,<br />
a h c<br />
Kt sen<br />
Ea<br />
=<br />
4<br />
sen<br />
E = −HMt(cos Φ + cos Φ ),<br />
h<br />
2 2<br />
[( 2 Φ 1) + ( 2 Φ2<br />
) ]<br />
,<br />
1 2<br />
E = C ( Φ − Φ ) + C ( π − Φ − Φ ) ,<br />
c<br />
2 2<br />
+ 1 2 −<br />
1 2<br />
33<br />
(1.5)<br />
Onde a E é a energia de anisotropia, h E é a energia Zeeman e E c é a energia<br />
de acoplamento sugerida por Slonczewski[19]. Na equação (1.5), t, M, K e H são,<br />
respectivamente, as espessuras das camadas FM (Fe), a magnetização de saturação das<br />
camadas de Fe, a anisotropia cúbica de primeira ordem, e o campo externo aplica<strong>do</strong>. 1 Φ<br />
(ou Φ 2 ) é o ângulo entre o vetor magnetização da primeira (ou segunda) camada FM<br />
(Fe) e a direção <strong>do</strong> campo. Φ1 − Φ 2 = θ (0 ≤ θ ≤ π ) é o ângulo entre os <strong>do</strong>is vetores<br />
de magnetização das camadas FM (Fe) a um da<strong>do</strong> campo externo (chama<strong>do</strong> ângulo de<br />
acoplamento).<br />
Yan e cols. [28] obtiveram o diagrama de fase magnético para tricamadas<br />
Fe/Mn/Fe basea<strong>do</strong> no modelo sugeri<strong>do</strong> por Slonczewski. Tal diagrama é obti<strong>do</strong><br />
minimizan<strong>do</strong> a energia total (equação 1.5) em relação à 1 Φ e Φ 2 . Ao minimizar a<br />
energia total <strong>do</strong> sistema os autores encontraram: (i) uma solução simétrica ( Φ 1 = −Φ 2 ),<br />
fase simétrica, isto é, uma solução onde as duas magnetizações (camadas superior e<br />
inferior) são simétricas em relação à direção <strong>do</strong> campo magnético aplica<strong>do</strong> e (ii) uma<br />
solução assimétrica ( Φ1 ≠ −Φ 2 ), fase assimétrica, onde as duas magnetizações são<br />
assimétricas em relação à direção <strong>do</strong> campo magnético aplica<strong>do</strong>. Assim, Yan e cols.<br />
[28] obtiveram o diagrama de fase C- versus C+ a campo magnético externo nulo (para
campos magnéticos não nulos não é possível uma solução analítica, ape<strong>nas</strong> uma solução<br />
numérica), o gráfico obti<strong>do</strong> por eles pode ser visto na Figura 3.<br />
Figura 3 - Diagrama de fase a campo magnético externo nulo. S e AS representam<br />
respectivamente, as configurações simétricas e assimétricas. As regiões S e AS estão separadas<br />
pelas retas 3C- - C+ = 0 e C- - 3C+ = 0. As configurações de spins são mostradas em cada fase,<br />
M1 e M2(no nosso caso M3) representam as magnetizações das camadas de Fe superior e<br />
inferior respectivamente, h e e representam o eixo de difícil (“hard”) e fácil magnetização<br />
(“easy”), respectivamente [28].<br />
A fase simétrica pode ser dividida em duas regiões S1 e S2 (vide Figura 3). Na<br />
região S1 ( C − 3C > 0 ), a configuração de spin das duas magnetizações é simétrica em<br />
− +<br />
relação ao eixo fácil, e o ângulo θ está na faixa de 3 π / 4 < θ ≤ π . Somente quan<strong>do</strong> C+=<br />
0 e C- > 0 as duas magnetizações podem alinhar-se antiparalelamente (acoplamento<br />
antiferromagnético). Na região S2 ( 3C − C < 0 ), a configuração de spin é simétrica e<br />
− +<br />
0 ≤ θ ≤ π / 4 . Somente quan<strong>do</strong> C- = 0 e C+ > 0, as duas magnetizações alinham-se<br />
paralelamente (acoplamento ferromagnético). A fase assimétrica pode ser dividida<br />
34
assim como a parte simétrica em duas regiões AS1 e AS2, como mostra<strong>do</strong> na Figura 3.<br />
Na região AS1 ( C − 3C < 0 e C − C ≥ 0 ), a configuração de spin é assimétrica em<br />
− +<br />
− +<br />
relação ao eixo de fácil magnetização (porém simétrica em relação ao eixo de difícil<br />
magnetização), e π / 2 ≤ θ ≤ 3 π / 4 . Somente quan<strong>do</strong> C+= C- > 0, as duas magnetizações<br />
ficam perpendiculares (acoplamento 90º). Na região AS2 (3C − C > 0 e C − C ≤ 0 ) a<br />
− +<br />
− +<br />
configuração de spin é assimétrica (mas simétrica em relação ao eixo de difícil<br />
magnetização), e π / 4 < θ ≤ π / 2 . Portanto, está claro a riqueza <strong>do</strong> diagrama de fase<br />
magnético em sistemas tricamadas com duas camadas ferromagnéticas separadas por<br />
uma camada antiferromagnética. É importante ressaltar que o diagrama aqui exposto<br />
leva em conta uma “rugosidade ideal” formada ape<strong>nas</strong> por degraus. O diagrama ficaria<br />
ainda mais interessante se efeitos de interfaces como rugosidade química, difusão<br />
atômica etc., que de fato ocorrem na física experimental, fossem considera<strong>do</strong>s. Mas<br />
infelizmente ainda não temos um modelo para descrever tal fenômeno e esperamos<br />
demonstrar neste trabalho essa necessidade.<br />
35
Capítulo 3<br />
Técnicas Experimentais<br />
Neste trabalho, utilizamos a Epitaxia por Feixe de Moléculas (MBE) para o<br />
crescimento das tricamadas (Tr) de Fe/Mn/Fe sobre um substrato monocristalino e<br />
orienta<strong>do</strong> de MgO(001). Crescemos as tricamadas (Tr) por MBE no Instituut Voor<br />
Kern–en Stralingsfysica (IKS), da Katholieke Universiteit Leuven (KULeuven), na<br />
Bélgica. Para as caracterizações estruturais <strong>do</strong>s filmes (verificação da qualidade<br />
individual das camadas), utilizamos basicamente duas técnicas experimentais<br />
disponíveis no IKS-KULeuven: (i) a Difração por Reflexão de Elétrons de Alta Energia<br />
(RHEED), para acompanhar in-situ o crescimento epitaxial no plano das camadas<br />
(monocamada por monocamada) e (ii) a Espectroscopia de Retro-espalhamento<br />
Rutherford (RBS), para verificar, com medições ex-situ, o crescimento epitaxial das<br />
camadas na direção normal ao plano <strong>do</strong> filme. Estudamos as propriedades magnéticas<br />
das tricamadas, ex-situ, através das técnicas experimentais: (i) Magnetometria de<br />
Amostra Vibrante (VSM) (IKS–KULeuven), (ii) Dicroísmo Circular Magnético por<br />
Absorção de Raios-X (XMDC) (LNLS–Campi<strong>nas</strong>), (iii) Ressonância Ferromagnética<br />
(FMR) (UFG) e Espectroscopia Mössbauer por Conversão de Elétrons (CEMS)<br />
(LEMAG/<strong>UFES</strong> e IKS–KULeuven).<br />
36
3.1 Preparação das tricamadas (Tr-Fe/Mn/Fe)<br />
3.1.1 Epitaxia por Feixe de Moléculas<br />
Como mencionamos acima, usamos a Epitaxia por Feixe de Moléculas (MBE =<br />
Molecular Beam Epitaxy) neste trabalho, para o crescimento das tricamadas Fe/Mn/Fe<br />
sobre substratos (2cm 2 ) de MgO(001). Nesta técnica, um feixe de átomos ou moléculas,<br />
em um ambiente de ultra alto vácuo (UHV) (~ 10 -10 – 10 -11 Torr), condensa (perde<br />
energia cinética) sobre um monocristal 1 orienta<strong>do</strong> de MgO. De um mo<strong>do</strong> geral, os<br />
substratos são processa<strong>do</strong>s (fabrica<strong>do</strong>s) para produzir uma superfície com baixa<br />
rugosidade superficial (algumas monocamadas), de mo<strong>do</strong> a favorecer um crescimento<br />
epitaxial sem grandes tensões inter<strong>nas</strong> geradas pelas rugosidades. Os átomos (ou<br />
moléculas) ao chegarem ao substrato, formarão uma camada que terá (se controla<strong>do</strong>s<br />
corretamente) parâmetro de rede e estrutura cristalina semelhante as <strong>do</strong> substrato<br />
monocristalino, por isso crescimento epitaxial (epi = mesma forma e taxia = sobre algo).<br />
Ao contrário da técnica de deposição por Sputtering, onde os átomos são arranca<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
alvo por transferência de momentum <strong>do</strong> feixe de íons cria<strong>do</strong> pelo gás de trabalho (ex.<br />
argônio), na técnica de MBE os átomos <strong>do</strong>s vapores a serem deposita<strong>do</strong>s são obti<strong>do</strong>s<br />
pelo aquecimento <strong>do</strong>s alvos até suas respectivas temperaturas de evaporação (pressão de<br />
vapor positiva = número de átomos por unidade de área por unidade de tempo). Tais<br />
temperaturas (pressões de vapores) podem ser atingidas por: (a) um sistema resistivo<br />
<strong>nas</strong> chamadas células de Knudsen (um filamento de tântalo é aqueci<strong>do</strong> por uma corrente<br />
em uma câmara de evaporação, onde toda a câmara/célula encontra-se termicamente a<br />
mesma temperatura em to<strong>do</strong>s os pontos ≡ corpo negro) ou por (b) feixes/canhão de<br />
elétrons (electron-gun), ou seja, incidência de um feixe de elétrons (emiti<strong>do</strong>s de um<br />
filamento de tungstênio aqueci<strong>do</strong> e guia<strong>do</strong>, por campos magnéticos) sobre o alvo que se<br />
1 Chama-se o monocristal, neste caso, de substrato.<br />
37
deseja produzir o vapor a ser deposita<strong>do</strong>. Em ambos os casos ((a) e (b)), as taxas de<br />
evaporação (número de átomos por segun<strong>do</strong>) são da ordem de décimos, centésimos ou<br />
até milésimos de Å/s, enquanto no méto<strong>do</strong> de Sputtering as taxas são,em geral, da<br />
ordem da unidade de Å/s.<br />
O equipamento que utilizamos para preparar as tricamadas foi um Riber SDS32<br />
MBE. Este sistema é equipa<strong>do</strong> com <strong>do</strong>is (2) canhões de elétrons (cada um conten<strong>do</strong> 4<br />
cadinhos) e 6 células de Knudsen para evaporar uma vasta de variedade de materiais<br />
(principalmente metais 3d, Si e metais nobres). A pressão de base típica no sistema é de<br />
2 x 10 -11 Torr, mas durante a deposição seu valor é de aproximadamente 4x10 -10 Torr. A<br />
taxa de vaporização é medida por um cristal de quartzo calibra<strong>do</strong>, enquanto a<br />
estabilidade da taxa é controlada pela estabilização da temperatura, no caso das células<br />
de Knudsen, e por um espectrômetro de massa quadrupolar no caso <strong>do</strong>s canhões de<br />
elétrons. As amostras são montadas sobre um suporte que permanece giran<strong>do</strong> durante<br />
to<strong>do</strong> o tempo de deposição para minimizar qualquer anisotropia de espessura induzida<br />
artificialmente durante o processo de deposição (homogeneização da espessura). Para<br />
finalizar, deixamos claro que as Tr de Fe/Mn/Fe, deste trabalho, foram prepara<strong>do</strong>s na<br />
Katholieke Universiteit Leuven (Instituut voor Kern – en Stralingsfysica), pelo Prof.<br />
Edson Passamani, em 2002 e 2005 durante seu pós-<strong>do</strong>utoramento e depois em uma<br />
visita curta, respectivamente.<br />
3.1.2 Escolha e Preparo <strong>do</strong> Substrato MgO<br />
Crescemos as Tr de Fe/Mn/Fe sobre substratos de MgO(001) previamente<br />
poli<strong>do</strong>. Escolhemos o substrato de MgO(001), pois (i) ele é encontra<strong>do</strong> comercialmente<br />
com baixa rugosidade superficial, (ii) apresenta pequena diferença entre os parâmetros<br />
de rede (da fase <strong>do</strong> Fe e o substrato (MgO)). Pelo último motivo, monocritais de MgO<br />
têm si<strong>do</strong> amplamente utiliza<strong>do</strong>s para crescer epitaxialmente a fase alfa <strong>do</strong> Fe (α-Fe).<br />
38
Entretanto, cabe dizer que os átomos de Fe devem se situar sobre os íons de O 2- para<br />
minimizar a diferença entre os parâmetros de rede <strong>do</strong> substrato e <strong>do</strong> filme a ser cresci<strong>do</strong><br />
[29]. Assim, a célula cristalina <strong>do</strong> Fe é rotacionada no plano de 45 0 , em relação à direção<br />
[100] da rede <strong>do</strong> substrato (vide Figura 4). A fase α-Fe crescida sobre o MgO, possui<br />
um misfit (desajuste), no seu parâmetro de rede (no plano) à temperatura ambiente, de<br />
– 3,69% [ 30].<br />
célula<br />
unitária<br />
Figura 4 - Visão esquemática <strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong> Fe ccc sobre o substrato de MgO(001)[29].<br />
Em geral, a superfície <strong>do</strong> substrato MgO é contaminada por água e por carbono<br />
[31]. Assim, antes de colocarmos na câmara de ultra alto vácuo (UHV) para a deposição<br />
<strong>do</strong>s filmes, o substrato de MgO é enxagua<strong>do</strong> em Isopropanol (à pressão ambiente) e em<br />
seguida é seco por um fluxo constante de nitrogênio. Após essa limpeza química, o<br />
substrato é coloca<strong>do</strong> na câmara de UHV com um vácuo maior que 10 -8 Torr e é<br />
aqueci<strong>do</strong>, por aproximadamente 60 minutos, a uma temperatura de 700 o C. Com isso,<br />
garantimos que a superfície <strong>do</strong> cristal esteja limpa e sem água ou moléculas de<br />
39
hidroxila. Entretanto, tratamentos a altas temperaturas com o MgO em vácuo (ou em<br />
uma atmosfera de oxigênio) não garantem uma superfície livre de carbono.<br />
Contaminações varian<strong>do</strong> de 6% de uma monocamada [32] à 17% de uma<br />
monocamada[31] vêm sen<strong>do</strong> reportadas para tratamentos similares ao aqui usa<strong>do</strong> na<br />
superfície de MgO. Entretanto, as camadas crescidas não sugerem contaminação por<br />
carbono, já que não se evidenciou pela modificação na anisotropia magnética e/ou a<br />
possível presença de uma superfície reconstruída ou combinação com átomos de Fe,<br />
forman<strong>do</strong> carbetos de Fe.<br />
3.1.3 Deposição das tricamadas (Tr-Fe/Mn/Fe)<br />
Como dito anteriormente, depositamos as tricamadas (Tr-Fe/Mn/Fe) pelo<br />
méto<strong>do</strong> de MBE. Escolhemos está técnica ao invés da de Sputtering (<strong>do</strong>minante<br />
comercialmente para a fabricação de multicamadas metálicas) por duas razões<br />
fundamentais. A primeira foi devi<strong>do</strong> ao baixo número de defeitos cria<strong>do</strong>s nos filmes.<br />
Em virtude das “altas” energias no méto<strong>do</strong> de Sputtering, tem si<strong>do</strong> demonstra<strong>do</strong>, que<br />
multicamadas de Fe/Mn, possuem grande interdifusão atômica <strong>nas</strong> interfaces e os<br />
acoplamentos entre as camadas de Fe são nulos [33]. A segunda delas é que baixas taxas<br />
de deposição, necessárias para o crescimento epitaxial, requer um ambiente de vácuo de<br />
aproximadamente 10 -11 Torr (evitar oxidação), características que não são facilmente<br />
obtidas no caso da técnica de Sputtering (taxas de deposição da ordem de alguns Å/s,<br />
vácuo da ordem de 10 -8 Torr e 10 -6 Torr de Ar durante a deposição).<br />
Outro ponto importante na deposição das Tr-Fe/Mn/Fe é o fato de que<br />
depositan<strong>do</strong> os filmes a diferentes temperaturas para o substrato (Ts), influenciaremos a<br />
homogeneidade, cristalinidade e rugosidade, principalmente das regiões de interface.<br />
Portanto, crescemos as tricamadas (Tr-Fe/Mn/Fe) com uma pressão de base no<br />
sistema MBE de 4 x 10 -11 Torr, com os substratos de MgO manti<strong>do</strong>s a três temperaturas<br />
40
distintas: 50 o C, 150 o C e 175 o C, visan<strong>do</strong> modificação no grau de rugosidade. Durante a<br />
deposição das camadas, as amostras permaneciam giran<strong>do</strong> para garantir uniformidade<br />
lateral nos filmes. Preparamos as Tr-Fe/Mn/Fe sobre MgO(001) orienta<strong>do</strong> através da<br />
deposição de Fe natural ( nat Fe conten<strong>do</strong> aproximadamente 2% de 57 Fe) e <strong>nas</strong> interfaces<br />
com alvo de 57 Fe (95% enriqueci<strong>do</strong>). Depositamos o nat Fe através de uma fonte de<br />
canhão de elétrons, enquanto evaporamos as camadas de 57 Fe (depositada na interface) e<br />
de Mn (99,999%) por células de Knudsen. Controlamos o crescimento das camadas por<br />
um cristal de quartzo (independentemente para o nat Fe, o 57 Fe e o Mn). Monitoramos,<br />
com medidas in-situ de RHEED, o crescimento epitaxial no plano para cada camada.<br />
Cobrimos a Tr-Fe/Mn/Fe com 8 nm de Si, que se amorfizou (a-Si, verifica<strong>do</strong> pelo<br />
RHEED = perda de sinal). Esta camada de Si é para prevenir oxidação da camada<br />
superior de Fe. Depositamos a camada de Si a temperaturas menores ou iguais a 10 o C,<br />
para evitar a interdifusão entre o Si e a camada superior de Fe. Nenhuma fase Fe-Si foi<br />
observada por quaisquer técnicas de caracterização aqui utilizadas, o que garante que a<br />
cobertura de Si não afetou nossos resulta<strong>do</strong>s. Em média, tivemos as taxas de deposição<br />
<strong>do</strong> nat Fe, 57 Fe e <strong>do</strong> Mn de 0,16, 0,07 e 0,04 Å/s respectivamente. Optamos<br />
particularmente para a taxa <strong>do</strong> nat Fe de 0,16 Å/s, após verificarmos o valor usa<strong>do</strong> para<br />
crescimento epitaxial <strong>do</strong> Fe sobre o MgO no livro de preparação <strong>do</strong>s filmes <strong>do</strong><br />
laboratório. As demais taxas <strong>do</strong> 57 Fe e Mn, escolhemos após um estu<strong>do</strong> sistemático e<br />
análise de RHEED. A pressão na câmara de durante a deposição foi sempre da ordem de<br />
3 x 10 -10 Torr. A incerteza na espessura individual das camadas fica por volta de 10%<br />
<strong>do</strong> seu valor (estima<strong>do</strong> a partir de calibração de filmes monoatômicos por RBS).<br />
Particularmente, neste trabalho de dissertação estamos interessa<strong>do</strong>s em investigar o<br />
efeito da rugosidade interfacial sobre o ângulo de acoplamento magnético de duas<br />
41
camadas de Fe (C1 e C3) separadas por uma camada de Mn (C2) de espessura de 1 nm<br />
(10 Å). Assim, preparamos as seguintes Tr-Fe/Mn/Fe sobre substratos de MgO:<br />
Amostra 1 (A1):<br />
/ nat Fe(4nm)/ 57 Fe(1nm)/Mn(1nm)/ 57 Fe(1 nm)/ nat Fe(4nm)/Si(8 nm) ---------- (Ts = 150 o C)<br />
Amostra 2 (A2):<br />
/ nat Fe(19nm)/ 57 Fe(1nm)/Mn(1nm)/ 57 Fe(1nm)/ nat Fe(4nm)/Si(8nm) ----------- (Ts = 175 o C)<br />
Amostra 3 (A3):<br />
/Ag(100nm) nat Fe(9nm)/ 57 Fe(1nm)/Mn(1nm)/ 57 Fe(1nm)/ nat Fe(4nm)/Si(8nm) (Ts = 50 o C)<br />
Mostramos na Tabela 1 as técnicas experimentais utilizadas para caracterizar<br />
cada amostra individualmente.<br />
Tabela 1 – Técnicas utilizadas para a caracterização magnética e estrutural de cada amostra.<br />
Amostra RHEED RBS VSM XMCD FMR CEMS<br />
A1 X X X X X X<br />
A2 X X X X<br />
A3 X X X X X<br />
Para finalizar, gostaríamos de enfatizar que: (i) depositamos uma camada de Ag<br />
de 100nm (buffer) sobre o substrato de MgO, pois esta produz uma rugosidade<br />
interfacial de uma monocamada atômica e propicia o crescimento epitaxial da fase α-Fe<br />
[34], (ii) além das tricamadas preparamos também uma bicamada de Fe/Mn<br />
(MgO/Fe(20nm)/Mn(2,5nm)) para verificarmos um possível limite de espessura para a<br />
fase metaestável <strong>do</strong> Mn (δ-Mn).<br />
42
3.2 Caracterização das Tricamadas de Fe/Mn/Fe<br />
3.2.1 Caracterização Estrutural<br />
3.2.1.1 Difração por Reflexão de Elétrons de Alta Energia (RHEED)<br />
Na difração por reflexão de elétrons de alta energia (RHEED), um feixe mono-<br />
energético de elétrons de alta energia (~10 keV) incide em ângulos rasantes com a<br />
superfície <strong>do</strong> substrato (1 o -3º) em UHV [35]. O feixe difrata<strong>do</strong> é projeta<strong>do</strong> sobre uma<br />
tela de fósforo, colocada no la<strong>do</strong> oposto ao <strong>do</strong> canhão de elétrons (Figura 5). A imagem<br />
da tela é capturada por uma câmera digital e os da<strong>do</strong>s (imagens) grava<strong>do</strong>s em um<br />
computa<strong>do</strong>r com programas capazes de analisar as figuras de difração.<br />
O padrão de difração, em termos qualitativos, fornece informação substancial<br />
sobre a superfície estudada. A largura das linhas de RHEED tem relação direta com a<br />
perfeição da camada superficial cristalina que está sen<strong>do</strong> produzida. Quanto mais<br />
perfeita a superfície, mais estreitas serão as linhas difratadas. O espaçamento entre duas<br />
linhas consecutivas <strong>do</strong> padrão de difração é inversamente proporcional ao espaçamento<br />
ur<br />
inter-atômico da superfície <strong>do</strong> cristal ( G = 2 π / d ) . Desta forma, os padrões de<br />
hkl hkl<br />
RHEED são usa<strong>do</strong>s para estudar a orientação da superfície, o parâmetro de rede das<br />
camadas, a epitaxia das camadas, rugosidades e a periodicidade de superfícies<br />
reconstruídas[36].<br />
43
Figura 5 - Geometria usada nos experimentos de RHEED. Um feixe de elétrons (~10keV)<br />
(fecha negra) incide sobre a superfície de uma amostra e é difrata<strong>do</strong> em uma tela fosforescente.<br />
O ângulo entre o feixe e a superfície da amostra é de ~ 3º[36].<br />
A interpretação <strong>do</strong> padrão de difração fica bastante facilitada utilizan<strong>do</strong>-se a<br />
construção de Ewald [37]. Os elétrons incidentes na forma de uma onda plana são<br />
elasticamente espalha<strong>do</strong>s pelo potencial elétrico periódico da rede cristalina da amostra.<br />
Como o espalhamento é elástico, as ondas espalhadas pelos diferentes pontos e com<br />
diferentes fases são também ondas pla<strong>nas</strong>. Analiticamente, esta aproximação é tratada<br />
pelo formalismo de séries e integrais de Fourier <strong>do</strong> espaço recíproco. Entretanto, <strong>do</strong><br />
ponto de vista prático, a interpretação geométrica é mais útil no contexto deste trabalho.<br />
A construção de Ewald é uma representação geométrica da conservação de energia<br />
durante o espalhamento elástico, ou seja, |ki| 2 = |k| 2 ou |ki| = |k|, onde ki e k são os<br />
vetores de onda <strong>do</strong>s elétrons incidentes e difrata<strong>do</strong>s, respectivamente. Por outro la<strong>do</strong>, o<br />
momento também deve ser conserva<strong>do</strong>, resultan<strong>do</strong> na condição de difração de Bragg, k<br />
= ki + k = ki + Ghkl, isto é, a diferença entre o feixe incidente e o espalha<strong>do</strong>, k, deve<br />
ser igual a um vetor da rede recíproca (Ghkl). Além disto, a conservação de energia<br />
implica que tanto a onda incidente como a onda espalhada têm os extremos de seus<br />
vetores de ondas sobre uma esfera de raio |ki|, chamada esfera de Ewald (Figura 6).<br />
44
Figura 6 - Representação de um processo de difração usan<strong>do</strong> a representação da esfera de<br />
Ewald, construída a partir <strong>do</strong> vetor de onda <strong>do</strong> feixe incidente (ki) e requeren<strong>do</strong> que o feixe<br />
difrata<strong>do</strong> também se encontre sobre a circunferência devida pela energia <strong>do</strong> feixe incidente.<br />
Assim, gera-se uma condição que é k = ki + k, onde k é a diferença de fase[36].<br />
No RHEED, o feixe de elétrons incidente na amostra atinge ape<strong>nas</strong> as camadas<br />
da superfície (≈ monocamada), o espalhamento ocorre em boa aproximação numa rede<br />
bidimensional. Desde que uma rede bidimensional é descrita por ape<strong>nas</strong> <strong>do</strong>is vetores de<br />
base (o terceiro vetor normal à superfície é nulo) o espaçamento entre os pontos da rede<br />
recíproca na direção normal é nulo. Este fato acarreta uma degenerescência <strong>do</strong>s pontos<br />
da rede em linhas perpendiculares à superfície. Com isto, o vetor da rede recíproca da<br />
superfície, representan<strong>do</strong> uma rede bidimensional de linhas normais a esta superfície,<br />
pode ser escrito como Ghk = hA * + kB * . Mostramos na Figura 7 a construção de Ewald,<br />
ilustran<strong>do</strong> o tipo de imagem vista na tela fluorescente <strong>do</strong> RHEED. Podemos ver nesta<br />
figura, que os pontos observa<strong>do</strong>s na tela fluorescente, correspondem à intersecção das<br />
linhas da rede recíproca com a esfera de Ewald. Esta intersecção define uma zona de<br />
Laue da difração, indicada na Figura 7 pelo semicírculo L. Evidentemente, <strong>do</strong> ponto de<br />
vista geométrico, a rede recíproca e a esfera de Ewald, se interceptam duas vezes, mas<br />
fisicamente a interação elétron-superfície (conseqüente observação <strong>do</strong> padrão de<br />
45
RHEED) só é possível no semi-espaço acima <strong>do</strong> plano da amostra. Na prática, o padrão<br />
de difração <strong>do</strong> RHEED observa<strong>do</strong> na tela não é, em geral, de pontos bem defini<strong>do</strong>s.<br />
Ocorre um alongamento <strong>do</strong>s pontos na direção das linhas da rede recíproca, forman<strong>do</strong><br />
listras (streaks). Isto se deve em primeiro lugar à pequena dispersão na energia <strong>do</strong> feixe<br />
de elétrons incidentes, conferin<strong>do</strong> à esfera de Ewald certa "espessura". Em segun<strong>do</strong><br />
lugar, as linhas da rede recíproca, devi<strong>do</strong> à desordem superficial, também são alargadas,<br />
sen<strong>do</strong> mais apropria<strong>do</strong> designá-las como cilindros ou colu<strong>nas</strong> [38 e 39].<br />
Figura 7 - Representação da esfera de Ewald e esquematização de um processo de difração<br />
usual da geometria <strong>do</strong> RHEED [36].<br />
Além disto, devi<strong>do</strong> ao ângulo rasante, o feixe de elétrons incidente sobre uma<br />
superfície real, conten<strong>do</strong> defeitos, desordem e rugosidade, pode produzir uma<br />
superposição de um padrão de difração por transmissão (parte da amostra com<br />
características 3-D) sobre um padrão refleti<strong>do</strong> (características 2-D). Estes padrões de<br />
difração são bastante diferentes. Este aspecto <strong>do</strong> RHEED é bastante interessante e<br />
permite a análise qualitativa da morfologia <strong>do</strong> crescimento ou topografia da camada em<br />
análise [36].<br />
46
3.2.1.2 Espectroscopia de Retro-espalhamento Rutherford (RBS)<br />
A Espectroscopia de Retro-espalhamento Rutherford (RBS) é uma ferramenta<br />
para análise de distribuição de elementos em uma amostra ao longo da profundidade<br />
(espessura) da mesma. Em RBS, um feixe de partículas α (He 2+ ), com energias típicas<br />
entre 1-4 MeV, bombardeiam a amostra. As partículas retro-espalhadas pela amostra<br />
são coletadas, e suas energias são analisadas. No intervalo de energia usa<strong>do</strong>, a interação<br />
entre um íon <strong>do</strong> feixe e um átomo da amostra é governada pela repulsão Coulombiana<br />
entre <strong>do</strong>is núcleos não blinda<strong>do</strong>s. A energia transferida entre as partículas, nesta colisão<br />
elástica, é calculada aplican<strong>do</strong> os princípios de conservação de energia e conservação de<br />
momentum. As partículas enquanto passam pela amostra, perdem energia devi<strong>do</strong> às<br />
colisões inelásticas com os elétrons da amostra (tipicamente 20–30 eV/Å). Uma<br />
aproximação que é feita na análise de RBS é o fenômeno de espalhamento simples.<br />
Nesta aproximação é assumi<strong>do</strong> que um íon que chega ao detector sofreu somente um<br />
espalhamento em grandes ângulos. Uma vez que a propagação <strong>do</strong>s íons quase não é<br />
afetada por colisões com elétrons, as trajetórias <strong>do</strong>s íons podem ser consideradas<br />
aproximadamente retilíneas. Basea<strong>do</strong> nestas aproximações, os seguintes cálculos podem<br />
ser feitos:<br />
* A taxa das energias da partícula retro-espalhada antes e depois da colisão é dada pelo<br />
fator cinemático e isto é completamente determina<strong>do</strong> pela razão das massas <strong>do</strong> projétil e<br />
<strong>do</strong> átomo alvo e pelo ângulo de espalhamento.<br />
*A fração de átomos retro-espalha<strong>do</strong>s é proporcional à seção de choque <strong>do</strong> alvo. A<br />
fração pode ser relacionada com a densidade superficial (átomos por unidade de área)<br />
<strong>do</strong>s elementos da amostra.<br />
47
*Usan<strong>do</strong> valores tabula<strong>do</strong>s para a perda de energia <strong>do</strong>s íons, uma escala de energia pode<br />
ser associada a uma escala de profundidade de cada elemento.<br />
Associa<strong>do</strong> a técnica de RBS, temos aquela chamada de channeling <strong>do</strong> feixe<br />
incidente (canalização <strong>do</strong> feixe incidente). Assim, se o feixe incidente é direciona<strong>do</strong> ao<br />
longo <strong>do</strong> eixo principal <strong>do</strong> cristal, as partículas α <strong>do</strong> feixe colima<strong>do</strong> são direcionadas<br />
sobre os canais forma<strong>do</strong>s por fileiras de átomos, no caso de um monocristal. Este efeito<br />
é chama<strong>do</strong> efeito channeling, o resulta<strong>do</strong> é um drástico decaimento das partículas retro-<br />
espalhadas que chegam ao detector, ou seja, podemos medir na geometria de channeling<br />
o substrato e as camadas depositadas sobre este para termos informações a respeito <strong>do</strong><br />
grau de epitaxia fora <strong>do</strong> plano da camada depositada. Portanto, a medida via RBS em<br />
efeito channeling é muito sensível a defeitos e impurezas intersticiais no filme e assim<br />
canalizar as partículas α ao longo <strong>do</strong> eixo principal pode ser considera<strong>do</strong> uma medida<br />
sensitiva para a perfeição de um cristal ao longo <strong>do</strong> eixo de incidência <strong>do</strong> feixe.<br />
Realizamos as medidas de RBS Channeling (RBS/C) e non-channeling<br />
(RBS/nC), ex-situ ,em uma câmara de alto vácuo, no IKS-KULeuven. Usamos um feixe<br />
de 4 He +2 com energias de 1,57 MeV. Com essa energia para o feixe incidente e usan<strong>do</strong><br />
as aproximações acima, esperaríamos obter o feixe retro-espalha<strong>do</strong> vin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s átomos de<br />
Fe em 730 keV, de Mg em 420 keV, de O em 530 keV e Si em 630 keV. Detectamos os<br />
íons retroespalha<strong>do</strong>s simultaneamente com <strong>do</strong>is detectores de barreira de superfície de<br />
silício, em posição angular variável e o outro na posição de 172 o , com relação a frente<br />
<strong>do</strong> filme (o feixe incidente de partículas α é injeta<strong>do</strong> perpendicular ao plano <strong>do</strong> filme)<br />
Tais valores são escolhi<strong>do</strong>s para obter uma otimização na resolução de profundidade,<br />
uma vez que o último alcança a melhor resolução em massa.[34].<br />
48
Do ponto de vista da caracterização estrutural <strong>do</strong>s filmes, podemos dizer que as<br />
medidas de RHEED, feitas durante o crescimento das camadas, nos dão informações<br />
sobre a epitaxia no plano e a evolução da rugosidade (redução de intensidade luminosa<br />
na tela fosforescente <strong>do</strong> feixe difrata<strong>do</strong>) com o aumento da espessura da camada que<br />
está sen<strong>do</strong> crescida. Por outro la<strong>do</strong>, as medidas de RBS (com e sem channeling) nos<br />
permitem responder a questão da epitaxia das camadas na direção perpendicular ao<br />
plano <strong>do</strong> substrato (filme).<br />
3.2.2 Caracterização Hiperfina<br />
3.2.2.1 Espectroscopia Mössbauer por Conversão de Elétrons (CEMS)<br />
A maioria <strong>do</strong>s decaimentos radioativos produz os chama<strong>do</strong>s núcleos filhos em<br />
um esta<strong>do</strong> excita<strong>do</strong>. Este núcleo filho decai para um esta<strong>do</strong> fundamental emitin<strong>do</strong><br />
quanta de raios γ. Em um átomo livre ocorre um recuo devi<strong>do</strong> à conservação <strong>do</strong><br />
momento linear, resultan<strong>do</strong> na emissão de um fóton de energia menor <strong>do</strong> que a energia<br />
de transição nuclear. O mesmo ocorre na absorção, quan<strong>do</strong> o núcleo livre absorve<strong>do</strong>r<br />
recua, significan<strong>do</strong> que a energia <strong>do</strong> fóton a ser absorvi<strong>do</strong> deva ser maior <strong>do</strong> que a<br />
transição nuclear. Assim, sob essas circunstancias (emissão e absorção ressonantes em<br />
átomos livres) processos de transições nucleares não ocorrem.<br />
A absorção ressonante sem recuo em sóli<strong>do</strong>s foi descoberta por Ru<strong>do</strong>lf<br />
Mössbauer em 1957[40, 41, 42 e 43] sen<strong>do</strong> que o mesmo foi laurea<strong>do</strong> com o prêmio<br />
Nobel de física somente quatro anos após de sua descoberta. Assim, o processo de<br />
ressonância nuclear de emissão e absorção de fótons γ em sóli<strong>do</strong>s é conheci<strong>do</strong> como<br />
efeito Mössbauer. Sua origem basicamente está no fato <strong>do</strong> núcleo estar fixa<strong>do</strong> em uma<br />
rede cristalina, onde a energia de recuo pode ser comparada em magnitude com a<br />
energia vibracional <strong>do</strong>s fônons da rede. Resumin<strong>do</strong>, se um núcleo em um esta<strong>do</strong><br />
49
excita<strong>do</strong> com tempo de meia vida τN (141 ns para o 57 Fe) emite radiação γ, a<br />
distribuição de energia segue a lei de Breit-Wigner (lorentziana) [44]:<br />
2<br />
( Γ / 2)<br />
I ( E) = I .<br />
( E E ) ( / 2)<br />
0 2 2<br />
− 0 + Γ<br />
50<br />
(2.1)<br />
Onde E0 é a energia da transição e Γ = h / τ N é largura de linha ressonante, (E0 = 14,4<br />
keV e Γ = 4,7 neV para o 57 Fe). Um átomo livre emitin<strong>do</strong> um quantum γ irá recuar com<br />
uma energia<br />
E<br />
r<br />
2 2<br />
p E<br />
γ γ<br />
= = (Er = 2 meV para o 2<br />
2M 2Mc<br />
57 Fe). A energia de recuo é muito<br />
maior <strong>do</strong> que a largura natural de linha Γ. Se o núcleo emissor estiver em um sóli<strong>do</strong>,<br />
toda a matriz absorverá o recúo, já que existe a possibilidade de não haver mudança nos<br />
esta<strong>do</strong>s vibracionais das redes onde se encontram os átomos emissores (fonte) e<br />
absorve<strong>do</strong>res (amostra). Como a massa <strong>do</strong> sóli<strong>do</strong> é da ordem 10 20 vezes maior <strong>do</strong> que a<br />
massa <strong>do</strong> núcleo livre, a energia de recuo torna-se praticamente desprezível. Isto<br />
permite a emissão e a absorção nuclear ressonante. Todavia, a emissão (ou absorção)<br />
pode envolver também transferência de energia para as vibrações da rede (fônons) no<br />
cristal e a probabilidade para que emissão ocorra sem induzir nenhum fônon é definida<br />
pelo fator de Debye-Waller. A probabilidade de emissão ou absorção sem recúo é 0,76<br />
para o 57 Fe (na fase α-Fe) à temperatura ambiente [44]. A espectroscopia Mössbauer<br />
permite então medir, entre outras grandezas físicas, as interações hiperfi<strong>nas</strong>, que surgem<br />
das interações de carga e spin nuclear com as distribuições de carga e spins eletrônico.<br />
As primeiras já estão bem definidas (não mudam devi<strong>do</strong> à vizinha), mas as distribuições<br />
eletrônicas <strong>do</strong>s átomos dependem da vizinhança onde se encontram os átomos em<br />
estu<strong>do</strong>. Cabe dizer que as correções <strong>nas</strong> energias <strong>do</strong> núcleo devi<strong>do</strong> as interação<br />
hiperfi<strong>nas</strong> são da ordem de 10 -8 eV, onde os esta<strong>do</strong>s nucleares têm energias da ordem de
deze<strong>nas</strong> de keV. As interações hiperfi<strong>nas</strong> geradas pelos diferentes ambientes das<br />
amostras podem ser compensadas através de uma modulação Doppler na energia <strong>do</strong><br />
fóton gama dada por [44]:<br />
51<br />
⎛ ν ⎞<br />
E( v) = E0.<br />
⎜1+ ⎟<br />
⎝ c ⎠ (2.2)<br />
Portanto, para sondar os níveis de energia <strong>do</strong> núcleo em diferentes ambientes, temos<br />
que encaixar a energia <strong>do</strong> raio γ emiti<strong>do</strong> pela fonte com a energia <strong>do</strong> núcleo <strong>do</strong><br />
absorve<strong>do</strong>r, isto é, temos que mover a fonte em relação ao absorve<strong>do</strong>r, ou vice e versa.<br />
O efeito Doppler associa<strong>do</strong> produz um deslocamento na energia <strong>do</strong> raio γ emiti<strong>do</strong> pela<br />
fonte, permitin<strong>do</strong> que este fóton seja absorvi<strong>do</strong> ressonantemente por um núcleo<br />
semelhante no absorve<strong>do</strong>r. Um espectro Mössbauer representa o número de raios γ<br />
absorvi<strong>do</strong>s em função da velocidade relativa da fonte em relação ao absorve<strong>do</strong>r (mo<strong>do</strong><br />
de transmissão) ou pelo número de elétrons (ou raios – X ou próprio raios γ emiti<strong>do</strong>),<br />
provenientes da absorção nuclear <strong>do</strong> fóton incidente, emiti<strong>do</strong>s em função da velocidade<br />
da fonte emissora (mo<strong>do</strong> de emissão). No primeiro caso, temos espectros conten<strong>do</strong><br />
depressões com relação à linha de base (redução de fótons no detector), enquanto no<br />
segun<strong>do</strong> caso temos aumento da intensidade com relação à linha de base. O méto<strong>do</strong> de<br />
emissão de elétrons tem mais eficiência devi<strong>do</strong> ao fato de que os elétrons possuem livre<br />
caminho médio nos sóli<strong>do</strong>s da ordem de 100nm, este méto<strong>do</strong> é usa<strong>do</strong> para estu<strong>do</strong> de<br />
filmes, que é o nosso caso.<br />
Em resumo, as interações hiperfi<strong>nas</strong> deslocam os níveis de energia nuclear ou<br />
levantam suas degenerescências devi<strong>do</strong> à interação com o ambiente químico, onde se<br />
encontra o átomo sonda. Dessa forma, podemos obter informação estrutural e magnética<br />
local deste átomo Mössbauer em um da<strong>do</strong> sistema investiga<strong>do</strong>. Três são os principais<br />
parâmetros hiperfinos que podem ser obti<strong>do</strong>s diretamente de uma medida Mössbauer<br />
(Figura 8 ( 57 Fe)). Primeiramente, há um deslocamento da linha de ressonância <strong>do</strong> zero
de velocidade devi<strong>do</strong> a diferenças na interação de Coulomb entre a densidade de cargas<br />
<strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s excita<strong>do</strong> e fundamental com a densidade de elétrons s na região nuclear<br />
(diferença entre os raios quadráticos <strong>do</strong> núcleo nos esta<strong>do</strong>s excita<strong>do</strong> e fundamental<br />
conjuntamente com o fato de que os átomos (emissor e absorve<strong>do</strong>r) estão em ambiente<br />
químicos distintos). Este deslocamento é conheci<strong>do</strong> como deslocamento isomérico e é<br />
denota<strong>do</strong> por δ (Figura 8 (b)). A interação quadrupolar elétrica é causada pela a<br />
interação entre o momento quadrupolo nuclear (no caso <strong>do</strong> Fe, somente o esta<strong>do</strong><br />
excita<strong>do</strong> tem momento de quadrupolo) e o tensor de gradiente elétrico (GCE) causa<strong>do</strong><br />
por uma assimetria na distribuição de carga na vizinhança <strong>do</strong>s átomos da amostra. A<br />
fonte radiativa é confeccionada com átomos emissores em ambiente com gradiente de<br />
campo elétrico e campo magnético nulos, de mo<strong>do</strong> que toda mudança da energia <strong>do</strong><br />
fóton de 14,4 keV venha <strong>do</strong> efeito Doppler.<br />
A interação quadrupolar levanta parcialmente a degenerescência <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />
excita<strong>do</strong> em duas linhas e os autovalores de energia desta interação são quadráticos em<br />
relação aos valores de mI (projeção <strong>do</strong> momento angular de spin <strong>do</strong> núcleo na direção<br />
de quantização), que podem ser vista no espectro Mössbauer como um dubleto. O<br />
des<strong>do</strong>bramento de ambas as linhas é denota<strong>do</strong> por ∆, e é chama<strong>do</strong> de des<strong>do</strong>bramento<br />
quadrupolar (Figura 8 (c)). A última interação é a dipolar magnética, dada pela<br />
interação entre o momento magnético <strong>do</strong> núcleo e o campo magnético hiperfino,<br />
conhecida como interação Zeeman nuclear. O des<strong>do</strong>bramento Zeeman <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s<br />
excita<strong>do</strong> e fundamental exibe seis linhas espectrais para o α-Fe (sexteto) devi<strong>do</strong> à<br />
transição ser <strong>do</strong> tipo dipolar elétrica ( ∆ m = 0 ± 1 ) (Figura 8 (d)).Pode ocorrer o caso<br />
I<br />
onde as interações quadrupolar elétrica e magnética estão presentes, complican<strong>do</strong> as<br />
formas <strong>do</strong>s espectros [34].<br />
52
Figura 8 - Figura esquemática <strong>do</strong>s níveis de energia <strong>do</strong> núcleo de 57 Fe da fonte (a) e para o<br />
absorve<strong>do</strong>r em três situações distintas: (b) absorve<strong>do</strong>r com átomos de Fe ten<strong>do</strong> GCE = Bhf =<br />
0,( c) absorve<strong>do</strong>r com átomos de Fe ten<strong>do</strong> GCE ≠ 0 e Bhf = 0 e( d) absorve<strong>do</strong>r com átomos de<br />
Fe ten<strong>do</strong> GCE = 0 e Bhf ≠ 0 [45].<br />
Uma maneira de medir o número de fótons absorvi<strong>do</strong>s é colocar o detector de<br />
fótons atrás <strong>do</strong> absorve<strong>do</strong>r e contar o número de fótons transmiti<strong>do</strong>s. Essa técnica é<br />
chamada de espectroscopia Mössbauer de transmissão. Entretanto, quan<strong>do</strong> o absorve<strong>do</strong>r<br />
é posiciona<strong>do</strong> no topo de um substrato com espessura fina, um méto<strong>do</strong> alternativo é a<br />
Espectroscopia Mössbauer por Conversão de Elétrons (CEMS). Quan<strong>do</strong> um núcleo no<br />
absorve<strong>do</strong>r, que foi excita<strong>do</strong> ressonantemente, decai para o esta<strong>do</strong> fundamental, essa<br />
energia pode ser transferida por elétrons das camadas mais inter<strong>nas</strong>. O processo mais<br />
provável, com 80 a 90% de probabilidade de ocorrer, é a emissão de um elétron de<br />
conversão da camada K com energia de 7,3 keV. Este elétron de conversão escapa da<br />
53
camada superior (aproximadamente 1000Å) da amostra, consequentemente nos<br />
fornecen<strong>do</strong> informações a respeito da superfície <strong>do</strong> material.<br />
Outra informação importante a ser considerada para este trabalho é a relação<br />
entre as intensidades das linhas 2(5)/3(4) <strong>do</strong> espectro Mössbauer de uma amostra de Fe<br />
magnética (sexteto). Os coeficientes de Clebsch-Gordan dão a probabilidade de<br />
transição entre <strong>do</strong>is níveis de spins nucleares. Os coeficientes de Clebsch-Gordan não<br />
possuem dependência angular e, basicamente representam uma intensidade de<br />
emissão/absorção através <strong>do</strong> ângulo sóli<strong>do</strong> que envolve o núcleo. Porém, pode existir<br />
uma situação onde a distribuição de radiação gama é não uniforme em um ângulo<br />
sóli<strong>do</strong>. Assim, os coeficientes de Clebsch-Gordan podem ser modula<strong>do</strong>s por uma<br />
função f ( θ ) , onde θ é o ângulo entre o raio gama incidente e o campo magnético<br />
hiperfino (pode também haver dependência com o gradiente elétrico). Na Tabela 2 [44]<br />
mostramos os valores <strong>do</strong>s coeficientes de Clebsch-Gordan calcula<strong>do</strong>s para uma<br />
transição <strong>do</strong> tipo dipolar. Vemos claramente que para θ =0º (θ =90º) a relação entre as<br />
intensidades relativas <strong>do</strong>s três primeiros picos de absorção ressonante de um espectro<br />
magnético (sexteto) obedecem a razão 3:0:1 (3:4:1). A Figura 9 mostra alguns espectros<br />
Mössbauer na geometria de transmissão, evidencian<strong>do</strong> as relações entre a intensidade<br />
<strong>do</strong>s picos <strong>do</strong>s de absorção ressonante para incidência <strong>do</strong> feixe de fótons gama, fazen<strong>do</strong><br />
um ângulo (θ) com a direção da magnetização da amostra.<br />
54
Tabela 2 - Intensidades relativas de absorção para interação Zeeman nuclear em átomos de Fe<br />
[44].<br />
M2 m1 ∆m C 2 f ( θ ) θ =90º θ =0º<br />
+3/2 +1/2 +1 3<br />
+1/2 +1/2 0 2<br />
-1/2 +1/2 -1 1<br />
2<br />
1 cos ( θ )<br />
+ 3 6<br />
2<br />
2 sen ( θ ) 4 0<br />
2<br />
1 cos ( θ )<br />
+ 1 2<br />
-3/2 +1/2 -2 0 0 0 0<br />
+3/2 -1/2 +2 0 0 0 0<br />
+1/2 -1/2 +1 1<br />
-1/2<br />
-3/2<br />
-1/2<br />
-1/2<br />
0 2<br />
-1 3<br />
2<br />
1 cos ( θ )<br />
+ 1 2<br />
2<br />
2 sen ( θ ) 4 0<br />
2<br />
1 cos ( θ )<br />
+ 3 6<br />
55
Figura 9 - Espectros Mössbauer para o átomo sonda 57 Fe consideran<strong>do</strong> o ângulo θ entre o<br />
feixe γ e a magnetização da amostra, como: a) 0 o<br />
θ ≈ ,b) 90 o<br />
θ ≈ e c) para um policristal<br />
magnético (magnetização isotrópica).<br />
3.2.3 Caracterização Magnética<br />
3.2.3.1 Magnetometria de Amostra Vibrante (VSM)<br />
A magnetometria de amostra vibrante (VSM) é uma das técnicas mais utilizada<br />
para medir propriedades magnéticas de amostras de um mo<strong>do</strong> geral. O princípio por trás<br />
<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> de VSM está na lei de indução magnética de Faraday. Se um magneto (neste<br />
caso a amostra magnética) é movi<strong>do</strong> através de uma bobina, a variação de fluxo<br />
magnético através da bobina induz uma voltagem na mesma. Na técnica de VSM, a<br />
amostra vibra a uma freqüência fixa (~ 80 Hz) próxima <strong>do</strong> conjunto de bobi<strong>nas</strong><br />
coletoras, induzin<strong>do</strong> um sinal de voltagem AC que é medi<strong>do</strong> por um amplifica<strong>do</strong>r lock-<br />
56
in. Para converter a voltagem medida em momento magnético, uma amostra de níquel<br />
(padrão) é medida em seu esta<strong>do</strong> satura<strong>do</strong>. O fator de calibração é então aplica<strong>do</strong> para a<br />
amostra de interesse. Usamos, neste trabalho, o VSM da marca Oxford, pertencente ao<br />
IKS–KULeuven, com capacidade para campos magnéticos máximos de até 9 T e<br />
possibilidade de medidas em um amplo intervalo de temperatura (3,8 K - 1000K).<br />
Medimos todas as amostras nos seus respectivos esta<strong>do</strong>s de saturação, com o campo<br />
magnético sen<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong> paralelo ao plano <strong>do</strong> filme e a amostra posicionada forman<strong>do</strong><br />
um ângulo de 45 0 com relação aos eixos cristalinos <strong>do</strong> substrato de MgO (001), uma vez<br />
que, esse é eixo de fácil magnetização de uma das camadas de Fe (mais espessa).<br />
3.2.3.2 Ressonância Ferromagnética (FMR)<br />
A) Conceitos fundamentais<br />
A técnica de ressonância ferromagnética (FMR) consiste na absorção ressonante<br />
da radiação eletromagnética (deze<strong>nas</strong> de GHz) por uma amostra magnética, quan<strong>do</strong> esta<br />
se encontra submetida a um campo magnético externo estático.<br />
Nos materiais ferromagnéticos, o campo magnético não é puramente o aplica<strong>do</strong>,<br />
uur uur<br />
mas um campo efetivo ( H ef ) que é da<strong>do</strong> pela soma <strong>do</strong>s campos externo ( H ext<br />
interno ( H int ). Este último campo contém várias contribuições, por exemplo, os<br />
campos de desmagnetização, de anisotropia cristalina, de troca, etc. Assim, na presença<br />
<strong>do</strong> campo efetivo, equação que rege a dinâmica da magnetização total da amostra, no<br />
esta<strong>do</strong> de saturação, num meio não dissipativo é dada por:<br />
onde<br />
dM<br />
dt<br />
57<br />
) e<br />
= −γ[<br />
M × H ]<br />
(3.1)<br />
gµ B<br />
γ = é a razão giromagnética, g o fator giromagnético <strong>do</strong> material e µB é o<br />
h<br />
magnéton de Bohr (µB = 9,27 x 10 -24 J/T).<br />
ef
uur<br />
Se além <strong>do</strong>s campos estáticos ( H ef ), estiver superposto um campo magnético<br />
oscilante no tempo (h(t)) de alta freqüência ( ~ GHz) e com magnitude muito inferior a<br />
<strong>do</strong> campo estático, esta radiação eletromagnética (h(t)) pode ser absorvida pela amostra.<br />
Ilustramos, na Figura 10, como ocorrer a precessão da magnetização, quan<strong>do</strong> os campos<br />
estático e oscilante estão presentes na amostra.<br />
Figura 10 - Precessão da magnetização da amostra devi<strong>do</strong> a ação <strong>do</strong> campo magnético externo<br />
Hext e <strong>do</strong> campo oscilante ( t)<br />
h .<br />
Para simplificar a descrição <strong>do</strong> processo de ressonância, vamos supor que<br />
h ef ef ef<br />
∧<br />
( t)<br />
Com S=½, teremos preferencialmente transições entre os níveis ±½ não<br />
degenera<strong>do</strong>s pela ação <strong>do</strong> campo efetivo. Por outro la<strong>do</strong>, a ressonância ocorrerá quan<strong>do</strong><br />
a radiação eletromagnética incidente (Ef) possuir energia igual à separação ∆E entre os<br />
subníveis adjacentes da amostra investigada (vide Figura 11). Estatisticamente falan<strong>do</strong>,<br />
a maior fração de spins está na direção <strong>do</strong> campo aplica<strong>do</strong> (efetivo), pois essa é a<br />
configuração de menor energia magnética <strong>do</strong> sistema. Entretanto, quan<strong>do</strong> a radiação de<br />
microondas incide ressonantemente (energia <strong>do</strong> fóton igual a da lacuna entre os esta<strong>do</strong>s<br />
de spins ±½) sobre o material, podemos pensar classicamente que os spins <strong>do</strong> material,<br />
no esta<strong>do</strong> de menor de energia, absorvem esta radiação. Consequentemente modificam<br />
sua freqüência de rotação e portanto são excita<strong>do</strong>s para o esta<strong>do</strong> de maior energia, que é<br />
contrário ao campo aplica<strong>do</strong>. Dessa forma, em tempo posterior a magnetização <strong>do</strong><br />
sistema busca novamente o equilíbrio, liberan<strong>do</strong> a energia através da interação com a<br />
rede cristalino (spin-rede) e/ou com os demais spins <strong>do</strong> cristal (spin-spin), o que produz<br />
relevantes informações sobre as propriedades <strong>do</strong> material estuda<strong>do</strong>.<br />
f<br />
B<br />
ef<br />
59<br />
E = h ω = ∆E<br />
= gµ<br />
H<br />
(3.3)<br />
Em resumo, para que a ressonância atômica ocorra devemos satisfazer a<br />
condição de energia (3.3), ou seja, ou variamos a freqüência da radiação incidente para<br />
um valor fixo de campo estático ou fixamos a freqüência da microonda e variamos a<br />
intensidade <strong>do</strong> campo magnético aplica<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> a alcançar a ressonância. O segun<strong>do</strong><br />
méto<strong>do</strong> é o mais usual, pois cada cavidade ressonante tem uma microonda bem definida<br />
e portanto a variação da corrente (campo) no eletroímã é mais fácil de se realizar e a<br />
ressonância ser alcançada.
Figura 11 - Diagrama mostran<strong>do</strong> os subníveis de energia em um sistema de spin ½(não<br />
degenera<strong>do</strong>s pelo efeito Zeeman). Ef representa a energia <strong>do</strong> fóton incidente necessária para<br />
que haja ressonância.<br />
B) Aspectos relevantes da Ressonância ferromagnética em filmes finos magnéticos.<br />
Em sistemas magnéticos, os spins estão acopla<strong>do</strong>s por uma interação de troca<br />
direta ou indireta. Com isso, excitações <strong>do</strong> sistema de spins correspondem às precessões<br />
em torno das posições de equilíbrios. Para sistemas ferromagnéticos podem ocorrer <strong>do</strong>is<br />
tipos de mo<strong>do</strong>s, conheci<strong>do</strong>s como mo<strong>do</strong>s acústico e óptico. Tais mo<strong>do</strong>s aparecem nos<br />
ferromagnetos, quan<strong>do</strong> seus spins precessionam em fase e fora de fase, dependen<strong>do</strong> da<br />
configuração a<strong>do</strong>tada, isto é, se a radiação eletromagnética incide perpendicular ou<br />
paralelo ao campo externo estático. Na Figura 12 apresentamos as configurações <strong>do</strong>s<br />
mo<strong>do</strong>s óptico e acústico para a radiação incidente transversalmente e longitudinalmente<br />
ao campo estático. Para ambos os casos, damos o nome de mo<strong>do</strong> uniforme a excitação<br />
de menor energia <strong>do</strong>s spins <strong>do</strong> sistema.<br />
60
Figura 12 - Representação esquemática para os mo<strong>do</strong>s acústico e óptico <strong>nas</strong> configurações<br />
transversal e longitudinal [47].<br />
Para estudarmos o processo de ressonância em filmes temos que supor que estes<br />
são sóli<strong>do</strong>s planares (plano XY), com uma anisotropia na direção unitária ˆ K (plano<br />
XZ) que, por sua vez, forma um ângulo α com o eixo z (Figura 13). Os ângulos θH e ψ<br />
definem a orientação <strong>do</strong> campo magnético (<br />
H r<br />
ext<br />
61<br />
), nos planos YZ e XY,<br />
respectivamente. Os ângulos θ e φ definem a orientação da magnetização M , nos<br />
mesmos planos <strong>do</strong> campo estático. Assim, consideramos basicamente três contribuições<br />
para a energia magnética <strong>do</strong> filme; a Zeeman, a de anisotropia e a de demagnetização.<br />
Particularmente a energia anisotrópica tem várias contribuições, tais como (i) a<br />
magnetocristalina; (ii) a de forma da amostra;(iii) a de volume e de superfície no caso<br />
de materiais nanoscópicos, (iv) a uniaxial, entre outras; mas vamos considerá-la como<br />
sen<strong>do</strong> uma anisotropia K ur (vide Figura 13).
Portanto, ao considerarmos que o filme está no esta<strong>do</strong> de magnetização saturada,<br />
podemos escrever a energia livre magnética total de uma camada magnética como sen<strong>do</strong><br />
[49 e 50]:<br />
E = k sen θ<br />
1<br />
α + sen αsen φ − sen θ sen α<br />
2<br />
φ<br />
−M ⋅ H[cos cos + sen sen cos( − )] − 2 M sen<br />
2 2 2<br />
[ (cos2 ) 2 2 cos ]<br />
2 2<br />
θ θH θ θH φ ψ π θ<br />
62<br />
(3.4)<br />
O primeiro termo da equação (3.4) corresponde à energia de anisotropia, onde a<br />
constante k é a constante de anisotropia por unidade de volume. O segun<strong>do</strong> termo é a<br />
energia Zeeman, enquanto o último termo é devi<strong>do</strong> ao campo de demagnetização [49 e<br />
50]. Assim, ao medirmos os campos de ressonâncias (HR) de um magneto, estamos,<br />
indiretamente, obten<strong>do</strong> informações sobre as contribuições acima descritas. Por um<br />
la<strong>do</strong>, podemos determinar suas anisotropias, através da varredura no plano e fora <strong>do</strong><br />
plano da amostra. Por outro la<strong>do</strong>, por exemplo em tricamadas [51], podemos obter<br />
informações <strong>do</strong> tipo acoplamento magnético de camadas FM adjacentes e/ou em caso de<br />
um espaça<strong>do</strong>r AFM, podemos ainda estudar o efeito de exchange bias [48]. Para<br />
exemplificar, mostramos na Figura 14 curvas HR (campo de ressonância) em função <strong>do</strong><br />
ângulo (de ressonância) entre o campo estático e o eixo de fácil magnetização <strong>do</strong> filme<br />
NiFe/FeMn/NiFe [48], para uma varredura no plano. O autor atribui as duas<br />
componentes observadas <strong>nas</strong> medidas de FMR sen<strong>do</strong> devidas as camadas de NiFe<br />
inferior (I) e superior (S), e que estão magneticamente acopladas com a camada de<br />
FeMn, via efeito de exchange bias [48].
Figura 13 - Magnetização M , campo magnético H e anisotropia uniaxial k representa<strong>do</strong>s<br />
em um sistema de coordenadas onde o filme encontra-se no plano XY [48].<br />
Figura 14 - Curva característica de uma varredura angular no plano para uma tricamada de<br />
NiFe/FeMn/NiFe, onde I e S representam as camadas inferior e superior de NiFe<br />
respectivamente [48].<br />
63
A varredura angular fora <strong>do</strong> plano nos permite também obter informações sobre<br />
acoplamentos magnéticos existentes em filmes finos. Novamente para exemplificar,<br />
apresentamos na Figura 15 resulta<strong>do</strong>s da varredura angular fora <strong>do</strong> plano para uma<br />
tricamada de NiFe/FeMn/NiFe [48]. O autor justifica que as camadas estão acopladas,<br />
pois os mo<strong>do</strong>s uniformes ficam superpostos durante toda varredura [48]. Se as camadas<br />
FM estivessem “desacopladas” magneticamente, deveríamos esperar que estas duas<br />
componentes se interceptassem, pelo menos, uma única vez à medida que começa a<br />
varredura fora <strong>do</strong> plano (aumento <strong>do</strong> ângulo de varredura), já que as camadas<br />
individuais estão “liberdades” e não necessariamente possuem a mesma anisotropia<br />
magnética.<br />
Ângulo (graus)<br />
Figura 15 - Curva característica de uma varredura angular fora <strong>do</strong> plano para uma tricamada<br />
de NiFe/FeMn/NiFe, onde I e S representam as camadas inferior e superior de NiFe<br />
respectivamente [48].<br />
Em resumo, através de medidas de FMR em função da orientação <strong>do</strong> campo<br />
uuuuur<br />
magnético aplica<strong>do</strong> ( H ) no plano ou fora <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> filme, podemos estimar as<br />
ext<br />
anisotropias planar e perpendicular (as anisotropia não foram investigadas nesta<br />
64
dissertação), além de obtermos informações a respeito <strong>do</strong> acoplamento de camadas FM<br />
separadas por uma outra camada AFM, formação de uma nova fase na interface, etc.<br />
Neste trabalho, utilizamos o espectrômetro modelo ESP300C, marca Bruker em banda-<br />
X (9,59 GHz) e banda-Q (34 GHz) <strong>do</strong> Instituto de Física da Universidade Federal de<br />
Goiás, coordena<strong>do</strong> pelo Prof. Fernan<strong>do</strong> Pelegrini. Usamos um valor máximo de campo<br />
de 20 kOe. No experimento, fizemos medidas com a direção <strong>do</strong> campo estático paralelo<br />
ao plano da amostra (giramos, relativo à direção <strong>do</strong> campo aplica<strong>do</strong>, a amostra no seu<br />
plano) e perpendicular ao plano da amostra (giramos, relativo à direção <strong>do</strong> campo<br />
aplica<strong>do</strong>, a amostra para fora <strong>do</strong> plano).<br />
3.2.3.3 Dicroísmo Circular Magnético por Absorção de Raios-X (XMCD)<br />
Dicroísmo circular magnético por absorção de raios-X (XMCD = X-ray<br />
Magnetic Circular Dichroism) é uma poderosa ferramenta de caracterização magnética<br />
de materiais magneticamente ordena<strong>do</strong>s. Esta técnica consiste em medir a diferença<br />
entre espectros de absorções (para uma luz polarizada à esquerda e à direita<br />
respectivamente) quan<strong>do</strong> a amostra está submetida a um campo magnético externo com<br />
direção ao longo da propagação <strong>do</strong> feixe de luz. [52]. A técnica XMCD é elemento<br />
seletivo, pois a posição da borda L de energia varia fortemente com o número atômico.<br />
No caso deste trabalho, temos basicamente elementos 3d, ou seja, o Fe, cuja a faixa de<br />
energia de absorção L está entre 708,1 eV (L3) e 721,1 eV (L2), e o Mn que está entre<br />
640,3 eV (L3) e 651,4 eV (L2). Particularmente, as propriedades magnéticas <strong>do</strong>s metais<br />
de transição (elementos 3d) são basicamente governadas pelos elétrons 3d (bandas não<br />
completas). Estamos, portanto interessa<strong>do</strong>s em excitar os elétrons <strong>do</strong> orbital 2p (2p3/2 e<br />
65
2p1/2) para a banda 3d e medir os sinais de absorção, quan<strong>do</strong> incidimos luz polarizada à<br />
direita e à esquerda (vide Figura 16) .<br />
Figura 16 - Transições <strong>do</strong>s níveis 2p para os buracos vazios <strong>do</strong> nível 3d <strong>do</strong>s metais de<br />
transição, as bolas azuis representam os elétrons com spin up e as verdes com spin <strong>do</strong>wn [53].<br />
Em resumo, para o caso <strong>do</strong>s metais de transição 3d, usamos as bordas de<br />
absorção L2 e L3 <strong>do</strong>s metais para gerar os sinais de dicroísmo. Obtemos este sinal de<br />
dicroísmo através das diferentes excitações <strong>do</strong>s elétrons <strong>do</strong>s sub-níveis 2p1/2 e 2p3/2 para<br />
a banda de condução 3d, ou seja, indiretamente medimos a diferença entre o número de<br />
elétrons com spins-up e spin-<strong>do</strong>wn, que podem ser excita<strong>do</strong>s para a banda 3d. No fun<strong>do</strong>,<br />
o que medimos são os buracos da camada 3d, que estão associa<strong>do</strong>s com o magnetismo<br />
<strong>do</strong> material. Todavia, nestas energias (em ultra-alto vácuo) a profundidade de<br />
observação (excitação eletrônica) é baixa (da ordem de deze<strong>nas</strong> de nanômetros), o que<br />
propicia à aplicação desta técnica a análise de superfície. Apresentamos na Figura 17 os<br />
66
espectros de absorção (luz polarizada à direita (preta) e à esquerda (vermelha) e o sinal<br />
de dicroísmo (azul)) de um filme fino de Fe [48].<br />
Figura 17 - Espectro de Absorção e dicroísmo (azul) para uma amostra de Fe[48].<br />
Realizamos as medidas de XMDC na linha D08A-SGM <strong>do</strong> Laboratório<br />
Nacional de Luz Síncrotron (LNLS–Campi<strong>nas</strong>). Posicionamos as amostras em uma<br />
câmara de ultra-alto vácuo com pressão de base na ordem de 10 -8 Torr. Medimos cada<br />
amostra com seus planos fazen<strong>do</strong> ângulos de 30º, 45º e 90º com relação à direção <strong>do</strong><br />
feixe de luz. Essas medidas em função <strong>do</strong> ângulo nos fornecem a direção de<br />
magnetização das camadas magnéticas analisadas. Selecionamos uma dada polarização<br />
(circular à esquerda ou à direita) e submetemos a amostra a um campo magnético<br />
externo de 2 kOe produzi<strong>do</strong>, por um imã permanente, com sua direção paralela à<br />
direção de propagação <strong>do</strong> feixe de raios-X. Obtivemos os resulta<strong>do</strong>s de XMDC da<br />
subtração de <strong>do</strong>is espectros de absorção adquiri<strong>do</strong>s com magnetização oposta a direção<br />
<strong>do</strong> feixe (giramos o imã permanente em 180º). Este procedimento (manter a polarização<br />
67
da linha fixa e girar o imã permanente) é equivalente a mudar a polarização <strong>do</strong> feixe e<br />
manter o imã permanente fixo. Para melhor captarmos os elétrons emiti<strong>do</strong>s (méto<strong>do</strong> de<br />
corrente de elétrons), camadas fi<strong>nas</strong> <strong>do</strong> material foram removidas por intermédio de um<br />
processo de corrosão iônica (ion sputtering) realiza<strong>do</strong> in situ, com íons de 1 keV<br />
(corrente de íons da grandeza de 10 µA) e ângulo de incidência de 25 o<br />
, em relação a<br />
normal <strong>do</strong> filme.<br />
68
Capítulo 4<br />
Análise <strong>do</strong>s Resulta<strong>do</strong>s<br />
Passamani e cols. [14] mostraram que no sistema Fe/Mn/Fe a interface superior<br />
(Fe sobre Mn = Fe/Mn) é mais rugosa <strong>do</strong> que a interface inferior (Mn sobre Fe =<br />
Mn/Fe). Ainda neste sistema, Yan e cols. [10] encontraram acoplamentos<br />
ferromagnéticos, antiferromagnéticos e não-colineares em um whisker de<br />
Fe(5nm)/Mn(0-4nm)/Fe(5nm). Basean<strong>do</strong>-se nestes artigos, escolhemos investigar o<br />
efeito da rugosidade sobre o ângulo de acoplamento das camadas de Fe, quan<strong>do</strong><br />
separadas por uma camada ccc (δ-Mn) com espessura fixa.<br />
4.1 Resulta<strong>do</strong>s de RHEED<br />
Acompanhamos, com medidas in-situ de RHEED, o crescimento epitaxial das<br />
camadas individuais de Fe e Mn durante o processo de deposição das tricamadas (Tr-<br />
Fe/Mn/Fe). Vale dizer novamente que Passamani e cols. [14] mostraram que <strong>nas</strong><br />
amostras <strong>do</strong> tipo MgO/Fe(5nm)/Mn(xnm)/Fe(5nm)/Si(5nm) (x = 0,5 – 3,0 nm) a<br />
estrutura ccc-Mn (δ-Mn) é estabilizada para uma espessura máxima de Mn de 1 nm,<br />
independentemente da temperatura <strong>do</strong> substrato (TS).<br />
Apresentaremos abaixo os padrões RHEED, para exemplificar o que acontece<br />
em geral com o crescimento epitaxial das camadas de Fe e Mn, mostran<strong>do</strong>, por<br />
exemplo, o processo de transição de fase cristalina de δ- (ccc) para α-Mn (cúbica com<br />
58 átomos); que ocorre na camada de Mn durante o seu crescimento.<br />
O padrão RHEED, após o crescimento de 5 nm de Fe sobre o MgO, consiste de<br />
raias intensas (streaks), que correspondem a um crescimento epitaxial da camada <strong>do</strong> Fe<br />
sobre o substrato MgO [100]. Ainda conforme reporta<strong>do</strong> na literatura, essas raias<br />
69
indicam que a camada de Fe possui estrutura ccc (α-Fe) e que existe uma tensão residual<br />
(deformação) de aproximadamente -3,7 % [30]. Por outro la<strong>do</strong>, os padrões RHEED da<br />
camada de Mn dependem da sua espessura (tMn). Para tMn ≤ 0,5 nm, eles indicam que a<br />
camada de Mn cresce epitaxialmente sobre a primeira camada de Fe, com parâmetro de<br />
rede, no plano, similar ao da camada de Fe. Além disso, notamos que a largura das raias<br />
aumenta, significan<strong>do</strong> que a camada de Mn deve possuir uma distribuição de<br />
parâmetros de rede (compare as Figuras 18 (a) e (b)). Com o aumento da tMn, a largura<br />
das raias continua aumentan<strong>do</strong> e sua intensidade relativa diminuin<strong>do</strong>, refletin<strong>do</strong><br />
aumentos na tensão residual e na rugosidade superficial, respectivamente. Para tMn =<br />
1nm, a largura é 6% maior que para 0,5 nm (estima<strong>do</strong> pelo pico RHEED da posição<br />
270 no eixo x). Ainda em tMn = 1nm, vemos visivelmente uma raia adicional no padrão<br />
RHEED (veja a seta na Figura 18 (c)). Por outro la<strong>do</strong>, para tMn > 1 nm (outras amostras<br />
não mostradas) esta raias e outras com menor separação aparecem menos difusas,<br />
consequentemente mais claras <strong>nas</strong> figuras de RHEED. Isto indica que a estrutura<br />
correspondente da camada de Mn com tMn > 1 nm possui um parâmetro de rede maior<br />
<strong>do</strong> que aquele <strong>do</strong>s padrões obti<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> tMn < 1nm. Este novo conjunto de raias, que<br />
<strong>do</strong>mina os padrões e figuras de RHEED para tMn> 1, é característico da fase α-Mn [54 e<br />
55]. Portanto, observamos que <strong>nas</strong> tricamadas <strong>do</strong> tipo MgO/Fe/Mn/Fe, a fase ccc-Mn<br />
(δ-Mn) é estabilizada até espessura máxima de 1nm similarmente ao observa<strong>do</strong> por<br />
Passamani e cols. [14]. Além disso, o aparecimento de novas raias (Figura 18 (b) e (c))<br />
indica nova estrutura, consequentemente sugere que a superfície da camada de Mn<br />
começa a ter estrutura <strong>do</strong> tipo α-Mn. Este processo de transição de fase está relaciona<strong>do</strong><br />
com o aumento da tensão interna com o aumento da sua espessura da fase δ-Mn. De<br />
fato, já esperamos que as tensões inter<strong>nas</strong> venham <strong>do</strong> crescimento epitaxial da camada<br />
de Fe de 5,0 nm crescida sobre o MgO. A comprovação desta argumentação é realizada<br />
70
com o crescimento epitaxial da camada de Mn com espessuras de até 2,5 nm, quan<strong>do</strong><br />
depositada sobre MgO/Fe(20nm) (Figura 19). Portanto, nossa observação sugere que a<br />
espessura crítica para a fase δ-Mn é fortemente dependente <strong>do</strong> grau de rugosidade e/ou<br />
tensão interna da camada de Mn que está sen<strong>do</strong> crescida, ou seja, se a camada de Fe<br />
estiver sob tensão interna (~ 5,0 nm), esta tensão será transmitida para a camada de Mn<br />
que também é crescida epitaxialmente fazen<strong>do</strong> com que o sistema busque um esta<strong>do</strong> de<br />
menor energia estrutural (relaxação estrutural), ou seja, busque a fase de menor energia<br />
<strong>do</strong> Mn, que é a fase α-Mn.<br />
A segunda camada de Fe também cresce epitaxialmente sobre a camada de δ-<br />
Mn, quan<strong>do</strong> tMn ≤ 1 nm. Para o caso da camada inferior de Fe ter 5,0 nm de espessura<br />
(amostra A1), os padrões de RHEED da primeira monocamada de Fe depositada sobre a<br />
camada de Mn (segunda camada de Fe) possuem as mesmas características que os<br />
padrões de RHEED para tMn = 1 nm (Figura 18 (d)). Somente após 1,5 nm de Fe<br />
( 57 Fe(1nm) + nat Fe(0,5nm)), observamos exclusivamente as raias da fase α-Fe. Notamos<br />
também que as raias (Figura 18 (e)) estão ligeiramente deslocadas relativa àquelas<br />
mostradas na Figura 18 (f). Isto é um indicativo que a camada superior de Fe está<br />
relaxada estruturalmente. Além disso, a intensidade das raias fica mais forte e menos<br />
difusa com o aumento da espessura de Fe. Finalmente, o padrão e figura de RHEED da<br />
camada de Si (não mostra<strong>do</strong>s aqui) não são constituí<strong>do</strong>s de raias, mas por um halo<br />
difuso, que confirma a natureza amorfa da camada de Si depositada como cobertura de<br />
proteção contra oxidação <strong>do</strong>s filmes.<br />
71
Figura 18 - Padrões de RHEED da MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si, (amostra A1) toma<strong>do</strong>s<br />
para diferentes espessuras das camadas de Fe e Mn, conforme indica<strong>do</strong> pelas letras (a-f). Do<br />
la<strong>do</strong> direito de cada padrão encontramos as figuras de RHEED obtidas pela câmera digital.<br />
Obtivemos cada padrão através de uma varredura ao longo da figura de RHEED. A linha<br />
vermelha marca a região onde foi feita à varredura para obter as figuras de RHEED.<br />
Figura 19 - Figuras de RHEED de um filme MgO/Fe(20nm)/Mn(2,5nm) prepara<strong>do</strong> a 175ºC.<br />
Em (a) 20 nm de Fe; (b) 1nm de Mn; (c) 1,5nm de Mn e (d) 2,5nm de Mn.<br />
72
4.2 Resulta<strong>do</strong>s de RBS<br />
Comparamos na Figura 20 os da<strong>do</strong>s RBS/channeling e RBS/ran<strong>do</strong>m da amostra<br />
A1. As setas, no interior desta figura, sugerem as posições, em energias, que deveríamos<br />
encontrar átomos de Fe e Si supon<strong>do</strong> uma incidência de partículas α com energia de<br />
1,57 MeV e com detector fixo na posição de 172 0 . A posição em energia <strong>do</strong>s átomos de<br />
Mn está próxima aos de Fe da camada superior. Numa leitura qualitativa <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da<br />
Figura 20 podemos sugerir que (i) há uma boa epitaxia fora plano para a amostra A1,<br />
uma vez que, na configuração channeling o feixe retro-espalha<strong>do</strong> tem sua intensidade<br />
reduzida em 62% compara<strong>do</strong> com aquela obtida com RBS/ran<strong>do</strong>m na mesma amostra;<br />
(ii) a segunda camada de Fe aparentemente tem o mesmo grau de epitaxia que a camada<br />
de Fe crescida sobre o MgO, já que as amplitudes de seus sinais são aproximadamente<br />
iguais (ampliação na Figura 20) e (iii) aparentemente a camada de Mn também tem o<br />
mesmo grau de epitaxia das camadas de Fe. Cabe frisar que observamos também esses<br />
efeitos para as demais tricamadas.<br />
Concluímos, a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s de RHEED e RBS, que as Tr-Fe/Mn/Fe<br />
deste trabalho possuem um bom grau de epitaxia no plano (RHEED) e fora (RBS) dele,<br />
o que garante sua qualidade.<br />
73
Figura 20 - Espectros de RBS/channeling e RBS/ran<strong>do</strong>m <strong>do</strong> filme MgO/Fe<br />
(5nm)/Mn(1nm)/Fe(1 nm)/a-Si(8nm) (amostra A1) preparada a 150°C. A figura inserida é uma<br />
ampliação da região de energia para mostrar as amplitudes <strong>do</strong>s sinais de RBS das camadas<br />
superior e inferior, como indicadas por setas.<br />
4.3 Resulta<strong>do</strong>s de CEMS<br />
Mostramos na Figura 21 os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s espectros Mössbauer de emissão<br />
(CEMS) obti<strong>do</strong>s à temperatura ambiente para a bicamada MgO/Fe/Mn/Si e as<br />
tricamadas MgO/Fe/Mn/Fe preparadas à diferentes Ts, mas com a mesma espessura de<br />
Mn de 0,5 nm (tais filmes foram prepara<strong>do</strong>s e estuda<strong>do</strong>s por Passamani e cols. [14]).<br />
Vemos da Figura 21 que os espectros são to<strong>do</strong>s compostos por seis linhas de emissão<br />
(sexteto), sugerin<strong>do</strong> que os átomos de Fe estão sujeitos a uma interação Zeeman<br />
nuclear. As larguras de linha <strong>do</strong>s espectros não estão estreitas quanto àquelas de um<br />
filme de Fe puro, com a mesma espessura (amostra de calibração). De fato, as larguras<br />
de linha de emissão <strong>do</strong>s espectros CEMS são relativamente alargadas, sugerin<strong>do</strong> que os<br />
átomos de Fe encontram-se submeti<strong>do</strong>s a uma distribuição de campos magnéticos<br />
74
hiperfinos. Assim, realizamos os ajustes destes espectros com duas componentes<br />
magnéticas. A primeira é um sexteto (sub-espectro vermelho) com parâmetros<br />
hiperfinos similares ao da fase α-Fe [IS = 0,01(2)mm/s e Bhf = 33T], enquanto a<br />
segunda componente consiste de uma distribuição de campos magnéticos hiperfinos<br />
(DCMH), devi<strong>do</strong> a presenças de átomos Mn próximos ao de Fe e/ou devi<strong>do</strong> ao número<br />
reduzi<strong>do</strong> da coordenação <strong>do</strong>s átomos de Fe (sub-espectro azul). As curvas de DCMH<br />
(mostradas no la<strong>do</strong> direito <strong>do</strong>s espetros da Figura 21) possuem em comum um pico<br />
principal em torno de 31 T, e outros valores menores de campos magnéticos hiperfinos<br />
(Bhf), com picos (valores discretos) em torno de 8, 16 e 24 T. As contribuições das<br />
componentes acima mencionadas são mais evidentes na curva de distribuição de DCMH<br />
da tricamada preparada a 150 ºC. Entretanto, para entendermos estes valores de Bhf e ao<br />
mesmo tempo a fração relativa à distribuição de DCMH tomaremos os resulta<strong>do</strong>s da<br />
bicamada e da tricamada preparadas a 50ºC. É importante enfatizar que a componente<br />
de distribuição também está presente na bicamada crescida à 50ºC, mostran<strong>do</strong> que a<br />
redução <strong>do</strong> Bhf é devida aos átomos de Mn. De fato, Wu e Freeman [56] reportaram que<br />
átomos de Fe na interface exibem uma redução em seus momentos magnéticos devida à<br />
influência <strong>do</strong>s átomos de Mn na vizinhança <strong>do</strong> Fe. Esta redução nos momentos<br />
magnéticos <strong>do</strong> Fe resulta em uma diminuição nos valores de campo magnético hiperfino<br />
efetivo (<br />
ef<br />
B hf<br />
57<br />
) nos sítios <strong>do</strong>s átomos de Fe, os quais, em princípio, podem ser descritos<br />
como uma soma de <strong>do</strong>is principais termos:<br />
core CEP<br />
hf hf<br />
75<br />
B + B . A primeira contribuição ( B )<br />
é devida principalmente aos momentos magnéticos <strong>do</strong> Fe, enquanto a segunda ( B )<br />
leva em consideração a polarização <strong>do</strong>s elétrons de condução (CEP) devi<strong>do</strong> à presença<br />
de átomos de Mn e/ou ao número reduzi<strong>do</strong> de átomos de Fe na interface. Assim, para<br />
uma interface plana (flat) poderíamos esperar que um espectro CEMS pudesse ser<br />
basicamente composto por (i) uma interface ideal de 57 Fe/Mn e (ii) contribuição de Fe<br />
core<br />
hf<br />
CEP<br />
hf
ulk (camadas de Fe fora da interface). Para uma interface rugosa, entretanto, existem<br />
varias configurações não equivalentes para os átomos de 57 Fe, tais como aquelas<br />
oriundas quan<strong>do</strong> estes átomos estiverem <strong>nas</strong> qui<strong>nas</strong>, nos degraus, <strong>nas</strong> bordas e <strong>nas</strong><br />
regiões pla<strong>nas</strong> além <strong>do</strong>s átomos distantes das interfaces, resultan<strong>do</strong> portanto em uma<br />
vasta faixa de valores de<br />
76<br />
ef<br />
B hf devida à variação <strong>do</strong> efeito <strong>do</strong>s elétrons de condução<br />
(CEP). Existe também a possibilidade de formação de uma liga propriamente dita entre<br />
os átomos localiza<strong>do</strong>s na interface, resultan<strong>do</strong> em uma distribuição (magnética ou<br />
elétrica) ao invés de sítios de Fe bem defini<strong>do</strong>s. A distinção entre as possibilidades A<br />
(rugosidade, degraus, etc) da B (liga) é relativamente difícil de ser separada via<br />
Mössbauer em espectros tão largos, entretanto os deslocamentos isoméricos (δ ~0,0<br />
mm/s em relação ao α-Fe à temperatura ambiente) da distribuição são próximos ao <strong>do</strong> α-<br />
Fe, sugerin<strong>do</strong> que não há formação de uma liga Fe/Mn <strong>nas</strong> fases conhecidas [57].<br />
Figura 21 - Espectros CEMS obti<strong>do</strong>s à temperatura ambiente para bicamada em (D) e<br />
tricamadas em (A), (B), e (C) preparadas a 50ºC, 100ºC e 150ºC. Os pontos são da<strong>do</strong>s
experimentais, enquanto as linhas correspondem aos sub-espectros e ao ajuste total. No centro<br />
desta figura as curvas de distribuição de Bhf, enquanto no la<strong>do</strong> direito um esquema <strong>do</strong>s filmes<br />
[14].<br />
No trabalho publica<strong>do</strong>, Passamani e cols. [14] mostraram que a bicamada<br />
MgO/Fe(5nm)/Mn(0,5nm)/Si e a tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(0,5nm)/Fe(5nm)/Si<br />
preparadas a 50ºC possuem interfaces (inferior (Mn/Fe) e superior (Fe/Mn)) não<br />
equivalentes, conforme já menciona<strong>do</strong>. Para isso, foi assumi<strong>do</strong>, que to<strong>do</strong> nat Fe (4 nm em<br />
cada camada de Fe) estivesse na fase α-Fe, e a partir pela área <strong>do</strong> sexteto (α-Fe), foi<br />
estima<strong>do</strong> em 0,39 nm a espessura da fase α-Fe na interface Fe/Mn da bicamada,<br />
enquanto na tricamada o valor foi de 0,28 nm (0,56/2 nm). Assim, os autores<br />
concluíram que ambas as interfaces [Mn/Fe (inferior) e Fe/Mn (superior)] não são<br />
equivalentes um em relação ao outro. Além disso, eles sugerem que a interface inferior<br />
é menos rugosa em escala atômica, aparentemente consistente com os resulta<strong>do</strong>s de<br />
RHEED e/ou apresentam menor interdifusão <strong>do</strong> que a camada superior. Esta diferença<br />
entre as interfaces inferior e superior é também similar às observações feitas em<br />
multicamadas de Fe/Cr [58, 59, 62 e 61], de Fe/V [62] e outros sistemas [63]. Neste<br />
trabalho esquematizamos, na Figura 22, como seria a rugosidade <strong>nas</strong> interfaces superior<br />
e inferior para a bicamada e tricamadas preparadas a 50 ºC. Os valores de Bhf ~ 8 T e 20<br />
T podem estar sugerin<strong>do</strong> um grande número de vizinhos de Mn (centro da camada de<br />
Mn), enquanto 31 T seriam devi<strong>do</strong> aos átomos de Fe com vizinhos de Mn <strong>nas</strong><br />
interfaces. O sexteto está relaciona<strong>do</strong> com os átomos de Fe (verdes e azuis) ten<strong>do</strong><br />
somente Fe como primeiros, segun<strong>do</strong>s, terceiros, vizinhos.<br />
77
Figura 22 - Esquematização da distribuição <strong>do</strong>s átomos de Fe e Mn <strong>nas</strong> tricamadas e bicamada<br />
de Fe/Mn. A faixa verde, acima das bolinhas, representa a camada Si amorfa.<br />
Na Figura 23 temos o espectro de CEMS, à temperatura ambiente, da amostra<br />
A1. Este espectro é semelhante (exceto pela fração de átomos de Fe afeta<strong>do</strong>s na<br />
interface) aos das tricamadas reportadas por Passamani e cols. [14] (Figura 21),<br />
conseqüentemente a explicação física das componentes magnéticas deste espectro é<br />
semelhante àquela dada anteriormente, ou seja, o sexteto devi<strong>do</strong> aos átomos de Fe com<br />
átomos de Fe como primeiros, segun<strong>do</strong>s, terceiros, etc. vizinhos, enquanto a DCMH é<br />
devi<strong>do</strong> aos átomos de Fe com átomos de Mn como primeiros, segun<strong>do</strong>s, terceiros,<br />
quartos, etc. vizinhos (Figura 22) e localiza<strong>do</strong>s nos degraus, qui<strong>nas</strong> etc das rugosidades<br />
da camada. Todavia, além das duas componentes magnéticas, particularmente este<br />
espectro, possui uma outra componente quadrupolar (dubleto), com IS = -0,21 mm/s<br />
(relativo ao α-Fe) e des<strong>do</strong>bramento quadrupolar DQ = 0,47 mm/s. Esta nova<br />
componente é atribuída a formação de uma liga de FeMn, ocasionada pelo aparecimento<br />
da fase α-Mn (Figura 18(c) e (d)). Um fato que merece ser coloca<strong>do</strong> é que este dubleto<br />
apareceu em todas as amostras que apresentaram no RHEED a transição de fase<br />
cristalina <strong>do</strong> δ-Mn para o α-Mn (amostras não estudadas neste trabalho).<br />
Na Figura 24 mostramos o espectro CEMS, à temperatura ambiente, para a<br />
amostra A3. Similar aos espectros das outras tricamadas, inclusive ao da amostra A1,<br />
este espectro também apresenta as seis linhas de emissão ressonante e é analisa<strong>do</strong> com<br />
78
os mesmos <strong>do</strong>is subespectros magnéticos (sexteto e DCMH). A DCMH nos fornece a<br />
fração de átomos afeta<strong>do</strong>s por efeitos da interface. Logo, a área de DCMH nos dá<br />
informações a respeito da rugosidade interfaciais de nossas amostras. Nas amostras A1 e<br />
A3 estas áreas equivalem a 83% e 60% da área total <strong>do</strong> espectro Mössbauer,<br />
respectivamente. Em primeira aproximação, consideramos que os 2 nm de 57 Fe das<br />
interfaces representam 100% da área total <strong>do</strong> espectro Mössbauer. Assim, para as<br />
amostras A1 e A3 as espessuras das camadas de Fe afetadas por efeitos de interfaces<br />
correspondem a 1,66 nm e 1,20 nm, respectivamente. Com isso, concluímos que as<br />
interfaces da amostra A1(preparada a 150ºC) são mais rugosas <strong>do</strong> que àquelas da<br />
amostra A3 (preparada a 50ºC). Aparentemente, este efeito é similar ao obti<strong>do</strong> para as<br />
tricamadas preparadas a diferentes temperaturas para o substrato (Figura 21 e discussão<br />
na Ref. [14]). <strong>Não</strong> obtivemos, o espectro Mössbauer para a amostra A2 devi<strong>do</strong> terem<br />
ocorri<strong>do</strong> problemas técnicos no espectrômetro CEMS <strong>do</strong> LEMAG/<strong>UFES</strong>.<br />
79
Figura 23 - Em (a) espectro de CEMS, obti<strong>do</strong> à temperatura ambiente, para a tricamada<br />
MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 150 o C (Amostra A1). Em (b) a curva de<br />
distribuição de campos magnéticos hiperfinos para a Amostra A1.<br />
80
Figura 24 -Em (a) espectro CEMS obti<strong>do</strong> à temperatura ambiente para a tricamada<br />
MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) prepara<strong>do</strong> a 50 o C (Amostra A3). Em (b) a<br />
curvade distribuição de campos magnéticos hiperfinos para a Amostra A3.<br />
81
Finalmente, como discutimos no Capítulo 3, podemos obter a direção da<br />
magnetização das camadas de Fe com relação ao plano <strong>do</strong> filme. Assim, determinamos<br />
a orientação da magnetização usan<strong>do</strong> os valores calcula<strong>do</strong>s da razão entre as linhas de<br />
emissão <strong>do</strong>s espectros CEMS apresenta<strong>do</strong>s, já que a razão entre as linhas é dada por:<br />
3:x:1:1:x:3 com<br />
x sen θ θ<br />
2 2<br />
= 4 ( ) /[1 + cos ( )] , θ sen<strong>do</strong> o ângulo entre o raio γ incidente e<br />
a direção da magnetização. Em nossos filmes, as intensidades relativas das linhas, de<br />
ambos subespectros (bulk e interface), indicam que a magnetização das camadas de Fe,<br />
à temperatura ambiente, está praticamente no plano <strong>do</strong> filme, já que o valor médio de x<br />
~ 3,8 para ambas as componentes magnéticas (valor máximo 4,0). Este resulta<strong>do</strong> está de<br />
acor<strong>do</strong> com as medidas de XMCD que serão discutidas mais adiante.<br />
4.4 Resulta<strong>do</strong>s de XMCD<br />
Inicialmente, extraímos o sinal de dicroísmo das amostras A1 e A2, após usarmos<br />
os diversos passos sugeri<strong>do</strong>s na referência [48]. Depois usan<strong>do</strong> as regras de soma,<br />
calculamos os valores de<br />
eff<br />
ms e l<br />
m através das equações [64]:<br />
m<br />
m<br />
n (A − 2B)<br />
= −<br />
P ⋅cosθ ⋅A<br />
eff h<br />
s<br />
C<br />
l<br />
2n h(A+B)<br />
= −<br />
3P ⋅cosθ ⋅ A<br />
C<br />
iso<br />
iso<br />
82<br />
(4.1)<br />
Onde nh é o número de buracos na banda 3d, Pc é o grau de polarização <strong>do</strong> feixe de luz,<br />
θ é o ângulo entre o feixe e o plano da amostra, A e B são as áreas <strong>do</strong> sinal de dicroísmo<br />
referentes as bordas L3 e L2, respectivamente e A iso é a área isotrópica. Obtivemos o<br />
grau de polarização <strong>do</strong> feixe através de uma medida em filme padrão de Fe, e seu valor<br />
é aproximadamente 0,8 (detalhes da parte experimental pode ser encontra<strong>do</strong> em [48]).
Além disso, assumimos o valor de nh para a fase α-Fe (bulk) é de 3,43 [67].<br />
Exemplificamos, <strong>nas</strong> Figuras 25 e 26, alguns <strong>do</strong>s espectros de dicroísmo para as bordas<br />
<strong>do</strong> Fe e <strong>do</strong> Mn, respectivamente.<br />
Figura 25 - Espectro de XMCD da amostra MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si (amostra A1)<br />
na faixa de absorção <strong>do</strong> Fe com o feixe de radiação incidente a 45º <strong>do</strong> plano da amostra. Em<br />
verde e vermelho são as absorções para polarização a direita e a esquerda, enquanto em preto<br />
temos os sinal de dicroísmo.<br />
Intensidade (u.a)<br />
Mn<br />
θ = 45º<br />
Energia (eV)<br />
Figura 26 - Espectro de XMCD da tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si (amostra A1)<br />
na faixa de absorção <strong>do</strong> Mn com o feixe de radiação incidente a 45º <strong>do</strong> plano da amostra.<br />
83
Apresentamos <strong>nas</strong> Tabelas 3 e 4 os resulta<strong>do</strong>s das medidas de XMCD das<br />
amostras A1 e A2, respectivamente.<br />
Tabela 3 – Valores calcula<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s momentos de spin (<br />
84<br />
eff<br />
ms f ) e orbital (ml ) <strong>do</strong>s átomos de Fe e<br />
de Mn na tricamada MgO/Fe(5 nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparadas a 150 ºC (amostra A1).<br />
Elemento Ângulo θ ( 0 ) eff<br />
m s (µB/átomo) ml (µB/átomo)<br />
Fe 90 0 0<br />
Fe 45 1,9 0,3<br />
Fe 30 2,1 0,2<br />
Mn 90 0 0<br />
Mn 45 0 0<br />
Mn 30 0 0<br />
Tabela 4 - Valores calcula<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s momentos de spin (<br />
eff<br />
ms f ) e orbital (ml ) <strong>do</strong>s átomos de Fe e<br />
de Mn na tricamada MgO/Fe(20 nm)/ Mn(1nm)/Fe(5nm) preparadas a 175 ºC (amostra A2).<br />
Elemento Ângulo θ ( 0 ) eff<br />
m s (µB/átomo) ml (µB/átomo)<br />
Fe 90 0 0<br />
Fe 45 2,1 0,3<br />
Fe 30 2,9 0,7<br />
Mn 90 0 0<br />
Mn 45 0 0<br />
Para as camadas de Fe (Tabelas 3 e 4), os resulta<strong>do</strong>s indicam que: (i) em ambas<br />
as amostras (A1 e A2), a magnetização está no plano <strong>do</strong> filme, uma vez que, os valores<br />
de<br />
eff<br />
m s aumentam quan<strong>do</strong> o valor <strong>do</strong> ângulo diminui; (ii) o momento magnético de spin<br />
é semelhante ao encontra<strong>do</strong> para um filme de Fe puro [48], inclusive o aumento de 2,9<br />
µB/átomo (amostra A2). O resulta<strong>do</strong> (i) é confirma<strong>do</strong> pelas medidas de Mössbauer<br />
discuti<strong>do</strong>s anteriormente. Finamente, devemos ressaltar a contribuição não nula para o<br />
momento orbital, já que esta contribuição é considerada apagada (nula) em metais 3d<br />
volumétricos (bulk) pela ação <strong>do</strong> campo cristalino. Entretanto, valores não nulos para a<br />
contribuição orbital têm si<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>s em filmes de metais 3d [48]. Para as camadas<br />
de Mn, observamos um sinal de dicroísmo nulo, sugerin<strong>do</strong> que a camada de Mn<br />
“sanduichadas” por camadas de Fe se encontra no esta<strong>do</strong> paramagnético ou<br />
antiferromagnético.
4.5 Resulta<strong>do</strong>s de VSM<br />
Investigamos as propriedades magnéticas de bulk das tricamadas Fe/Mn/Fe via<br />
medidas de magnetização em função <strong>do</strong> campo aplica<strong>do</strong> e da temperatura (10 – 300 K).<br />
Em to<strong>do</strong>s os casos, a intensidade <strong>do</strong> campo magnético aplica<strong>do</strong> satisfez a condição de<br />
saturação de magnetização das amostras. O campo externo teve sua direção ao longo <strong>do</strong><br />
eixo de fácil magnetização da fase de α-Fe, que é a direção [100] e que corresponde à<br />
direção [110] <strong>do</strong> substrato, conforme ilustra<strong>do</strong> na Figura 27.<br />
Figura 27 - Visão esquemática da direção <strong>do</strong> campo aplica<strong>do</strong> para as medidas de<br />
magnetização das tricamadas MgO/Fe/Mn/Fe.<br />
Mostramos na Figura 28 (a), (b) e (c) as curvas de magnetização das amostras<br />
A1, A2 e A3 para três temperaturas distintas. É notável a diferença entre estas curvas de<br />
M(H), se compararmos uma temperatura fixa (ex: 290K). Na Tabela 5, apresentamos os<br />
valores encontra<strong>do</strong>s para o campo coercivo (Hc) e a razão entre magnetização<br />
remanente (Mr) e a magnetização de saturação (Ms) para as amostras A1, A2 e A3.<br />
85
Figura 28 - Curvas de magnetização (M(H)) em diferentes temperaturas das tricamadas<br />
MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A1 ) em (a), MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si<br />
(amostra A2) em (b) e MgO/Ag(100nm)/Fe(105nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A3 ) em<br />
(c).Indicamos as respectivas temperaturas no canto inferior direito de cada curva.<br />
Tabela 5 - Valores de campo coercivo (Hc) e da razão entre as magnetizações<br />
remanente (Mr) e de saturação das tricamadas MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si<br />
(amostra A1), MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A2) e<br />
MgO/Ag(100nm)/Fe(105nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A3).<br />
Amostra<br />
A1<br />
A2<br />
A3<br />
Temperatura<br />
(K)<br />
Campo<br />
Coercivo (Hc)<br />
(Oe)<br />
(Mr/Ms)<br />
(u.a)<br />
10 40 0,77<br />
140 50 0,74<br />
290 40 0,71<br />
10 60 0,46<br />
140 40 0,42<br />
290 60 0,41<br />
10 60 0,91<br />
140 40 0,78<br />
290 40 0,85<br />
86
As curvas de M(H) (Figura 28 (a), (b) e (c)) indicam que as camadas de Fe não<br />
estão acopladas puramente ferro (loop quadra<strong>do</strong>) ou antiferromagneticamente (loop com<br />
magnetização aumentan<strong>do</strong> lentamente com campo). Além disso, os valores de Mr/Ms<br />
sugerem que as camadas de Fe possuem acoplamentos não colineares,<br />
consequentemente similares àqueles reporta<strong>do</strong>s por Yan e cols. [27] para tricamadas<br />
Fe/Mn/Fe depositadas sobre uma camada buffer de Ag [10] e/ou por Pierce e cols. [11],<br />
para bicamadas de Fe/Mn crescidas sobre um substrato de cristal simples de Fe-ccc. O<br />
fato é que Yan e cols.[10] mostraram que o ângulo de acoplamento magnético entre as<br />
camadas de Fe varia com o aumento da espessura da camada de Mn (Figura 29).<br />
Figura 29 - Padrões de <strong>do</strong>mínios observa<strong>do</strong>s em um Whisker de Fe/Mn/Fe. As espessuras das<br />
camadas de Fe permanecem constantes enquanto espessura <strong>do</strong> Mn varia em: (a) 0,08 – 0,25<br />
nm;(b) 0,25 - 0,42 nm; (c) 0,38 – 0,55 nm (d) 0,5 – 0,67 nm; (e) 0,62 – 0,79nm; (f) 0,79 –<br />
0,96nm; (g)1,0 – 1,17 nm; (h) 1,13 – 1,3nm; ( i) 1,25 – 1,42 nm ; (j) 1,5 – 1,7 nm; ( k) 2,5 – 2,7<br />
nm e l) 0,55 – 0,63 nm. As setas sólidas e pontilhadas representam as magnetizações das<br />
camadas superior e inferir de Fe, respectivamente. De (a) a (k) as figuras têm a mesma escala e<br />
em (l) a imagem está em alta resolução [10].<br />
87
Portanto, preparamos nossas amostras com mesma espessura de Mn, mas em<br />
diferentes condições para simularmos distintos graus de rugosidade interfacial, de mo<strong>do</strong><br />
a mudar o ângulo de acoplamento das tricamadas. Para a modelagem das curvas de<br />
magnetização das amostras A1, A2 e A3, fizemos as seguintes considerações: (i) a<br />
magnetização <strong>do</strong> Fe está paralela ao plano <strong>do</strong> filme (confirmada por medidas de<br />
espectroscopia Mössbauer e XMCD), e os campos de demagnetização desprezíveis.<br />
Assumimos também que os spins de uma camada individual de Fe permanecem<br />
paralelos uns com os outros devi<strong>do</strong> a um forte acoplamento de troca (intramonolayer-<br />
exchange). No nosso caso, o plano das amostras é paralelo ao plano cristalográfico<br />
(001). Assim, levan<strong>do</strong> em consideração a energia de anisotropia cúbica <strong>do</strong> Fe, a energia<br />
Zeeman e a energia de acoplamento na forma da equação (1.4), a energia magnética<br />
total é escrita como [27]:<br />
E = E + E + E ,<br />
a h c<br />
Kt sen<br />
Ea<br />
=<br />
4<br />
sen<br />
E = −HMt(cos Φ + cos Φ ),<br />
h<br />
2 2<br />
[( 2 Φ 1) + ( 2 Φ2<br />
) ]<br />
,<br />
1 2<br />
E = C ( Φ − Φ ) + C ( π − Φ − Φ ) ,<br />
c<br />
2 2<br />
+ 1 2 −<br />
1 2<br />
88<br />
(4.2)<br />
Onde a E é a energia de anisotropia, h E é a energia Zeeman e E c é a energia de<br />
acoplamento sugerida por Slonczewski. Na equação (4.2) t, M, K e H são,<br />
respectivamente, as espessuras das camadas de Fe, a magnetização de saturação das<br />
camadas de Fe, a anisotropia cúbica de primeira ordem, e o campo externo aplica<strong>do</strong>.<br />
Φ 1 (ou 2<br />
Φ ) é o ângulo entre o vetor magnetização da primeira (ou segunda) camada de<br />
Fe e a direção <strong>do</strong> campo. Φ1 − Φ 2 = θ (0 ≤ θ ≤ π ) é o ângulo entre os <strong>do</strong>is vetores de<br />
magnetização das camadas de Fe à um da<strong>do</strong> campo externo (chama<strong>do</strong> de ângulo de<br />
acoplamento). Assim, simulamos a curva de magnetização teórica minimizan<strong>do</strong> a<br />
energia total da equação (4.2) em relação à θ em da<strong>do</strong> campo externo. Para isso,
utilizamos um programa, desenvolvi<strong>do</strong> pelo grupo <strong>do</strong> IKS-KULeuven, para simularmos<br />
as curvas de M(H) medidas. São necessários os seguintes parâmetros de entrada: (i) o<br />
intervalo de campo magnético, isto é, ± H (campos da varredura <strong>do</strong> loop), (ii) as<br />
espessuras das camadas Fe, (iii) os valores das constantes de anisotropias<br />
magnetocristali<strong>nas</strong> da primeira (K1) e segunda (K2) camadas de Fe, (iv) os valores das<br />
constantes de acoplamento C+ e C- e (v) a fração efetiva de Fe acopla<strong>do</strong>s (pinholes). Em<br />
nossas simulações usamos uma fração nula de pinholes. Parâmetros tais como a<br />
temperatura e/ou a espessura <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r interferem somente no formato da curva de<br />
M(H) e portanto não são necessários. Além disso, tivemos que supor que a<br />
magnetização das camadas de Fe tinha o valor de bulk <strong>do</strong> Fe, que é de 1,76014 10 6<br />
J/Tm -3 . Apresentamos os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s ajustes (simulações), bem como os valores de<br />
C+, C- K1, K2 e θ <strong>nas</strong> Figuras 30, 32 e 34 para curvas obtidas à temperatura de 290 K.<br />
Nas Figuras 31, 33 e 35 mostramos os comportamentos das energias magnéticas em<br />
função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento magnético.<br />
Encontramos acoplamentos não-colineares para as amostras A1, A2 e A3<br />
similarmente aos resulta<strong>do</strong>s reporta<strong>do</strong>s por Yan e cols. [10], exceto pelo fato de que no<br />
caso deles o ângulo de acoplamento variava com a espessura da camada de Mn.<br />
Especificamente, os ângulos de acoplamentos das camadas de Fe são 155 o , 72 o e 47 o<br />
para as amostras A2, A1 e A3, respectivamente. Temos que mencionar que as curvas de<br />
M(H) medidas a diferentes temperaturas (Figura 28 (a), (b) e (c)) são similares às<br />
obtidas a 290 K para a mesma amostra, sugerin<strong>do</strong> que os ângulos de acoplamentos não<br />
variam com a mudança na temperatura de medida, consequentemente não necessitamos<br />
mostrar as curvas simuladas novamente.<br />
Particularmente para as amostras A1 e A3, observamos esta<strong>do</strong>s magnéticos não<br />
colineares, que facilmente são modifica<strong>do</strong>s pela ação <strong>do</strong> campo magnético externo<br />
89
(baixo campo coercivo), levan<strong>do</strong> a um esta<strong>do</strong> em que às magnetizações de ambas as<br />
camadas apontam na direção <strong>do</strong> campo externo. Por outro la<strong>do</strong>, a amostra A2 também<br />
está no esta<strong>do</strong> não-colinear (155 o igual a um esta<strong>do</strong> quase-antiferromagnético), mas as<br />
magnetizações das camadas de Fe ficam paralelas ao campo para valores superiores a<br />
0,5 T.<br />
Podemos correlacionar o valor <strong>do</strong> ângulo de acoplamento com a fração de<br />
átomos de 57 Fe afeta<strong>do</strong>s pelas interfaces (da<strong>do</strong>s de CEMS). A amostra A1 possui uma<br />
fração de 83% de átomos afeta<strong>do</strong>s pelas interfaces e um ângulo de acoplamento de 72º,<br />
enquanto a amostra A3 tem sua fração de 60% e um ângulo de acoplamento de 47º.<br />
Aparentemente, os da<strong>do</strong>s sugerem que quanto maior a fração de átomos afeta<strong>do</strong>s pela<br />
interface (aumento da rugosidade) maior será o ângulo de acoplamento no caso de<br />
amostras que possuem acoplamentos não colineares tipo ferromagnéticos (A1 e A3).<br />
Alem disso, podemos dizer que diferentes ângulos de acoplamentos das camadas de Fe<br />
não são devi<strong>do</strong>s puramente a efeito de espessura <strong>do</strong> Mn, mas sim ao grau de rugosidade<br />
interfacial presente <strong>nas</strong> tricamadas. Finalmente, a boa concordância entre as curvas de<br />
M(H) experimentais e teórica, baseadas no Proximity Magnetism Model, implica que a<br />
camada de Mn <strong>nas</strong> tricamadas Fe/Mn/Fe está em um esta<strong>do</strong> quase-antiferromagnético.<br />
Entretanto, temos que enfatizar que não observamos o efeito de exchange bias em<br />
nossas tricamadas. Logo, a ausência <strong>do</strong> efeito de exchange bias e ao mesmo tempo a<br />
existência <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> AFM para a camada de Mn sugere que: (i) seu valor de TN é<br />
superior a 290 K ou/e (ii) seu esta<strong>do</strong> AFM teria sua anisotropia magnética inferior a <strong>do</strong><br />
Fe [18]. Este ponto ainda carece de maiores investigações e medidas de M(H) em 4,2 K<br />
nos mo<strong>do</strong>s de field cooling e zero field cooling devem ser realizadas para temperaturas<br />
iniciais das amostras acima de 290 K.<br />
90
Figura 30 - Curva M(H), obtida a 290K, para a tricamada MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)<br />
preparada a 175ºC (amostra A2). A linha vermelha, passan<strong>do</strong> pelos pontos experimentais, é o<br />
resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuste usan<strong>do</strong> o modelo de Slonczewski. Os Valores das constantes de anisotropia<br />
das camadas superior (K1) e inferior (K2) assim como o ângulo de acoplamento θ são<br />
mostra<strong>do</strong>s nesta figura.<br />
Figura 31 - Comportamento da energia magnética em função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento para a<br />
tricamada MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 175ºC (amostra A2).<br />
91
Figura 32 - Curva M(H), obtida a 290K, para a tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)<br />
preparada a 150ºC (amostra A1). A linha vermelha, passan<strong>do</strong> pelos pontos experimentais, é o<br />
resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuste usan<strong>do</strong> o modelo de Slonczewski. Os valores das constantes de anisotropia<br />
das camadas superior (K1) e inferior (K2) assim como o ângulo de acoplamento θ são<br />
mostra<strong>do</strong>s nesta figura.<br />
.<br />
Figura 33 - Comportamento da energia magnética em função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento para a<br />
tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 150ºC(amostra A1)<br />
92
Figura 34 - Curva M(H), obtida a 290K, para a tricamada MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/<br />
/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 50ºC (amostra A3). A linha vermelha, passan<strong>do</strong> pelos pontos<br />
experimentais, é o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuste usan<strong>do</strong> o modelo de Slonczewski. Os valores das<br />
constantes de anisotropia das camadas superior (K1) e inferior (K2) assim como o ângulo de<br />
acoplamento θ são mostra<strong>do</strong>s nesta figura.<br />
Figura 35 -Comportamento da energia magnética em função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento para a<br />
tricamada MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 50ºC ( amostra A2).<br />
93
4.6 Resulta<strong>do</strong>s de FMR<br />
Apresentamos <strong>nas</strong> Figuras 36, 37 e 39 os espectros de FMR obti<strong>do</strong>s na banda -<br />
Q (34 GHz) para as amostras A3, A1 e A2, respectivamente. Nas Figuras 38 e 40<br />
mostramos os espectros de FMR obti<strong>do</strong>s na banda – X (9,6 GHz) das amostras A1 e A2,<br />
respectivamente. Os campos de ressonância (HR) estão indica<strong>do</strong>s, por setas, nestas<br />
figuras.<br />
Figura 36 -Espectro de FMR (banda Q - 34 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e com campo<br />
magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />
MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A3). HR é o campo de ressonância.<br />
As amostras A3 e A1 apresentam um único mo<strong>do</strong> uniforme, conforme<br />
observamos <strong>nas</strong> Figuras 36 e 37 (banda – Q) e na Figura 38 (banda–X). Podemos notar<br />
que os valores de HC (Tabela 5) para as amostras A1 e A3 são inferiores aos valores de<br />
HR, logo as ressonâncias, <strong>nas</strong> amostras A1 e A3, ocorrem quan<strong>do</strong> as magnetizações das<br />
duas camadas de Fe estão FM acopladas; ou seja, as magnetizações das camadas de Fe<br />
(superior (S) e inferior (I)) estão na direção <strong>do</strong> campo aplica<strong>do</strong>, consequentemente<br />
94
como a ressonância ocorre para valores de HR superiores aos HC e ainda a largura da<br />
linha de ressonância (distância de pico a pico) são da ordem de 150 Oe, só observamos<br />
realmente um único mo<strong>do</strong> uniforme, conforme os mostra<strong>do</strong>s <strong>nas</strong> Figuras 36, 37 e 38.<br />
Figura 37 - Espectro de FMR (banda Q - 34 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e com<br />
campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da amostra <strong>do</strong> filme<br />
MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)( amostra A1). HR é o campo de ressonância.<br />
95
Figura 38 - Espectro de FMR (banda X – 9,6 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e com<br />
campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (<br />
amostra A1). HR é o campo de ressonância.<br />
Nas Figuras 39 e 40 apresentamos os espectros de FMR da amostra A2 <strong>nas</strong><br />
bandas X e Q, respectivamente. É níti<strong>do</strong> <strong>nas</strong> figuras a presença de <strong>do</strong>is campos de<br />
ressonância. Existem, pelo menos, três hipóteses para explicar este comportamento<br />
observa<strong>do</strong> para a amostra A2. Na primeira hipótese, podemos associar estes campos de<br />
ressonância a uma liga formada na interface (~ 2 kOe) e o segun<strong>do</strong> campo a camada de<br />
Fe (~ 4,8 kOe no espectro obti<strong>do</strong> na banda Q). Esta hipótese pode ser descartada, pois<br />
não observamos este efeito <strong>nas</strong> amostras A1 e A3 que tinham grandes contribuições de<br />
fases <strong>nas</strong> interfaces (resulta<strong>do</strong> Mössbauer). A segunda hipótese é admitir a existência<br />
<strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s acústico e óptico, o que sugeria um acoplamento ferromagnético entre as<br />
camadas de Fe. Esta hipótese é descartada pelos resulta<strong>do</strong>s das curvas de magnetização<br />
teórica e experimental, anteriormente discutidas. A terceira hipótese consiste em admitir<br />
que as duas camadas estejam acopladas antiferromagneticamente e cada mo<strong>do</strong> é devi<strong>do</strong><br />
a uma das camadas de Fe. Assim, um mo<strong>do</strong> seria devi<strong>do</strong> à camada superior de Fe<br />
(menor área no espectro de FMR devi<strong>do</strong> aos 5 nm) e o outro devi<strong>do</strong> à camada inferior<br />
96
de Fe (maior área no espectro de FMR devi<strong>do</strong> aos 20 nm). Esta hipótese é confirma com<br />
o ajuste da curva de magnetização da amostra A2, que da um ângulo de acoplamento de<br />
~ 155º (caráter ‘quase’ antiferromagnético).<br />
Figura 39 - Espectro de FMR (banda Q – 34 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e com<br />
campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)<br />
(amostra A2). HRI e HRS são os campos de ressonância devi<strong>do</strong> às camadas de Fe inferior e<br />
superior, respectivamente.<br />
97
Figura 40 - Espectro de FMR (banda X - 9,6 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e com<br />
campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada MgO/ Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)<br />
(amostra A2). HRI e HRS são os campos de ressonância devi<strong>do</strong> às camadas de Fe inferior e<br />
superior, respectivamente.<br />
4.6.1 Dependência angular no plano e fora <strong>do</strong> plano<br />
Nas Figuras 41, 42 e 43 mostramos a dependência angular (no plano) em relação<br />
ao campo de ressonância das amostras A3, A1 e A2, respectivamente. Todas as amostras<br />
apresentam simetria biaxial, caracterizada pelo perío<strong>do</strong> de 90º (Figuras 41, 42 e 43). Tal<br />
simetria é típica de sistemas cúbicos, o que corroboram com nossos resulta<strong>do</strong>s de<br />
RHEED (Figura 18). Além disso, observamos <strong>nas</strong> Figuras 41, 42 e 43 que as amplitudes<br />
para as varreduras no plano ficam no intervalo entre 0,8 até 1,0 kOe. Além disso,<br />
notamos as amplitudes <strong>do</strong>s campos de ressonâncias para as camadas de Fe (superior e<br />
inferior) da amostra A2 ficam em torno de 1 kOe e seus valores individuais estão em<br />
fase (deslocan<strong>do</strong> juntas) durante toda a varredura angular, sugerin<strong>do</strong> que estas camadas<br />
estejam acopladas.<br />
98
Figura 41 - Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong> na banda Q (34<br />
GHz), com campo estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />
MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A3). Amostra posicionada inicialmente,<br />
com relação ao campo, ao longo <strong>do</strong> eixo de fácil magnetização da camada de Fe [100] (vide<br />
Figura 27) .<br />
Figura 42 -Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong> na Banda X<br />
(9,6GHz), com campo estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />
MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A1). Amostra posicionada inicialmente, com relação<br />
ao campo, ao longo <strong>do</strong> eixo de difícil magnetização da camada de Fe [110] (vide Figura 27) .<br />
99
Figura 43 -Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong> na banda X (9,6<br />
GHz), com campo estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)<br />
(amostra A2). Amostra posicionada inicialmente, com relação ao campo, ao longo <strong>do</strong> eixo de<br />
fácil magnetização da camada de Fe [100] (vide Figura 27). Em vermelho a componente<br />
associada a camada de Fe inferior e em preto a componente associada a camada de Fe<br />
superior.<br />
100<br />
Na Figura 44 mostramos a varredura angular com o campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong><br />
plano da amostra A2. Como visto anteriormente existem duas componentes, cada uma<br />
associada às camadas inferior e superior de Fe. Aparentemente, estas componentes não<br />
se interceptam, ou seja, não há um valor de campo e ângulo de ressonância em comum,<br />
sugerin<strong>do</strong> que as camadas de Fe estão fortemente acopladas, conforme já previsto com<br />
os resulta<strong>do</strong>s de magnetização.
Figura 44 -Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong>s na banda Q (34<br />
GHz) com campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> plano da tricamada MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)<br />
(amostra A2).<br />
101<br />
Nas Figuras 45 e 46 mostramos as curvas das varreduras fora <strong>do</strong> plano para a<br />
amostra A1 obtidas <strong>nas</strong> bandas Q e X, respectivamente. Em ambos os espectros de<br />
FMR, encontramos as componentes (superior e inferior) superpostas e não se separam<br />
para os valores de campos aplica<strong>do</strong>s. Tal comportamento também sugere que as<br />
camadas de Fe estão ferromagneticamente acopladas.
Figura 45 - Dependência angular em relação ao campo de ressonância (banda Q 34 GHz) com<br />
campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> filme Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A1 ).<br />
Figura 46 - Dependência angular em relação ao campo de ressonância (banda X 9,6 GHz) com<br />
campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> filme Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A1 ).<br />
102<br />
Em resumo com as medidas de FMR, podemos concluir que as camadas de Fe<br />
(superior e inferior) estão acopladas, o que está de acor<strong>do</strong> com os resulta<strong>do</strong>s de<br />
magnetização. Cabe também mencionar que estu<strong>do</strong>s devem ser feitos para se determinar<br />
os valores de anisotropia e como eles são influencia<strong>do</strong>s pela questão da rugosidade<br />
interfacial.
Capítulo 5<br />
Conclusão<br />
103<br />
Nesta dissertação de mestra<strong>do</strong> estudamos a origem <strong>do</strong> acoplamento não-colinear<br />
<strong>nas</strong> superestruturas <strong>do</strong> tipo MgO/Fe/Mn/Fe/Si. Para isso, preparamos três tricamadas<br />
manten<strong>do</strong> a espessura da fase δ-Mn em 1nm e variamos a espessura da camada de Fe<br />
crescida sobre o substrato de MgO ou modificamos o substrato através <strong>do</strong> buffer de Ag<br />
(100nm). Escolhemos a espessura de 1nm de Mn basea<strong>do</strong> em informações da literatura<br />
que mostram acoplamentos ferromagnéticos para espessuras de até 0,81 nm e<br />
acoplamentos de 90º entre as camadas de Fe para espessuras de Mn superiores a 1,2 nm.<br />
No intervalo de espessura de Mn (0,81 nm < tMn < 1,2 nm), o ângulo de acoplamento<br />
variava abruptamente entre 30º a 180º. Optamos por mudar a espessura da camada de Fe<br />
e a temperatura <strong>do</strong> substrato para propiciar diferentes graus de rugosidade <strong>nas</strong> interfaces<br />
e obviamente produzir ângulos de acoplamentos distintos entre as camadas de Fe<br />
separadas por 1 nm de Mn.<br />
Investigamos as propriedades estruturais (fases cristali<strong>nas</strong> e epitaxia) via técnica<br />
de RHEED ( in-situ) e RBS( ex-situ). Estudamos as propriedades magnéticas (interface<br />
e volume) das tricamadas produzidas com as técnicas CEMS, XMCD, VSM e FMR.<br />
Mostramos que a epitaxia da camada de Mn (δ-Mn), no plano e fora dele, ocorre para as<br />
tricamadas Fe/Mn/Fe, mas existe certo número de defeitos pontuais, deslocamentos de<br />
planos, etc. que impedem uma perfeita epitaxia (~62% de redução no sinal de RBS<br />
channeling). Com os resulta<strong>do</strong>s de RHEED, demonstramos que existe um aumento na<br />
rugosidade superficial da camada de Mn com aumento de sua espessura. Além disso,<br />
mostramos que a transição de fase de δ-Mn para α-Mn ocorre devi<strong>do</strong> a grande tensão<br />
interna da camada de Fe (5 nm) crescida sobre substrato de MgO, ou seja, quan<strong>do</strong> a
camada de Fe é suficientemente espessa (20 nm), as tensões superficiais são<br />
praticamente nulas, o que viabiliza o crescimento da fase δ-Mn para espessuras maiores<br />
(2,5 nm) <strong>do</strong> que as reportadas na literatura [13,14 e 54].<br />
104<br />
Usan<strong>do</strong> o modelo de Slonczewski, fomos capazes de ajustar as curvas de M(H) e<br />
devi<strong>do</strong> ao fato que os resulta<strong>do</strong>s de XMCD não mostram valor apreciável para o sinal<br />
de dicroísmo da camada de Mn, sugerimos que a fase δ-Mn (ccc-Mn) está em um esta<strong>do</strong><br />
AFM. Calculamos (simulamos) através <strong>do</strong>s ajustes das curvas de M(H), que o ângulo de<br />
acoplamento entre as camadas de Fe é não-colinear e seu valor varia abruptamente<br />
como o grau de rugosidade interfacial, como evidenciamos pelos resulta<strong>do</strong>s de CEMS.<br />
Podemos assim dizer que a origem <strong>do</strong> acoplamento não-colinear é devi<strong>do</strong> ao fato <strong>do</strong><br />
filme não possuir interfaces ideais, mais sim, interfaces com rugosidade sen<strong>do</strong> esta a<br />
causa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> acoplamento não-colinear como sugeri<strong>do</strong> por Slonczewski. Além disso,<br />
mesmo com o esta<strong>do</strong> AFM <strong>do</strong> Mn não observamos efeito de exchange bias, que pode<br />
estar associa<strong>do</strong> com o fato de que o TN (temperatura de Neél) é superior a 290 K e mais<br />
investigações são necessárias.
Referências:<br />
[1] J. Smits, Physics World, November, 48, (1992).<br />
[2] P. Grünberg, B. Schreiber, Y. Pang, M.B. Brodsky and C.H. Sowers, Phys. Rev.<br />
Lett. 57, 2442, (1986).<br />
[3] M.N. Baibich, J.M. Brotto, A. Fert, F.H.V. Dau, F. Petro, P. Etienne, G. Creuzet, A.<br />
Friedrich and J. Chazelas, Phys. Rev.Lett. 61, 2472, (1988).<br />
[4] T. Miyazaki and T. Tezuka, J. Magn. Magn. Mater. 139, L231, (1995).<br />
[5] J. Nogués and I.K. Schuller, J. Magn. Magn. Mater. 192, 203, (1999).<br />
[6] D. Neerinck, K. Temst, M. Baert, E. Osquiguil, C. van Haesen<strong>do</strong>nck, Y.<br />
Bruynseraede, A. Gliabert and I.K. Schuller, Phys. Rev. Lett. 67, 2577, (1991).<br />
[7]N.J.M. Carvalho, Low friction and wear resistant coatings-microstructure and<br />
mechanical properties, Tese de Doutora<strong>do</strong>, Rijksuniversiteit Groningen, 2001, available<br />
online at http://www.ub.rug.nl/el<strong>do</strong>c/dis/science/n.j.m.carvalho/.<br />
[8] D.E. Kim, D.H. Cha and S.W. Lee, J. Vac. Sci. Technol. A 15, 2291, (1997).<br />
[9] Pradyot Patnaik,Handbook of Inorganic Chemicals, MacGraw – Hill, (2002).<br />
[10] Shi-shen Yan, P. Grünberg and R. Schäfer, Phys. Rev. B 62, 5765, (2000).<br />
[11] D.T. Pierce, A.D. Pierce, A.D. Davies, J.A. Stroscio, D.A. Tulchinsky, J. Unguris<br />
and R.J. Celotta, J. Magn. Magn. Mater. 222,13, (2000).<br />
[12] S.L. Qiu, P.M. Marcus, H. Ma and Hong Ma, Phys. Rev. B. 62, 3292, (2000).<br />
[13] S. Andrieu, M. Finazzi, Ph. Bauer, H. Fischer, P. Lefevre,A. Traverse, K.<br />
Hricovini, G. Krill and M. Pieucuch, Phys. Rev. B 57, 1985, (1998).<br />
[14] E. C. Passamani, B. Croonenborghs, B. Degroote and A. Vantomme, Phys. Rev. B<br />
67, 174424, (2003).<br />
[15] S.K. Kim, Y. Tian, M. Montesano, F. Jona and P.M. Marcus, Phys. Rev. B 54,<br />
5081, (1996).<br />
105
[16] S. L. Qiu and P. M. Marcus, Phys. Rev. B 60, 14533, (1999).<br />
[17] J. Meersschaut, C. L´abbe´, M. Rots and S.D. Bader, Phys. Rev.Lett. 87, 107201,<br />
(2001).<br />
[18] J. Camarero, Y. Pennec, J. Vogel, M. Bon.m, S. Pizzini, F. Ernult, F. Fettar, F.<br />
Garcia, F. Lancon, L. Billard, B. Dieny, A. Tagliaferri and B. Brookes, Phys. Rev. Lett.<br />
91, 0272011, (2003).<br />
[19] J.C. Slonczewski, J. Magn. Magn. Mater. 150,13, (1995).<br />
[20] D.A. Tulchinsky, J. Unguris and R.J. Celotta, J. Magn. Magn. Mater. 212, 91,<br />
(2000).<br />
[21] J. C. Slonczewski, J. Appl. Phys. 73, 5957, (1993).<br />
[22] J. C. Slonczewski, Phys. Rev. Lett. 67, 3172, (1991).<br />
[23] J. C. Slonczewski, Phys. Rev. B 39, 6995, (1989).<br />
[24] E. Fawcett, Rev. Mod. Phys., 60,209,(1988).<br />
[25] D. Stoeffler and F. Gautier, Prog. Tbeor. Phys. Suppl. 101, 139, (1990)<br />
[26] D. Stoeffler and F. Gautier, J. Magn. Magn. Mater. 121, 259, (1993)<br />
[27] Shi-shen Yan, R. Schreiber, F. Voges, C. Osthöver and P. Grünberg, Phys. Rev. B<br />
59, R11 641,(1999).<br />
[28] Shi-shen Yan, P. Grünberg and Liang-mo Mei, J. Appl. Phys. 88, 983, (2000).<br />
[29]C.M. Boubeta, J.L. Costa-Krämer and A. Cebollada, J. Phys. Condens. Matter, 15,<br />
R1123, (2003).<br />
[30] R. Moons, S. Blässer, J. Dekoster, A. Vantomme, J. De Wachter and G.<br />
Langouche, Thin Solid Films, 324, 129, (1998).<br />
[31] M. Rickart, B.F.P. Roos, T. Mewes, J. Jorzick, S.O. Demokritov and B.<br />
Hillebrands, Surf. Sci., 68, 495, (2001).<br />
106
[32] S.M. Jordan, J.F. Lawler, R. Schad, and H. van Kempen, J. Appl.Phys. 84, 1499,<br />
(1998).<br />
[33] N. Nakayama, T Katamoto and T. Shinjo, J. Phys. F: Met. Phys.18, 935,(1988).<br />
[34] Bart Croonenborghs, Tese de Doutora<strong>do</strong>, Magnetic Coupling Mediated by<br />
Metastable FeSi, IKS, UK Leuven, (2004).<br />
[35] M.A. Herman and H. Sitter, Molecular Beam Epitaxy, Springer Verlag, Berlin,<br />
(1996).<br />
[36] http://www.las.inpe.br/~cesar/Infrared/rheed.htm<br />
[37] Charles Kittel. Introdução à Física <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Sóli<strong>do</strong>. Editora Guanabara Dois S.A.<br />
– Rio de Janeiro, RJ, 5 a edição, (1978).<br />
[38] Gunther Springholz. Molecular Beam Epitaxy and in situ Reflection High-Energy<br />
Electron Diffraction of IV-VI Semiconductor Heterostructures. PhD Dissertation,<br />
Johannes Kepler Universität Linz, A-4045 Linz-Auholf, (1994).<br />
[39] M. A. Herman and H. Sitter, Molecular Beam Epitaxy, volume 7 of Springer<br />
Series In Materials Science. Springer-Verlag, Berlin Heidelberg, (1989).<br />
[40] R. L. Mössbauer, Z. Physik ,151, 124, (1958).<br />
[41] R. L. Mössbauer, Naturwissenschaften, 45, 538, (1958).<br />
[42] R. L. Mössbauer, Science, 137, 731, (1962).<br />
[43] R. L. Mössbauer, Hyp. Interact. 126, 1, (2000).<br />
[44] Mössbauer Spectroscopy, N.N. Greenwood and T.C. Gibb, Chapman and Hall Ltd.<br />
Lon<strong>do</strong>n, (1971).<br />
[45] Applications of Conversion Electron Mössbauer Spectrometry, Review, K.<br />
Nomura,Y. Ujihira and A.Vêrtes,Akadémiai Kiadó, Budapest, (1996).<br />
[46] A. P. Guimaraes, Magnetism and Magnetic Resonance in Solids. Nova York: John<br />
Wiley, (1998).<br />
107
[47] Z. Zhang, L Zhou, P. E. Wigen and K.Ounadjela, Phys. Rev. B 50, 6094, (1994).<br />
[48] V. P. Nascimento, Tese de Doutora<strong>do</strong>: Estu<strong>do</strong> das Interfaces <strong>nas</strong> Multicamadas<br />
NiFe/FeMn/NiFe, Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, Rio de Janeiro, (2005).<br />
[49] D. R. de Jesus, Dissertação de Mestra<strong>do</strong>: Ressonância Ferromagnética em Filmes<br />
Finos de Níquel, Universidade Federal de Goiás, (1998).<br />
[50] A. Martins, Dissertação de Mestra<strong>do</strong>: Ressonância Ferromagnética de Filmes Finos<br />
de FePt, Universidade Federal de Goiás, (1999).<br />
[51] Andrea Mace<strong>do</strong> Teixeira. Ressonância Ferromagnetica em Multicamadas de Fe/Cr<br />
Crescidas em Ressonância Ferromagnetica em Multicamadas de Fe/Cr Crescidas em<br />
MgO(100) e MgO(110) . 2000. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Ciências <strong>do</strong>s Materiais) -<br />
Instituto Militar de Engenharia.<br />
[52] M. Born and E. Wolf, Priciples of Optics, Pergamon Press, Oxford, 6 th , (1980)<br />
[53] http://lab-neel.grenoble.cnrs.fr/euronanomag/2003-brasov/abs/pizzini-abs.pdf<br />
[54] Y. Henry, V. Pierron-Bohnes, P. Vennegues and K. Ounadjela, J. Appl. Phys. 76,<br />
2817, (1994).<br />
[55] Ilya L. Grigorov, M. R. Fitzsimmons, I-Liang Siu and J. C. Walker, Phys. Rev.<br />
Lett. 82, 5309, (1999).<br />
[56] R. Q. Wu and A. J. Freeman, Phys. Rev. B. 51, 17131, (1995).<br />
[57] S.K. Xia, E. Baggio-Saitovitch, and C. Larica, Hyp. Interact. 92, 1281, (1994).<br />
[58] V. M. Uzdin and C. Demangeat, Phys. Rev. B 66, 092408, (2002).<br />
[59] V. M. Uzdin, W. Keune, H. Schorör, and M. Walterfang, Phys.Rev. B, 63, 104407<br />
(2001).<br />
[60] V. Uzdin, W. Keune and M. Walterfang, J. Magn. Magn. Mater. 240, 504, (2002).<br />
[61] F. Klinkhammer, Ch. Sauer, E. Yu Tsymbal, S. Handschuh, Q. Leng, and W. Zinn,<br />
J. Magn. Magn. Mater. 161, 49, (1996).<br />
108
[62] B. Kalska, L. Haggstrom, P. Blomquist and R. Wappling, J. Phys. C, 12, 9247,<br />
(2000).<br />
[63]T. Shinjo and W. Keune, J. Magn. Magn. Mater. 200, 598, (1999).<br />
[64] F. Wilhelm, Tese de Doutora<strong>do</strong> , Magnetic Properties of Ultrathin Films, Coupled<br />
Trilayers and 3d/5d Multilayers Studied By X-ray Magnetic Circular Dichroism,<br />
(2000).<br />
[65] A. Ankudinov and J. J. Rehr, Phys. Rev. B 51, 1282, (1995).<br />
[66] J. Fink, Th. Müller-Heinzerling, B. Scheerer, W. Speier, F. U. Hillebrecht, J.<br />
C.Fuggle, J. Zaanen and G. A. Sawatzky, Phys. Rev. B 32, 4899, (1985).<br />
[67] G.Y. Guo, H. Ebert, W. M. Temmmerman and P. J. Durham, Phys. Rev. B 50(6),<br />
3861, (1994).<br />
109
110