clique aqui para ler a matéria
clique aqui para ler a matéria
clique aqui para ler a matéria
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
lençóis maranhenses<br />
insólitO,<br />
O cenÁRiO<br />
DOs lençóis<br />
MARAnHAnses<br />
PARece nÃO seR<br />
De veRDADe<br />
Acima: o clima inclemente<br />
castiga a vegetação, embora<br />
algumas espécies, como a<br />
tartaruga, ainda consigam<br />
sobreviver <strong>aqui</strong>.<br />
Na página ao lado: as lagoas<br />
refrescantes compensam<br />
a árdua caminhada<br />
64 Agosto 2010<br />
O<br />
passo é curto. Lento. Um após o outro, numa sucessão de tímidas<br />
pernadas que levam meu corpo até o alto de uma duna no meio dos<br />
Lençóis Maranhenses, litoral sul do Estado do Maranhão. Lá em cima,<br />
o cansaço dá lugar ao espanto. A visão panorâmica tira o resto de fôlego<br />
que a íngreme subida de 30 metros me levara.<br />
Entender sua peculiar geografia é tão fácil quanto nadar em suas belas lagoas. Basta<br />
imaginar um lençol visto de cima jogado casualmente sobre uma cama formando<br />
ondulações (dunas) e vales (depressões entre dunas). Eis a origem do nome.<br />
Cenário improvável, esse deserto de 155 mil hectares (equivalente ao tamanho da cidade<br />
de São Paulo) recheado por milhares de pequenos lagos abastecidos pelas nuvens, fica<br />
ainda mais intrigante quando penso nas pessoas que vivem neste lugar insólito. É hora de<br />
descer e continuar a travessia de quatro dias e 50 quilômetros pela região. Ela só está no<br />
início. Com o vento forte esbofeteando o rosto e o calor do sol cozinhando o corpo,<br />
ponho-me a correr como um louco em direção à lagoa que se oferece fácil lá embaixo.<br />
Ao contrario da subida, as passadas agora são largas. Rápidas. Os pés entram firmes na<br />
areia fofa e dão sustentação na desenfreada descida à piscina natural.<br />
Em poucos segundos, o cenário muda radicalmente. Pulo de cabeça. Sai de cena o<br />
sol escaldante. Entra em ação a água cristalina. Refrescante. Revigorante. Em meio às<br />
plantas aquáticas e às piabinhas, pequenos peixes que adoram beliscar de leve a<br />
nossa pele, volto à superfície, entusiasmado e pronto <strong>para</strong> caminhar novamente.<br />
A imersão d<strong>aqui</strong> <strong>para</strong> frente não será apenas no fundo das lagoas multicoloridas que se<br />
formam entre os meses de janeiro a julho (período das chuvas). O mergulho, com o perdão<br />
do pobre clichê, se dará na rotina, nos hábitos das comunidades que existem neste<br />
ambiente feito de areia, vento, água e gente.<br />
A aventura começa em Barreirinhas, uma das três cidades que estão próximas ao Parque<br />
Nacional dos Lençóis Maranhenses (as outras são Santo Amaro e Primeira Cruz). A bordo de<br />
uma rápida lancha chamada de voadeira, descemos cerca de 50 quilômetros pelos meandros e<br />
furos (canais) do grandioso Rio Preguiças em direção a sua foz, perto do ponto onde iniciaremos<br />
o trekking. Ao contrario do nome, o Preguiças é cheio de força e atitude. Muita coisa acontece<br />
dentro dele. Crianças nadam. Homens pescam. E turistas usam seu leito <strong>para</strong> chegar a alguma<br />
das entradas do parque nacional. Só de largura são 100 metros de uma margem à outra.<br />
Em alguns pontos chega a ter 18 metros de profundidade. Fora a correnteza.<br />
Enquanto navego pelo caudaloso rio, margeado de buritis (a palha é muito utilizada pelo<br />
artesanato local e <strong>para</strong> fazer coberturas das casas), juçaras, e carnaúbas, imagino onde será<br />
que estão as famosas dunas maranhenses. Por enquanto, nem sinal delas. Conforme a<br />
aproximação do mar, as palmeiras que compõem a vegetação ciliar são substituídas por um<br />
alto mangue de até 12 metros, que esconde o que está por trás, tornando a expectativa do<br />
encontro ainda maior.<br />
Novembro Agosto 2010 2009<br />
65