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Anais do 10º Seminário Anual de Iniciação Científica da UFRA, 26 à 29 de setembro de <strong>2012</strong><br />
A PESCA DO CAMARÃO DA AMAZÔNIA, Macrobrachium amazonicum, NO MUNICÍPIO<br />
DE CAMETÁ – PARÁ<br />
Resumo<br />
Fernanda Morais HENRIQUES 1 ; Maria Vera Lúcia Ferreira de ARAÚJO 2 ; Kátia Cristina de Araújo<br />
SILVA 3 ; Israel Hidenburgo Aniceto CINTRA 4 .<br />
Em Cametá a presença de pescadores artesanais que exploram o Macrobrachium amazonicum é bastante<br />
expressiva, pois o rio principal do município possui ligação com igarapés, braços de rios e grande número de<br />
ilhas, o que permite aos pescadores explorar os diferentes recursos pesqueiros, como o camarão da<br />
Amazônia. Desta forma o estudo buscou caracterizar os procedimento de pesca e os apetrechos utilizados na<br />
atividade. Os resultados indicam que as embarcações utilizadas pelos pescadores artesanais são, em 100%<br />
dos casos, de sua propriedade. O casco foi à embarcação mais citada, em 61,1% dos casos. A propulsão mais<br />
citada, em 89% dos casos, foi o remo. Quanto ao apetrecho, o matapi foi o mais frequente, com 52%. Os<br />
locais de pesca mencionados para a pesca do camarão da Amazônia são igarapés, praias e canais de rios.<br />
Palavras-chave: Embarcações. Matapi. Pescador artesanal.<br />
Introdução<br />
A pesca artesanal é tradicionalmente praticada por pequenos produtores, acredita-se que estes<br />
pescadores sejam segmentos da sociedade cabocla amazônica (FURTADO, 1999). No Pará a atividade<br />
artesanal é exercida na maioria dos municípios e constitui-se em uma das mais importantes atividades<br />
produtivas, pois o grande volume de recursos hídricos abriga diversas espécies de organismos aquáticos<br />
(IDESP, 1989).<br />
Em Cametá, a presença de pescadores artesanais é bastante expressiva, pois o rio Tocantins tem<br />
ligação com paranás, igarapés e grande número de ilhas (www.cameta.pa.gov.br), o que permite aos<br />
pescadores explorar diferentes recursos pesqueiros como o camarão da Amazônia Macrobrachium<br />
amazonicum (Heller, 1962). Este crustáceo é um palaemonidae de água doce (LIMA & ODINETZ-<br />
COLLART, 1997) comum em águas interiores da Amazônia (ODINETZ-COLLART, 1993), cuja carne é<br />
mais saborosa que outras espécies do mesmo gênero, e por isso, mais aceito nos mercados da região<br />
(MORAES-RIODADES et al., 1999).<br />
Desta forma o objetivo do trabalho é caracterizar a pesca deste camarão, por meio da descrição dos<br />
procedimentos e dos apetrechos de pesca utilizados no município de Cametá.<br />
Material e Métodos<br />
A área corresponde ao município de Cametá, cuja sede municipal tem suas coordenadas geográficas:<br />
02° 14’32’’S e 49° 29’ 52’’W (PROJETO GESPAN, 2004), localizado na mesorregião do Nordeste<br />
Paraense. Hidrologicamente o rio de maior importância é o Tocantins, que possui um curso d´água bastante<br />
longo. Sua importância é justificada pela ligação que mantém com inúmeros igarapés que se interpenetram<br />
nos grandes números de ilhas, onde se concentram comunidades ribeirinhas<br />
(www.prefeituradecameta.com.br).<br />
Para o trabalho foram realizadas intervenções junto aos pescadores de camarão da Amazônia nas<br />
comunidades do município, tais como Ilha do Correio, Ilha do Laranjal, Jacareoá, Cametá-Tapera e Rio<br />
Cuxipiari. Estas intervenções ocorreram em setembro de 2011 por meio de questionários padronizados com<br />
informações, entre elas: faixa etária; naturalidade; arte de pesca e tipo de embarcação.<br />
A técnica metodológica utilizada foi a snowbal, conhecida como “amostragem em Bola de Neve”,<br />
ou “cadeia de informantes” (PENROD et al., 2003). Trata-se de uma amostragem (não probabilística), onde<br />
os entrevistados iniciais indicam novos participantes e assim sucessivamente, até o “ponto de saturação”,<br />
quando os novos entrevistados não acrescentam informações relevantes à pesquisa (WHA, 1994).<br />
1<br />
Estudante de Engenharia de Pesca da Universidade Federal Rural da Amazônia; E-mail: f.m.henriques13@gmail.com.<br />
Bolsista do PIBIC_UFRA.<br />
2<br />
Estudante de Mestrado da Universidade Federal Rural da Amazônia; E-mail: eng.vera2007@hotmail.com.<br />
3<br />
Professora da Universidade Federal Rural da Amazônia; E-mail: kcasilva@hotmail.com.<br />
4<br />
Professor da Universidade Federal Rural da Amazônia; E-mail: israelcintra@terra.com.br.
Anais do 10º Seminário Anual de Iniciação Científica da UFRA, 26 à 29 de setembro de <strong>2012</strong><br />
Resultados e Discussão<br />
No estudo foram entrevistados 36 pescadores, totalizando 36 questionários preenchidos. O<br />
percentual relativo aos homens foi 83,3% e as mulheres foi 16,7%.<br />
Os pescadores artesanais das comunidades utilizam embarcações para auxiliar na pesca do camarãoda-amazônia.<br />
Estas embarcações são confeccionadas com diferentes tipos de madeira, como castanheira<br />
(Berlholletia excelsa), andiroba (Carapaguianensis) e itaúba (Ocoteamegaphylla). O percentual relativo<br />
destas madeiras foi respectivamente 61,1%; 8,3% e 8,3%. Os demais tipos de madeira formaram agrupados,<br />
pracuúba (Mora paraensis), sucupira (Pterodone marginatus) e louro (Lauro nobilis), e juntos<br />
corresponderam a 19,4%. Apenas 3% dos entrevistados não souberam informar o material de confecção de<br />
suas embarcações. Os resultados obtidos corrobora com Agostinho et al. (2005), no reservatório da Usina<br />
Hidrelétrica de Itaipú. O autor afirma que a maior frequência de embarcações de madeira é devida ao baixo<br />
custo de aquisição e manutenção. Esta característica pode ainda estar ligada a propriedade das embarcações,<br />
mencionada em 100% dos casos.<br />
Durante as intervenções, foram contabilizadas 36 embarcações distribuídas em cascos, canoas e<br />
rabetas, descritas a seguir:<br />
Casco – (83% de frequência) embarcação de madeira de pequeno porte, cuja propulsão utilizada é o<br />
remo. Estas embarcações alcançam comprimento entre 3 e 5 metros e comportam até 2 pessoas. Os<br />
pescadores a utilizam para pequenos deslocamentos diários próximos as suas residências (Cintra et al.,<br />
2009);<br />
Canoa – (6% de frequência) embarcação madeira de pequeno porte, cuja propulsão utilizada é o<br />
remo. Estas embarcações alcançam comprimento entre 6 e 7 metros e comportam até 4 pessoas (Cintra et al.,<br />
2009);<br />
Rabeta – (11% de frequência) embarcação de madeira, cuja propulsão é o motor de rabeta. Estas<br />
embarcações alcançam comprimento entre 6 e 8 metros e comportam até 2 pessoas. Os pescadores a<br />
utilizam para pescar em áreas mais afastadas de suas residências (Cintra et al., 2009).<br />
Segundo as observações “in loco”, os apetrechos utilizados são rústicos. Esta característica<br />
associadas à baixa autonomia das embarcações podem limitam a área de abrangência da pescaria. A pesca do<br />
M. amazonicum pode ser feita com diferentes apetrechos, tais como o matapi, rede de lancear, rede de pari,<br />
paneiro, malhadeira, puçá de arrasto e tarrafa. Descritos a seguir:<br />
Matapi – armadilha fixa confeccionada com fibras vegetais, miriti (Mauritia fexuosa), que<br />
desempenha um papel de gaiola cilíndrica. A operação de pesca ocorre no fim da tarde. Os matapis iscados<br />
(mistura de babaçu) são colocados nas áreas de pesca no fim da tarde e despescados ao amanhecer. Após as<br />
despescas os camarões são conduzidos vivos para os viveiros, localizadas próximo à residência ou leito do<br />
rio, permanecendo ali por um período de 2 a 5 dias conforme a capacidade de armazenamento. Durante o<br />
período são alimentados com babaçu. O objetivo é armazenar em quantidade para comercializar in natura.<br />
Tarrafa – rede de pesca que pode ser feita pelos pescadores com nylon mono ou multifilamento.<br />
Apresenta forma cônica e é um instrumento que requer habilidade, pois quando lançada deve formar um<br />
círculo todo aberto tocando a superfície da água. Segundo Vieira (2003) seu uso requer o conhecimento dos<br />
locais de pesca, evitando locais com troncos e pedras. A operação de pesca ocorre quando o pescador a lança<br />
corretamente na superfície d’água. Para isto o pescador deverá utiliza-se das duas mãos e dos dentes. O<br />
pescador puxa a rede que vai se fechando, prendendo os camarões (SILVA et al., 1977).<br />
Redes camaroeiras – são consideradas rede de espera. São compostas de uma panagem, onde<br />
camarões se prendem facilmente pelas suas estruturas pontiagudas (rostro e telso). Possuem duas cordas uma<br />
inferior e outra superior ao longo de toda sua extensão denominada de entralhe.<br />
Rede de “pari” – é uma técnica de bloqueio colocada em igarapés para captura de camarões. Estas<br />
redes são confeccionadas de palhas (esteira) que formam verdadeiros “currais” nos igarapés. A operação de<br />
pesca com rede de pari ocorre inicialmente com a fixação das redes nos locais de passagem dos camarões.<br />
Desta forma quando o nível d’água baixa, estes crustáceos descem acompanhando o movimento d’água e são<br />
então conduzidos com facilidade para os bloqueios (currais) onde o escape é dificultado.<br />
Paneiro – consiste em uma cesta confeccionada com fibras vegetais. A operação de pesca é feita com<br />
o paneiro preso entre as pernas dos pescadores e estes caminham contra o fluxo, desta forma o local de pesca<br />
deve permitir a caminhada, portanto raso.<br />
Os locais de pesca são variados como em igarapés, desembocaduras de rios, praia e em canais de rios<br />
localizados entre as inúmeras ilhas do município. Os pescadores têm uma forte tendência a pescar próximo<br />
das suas residências, em 69% dos casos, deslocando-se diariamente até o local de pesca (ir-e-vir).
Anais do 10º Seminário Anual de Iniciação Científica da UFRA, 26 à 29 de setembro de <strong>2012</strong><br />
Possivelmente, este resultado seja justificado pela baixa autonomia das embarcações, limitando a área de<br />
pesca destes crustáceos e pelo tempo requerido para a execução das etapas, tais como organização dos<br />
apetrechos, tempo de atuação das artes de pesca, preparação das iscas e despesca.<br />
Conclusões<br />
Os resultados apresentados permitiram caracterizar a atividade de pesca e os apetrechos envolvidos<br />
na atividade. A pesca é realizada em locais próximo das residências com auxílio de embarcações<br />
pertencentes aos pescadores, dentre as quais o casco foi apontado como a mais frequente, logo a propulsão<br />
mais citada foi remo. O matapi é o apetrecho de pesca mais utilizado pelos pescadores na comunidade.<br />
Agradecimentos<br />
Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, pela concessão da bolsa. Ao Centro de<br />
Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Norte pela infraestrutura para realização e análise. Aos professores<br />
Dr. Israel Hidenburgo Aniceto Cintra e à Dra. Kátia Cristina de Araújo Silva pelas orientações essenciais<br />
para a realização desta pesquisa.<br />
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