14.04.2013 Views

Origem do Acoplamento Não-Colinear nas ... - CCE/UFES

Origem do Acoplamento Não-Colinear nas ... - CCE/UFES

Origem do Acoplamento Não-Colinear nas ... - CCE/UFES

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO<br />

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO EM FÍSICA<br />

Breno Rodrigues Segatto<br />

<strong>Origem</strong> <strong>do</strong> <strong>Acoplamento</strong> <strong>Não</strong>-<strong>Colinear</strong> <strong>nas</strong><br />

Superestruturas tipo Fe/Mn/Fe Crescidas por Molecular<br />

Beam Epitaxy<br />

VITÓRIA<br />

2007


BRENO RODRIGUES SEGATTO<br />

<strong>Origem</strong> <strong>do</strong> <strong>Acoplamento</strong> <strong>Não</strong>-<strong>Colinear</strong> <strong>nas</strong><br />

Superestruturas tipo Fe/Mn/Fe Crescidas por Molecular<br />

Beam Epitaxy<br />

VITÓRIA<br />

2007<br />

Dissertação apresentada ao<br />

Programa de Pós-Graduação em<br />

Física <strong>do</strong> Centro de Ciências<br />

Exatas da Universidade Federal<br />

<strong>do</strong> Espírito Santo, como requisito<br />

parcial para obtenção <strong>do</strong> Grau de<br />

Mestre em Física, na área de<br />

concentração de Física da<br />

Matéria Condensada. Orienta<strong>do</strong>r:<br />

Prof. Dr. Edson Passamani<br />

Caetano.


Dedico esta dissertação aos poucos que irão lê-la<br />

e ao seleto grupo de pessoas que irão<br />

aproveitá-la para algum fim.


“the most important things<br />

are in the little things”<br />

Sherlock Holmes


Agradecimentos<br />

Gostaria de expressar minha gratidão e admiração à Natureza, por ser bela, simples e<br />

generosa. E por nos permitir tentar compreendê-la, pelo menos, em parte.<br />

Agradeço ao Prof. Dr. Edson Passamani Caetano por me orientar neste trabalho, estan<strong>do</strong><br />

sempre presente para a discussão e esclarecimentos de dúvidas e por ter me motiva<strong>do</strong><br />

nos momentos de dificuldades.<br />

Agradeço ao Prof. Dr. Manoelito Martins de Souza, por ter me motiva<strong>do</strong> a fazer<br />

Ciência, por ter me orienta<strong>do</strong> de maneira assídua, pela oportunidade de conhecer um<br />

pouco a física teórica e por ter me aceita<strong>do</strong> como seu aluno de iniciação científica<br />

quan<strong>do</strong> outros me “renegaram”.<br />

Agradeço ao Dr. Paulo de Antonio Souza Jr. por ter me apresenta<strong>do</strong> a Espectroscopia<br />

Mössbauer, por ter me da<strong>do</strong> a oportunidade de conhecer o mun<strong>do</strong> da indústria e por me<br />

permitir usar a física em prol da sociedade de maneira direta. Agradeço também pelos<br />

ensinamentos e pela confiança depositada em mim, me fazen<strong>do</strong> descobrir virtudes que<br />

eu até então desconhecia.<br />

Agradeço ao Prof. Dr. Valberto Pedruzzi Nascimento por me ajudar <strong>nas</strong> medidas de<br />

Dicroísmo Circular Magnético por Absorção de Raios-X(XMCD) perden<strong>do</strong> preciosas


horas de sono para acompanhar as medidas, por ter me ajuda<strong>do</strong> no ajuste <strong>do</strong>s espetros<br />

de XMCD e pelas discussões ao longo deste trabalho.<br />

Agradeço ao Prof. Dr. José Rafael Cápua Proveti pela odisséia de ficar mais de 24 horas<br />

acorda<strong>do</strong> para acompanhar os experimentos de XMCD no LNLS, por ter me ajuda<strong>do</strong> no<br />

ajuste <strong>do</strong>s mesmos e pelos momentos de descontração.<br />

Agradeço aos Profs. Drs. Larica, Arman<strong>do</strong> Yoshihaki Takeuchi e Emmanuel Favre-<br />

Nicolin, pelas valiosas discussões durante os seminários e pela ajuda na preparação <strong>do</strong>s<br />

mesmos.<br />

Agradeço ao Prof. Dr. Fernan<strong>do</strong> Pelegrini pelas medidas de FMR, pela discussão <strong>do</strong>s<br />

espectros e pela sua dedicação e gentileza demonstrada a mim durante minha estada em<br />

Goiânia.<br />

Agradeço ao grupo <strong>do</strong> Prof. Dr. A. Vantomme <strong>do</strong> Instituut Voor Kern–en<br />

Stralingsfysica (IKS), da Katholieke Universiteit Leuven (KULeuven), na Bélgica, onde<br />

as amostras foram preparadas e parcialmente caracterizadas, pelo orienta<strong>do</strong>r deste<br />

trabalho. Em especial, gostaria de agradecer ao Francisco Almeida por ter feito<br />

melhorias no programa de ajuste de curvas de magnetização e por ter me esclareci<strong>do</strong> as<br />

dúvidas para a execução <strong>do</strong> programa.<br />

Aos amigos Carlos Wagner Costa Araújo <strong>do</strong> Espaço Ciência e Arte da Univasf e José<br />

Ballester Julian Jr. <strong>do</strong> Núcleo de Ciências da <strong>UFES</strong> por ter descoberto em mim o talento<br />

para a divulgação científica.


Aos amigos <strong>do</strong> LEMAG, Fabio Xavier, Alexsandro Masioli, André Luis Alves, Farley<br />

Sardinha, Aline Demunere e Dr. Mauricio Gomes das Virgens meus agradecimentos por<br />

to<strong>do</strong> apoio e companheirismo.<br />

Ao Amigo e Prof. Rodrigo Dias Pereira pela grande ajuda na formatação deste trabalho.<br />

Agradeço aos amigos da graduação Josenilson Ádnei Marinho, Bruna Dayana Lemos<br />

Pinto, Izaias Martins Jr., Gustavo Tosta Nicoli, Júlio César A. da Silva, Célio Marques,<br />

Ro<strong>do</strong>lfo Araújo Victor, Moacyr Souza Bezerra e Paulo Sergio Moscon.<br />

Agradeço aos amigos da pós-graduação em Física Alex Rios Costa , Deborah F. Jardim,<br />

Jardel da C. Brozeguini, Luis I. M. Bautista, Juliano P. Campos, Luiz A. S. Carrillo,<br />

Raphael Fracalossi, José A. Lourenço, Fernan<strong>do</strong> Leal, Paulo Oliveira, Alexrenan de<br />

Oliveira , Fábio Fagundes e aos amigos <strong>do</strong> LPT e LMC.<br />

Ao José Carlos, secretário da Pós-Graduação em Física pelos seus serviços presta<strong>do</strong>s.<br />

Agradeço aos meus familiares por to<strong>do</strong> o apoio dedica<strong>do</strong> a mim.<br />

À CAPES pela ajuda financeira para a Execução deste trabalho.<br />

À FAPES e FINEP pelo apoio aos projetos <strong>do</strong> LEMAG<br />

Ao LNLS pelas medidas de XMCD.


Resumo<br />

Neste trabalho, estudamos os efeitos das interfaces no ângulo de acoplamento<br />

magnético das camadas de Fe separadas pela fase metaestável bcc-Mn (δ-Mn), em três<br />

tricamadas tipo MgO[100]/Fe(5-20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si(8nm), preparadas por<br />

Molecular Beam Epitaxy. Provocamos interfaces distintas <strong>nas</strong> tricamadas modifican<strong>do</strong><br />

(i) a temperatura de crescimento <strong>do</strong>s filmes (temperatura <strong>do</strong> substrato) e (ii) a espessura<br />

da camada de Fe crescida sobre o substrato de MgO e/ou modifican<strong>do</strong> a rugosidade <strong>do</strong><br />

substrato, com crescimento de uma camada de Ag de 10nm (rugosidade superficial de<br />

uma monocamada). Investigamos sistematicamente o crescimento epitaxial das camadas<br />

e suas rugosidades interfaciais (estrutural e/ou química) através das técnicas de difração<br />

por reflexão de elétrons de alta energia e de espectroscopia Mössbauer por elétrons de<br />

conversão (camada (1nm) de 57 Fe depositada <strong>nas</strong> interfaces). Mostramos que a fase δ-<br />

Mn pode ser estruturada até 2,5 nm, diferentemente <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> inicialmente publica<strong>do</strong><br />

na literatura. Estudamos também as propriedades magnéticas volumétricas por meio da<br />

magnetometria de amostra vibrante, da ressonância ferromagnética e <strong>do</strong> dicroísmo<br />

circular magnético por absorção de raios-X. Simulamos, através <strong>do</strong> modelo proposto<br />

por Slonczewski, as curvas de magnetização (M(H)) medidas e dessa forma, obtivemos<br />

os diferentes ângulos de acoplamentos magnéticos entre as camadas de Fe. Em geral, os<br />

resulta<strong>do</strong>s indicam que: (i) a camada de Mn é antiferromagnética e (ii) as rugosidades<br />

estrutural e/ou química são as responsáveis pelos diferentes ângulos de acoplamento<br />

magnético. Portanto, fomos capazes de elucidar que o comportamento reporta<strong>do</strong> na<br />

literatura para o ângulo de acoplamento das camadas de Fe não é puramente devi<strong>do</strong> à<br />

variação da espessura da camada <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r (δ-Mn), mas principalmente devi<strong>do</strong> às<br />

rugosidades mencionadas.


Abstract<br />

In this work, we have studied the interface effects on the magnetic coupling of<br />

Fe layers separated by a bcc-Mn (δ-Mn) metastable phase in MgO[100]/Fe(5-<br />

20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si(8nm) trilayers, prepared by Molecular Beam Epitaxy.<br />

Different interfaces, in all studied trilayers, have been induced changing (i) substrate<br />

growth temperature and (ii) Fe thicknesses grown on MgO single crystals and/or<br />

modifying the substrate roughness with a deposition of 100 nm Ag layer (surface<br />

roughness of one monolayer). We have systematically investigated the layer epitaxy and<br />

structural or/and chemical roughnesses of the individual layers by High Energy Electron<br />

Diffraction and conversion Mössbauer spectroscopy (depositing 57 Fe (1nm) layers at the<br />

trilayers interfaces). We have also shown that the metastable δ-Mn phase can be<br />

stabilized up to 2.5 nm thick, differently from the results previously published in the<br />

literature. In addition, we have studied the bulk magnetic properties using vibrating<br />

sample magnetometer, ferromagnetic resonance and X-rays magnetic circular dicroism<br />

techniques. We have simulated the measured magnetization curves (M(H)) through the<br />

Slonczewski model and therefore we have obtained, for all trilayers, the magnetic<br />

coupling angle of Fe layers sandwiched by the 1nm δ-Mn phase. In general, our results<br />

suggest that structural or/and chemical roughnesses are the main causes for the different<br />

calculated Fe coupling angles. Moreover, we have shown that: (i) the δ-Mn layer is<br />

probably in a antiferromagnetic state and (ii) the observed magnetic coupling angle<br />

variation with δ-Mn thickness, as reported in the literature, is intrinsically connected<br />

with the mentioned roughnesses (interface Fe fractions are very different in all<br />

measured samples).


Sumário<br />

Capítulo 1 ....................................................................................................................... 20<br />

Introdução....................................................................................................................... 20<br />

Capítulo 2 ....................................................................................................................... 26<br />

Aspectos Gerais: <strong>Acoplamento</strong>s Magnéticos entre Camadas Adjacentes...................... 26<br />

Capítulo 3 ....................................................................................................................... 36<br />

Técnicas Experimentais.................................................................................................. 36<br />

3.1 Preparação das tricamadas (Tr-Fe/Mn/Fe) ............................................................... 37<br />

3.1.1 Epitaxia por Feixe de Moléculas ................................................................... 37<br />

3.1.2 Escolha e Preparo <strong>do</strong> Substrato MgO............................................................ 38<br />

3.1.3 Deposição das tricamadas (Tr-Fe/Mn/Fe) ..................................................... 40<br />

3.2 Caracterização das Tricamadas de Fe/Mn/Fe........................................................... 43<br />

3.2.1 Caracterização Estrutural............................................................................... 43<br />

3.2.1.1 Difração por Reflexão de Elétrons de Alta Energia (RHEED) .............. 43<br />

3.2.1.2 Espectroscopia de Retro-espalhamento Rutherford (RBS) .................... 47<br />

3.2.2 Caracterização Hiperfina ............................................................................... 49<br />

3.2.2.1 Espectroscopia Mössbauer por Conversão de Elétrons (CEMS) ........... 49<br />

3.2.3 Caracterização Magnética.............................................................................. 56<br />

3.2.3.1 Magnetometria de Amostra Vibrante (VSM)......................................... 56<br />

3.2.3.2 Ressonância Ferromagnética (FMR)...................................................... 57<br />

3.2.3.3 Dicroísmo Circular Magnético por Absorção de Raios-X (XMCD)...... 65


Capítulo 4 ....................................................................................................................... 69<br />

Análise <strong>do</strong>s Resulta<strong>do</strong>s................................................................................................... 69<br />

4.1 Resulta<strong>do</strong>s de RHEED.............................................................................................. 69<br />

4.2 Resulta<strong>do</strong>s de RBS ................................................................................................... 73<br />

4.3 Resulta<strong>do</strong>s de CEMS................................................................................................ 74<br />

4.4 Resulta<strong>do</strong>s de XMCD............................................................................................... 82<br />

4.5 Resulta<strong>do</strong>s de VSM .................................................................................................. 85<br />

4.6 Resulta<strong>do</strong>s de FMR .................................................................................................. 94<br />

4.6.1 Dependência angular no plano e fora <strong>do</strong> plano ............................................. 98<br />

Capítulo 5 ..................................................................................................................... 103<br />

Conclusão ..................................................................................................................... 103<br />

Referências: .................................................................................................................. 105


Lista de Figuras<br />

Figura 1- Representação da variação de espessura na interface e acoplamento<br />

biquadrático. Nesta representação temos o caso de tricamadas (Tr), com a espessura <strong>do</strong><br />

espaça<strong>do</strong>r varian<strong>do</strong> periodicamente entre n e n+1 camadas atômicas. As setas indicam a<br />

variação local na direção da magnetização de C1 (parte inferior) e C3 (parte superior).<br />

L corresponde a largura <strong>do</strong> terraço (parte plana). A variação de j1 ocorre entre degraus<br />

consecutivos (n e n+1), sen<strong>do</strong> dada por ∆J [22]............................................................. 29<br />

Figura 2 - Ilustração hipotética <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s quase-antiferromagnéticos <strong>do</strong> modelo de<br />

uur<br />

Slonczewski para um espaça<strong>do</strong>r de Cr ou Mn. Os momentos de C1 e C3 ( M 1 e M 3<br />

uur )<br />

estão extremamente vincula<strong>do</strong>s em serem não-colineares. Em (a), o espaça<strong>do</strong>r possui<br />

um número impar de camadas atômicas (m = 3). Em (b) possui um número par (m = 4)<br />

[19]. ................................................................................................................................ 32<br />

Figura 3 - Diagrama de fase a campo magnético externo nulo. S e AS representam<br />

respectivamente, as configurações simétricas e assimétricas. As regiões S e AS estão<br />

separadas pelas retas 3C- - C+ = 0 e C- - 3C+ = 0. As configurações de spins são<br />

mostradas em cada fase, M1 e M2(no nosso caso M3) representam as magnetizações das<br />

camadas de Fe superior e inferior respectivamente, h e e representam o eixo de difícil<br />

(“hard”) e fácil magnetização (“easy”), respectivamente [28]....................................... 34<br />

Figura 4 - Visão esquemática <strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong> Fe ccc sobre o substrato de<br />

MgO(001)[29]. ............................................................................................................... 39


Figura 5 - Geometria usada nos experimentos de RHEED. Um feixe de elétrons<br />

(~10keV) (fecha negra) incide sobre a superfície de uma amostra e é difrata<strong>do</strong> em uma<br />

tela fosforescente. O ângulo entre o feixe e a superfície da amostra é de ~ 3º[36]........ 44<br />

Figura 6 - Representação de um processo de difração usan<strong>do</strong> a representação da esfera<br />

de Ewald, construída a partir <strong>do</strong> vetor de onda <strong>do</strong> feixe incidente (ki) e requeren<strong>do</strong> que o<br />

feixe difrata<strong>do</strong> também se encontre sobre a circunferência devida pela energia <strong>do</strong> feixe<br />

incidente. Assim, gera-se uma condição que é k = ki + k, onde k é a diferença de<br />

fase[36]. .......................................................................................................................... 45<br />

Figura 7 - Representação da esfera de Ewald e esquematização de um processo de<br />

difração usual da geometria <strong>do</strong> RHEED [36]................................................................. 46<br />

Figura 8 - Figura esquemática <strong>do</strong>s níveis de energia <strong>do</strong> núcleo de 57 Fe da fonte (a) e<br />

para o absorve<strong>do</strong>r em três situações distintas: (b) absorve<strong>do</strong>r com átomos de Fe ten<strong>do</strong><br />

GCE = Bhf = 0,( c) absorve<strong>do</strong>r com átomos de Fe ten<strong>do</strong> GCE ≠ 0 e Bhf = 0 e( d)<br />

absorve<strong>do</strong>r com átomos de Fe ten<strong>do</strong> GCE = 0 e Bhf ≠ 0 [45]........................................ 53<br />

Figura 9 - Espectros Mössbauer para o átomo sonda 57 Fe consideran<strong>do</strong> o ângulo θ entre<br />

o feixe γ e a magnetização da amostra, como: a) 0 o<br />

θ ≈ ,b) 90 o<br />

θ ≈ e c) para um<br />

policristal magnético (magnetização isotrópica). ........................................................... 56<br />

Figura 10 - Precessão da magnetização da amostra devi<strong>do</strong> a ação <strong>do</strong> campo magnético<br />

externo ext<br />

H e <strong>do</strong> campo oscilante h ( t)<br />

........................................................................ 58<br />

Figura 11 - Diagrama mostran<strong>do</strong> os subníveis de energia em um sistema de spin ½(,não<br />

degenera<strong>do</strong>s pelo efeito Zeeman). Ef representa a energia <strong>do</strong> fóton incidente necessária<br />

para que haja ressonância. .............................................................................................. 60<br />

Figura 12 - Representação esquemática para os mo<strong>do</strong>s acústico e óptico <strong>nas</strong><br />

configurações transversal e longitudinal [47]................................................................. 61


Figura 13 - Magnetização M , campo magnético H e anisotropia uniaxial k<br />

representa<strong>do</strong>s em um sistema de coordenadas onde o filme encontra-se no plano XY<br />

[48]. ................................................................................................................................ 63<br />

Figura 14 - Curva característica de uma varredura no plano para uma tricamada de<br />

NiFe/FeMn/NiFe [48]..................................................................................................... 63<br />

Figura 15 - Curva característica de uma varredura fora <strong>do</strong> plano para uma tricamada de<br />

NiFe/FeMn/NiFe[48]...................................................................................................... 64<br />

Figura 16 - Transições <strong>do</strong>s níveis 2p para os buracos vazios <strong>do</strong> nível 3d <strong>do</strong>s metais de<br />

transição, as bolas azuis representam os elétrons com spin up e as verdes com spin<br />

<strong>do</strong>wn [53]........................................................................................................................ 66<br />

Figura 17 - Espectro de Absorção e dicroísmo (azul) para uma amostra de Fe[48]. ..... 67<br />

Figura 18 - Padrões de RHEED da MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si, (amostra A1)<br />

toma<strong>do</strong>s para diferentes espessuras das camadas de Fe e Mn, conforme indica<strong>do</strong> pelas<br />

letras (a-f). Do la<strong>do</strong> direito de cada padrão encontramos as figuras de RHEED obtidas<br />

pela câmera digital. Obtivemos cada padrão através de uma varredura ao longo da figura<br />

de RHEED. A linha vermelha marca a região onde foi feita à varredura para obter as<br />

figuras de RHEED.......................................................................................................... 72<br />

Figura 19 - Figuras de RHEED de um filme MgO/Fe(20nm)/Mn(2,5nm) prepara<strong>do</strong> a<br />

175ºC. Em (a) 20 nm de Fe; (b) 1nm de Mn; (c) 1,5nm de Mn e (d) 2,5nm de Mn. .... 72<br />

Figura 20 - Espectros de RBS/channeling e RBS/ran<strong>do</strong>m <strong>do</strong> filme MgO/Fe<br />

(5nm)/Mn(1nm)/Fe(1 nm)/a-Si(8nm) (amostra A1) preparada a 150°C. A figura inserida<br />

é uma ampliação da região de energia para mostrar as amplitudes <strong>do</strong>s sinais de RBS das<br />

camadas superior e inferior, como indicadas por setas. ................................................. 74<br />

Figura 21 - Espectros CEMS obti<strong>do</strong>s à temperatura ambiente para bicamada em (D) e<br />

tricamadas em (A), (B), e (C) preparadas a 50ºC, 100ºC e 150ºC. Os pontos são da<strong>do</strong>s


experimentais, enquanto as linhas correspondem aos sub-espectros e ao ajuste total. No<br />

centro desta figura as curvas de distribuição de Bhf, enquanto no la<strong>do</strong> direito um<br />

esquema <strong>do</strong>s filmes [14]................................................................................................. 76<br />

Figura 22 - Esquematização da distribuição <strong>do</strong>s átomos de Fe e Mn <strong>nas</strong> tricamadas e<br />

bicamada de Fe/Mn.A faixa verde, acima das bolinhas, representa a camada Si amorfa.<br />

........................................................................................................................................ 78<br />

Figura 23 - Em (a) espectro de CEMS, obti<strong>do</strong> à temperatura ambiente, para a tricamada<br />

MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 150 o C (Amostra A1). Em (b) a curva de<br />

distribuição de campos magnéticos hiperfinos para a Amostra A1. ............................... 80<br />

Figura 24 -Em (a) espectro CEMS obti<strong>do</strong> à temperatura ambiente para a tricamada<br />

MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) prepara<strong>do</strong> a 50 o C (Amostra A3). Em<br />

(b) a curvade distribuição de campos magnéticos hiperfinos para a Amostra A3. ......... 81<br />

Figura 25 - Espectro de XMCD da amostra MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si<br />

(amostra A1) na faixa de absorção <strong>do</strong> Fe com o feixe de radiação incidente a 45º <strong>do</strong><br />

plano da amostra. Em verde e vermelho são as absorções para polarização a direita e a<br />

esquerda, enquanto em preto temos os sinal de dicroísmo............................................. 83<br />

Figura 26 - Espectro de XMCD da tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si<br />

(amostra A1) na faixa de absorção <strong>do</strong> Mn com o feixe de radiação incidente a 45º <strong>do</strong><br />

plano da amostra............................................................................................................. 83<br />

Figura 27 - Visão esquemática da direção <strong>do</strong> campo aplica<strong>do</strong> para as medidas de<br />

magnetização das tricamadas MgO/Fe/Mn/Fe. .............................................................. 85<br />

Figura 28 - Curvas de magnetização (M(H)) em diferentes temperaturas das tricamadas<br />

MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A1 ) em (a),<br />

MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si ............................................................................ 86


Figura 29 - Padrões de <strong>do</strong>mínios observa<strong>do</strong>s em um Whisker de Fe/Mn/Fe. As<br />

espessuras das camadas de Fe permanecem constantes enquanto espessura <strong>do</strong> Mn varia<br />

em: (a) 0,08 – 0,25 nm;(b) 0,25 - 0,42 nm; (c) 0,38 – 0,55 nm (d) 0,5 – 0,67 nm; (e)<br />

0,62 – 0,79nm; (f) 0,79 – 0,96nm; (g)1,0 – 1,17 nm; (h) 1,13 – 1,3nm; ( i) 1,25 – 1,42<br />

nm ; (j) 1,5 – 1,7 nm; ( k) 2,5 – 2,7 nm e l) 0,55 – 0,63 nm. As setas sólidas e<br />

pontilhadas representam as magnetizações das camadas superior e inferir de Fe,<br />

respectivamente. De (a) a (k) as figuras têm a mesma escala e em (l) a imagem está em<br />

alta resolução [10]. ......................................................................................................... 87<br />

Figura 30 - Curva M(H), obtida a 290K, para a tricamada<br />

MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 175ºC (amostra A2). A linha vermelha,<br />

passan<strong>do</strong> pelos pontos experimentais, é o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuste usan<strong>do</strong> o modelo de<br />

Slonczewski. Os Valores das constantes de anisotropia das camadas superior (K1) e<br />

inferior (K2) assim como o ângulo de acoplamento θ são mostra<strong>do</strong>s nesta figura......... 91<br />

Figura 31 - Comportamento da energia magnética em função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento<br />

para a tricamada MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 175ºC (amostra A2).91<br />

Figura 32 - Curva M(H), obtida a 290K, para a tricamada<br />

MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 150ºC (amostra A1). A linha vermelha,<br />

passan<strong>do</strong> pelos pontos experimentais, é o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuste usan<strong>do</strong> o modelo de<br />

Slonczewski. Os valores das constantes de anisotropia das camadas superior (K1) e<br />

inferior (K2) assim como o ângulo de acoplamento θ são mostra<strong>do</strong>s nesta figura......... 92<br />

Figura 33 - Comportamento da energia magnética em função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento<br />

para a tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 150ºC(amostra A1) ... 92<br />

Figura 34 - Curva M(H), obtida a 290K, para a tricamada MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/<br />

/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 50ºC (amostra A3). A linha vermelha, passan<strong>do</strong> pelos<br />

pontos experimentais, é o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuste usan<strong>do</strong> o modelo de Slonczewski. Os


valores das constantes de anisotropia das camadas superior (K1) e inferior (K2) assim<br />

como o ângulo de acoplamento θ são mostra<strong>do</strong>s nesta figura........................................ 93<br />

Figura 35 -Comportamento da energia magnética em função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento<br />

para a tricamada MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 50ºC (<br />

amostra A2)..................................................................................................................... 93<br />

Figura 36 -Espectro de FMR (banda Q - 34 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e com<br />

campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />

MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A3). HR é o campo de<br />

ressonância...................................................................................................................... 94<br />

Figura 37 - Espectro de FMR (banda Q - 34 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e<br />

com campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da amostra <strong>do</strong> filme<br />

MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)( amostra A1). HR é o campo de ressonância. .......... 95<br />

Figura 38 - Espectro de FMR (banda X – 9,6 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e<br />

com campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />

MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) ( amostra A1). HR é o campo de ressonância. ......... 96<br />

Figura 39 - Espectro de FMR (banda Q – 34 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e<br />

com campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />

MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A2). HRI e HRS são os campos de<br />

ressonância devi<strong>do</strong> às camadas de Fe inferior e superior, respectivamente................... 97<br />

Figura 40 - Espectro de FMR (banda X - 9,6 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e<br />

com campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada MgO/<br />

Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A2). HRI e HRS são os campos de ressonância<br />

devi<strong>do</strong> às camadas de Fe inferior e superior, respectivamente....................................... 98<br />

Figura 41 - Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong> na banda<br />

Q (34 GHz), com campo estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada


MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A3). Amostra posicionada<br />

inicialmente, com relação ao campo, ao longo <strong>do</strong> eixo de fácil magnetização da camada<br />

de Fe [100] (vide Figura 27) .......................................................................................... 99<br />

Figura 42 -Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong> na<br />

Banda X (9,6GHz), com campo estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />

MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A1). Amostra posicionada inicialmente,<br />

com relação ao campo, ao longo <strong>do</strong> eixo de difícil magnetização da camada de Fe [110]<br />

(vide Figura 27) . ............................................................................................................ 99<br />

Figura 43 -Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong> na banda<br />

X (9,6 GHz), com campo estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />

MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A2). Amostra posicionada inicialmente,<br />

com relação ao campo, ao longo <strong>do</strong> eixo de fácil magnetização da camada de Fe [100]<br />

(vide Figura 27). Em vermelho a componente associada a camada de Fe inferior e em<br />

preto a componente associada a camada de Fe superior. ............................................. 100<br />

Figura 44 -Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong>s na banda<br />

Q (34 GHz) com campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> plano da tricamada<br />

MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A2)........................................................ 101<br />

Figura 45 - Dependência angular em relação ao campo de ressonância (banda Q 34<br />

GHz) com campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> filme Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra<br />

A1 )................................................................................................................................ 102<br />

Figura 46 - Dependência angular em relação ao campo de ressonância (banda X 9,6<br />

GHz) com campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> filme Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra<br />

A1 )................................................................................................................................ 102


Lista de Tabelas<br />

Tabela 1 – Técnicas utilizadas para a caracterização magnética e estrutural de cada<br />

amostra. .......................................................................................................................... 42<br />

Tabela 2 - Intensidades relativas de absorção para interação Zeeman nuclear em átomos<br />

de Fe [44]........................................................................................................................ 55<br />

Tabela 3 – Valores calcula<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s momentos de spin (<br />

eff<br />

ms f ) e orbital (ml ) <strong>do</strong>s átomos<br />

de Fe e de Mn na tricamada MgO/Fe(5 nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparadas a 150 ºC<br />

(amostra A1).................................................................................................................... 84<br />

Tabela 4 - Valores calcula<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s momentos de spin (<br />

eff<br />

ms f ) e orbital (ml ) <strong>do</strong>s átomos<br />

de Fe e de Mn na tricamada MgO/Fe(20 nm)/ Mn(1nm)/Fe(5nm) preparadas a 175 ºC<br />

(amostra A2).................................................................................................................... 84<br />

Tabela 5 - Valores de campo coercivo (Hc) e da razão entre as magnetizações<br />

remanente (Mr) e de saturação das tricamadas MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si<br />

(amostra A1), MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A2) e<br />

MgO/Ag(100nm)/Fe(105nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A3)................................. 86


Capítulo 1<br />

Introdução<br />

Há milênios (aproximadamente 3500 anos A.C.), nós humanos utilizamos as<br />

propriedades magnéticas da matéria para melhoria de nossas condições de vida.<br />

Podemos talvez afirmar que um <strong>do</strong>s marcos no uso <strong>do</strong> magnetismo da matéria ocorreu<br />

com a bússola, que foi vastamente utilizada pelos explora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> planeta Terra durante<br />

suas navegações. Entretanto, é na sociedade moderna que as aplicações <strong>do</strong> magnetismo<br />

da matéria tomaram suas devidas proporções e são hoje encontradas em quase to<strong>do</strong>s os<br />

lugares <strong>do</strong> nosso cotidiano, desde pequenos ímãs de geladeira (enfeites), passan<strong>do</strong> por<br />

núcleos de transforma<strong>do</strong>res e motores elétricos e chegan<strong>do</strong> a dispositivos sofistica<strong>do</strong>s<br />

tais como: grava<strong>do</strong>res magneto-ópticos, sensores magnéticos de posição, de<br />

temperatura, etc. Está, portanto demonstra<strong>do</strong> a forte dependência da nossa sociedade<br />

com as propriedades magnéticas da matéria (novas utilizações <strong>do</strong> magnetismo são<br />

propostas diariamente). Podemos ainda dizer que talvez um <strong>do</strong>s maiores impactos <strong>do</strong><br />

magnetismo atualmente ocorre via os dispositivos de armazenamento de da<strong>do</strong>s, os<br />

quais, em geral, se consistem de estruturas artificiais de materiais magnéticos<br />

prepara<strong>do</strong>s e investiga<strong>do</strong>s inicialmente nos laboratórios de pesquisa de instituições de<br />

pesquisa/ensino e também nos laboratórios das grandes empresas como, por exemplo,<br />

na IBM.<br />

Um <strong>do</strong>s objetivos atuais é a busca por armazenamento e leitura de grandes<br />

volumes de informações em espaços e tempos cada vez menores. Portanto, <strong>nas</strong> últimas<br />

quatro décadas, cientistas (físicos, químicos, engenheiros, etc) de materiais vêm<br />

20


concentran<strong>do</strong> suas investigações <strong>nas</strong> propriedades de materiais (sistemas) cada vez<br />

menores, principalmente buscan<strong>do</strong> entender e controlar melhor as propriedades de<br />

sistemas nanoscópicos (10 -9 m). Logo, o entendimento e o controle das propriedades<br />

destes sistemas são fundamentais, uma vez que, o esta<strong>do</strong> da arte <strong>do</strong>s dispositivos<br />

eletrônicos e mídia de armazenamento de da<strong>do</strong>s alcançaram um nível em que os<br />

materiais magnéticos têm que ser adapta<strong>do</strong>s à escala de tamanhos cada vez menores.<br />

Cabe ressaltar que esta evolução científica tem si<strong>do</strong> possível graças aos avanços na<br />

produção e caracterização de filmes finos durante as cinco últimas décadas <strong>do</strong> século<br />

passa<strong>do</strong>, ou seja, somos capazes de crescer (produzir) e caracterizar objetos magnéticos<br />

em escala atômica desde filmes finos (dimensão da camada perpendicular ao plano <strong>do</strong><br />

substrato da ordem de nanômetros, enquanto no plano os efeitos de bordas podem ser<br />

despreza<strong>do</strong>s) e fios unidimensionais (duas dimensões nanométricas e uma ao longo de<br />

um <strong>do</strong>s eixos com tamanho macroscópico) até os chama<strong>do</strong>s pontos quânticos (todas as<br />

dimensões da ordem de nanômetros).<br />

Devi<strong>do</strong> aos inúmeros efeitos observa<strong>do</strong>s e ainda pela “facilidade” de crescermos,<br />

de “controlarmos” e de reproduzirmos grande parte destes efeitos, as multicamadas<br />

(filmes) são de forte interesse nos dias atuais (aplicabilidade na indústria de tecnologia<br />

de gravação, de sensores, entre outras) [1]. As multicamadas são estruturas artificiais<br />

compostas por camadas alternadas de filmes finos de <strong>do</strong>is ou mais diferentes materiais.<br />

Nestes sistemas têm si<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>s novos fenômenos, cujas origens estão na quebra de<br />

simetria de longo alcance da rede cristalina e nos efeitos intrínsecos de interface<br />

(número de átomos <strong>nas</strong> interfaces próximos aos números encontra<strong>do</strong>s no bulk<br />

(volume)). Entre os vários resulta<strong>do</strong>s reporta<strong>do</strong>s na literatura sobre as multicamadas,<br />

ressaltamos alguns que entendemos que são mais relevantes: (a) o acoplamento de troca<br />

em filmes finos conten<strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>res magnéticos ou não-magnéticos [2], (b) a<br />

21


magnetorresistência gigante [3], (c) a magnetorresistência de tunelamento quântico [4],<br />

(d) o efeito de exchange bias [5], (e) os efeitos de baixa dimensionalidade em<br />

supercondutores [6], (f) as propriedades mecânicas anômalas [7], (g) as propriedades<br />

ópticas [8], entre outras.<br />

Neste trabalho, focalizamos nosso estu<strong>do</strong> no acoplamento entre camadas de ferro<br />

(Fe) separadas pela fase metaestável <strong>do</strong> manganês (δ-Mn). Cabe lembrar que o Mn é o<br />

único <strong>do</strong>s elementos da tabela periódica, da família <strong>do</strong> ferro (3d), que não se cristaliza<br />

<strong>nas</strong> fases cúbica de face centrada (cfc), cúbica de corpo centra<strong>do</strong> (ccc) ou hexagonal.<br />

Em condições de equilíbrio, abaixo de 720 ºC, o Mn possui uma estrutura cúbica<br />

conten<strong>do</strong> 58 átomos por célula unitária, chamada fase α (α-Mn). Entre 720ºC e 1100 ºC,<br />

ele ainda é cúbico, porém sua célula unitária contém 20 átomos (β-Mn). Acima de 1100<br />

ºC e abaixo de 1136 ºC, o Mn pode possuir uma estrutura cfc (γ -Mn) ou pode retornar<br />

para a fase α. Entre 1136 ºC e 1244 ºC, ele se encontra na fase δ-Mn (estrutura ccc).<br />

Para temperaturas superiores, o Mn passa ao esta<strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> [9]. Portanto, a única<br />

maneira de se produzir às fases cfc ou ccc <strong>do</strong> Mn é através de processos de crescimento<br />

de filmes por epitaxia [10, 11, 12, 13 e 14]. Este processo de crescimento nada mais é<br />

<strong>do</strong> que aquele de crescimento de camadas com a forma cristalina <strong>do</strong> substrato, ou seja,<br />

com a rede cristalina e parâmetro de rede próximo ao <strong>do</strong> substrato. Um <strong>do</strong>s primeiros a<br />

investigar o crescimento de filmes de Mn por técnica de epitaxia foi Kim e cols.[15].<br />

Entretanto, vários pontos estão ainda em aberto com relação às superestruturas conten<strong>do</strong><br />

camadas de Mn, principalmente em sistemas que possuem as fases cfc-(γ-Mn) ou ccc-<br />

(δ-Mn) <strong>do</strong> Mn estabilizadas à temperatura ambiente (fases metaestáveis). Queremos<br />

frisar que Qiu e cols.[ 16] mostraram teoricamente que cristais de elementos metálicos<br />

(elementos 3d) , com estrutura tetragonal (tcc), possuem <strong>do</strong>is esta<strong>do</strong>s magnéticos (um<br />

fundamental e um metaestável) de equilíbrio, dependen<strong>do</strong> das diferentes razões <strong>do</strong>s<br />

22


parâmetros c/a (a é o parâmetro de rede no plano e c o parâmetro de rede fora <strong>do</strong> plano).<br />

Para o Mn o esta<strong>do</strong> fundamental deveria ser antiferromagnético (AFM). Portanto, entre<br />

possíveis investigações com sistemas conten<strong>do</strong> camadas de Mn, ressaltamos que devem<br />

ser feitos mais estu<strong>do</strong>s sobre o esta<strong>do</strong> magnético das fases metaestáveis δ-Mn e γ-Mn.<br />

Além disso, devemos buscar entender o mecanismo de acoplamento magnético<br />

existente entre camadas fi<strong>nas</strong> ferromagnéticas (FM) de Fe separadas pela fase δ-Mn, já<br />

que a fase γ-Mn não pode ser crescida por epitaxia sobre uma camada de Fe.<br />

A primeira questão (crescimento da fase δ-Mn) foi inicialmente estudada por<br />

Andrieu e cols. [13], utilizan<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> de crescimento chama<strong>do</strong> de Molecular Beam<br />

Epitaxy (MBE). Os autores investigaram a possibilidade de crescimento de camadas de<br />

Mn sobre um disco (wisker) de Fe monocristalino (substrato) e usaram as técnicas de<br />

absorção de raios-X EXAFS (Extended X-ray Absorption Fine Structure) e XMCD (X-<br />

ray Magnetic Circular Dichroism) para estudarem o magnetismo e tipo de estrutura.<br />

Eles mostraram que para filmes de Mn (descobertos) têm uma transição estrutural e<br />

magnética, quan<strong>do</strong> duas ou três monocamadas de Mn (~ 0,55 nm) são crescidas sobre o<br />

disco de Fe. Antes da transição estrutural, o esta<strong>do</strong> magnético <strong>do</strong> Mn, cresci<strong>do</strong><br />

epitaxialmente sobre o disco de Fe, parece ser <strong>do</strong> tipo AFM. Por outro la<strong>do</strong>, Passamani<br />

e cols. [14] estudaram tricamadas de Fe(5nm)/Mn(0,5-3,0nm)/Fe(5nm) crescidas sobre<br />

substratos de MgO monocristalinos. Eles mostraram que: (i) a camada de Mn, com a<br />

fase metaestável δ-Mn, era estabilizada até espessuras de 1nm, independente da<br />

temperatura de crescimento <strong>do</strong> filme (TS); (ii) a rugosidade química aumentava à<br />

medida que a TS aumentava e finalmente (iii) as interfaces superior e inferior eram<br />

diferentes <strong>do</strong> ponto de vista da rugosidade, sen<strong>do</strong> a interface inferior menos rugosa.<br />

Com relação à questão <strong>do</strong> acoplamento magnético entre as camadas de Fe,<br />

podemos enfatizar que as superestruturas <strong>do</strong> tipo Fe/Mn têm atraí<strong>do</strong> considerável<br />

23


atenção <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res nos últimos anos devi<strong>do</strong> à riqueza e variedade das estruturas<br />

magnéticas encontradas nestes acoplamentos, que dependem da espessura da camada de<br />

Mn (δ-Mn) e/ou da intensidade <strong>do</strong> campo magnético aplica<strong>do</strong> [10]. É importante<br />

mencionar que a compreensão <strong>do</strong> mecanismo responsável pelo acoplamento de camadas<br />

FM separadas por espaça<strong>do</strong>res AFM ou não-magnéticos é ainda tema atual de várias<br />

pesquisas, já que vários são os fatores responsáveis pelos diferentes resulta<strong>do</strong>s<br />

reporta<strong>do</strong>s na literatura [17-18]. Por exemplo, além de fatores intrínsecos das interfaces<br />

(rugosidade, interdifusão, etc), é importante levar em conta o fato de se tratar com<br />

espaça<strong>do</strong>res AFM (tipo Cr), que são não-passivos ou com espaça<strong>do</strong>res não-magnéticos,<br />

que são ditos passivos. Particularmente para espaça<strong>do</strong>res AFM, Slonczewski [19]<br />

propôs um modelo fenomenológico que descreve ao ângulo de acoplamento planar entre<br />

as camadas de Fe, basea<strong>do</strong> em uma estrutura em espiral <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r AFM.<br />

Gostaríamos também de mencionar que os diferentes ângulos de acoplamentos<br />

planares entre as camadas de Fe separadas por distintas espessuras da camada de δ-Mn<br />

ainda carecem de investigação, já que estes ângulos variam desde ângulos pequenos<br />

valores (~30°), passam por um valor de 180° e depois retornam ao valor de 90° à<br />

medida que a espessura de Mn cresce de 2 monocamadas para 8 monocamadas de Mn<br />

[10]. Além disso, Tulchinsky e cols. [20] mostraram que o acoplamento não colinear é<br />

favoreci<strong>do</strong> para TS ≥ 150°C. Portanto, fizemos nesta dissertação um estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> efeito<br />

causa<strong>do</strong> por diferentes interfaces (diferentes graus de rugosidades) sobre o ângulo de<br />

acoplamento entre as camadas de Fe separadas por uma camada de δ-Mn de 1 nm (~ 6<br />

monocamadas). Obtivemos as diferentes interfaces preparan<strong>do</strong> tricamadas tipo Fe(5-<br />

20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) crescidas sobre substrato de MgO em diferentes TS. Assim,<br />

estudamos o processo de epitaxia das camadas de Fe e Mn por MBE e caracterizamos<br />

localmente e volumetricamente as propriedades magnéticas destas camadas (e das<br />

24


tricamadas) com as técnicas de Difração por Reflexão de Elétrons de Altas Energias<br />

(RHEED), Espalhamento Rutherford (RBS), Espectroscopia Mössbauer Elétrons de<br />

Conversão (CEMS), Dicroísmo Circular Magnético por Absorção de Raios-X (XMCD),<br />

Ressonância Ferromagnética (RFM) e Magnetometria de Amostra Vibrante (VSM).<br />

Além das tricamadas acima mencionadas, preparamos um filme de δ-Mn com<br />

aproximadamente 15 monocamadas, para investigar as discrepâncias entre os resulta<strong>do</strong>s<br />

reporta<strong>do</strong>s na literatura referente ao crescimento epitaxial das camadas de Mn (limite<br />

para espessura da fase δ-Mn) [10, 13 e 14]. No capítulo 2 desta dissertação,<br />

apresentamos alguns conceitos básicos sobre o magnetismo de tricamadas, incluin<strong>do</strong> o<br />

modelo proposto por Slonczewski. No capítulo 3, descreveremos as técnicas de<br />

preparação e caracterização das tricamadas. No capítulo 4, apresentaremos os resulta<strong>do</strong>s<br />

e discussões das medidas realizadas <strong>nas</strong> tricamadas deste trabalho. Finalmente, no<br />

capítulo 5 teceremos nossas conclusões sobre o trabalho realiza<strong>do</strong> nesta dissertação.<br />

25


Capítulo 2<br />

Aspectos Gerais: <strong>Acoplamento</strong>s Magnéticos entre Camadas Adjacentes<br />

Filmes finos são materiais que, depois de deposita<strong>do</strong>s sobre um substrato<br />

conveniente, possuem uma espessura da ordem de Angstrons (10 -10 m) e suas<br />

propriedades físicas são ditadas pela superposição <strong>do</strong>s efeitos de interface (superfície) e<br />

de bulk (volume). Os filmes finos sóli<strong>do</strong>s podem ser aqueles em forma de solução sólida<br />

metaestável (liga) ou em forma de multicamadas. Por um la<strong>do</strong>, os filmes em forma de<br />

ligas são prepara<strong>do</strong>s, geralmente, a partir da co-deposição de vapores <strong>do</strong>s metais que se<br />

deseja produzir os filmes. Por outro la<strong>do</strong>, as multicamadas são obtidas através de<br />

empilhamentos alterna<strong>do</strong>s de camada individuais distintas, mas cada uma com<br />

espessura da ordem de alguns Angstrons (Ǻ). Cabe dizer que uma camada individual<br />

pode ser um filme em forma de liga (solução sólida), amplian<strong>do</strong> a gama de pesquisas<br />

devidas às infinitas possibilidades de combinações entre os elementos químicos para<br />

formarem uma liga.<br />

Particularmente, <strong>nas</strong> multicamadas, devi<strong>do</strong> à quebra de simetria entre as<br />

camadas adjacentes (região de interface), vários novos fenômenos têm si<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>s<br />

<strong>nas</strong> últimas três décadas [2, 3, 4 e 5]. Portanto, como em uma multicamada existem<br />

várias interfaces, complican<strong>do</strong> excessivamente o entendimento <strong>do</strong>s mecanismos<br />

responsáveis por esses novos efeitos (exemplo: acoplamento magnético entre as<br />

camadas magnéticas separadas por camadas magnéticas ou não), ultimamente tem-se<br />

busca<strong>do</strong> sistemas mais simples, mas que trazem no seu bojo os efeitos das interfaces<br />

sobre as propriedades físicas das multicamadas. Dentre estes sistemas “simples”<br />

destacamos as bicamadas (Bi) e tricamadas (Tr). Esta última classe possui basicamente<br />

26


as seguintes interfaces: substrato(S)/camada1(C1); C1/C2; C2/C3 e finalmente C3/ar ou<br />

C3/C-protetora. As interfaces S/C1 e C3/ar (C3/C-protetora) são geralmente escolhidas<br />

de mo<strong>do</strong> a não influenciar no caráter magnético <strong>nas</strong> propriedades <strong>do</strong> sistema (Tr). Em<br />

geral, as camadas C1 e C3 são camadas magnéticas monoatômicas ou em forma de liga,<br />

enquanto a C2 (espaça<strong>do</strong>r) pode ser não-magnética ou magnética. Quan<strong>do</strong> a C2 for não<br />

magnético o espaça<strong>do</strong>r é conheci<strong>do</strong> com passivo <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> magnetismo, já<br />

que os elétrons de condução, responsáveis por um possível acoplamento magnético<br />

entre as camadas C1 e C3, não sofrem modificações direta na sua polarização de spins.<br />

Neste caso, um modelo aceitável para descrever o mecanismo de interação magnética<br />

entre as camadas C1 e C3 é o modelo de Heisenberg modifica<strong>do</strong>, ou seja, é o modelo<br />

que leva em conta termos superiores da interação <strong>do</strong> spin total da C1 com o da C3.<br />

Quan<strong>do</strong> o espaça<strong>do</strong>r é magnético (ativo), os elétrons de condução da C1 possuem suas<br />

polarizações modificadas pelos spins da C2, assim como os da C3 são influencia<strong>do</strong>s<br />

pela C2 e assim por diante. Neste caso, o modelo para espaça<strong>do</strong>r ativo é descrito por<br />

Slonczewski [19, 21, 22 e 23].<br />

Suponha uma Tr conforme descrito acima, mas que as interfaces não sejam<br />

perfeitamente pla<strong>nas</strong>, mas possuem rugosidade em forma de degraus (Figura 1). O<br />

hamiltoniano da parte magnética (supon<strong>do</strong> campo externo nulo) que descreve a<br />

interação magnética entre C1 e C3, supon<strong>do</strong> também um espaça<strong>do</strong>r passivo (não-<br />

magnético), é simplesmente o de Heisenberg, com ordens superiores <strong>nas</strong> interações<br />

entre os spins (magnetização líquida das camadas – Mi) das camadas C1 e C3, ou seja, o<br />

hamiltoniano conten<strong>do</strong> termos quadráticos e biquadráticos entre Mi das camadas [19].<br />

27


1<br />

2<br />

( ) 2<br />

cos<br />

28<br />

E = − j cosθ + j θ<br />

(1.1)<br />

Especificamente, o termo j1 representa a interação bilinear (quadrático) entre as<br />

uuur uuur<br />

camadas ferromagnéticas (C1 e C3), isto é, j1 é proporcional à M1 M 3 , onde<br />

uuuv<br />

M1<br />

e 3 M<br />

uuuv são os vetores magnetizações das C1 e C3 separadas por um espaça<strong>do</strong>r não-<br />

magnético (C2) e θ é o ângulo forma<strong>do</strong> entre os vetores magnetizações de C1 e C3. O<br />

termo j2 representa a interação biquadrática entre as camadas C1 e C3, com j2<br />

uuuur uuur<br />

2<br />

proporcional à ( M M ) . Termos de jn(cosθ) n , com n≥ 3, são desconsidera<strong>do</strong>s devi<strong>do</strong><br />

1 3<br />

suas magnitudes inferiores em relação os termos j1 e j2 [21]. Em resumo, o termo j2 é<br />

adiciona<strong>do</strong> às contribuições de energia magnética, pois j1 só produz valores de mínimos<br />

de energia para θ = 0 (ferromagnetismo) e θ = π (antiferromagnetismo). Portanto, j2 é<br />

um termo que levará em conta a rugosidade interfacial (frustração de spins <strong>nas</strong><br />

interfaces), poden<strong>do</strong> fazer com que o ângulo de acoplamento entre C1 e C3 esteja entre<br />

zero e π.<br />

Slonczewski [22] propôs que j2 fosse proporcional à<br />

(<br />

∆ 2<br />

J ) × L<br />

, onde ∆J é a<br />

amplitude de oscilação sofrida por j1 entre <strong>do</strong>is terraços (regiões pla<strong>nas</strong> da interface), L<br />

é o tamanho médio <strong>do</strong>s terraços e Aex é a constante de rigidez de troca <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r<br />

(intralayer Exchange stiffness) (Figura 1).<br />

Aex


Figura 1- Representação da variação de espessura na interface e acoplamento biquadrático.<br />

Nesta representação temos o caso de tricamadas (Tr), com a espessura <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r varian<strong>do</strong><br />

periodicamente entre n e n+1 camadas atômicas. As setas indicam a variação local na direção<br />

da magnetização de C1 (parte inferior) e C3 (parte superior). L corresponde a largura <strong>do</strong><br />

terraço (parte plana). A variação de j1 ocorre entre degraus consecutivos (n e n+1), sen<strong>do</strong> dada<br />

por ∆J [22].<br />

É importante ressaltar que j1 e j2 são, em certo senti<strong>do</strong>, as integrais de troca e<br />

onde seus valores e sinais são aqueles de energia magnética mínima em relação à θ .<br />

Portanto, minimizan<strong>do</strong> a energia magnética da interação da Tr podemos escrever que:<br />

E = − j cos θ + j (cos θ )<br />

1 2<br />

dE<br />

= j1senθ − 2 j2 cosθ<br />

senθ<br />

dθ<br />

dE<br />

= senθ ( j1 − 2 j2<br />

cos θ )<br />

dθ<br />

2<br />

29<br />

(1.2)<br />

dE<br />

Obrigatoriamente, no ponto de mínimo da energia, temos = 0 . Logo, temos<br />

dθ<br />

que ou senθ = 0 e neste caso, θ nπ<br />

= com n inteiro ou 1<br />

j<br />

cosθ<br />

= (ou ambos<br />

2 j<br />

satisfazen<strong>do</strong> as relações para os valores de θ). Para n = 0 (acoplamento ferromagnético)<br />

2


a integral de troca J é positiva para garantir que o princípio de mínima ação seja<br />

respeita<strong>do</strong>. Para n = 1 (acoplamento antiferromagnético) a integral de troca J é negativa<br />

j1<br />

pela mesma razão e/ou podemos ter −1<br />

≤ ≤ 1.<br />

Portanto, para acoplamentos<br />

2 j<br />

coplanares podemos, em princípio, obter qualquer valor para θ entre zero e π. Cabe<br />

dizer que para o acoplamento ortogonal entre C1 e C3, j1 (valor médio) necessariamente<br />

tem que ser nulo. O modelo até aqui discuti<strong>do</strong> é conheci<strong>do</strong> como o de Heisenberg<br />

modifica<strong>do</strong>, que toma como base o fato que a camada espaça<strong>do</strong>ra (C2) ser não-<br />

magnética (passiva magneticamente).<br />

Entretanto, nesta dissertação de mestra<strong>do</strong>, C2 é uma fase sólida <strong>do</strong> Mn, que<br />

estritamente falan<strong>do</strong> pode ser não-magnético, similar ao caso <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r Cr (fase<br />

cúbica de face centrada é antiferromagnética (AFM)) [24]. No caso <strong>do</strong> Cr, uma série de<br />

artigos teóricos mostra um arranjo helicoidal quase-AFM <strong>do</strong>s spins para o Cr <strong>nas</strong><br />

tricamadas (Fe/Cr/Fe), como solução da aproximação de tight-binding[24]. Assim,<br />

podemos esperar efeito semelhante no caso de espaça<strong>do</strong>res AFM, como pode ser o caso<br />

da fase cúbica de corpo centra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Mn. [25 e 26]<br />

Dada a complexidade <strong>do</strong>s cálculos por méto<strong>do</strong>s de primeiros princípios (méto<strong>do</strong><br />

Hartree-Fock) é útil interpretar as medidas de acoplamento entre camadas magnéticas<br />

usan<strong>do</strong> uma descrição fenomenológica, que reflita a física <strong>do</strong> problema. Pensan<strong>do</strong><br />

heuristicamente em termos da aproximação tight-binding, o spin efetivo da i-ésima<br />

célula atômica dentro <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r é dada por [19]:<br />

ur<br />

Onde 〈 σ ( x)<br />

〉<br />

ur<br />

≡ 〈 σ ( ) 〉<br />

∫<br />

Si 3<br />

dr x<br />

i<br />

2<br />

30<br />

(1.3)<br />

é <strong>do</strong> valor espera<strong>do</strong> <strong>do</strong> opera<strong>do</strong>r de densidade de spin <strong>do</strong> elétron<br />

itinerante. Assumin<strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s os spins estão colineares no esta<strong>do</strong> fundamental, vamos<br />

uur<br />

tomar uma pequena rotação relativa entre os momentos magnéticos M 1 e M 3<br />

uur para fora


<strong>do</strong> equilíbrio. Consideran<strong>do</strong> o desvio relativoϕ ij (> 0) das monocamadas i e j de um<br />

arranjo colinear (aqui não distinguiremos o sinal de Si),a diferença (aumento) da energia<br />

livre magnética de acoplamento <strong>do</strong> sistema (W) pode ser escrita como sen<strong>do</strong><br />

∑<br />

[19]: K S S (1 − cos ϕ ) , onde Kij é uma integral de troca efetiva de cada interação<br />

ij<br />

ij i j ij<br />

camada-camada. Assumin<strong>do</strong> que Kij contribui energeticamente somente para vizinhos<br />

próximos, e que ϕ i, i+<br />

1 é pequeno em relação à θ (ângulo entre as camadas), em uma<br />

porção <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r possuin<strong>do</strong> m monocamadas, o desvio relativo será da<strong>do</strong> por<br />

ϕ i, i+<br />

1 ≈<br />

{ θ }<br />

, se o acoplamento é ferromagnético (<br />

m<br />

fundamental e ϕ i, i+<br />

1 ≈<br />

31<br />

uur uur<br />

M 1 M 3<br />

uur = uur ) para o esta<strong>do</strong><br />

M 1 M 3<br />

uur uur<br />

{ π −θ}<br />

M 1 M 3<br />

se o acoplamento for antiferromagnético ( uur = − uur )<br />

m<br />

M 1 M 3<br />

para o esta<strong>do</strong> fundamental. A notação entre chaves indica que θ ≤ π . Assim, W é<br />

quadrático emϕ ij , consequentemente em { θ} e/ou{ π − θ}<br />

, uma vez que,<br />

cosϕij<br />

= ∑<br />

[19]:<br />

0<br />

( 1) ( ϕ )<br />

∞ −<br />

n 2n<br />

ij<br />

(2 n)!<br />

. Assim, é possível escrevermos a energia magnética dada por<br />

W = C { θ} + C { π − θ}<br />

, (1.4)<br />

2 2<br />

+ −<br />

Os coeficientes C+ e C- refletem as contribuições magnéticas das regiões, onde o<br />

espaça<strong>do</strong>r possui um número impar(Figura 2 (a)) ou par (Figura 2 (b)) de<br />

monocamadas, respectivamente.


Figura 2 - Ilustração hipotética <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s quase-antiferromagnéticos <strong>do</strong> modelo de<br />

uur uur<br />

Slonczewski para um espaça<strong>do</strong>r de Cr ou Mn. Os momentos de C1 e C3 ( M 1 e M 3 ) estão<br />

extremamente vincula<strong>do</strong>s em serem não-colineares. Em (a), o espaça<strong>do</strong>r possui um número<br />

impar de camadas atômicas (m = 3). Em (b) possui um número par (m = 4) [19].<br />

Em outras palavras, C+ e C- refletem as contribuições de acoplamentos<br />

ferromagnéticas e antiferromagnéticas entre as camadas ferromagnéticas (no nosso caso<br />

α-Fe). Vale chamar atenção que esta modelagem foi realizada sob as seguintes<br />

considerações: (i) assumimos que a magnetização da camada FM está paralela ao plano<br />

<strong>do</strong> filme, (ii) não “há” campos de demagnetização (valor desprezível em relação aos<br />

outros termos de energia) e finalmente (iii) também assumimos que os spins de uma<br />

camada individual FM permanecem paralelos uns com os outros devi<strong>do</strong> a um forte<br />

acoplamento de troca (intralayer-exchange). No nosso caso(Fe/Mn/Fe) para medidas<br />

com campos externos, temos que levar em conta para a energia magnética termos tais<br />

como: (a) energia de anisotropia cúbica <strong>do</strong> Fe, (b) energia Zeeman e (c) energia de<br />

acoplamento na forma da equação 1.4.<br />

32


Portanto, podemos escrever a energia total E por unidade de área como [27]:<br />

E = E + E + E ,<br />

a h c<br />

Kt sen<br />

Ea<br />

=<br />

4<br />

sen<br />

E = −HMt(cos Φ + cos Φ ),<br />

h<br />

2 2<br />

[( 2 Φ 1) + ( 2 Φ2<br />

) ]<br />

,<br />

1 2<br />

E = C ( Φ − Φ ) + C ( π − Φ − Φ ) ,<br />

c<br />

2 2<br />

+ 1 2 −<br />

1 2<br />

33<br />

(1.5)<br />

Onde a E é a energia de anisotropia, h E é a energia Zeeman e E c é a energia<br />

de acoplamento sugerida por Slonczewski[19]. Na equação (1.5), t, M, K e H são,<br />

respectivamente, as espessuras das camadas FM (Fe), a magnetização de saturação das<br />

camadas de Fe, a anisotropia cúbica de primeira ordem, e o campo externo aplica<strong>do</strong>. 1 Φ<br />

(ou Φ 2 ) é o ângulo entre o vetor magnetização da primeira (ou segunda) camada FM<br />

(Fe) e a direção <strong>do</strong> campo. Φ1 − Φ 2 = θ (0 ≤ θ ≤ π ) é o ângulo entre os <strong>do</strong>is vetores<br />

de magnetização das camadas FM (Fe) a um da<strong>do</strong> campo externo (chama<strong>do</strong> ângulo de<br />

acoplamento).<br />

Yan e cols. [28] obtiveram o diagrama de fase magnético para tricamadas<br />

Fe/Mn/Fe basea<strong>do</strong> no modelo sugeri<strong>do</strong> por Slonczewski. Tal diagrama é obti<strong>do</strong><br />

minimizan<strong>do</strong> a energia total (equação 1.5) em relação à 1 Φ e Φ 2 . Ao minimizar a<br />

energia total <strong>do</strong> sistema os autores encontraram: (i) uma solução simétrica ( Φ 1 = −Φ 2 ),<br />

fase simétrica, isto é, uma solução onde as duas magnetizações (camadas superior e<br />

inferior) são simétricas em relação à direção <strong>do</strong> campo magnético aplica<strong>do</strong> e (ii) uma<br />

solução assimétrica ( Φ1 ≠ −Φ 2 ), fase assimétrica, onde as duas magnetizações são<br />

assimétricas em relação à direção <strong>do</strong> campo magnético aplica<strong>do</strong>. Assim, Yan e cols.<br />

[28] obtiveram o diagrama de fase C- versus C+ a campo magnético externo nulo (para


campos magnéticos não nulos não é possível uma solução analítica, ape<strong>nas</strong> uma solução<br />

numérica), o gráfico obti<strong>do</strong> por eles pode ser visto na Figura 3.<br />

Figura 3 - Diagrama de fase a campo magnético externo nulo. S e AS representam<br />

respectivamente, as configurações simétricas e assimétricas. As regiões S e AS estão separadas<br />

pelas retas 3C- - C+ = 0 e C- - 3C+ = 0. As configurações de spins são mostradas em cada fase,<br />

M1 e M2(no nosso caso M3) representam as magnetizações das camadas de Fe superior e<br />

inferior respectivamente, h e e representam o eixo de difícil (“hard”) e fácil magnetização<br />

(“easy”), respectivamente [28].<br />

A fase simétrica pode ser dividida em duas regiões S1 e S2 (vide Figura 3). Na<br />

região S1 ( C − 3C > 0 ), a configuração de spin das duas magnetizações é simétrica em<br />

− +<br />

relação ao eixo fácil, e o ângulo θ está na faixa de 3 π / 4 < θ ≤ π . Somente quan<strong>do</strong> C+=<br />

0 e C- > 0 as duas magnetizações podem alinhar-se antiparalelamente (acoplamento<br />

antiferromagnético). Na região S2 ( 3C − C < 0 ), a configuração de spin é simétrica e<br />

− +<br />

0 ≤ θ ≤ π / 4 . Somente quan<strong>do</strong> C- = 0 e C+ > 0, as duas magnetizações alinham-se<br />

paralelamente (acoplamento ferromagnético). A fase assimétrica pode ser dividida<br />

34


assim como a parte simétrica em duas regiões AS1 e AS2, como mostra<strong>do</strong> na Figura 3.<br />

Na região AS1 ( C − 3C < 0 e C − C ≥ 0 ), a configuração de spin é assimétrica em<br />

− +<br />

− +<br />

relação ao eixo de fácil magnetização (porém simétrica em relação ao eixo de difícil<br />

magnetização), e π / 2 ≤ θ ≤ 3 π / 4 . Somente quan<strong>do</strong> C+= C- > 0, as duas magnetizações<br />

ficam perpendiculares (acoplamento 90º). Na região AS2 (3C − C > 0 e C − C ≤ 0 ) a<br />

− +<br />

− +<br />

configuração de spin é assimétrica (mas simétrica em relação ao eixo de difícil<br />

magnetização), e π / 4 < θ ≤ π / 2 . Portanto, está claro a riqueza <strong>do</strong> diagrama de fase<br />

magnético em sistemas tricamadas com duas camadas ferromagnéticas separadas por<br />

uma camada antiferromagnética. É importante ressaltar que o diagrama aqui exposto<br />

leva em conta uma “rugosidade ideal” formada ape<strong>nas</strong> por degraus. O diagrama ficaria<br />

ainda mais interessante se efeitos de interfaces como rugosidade química, difusão<br />

atômica etc., que de fato ocorrem na física experimental, fossem considera<strong>do</strong>s. Mas<br />

infelizmente ainda não temos um modelo para descrever tal fenômeno e esperamos<br />

demonstrar neste trabalho essa necessidade.<br />

35


Capítulo 3<br />

Técnicas Experimentais<br />

Neste trabalho, utilizamos a Epitaxia por Feixe de Moléculas (MBE) para o<br />

crescimento das tricamadas (Tr) de Fe/Mn/Fe sobre um substrato monocristalino e<br />

orienta<strong>do</strong> de MgO(001). Crescemos as tricamadas (Tr) por MBE no Instituut Voor<br />

Kern–en Stralingsfysica (IKS), da Katholieke Universiteit Leuven (KULeuven), na<br />

Bélgica. Para as caracterizações estruturais <strong>do</strong>s filmes (verificação da qualidade<br />

individual das camadas), utilizamos basicamente duas técnicas experimentais<br />

disponíveis no IKS-KULeuven: (i) a Difração por Reflexão de Elétrons de Alta Energia<br />

(RHEED), para acompanhar in-situ o crescimento epitaxial no plano das camadas<br />

(monocamada por monocamada) e (ii) a Espectroscopia de Retro-espalhamento<br />

Rutherford (RBS), para verificar, com medições ex-situ, o crescimento epitaxial das<br />

camadas na direção normal ao plano <strong>do</strong> filme. Estudamos as propriedades magnéticas<br />

das tricamadas, ex-situ, através das técnicas experimentais: (i) Magnetometria de<br />

Amostra Vibrante (VSM) (IKS–KULeuven), (ii) Dicroísmo Circular Magnético por<br />

Absorção de Raios-X (XMDC) (LNLS–Campi<strong>nas</strong>), (iii) Ressonância Ferromagnética<br />

(FMR) (UFG) e Espectroscopia Mössbauer por Conversão de Elétrons (CEMS)<br />

(LEMAG/<strong>UFES</strong> e IKS–KULeuven).<br />

36


3.1 Preparação das tricamadas (Tr-Fe/Mn/Fe)<br />

3.1.1 Epitaxia por Feixe de Moléculas<br />

Como mencionamos acima, usamos a Epitaxia por Feixe de Moléculas (MBE =<br />

Molecular Beam Epitaxy) neste trabalho, para o crescimento das tricamadas Fe/Mn/Fe<br />

sobre substratos (2cm 2 ) de MgO(001). Nesta técnica, um feixe de átomos ou moléculas,<br />

em um ambiente de ultra alto vácuo (UHV) (~ 10 -10 – 10 -11 Torr), condensa (perde<br />

energia cinética) sobre um monocristal 1 orienta<strong>do</strong> de MgO. De um mo<strong>do</strong> geral, os<br />

substratos são processa<strong>do</strong>s (fabrica<strong>do</strong>s) para produzir uma superfície com baixa<br />

rugosidade superficial (algumas monocamadas), de mo<strong>do</strong> a favorecer um crescimento<br />

epitaxial sem grandes tensões inter<strong>nas</strong> geradas pelas rugosidades. Os átomos (ou<br />

moléculas) ao chegarem ao substrato, formarão uma camada que terá (se controla<strong>do</strong>s<br />

corretamente) parâmetro de rede e estrutura cristalina semelhante as <strong>do</strong> substrato<br />

monocristalino, por isso crescimento epitaxial (epi = mesma forma e taxia = sobre algo).<br />

Ao contrário da técnica de deposição por Sputtering, onde os átomos são arranca<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

alvo por transferência de momentum <strong>do</strong> feixe de íons cria<strong>do</strong> pelo gás de trabalho (ex.<br />

argônio), na técnica de MBE os átomos <strong>do</strong>s vapores a serem deposita<strong>do</strong>s são obti<strong>do</strong>s<br />

pelo aquecimento <strong>do</strong>s alvos até suas respectivas temperaturas de evaporação (pressão de<br />

vapor positiva = número de átomos por unidade de área por unidade de tempo). Tais<br />

temperaturas (pressões de vapores) podem ser atingidas por: (a) um sistema resistivo<br />

<strong>nas</strong> chamadas células de Knudsen (um filamento de tântalo é aqueci<strong>do</strong> por uma corrente<br />

em uma câmara de evaporação, onde toda a câmara/célula encontra-se termicamente a<br />

mesma temperatura em to<strong>do</strong>s os pontos ≡ corpo negro) ou por (b) feixes/canhão de<br />

elétrons (electron-gun), ou seja, incidência de um feixe de elétrons (emiti<strong>do</strong>s de um<br />

filamento de tungstênio aqueci<strong>do</strong> e guia<strong>do</strong>, por campos magnéticos) sobre o alvo que se<br />

1 Chama-se o monocristal, neste caso, de substrato.<br />

37


deseja produzir o vapor a ser deposita<strong>do</strong>. Em ambos os casos ((a) e (b)), as taxas de<br />

evaporação (número de átomos por segun<strong>do</strong>) são da ordem de décimos, centésimos ou<br />

até milésimos de Å/s, enquanto no méto<strong>do</strong> de Sputtering as taxas são,em geral, da<br />

ordem da unidade de Å/s.<br />

O equipamento que utilizamos para preparar as tricamadas foi um Riber SDS32<br />

MBE. Este sistema é equipa<strong>do</strong> com <strong>do</strong>is (2) canhões de elétrons (cada um conten<strong>do</strong> 4<br />

cadinhos) e 6 células de Knudsen para evaporar uma vasta de variedade de materiais<br />

(principalmente metais 3d, Si e metais nobres). A pressão de base típica no sistema é de<br />

2 x 10 -11 Torr, mas durante a deposição seu valor é de aproximadamente 4x10 -10 Torr. A<br />

taxa de vaporização é medida por um cristal de quartzo calibra<strong>do</strong>, enquanto a<br />

estabilidade da taxa é controlada pela estabilização da temperatura, no caso das células<br />

de Knudsen, e por um espectrômetro de massa quadrupolar no caso <strong>do</strong>s canhões de<br />

elétrons. As amostras são montadas sobre um suporte que permanece giran<strong>do</strong> durante<br />

to<strong>do</strong> o tempo de deposição para minimizar qualquer anisotropia de espessura induzida<br />

artificialmente durante o processo de deposição (homogeneização da espessura). Para<br />

finalizar, deixamos claro que as Tr de Fe/Mn/Fe, deste trabalho, foram prepara<strong>do</strong>s na<br />

Katholieke Universiteit Leuven (Instituut voor Kern – en Stralingsfysica), pelo Prof.<br />

Edson Passamani, em 2002 e 2005 durante seu pós-<strong>do</strong>utoramento e depois em uma<br />

visita curta, respectivamente.<br />

3.1.2 Escolha e Preparo <strong>do</strong> Substrato MgO<br />

Crescemos as Tr de Fe/Mn/Fe sobre substratos de MgO(001) previamente<br />

poli<strong>do</strong>. Escolhemos o substrato de MgO(001), pois (i) ele é encontra<strong>do</strong> comercialmente<br />

com baixa rugosidade superficial, (ii) apresenta pequena diferença entre os parâmetros<br />

de rede (da fase <strong>do</strong> Fe e o substrato (MgO)). Pelo último motivo, monocritais de MgO<br />

têm si<strong>do</strong> amplamente utiliza<strong>do</strong>s para crescer epitaxialmente a fase alfa <strong>do</strong> Fe (α-Fe).<br />

38


Entretanto, cabe dizer que os átomos de Fe devem se situar sobre os íons de O 2- para<br />

minimizar a diferença entre os parâmetros de rede <strong>do</strong> substrato e <strong>do</strong> filme a ser cresci<strong>do</strong><br />

[29]. Assim, a célula cristalina <strong>do</strong> Fe é rotacionada no plano de 45 0 , em relação à direção<br />

[100] da rede <strong>do</strong> substrato (vide Figura 4). A fase α-Fe crescida sobre o MgO, possui<br />

um misfit (desajuste), no seu parâmetro de rede (no plano) à temperatura ambiente, de<br />

– 3,69% [ 30].<br />

célula<br />

unitária<br />

Figura 4 - Visão esquemática <strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong> Fe ccc sobre o substrato de MgO(001)[29].<br />

Em geral, a superfície <strong>do</strong> substrato MgO é contaminada por água e por carbono<br />

[31]. Assim, antes de colocarmos na câmara de ultra alto vácuo (UHV) para a deposição<br />

<strong>do</strong>s filmes, o substrato de MgO é enxagua<strong>do</strong> em Isopropanol (à pressão ambiente) e em<br />

seguida é seco por um fluxo constante de nitrogênio. Após essa limpeza química, o<br />

substrato é coloca<strong>do</strong> na câmara de UHV com um vácuo maior que 10 -8 Torr e é<br />

aqueci<strong>do</strong>, por aproximadamente 60 minutos, a uma temperatura de 700 o C. Com isso,<br />

garantimos que a superfície <strong>do</strong> cristal esteja limpa e sem água ou moléculas de<br />

39


hidroxila. Entretanto, tratamentos a altas temperaturas com o MgO em vácuo (ou em<br />

uma atmosfera de oxigênio) não garantem uma superfície livre de carbono.<br />

Contaminações varian<strong>do</strong> de 6% de uma monocamada [32] à 17% de uma<br />

monocamada[31] vêm sen<strong>do</strong> reportadas para tratamentos similares ao aqui usa<strong>do</strong> na<br />

superfície de MgO. Entretanto, as camadas crescidas não sugerem contaminação por<br />

carbono, já que não se evidenciou pela modificação na anisotropia magnética e/ou a<br />

possível presença de uma superfície reconstruída ou combinação com átomos de Fe,<br />

forman<strong>do</strong> carbetos de Fe.<br />

3.1.3 Deposição das tricamadas (Tr-Fe/Mn/Fe)<br />

Como dito anteriormente, depositamos as tricamadas (Tr-Fe/Mn/Fe) pelo<br />

méto<strong>do</strong> de MBE. Escolhemos está técnica ao invés da de Sputtering (<strong>do</strong>minante<br />

comercialmente para a fabricação de multicamadas metálicas) por duas razões<br />

fundamentais. A primeira foi devi<strong>do</strong> ao baixo número de defeitos cria<strong>do</strong>s nos filmes.<br />

Em virtude das “altas” energias no méto<strong>do</strong> de Sputtering, tem si<strong>do</strong> demonstra<strong>do</strong>, que<br />

multicamadas de Fe/Mn, possuem grande interdifusão atômica <strong>nas</strong> interfaces e os<br />

acoplamentos entre as camadas de Fe são nulos [33]. A segunda delas é que baixas taxas<br />

de deposição, necessárias para o crescimento epitaxial, requer um ambiente de vácuo de<br />

aproximadamente 10 -11 Torr (evitar oxidação), características que não são facilmente<br />

obtidas no caso da técnica de Sputtering (taxas de deposição da ordem de alguns Å/s,<br />

vácuo da ordem de 10 -8 Torr e 10 -6 Torr de Ar durante a deposição).<br />

Outro ponto importante na deposição das Tr-Fe/Mn/Fe é o fato de que<br />

depositan<strong>do</strong> os filmes a diferentes temperaturas para o substrato (Ts), influenciaremos a<br />

homogeneidade, cristalinidade e rugosidade, principalmente das regiões de interface.<br />

Portanto, crescemos as tricamadas (Tr-Fe/Mn/Fe) com uma pressão de base no<br />

sistema MBE de 4 x 10 -11 Torr, com os substratos de MgO manti<strong>do</strong>s a três temperaturas<br />

40


distintas: 50 o C, 150 o C e 175 o C, visan<strong>do</strong> modificação no grau de rugosidade. Durante a<br />

deposição das camadas, as amostras permaneciam giran<strong>do</strong> para garantir uniformidade<br />

lateral nos filmes. Preparamos as Tr-Fe/Mn/Fe sobre MgO(001) orienta<strong>do</strong> através da<br />

deposição de Fe natural ( nat Fe conten<strong>do</strong> aproximadamente 2% de 57 Fe) e <strong>nas</strong> interfaces<br />

com alvo de 57 Fe (95% enriqueci<strong>do</strong>). Depositamos o nat Fe através de uma fonte de<br />

canhão de elétrons, enquanto evaporamos as camadas de 57 Fe (depositada na interface) e<br />

de Mn (99,999%) por células de Knudsen. Controlamos o crescimento das camadas por<br />

um cristal de quartzo (independentemente para o nat Fe, o 57 Fe e o Mn). Monitoramos,<br />

com medidas in-situ de RHEED, o crescimento epitaxial no plano para cada camada.<br />

Cobrimos a Tr-Fe/Mn/Fe com 8 nm de Si, que se amorfizou (a-Si, verifica<strong>do</strong> pelo<br />

RHEED = perda de sinal). Esta camada de Si é para prevenir oxidação da camada<br />

superior de Fe. Depositamos a camada de Si a temperaturas menores ou iguais a 10 o C,<br />

para evitar a interdifusão entre o Si e a camada superior de Fe. Nenhuma fase Fe-Si foi<br />

observada por quaisquer técnicas de caracterização aqui utilizadas, o que garante que a<br />

cobertura de Si não afetou nossos resulta<strong>do</strong>s. Em média, tivemos as taxas de deposição<br />

<strong>do</strong> nat Fe, 57 Fe e <strong>do</strong> Mn de 0,16, 0,07 e 0,04 Å/s respectivamente. Optamos<br />

particularmente para a taxa <strong>do</strong> nat Fe de 0,16 Å/s, após verificarmos o valor usa<strong>do</strong> para<br />

crescimento epitaxial <strong>do</strong> Fe sobre o MgO no livro de preparação <strong>do</strong>s filmes <strong>do</strong><br />

laboratório. As demais taxas <strong>do</strong> 57 Fe e Mn, escolhemos após um estu<strong>do</strong> sistemático e<br />

análise de RHEED. A pressão na câmara de durante a deposição foi sempre da ordem de<br />

3 x 10 -10 Torr. A incerteza na espessura individual das camadas fica por volta de 10%<br />

<strong>do</strong> seu valor (estima<strong>do</strong> a partir de calibração de filmes monoatômicos por RBS).<br />

Particularmente, neste trabalho de dissertação estamos interessa<strong>do</strong>s em investigar o<br />

efeito da rugosidade interfacial sobre o ângulo de acoplamento magnético de duas<br />

41


camadas de Fe (C1 e C3) separadas por uma camada de Mn (C2) de espessura de 1 nm<br />

(10 Å). Assim, preparamos as seguintes Tr-Fe/Mn/Fe sobre substratos de MgO:<br />

Amostra 1 (A1):<br />

/ nat Fe(4nm)/ 57 Fe(1nm)/Mn(1nm)/ 57 Fe(1 nm)/ nat Fe(4nm)/Si(8 nm) ---------- (Ts = 150 o C)<br />

Amostra 2 (A2):<br />

/ nat Fe(19nm)/ 57 Fe(1nm)/Mn(1nm)/ 57 Fe(1nm)/ nat Fe(4nm)/Si(8nm) ----------- (Ts = 175 o C)<br />

Amostra 3 (A3):<br />

/Ag(100nm) nat Fe(9nm)/ 57 Fe(1nm)/Mn(1nm)/ 57 Fe(1nm)/ nat Fe(4nm)/Si(8nm) (Ts = 50 o C)<br />

Mostramos na Tabela 1 as técnicas experimentais utilizadas para caracterizar<br />

cada amostra individualmente.<br />

Tabela 1 – Técnicas utilizadas para a caracterização magnética e estrutural de cada amostra.<br />

Amostra RHEED RBS VSM XMCD FMR CEMS<br />

A1 X X X X X X<br />

A2 X X X X<br />

A3 X X X X X<br />

Para finalizar, gostaríamos de enfatizar que: (i) depositamos uma camada de Ag<br />

de 100nm (buffer) sobre o substrato de MgO, pois esta produz uma rugosidade<br />

interfacial de uma monocamada atômica e propicia o crescimento epitaxial da fase α-Fe<br />

[34], (ii) além das tricamadas preparamos também uma bicamada de Fe/Mn<br />

(MgO/Fe(20nm)/Mn(2,5nm)) para verificarmos um possível limite de espessura para a<br />

fase metaestável <strong>do</strong> Mn (δ-Mn).<br />

42


3.2 Caracterização das Tricamadas de Fe/Mn/Fe<br />

3.2.1 Caracterização Estrutural<br />

3.2.1.1 Difração por Reflexão de Elétrons de Alta Energia (RHEED)<br />

Na difração por reflexão de elétrons de alta energia (RHEED), um feixe mono-<br />

energético de elétrons de alta energia (~10 keV) incide em ângulos rasantes com a<br />

superfície <strong>do</strong> substrato (1 o -3º) em UHV [35]. O feixe difrata<strong>do</strong> é projeta<strong>do</strong> sobre uma<br />

tela de fósforo, colocada no la<strong>do</strong> oposto ao <strong>do</strong> canhão de elétrons (Figura 5). A imagem<br />

da tela é capturada por uma câmera digital e os da<strong>do</strong>s (imagens) grava<strong>do</strong>s em um<br />

computa<strong>do</strong>r com programas capazes de analisar as figuras de difração.<br />

O padrão de difração, em termos qualitativos, fornece informação substancial<br />

sobre a superfície estudada. A largura das linhas de RHEED tem relação direta com a<br />

perfeição da camada superficial cristalina que está sen<strong>do</strong> produzida. Quanto mais<br />

perfeita a superfície, mais estreitas serão as linhas difratadas. O espaçamento entre duas<br />

linhas consecutivas <strong>do</strong> padrão de difração é inversamente proporcional ao espaçamento<br />

ur<br />

inter-atômico da superfície <strong>do</strong> cristal ( G = 2 π / d ) . Desta forma, os padrões de<br />

hkl hkl<br />

RHEED são usa<strong>do</strong>s para estudar a orientação da superfície, o parâmetro de rede das<br />

camadas, a epitaxia das camadas, rugosidades e a periodicidade de superfícies<br />

reconstruídas[36].<br />

43


Figura 5 - Geometria usada nos experimentos de RHEED. Um feixe de elétrons (~10keV)<br />

(fecha negra) incide sobre a superfície de uma amostra e é difrata<strong>do</strong> em uma tela fosforescente.<br />

O ângulo entre o feixe e a superfície da amostra é de ~ 3º[36].<br />

A interpretação <strong>do</strong> padrão de difração fica bastante facilitada utilizan<strong>do</strong>-se a<br />

construção de Ewald [37]. Os elétrons incidentes na forma de uma onda plana são<br />

elasticamente espalha<strong>do</strong>s pelo potencial elétrico periódico da rede cristalina da amostra.<br />

Como o espalhamento é elástico, as ondas espalhadas pelos diferentes pontos e com<br />

diferentes fases são também ondas pla<strong>nas</strong>. Analiticamente, esta aproximação é tratada<br />

pelo formalismo de séries e integrais de Fourier <strong>do</strong> espaço recíproco. Entretanto, <strong>do</strong><br />

ponto de vista prático, a interpretação geométrica é mais útil no contexto deste trabalho.<br />

A construção de Ewald é uma representação geométrica da conservação de energia<br />

durante o espalhamento elástico, ou seja, |ki| 2 = |k| 2 ou |ki| = |k|, onde ki e k são os<br />

vetores de onda <strong>do</strong>s elétrons incidentes e difrata<strong>do</strong>s, respectivamente. Por outro la<strong>do</strong>, o<br />

momento também deve ser conserva<strong>do</strong>, resultan<strong>do</strong> na condição de difração de Bragg, k<br />

= ki + k = ki + Ghkl, isto é, a diferença entre o feixe incidente e o espalha<strong>do</strong>, k, deve<br />

ser igual a um vetor da rede recíproca (Ghkl). Além disto, a conservação de energia<br />

implica que tanto a onda incidente como a onda espalhada têm os extremos de seus<br />

vetores de ondas sobre uma esfera de raio |ki|, chamada esfera de Ewald (Figura 6).<br />

44


Figura 6 - Representação de um processo de difração usan<strong>do</strong> a representação da esfera de<br />

Ewald, construída a partir <strong>do</strong> vetor de onda <strong>do</strong> feixe incidente (ki) e requeren<strong>do</strong> que o feixe<br />

difrata<strong>do</strong> também se encontre sobre a circunferência devida pela energia <strong>do</strong> feixe incidente.<br />

Assim, gera-se uma condição que é k = ki + k, onde k é a diferença de fase[36].<br />

No RHEED, o feixe de elétrons incidente na amostra atinge ape<strong>nas</strong> as camadas<br />

da superfície (≈ monocamada), o espalhamento ocorre em boa aproximação numa rede<br />

bidimensional. Desde que uma rede bidimensional é descrita por ape<strong>nas</strong> <strong>do</strong>is vetores de<br />

base (o terceiro vetor normal à superfície é nulo) o espaçamento entre os pontos da rede<br />

recíproca na direção normal é nulo. Este fato acarreta uma degenerescência <strong>do</strong>s pontos<br />

da rede em linhas perpendiculares à superfície. Com isto, o vetor da rede recíproca da<br />

superfície, representan<strong>do</strong> uma rede bidimensional de linhas normais a esta superfície,<br />

pode ser escrito como Ghk = hA * + kB * . Mostramos na Figura 7 a construção de Ewald,<br />

ilustran<strong>do</strong> o tipo de imagem vista na tela fluorescente <strong>do</strong> RHEED. Podemos ver nesta<br />

figura, que os pontos observa<strong>do</strong>s na tela fluorescente, correspondem à intersecção das<br />

linhas da rede recíproca com a esfera de Ewald. Esta intersecção define uma zona de<br />

Laue da difração, indicada na Figura 7 pelo semicírculo L. Evidentemente, <strong>do</strong> ponto de<br />

vista geométrico, a rede recíproca e a esfera de Ewald, se interceptam duas vezes, mas<br />

fisicamente a interação elétron-superfície (conseqüente observação <strong>do</strong> padrão de<br />

45


RHEED) só é possível no semi-espaço acima <strong>do</strong> plano da amostra. Na prática, o padrão<br />

de difração <strong>do</strong> RHEED observa<strong>do</strong> na tela não é, em geral, de pontos bem defini<strong>do</strong>s.<br />

Ocorre um alongamento <strong>do</strong>s pontos na direção das linhas da rede recíproca, forman<strong>do</strong><br />

listras (streaks). Isto se deve em primeiro lugar à pequena dispersão na energia <strong>do</strong> feixe<br />

de elétrons incidentes, conferin<strong>do</strong> à esfera de Ewald certa "espessura". Em segun<strong>do</strong><br />

lugar, as linhas da rede recíproca, devi<strong>do</strong> à desordem superficial, também são alargadas,<br />

sen<strong>do</strong> mais apropria<strong>do</strong> designá-las como cilindros ou colu<strong>nas</strong> [38 e 39].<br />

Figura 7 - Representação da esfera de Ewald e esquematização de um processo de difração<br />

usual da geometria <strong>do</strong> RHEED [36].<br />

Além disto, devi<strong>do</strong> ao ângulo rasante, o feixe de elétrons incidente sobre uma<br />

superfície real, conten<strong>do</strong> defeitos, desordem e rugosidade, pode produzir uma<br />

superposição de um padrão de difração por transmissão (parte da amostra com<br />

características 3-D) sobre um padrão refleti<strong>do</strong> (características 2-D). Estes padrões de<br />

difração são bastante diferentes. Este aspecto <strong>do</strong> RHEED é bastante interessante e<br />

permite a análise qualitativa da morfologia <strong>do</strong> crescimento ou topografia da camada em<br />

análise [36].<br />

46


3.2.1.2 Espectroscopia de Retro-espalhamento Rutherford (RBS)<br />

A Espectroscopia de Retro-espalhamento Rutherford (RBS) é uma ferramenta<br />

para análise de distribuição de elementos em uma amostra ao longo da profundidade<br />

(espessura) da mesma. Em RBS, um feixe de partículas α (He 2+ ), com energias típicas<br />

entre 1-4 MeV, bombardeiam a amostra. As partículas retro-espalhadas pela amostra<br />

são coletadas, e suas energias são analisadas. No intervalo de energia usa<strong>do</strong>, a interação<br />

entre um íon <strong>do</strong> feixe e um átomo da amostra é governada pela repulsão Coulombiana<br />

entre <strong>do</strong>is núcleos não blinda<strong>do</strong>s. A energia transferida entre as partículas, nesta colisão<br />

elástica, é calculada aplican<strong>do</strong> os princípios de conservação de energia e conservação de<br />

momentum. As partículas enquanto passam pela amostra, perdem energia devi<strong>do</strong> às<br />

colisões inelásticas com os elétrons da amostra (tipicamente 20–30 eV/Å). Uma<br />

aproximação que é feita na análise de RBS é o fenômeno de espalhamento simples.<br />

Nesta aproximação é assumi<strong>do</strong> que um íon que chega ao detector sofreu somente um<br />

espalhamento em grandes ângulos. Uma vez que a propagação <strong>do</strong>s íons quase não é<br />

afetada por colisões com elétrons, as trajetórias <strong>do</strong>s íons podem ser consideradas<br />

aproximadamente retilíneas. Basea<strong>do</strong> nestas aproximações, os seguintes cálculos podem<br />

ser feitos:<br />

* A taxa das energias da partícula retro-espalhada antes e depois da colisão é dada pelo<br />

fator cinemático e isto é completamente determina<strong>do</strong> pela razão das massas <strong>do</strong> projétil e<br />

<strong>do</strong> átomo alvo e pelo ângulo de espalhamento.<br />

*A fração de átomos retro-espalha<strong>do</strong>s é proporcional à seção de choque <strong>do</strong> alvo. A<br />

fração pode ser relacionada com a densidade superficial (átomos por unidade de área)<br />

<strong>do</strong>s elementos da amostra.<br />

47


*Usan<strong>do</strong> valores tabula<strong>do</strong>s para a perda de energia <strong>do</strong>s íons, uma escala de energia pode<br />

ser associada a uma escala de profundidade de cada elemento.<br />

Associa<strong>do</strong> a técnica de RBS, temos aquela chamada de channeling <strong>do</strong> feixe<br />

incidente (canalização <strong>do</strong> feixe incidente). Assim, se o feixe incidente é direciona<strong>do</strong> ao<br />

longo <strong>do</strong> eixo principal <strong>do</strong> cristal, as partículas α <strong>do</strong> feixe colima<strong>do</strong> são direcionadas<br />

sobre os canais forma<strong>do</strong>s por fileiras de átomos, no caso de um monocristal. Este efeito<br />

é chama<strong>do</strong> efeito channeling, o resulta<strong>do</strong> é um drástico decaimento das partículas retro-<br />

espalhadas que chegam ao detector, ou seja, podemos medir na geometria de channeling<br />

o substrato e as camadas depositadas sobre este para termos informações a respeito <strong>do</strong><br />

grau de epitaxia fora <strong>do</strong> plano da camada depositada. Portanto, a medida via RBS em<br />

efeito channeling é muito sensível a defeitos e impurezas intersticiais no filme e assim<br />

canalizar as partículas α ao longo <strong>do</strong> eixo principal pode ser considera<strong>do</strong> uma medida<br />

sensitiva para a perfeição de um cristal ao longo <strong>do</strong> eixo de incidência <strong>do</strong> feixe.<br />

Realizamos as medidas de RBS Channeling (RBS/C) e non-channeling<br />

(RBS/nC), ex-situ ,em uma câmara de alto vácuo, no IKS-KULeuven. Usamos um feixe<br />

de 4 He +2 com energias de 1,57 MeV. Com essa energia para o feixe incidente e usan<strong>do</strong><br />

as aproximações acima, esperaríamos obter o feixe retro-espalha<strong>do</strong> vin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s átomos de<br />

Fe em 730 keV, de Mg em 420 keV, de O em 530 keV e Si em 630 keV. Detectamos os<br />

íons retroespalha<strong>do</strong>s simultaneamente com <strong>do</strong>is detectores de barreira de superfície de<br />

silício, em posição angular variável e o outro na posição de 172 o , com relação a frente<br />

<strong>do</strong> filme (o feixe incidente de partículas α é injeta<strong>do</strong> perpendicular ao plano <strong>do</strong> filme)<br />

Tais valores são escolhi<strong>do</strong>s para obter uma otimização na resolução de profundidade,<br />

uma vez que o último alcança a melhor resolução em massa.[34].<br />

48


Do ponto de vista da caracterização estrutural <strong>do</strong>s filmes, podemos dizer que as<br />

medidas de RHEED, feitas durante o crescimento das camadas, nos dão informações<br />

sobre a epitaxia no plano e a evolução da rugosidade (redução de intensidade luminosa<br />

na tela fosforescente <strong>do</strong> feixe difrata<strong>do</strong>) com o aumento da espessura da camada que<br />

está sen<strong>do</strong> crescida. Por outro la<strong>do</strong>, as medidas de RBS (com e sem channeling) nos<br />

permitem responder a questão da epitaxia das camadas na direção perpendicular ao<br />

plano <strong>do</strong> substrato (filme).<br />

3.2.2 Caracterização Hiperfina<br />

3.2.2.1 Espectroscopia Mössbauer por Conversão de Elétrons (CEMS)<br />

A maioria <strong>do</strong>s decaimentos radioativos produz os chama<strong>do</strong>s núcleos filhos em<br />

um esta<strong>do</strong> excita<strong>do</strong>. Este núcleo filho decai para um esta<strong>do</strong> fundamental emitin<strong>do</strong><br />

quanta de raios γ. Em um átomo livre ocorre um recuo devi<strong>do</strong> à conservação <strong>do</strong><br />

momento linear, resultan<strong>do</strong> na emissão de um fóton de energia menor <strong>do</strong> que a energia<br />

de transição nuclear. O mesmo ocorre na absorção, quan<strong>do</strong> o núcleo livre absorve<strong>do</strong>r<br />

recua, significan<strong>do</strong> que a energia <strong>do</strong> fóton a ser absorvi<strong>do</strong> deva ser maior <strong>do</strong> que a<br />

transição nuclear. Assim, sob essas circunstancias (emissão e absorção ressonantes em<br />

átomos livres) processos de transições nucleares não ocorrem.<br />

A absorção ressonante sem recuo em sóli<strong>do</strong>s foi descoberta por Ru<strong>do</strong>lf<br />

Mössbauer em 1957[40, 41, 42 e 43] sen<strong>do</strong> que o mesmo foi laurea<strong>do</strong> com o prêmio<br />

Nobel de física somente quatro anos após de sua descoberta. Assim, o processo de<br />

ressonância nuclear de emissão e absorção de fótons γ em sóli<strong>do</strong>s é conheci<strong>do</strong> como<br />

efeito Mössbauer. Sua origem basicamente está no fato <strong>do</strong> núcleo estar fixa<strong>do</strong> em uma<br />

rede cristalina, onde a energia de recuo pode ser comparada em magnitude com a<br />

energia vibracional <strong>do</strong>s fônons da rede. Resumin<strong>do</strong>, se um núcleo em um esta<strong>do</strong><br />

49


excita<strong>do</strong> com tempo de meia vida τN (141 ns para o 57 Fe) emite radiação γ, a<br />

distribuição de energia segue a lei de Breit-Wigner (lorentziana) [44]:<br />

2<br />

( Γ / 2)<br />

I ( E) = I .<br />

( E E ) ( / 2)<br />

0 2 2<br />

− 0 + Γ<br />

50<br />

(2.1)<br />

Onde E0 é a energia da transição e Γ = h / τ N é largura de linha ressonante, (E0 = 14,4<br />

keV e Γ = 4,7 neV para o 57 Fe). Um átomo livre emitin<strong>do</strong> um quantum γ irá recuar com<br />

uma energia<br />

E<br />

r<br />

2 2<br />

p E<br />

γ γ<br />

= = (Er = 2 meV para o 2<br />

2M 2Mc<br />

57 Fe). A energia de recuo é muito<br />

maior <strong>do</strong> que a largura natural de linha Γ. Se o núcleo emissor estiver em um sóli<strong>do</strong>,<br />

toda a matriz absorverá o recúo, já que existe a possibilidade de não haver mudança nos<br />

esta<strong>do</strong>s vibracionais das redes onde se encontram os átomos emissores (fonte) e<br />

absorve<strong>do</strong>res (amostra). Como a massa <strong>do</strong> sóli<strong>do</strong> é da ordem 10 20 vezes maior <strong>do</strong> que a<br />

massa <strong>do</strong> núcleo livre, a energia de recuo torna-se praticamente desprezível. Isto<br />

permite a emissão e a absorção nuclear ressonante. Todavia, a emissão (ou absorção)<br />

pode envolver também transferência de energia para as vibrações da rede (fônons) no<br />

cristal e a probabilidade para que emissão ocorra sem induzir nenhum fônon é definida<br />

pelo fator de Debye-Waller. A probabilidade de emissão ou absorção sem recúo é 0,76<br />

para o 57 Fe (na fase α-Fe) à temperatura ambiente [44]. A espectroscopia Mössbauer<br />

permite então medir, entre outras grandezas físicas, as interações hiperfi<strong>nas</strong>, que surgem<br />

das interações de carga e spin nuclear com as distribuições de carga e spins eletrônico.<br />

As primeiras já estão bem definidas (não mudam devi<strong>do</strong> à vizinha), mas as distribuições<br />

eletrônicas <strong>do</strong>s átomos dependem da vizinhança onde se encontram os átomos em<br />

estu<strong>do</strong>. Cabe dizer que as correções <strong>nas</strong> energias <strong>do</strong> núcleo devi<strong>do</strong> as interação<br />

hiperfi<strong>nas</strong> são da ordem de 10 -8 eV, onde os esta<strong>do</strong>s nucleares têm energias da ordem de


deze<strong>nas</strong> de keV. As interações hiperfi<strong>nas</strong> geradas pelos diferentes ambientes das<br />

amostras podem ser compensadas através de uma modulação Doppler na energia <strong>do</strong><br />

fóton gama dada por [44]:<br />

51<br />

⎛ ν ⎞<br />

E( v) = E0.<br />

⎜1+ ⎟<br />

⎝ c ⎠ (2.2)<br />

Portanto, para sondar os níveis de energia <strong>do</strong> núcleo em diferentes ambientes, temos<br />

que encaixar a energia <strong>do</strong> raio γ emiti<strong>do</strong> pela fonte com a energia <strong>do</strong> núcleo <strong>do</strong><br />

absorve<strong>do</strong>r, isto é, temos que mover a fonte em relação ao absorve<strong>do</strong>r, ou vice e versa.<br />

O efeito Doppler associa<strong>do</strong> produz um deslocamento na energia <strong>do</strong> raio γ emiti<strong>do</strong> pela<br />

fonte, permitin<strong>do</strong> que este fóton seja absorvi<strong>do</strong> ressonantemente por um núcleo<br />

semelhante no absorve<strong>do</strong>r. Um espectro Mössbauer representa o número de raios γ<br />

absorvi<strong>do</strong>s em função da velocidade relativa da fonte em relação ao absorve<strong>do</strong>r (mo<strong>do</strong><br />

de transmissão) ou pelo número de elétrons (ou raios – X ou próprio raios γ emiti<strong>do</strong>),<br />

provenientes da absorção nuclear <strong>do</strong> fóton incidente, emiti<strong>do</strong>s em função da velocidade<br />

da fonte emissora (mo<strong>do</strong> de emissão). No primeiro caso, temos espectros conten<strong>do</strong><br />

depressões com relação à linha de base (redução de fótons no detector), enquanto no<br />

segun<strong>do</strong> caso temos aumento da intensidade com relação à linha de base. O méto<strong>do</strong> de<br />

emissão de elétrons tem mais eficiência devi<strong>do</strong> ao fato de que os elétrons possuem livre<br />

caminho médio nos sóli<strong>do</strong>s da ordem de 100nm, este méto<strong>do</strong> é usa<strong>do</strong> para estu<strong>do</strong> de<br />

filmes, que é o nosso caso.<br />

Em resumo, as interações hiperfi<strong>nas</strong> deslocam os níveis de energia nuclear ou<br />

levantam suas degenerescências devi<strong>do</strong> à interação com o ambiente químico, onde se<br />

encontra o átomo sonda. Dessa forma, podemos obter informação estrutural e magnética<br />

local deste átomo Mössbauer em um da<strong>do</strong> sistema investiga<strong>do</strong>. Três são os principais<br />

parâmetros hiperfinos que podem ser obti<strong>do</strong>s diretamente de uma medida Mössbauer<br />

(Figura 8 ( 57 Fe)). Primeiramente, há um deslocamento da linha de ressonância <strong>do</strong> zero


de velocidade devi<strong>do</strong> a diferenças na interação de Coulomb entre a densidade de cargas<br />

<strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s excita<strong>do</strong> e fundamental com a densidade de elétrons s na região nuclear<br />

(diferença entre os raios quadráticos <strong>do</strong> núcleo nos esta<strong>do</strong>s excita<strong>do</strong> e fundamental<br />

conjuntamente com o fato de que os átomos (emissor e absorve<strong>do</strong>r) estão em ambiente<br />

químicos distintos). Este deslocamento é conheci<strong>do</strong> como deslocamento isomérico e é<br />

denota<strong>do</strong> por δ (Figura 8 (b)). A interação quadrupolar elétrica é causada pela a<br />

interação entre o momento quadrupolo nuclear (no caso <strong>do</strong> Fe, somente o esta<strong>do</strong><br />

excita<strong>do</strong> tem momento de quadrupolo) e o tensor de gradiente elétrico (GCE) causa<strong>do</strong><br />

por uma assimetria na distribuição de carga na vizinhança <strong>do</strong>s átomos da amostra. A<br />

fonte radiativa é confeccionada com átomos emissores em ambiente com gradiente de<br />

campo elétrico e campo magnético nulos, de mo<strong>do</strong> que toda mudança da energia <strong>do</strong><br />

fóton de 14,4 keV venha <strong>do</strong> efeito Doppler.<br />

A interação quadrupolar levanta parcialmente a degenerescência <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

excita<strong>do</strong> em duas linhas e os autovalores de energia desta interação são quadráticos em<br />

relação aos valores de mI (projeção <strong>do</strong> momento angular de spin <strong>do</strong> núcleo na direção<br />

de quantização), que podem ser vista no espectro Mössbauer como um dubleto. O<br />

des<strong>do</strong>bramento de ambas as linhas é denota<strong>do</strong> por ∆, e é chama<strong>do</strong> de des<strong>do</strong>bramento<br />

quadrupolar (Figura 8 (c)). A última interação é a dipolar magnética, dada pela<br />

interação entre o momento magnético <strong>do</strong> núcleo e o campo magnético hiperfino,<br />

conhecida como interação Zeeman nuclear. O des<strong>do</strong>bramento Zeeman <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s<br />

excita<strong>do</strong> e fundamental exibe seis linhas espectrais para o α-Fe (sexteto) devi<strong>do</strong> à<br />

transição ser <strong>do</strong> tipo dipolar elétrica ( ∆ m = 0 ± 1 ) (Figura 8 (d)).Pode ocorrer o caso<br />

I<br />

onde as interações quadrupolar elétrica e magnética estão presentes, complican<strong>do</strong> as<br />

formas <strong>do</strong>s espectros [34].<br />

52


Figura 8 - Figura esquemática <strong>do</strong>s níveis de energia <strong>do</strong> núcleo de 57 Fe da fonte (a) e para o<br />

absorve<strong>do</strong>r em três situações distintas: (b) absorve<strong>do</strong>r com átomos de Fe ten<strong>do</strong> GCE = Bhf =<br />

0,( c) absorve<strong>do</strong>r com átomos de Fe ten<strong>do</strong> GCE ≠ 0 e Bhf = 0 e( d) absorve<strong>do</strong>r com átomos de<br />

Fe ten<strong>do</strong> GCE = 0 e Bhf ≠ 0 [45].<br />

Uma maneira de medir o número de fótons absorvi<strong>do</strong>s é colocar o detector de<br />

fótons atrás <strong>do</strong> absorve<strong>do</strong>r e contar o número de fótons transmiti<strong>do</strong>s. Essa técnica é<br />

chamada de espectroscopia Mössbauer de transmissão. Entretanto, quan<strong>do</strong> o absorve<strong>do</strong>r<br />

é posiciona<strong>do</strong> no topo de um substrato com espessura fina, um méto<strong>do</strong> alternativo é a<br />

Espectroscopia Mössbauer por Conversão de Elétrons (CEMS). Quan<strong>do</strong> um núcleo no<br />

absorve<strong>do</strong>r, que foi excita<strong>do</strong> ressonantemente, decai para o esta<strong>do</strong> fundamental, essa<br />

energia pode ser transferida por elétrons das camadas mais inter<strong>nas</strong>. O processo mais<br />

provável, com 80 a 90% de probabilidade de ocorrer, é a emissão de um elétron de<br />

conversão da camada K com energia de 7,3 keV. Este elétron de conversão escapa da<br />

53


camada superior (aproximadamente 1000Å) da amostra, consequentemente nos<br />

fornecen<strong>do</strong> informações a respeito da superfície <strong>do</strong> material.<br />

Outra informação importante a ser considerada para este trabalho é a relação<br />

entre as intensidades das linhas 2(5)/3(4) <strong>do</strong> espectro Mössbauer de uma amostra de Fe<br />

magnética (sexteto). Os coeficientes de Clebsch-Gordan dão a probabilidade de<br />

transição entre <strong>do</strong>is níveis de spins nucleares. Os coeficientes de Clebsch-Gordan não<br />

possuem dependência angular e, basicamente representam uma intensidade de<br />

emissão/absorção através <strong>do</strong> ângulo sóli<strong>do</strong> que envolve o núcleo. Porém, pode existir<br />

uma situação onde a distribuição de radiação gama é não uniforme em um ângulo<br />

sóli<strong>do</strong>. Assim, os coeficientes de Clebsch-Gordan podem ser modula<strong>do</strong>s por uma<br />

função f ( θ ) , onde θ é o ângulo entre o raio gama incidente e o campo magnético<br />

hiperfino (pode também haver dependência com o gradiente elétrico). Na Tabela 2 [44]<br />

mostramos os valores <strong>do</strong>s coeficientes de Clebsch-Gordan calcula<strong>do</strong>s para uma<br />

transição <strong>do</strong> tipo dipolar. Vemos claramente que para θ =0º (θ =90º) a relação entre as<br />

intensidades relativas <strong>do</strong>s três primeiros picos de absorção ressonante de um espectro<br />

magnético (sexteto) obedecem a razão 3:0:1 (3:4:1). A Figura 9 mostra alguns espectros<br />

Mössbauer na geometria de transmissão, evidencian<strong>do</strong> as relações entre a intensidade<br />

<strong>do</strong>s picos <strong>do</strong>s de absorção ressonante para incidência <strong>do</strong> feixe de fótons gama, fazen<strong>do</strong><br />

um ângulo (θ) com a direção da magnetização da amostra.<br />

54


Tabela 2 - Intensidades relativas de absorção para interação Zeeman nuclear em átomos de Fe<br />

[44].<br />

M2 m1 ∆m C 2 f ( θ ) θ =90º θ =0º<br />

+3/2 +1/2 +1 3<br />

+1/2 +1/2 0 2<br />

-1/2 +1/2 -1 1<br />

2<br />

1 cos ( θ )<br />

+ 3 6<br />

2<br />

2 sen ( θ ) 4 0<br />

2<br />

1 cos ( θ )<br />

+ 1 2<br />

-3/2 +1/2 -2 0 0 0 0<br />

+3/2 -1/2 +2 0 0 0 0<br />

+1/2 -1/2 +1 1<br />

-1/2<br />

-3/2<br />

-1/2<br />

-1/2<br />

0 2<br />

-1 3<br />

2<br />

1 cos ( θ )<br />

+ 1 2<br />

2<br />

2 sen ( θ ) 4 0<br />

2<br />

1 cos ( θ )<br />

+ 3 6<br />

55


Figura 9 - Espectros Mössbauer para o átomo sonda 57 Fe consideran<strong>do</strong> o ângulo θ entre o<br />

feixe γ e a magnetização da amostra, como: a) 0 o<br />

θ ≈ ,b) 90 o<br />

θ ≈ e c) para um policristal<br />

magnético (magnetização isotrópica).<br />

3.2.3 Caracterização Magnética<br />

3.2.3.1 Magnetometria de Amostra Vibrante (VSM)<br />

A magnetometria de amostra vibrante (VSM) é uma das técnicas mais utilizada<br />

para medir propriedades magnéticas de amostras de um mo<strong>do</strong> geral. O princípio por trás<br />

<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> de VSM está na lei de indução magnética de Faraday. Se um magneto (neste<br />

caso a amostra magnética) é movi<strong>do</strong> através de uma bobina, a variação de fluxo<br />

magnético através da bobina induz uma voltagem na mesma. Na técnica de VSM, a<br />

amostra vibra a uma freqüência fixa (~ 80 Hz) próxima <strong>do</strong> conjunto de bobi<strong>nas</strong><br />

coletoras, induzin<strong>do</strong> um sinal de voltagem AC que é medi<strong>do</strong> por um amplifica<strong>do</strong>r lock-<br />

56


in. Para converter a voltagem medida em momento magnético, uma amostra de níquel<br />

(padrão) é medida em seu esta<strong>do</strong> satura<strong>do</strong>. O fator de calibração é então aplica<strong>do</strong> para a<br />

amostra de interesse. Usamos, neste trabalho, o VSM da marca Oxford, pertencente ao<br />

IKS–KULeuven, com capacidade para campos magnéticos máximos de até 9 T e<br />

possibilidade de medidas em um amplo intervalo de temperatura (3,8 K - 1000K).<br />

Medimos todas as amostras nos seus respectivos esta<strong>do</strong>s de saturação, com o campo<br />

magnético sen<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong> paralelo ao plano <strong>do</strong> filme e a amostra posicionada forman<strong>do</strong><br />

um ângulo de 45 0 com relação aos eixos cristalinos <strong>do</strong> substrato de MgO (001), uma vez<br />

que, esse é eixo de fácil magnetização de uma das camadas de Fe (mais espessa).<br />

3.2.3.2 Ressonância Ferromagnética (FMR)<br />

A) Conceitos fundamentais<br />

A técnica de ressonância ferromagnética (FMR) consiste na absorção ressonante<br />

da radiação eletromagnética (deze<strong>nas</strong> de GHz) por uma amostra magnética, quan<strong>do</strong> esta<br />

se encontra submetida a um campo magnético externo estático.<br />

Nos materiais ferromagnéticos, o campo magnético não é puramente o aplica<strong>do</strong>,<br />

uur uur<br />

mas um campo efetivo ( H ef ) que é da<strong>do</strong> pela soma <strong>do</strong>s campos externo ( H ext<br />

interno ( H int ). Este último campo contém várias contribuições, por exemplo, os<br />

campos de desmagnetização, de anisotropia cristalina, de troca, etc. Assim, na presença<br />

<strong>do</strong> campo efetivo, equação que rege a dinâmica da magnetização total da amostra, no<br />

esta<strong>do</strong> de saturação, num meio não dissipativo é dada por:<br />

onde<br />

dM<br />

dt<br />

57<br />

) e<br />

= −γ[<br />

M × H ]<br />

(3.1)<br />

gµ B<br />

γ = é a razão giromagnética, g o fator giromagnético <strong>do</strong> material e µB é o<br />

h<br />

magnéton de Bohr (µB = 9,27 x 10 -24 J/T).<br />

ef


uur<br />

Se além <strong>do</strong>s campos estáticos ( H ef ), estiver superposto um campo magnético<br />

oscilante no tempo (h(t)) de alta freqüência ( ~ GHz) e com magnitude muito inferior a<br />

<strong>do</strong> campo estático, esta radiação eletromagnética (h(t)) pode ser absorvida pela amostra.<br />

Ilustramos, na Figura 10, como ocorrer a precessão da magnetização, quan<strong>do</strong> os campos<br />

estático e oscilante estão presentes na amostra.<br />

Figura 10 - Precessão da magnetização da amostra devi<strong>do</strong> a ação <strong>do</strong> campo magnético externo<br />

Hext e <strong>do</strong> campo oscilante ( t)<br />

h .<br />

Para simplificar a descrição <strong>do</strong> processo de ressonância, vamos supor que<br />

h ef ef ef<br />

∧<br />

( t)<br />


Com S=½, teremos preferencialmente transições entre os níveis ±½ não<br />

degenera<strong>do</strong>s pela ação <strong>do</strong> campo efetivo. Por outro la<strong>do</strong>, a ressonância ocorrerá quan<strong>do</strong><br />

a radiação eletromagnética incidente (Ef) possuir energia igual à separação ∆E entre os<br />

subníveis adjacentes da amostra investigada (vide Figura 11). Estatisticamente falan<strong>do</strong>,<br />

a maior fração de spins está na direção <strong>do</strong> campo aplica<strong>do</strong> (efetivo), pois essa é a<br />

configuração de menor energia magnética <strong>do</strong> sistema. Entretanto, quan<strong>do</strong> a radiação de<br />

microondas incide ressonantemente (energia <strong>do</strong> fóton igual a da lacuna entre os esta<strong>do</strong>s<br />

de spins ±½) sobre o material, podemos pensar classicamente que os spins <strong>do</strong> material,<br />

no esta<strong>do</strong> de menor de energia, absorvem esta radiação. Consequentemente modificam<br />

sua freqüência de rotação e portanto são excita<strong>do</strong>s para o esta<strong>do</strong> de maior energia, que é<br />

contrário ao campo aplica<strong>do</strong>. Dessa forma, em tempo posterior a magnetização <strong>do</strong><br />

sistema busca novamente o equilíbrio, liberan<strong>do</strong> a energia através da interação com a<br />

rede cristalino (spin-rede) e/ou com os demais spins <strong>do</strong> cristal (spin-spin), o que produz<br />

relevantes informações sobre as propriedades <strong>do</strong> material estuda<strong>do</strong>.<br />

f<br />

B<br />

ef<br />

59<br />

E = h ω = ∆E<br />

= gµ<br />

H<br />

(3.3)<br />

Em resumo, para que a ressonância atômica ocorra devemos satisfazer a<br />

condição de energia (3.3), ou seja, ou variamos a freqüência da radiação incidente para<br />

um valor fixo de campo estático ou fixamos a freqüência da microonda e variamos a<br />

intensidade <strong>do</strong> campo magnético aplica<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> a alcançar a ressonância. O segun<strong>do</strong><br />

méto<strong>do</strong> é o mais usual, pois cada cavidade ressonante tem uma microonda bem definida<br />

e portanto a variação da corrente (campo) no eletroímã é mais fácil de se realizar e a<br />

ressonância ser alcançada.


Figura 11 - Diagrama mostran<strong>do</strong> os subníveis de energia em um sistema de spin ½(não<br />

degenera<strong>do</strong>s pelo efeito Zeeman). Ef representa a energia <strong>do</strong> fóton incidente necessária para<br />

que haja ressonância.<br />

B) Aspectos relevantes da Ressonância ferromagnética em filmes finos magnéticos.<br />

Em sistemas magnéticos, os spins estão acopla<strong>do</strong>s por uma interação de troca<br />

direta ou indireta. Com isso, excitações <strong>do</strong> sistema de spins correspondem às precessões<br />

em torno das posições de equilíbrios. Para sistemas ferromagnéticos podem ocorrer <strong>do</strong>is<br />

tipos de mo<strong>do</strong>s, conheci<strong>do</strong>s como mo<strong>do</strong>s acústico e óptico. Tais mo<strong>do</strong>s aparecem nos<br />

ferromagnetos, quan<strong>do</strong> seus spins precessionam em fase e fora de fase, dependen<strong>do</strong> da<br />

configuração a<strong>do</strong>tada, isto é, se a radiação eletromagnética incide perpendicular ou<br />

paralelo ao campo externo estático. Na Figura 12 apresentamos as configurações <strong>do</strong>s<br />

mo<strong>do</strong>s óptico e acústico para a radiação incidente transversalmente e longitudinalmente<br />

ao campo estático. Para ambos os casos, damos o nome de mo<strong>do</strong> uniforme a excitação<br />

de menor energia <strong>do</strong>s spins <strong>do</strong> sistema.<br />

60


Figura 12 - Representação esquemática para os mo<strong>do</strong>s acústico e óptico <strong>nas</strong> configurações<br />

transversal e longitudinal [47].<br />

Para estudarmos o processo de ressonância em filmes temos que supor que estes<br />

são sóli<strong>do</strong>s planares (plano XY), com uma anisotropia na direção unitária ˆ K (plano<br />

XZ) que, por sua vez, forma um ângulo α com o eixo z (Figura 13). Os ângulos θH e ψ<br />

definem a orientação <strong>do</strong> campo magnético (<br />

H r<br />

ext<br />

61<br />

), nos planos YZ e XY,<br />

respectivamente. Os ângulos θ e φ definem a orientação da magnetização M , nos<br />

mesmos planos <strong>do</strong> campo estático. Assim, consideramos basicamente três contribuições<br />

para a energia magnética <strong>do</strong> filme; a Zeeman, a de anisotropia e a de demagnetização.<br />

Particularmente a energia anisotrópica tem várias contribuições, tais como (i) a<br />

magnetocristalina; (ii) a de forma da amostra;(iii) a de volume e de superfície no caso<br />

de materiais nanoscópicos, (iv) a uniaxial, entre outras; mas vamos considerá-la como<br />

sen<strong>do</strong> uma anisotropia K ur (vide Figura 13).


Portanto, ao considerarmos que o filme está no esta<strong>do</strong> de magnetização saturada,<br />

podemos escrever a energia livre magnética total de uma camada magnética como sen<strong>do</strong><br />

[49 e 50]:<br />

E = k sen θ<br />

1<br />

α + sen αsen φ − sen θ sen α<br />

2<br />

φ<br />

−M ⋅ H[cos cos + sen sen cos( − )] − 2 M sen<br />

2 2 2<br />

[ (cos2 ) 2 2 cos ]<br />

2 2<br />

θ θH θ θH φ ψ π θ<br />

62<br />

(3.4)<br />

O primeiro termo da equação (3.4) corresponde à energia de anisotropia, onde a<br />

constante k é a constante de anisotropia por unidade de volume. O segun<strong>do</strong> termo é a<br />

energia Zeeman, enquanto o último termo é devi<strong>do</strong> ao campo de demagnetização [49 e<br />

50]. Assim, ao medirmos os campos de ressonâncias (HR) de um magneto, estamos,<br />

indiretamente, obten<strong>do</strong> informações sobre as contribuições acima descritas. Por um<br />

la<strong>do</strong>, podemos determinar suas anisotropias, através da varredura no plano e fora <strong>do</strong><br />

plano da amostra. Por outro la<strong>do</strong>, por exemplo em tricamadas [51], podemos obter<br />

informações <strong>do</strong> tipo acoplamento magnético de camadas FM adjacentes e/ou em caso de<br />

um espaça<strong>do</strong>r AFM, podemos ainda estudar o efeito de exchange bias [48]. Para<br />

exemplificar, mostramos na Figura 14 curvas HR (campo de ressonância) em função <strong>do</strong><br />

ângulo (de ressonância) entre o campo estático e o eixo de fácil magnetização <strong>do</strong> filme<br />

NiFe/FeMn/NiFe [48], para uma varredura no plano. O autor atribui as duas<br />

componentes observadas <strong>nas</strong> medidas de FMR sen<strong>do</strong> devidas as camadas de NiFe<br />

inferior (I) e superior (S), e que estão magneticamente acopladas com a camada de<br />

FeMn, via efeito de exchange bias [48].


Figura 13 - Magnetização M , campo magnético H e anisotropia uniaxial k representa<strong>do</strong>s<br />

em um sistema de coordenadas onde o filme encontra-se no plano XY [48].<br />

Figura 14 - Curva característica de uma varredura angular no plano para uma tricamada de<br />

NiFe/FeMn/NiFe, onde I e S representam as camadas inferior e superior de NiFe<br />

respectivamente [48].<br />

63


A varredura angular fora <strong>do</strong> plano nos permite também obter informações sobre<br />

acoplamentos magnéticos existentes em filmes finos. Novamente para exemplificar,<br />

apresentamos na Figura 15 resulta<strong>do</strong>s da varredura angular fora <strong>do</strong> plano para uma<br />

tricamada de NiFe/FeMn/NiFe [48]. O autor justifica que as camadas estão acopladas,<br />

pois os mo<strong>do</strong>s uniformes ficam superpostos durante toda varredura [48]. Se as camadas<br />

FM estivessem “desacopladas” magneticamente, deveríamos esperar que estas duas<br />

componentes se interceptassem, pelo menos, uma única vez à medida que começa a<br />

varredura fora <strong>do</strong> plano (aumento <strong>do</strong> ângulo de varredura), já que as camadas<br />

individuais estão “liberdades” e não necessariamente possuem a mesma anisotropia<br />

magnética.<br />

Ângulo (graus)<br />

Figura 15 - Curva característica de uma varredura angular fora <strong>do</strong> plano para uma tricamada<br />

de NiFe/FeMn/NiFe, onde I e S representam as camadas inferior e superior de NiFe<br />

respectivamente [48].<br />

Em resumo, através de medidas de FMR em função da orientação <strong>do</strong> campo<br />

uuuuur<br />

magnético aplica<strong>do</strong> ( H ) no plano ou fora <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> filme, podemos estimar as<br />

ext<br />

anisotropias planar e perpendicular (as anisotropia não foram investigadas nesta<br />

64


dissertação), além de obtermos informações a respeito <strong>do</strong> acoplamento de camadas FM<br />

separadas por uma outra camada AFM, formação de uma nova fase na interface, etc.<br />

Neste trabalho, utilizamos o espectrômetro modelo ESP300C, marca Bruker em banda-<br />

X (9,59 GHz) e banda-Q (34 GHz) <strong>do</strong> Instituto de Física da Universidade Federal de<br />

Goiás, coordena<strong>do</strong> pelo Prof. Fernan<strong>do</strong> Pelegrini. Usamos um valor máximo de campo<br />

de 20 kOe. No experimento, fizemos medidas com a direção <strong>do</strong> campo estático paralelo<br />

ao plano da amostra (giramos, relativo à direção <strong>do</strong> campo aplica<strong>do</strong>, a amostra no seu<br />

plano) e perpendicular ao plano da amostra (giramos, relativo à direção <strong>do</strong> campo<br />

aplica<strong>do</strong>, a amostra para fora <strong>do</strong> plano).<br />

3.2.3.3 Dicroísmo Circular Magnético por Absorção de Raios-X (XMCD)<br />

Dicroísmo circular magnético por absorção de raios-X (XMCD = X-ray<br />

Magnetic Circular Dichroism) é uma poderosa ferramenta de caracterização magnética<br />

de materiais magneticamente ordena<strong>do</strong>s. Esta técnica consiste em medir a diferença<br />

entre espectros de absorções (para uma luz polarizada à esquerda e à direita<br />

respectivamente) quan<strong>do</strong> a amostra está submetida a um campo magnético externo com<br />

direção ao longo da propagação <strong>do</strong> feixe de luz. [52]. A técnica XMCD é elemento<br />

seletivo, pois a posição da borda L de energia varia fortemente com o número atômico.<br />

No caso deste trabalho, temos basicamente elementos 3d, ou seja, o Fe, cuja a faixa de<br />

energia de absorção L está entre 708,1 eV (L3) e 721,1 eV (L2), e o Mn que está entre<br />

640,3 eV (L3) e 651,4 eV (L2). Particularmente, as propriedades magnéticas <strong>do</strong>s metais<br />

de transição (elementos 3d) são basicamente governadas pelos elétrons 3d (bandas não<br />

completas). Estamos, portanto interessa<strong>do</strong>s em excitar os elétrons <strong>do</strong> orbital 2p (2p3/2 e<br />

65


2p1/2) para a banda 3d e medir os sinais de absorção, quan<strong>do</strong> incidimos luz polarizada à<br />

direita e à esquerda (vide Figura 16) .<br />

Figura 16 - Transições <strong>do</strong>s níveis 2p para os buracos vazios <strong>do</strong> nível 3d <strong>do</strong>s metais de<br />

transição, as bolas azuis representam os elétrons com spin up e as verdes com spin <strong>do</strong>wn [53].<br />

Em resumo, para o caso <strong>do</strong>s metais de transição 3d, usamos as bordas de<br />

absorção L2 e L3 <strong>do</strong>s metais para gerar os sinais de dicroísmo. Obtemos este sinal de<br />

dicroísmo através das diferentes excitações <strong>do</strong>s elétrons <strong>do</strong>s sub-níveis 2p1/2 e 2p3/2 para<br />

a banda de condução 3d, ou seja, indiretamente medimos a diferença entre o número de<br />

elétrons com spins-up e spin-<strong>do</strong>wn, que podem ser excita<strong>do</strong>s para a banda 3d. No fun<strong>do</strong>,<br />

o que medimos são os buracos da camada 3d, que estão associa<strong>do</strong>s com o magnetismo<br />

<strong>do</strong> material. Todavia, nestas energias (em ultra-alto vácuo) a profundidade de<br />

observação (excitação eletrônica) é baixa (da ordem de deze<strong>nas</strong> de nanômetros), o que<br />

propicia à aplicação desta técnica a análise de superfície. Apresentamos na Figura 17 os<br />

66


espectros de absorção (luz polarizada à direita (preta) e à esquerda (vermelha) e o sinal<br />

de dicroísmo (azul)) de um filme fino de Fe [48].<br />

Figura 17 - Espectro de Absorção e dicroísmo (azul) para uma amostra de Fe[48].<br />

Realizamos as medidas de XMDC na linha D08A-SGM <strong>do</strong> Laboratório<br />

Nacional de Luz Síncrotron (LNLS–Campi<strong>nas</strong>). Posicionamos as amostras em uma<br />

câmara de ultra-alto vácuo com pressão de base na ordem de 10 -8 Torr. Medimos cada<br />

amostra com seus planos fazen<strong>do</strong> ângulos de 30º, 45º e 90º com relação à direção <strong>do</strong><br />

feixe de luz. Essas medidas em função <strong>do</strong> ângulo nos fornecem a direção de<br />

magnetização das camadas magnéticas analisadas. Selecionamos uma dada polarização<br />

(circular à esquerda ou à direita) e submetemos a amostra a um campo magnético<br />

externo de 2 kOe produzi<strong>do</strong>, por um imã permanente, com sua direção paralela à<br />

direção de propagação <strong>do</strong> feixe de raios-X. Obtivemos os resulta<strong>do</strong>s de XMDC da<br />

subtração de <strong>do</strong>is espectros de absorção adquiri<strong>do</strong>s com magnetização oposta a direção<br />

<strong>do</strong> feixe (giramos o imã permanente em 180º). Este procedimento (manter a polarização<br />

67


da linha fixa e girar o imã permanente) é equivalente a mudar a polarização <strong>do</strong> feixe e<br />

manter o imã permanente fixo. Para melhor captarmos os elétrons emiti<strong>do</strong>s (méto<strong>do</strong> de<br />

corrente de elétrons), camadas fi<strong>nas</strong> <strong>do</strong> material foram removidas por intermédio de um<br />

processo de corrosão iônica (ion sputtering) realiza<strong>do</strong> in situ, com íons de 1 keV<br />

(corrente de íons da grandeza de 10 µA) e ângulo de incidência de 25 o<br />

, em relação a<br />

normal <strong>do</strong> filme.<br />

68


Capítulo 4<br />

Análise <strong>do</strong>s Resulta<strong>do</strong>s<br />

Passamani e cols. [14] mostraram que no sistema Fe/Mn/Fe a interface superior<br />

(Fe sobre Mn = Fe/Mn) é mais rugosa <strong>do</strong> que a interface inferior (Mn sobre Fe =<br />

Mn/Fe). Ainda neste sistema, Yan e cols. [10] encontraram acoplamentos<br />

ferromagnéticos, antiferromagnéticos e não-colineares em um whisker de<br />

Fe(5nm)/Mn(0-4nm)/Fe(5nm). Basean<strong>do</strong>-se nestes artigos, escolhemos investigar o<br />

efeito da rugosidade sobre o ângulo de acoplamento das camadas de Fe, quan<strong>do</strong><br />

separadas por uma camada ccc (δ-Mn) com espessura fixa.<br />

4.1 Resulta<strong>do</strong>s de RHEED<br />

Acompanhamos, com medidas in-situ de RHEED, o crescimento epitaxial das<br />

camadas individuais de Fe e Mn durante o processo de deposição das tricamadas (Tr-<br />

Fe/Mn/Fe). Vale dizer novamente que Passamani e cols. [14] mostraram que <strong>nas</strong><br />

amostras <strong>do</strong> tipo MgO/Fe(5nm)/Mn(xnm)/Fe(5nm)/Si(5nm) (x = 0,5 – 3,0 nm) a<br />

estrutura ccc-Mn (δ-Mn) é estabilizada para uma espessura máxima de Mn de 1 nm,<br />

independentemente da temperatura <strong>do</strong> substrato (TS).<br />

Apresentaremos abaixo os padrões RHEED, para exemplificar o que acontece<br />

em geral com o crescimento epitaxial das camadas de Fe e Mn, mostran<strong>do</strong>, por<br />

exemplo, o processo de transição de fase cristalina de δ- (ccc) para α-Mn (cúbica com<br />

58 átomos); que ocorre na camada de Mn durante o seu crescimento.<br />

O padrão RHEED, após o crescimento de 5 nm de Fe sobre o MgO, consiste de<br />

raias intensas (streaks), que correspondem a um crescimento epitaxial da camada <strong>do</strong> Fe<br />

sobre o substrato MgO [100]. Ainda conforme reporta<strong>do</strong> na literatura, essas raias<br />

69


indicam que a camada de Fe possui estrutura ccc (α-Fe) e que existe uma tensão residual<br />

(deformação) de aproximadamente -3,7 % [30]. Por outro la<strong>do</strong>, os padrões RHEED da<br />

camada de Mn dependem da sua espessura (tMn). Para tMn ≤ 0,5 nm, eles indicam que a<br />

camada de Mn cresce epitaxialmente sobre a primeira camada de Fe, com parâmetro de<br />

rede, no plano, similar ao da camada de Fe. Além disso, notamos que a largura das raias<br />

aumenta, significan<strong>do</strong> que a camada de Mn deve possuir uma distribuição de<br />

parâmetros de rede (compare as Figuras 18 (a) e (b)). Com o aumento da tMn, a largura<br />

das raias continua aumentan<strong>do</strong> e sua intensidade relativa diminuin<strong>do</strong>, refletin<strong>do</strong><br />

aumentos na tensão residual e na rugosidade superficial, respectivamente. Para tMn =<br />

1nm, a largura é 6% maior que para 0,5 nm (estima<strong>do</strong> pelo pico RHEED da posição<br />

270 no eixo x). Ainda em tMn = 1nm, vemos visivelmente uma raia adicional no padrão<br />

RHEED (veja a seta na Figura 18 (c)). Por outro la<strong>do</strong>, para tMn > 1 nm (outras amostras<br />

não mostradas) esta raias e outras com menor separação aparecem menos difusas,<br />

consequentemente mais claras <strong>nas</strong> figuras de RHEED. Isto indica que a estrutura<br />

correspondente da camada de Mn com tMn > 1 nm possui um parâmetro de rede maior<br />

<strong>do</strong> que aquele <strong>do</strong>s padrões obti<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> tMn < 1nm. Este novo conjunto de raias, que<br />

<strong>do</strong>mina os padrões e figuras de RHEED para tMn> 1, é característico da fase α-Mn [54 e<br />

55]. Portanto, observamos que <strong>nas</strong> tricamadas <strong>do</strong> tipo MgO/Fe/Mn/Fe, a fase ccc-Mn<br />

(δ-Mn) é estabilizada até espessura máxima de 1nm similarmente ao observa<strong>do</strong> por<br />

Passamani e cols. [14]. Além disso, o aparecimento de novas raias (Figura 18 (b) e (c))<br />

indica nova estrutura, consequentemente sugere que a superfície da camada de Mn<br />

começa a ter estrutura <strong>do</strong> tipo α-Mn. Este processo de transição de fase está relaciona<strong>do</strong><br />

com o aumento da tensão interna com o aumento da sua espessura da fase δ-Mn. De<br />

fato, já esperamos que as tensões inter<strong>nas</strong> venham <strong>do</strong> crescimento epitaxial da camada<br />

de Fe de 5,0 nm crescida sobre o MgO. A comprovação desta argumentação é realizada<br />

70


com o crescimento epitaxial da camada de Mn com espessuras de até 2,5 nm, quan<strong>do</strong><br />

depositada sobre MgO/Fe(20nm) (Figura 19). Portanto, nossa observação sugere que a<br />

espessura crítica para a fase δ-Mn é fortemente dependente <strong>do</strong> grau de rugosidade e/ou<br />

tensão interna da camada de Mn que está sen<strong>do</strong> crescida, ou seja, se a camada de Fe<br />

estiver sob tensão interna (~ 5,0 nm), esta tensão será transmitida para a camada de Mn<br />

que também é crescida epitaxialmente fazen<strong>do</strong> com que o sistema busque um esta<strong>do</strong> de<br />

menor energia estrutural (relaxação estrutural), ou seja, busque a fase de menor energia<br />

<strong>do</strong> Mn, que é a fase α-Mn.<br />

A segunda camada de Fe também cresce epitaxialmente sobre a camada de δ-<br />

Mn, quan<strong>do</strong> tMn ≤ 1 nm. Para o caso da camada inferior de Fe ter 5,0 nm de espessura<br />

(amostra A1), os padrões de RHEED da primeira monocamada de Fe depositada sobre a<br />

camada de Mn (segunda camada de Fe) possuem as mesmas características que os<br />

padrões de RHEED para tMn = 1 nm (Figura 18 (d)). Somente após 1,5 nm de Fe<br />

( 57 Fe(1nm) + nat Fe(0,5nm)), observamos exclusivamente as raias da fase α-Fe. Notamos<br />

também que as raias (Figura 18 (e)) estão ligeiramente deslocadas relativa àquelas<br />

mostradas na Figura 18 (f). Isto é um indicativo que a camada superior de Fe está<br />

relaxada estruturalmente. Além disso, a intensidade das raias fica mais forte e menos<br />

difusa com o aumento da espessura de Fe. Finalmente, o padrão e figura de RHEED da<br />

camada de Si (não mostra<strong>do</strong>s aqui) não são constituí<strong>do</strong>s de raias, mas por um halo<br />

difuso, que confirma a natureza amorfa da camada de Si depositada como cobertura de<br />

proteção contra oxidação <strong>do</strong>s filmes.<br />

71


Figura 18 - Padrões de RHEED da MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si, (amostra A1) toma<strong>do</strong>s<br />

para diferentes espessuras das camadas de Fe e Mn, conforme indica<strong>do</strong> pelas letras (a-f). Do<br />

la<strong>do</strong> direito de cada padrão encontramos as figuras de RHEED obtidas pela câmera digital.<br />

Obtivemos cada padrão através de uma varredura ao longo da figura de RHEED. A linha<br />

vermelha marca a região onde foi feita à varredura para obter as figuras de RHEED.<br />

Figura 19 - Figuras de RHEED de um filme MgO/Fe(20nm)/Mn(2,5nm) prepara<strong>do</strong> a 175ºC.<br />

Em (a) 20 nm de Fe; (b) 1nm de Mn; (c) 1,5nm de Mn e (d) 2,5nm de Mn.<br />

72


4.2 Resulta<strong>do</strong>s de RBS<br />

Comparamos na Figura 20 os da<strong>do</strong>s RBS/channeling e RBS/ran<strong>do</strong>m da amostra<br />

A1. As setas, no interior desta figura, sugerem as posições, em energias, que deveríamos<br />

encontrar átomos de Fe e Si supon<strong>do</strong> uma incidência de partículas α com energia de<br />

1,57 MeV e com detector fixo na posição de 172 0 . A posição em energia <strong>do</strong>s átomos de<br />

Mn está próxima aos de Fe da camada superior. Numa leitura qualitativa <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da<br />

Figura 20 podemos sugerir que (i) há uma boa epitaxia fora plano para a amostra A1,<br />

uma vez que, na configuração channeling o feixe retro-espalha<strong>do</strong> tem sua intensidade<br />

reduzida em 62% compara<strong>do</strong> com aquela obtida com RBS/ran<strong>do</strong>m na mesma amostra;<br />

(ii) a segunda camada de Fe aparentemente tem o mesmo grau de epitaxia que a camada<br />

de Fe crescida sobre o MgO, já que as amplitudes de seus sinais são aproximadamente<br />

iguais (ampliação na Figura 20) e (iii) aparentemente a camada de Mn também tem o<br />

mesmo grau de epitaxia das camadas de Fe. Cabe frisar que observamos também esses<br />

efeitos para as demais tricamadas.<br />

Concluímos, a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s de RHEED e RBS, que as Tr-Fe/Mn/Fe<br />

deste trabalho possuem um bom grau de epitaxia no plano (RHEED) e fora (RBS) dele,<br />

o que garante sua qualidade.<br />

73


Figura 20 - Espectros de RBS/channeling e RBS/ran<strong>do</strong>m <strong>do</strong> filme MgO/Fe<br />

(5nm)/Mn(1nm)/Fe(1 nm)/a-Si(8nm) (amostra A1) preparada a 150°C. A figura inserida é uma<br />

ampliação da região de energia para mostrar as amplitudes <strong>do</strong>s sinais de RBS das camadas<br />

superior e inferior, como indicadas por setas.<br />

4.3 Resulta<strong>do</strong>s de CEMS<br />

Mostramos na Figura 21 os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s espectros Mössbauer de emissão<br />

(CEMS) obti<strong>do</strong>s à temperatura ambiente para a bicamada MgO/Fe/Mn/Si e as<br />

tricamadas MgO/Fe/Mn/Fe preparadas à diferentes Ts, mas com a mesma espessura de<br />

Mn de 0,5 nm (tais filmes foram prepara<strong>do</strong>s e estuda<strong>do</strong>s por Passamani e cols. [14]).<br />

Vemos da Figura 21 que os espectros são to<strong>do</strong>s compostos por seis linhas de emissão<br />

(sexteto), sugerin<strong>do</strong> que os átomos de Fe estão sujeitos a uma interação Zeeman<br />

nuclear. As larguras de linha <strong>do</strong>s espectros não estão estreitas quanto àquelas de um<br />

filme de Fe puro, com a mesma espessura (amostra de calibração). De fato, as larguras<br />

de linha de emissão <strong>do</strong>s espectros CEMS são relativamente alargadas, sugerin<strong>do</strong> que os<br />

átomos de Fe encontram-se submeti<strong>do</strong>s a uma distribuição de campos magnéticos<br />

74


hiperfinos. Assim, realizamos os ajustes destes espectros com duas componentes<br />

magnéticas. A primeira é um sexteto (sub-espectro vermelho) com parâmetros<br />

hiperfinos similares ao da fase α-Fe [IS = 0,01(2)mm/s e Bhf = 33T], enquanto a<br />

segunda componente consiste de uma distribuição de campos magnéticos hiperfinos<br />

(DCMH), devi<strong>do</strong> a presenças de átomos Mn próximos ao de Fe e/ou devi<strong>do</strong> ao número<br />

reduzi<strong>do</strong> da coordenação <strong>do</strong>s átomos de Fe (sub-espectro azul). As curvas de DCMH<br />

(mostradas no la<strong>do</strong> direito <strong>do</strong>s espetros da Figura 21) possuem em comum um pico<br />

principal em torno de 31 T, e outros valores menores de campos magnéticos hiperfinos<br />

(Bhf), com picos (valores discretos) em torno de 8, 16 e 24 T. As contribuições das<br />

componentes acima mencionadas são mais evidentes na curva de distribuição de DCMH<br />

da tricamada preparada a 150 ºC. Entretanto, para entendermos estes valores de Bhf e ao<br />

mesmo tempo a fração relativa à distribuição de DCMH tomaremos os resulta<strong>do</strong>s da<br />

bicamada e da tricamada preparadas a 50ºC. É importante enfatizar que a componente<br />

de distribuição também está presente na bicamada crescida à 50ºC, mostran<strong>do</strong> que a<br />

redução <strong>do</strong> Bhf é devida aos átomos de Mn. De fato, Wu e Freeman [56] reportaram que<br />

átomos de Fe na interface exibem uma redução em seus momentos magnéticos devida à<br />

influência <strong>do</strong>s átomos de Mn na vizinhança <strong>do</strong> Fe. Esta redução nos momentos<br />

magnéticos <strong>do</strong> Fe resulta em uma diminuição nos valores de campo magnético hiperfino<br />

efetivo (<br />

ef<br />

B hf<br />

57<br />

) nos sítios <strong>do</strong>s átomos de Fe, os quais, em princípio, podem ser descritos<br />

como uma soma de <strong>do</strong>is principais termos:<br />

core CEP<br />

hf hf<br />

75<br />

B + B . A primeira contribuição ( B )<br />

é devida principalmente aos momentos magnéticos <strong>do</strong> Fe, enquanto a segunda ( B )<br />

leva em consideração a polarização <strong>do</strong>s elétrons de condução (CEP) devi<strong>do</strong> à presença<br />

de átomos de Mn e/ou ao número reduzi<strong>do</strong> de átomos de Fe na interface. Assim, para<br />

uma interface plana (flat) poderíamos esperar que um espectro CEMS pudesse ser<br />

basicamente composto por (i) uma interface ideal de 57 Fe/Mn e (ii) contribuição de Fe<br />

core<br />

hf<br />

CEP<br />

hf


ulk (camadas de Fe fora da interface). Para uma interface rugosa, entretanto, existem<br />

varias configurações não equivalentes para os átomos de 57 Fe, tais como aquelas<br />

oriundas quan<strong>do</strong> estes átomos estiverem <strong>nas</strong> qui<strong>nas</strong>, nos degraus, <strong>nas</strong> bordas e <strong>nas</strong><br />

regiões pla<strong>nas</strong> além <strong>do</strong>s átomos distantes das interfaces, resultan<strong>do</strong> portanto em uma<br />

vasta faixa de valores de<br />

76<br />

ef<br />

B hf devida à variação <strong>do</strong> efeito <strong>do</strong>s elétrons de condução<br />

(CEP). Existe também a possibilidade de formação de uma liga propriamente dita entre<br />

os átomos localiza<strong>do</strong>s na interface, resultan<strong>do</strong> em uma distribuição (magnética ou<br />

elétrica) ao invés de sítios de Fe bem defini<strong>do</strong>s. A distinção entre as possibilidades A<br />

(rugosidade, degraus, etc) da B (liga) é relativamente difícil de ser separada via<br />

Mössbauer em espectros tão largos, entretanto os deslocamentos isoméricos (δ ~0,0<br />

mm/s em relação ao α-Fe à temperatura ambiente) da distribuição são próximos ao <strong>do</strong> α-<br />

Fe, sugerin<strong>do</strong> que não há formação de uma liga Fe/Mn <strong>nas</strong> fases conhecidas [57].<br />

Figura 21 - Espectros CEMS obti<strong>do</strong>s à temperatura ambiente para bicamada em (D) e<br />

tricamadas em (A), (B), e (C) preparadas a 50ºC, 100ºC e 150ºC. Os pontos são da<strong>do</strong>s


experimentais, enquanto as linhas correspondem aos sub-espectros e ao ajuste total. No centro<br />

desta figura as curvas de distribuição de Bhf, enquanto no la<strong>do</strong> direito um esquema <strong>do</strong>s filmes<br />

[14].<br />

No trabalho publica<strong>do</strong>, Passamani e cols. [14] mostraram que a bicamada<br />

MgO/Fe(5nm)/Mn(0,5nm)/Si e a tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(0,5nm)/Fe(5nm)/Si<br />

preparadas a 50ºC possuem interfaces (inferior (Mn/Fe) e superior (Fe/Mn)) não<br />

equivalentes, conforme já menciona<strong>do</strong>. Para isso, foi assumi<strong>do</strong>, que to<strong>do</strong> nat Fe (4 nm em<br />

cada camada de Fe) estivesse na fase α-Fe, e a partir pela área <strong>do</strong> sexteto (α-Fe), foi<br />

estima<strong>do</strong> em 0,39 nm a espessura da fase α-Fe na interface Fe/Mn da bicamada,<br />

enquanto na tricamada o valor foi de 0,28 nm (0,56/2 nm). Assim, os autores<br />

concluíram que ambas as interfaces [Mn/Fe (inferior) e Fe/Mn (superior)] não são<br />

equivalentes um em relação ao outro. Além disso, eles sugerem que a interface inferior<br />

é menos rugosa em escala atômica, aparentemente consistente com os resulta<strong>do</strong>s de<br />

RHEED e/ou apresentam menor interdifusão <strong>do</strong> que a camada superior. Esta diferença<br />

entre as interfaces inferior e superior é também similar às observações feitas em<br />

multicamadas de Fe/Cr [58, 59, 62 e 61], de Fe/V [62] e outros sistemas [63]. Neste<br />

trabalho esquematizamos, na Figura 22, como seria a rugosidade <strong>nas</strong> interfaces superior<br />

e inferior para a bicamada e tricamadas preparadas a 50 ºC. Os valores de Bhf ~ 8 T e 20<br />

T podem estar sugerin<strong>do</strong> um grande número de vizinhos de Mn (centro da camada de<br />

Mn), enquanto 31 T seriam devi<strong>do</strong> aos átomos de Fe com vizinhos de Mn <strong>nas</strong><br />

interfaces. O sexteto está relaciona<strong>do</strong> com os átomos de Fe (verdes e azuis) ten<strong>do</strong><br />

somente Fe como primeiros, segun<strong>do</strong>s, terceiros, vizinhos.<br />

77


Figura 22 - Esquematização da distribuição <strong>do</strong>s átomos de Fe e Mn <strong>nas</strong> tricamadas e bicamada<br />

de Fe/Mn. A faixa verde, acima das bolinhas, representa a camada Si amorfa.<br />

Na Figura 23 temos o espectro de CEMS, à temperatura ambiente, da amostra<br />

A1. Este espectro é semelhante (exceto pela fração de átomos de Fe afeta<strong>do</strong>s na<br />

interface) aos das tricamadas reportadas por Passamani e cols. [14] (Figura 21),<br />

conseqüentemente a explicação física das componentes magnéticas deste espectro é<br />

semelhante àquela dada anteriormente, ou seja, o sexteto devi<strong>do</strong> aos átomos de Fe com<br />

átomos de Fe como primeiros, segun<strong>do</strong>s, terceiros, etc. vizinhos, enquanto a DCMH é<br />

devi<strong>do</strong> aos átomos de Fe com átomos de Mn como primeiros, segun<strong>do</strong>s, terceiros,<br />

quartos, etc. vizinhos (Figura 22) e localiza<strong>do</strong>s nos degraus, qui<strong>nas</strong> etc das rugosidades<br />

da camada. Todavia, além das duas componentes magnéticas, particularmente este<br />

espectro, possui uma outra componente quadrupolar (dubleto), com IS = -0,21 mm/s<br />

(relativo ao α-Fe) e des<strong>do</strong>bramento quadrupolar DQ = 0,47 mm/s. Esta nova<br />

componente é atribuída a formação de uma liga de FeMn, ocasionada pelo aparecimento<br />

da fase α-Mn (Figura 18(c) e (d)). Um fato que merece ser coloca<strong>do</strong> é que este dubleto<br />

apareceu em todas as amostras que apresentaram no RHEED a transição de fase<br />

cristalina <strong>do</strong> δ-Mn para o α-Mn (amostras não estudadas neste trabalho).<br />

Na Figura 24 mostramos o espectro CEMS, à temperatura ambiente, para a<br />

amostra A3. Similar aos espectros das outras tricamadas, inclusive ao da amostra A1,<br />

este espectro também apresenta as seis linhas de emissão ressonante e é analisa<strong>do</strong> com<br />

78


os mesmos <strong>do</strong>is subespectros magnéticos (sexteto e DCMH). A DCMH nos fornece a<br />

fração de átomos afeta<strong>do</strong>s por efeitos da interface. Logo, a área de DCMH nos dá<br />

informações a respeito da rugosidade interfaciais de nossas amostras. Nas amostras A1 e<br />

A3 estas áreas equivalem a 83% e 60% da área total <strong>do</strong> espectro Mössbauer,<br />

respectivamente. Em primeira aproximação, consideramos que os 2 nm de 57 Fe das<br />

interfaces representam 100% da área total <strong>do</strong> espectro Mössbauer. Assim, para as<br />

amostras A1 e A3 as espessuras das camadas de Fe afetadas por efeitos de interfaces<br />

correspondem a 1,66 nm e 1,20 nm, respectivamente. Com isso, concluímos que as<br />

interfaces da amostra A1(preparada a 150ºC) são mais rugosas <strong>do</strong> que àquelas da<br />

amostra A3 (preparada a 50ºC). Aparentemente, este efeito é similar ao obti<strong>do</strong> para as<br />

tricamadas preparadas a diferentes temperaturas para o substrato (Figura 21 e discussão<br />

na Ref. [14]). <strong>Não</strong> obtivemos, o espectro Mössbauer para a amostra A2 devi<strong>do</strong> terem<br />

ocorri<strong>do</strong> problemas técnicos no espectrômetro CEMS <strong>do</strong> LEMAG/<strong>UFES</strong>.<br />

79


Figura 23 - Em (a) espectro de CEMS, obti<strong>do</strong> à temperatura ambiente, para a tricamada<br />

MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 150 o C (Amostra A1). Em (b) a curva de<br />

distribuição de campos magnéticos hiperfinos para a Amostra A1.<br />

80


Figura 24 -Em (a) espectro CEMS obti<strong>do</strong> à temperatura ambiente para a tricamada<br />

MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) prepara<strong>do</strong> a 50 o C (Amostra A3). Em (b) a<br />

curvade distribuição de campos magnéticos hiperfinos para a Amostra A3.<br />

81


Finalmente, como discutimos no Capítulo 3, podemos obter a direção da<br />

magnetização das camadas de Fe com relação ao plano <strong>do</strong> filme. Assim, determinamos<br />

a orientação da magnetização usan<strong>do</strong> os valores calcula<strong>do</strong>s da razão entre as linhas de<br />

emissão <strong>do</strong>s espectros CEMS apresenta<strong>do</strong>s, já que a razão entre as linhas é dada por:<br />

3:x:1:1:x:3 com<br />

x sen θ θ<br />

2 2<br />

= 4 ( ) /[1 + cos ( )] , θ sen<strong>do</strong> o ângulo entre o raio γ incidente e<br />

a direção da magnetização. Em nossos filmes, as intensidades relativas das linhas, de<br />

ambos subespectros (bulk e interface), indicam que a magnetização das camadas de Fe,<br />

à temperatura ambiente, está praticamente no plano <strong>do</strong> filme, já que o valor médio de x<br />

~ 3,8 para ambas as componentes magnéticas (valor máximo 4,0). Este resulta<strong>do</strong> está de<br />

acor<strong>do</strong> com as medidas de XMCD que serão discutidas mais adiante.<br />

4.4 Resulta<strong>do</strong>s de XMCD<br />

Inicialmente, extraímos o sinal de dicroísmo das amostras A1 e A2, após usarmos<br />

os diversos passos sugeri<strong>do</strong>s na referência [48]. Depois usan<strong>do</strong> as regras de soma,<br />

calculamos os valores de<br />

eff<br />

ms e l<br />

m através das equações [64]:<br />

m<br />

m<br />

n (A − 2B)<br />

= −<br />

P ⋅cosθ ⋅A<br />

eff h<br />

s<br />

C<br />

l<br />

2n h(A+B)<br />

= −<br />

3P ⋅cosθ ⋅ A<br />

C<br />

iso<br />

iso<br />

82<br />

(4.1)<br />

Onde nh é o número de buracos na banda 3d, Pc é o grau de polarização <strong>do</strong> feixe de luz,<br />

θ é o ângulo entre o feixe e o plano da amostra, A e B são as áreas <strong>do</strong> sinal de dicroísmo<br />

referentes as bordas L3 e L2, respectivamente e A iso é a área isotrópica. Obtivemos o<br />

grau de polarização <strong>do</strong> feixe através de uma medida em filme padrão de Fe, e seu valor<br />

é aproximadamente 0,8 (detalhes da parte experimental pode ser encontra<strong>do</strong> em [48]).


Além disso, assumimos o valor de nh para a fase α-Fe (bulk) é de 3,43 [67].<br />

Exemplificamos, <strong>nas</strong> Figuras 25 e 26, alguns <strong>do</strong>s espectros de dicroísmo para as bordas<br />

<strong>do</strong> Fe e <strong>do</strong> Mn, respectivamente.<br />

Figura 25 - Espectro de XMCD da amostra MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si (amostra A1)<br />

na faixa de absorção <strong>do</strong> Fe com o feixe de radiação incidente a 45º <strong>do</strong> plano da amostra. Em<br />

verde e vermelho são as absorções para polarização a direita e a esquerda, enquanto em preto<br />

temos os sinal de dicroísmo.<br />

Intensidade (u.a)<br />

Mn<br />

θ = 45º<br />

Energia (eV)<br />

Figura 26 - Espectro de XMCD da tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)/Si (amostra A1)<br />

na faixa de absorção <strong>do</strong> Mn com o feixe de radiação incidente a 45º <strong>do</strong> plano da amostra.<br />

83


Apresentamos <strong>nas</strong> Tabelas 3 e 4 os resulta<strong>do</strong>s das medidas de XMCD das<br />

amostras A1 e A2, respectivamente.<br />

Tabela 3 – Valores calcula<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s momentos de spin (<br />

84<br />

eff<br />

ms f ) e orbital (ml ) <strong>do</strong>s átomos de Fe e<br />

de Mn na tricamada MgO/Fe(5 nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparadas a 150 ºC (amostra A1).<br />

Elemento Ângulo θ ( 0 ) eff<br />

m s (µB/átomo) ml (µB/átomo)<br />

Fe 90 0 0<br />

Fe 45 1,9 0,3<br />

Fe 30 2,1 0,2<br />

Mn 90 0 0<br />

Mn 45 0 0<br />

Mn 30 0 0<br />

Tabela 4 - Valores calcula<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s momentos de spin (<br />

eff<br />

ms f ) e orbital (ml ) <strong>do</strong>s átomos de Fe e<br />

de Mn na tricamada MgO/Fe(20 nm)/ Mn(1nm)/Fe(5nm) preparadas a 175 ºC (amostra A2).<br />

Elemento Ângulo θ ( 0 ) eff<br />

m s (µB/átomo) ml (µB/átomo)<br />

Fe 90 0 0<br />

Fe 45 2,1 0,3<br />

Fe 30 2,9 0,7<br />

Mn 90 0 0<br />

Mn 45 0 0<br />

Para as camadas de Fe (Tabelas 3 e 4), os resulta<strong>do</strong>s indicam que: (i) em ambas<br />

as amostras (A1 e A2), a magnetização está no plano <strong>do</strong> filme, uma vez que, os valores<br />

de<br />

eff<br />

m s aumentam quan<strong>do</strong> o valor <strong>do</strong> ângulo diminui; (ii) o momento magnético de spin<br />

é semelhante ao encontra<strong>do</strong> para um filme de Fe puro [48], inclusive o aumento de 2,9<br />

µB/átomo (amostra A2). O resulta<strong>do</strong> (i) é confirma<strong>do</strong> pelas medidas de Mössbauer<br />

discuti<strong>do</strong>s anteriormente. Finamente, devemos ressaltar a contribuição não nula para o<br />

momento orbital, já que esta contribuição é considerada apagada (nula) em metais 3d<br />

volumétricos (bulk) pela ação <strong>do</strong> campo cristalino. Entretanto, valores não nulos para a<br />

contribuição orbital têm si<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>s em filmes de metais 3d [48]. Para as camadas<br />

de Mn, observamos um sinal de dicroísmo nulo, sugerin<strong>do</strong> que a camada de Mn<br />

“sanduichadas” por camadas de Fe se encontra no esta<strong>do</strong> paramagnético ou<br />

antiferromagnético.


4.5 Resulta<strong>do</strong>s de VSM<br />

Investigamos as propriedades magnéticas de bulk das tricamadas Fe/Mn/Fe via<br />

medidas de magnetização em função <strong>do</strong> campo aplica<strong>do</strong> e da temperatura (10 – 300 K).<br />

Em to<strong>do</strong>s os casos, a intensidade <strong>do</strong> campo magnético aplica<strong>do</strong> satisfez a condição de<br />

saturação de magnetização das amostras. O campo externo teve sua direção ao longo <strong>do</strong><br />

eixo de fácil magnetização da fase de α-Fe, que é a direção [100] e que corresponde à<br />

direção [110] <strong>do</strong> substrato, conforme ilustra<strong>do</strong> na Figura 27.<br />

Figura 27 - Visão esquemática da direção <strong>do</strong> campo aplica<strong>do</strong> para as medidas de<br />

magnetização das tricamadas MgO/Fe/Mn/Fe.<br />

Mostramos na Figura 28 (a), (b) e (c) as curvas de magnetização das amostras<br />

A1, A2 e A3 para três temperaturas distintas. É notável a diferença entre estas curvas de<br />

M(H), se compararmos uma temperatura fixa (ex: 290K). Na Tabela 5, apresentamos os<br />

valores encontra<strong>do</strong>s para o campo coercivo (Hc) e a razão entre magnetização<br />

remanente (Mr) e a magnetização de saturação (Ms) para as amostras A1, A2 e A3.<br />

85


Figura 28 - Curvas de magnetização (M(H)) em diferentes temperaturas das tricamadas<br />

MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A1 ) em (a), MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si<br />

(amostra A2) em (b) e MgO/Ag(100nm)/Fe(105nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A3 ) em<br />

(c).Indicamos as respectivas temperaturas no canto inferior direito de cada curva.<br />

Tabela 5 - Valores de campo coercivo (Hc) e da razão entre as magnetizações<br />

remanente (Mr) e de saturação das tricamadas MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si<br />

(amostra A1), MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A2) e<br />

MgO/Ag(100nm)/Fe(105nm)/Mn(1nm)Fe(5nm)/Si (amostra A3).<br />

Amostra<br />

A1<br />

A2<br />

A3<br />

Temperatura<br />

(K)<br />

Campo<br />

Coercivo (Hc)<br />

(Oe)<br />

(Mr/Ms)<br />

(u.a)<br />

10 40 0,77<br />

140 50 0,74<br />

290 40 0,71<br />

10 60 0,46<br />

140 40 0,42<br />

290 60 0,41<br />

10 60 0,91<br />

140 40 0,78<br />

290 40 0,85<br />

86


As curvas de M(H) (Figura 28 (a), (b) e (c)) indicam que as camadas de Fe não<br />

estão acopladas puramente ferro (loop quadra<strong>do</strong>) ou antiferromagneticamente (loop com<br />

magnetização aumentan<strong>do</strong> lentamente com campo). Além disso, os valores de Mr/Ms<br />

sugerem que as camadas de Fe possuem acoplamentos não colineares,<br />

consequentemente similares àqueles reporta<strong>do</strong>s por Yan e cols. [27] para tricamadas<br />

Fe/Mn/Fe depositadas sobre uma camada buffer de Ag [10] e/ou por Pierce e cols. [11],<br />

para bicamadas de Fe/Mn crescidas sobre um substrato de cristal simples de Fe-ccc. O<br />

fato é que Yan e cols.[10] mostraram que o ângulo de acoplamento magnético entre as<br />

camadas de Fe varia com o aumento da espessura da camada de Mn (Figura 29).<br />

Figura 29 - Padrões de <strong>do</strong>mínios observa<strong>do</strong>s em um Whisker de Fe/Mn/Fe. As espessuras das<br />

camadas de Fe permanecem constantes enquanto espessura <strong>do</strong> Mn varia em: (a) 0,08 – 0,25<br />

nm;(b) 0,25 - 0,42 nm; (c) 0,38 – 0,55 nm (d) 0,5 – 0,67 nm; (e) 0,62 – 0,79nm; (f) 0,79 –<br />

0,96nm; (g)1,0 – 1,17 nm; (h) 1,13 – 1,3nm; ( i) 1,25 – 1,42 nm ; (j) 1,5 – 1,7 nm; ( k) 2,5 – 2,7<br />

nm e l) 0,55 – 0,63 nm. As setas sólidas e pontilhadas representam as magnetizações das<br />

camadas superior e inferir de Fe, respectivamente. De (a) a (k) as figuras têm a mesma escala e<br />

em (l) a imagem está em alta resolução [10].<br />

87


Portanto, preparamos nossas amostras com mesma espessura de Mn, mas em<br />

diferentes condições para simularmos distintos graus de rugosidade interfacial, de mo<strong>do</strong><br />

a mudar o ângulo de acoplamento das tricamadas. Para a modelagem das curvas de<br />

magnetização das amostras A1, A2 e A3, fizemos as seguintes considerações: (i) a<br />

magnetização <strong>do</strong> Fe está paralela ao plano <strong>do</strong> filme (confirmada por medidas de<br />

espectroscopia Mössbauer e XMCD), e os campos de demagnetização desprezíveis.<br />

Assumimos também que os spins de uma camada individual de Fe permanecem<br />

paralelos uns com os outros devi<strong>do</strong> a um forte acoplamento de troca (intramonolayer-<br />

exchange). No nosso caso, o plano das amostras é paralelo ao plano cristalográfico<br />

(001). Assim, levan<strong>do</strong> em consideração a energia de anisotropia cúbica <strong>do</strong> Fe, a energia<br />

Zeeman e a energia de acoplamento na forma da equação (1.4), a energia magnética<br />

total é escrita como [27]:<br />

E = E + E + E ,<br />

a h c<br />

Kt sen<br />

Ea<br />

=<br />

4<br />

sen<br />

E = −HMt(cos Φ + cos Φ ),<br />

h<br />

2 2<br />

[( 2 Φ 1) + ( 2 Φ2<br />

) ]<br />

,<br />

1 2<br />

E = C ( Φ − Φ ) + C ( π − Φ − Φ ) ,<br />

c<br />

2 2<br />

+ 1 2 −<br />

1 2<br />

88<br />

(4.2)<br />

Onde a E é a energia de anisotropia, h E é a energia Zeeman e E c é a energia de<br />

acoplamento sugerida por Slonczewski. Na equação (4.2) t, M, K e H são,<br />

respectivamente, as espessuras das camadas de Fe, a magnetização de saturação das<br />

camadas de Fe, a anisotropia cúbica de primeira ordem, e o campo externo aplica<strong>do</strong>.<br />

Φ 1 (ou 2<br />

Φ ) é o ângulo entre o vetor magnetização da primeira (ou segunda) camada de<br />

Fe e a direção <strong>do</strong> campo. Φ1 − Φ 2 = θ (0 ≤ θ ≤ π ) é o ângulo entre os <strong>do</strong>is vetores de<br />

magnetização das camadas de Fe à um da<strong>do</strong> campo externo (chama<strong>do</strong> de ângulo de<br />

acoplamento). Assim, simulamos a curva de magnetização teórica minimizan<strong>do</strong> a<br />

energia total da equação (4.2) em relação à θ em da<strong>do</strong> campo externo. Para isso,


utilizamos um programa, desenvolvi<strong>do</strong> pelo grupo <strong>do</strong> IKS-KULeuven, para simularmos<br />

as curvas de M(H) medidas. São necessários os seguintes parâmetros de entrada: (i) o<br />

intervalo de campo magnético, isto é, ± H (campos da varredura <strong>do</strong> loop), (ii) as<br />

espessuras das camadas Fe, (iii) os valores das constantes de anisotropias<br />

magnetocristali<strong>nas</strong> da primeira (K1) e segunda (K2) camadas de Fe, (iv) os valores das<br />

constantes de acoplamento C+ e C- e (v) a fração efetiva de Fe acopla<strong>do</strong>s (pinholes). Em<br />

nossas simulações usamos uma fração nula de pinholes. Parâmetros tais como a<br />

temperatura e/ou a espessura <strong>do</strong> espaça<strong>do</strong>r interferem somente no formato da curva de<br />

M(H) e portanto não são necessários. Além disso, tivemos que supor que a<br />

magnetização das camadas de Fe tinha o valor de bulk <strong>do</strong> Fe, que é de 1,76014 10 6<br />

J/Tm -3 . Apresentamos os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s ajustes (simulações), bem como os valores de<br />

C+, C- K1, K2 e θ <strong>nas</strong> Figuras 30, 32 e 34 para curvas obtidas à temperatura de 290 K.<br />

Nas Figuras 31, 33 e 35 mostramos os comportamentos das energias magnéticas em<br />

função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento magnético.<br />

Encontramos acoplamentos não-colineares para as amostras A1, A2 e A3<br />

similarmente aos resulta<strong>do</strong>s reporta<strong>do</strong>s por Yan e cols. [10], exceto pelo fato de que no<br />

caso deles o ângulo de acoplamento variava com a espessura da camada de Mn.<br />

Especificamente, os ângulos de acoplamentos das camadas de Fe são 155 o , 72 o e 47 o<br />

para as amostras A2, A1 e A3, respectivamente. Temos que mencionar que as curvas de<br />

M(H) medidas a diferentes temperaturas (Figura 28 (a), (b) e (c)) são similares às<br />

obtidas a 290 K para a mesma amostra, sugerin<strong>do</strong> que os ângulos de acoplamentos não<br />

variam com a mudança na temperatura de medida, consequentemente não necessitamos<br />

mostrar as curvas simuladas novamente.<br />

Particularmente para as amostras A1 e A3, observamos esta<strong>do</strong>s magnéticos não<br />

colineares, que facilmente são modifica<strong>do</strong>s pela ação <strong>do</strong> campo magnético externo<br />

89


(baixo campo coercivo), levan<strong>do</strong> a um esta<strong>do</strong> em que às magnetizações de ambas as<br />

camadas apontam na direção <strong>do</strong> campo externo. Por outro la<strong>do</strong>, a amostra A2 também<br />

está no esta<strong>do</strong> não-colinear (155 o igual a um esta<strong>do</strong> quase-antiferromagnético), mas as<br />

magnetizações das camadas de Fe ficam paralelas ao campo para valores superiores a<br />

0,5 T.<br />

Podemos correlacionar o valor <strong>do</strong> ângulo de acoplamento com a fração de<br />

átomos de 57 Fe afeta<strong>do</strong>s pelas interfaces (da<strong>do</strong>s de CEMS). A amostra A1 possui uma<br />

fração de 83% de átomos afeta<strong>do</strong>s pelas interfaces e um ângulo de acoplamento de 72º,<br />

enquanto a amostra A3 tem sua fração de 60% e um ângulo de acoplamento de 47º.<br />

Aparentemente, os da<strong>do</strong>s sugerem que quanto maior a fração de átomos afeta<strong>do</strong>s pela<br />

interface (aumento da rugosidade) maior será o ângulo de acoplamento no caso de<br />

amostras que possuem acoplamentos não colineares tipo ferromagnéticos (A1 e A3).<br />

Alem disso, podemos dizer que diferentes ângulos de acoplamentos das camadas de Fe<br />

não são devi<strong>do</strong>s puramente a efeito de espessura <strong>do</strong> Mn, mas sim ao grau de rugosidade<br />

interfacial presente <strong>nas</strong> tricamadas. Finalmente, a boa concordância entre as curvas de<br />

M(H) experimentais e teórica, baseadas no Proximity Magnetism Model, implica que a<br />

camada de Mn <strong>nas</strong> tricamadas Fe/Mn/Fe está em um esta<strong>do</strong> quase-antiferromagnético.<br />

Entretanto, temos que enfatizar que não observamos o efeito de exchange bias em<br />

nossas tricamadas. Logo, a ausência <strong>do</strong> efeito de exchange bias e ao mesmo tempo a<br />

existência <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> AFM para a camada de Mn sugere que: (i) seu valor de TN é<br />

superior a 290 K ou/e (ii) seu esta<strong>do</strong> AFM teria sua anisotropia magnética inferior a <strong>do</strong><br />

Fe [18]. Este ponto ainda carece de maiores investigações e medidas de M(H) em 4,2 K<br />

nos mo<strong>do</strong>s de field cooling e zero field cooling devem ser realizadas para temperaturas<br />

iniciais das amostras acima de 290 K.<br />

90


Figura 30 - Curva M(H), obtida a 290K, para a tricamada MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)<br />

preparada a 175ºC (amostra A2). A linha vermelha, passan<strong>do</strong> pelos pontos experimentais, é o<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuste usan<strong>do</strong> o modelo de Slonczewski. Os Valores das constantes de anisotropia<br />

das camadas superior (K1) e inferior (K2) assim como o ângulo de acoplamento θ são<br />

mostra<strong>do</strong>s nesta figura.<br />

Figura 31 - Comportamento da energia magnética em função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento para a<br />

tricamada MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 175ºC (amostra A2).<br />

91


Figura 32 - Curva M(H), obtida a 290K, para a tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)<br />

preparada a 150ºC (amostra A1). A linha vermelha, passan<strong>do</strong> pelos pontos experimentais, é o<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuste usan<strong>do</strong> o modelo de Slonczewski. Os valores das constantes de anisotropia<br />

das camadas superior (K1) e inferior (K2) assim como o ângulo de acoplamento θ são<br />

mostra<strong>do</strong>s nesta figura.<br />

.<br />

Figura 33 - Comportamento da energia magnética em função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento para a<br />

tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 150ºC(amostra A1)<br />

92


Figura 34 - Curva M(H), obtida a 290K, para a tricamada MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/<br />

/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 50ºC (amostra A3). A linha vermelha, passan<strong>do</strong> pelos pontos<br />

experimentais, é o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ajuste usan<strong>do</strong> o modelo de Slonczewski. Os valores das<br />

constantes de anisotropia das camadas superior (K1) e inferior (K2) assim como o ângulo de<br />

acoplamento θ são mostra<strong>do</strong>s nesta figura.<br />

Figura 35 -Comportamento da energia magnética em função <strong>do</strong> ângulo de acoplamento para a<br />

tricamada MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) preparada a 50ºC ( amostra A2).<br />

93


4.6 Resulta<strong>do</strong>s de FMR<br />

Apresentamos <strong>nas</strong> Figuras 36, 37 e 39 os espectros de FMR obti<strong>do</strong>s na banda -<br />

Q (34 GHz) para as amostras A3, A1 e A2, respectivamente. Nas Figuras 38 e 40<br />

mostramos os espectros de FMR obti<strong>do</strong>s na banda – X (9,6 GHz) das amostras A1 e A2,<br />

respectivamente. Os campos de ressonância (HR) estão indica<strong>do</strong>s, por setas, nestas<br />

figuras.<br />

Figura 36 -Espectro de FMR (banda Q - 34 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e com campo<br />

magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />

MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A3). HR é o campo de ressonância.<br />

As amostras A3 e A1 apresentam um único mo<strong>do</strong> uniforme, conforme<br />

observamos <strong>nas</strong> Figuras 36 e 37 (banda – Q) e na Figura 38 (banda–X). Podemos notar<br />

que os valores de HC (Tabela 5) para as amostras A1 e A3 são inferiores aos valores de<br />

HR, logo as ressonâncias, <strong>nas</strong> amostras A1 e A3, ocorrem quan<strong>do</strong> as magnetizações das<br />

duas camadas de Fe estão FM acopladas; ou seja, as magnetizações das camadas de Fe<br />

(superior (S) e inferior (I)) estão na direção <strong>do</strong> campo aplica<strong>do</strong>, consequentemente<br />

94


como a ressonância ocorre para valores de HR superiores aos HC e ainda a largura da<br />

linha de ressonância (distância de pico a pico) são da ordem de 150 Oe, só observamos<br />

realmente um único mo<strong>do</strong> uniforme, conforme os mostra<strong>do</strong>s <strong>nas</strong> Figuras 36, 37 e 38.<br />

Figura 37 - Espectro de FMR (banda Q - 34 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e com<br />

campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da amostra <strong>do</strong> filme<br />

MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)( amostra A1). HR é o campo de ressonância.<br />

95


Figura 38 - Espectro de FMR (banda X – 9,6 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e com<br />

campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (<br />

amostra A1). HR é o campo de ressonância.<br />

Nas Figuras 39 e 40 apresentamos os espectros de FMR da amostra A2 <strong>nas</strong><br />

bandas X e Q, respectivamente. É níti<strong>do</strong> <strong>nas</strong> figuras a presença de <strong>do</strong>is campos de<br />

ressonância. Existem, pelo menos, três hipóteses para explicar este comportamento<br />

observa<strong>do</strong> para a amostra A2. Na primeira hipótese, podemos associar estes campos de<br />

ressonância a uma liga formada na interface (~ 2 kOe) e o segun<strong>do</strong> campo a camada de<br />

Fe (~ 4,8 kOe no espectro obti<strong>do</strong> na banda Q). Esta hipótese pode ser descartada, pois<br />

não observamos este efeito <strong>nas</strong> amostras A1 e A3 que tinham grandes contribuições de<br />

fases <strong>nas</strong> interfaces (resulta<strong>do</strong> Mössbauer). A segunda hipótese é admitir a existência<br />

<strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s acústico e óptico, o que sugeria um acoplamento ferromagnético entre as<br />

camadas de Fe. Esta hipótese é descartada pelos resulta<strong>do</strong>s das curvas de magnetização<br />

teórica e experimental, anteriormente discutidas. A terceira hipótese consiste em admitir<br />

que as duas camadas estejam acopladas antiferromagneticamente e cada mo<strong>do</strong> é devi<strong>do</strong><br />

a uma das camadas de Fe. Assim, um mo<strong>do</strong> seria devi<strong>do</strong> à camada superior de Fe<br />

(menor área no espectro de FMR devi<strong>do</strong> aos 5 nm) e o outro devi<strong>do</strong> à camada inferior<br />

96


de Fe (maior área no espectro de FMR devi<strong>do</strong> aos 20 nm). Esta hipótese é confirma com<br />

o ajuste da curva de magnetização da amostra A2, que da um ângulo de acoplamento de<br />

~ 155º (caráter ‘quase’ antiferromagnético).<br />

Figura 39 - Espectro de FMR (banda Q – 34 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e com<br />

campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)<br />

(amostra A2). HRI e HRS são os campos de ressonância devi<strong>do</strong> às camadas de Fe inferior e<br />

superior, respectivamente.<br />

97


Figura 40 - Espectro de FMR (banda X - 9,6 GHz) toma<strong>do</strong> à temperatura ambiente e com<br />

campo magnético estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada MgO/ Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)<br />

(amostra A2). HRI e HRS são os campos de ressonância devi<strong>do</strong> às camadas de Fe inferior e<br />

superior, respectivamente.<br />

4.6.1 Dependência angular no plano e fora <strong>do</strong> plano<br />

Nas Figuras 41, 42 e 43 mostramos a dependência angular (no plano) em relação<br />

ao campo de ressonância das amostras A3, A1 e A2, respectivamente. Todas as amostras<br />

apresentam simetria biaxial, caracterizada pelo perío<strong>do</strong> de 90º (Figuras 41, 42 e 43). Tal<br />

simetria é típica de sistemas cúbicos, o que corroboram com nossos resulta<strong>do</strong>s de<br />

RHEED (Figura 18). Além disso, observamos <strong>nas</strong> Figuras 41, 42 e 43 que as amplitudes<br />

para as varreduras no plano ficam no intervalo entre 0,8 até 1,0 kOe. Além disso,<br />

notamos as amplitudes <strong>do</strong>s campos de ressonâncias para as camadas de Fe (superior e<br />

inferior) da amostra A2 ficam em torno de 1 kOe e seus valores individuais estão em<br />

fase (deslocan<strong>do</strong> juntas) durante toda a varredura angular, sugerin<strong>do</strong> que estas camadas<br />

estejam acopladas.<br />

98


Figura 41 - Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong> na banda Q (34<br />

GHz), com campo estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />

MgO/Ag(100nm)/Fe(10nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A3). Amostra posicionada inicialmente,<br />

com relação ao campo, ao longo <strong>do</strong> eixo de fácil magnetização da camada de Fe [100] (vide<br />

Figura 27) .<br />

Figura 42 -Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong> na Banda X<br />

(9,6GHz), com campo estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada<br />

MgO/Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A1). Amostra posicionada inicialmente, com relação<br />

ao campo, ao longo <strong>do</strong> eixo de difícil magnetização da camada de Fe [110] (vide Figura 27) .<br />

99


Figura 43 -Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong> na banda X (9,6<br />

GHz), com campo estático aplica<strong>do</strong> no plano da tricamada MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)<br />

(amostra A2). Amostra posicionada inicialmente, com relação ao campo, ao longo <strong>do</strong> eixo de<br />

fácil magnetização da camada de Fe [100] (vide Figura 27). Em vermelho a componente<br />

associada a camada de Fe inferior e em preto a componente associada a camada de Fe<br />

superior.<br />

100<br />

Na Figura 44 mostramos a varredura angular com o campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong><br />

plano da amostra A2. Como visto anteriormente existem duas componentes, cada uma<br />

associada às camadas inferior e superior de Fe. Aparentemente, estas componentes não<br />

se interceptam, ou seja, não há um valor de campo e ângulo de ressonância em comum,<br />

sugerin<strong>do</strong> que as camadas de Fe estão fortemente acopladas, conforme já previsto com<br />

os resulta<strong>do</strong>s de magnetização.


Figura 44 -Dependência angular em relação ao campo de ressonância, obti<strong>do</strong>s na banda Q (34<br />

GHz) com campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> plano da tricamada MgO/Fe(20nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm)<br />

(amostra A2).<br />

101<br />

Nas Figuras 45 e 46 mostramos as curvas das varreduras fora <strong>do</strong> plano para a<br />

amostra A1 obtidas <strong>nas</strong> bandas Q e X, respectivamente. Em ambos os espectros de<br />

FMR, encontramos as componentes (superior e inferior) superpostas e não se separam<br />

para os valores de campos aplica<strong>do</strong>s. Tal comportamento também sugere que as<br />

camadas de Fe estão ferromagneticamente acopladas.


Figura 45 - Dependência angular em relação ao campo de ressonância (banda Q 34 GHz) com<br />

campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> filme Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A1 ).<br />

Figura 46 - Dependência angular em relação ao campo de ressonância (banda X 9,6 GHz) com<br />

campo aplica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> plano <strong>do</strong> filme Fe(5nm)/Mn(1nm)/Fe(5nm) (amostra A1 ).<br />

102<br />

Em resumo com as medidas de FMR, podemos concluir que as camadas de Fe<br />

(superior e inferior) estão acopladas, o que está de acor<strong>do</strong> com os resulta<strong>do</strong>s de<br />

magnetização. Cabe também mencionar que estu<strong>do</strong>s devem ser feitos para se determinar<br />

os valores de anisotropia e como eles são influencia<strong>do</strong>s pela questão da rugosidade<br />

interfacial.


Capítulo 5<br />

Conclusão<br />

103<br />

Nesta dissertação de mestra<strong>do</strong> estudamos a origem <strong>do</strong> acoplamento não-colinear<br />

<strong>nas</strong> superestruturas <strong>do</strong> tipo MgO/Fe/Mn/Fe/Si. Para isso, preparamos três tricamadas<br />

manten<strong>do</strong> a espessura da fase δ-Mn em 1nm e variamos a espessura da camada de Fe<br />

crescida sobre o substrato de MgO ou modificamos o substrato através <strong>do</strong> buffer de Ag<br />

(100nm). Escolhemos a espessura de 1nm de Mn basea<strong>do</strong> em informações da literatura<br />

que mostram acoplamentos ferromagnéticos para espessuras de até 0,81 nm e<br />

acoplamentos de 90º entre as camadas de Fe para espessuras de Mn superiores a 1,2 nm.<br />

No intervalo de espessura de Mn (0,81 nm < tMn < 1,2 nm), o ângulo de acoplamento<br />

variava abruptamente entre 30º a 180º. Optamos por mudar a espessura da camada de Fe<br />

e a temperatura <strong>do</strong> substrato para propiciar diferentes graus de rugosidade <strong>nas</strong> interfaces<br />

e obviamente produzir ângulos de acoplamentos distintos entre as camadas de Fe<br />

separadas por 1 nm de Mn.<br />

Investigamos as propriedades estruturais (fases cristali<strong>nas</strong> e epitaxia) via técnica<br />

de RHEED ( in-situ) e RBS( ex-situ). Estudamos as propriedades magnéticas (interface<br />

e volume) das tricamadas produzidas com as técnicas CEMS, XMCD, VSM e FMR.<br />

Mostramos que a epitaxia da camada de Mn (δ-Mn), no plano e fora dele, ocorre para as<br />

tricamadas Fe/Mn/Fe, mas existe certo número de defeitos pontuais, deslocamentos de<br />

planos, etc. que impedem uma perfeita epitaxia (~62% de redução no sinal de RBS<br />

channeling). Com os resulta<strong>do</strong>s de RHEED, demonstramos que existe um aumento na<br />

rugosidade superficial da camada de Mn com aumento de sua espessura. Além disso,<br />

mostramos que a transição de fase de δ-Mn para α-Mn ocorre devi<strong>do</strong> a grande tensão<br />

interna da camada de Fe (5 nm) crescida sobre substrato de MgO, ou seja, quan<strong>do</strong> a


camada de Fe é suficientemente espessa (20 nm), as tensões superficiais são<br />

praticamente nulas, o que viabiliza o crescimento da fase δ-Mn para espessuras maiores<br />

(2,5 nm) <strong>do</strong> que as reportadas na literatura [13,14 e 54].<br />

104<br />

Usan<strong>do</strong> o modelo de Slonczewski, fomos capazes de ajustar as curvas de M(H) e<br />

devi<strong>do</strong> ao fato que os resulta<strong>do</strong>s de XMCD não mostram valor apreciável para o sinal<br />

de dicroísmo da camada de Mn, sugerimos que a fase δ-Mn (ccc-Mn) está em um esta<strong>do</strong><br />

AFM. Calculamos (simulamos) através <strong>do</strong>s ajustes das curvas de M(H), que o ângulo de<br />

acoplamento entre as camadas de Fe é não-colinear e seu valor varia abruptamente<br />

como o grau de rugosidade interfacial, como evidenciamos pelos resulta<strong>do</strong>s de CEMS.<br />

Podemos assim dizer que a origem <strong>do</strong> acoplamento não-colinear é devi<strong>do</strong> ao fato <strong>do</strong><br />

filme não possuir interfaces ideais, mais sim, interfaces com rugosidade sen<strong>do</strong> esta a<br />

causa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> acoplamento não-colinear como sugeri<strong>do</strong> por Slonczewski. Além disso,<br />

mesmo com o esta<strong>do</strong> AFM <strong>do</strong> Mn não observamos efeito de exchange bias, que pode<br />

estar associa<strong>do</strong> com o fato de que o TN (temperatura de Neél) é superior a 290 K e mais<br />

investigações são necessárias.


Referências:<br />

[1] J. Smits, Physics World, November, 48, (1992).<br />

[2] P. Grünberg, B. Schreiber, Y. Pang, M.B. Brodsky and C.H. Sowers, Phys. Rev.<br />

Lett. 57, 2442, (1986).<br />

[3] M.N. Baibich, J.M. Brotto, A. Fert, F.H.V. Dau, F. Petro, P. Etienne, G. Creuzet, A.<br />

Friedrich and J. Chazelas, Phys. Rev.Lett. 61, 2472, (1988).<br />

[4] T. Miyazaki and T. Tezuka, J. Magn. Magn. Mater. 139, L231, (1995).<br />

[5] J. Nogués and I.K. Schuller, J. Magn. Magn. Mater. 192, 203, (1999).<br />

[6] D. Neerinck, K. Temst, M. Baert, E. Osquiguil, C. van Haesen<strong>do</strong>nck, Y.<br />

Bruynseraede, A. Gliabert and I.K. Schuller, Phys. Rev. Lett. 67, 2577, (1991).<br />

[7]N.J.M. Carvalho, Low friction and wear resistant coatings-microstructure and<br />

mechanical properties, Tese de Doutora<strong>do</strong>, Rijksuniversiteit Groningen, 2001, available<br />

online at http://www.ub.rug.nl/el<strong>do</strong>c/dis/science/n.j.m.carvalho/.<br />

[8] D.E. Kim, D.H. Cha and S.W. Lee, J. Vac. Sci. Technol. A 15, 2291, (1997).<br />

[9] Pradyot Patnaik,Handbook of Inorganic Chemicals, MacGraw – Hill, (2002).<br />

[10] Shi-shen Yan, P. Grünberg and R. Schäfer, Phys. Rev. B 62, 5765, (2000).<br />

[11] D.T. Pierce, A.D. Pierce, A.D. Davies, J.A. Stroscio, D.A. Tulchinsky, J. Unguris<br />

and R.J. Celotta, J. Magn. Magn. Mater. 222,13, (2000).<br />

[12] S.L. Qiu, P.M. Marcus, H. Ma and Hong Ma, Phys. Rev. B. 62, 3292, (2000).<br />

[13] S. Andrieu, M. Finazzi, Ph. Bauer, H. Fischer, P. Lefevre,A. Traverse, K.<br />

Hricovini, G. Krill and M. Pieucuch, Phys. Rev. B 57, 1985, (1998).<br />

[14] E. C. Passamani, B. Croonenborghs, B. Degroote and A. Vantomme, Phys. Rev. B<br />

67, 174424, (2003).<br />

[15] S.K. Kim, Y. Tian, M. Montesano, F. Jona and P.M. Marcus, Phys. Rev. B 54,<br />

5081, (1996).<br />

105


[16] S. L. Qiu and P. M. Marcus, Phys. Rev. B 60, 14533, (1999).<br />

[17] J. Meersschaut, C. L´abbe´, M. Rots and S.D. Bader, Phys. Rev.Lett. 87, 107201,<br />

(2001).<br />

[18] J. Camarero, Y. Pennec, J. Vogel, M. Bon.m, S. Pizzini, F. Ernult, F. Fettar, F.<br />

Garcia, F. Lancon, L. Billard, B. Dieny, A. Tagliaferri and B. Brookes, Phys. Rev. Lett.<br />

91, 0272011, (2003).<br />

[19] J.C. Slonczewski, J. Magn. Magn. Mater. 150,13, (1995).<br />

[20] D.A. Tulchinsky, J. Unguris and R.J. Celotta, J. Magn. Magn. Mater. 212, 91,<br />

(2000).<br />

[21] J. C. Slonczewski, J. Appl. Phys. 73, 5957, (1993).<br />

[22] J. C. Slonczewski, Phys. Rev. Lett. 67, 3172, (1991).<br />

[23] J. C. Slonczewski, Phys. Rev. B 39, 6995, (1989).<br />

[24] E. Fawcett, Rev. Mod. Phys., 60,209,(1988).<br />

[25] D. Stoeffler and F. Gautier, Prog. Tbeor. Phys. Suppl. 101, 139, (1990)<br />

[26] D. Stoeffler and F. Gautier, J. Magn. Magn. Mater. 121, 259, (1993)<br />

[27] Shi-shen Yan, R. Schreiber, F. Voges, C. Osthöver and P. Grünberg, Phys. Rev. B<br />

59, R11 641,(1999).<br />

[28] Shi-shen Yan, P. Grünberg and Liang-mo Mei, J. Appl. Phys. 88, 983, (2000).<br />

[29]C.M. Boubeta, J.L. Costa-Krämer and A. Cebollada, J. Phys. Condens. Matter, 15,<br />

R1123, (2003).<br />

[30] R. Moons, S. Blässer, J. Dekoster, A. Vantomme, J. De Wachter and G.<br />

Langouche, Thin Solid Films, 324, 129, (1998).<br />

[31] M. Rickart, B.F.P. Roos, T. Mewes, J. Jorzick, S.O. Demokritov and B.<br />

Hillebrands, Surf. Sci., 68, 495, (2001).<br />

106


[32] S.M. Jordan, J.F. Lawler, R. Schad, and H. van Kempen, J. Appl.Phys. 84, 1499,<br />

(1998).<br />

[33] N. Nakayama, T Katamoto and T. Shinjo, J. Phys. F: Met. Phys.18, 935,(1988).<br />

[34] Bart Croonenborghs, Tese de Doutora<strong>do</strong>, Magnetic Coupling Mediated by<br />

Metastable FeSi, IKS, UK Leuven, (2004).<br />

[35] M.A. Herman and H. Sitter, Molecular Beam Epitaxy, Springer Verlag, Berlin,<br />

(1996).<br />

[36] http://www.las.inpe.br/~cesar/Infrared/rheed.htm<br />

[37] Charles Kittel. Introdução à Física <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Sóli<strong>do</strong>. Editora Guanabara Dois S.A.<br />

– Rio de Janeiro, RJ, 5 a edição, (1978).<br />

[38] Gunther Springholz. Molecular Beam Epitaxy and in situ Reflection High-Energy<br />

Electron Diffraction of IV-VI Semiconductor Heterostructures. PhD Dissertation,<br />

Johannes Kepler Universität Linz, A-4045 Linz-Auholf, (1994).<br />

[39] M. A. Herman and H. Sitter, Molecular Beam Epitaxy, volume 7 of Springer<br />

Series In Materials Science. Springer-Verlag, Berlin Heidelberg, (1989).<br />

[40] R. L. Mössbauer, Z. Physik ,151, 124, (1958).<br />

[41] R. L. Mössbauer, Naturwissenschaften, 45, 538, (1958).<br />

[42] R. L. Mössbauer, Science, 137, 731, (1962).<br />

[43] R. L. Mössbauer, Hyp. Interact. 126, 1, (2000).<br />

[44] Mössbauer Spectroscopy, N.N. Greenwood and T.C. Gibb, Chapman and Hall Ltd.<br />

Lon<strong>do</strong>n, (1971).<br />

[45] Applications of Conversion Electron Mössbauer Spectrometry, Review, K.<br />

Nomura,Y. Ujihira and A.Vêrtes,Akadémiai Kiadó, Budapest, (1996).<br />

[46] A. P. Guimaraes, Magnetism and Magnetic Resonance in Solids. Nova York: John<br />

Wiley, (1998).<br />

107


[47] Z. Zhang, L Zhou, P. E. Wigen and K.Ounadjela, Phys. Rev. B 50, 6094, (1994).<br />

[48] V. P. Nascimento, Tese de Doutora<strong>do</strong>: Estu<strong>do</strong> das Interfaces <strong>nas</strong> Multicamadas<br />

NiFe/FeMn/NiFe, Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, Rio de Janeiro, (2005).<br />

[49] D. R. de Jesus, Dissertação de Mestra<strong>do</strong>: Ressonância Ferromagnética em Filmes<br />

Finos de Níquel, Universidade Federal de Goiás, (1998).<br />

[50] A. Martins, Dissertação de Mestra<strong>do</strong>: Ressonância Ferromagnética de Filmes Finos<br />

de FePt, Universidade Federal de Goiás, (1999).<br />

[51] Andrea Mace<strong>do</strong> Teixeira. Ressonância Ferromagnetica em Multicamadas de Fe/Cr<br />

Crescidas em Ressonância Ferromagnetica em Multicamadas de Fe/Cr Crescidas em<br />

MgO(100) e MgO(110) . 2000. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Ciências <strong>do</strong>s Materiais) -<br />

Instituto Militar de Engenharia.<br />

[52] M. Born and E. Wolf, Priciples of Optics, Pergamon Press, Oxford, 6 th , (1980)<br />

[53] http://lab-neel.grenoble.cnrs.fr/euronanomag/2003-brasov/abs/pizzini-abs.pdf<br />

[54] Y. Henry, V. Pierron-Bohnes, P. Vennegues and K. Ounadjela, J. Appl. Phys. 76,<br />

2817, (1994).<br />

[55] Ilya L. Grigorov, M. R. Fitzsimmons, I-Liang Siu and J. C. Walker, Phys. Rev.<br />

Lett. 82, 5309, (1999).<br />

[56] R. Q. Wu and A. J. Freeman, Phys. Rev. B. 51, 17131, (1995).<br />

[57] S.K. Xia, E. Baggio-Saitovitch, and C. Larica, Hyp. Interact. 92, 1281, (1994).<br />

[58] V. M. Uzdin and C. Demangeat, Phys. Rev. B 66, 092408, (2002).<br />

[59] V. M. Uzdin, W. Keune, H. Schorör, and M. Walterfang, Phys.Rev. B, 63, 104407<br />

(2001).<br />

[60] V. Uzdin, W. Keune and M. Walterfang, J. Magn. Magn. Mater. 240, 504, (2002).<br />

[61] F. Klinkhammer, Ch. Sauer, E. Yu Tsymbal, S. Handschuh, Q. Leng, and W. Zinn,<br />

J. Magn. Magn. Mater. 161, 49, (1996).<br />

108


[62] B. Kalska, L. Haggstrom, P. Blomquist and R. Wappling, J. Phys. C, 12, 9247,<br />

(2000).<br />

[63]T. Shinjo and W. Keune, J. Magn. Magn. Mater. 200, 598, (1999).<br />

[64] F. Wilhelm, Tese de Doutora<strong>do</strong> , Magnetic Properties of Ultrathin Films, Coupled<br />

Trilayers and 3d/5d Multilayers Studied By X-ray Magnetic Circular Dichroism,<br />

(2000).<br />

[65] A. Ankudinov and J. J. Rehr, Phys. Rev. B 51, 1282, (1995).<br />

[66] J. Fink, Th. Müller-Heinzerling, B. Scheerer, W. Speier, F. U. Hillebrecht, J.<br />

C.Fuggle, J. Zaanen and G. A. Sawatzky, Phys. Rev. B 32, 4899, (1985).<br />

[67] G.Y. Guo, H. Ebert, W. M. Temmmerman and P. J. Durham, Phys. Rev. B 50(6),<br />

3861, (1994).<br />

109


110

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!