TERMODINÂMICA
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Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto<br />
Mestrado Integrado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores<br />
Física<br />
<strong>TERMODINÂMICA</strong><br />
Ricardo Dias<br />
2007/2008<br />
[ F I S I ] M I E E C 2 0 0 7 / 0 8
1. Temperatura, propriedades térmicas e processos térmicos<br />
A Temperatura é um parâmetro físico (uma função de estado) descritivo de um sistema que<br />
vulgarmente se associa às noções de frio e calor, bem como às transferências de energia térmica,<br />
mas que se poderia definir, mais exatamente, sob um ponto de vista microscópico, como a medida da<br />
energia cinética associada ao movimento (vibração) aleatório das partículas que compõem o um dado<br />
sistema físico.<br />
A diferença de temperatura permite a transferência da energia térmica, ou calor, entre dois ou<br />
mais sistemas. Quando dois sistemas estão na mesma temperatura, estão em equilíbrio térmico e<br />
não há transferência de calor. Quando existe uma diferença de temperatura, o calor é transferido do<br />
sistema de temperatura maior para o sistema de temperatura menor até atingir um novo equilíbrio<br />
térmico. Esta transferência de calor pode acontecer por condução,<br />
convecção ou radiação. As propriedades precisas da temperatura<br />
são estudadas na termodinâmica. A temperatura tem também um<br />
papel importante em muitos campos da ciência, entre outros a física,<br />
a química e a biologia.<br />
A temperatura é directamente proporcional à quantidade de<br />
energia térmica num sistema. Quanto mais energia térmica se junta<br />
a um sistema, mais a temperatura aumenta. Ao contrário, uma<br />
perda de calor provoca um abaixamento da temperatura do sistema.<br />
Na escala microscópica, este calor corresponde à transmissão da<br />
agitação térmica entre átomos e moléculas no sistema. Assim, uma<br />
elevação de temperatura corresponde a um aumento da velocidade<br />
de agitação térmica dos átomos.<br />
• Unidades de Temperatura<br />
A unidade básica de temperatura é o kelvin (K). Um kelvin é rigorosamente definido como<br />
sendo 1/273,15 da temperatura do ponto triplo da água (o ponto onde água, gelo e vapor de água<br />
coexistem em equilíbrio) . A temperatura 0 K é chamada zero absoluto e corresponde ao ponto onde<br />
as moléculas e átomos possuem a menor quantidade possível de energia térmica.<br />
• Definição da temperatura a partir princípio Zero da termodinâmica<br />
Fig. 1 – Aparelho que permite a<br />
medição da temperatura<br />
ambiente<br />
Apesar da maioria das pessoas ter uma ideia básica do conceito de temperatura, a sua<br />
definição precisa pode tornar-se algo complexa. Se dois sistemas com volumes constantes são<br />
postos em contacto térmico, as propriedades de ambos podem mudar. Estas mudanças são devidas<br />
à transferência de calor entre estes. Quando este “estado de mudança”, o sistema está em equilíbrio<br />
térmico. Agora, podemos obter a definição da temperatura a partir do princípio da Lei zero da<br />
termodinâmica. O princípio zero da termodinâmica diz que se dois sistemas A e B estão em<br />
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equilíbrio térmico e um terceiro sistema C está em equilíbrio térmico com o sistema A, então os<br />
sistemas B e C estão também em equilíbrio.Trata-se de um facto empírico, baseado mais sobre a<br />
observação do que sobre a teoria. Como A, B e C estão todos em equilíbrio térmico, é razoável se<br />
pensar que os sistemas têm o valor de uma propriedade em comum. Chamamos esta propriedade de<br />
temperatura. Em geral, não é prático pôr dois sistemas em equilibro térmico para verificar se eles<br />
estão à mesma temperatura. Por isso, é útil estabelecer uma escala de temperatura baseada nas<br />
propriedades de um sistema de referência. Um dispositivo de medição pode ser calibrado com as<br />
propriedades do sistema de referência e utilizado, depois, para medir a temperatura do outros<br />
sistemas. Um tal sistema de referência é uma quantidade fixa de gases. A lei dos gases perfeitos<br />
indica que o produto da pressão pelo volume (P.V) de um gás é directamente proporcional à<br />
temperatura:<br />
P V = n R T<br />
onde T é a temperatura, n é o número de mols de gases e R é a constante dos gases<br />
perfeitos. Assim, podemos definir uma escala de temperatura baseada sobre o volume e a pressão<br />
do gás correspondente. Na prática, um termómetro a gás não é muito prático, porém os outros<br />
instrumentos podem ser calibrados neste escala. A equação indica que para um volume fixo de gás, a<br />
pressão aumenta junto com a temperatura. A pressão é só a medida da força aplicada pelo gás<br />
nas paredes do recipiente e é ligada à energia do sistema. Assim, pode-se ver que um aumento da<br />
temperatura corresponde a um aumento da energia térmica do sistema. Quando dois sistemas de<br />
temperatura diferente são postos em contacto térmico, a temperatura do sistema mais quente diminui<br />
indicando que o calor esta a sair do sistema, e que o sistema mais frio ganha calor e aumenta a sua<br />
temperatura. Assim, o calor move-se sempre da região de alta temperatura para a região de mais<br />
baixa temperatura, e é esta diferença de temperatura quem dirige a transferência de calor entre os<br />
dois sistemas.<br />
2. Calor e Primeira Lei da Termodinâmica<br />
• Calor: definição e formas de propagação<br />
Fig. 2 – Equação dos Gases Ideais<br />
O calor (abreviado por Q) é a forma de inserir energia térmica entre dois corpos que se vale<br />
da diferença de temperaturas existente entre eles. Não é correcto afirmar que um corpo tem mais<br />
calor que outro; o calor é uma forma de transferir energia de um sistema para outro, sem transporte<br />
de massa, e que não corresponde à realização de um trabalho mecânico. A transmissão de energia<br />
sendo função da diferença de temperatura entre os dois sistemas - Convencionalmente, se um corpo<br />
recebe energia sob a forma de calor (e não sob a forma de trabalho), a quantidade Q é positiva e se<br />
um corpo transfere energia sob a forma de calor, a quantidade transferida Q é negativa. A unidade<br />
do Sistema Internacional (SI) para o calor é o joule (J), embora seja usualmente utilizada a caloria<br />
(cal; 1 cal = 4,18 J).<br />
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Todos os corpos tem uma certa quantidade de energia interna que está relacionada ao<br />
movimento continuo de seus átomos ou moléculas e às forças interativas entre essas partículas. Os<br />
sólidos, líquidos ou gases apresentam constante movimento (vibrações) em suas partículas. A soma<br />
dessas vibrações de um corpo constitui a energia térmica do mesmo. Esta energia interna é<br />
directamente proporcional à temperatura do objecto. Quando dois corpos ou fluidos em diferentes<br />
temperaturas entram em interacção (por contacto, ou radiação), eles trocam energia interna até a<br />
temperatura ser igualada. A quantidade de energia transferida enquanto houver diferença de<br />
temperatura é a quantidade Q de calor trocado, se o sistema se encontrar isolado de outras formas<br />
de transferência de energia.<br />
Termodinamicamente falando, calor e trabalho não são funções de estado (ou seja, não<br />
dependem apenas da diferença entre o estado inicial e o estado final do processo), mas<br />
dependem do caminho, no espaço de estados, que descreve o sistema em uma evolução quaseestática<br />
ou reversível (no sentido termodinâmico) de um estado inicial A até um estado final B.<br />
Os processos pelos quais ocorre transferência de calor (transferências de energia sob a forma de<br />
calor) são a condução, a convecção e a radiação.<br />
Quando dois corpos com temperaturas distintas são colocados perto um do outro em um<br />
mesmo ambiente, há uma troca de energia térmica entre eles sob a forma de calor. Ao longo do<br />
tempo, eles tendem a ter a mesma temperatura, ou seja, adquirem o equilíbrio térmico. O corpo que<br />
apresentava temperatura mais alta perde energia térmica, enquanto o outro corpo ganha energia e<br />
tem sua temperatura elevada.<br />
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• Primeira lei da Termodinâmica<br />
A primeira lei da termodinâmica é a lei de conservação da energia aplicada aos processos<br />
térmicos. Nela observamos a equivalência entre trabalho e calor. Este princípio pode ser enunciado a<br />
partir do conceito de energia interna. Esta pode ser entendida como a energia associada aos átomos<br />
e moléculas em seus movimentos e interações internas ao sistema.<br />
Podemos dizer que existe uma função “U” (energia interna) cuja variação durante uma<br />
transformação depende unicamente de dois estados, o inicial, e o final. Num sistema fechado a<br />
indicação desta variação é dada como:<br />
onde Q é a quantidade de calor recebido pelo sistema e W o trabalho realizado. As<br />
quantidades W e Q são expressas algebricamente.<br />
A energia interna é definida como a soma das energias cinéticas e de interação dos seus<br />
constituintes. Este princípio enuncia, então, a conservação de energia.<br />
Na figura seguinte, a força de um peso comprime uma massa de um gás no interior de um<br />
cilindro com êmbolo até a situação de equilíbrio. Nessa condição, o sistema tem uma determinada<br />
energia interna, U1.<br />
A fórmula anterior permite concluir que calor pode se transformar em trabalho e vice-versa. Assim, foi<br />
possível estabelecer uma conversão entre a unidade original de calor (caloria) e a unidade SI de<br />
trabalho:<br />
1 cal = 4,1840 J<br />
Esta relação ficou conhecida como o equivalente mecânico do calor (a descoberta é em geral<br />
atribuída a James Joule por volta de 1845). Entretanto, desde que calor é também energia, não há<br />
necessidade de uma unidade diferente da unidade básica do Sistema Internacional, isto é, o joule (J).<br />
É claro que, por tradição, ainda há muitos dados em calorias ou múltiplos como quilocaloria (kcal),<br />
megacaloria (Mcal). Mas o uso destas unidades deve ser evitado sempre que possível.<br />
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A equação da primeira lei da termodinâmica pode ser escrita de várias formas. Pode-se usar<br />
grandezas específicas, por unidade de massa (letras minúsculas: u, q e w). Pode-se também<br />
considerar que o trabalho de expansão ou contração de um gás é:<br />
dW = p dV<br />
A tabela abaixo dá algumas formulações usuais da primeira lei:<br />
3. Teoria Cinética dos Gases<br />
A teoria cinética dos gases, cujos principais contribuintes foram Maxwell e Boltzmann no<br />
século XIX, foi o primeiro desenvolvimento matemático da concepção atómica da matéria e permitiu a<br />
descrição de grandezas macroscópicas como a pressão, a temperatura e outros parâmetros atómicos<br />
(conceitos básicos da termodinâmica). No entanto, esta teoria ainda não explicava a estrutura<br />
atómica, nem a da matéria condensada (sólidos e líquidos), pois isto só se tornou possível com a<br />
teoria quântica (desenvolvida de uma maneira mais sólida somente no final do primeiro quarto do<br />
século XX). Para os gases, porém, é possível a explicação de muitas de suas propiedade com o uso<br />
da mecânica estatística.<br />
O estudo do gás perfeito realizado sob a perspectiva microscópica leva-nos à teoria cinética dos<br />
gases. Nesse modelo teórico, pelo fato de encontrarmos um número muito grande de partículas por<br />
unidade de volume (10 20 partículas por cm3), as hipóteses impostas representam o que deve<br />
acontecer, em média, com as partículas do gás.<br />
A seguir as hipóteses da teoria cinética, a respeito dos gases perfeitos:<br />
• Uma porção de gás perfeito é constituída por um grande número de moléculas em<br />
movimento caótico.<br />
• As moléculas são consideradas pontos materiais.<br />
• As colisões entre duas moléculas ou entre uma molécula e uma parede do recipiente são<br />
supostas perfeitamente elásticas.<br />
• Cada colisão tem duração desprezível.<br />
• Entre colisões sucessivas, o movimento das moléculas é retilíneo.<br />
• As forças intermoleculares só se manifestam durante as colisões.<br />
• O estudo das colisões das moléculas pode ser feito com base na mecânica newtoniana.<br />
• Energia interna dos gases perfeitos<br />
Das hipóteses do modelo teórico do gás perfeito, conclui-se que a energia interna resume-se na<br />
energia cinética de translação das suas moléculas.<br />
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A energia interna de um gás perfeito é função exclusiva do número de mols (n) e da temperatura<br />
absoluta (T) do gás.<br />
Na verdade a energia interna de um gás é função não exclusiva da temperatura e sim da soma da<br />
Energia Cinética com a Energia Potencial. Se e analisarmos as mudanças de estado de um modo<br />
geral, fica fácil perceber uma variação da energia interna mesmo não hhavendo<br />
avendo variação da<br />
temperatura se a pressão for mantida constante.<br />
Podemos definir a Energia cinética pela fórmula:<br />
• Calor específico<br />
Calor específico é uma grandeza física que define a variação térmica de determinada substância<br />
ao receber determinada quantidade de calor. Também é chamado de capacidade térmica mássica.<br />
É constante para cada substância em cada estado físico. Pode-se se dizer que o calor específico<br />
caracteriza uma substância (em determinado estado físico).<br />
A unidade no SI é J/kg.K (Joule por Quilograma Kelvin). ). Uma outra unidade mais usual para calor<br />
específico é cal/g.°C (Caloria por Grama Grau Celsius). É possível calcular o calor específico de uma<br />
substância (c) ) a partir da capacidade térmica de um corpo composto por ela ( (C) ) e da massa desse<br />
corpo (m). A fórmula que o permite é a seguinte:<br />
Também é possível determinar o calor específico de uma substância a partir da quantidade de calor<br />
cedida a um corpo dessa substância ( (Qc), da variação térmica que ele sofre ( ), e da massa<br />
desse corpo. A fórmula que o permite é a seguinte:<br />
• Transformações mações isocóricas, isotérmicas, isobáricas e adiabáticas<br />
Na transformação isocórica, , o volume é mantido constante. No diagrama ppressão<br />
ressão-volume, ela é<br />
representada por uma linha paralela ao eixo p, conforme indicado no gráfico.<br />
Da equação dos gases ideais, pode pode-se se facilmente deduzir que, entre dois pontos 1 e 2, vale a<br />
relação:<br />
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Na prática, essa transformação ocorre, por exemplo, quando se aquece ou se resfria uma<br />
massa de gás no interior de um recipiente rígido e fechado.<br />
Fig. 3 – Representação de um diagrama numa transformação isocórica<br />
Desde que não há variação de volume, não pode haver trabalho externo, o que matematicamente<br />
pode ser comprovado pela relação dW = p dv. Portanto, o trabalho realizado será nulo.<br />
Da primeira lei da Termodinâmica, ∆u = q − w = q. Usando a relação do calor específico com<br />
volume constante, chega-se a:<br />
∆u = ∆q = cv ∆T<br />
No que diz respeito a transformação isobárica, e como o próprio nome diz, significa pressão<br />
constante. Assim, no diagrama pv, é representada por uma recta paralela ao eixo v .Da equação dos<br />
gases ideais, pode ser facilmente concluído que, entre dois pontos 1 e 2, vale:<br />
Fig. 4 – Representação de um diagrama numa transformação isobárica<br />
No gráfico, W é representado pela área abaixo da linha e entre os dois pontos.<br />
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Na transformação com temperatura constante, ou isotérmica o lado direito da equação dos<br />
gases ideais (p V = n R T) é invariável ou:<br />
p V = n R T = constante<br />
Naturalmente, o valor da constante depende da temperatura em que o processo é mantido. O<br />
gráfico seguinte dá exemplo aproximado de três curvas isotérmicas (a, b e c) com Ta > Tb > Tc.<br />
Fig. 4 – Representação de um diagrama numa transformação isotérmica<br />
Entre dois pontos genéricos (1 e 2) de uma curva isotérmica vale:<br />
p1 V1 = p2 V2 = n R T<br />
Já visto que a energia interna de um gás ideal só depende da temperatura. Se ela é<br />
constante,<br />
∆u = u2 − u1 = 0<br />
O trabalho executado pelo sistema (ou trabalho externo) é calculado pela relação comum dW<br />
= p dV. Integrando ambos os membros da equação entre o intervalo 1 e 2, tem-se:<br />
Deduzindo os resultados da equação dos gases ideais, tem-se:<br />
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Portanto,<br />
De acordo com a primeira lei, ∆U = Q − W. Mas, para este processo, ∆U = 0. Logo, Q = W<br />
Isso significa que, numa expansão isotérmica, todo o calor fornecido é transformado em<br />
trabalho executado pelo sistema.<br />
Um processo adiabático, do grego adiabatos (impenetrável), é a qualidade relativa ao limite a partir do<br />
qual não ocorre transmissão de energia térmica. Na termodinâmica se diz de um processo ou<br />
comportamento de um corpo ou sistema de corpos que, em processo de transformação, se caracteriza por<br />
ausência de troca de calor com o exterior. O factor da ausência de transmissão térmica seria uma constante<br />
entropia inerente ao processo.<br />
Uma curva adiabática pode representar, num gráfico, as variações de pressão, volume e<br />
temperatura de um sistema, assinalando os limites a partir dos quais não há troca de calor com o<br />
meio.<br />
Fig. 5 – Representação de um diagrama numa transformação adiabática<br />
Para a grande maioria das aplicações de nosso interesse, o comportamento da pressão<br />
interna do sistema em função do volume específico pode ser expresso por uma relação como:<br />
Para a grande maioria das aplicações de nosso interesse, o comportamento da pressão<br />
interna do sistema em função do volume específico pode ser expresso por uma relação como:<br />
onde o expoente "n" pode variar de - ∞ a + ∞, dependendo do tipo de processo. Alguns exemplos:<br />
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• n = 0; processo isobárico, qualquer substância;<br />
• n = ∞, processo isométrico, qualquer substância;<br />
• n = 1; processo isotérmico de gás perfeito;<br />
• n = cp/cv; processo adiabático reversível de gás perfeito.<br />
onde as duas últimas expressões só se aplicam a gases perfeitos. Para estes gases, é fácil mostrar<br />
que a relação se mantém:<br />
A representação gráfica de alguns destes processos pode ser feita em um diagrama Pressão<br />
X volume específico, mais comum, se determinarmos a tangente às curvas. Lembrando que o<br />
processo politrópico se escreve como:<br />
Podem-se resumir todos os processos atrás estudados na seguinte tabela:<br />
Processo Isobárico n = 0<br />
Processo Isométrico n = ∞<br />
Processo Isotérmico de<br />
gás perfeito<br />
Processo Adiabático<br />
Reversível de gás perfeito<br />
n = 1<br />
n = γ<br />
Podemos escrever a relação P v n = Constante, da forma:<br />
P 1/n v = (Constante) 1/n = Constante2 = C<br />
Assim, se fizermos n = ∞, teremos v=c.<br />
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4. Segunda Lei da Termodinâmica<br />
A primeira lei da Termodinâmica, como já foi visto anteriormente, impõe uma condição<br />
fundamental aos processos energéticos, isto é, não pode haver geração ou desaparecimento<br />
espontâneo de energia. A segunda lei adiciona outras restrições, quanto ao comportamento e ao<br />
modo de utilização das transformações energéticas.<br />
Seja o exemplo clássico da figura acima. Em (a) existem dois corpos isolados, um com<br />
temperatura maior TA (corpo quente) e outro com temperatura menor TB (corpo frio). Se os dois<br />
corpos são colocados em contacto entre si num sistema isolado como em (b) da figura, a experiência<br />
mostra que o calor passa do corpo quente para o corpo frio até que as temperaturas de ambos se<br />
estabilizem num valor de equilíbrio TE, como em (c) da figura.<br />
Naturalmente, deve ocorrer TA > TE > TB.<br />
Observar que, se o processo fosse inverso, isto é, se o calor passasse do corpo frio para o quente<br />
(aumentando a temperatura do quente e diminuindo a do frio), não haveria nenhuma violação da<br />
primeira lei (a mesma quantidade de calor retirada de um é adicionada ao outro). Mas isso nunca<br />
acontece. Assim, pode-se dizer que<br />
Espontaneamente, o calor só pode passar de um corpo de temperatura mais alta para outro de<br />
temperatura mais baixa. E esse é um dos enunciados da segunda lei da Termodinâmica.<br />
• Máquinas Térmicas<br />
Outro exemplo comum da segunda lei é dado pela eficiência de uma máquina térmica. Uma<br />
máquina térmica ideal (M) funcionaria como em (a) no diagrama acima. Todo o calor Q1 de uma fonte<br />
quente (exemplo: a combustão de uma substância) seria transformado em trabalho W. Assim, W = Q1<br />
e teríamos eficiência η = 1 ou 100 %. Mas é claro que isso nunca ocorre.<br />
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Uma máquina real opera como em (b) da mesma figura. Há sempre uma parcela de calor Q2<br />
que é trocada com uma fonte fria (o próprio ambiente na maioria dos casos). Portanto, a eficiência de<br />
uma máquina real é dada por<br />
η = (Q1 − Q2) / Q1.<br />
E o enunciado a seguir é outra forma da segunda lei: É impossível converter todo o calor de<br />
uma fonte em trabalho. Haverá sempre energia dissipada, ou seja, uma parcela trocada com o<br />
ambiente. E outros enunciados podem ser vistos. Por exemplo, a impossibilidade da existência de<br />
uma máquina de movimento perpétuo (uma máquina que aproveitaria o calor do próprio ambiente).<br />
• Ciclo de Otto<br />
Fig. 6 – Diagrama que explica o funcionamento de uma máquina térmica<br />
O Ciclo de Otto é um ciclo termodinâmico, que idealiza o funcionamento de motores de<br />
combustão interna com ignição por faísca. Foi definido por Beau de Rochas e implementado com<br />
sucesso pelo engenheiro alemão Nikolaus Otto em 1876, e posteriormente por Étienne Lenoir e<br />
Rudolf Diesel.<br />
Motores baseados neste ciclo equipam a maioria dos automoveis de passeio actualmente. O ciclo<br />
a quatro tempos é mais eficiente e com combustão menos poluente que o ciclo a dois tempos, mas<br />
requer consideravelmente mais partes móveis e mais habilidade do construtor e resulta num motor<br />
maior e mais pesado que um motor de dois tempos com a mesma potência.<br />
Fig. 7 – Sequência do Ciclo de Otto<br />
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