Entrevista - Revista o Professor
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SINPRO - Sindicato dos <strong>Professor</strong>es do ABC<br />
Edição nº 10<br />
<strong>Entrevista</strong>: “A idéia de um ensino voltado para a formação da cidadania<br />
não passa de slogan” - <strong>Professor</strong> Amaury César <strong>Revista</strong> Moraes<br />
do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC 1
2<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC
SINPRO - Sindicato dos <strong>Professor</strong>es do ABC<br />
Edição 10 - 2008<br />
Educação<br />
Mudar é preciso<br />
..........................................05<br />
E mais...<br />
<strong>Entrevista</strong><br />
<strong>Professor</strong> Amaury<br />
César Moraes ..................07<br />
Mais mulheres em sindicatos ....................................................................................... 14<br />
Especial: 1968: Quarenta anos depois ....................................................................... 16<br />
Que crise é essa? Por Ítalo Aretini ............................................................................... 24<br />
50 anos de Bossa Nova .................................................................................................. 28<br />
Reforma ortográfica, uma nova língua portuguesa? .............................................. 30<br />
Artigo: Veja, educação, vinho e o país que queremos ser ...................................... 31<br />
Bolívia, Evo e a Constituição contra o obscurantismo fascista, por Leonardo<br />
Severo ...............................................................................................................................32<br />
Sala de aula: Quatro décadas depois, por Tulio Bulcão .......................................... 35<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
3
4<br />
Editorial<br />
“Discordar em silêncio pouco adianta”<br />
Levantemos um brinde a 2008, pois apesar de todas as dificuldades, encerramos esse<br />
ano de muito trabalho com saldo positivo. A <strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> também se despede,<br />
momentaneamente, dos leitores. Para 2009, muitas novidades serão implementadas,<br />
aguardem!<br />
Intitulamos nosso último editorial do ano com a declaração de Moreira Alves, na matéria “1968:<br />
40 anos depois”, que, ainda hoje, ilustra a necessidade de maior participação política e atuação social de<br />
nossas instituições e da sociedade em geral. A <strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> traz para nossa reflexão os desmandos<br />
da ditadura e a luta dos estudantes contra a repressão interna e externa, questionando o militarismo e a<br />
hegemonia do capital implementados pelos EUA. Repressão e assassinatos à parte, o movimento estudantil,<br />
organizado, deu uma aula de politização e de atuação social, vencendo as reservas e a intransigência<br />
dos militares, alterando o panorama social da época. Ainda no campo político, discutimos a militância e<br />
atuação das mulheres na vida sindical. Leonardo Severo nos traz sua contribuição abordando na política<br />
internacional a Bolívia e a atuação de Evo contra o fascismo. Ítalo Aretini nos situa quanto à crise. Seu<br />
texto aborda o assunto de forma simples e didática, permitindo o entendimento sobre suas causas e<br />
conseqüências. Crise que não ajudamos a deflagrar, porém nos afetará muito mais do que pensamos, uma<br />
vez que nós, trabalhadores, sentiremos na pele e no bolso seus resultados.<br />
Trazemos para o deleite dos leitores a matéria 50 anos de Bossa Nova, remetendo a renovação dos<br />
padrões musicais brasileiros que encantaram o mundo todo... Discutindo a Educação, entrevistamos o<br />
professor Amaury César Moraes sobre as alterações da LDB e seus reflexos para a sociedade brasileira.<br />
Realmente mudar é preciso, mas essas mudanças precisam sair dos gabinetes e adentrar as salas de aulas,<br />
sendo necessária a participação dos professores na elaboração das propostas e implementação de ações<br />
precisas para que as transformações desejadas sejam realmente implementadas. Passamos pela Reforma<br />
Ortográfica, cujas novas regras irão valer a partir de janeiro 2009, que pretende trazer maior uniformidade<br />
quanto ao uso da Língua Portuguesa, entre os falantes dos vários países que se irmanam quanto ao idioma<br />
praticado. O professor Jorge de Barros propõe uma análise sobre matérias divulgadas na revista Veja, que<br />
representam uma ofensa a professores e leitores do periódico. O texto inteligente nos permite uma reflexão<br />
mais aprofundada sobre o que temos lido nas mídias ditas oficiais. Por fim, o professor Túlio Bulcão nos<br />
agracia com sua aula de história sobre o movimento estudantil, quatro décadas depois.<br />
Nos despedimos na certeza de que, ao longo desse ano, oferecemos boas oportunidades de leitura e<br />
reflexão, num material importantíssimo para a formação de nossos leitores, com possibilidade de adentrar<br />
nossas salas de aula, enriquecendo nossas propostas de trabalho. Deixamos nosso abraço, nosso carinho<br />
de sempre e nossa atenção. Mantemos aberta uma linha de comunicação por meio do nosso site: www.<br />
sinpro-abc.org.br. Participe enviando sugestões e temas que gostariam que fossem abordados, pois, como<br />
aprendemos, discordar em silêncio pouco adianta! Feliz Natal e que no próximo ano nossos sonhos possam,<br />
através de nossa atuação, ser transformados em realidade. Boas férias e até a próxima edição! Até sempre!<br />
<strong>Revista</strong> do Publicação do Sindicato dos <strong>Professor</strong>es de Santo André, São Bernardo e São Caetano<br />
Ano III - Número 10 - 2008 - ISSN 1807-7994 - SINPRO ABC - Gestão 2007/2011<br />
Diretoria Executiva: Aloisio Alves da Silva, Célia Regina Ferrari, Denise<br />
Filomena L. Marques, José Carlos Oliveira Costa, José Jorge Maggio,<br />
Nelson Valverde Dias e Paulo Roberto Yamaçake<br />
Presidente: Aloisio Alves da Silva<br />
Diretora de Imprensa: Denise Filomena L. Marques<br />
Edição e reportagem: Mayra Monteiro - MTb 47.135<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
Projeto Gráfico e diagramação: Mayra Monteiro e Israel Barbosa<br />
Capa: Israel Barbosa<br />
Tiragem: 4.000 exemplares<br />
SINPRO ABC - Rua Pirituba, 61/65 - Bairro Casa Branca - Santo André<br />
CEP 09015-540 - São Paulo<br />
www.sinpro-abc.org.br • imprensa@sinpro-abc.org.br
Mudar é<br />
preciso<br />
Alterações na Lei de Diretrizes e<br />
Bases dão nova cara à educação<br />
no Brasil. Porém, não são<br />
suficientes para que o ensino<br />
no país tenha os resultados<br />
positivos desejados<br />
Educação<br />
Imagem: www.sxc.hu<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
5
“Se as coisas fossem como eu e um grupo<br />
de que participo pensamos, isso levaria<br />
uma década, porque pensamos em um<br />
processo consistente de consolidação,<br />
envolvendo formação de professores, definição<br />
de conteúdos, entrada paulatina da disciplina nas<br />
escolas, eventos da área, discussão e melhoria<br />
dos livros didáticos etc. Não se faria isso de modo<br />
honesto e responsável em menos de 10 anos”. Essa<br />
é a opinião do professor Amaury César Moraes a<br />
respeito das mudanças na Lei de Diretrizes e Bases<br />
da Educação e o tempo necessário para que tais<br />
alterações surtam efeito positivo. A íntegra da<br />
entrevista com o docente pode ser conferida nas<br />
próximas páginas desta revista.<br />
6<br />
Música<br />
Ao longo dos doze anos de<br />
existência, a LDB sofreu algumas<br />
alterações, cinco somente no último<br />
ano. Geralmente, as mudanças vêm<br />
acompanhadas de polêmica. A mais<br />
recente diz respeito à inclusão da<br />
música como componente obrigatório<br />
no ensino de artes, nos níveis<br />
fundamental e médio, das escolas<br />
públicas e privadas. De acordo com<br />
a nova lei, as instituições de ensino<br />
terão três anos para se adaptarem a<br />
essa nova legislação.<br />
A discussão, para esse tema,<br />
gira em torno da formação dos<br />
professores. Segundo o MEC, “o desafio que surge<br />
com a nova lei é a formação de professores, uma vez<br />
que, os dados mais recentes do Censo da Educação<br />
Superior, de 2006, revelam que o Brasil tem 42<br />
cursos de licenciatura em música, que oferecem<br />
1.641 vagas. Em 2006, 327 alunos formaram-se em<br />
música no Brasil”. Músicos sem formação acadêmica<br />
e professores graduados discordam da não exigência<br />
de formação específica em Música para ministrar<br />
aulas. Para Helena de Freitas, coordenadora-geral<br />
de Programas de Apoio à Formação e Capacitação<br />
Docente de Educação Básica do Ministério da<br />
Educação, “o objetivo não é formar músicos, mas<br />
oferecer uma formação integral para as crianças e<br />
a juventude. O ideal é articular a música como as<br />
outras dimensões da formação artística e estética”.<br />
O MEC orienta que as escolas, além de noções<br />
básicas de música, ensinem cantos cívicos nacionais,<br />
outros cantos, ritmos, danças, músicas folclóricas e<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
Desde 1996, a Lei de<br />
Diretrizes e Bases<br />
da Educação, a LDB,<br />
sofreu diversas<br />
alterações.<br />
Entre as mudanças<br />
estão a inclusão do<br />
ensino das histórias<br />
e culturas afro e<br />
indígena, Filosofia e<br />
Sociologia<br />
instrumentos típicos brasileiros para que os alunos<br />
conheçam a diversidade cultural do Brasil.<br />
Educação profissional<br />
Em julho deste ano, a educação profissional<br />
e tecnológica passou a integrar a LDB. Segundo<br />
esclarecimentos do MEC, “os cursos poderão<br />
ser organizados por eixos tecnológicos, assim,<br />
possibilitam a construção de diversos itinerários<br />
formativos – um aperfeiçoamento do aluno na área<br />
escolhida”.<br />
Essa mudança tem como objetivo a melhora<br />
na formação e capacitação profissional, para que<br />
os alunos tenham mais preparo e condições de<br />
enfrentar o mercado de trabalho. Sendo assim,<br />
os cursos devem abranger formação inicial e<br />
continuada ou qualificação profissional, técnica<br />
de nível médio e tecnológica de<br />
graduação e pós-graduação.<br />
Mais mudanças<br />
Além das alterações pontuadas<br />
nessa matéria, outras mudanças<br />
foram sancionadas pelo presidente<br />
Luiz Inácio Lula da Silva, algumas<br />
abordadas em edições anteriores<br />
da <strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong>. Entre as<br />
novidades estão inclusão de cultura<br />
indígena e afro, ensino de Filosofia e<br />
Sociologia e assistência médica aos<br />
alunos. Outras mudanças já foram<br />
propostas, como, por exemplo, educação financeira,<br />
educação para o trânsito, ensino de psicologia,<br />
Língua Brasileira de Sinais (Libras), entre outros.<br />
Todas as novidades que surgirem envolvendo<br />
esse tema serão amplamente divulgadas pelo<br />
SINPRO ABC.<br />
Com informações do MEC
<strong>Entrevista</strong><br />
“A idéia de um ensino voltado para<br />
a formação da cidadania<br />
não passa de um slogan”<br />
Educação no Brasil<br />
e mudanças na LDB<br />
são analisadas pelo<br />
professor Dr. Amaury<br />
César Moraes<br />
Educação é um direito do cidadão e<br />
um dever dos governantes. Sem ela,<br />
não há como ter expectativas de um<br />
futuro promissor para a nação ou para<br />
qualquer indivíduo.<br />
A fim de organizar e normatizar a educação<br />
brasileira, foi assinada a Lei de Diretrizes e Bases da<br />
Educação, nº 9.394, em 20 de dezembro de 1996. A<br />
primeira LDB foi criada em 1961, com outra versão<br />
em 1971, que vigorou até a promulgação de 1996.<br />
Ao longo desses 12 anos, algumas alterações<br />
foram propostas e aprovadas pela Comissão de<br />
Educação do Senado Federal, com objetivo de<br />
melhorar a qualidade da educação no país. Entre<br />
as mudanças – algumas já abordadas em edições<br />
passadas da <strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> – estão a inclusão<br />
do ensino de História e Cultura afro e indígena,<br />
ensino religioso, educação musical, inclusão de<br />
Filosofia e Sociologia no Ensino Médio, atendimento<br />
médico e odontológico a alunos, além da inclusão à<br />
lei de direitos das crianças e adolescentes.<br />
Para falar sobre a educação no país e as<br />
mudanças ocorridas na LDB, a redação da <strong>Revista</strong><br />
do <strong>Professor</strong> conversou com o Dr. Amaury César<br />
Moraes, ex diretor do SINPRO ABC e professor da<br />
USP.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
Arquivo pessoal<br />
7
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> – <strong>Professor</strong> Amaury,<br />
qual sua avaliação para o atual cenário da<br />
educação no Brasil? Você considera que a<br />
educação é vista como prioridade?<br />
Prof. Amaury – A educação é uma "prioridade"<br />
em todos os discursos de políticos, educadores,<br />
empresários, donas de casa etc, mas não passa<br />
de um discurso mesmo. Mesmo essa questão do<br />
Pré-Sal servir para fazer a arrancada da educação,<br />
veremos, em breve, que não passa de mais uma<br />
encenação do que outra coisa. Os outros países,<br />
como o Japão, que cresceu tanto quanto o Brasil no<br />
século XX, fizeram uma opção clara pela educação e<br />
não fizeram uma opção clara pelo discurso somente,<br />
mas por investimentos pesados. O Brasil investe<br />
entre 25 e 30% do ICMS em educação,<br />
no caso dos estados, mas isso não<br />
significa muito, tanto em vista do<br />
que realmente é o PIB brasileiro, mas,<br />
sobretudo, em relação ao que temos<br />
de dívida nessa parte.<br />
Boa parte da dívida social<br />
do Brasil decorre da dívida com<br />
educação. Vejamos, por exemplo, o<br />
problema do negro no Brasil. A favor<br />
ou contra as cotas, pouco importa, não<br />
haverá mudança significativa na vida<br />
dos negros no Brasil se não houver<br />
uma mudança na educação básica:<br />
acesso real, acesso a conteúdos e não<br />
somente a vagas, e permanência na escola. Como<br />
se faz isso? Um programa verdadeiro de melhoria<br />
da educação básica: universalização do Ensino<br />
Médio, que ainda não é obrigatório; melhoria de<br />
salários de professores, avaliação dos professores,<br />
recrutamento - por concurso de verdade! - de<br />
professores, carreira baseada no mérito e não por<br />
antigüidade etc.<br />
Se isso não for feito,<br />
receberemos nas universidades uma<br />
elite de negros que nada contribuirá<br />
para as mudanças profundas que se<br />
deseja.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - Qual<br />
sua opinião sobre a atual grade<br />
curricular brasileira?<br />
Prof. Amaury - O currículo é<br />
uma arbitrariedade, resultado de um<br />
8<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
"A favor ou contra as<br />
cotas, pouco importa,<br />
não haverá mudança<br />
significativa na vida<br />
dos negros no Brasil<br />
se não houver uma<br />
mudança na educação<br />
básica: acesso real,<br />
acesso a conteúdos e<br />
não somente a vagas,<br />
e permanência na<br />
escola"<br />
arbitrário social: aquilo que em cada momento a<br />
sociedade julga que seja o ideal. É fruto de lutas, da<br />
luta de interesses de grupos. Não há um currículo<br />
que pudesse se dizer que seja o “verdadeiro”<br />
currículo. O que se percebe é que o currículo<br />
brasileiro passou de clássico-humanista (do século<br />
XIX até 1942) para um currículo técnico-científico<br />
(de 1942 até hoje). A idéia de um ensino voltado para<br />
a formação da cidadania não passa de um slogan. O<br />
nosso currículo é voltado para o vestibular, embora<br />
grande massa de educandos não chegue até o fim<br />
do ensino fundamental.<br />
Além do mais, há sobrevalorização de uma<br />
educação voltada para os cursos exatas e biomédicas<br />
e pouco voltado para as humanidades. Muitos<br />
entendem que isso se prende ao<br />
mercado de trabalho, mas o mercado<br />
de trabalho é mais dominado pela<br />
área de humanidades do que outra<br />
coisa. Vejamos carreiras: jornalismo,<br />
economia, administração, publicidade,<br />
comércio, artes, espetáculos, direito,<br />
psicologia, recursos humanos etc. Mas<br />
a impressão que fica é que ainda o que<br />
predomina é medicina e engenharia.<br />
Outra coisa, o que predomina<br />
no currículo é o Português e a<br />
Matemática, porque essas matérias<br />
são centrais. Poderiam até ser, mas<br />
não são eficientes, o seu ensino é<br />
extremamente ruim e os resultados<br />
sofríveis. O que adianta nessa situação ficar<br />
ampliando o número de aulas de português e<br />
matemática se ainda não se descobriu como ensinar<br />
essas disciplinas? É a ampliação ou “privilegiamento”<br />
da ineficiência: mais aulas e mais incompetência.<br />
Creio que, de início, deveríamos pensar em<br />
um currículo equilibrado entre as três áreas de
conhecimento, com 800h para cada área, ou que as<br />
escolas se organizem com ênfase numa ou noutra<br />
área, de modo que de cada três escolas, pelo menos<br />
uma seja voltada para ciências humanas. Mas<br />
podem existir outros arranjos, como, por exemplo,<br />
escolas mais voltadas para artes, ou mais voltadas<br />
para ensino técnico.<br />
Poderiam pensar em escolas de período<br />
integral, com parte técnica, artes e esportes no<br />
contra-turno. Ou seja, o que temos é uma tradição<br />
muito ineficiente, voltada para o vestibular,<br />
predominada por português e matemática em<br />
que não se consegue nada do que se promete:<br />
não é boa escola, não faz passar no vestibular, não<br />
se aprova os alunos nos exames de<br />
língua e matemática, locais, nacionais<br />
ou internacionais. É só verificar os<br />
resultados do Saresp, Enem, Saeb,<br />
Pisa, prova SP e prova Brasil.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> – De<br />
acordo com os autores dos projetos<br />
de leis, as alterações na LDB visam<br />
a melhoraria da qualidade de<br />
ensino no país. Como você avalia<br />
essas alterações na Lei? Qual foi a<br />
melhor mudança?<br />
Prof. Amaury - As mudanças existem<br />
porque a LDB foi o mau-encontro da vaidade<br />
com o oportunismo: vaidade do Darci Ribeiro e<br />
oportunismo do governo FHC. Um queria entrar<br />
para a história como alguém que fez uma lei para<br />
educação, e ele não tinha mais o que fazer para<br />
passar para a história, abandonou o seu passado<br />
importante de homem de esquerda e resolveu<br />
acolher uma lei absolutamente liberal, que<br />
desobrigou o Estado de suas responsabilidades<br />
com a educação. Por outro lado, o governo FHC não<br />
estava aceitando a Lei que vinha sendo debatida<br />
há, pelo menos, oito anos, relatada pelo Jorge Hage,<br />
porque ela era uma lei em que o papel do Estado<br />
seria mais profundo e encampou a lei proposta<br />
de substitutivo Darci Ribeiro. Assim saiu uma lei<br />
flexibilizante ao extremo.<br />
No entanto, por isso, a lei precisou ser<br />
mudada: e aí vão entrando todos aqueles que se<br />
viram prejudicados pela lei ou por interpretações<br />
equivocadas dela. É o caso da lei de obrigatoriedade<br />
da Sociologia e Filosofia, pois quando a lei diz que<br />
são conhecimentos necessários, o governo resolveu<br />
"As mudanças existem<br />
porque a LDB foi<br />
o mau-encontro<br />
da vaidade com o<br />
oportunismo: vaidade<br />
do Darci Ribeiro e<br />
oportunismo do<br />
governo FHC"<br />
dizer que eram conhecimentos que poderiam ser<br />
dados pelas outras disciplinas. Então tivemos de<br />
entrar firmes e chegamos até o congresso, porque<br />
quando fizemos mudanças de interpretação, houve<br />
reação (escolas privadas). Aí vão entrando outras<br />
disciplinas, parece que existem 11 na fila.<br />
Por outro lado, o Conselho Nacional de<br />
Educação está muito moroso no trato dessas<br />
questões, particularmente no Ensino Médio. O<br />
Conselho não quer fazer esse trabalho difícil e que<br />
pode atingir a muitos interesses, em especial, das<br />
escolas privadas e por isso deixa a coisa rolar. Mas<br />
não tem muito tempo para deixar rolar mais...<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - Da<br />
forma como está a educação no<br />
país, essas mudanças trarão o<br />
resultado desejado?<br />
Prof. Amaury - Toda mudança<br />
dá resultados. O problema é saber se<br />
para melhor.<br />
Julgo que aqui e ali será para<br />
melhor, mas, no todo, acho que<br />
ficaremos numa situação mais caótica,<br />
uma vez que o que se vai mudando<br />
não tem diretriz porque conservamos a idéia de<br />
ser liberal e flexível. Qualquer tipo de intervenção<br />
do Estado é entendida como coisa de esquerda,<br />
marxista, comunista etc. Mas quando o governo<br />
intervém aumentando juros ou criando o Fundef<br />
(FHC) ou Fundeb (Lula) ninguém se lembra que isso<br />
é dirigismo também. Da nossa parte, esperamos<br />
e estamos fazendo de tudo para que o ensino de<br />
Sociologia e Filosofia dê certo e se consolide no<br />
currículo.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> – Para você, em<br />
quanto tempo essas mudanças trarão resultados<br />
positivos?<br />
Prof. Amaury - Se as coisas fossem como eu<br />
e um grupo de que participo pensamos (Comissão<br />
de Ensino da SBS), isso levaria uma década,<br />
porque pensamos em um processo consistente de<br />
consolidação, envolvendo formação de professores,<br />
definição de conteúdos, entrada paulatina da<br />
disciplina nas escolas, eventos da área (encontros,<br />
seminários), discussão e melhoria dos livros<br />
didáticos etc. não se faria isso de modo honesto<br />
e responsável em menos de 10 anos. Foi esse o<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
9
programa que tivemos quando entramos nessa luta<br />
pela obrigatoriedade.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - Quanto tempo o país<br />
tem para se adaptar a essas mudanças?<br />
Prof. Amaury - Quem deveria definir isso<br />
seria o CNE. Alguns estados (São Paulo) já estão<br />
consultando. Quando fiz o parecer para o MEC, que<br />
alterou as DCNEM, incluindo Sociologia e Filosofia,<br />
a nossa proposta é que deveria ser paulatino, cerca<br />
de três anos. Com a mudança na LDB, isso fica mais<br />
complicado: alguns acham que seja imediato e<br />
outros que não. Eu acho que o CNE deveria assumir<br />
uma posição menos passiva e definir o caso.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - Essas<br />
alterações são necessárias ou há<br />
outras prioridades que precisam<br />
de mais atenção?<br />
Prof. Amaury - Claro que<br />
há outras prioridades, como a<br />
universalização do Ensino Médio,<br />
da escola integral, da revisão do<br />
equilíbrio curricular etc. Mas não se<br />
pode esperar que isso tudo aconteça antes. Como<br />
disse, isso tudo tem a ver com a luta política e a luta<br />
política não segue referências tão universais assim.<br />
Ela começa com a questão mais imediata e nisso se<br />
vai construindo as mais gerais, mais amplas e mais<br />
longínquas também.<br />
Podemos dizer que a luta pela Sociologia não<br />
se aparta da revisão do currículo, ou ainda, pensando<br />
de um modo mais instrumental, podemos dizer<br />
que a luta pelo ensino de Sociologia visava a sua<br />
presença e as alterações que essa disciplina poderia<br />
causar nas escolas, na formação dos jovens e que<br />
teria como um resultado ainda que longínquo,<br />
mediado, a universalização do ensino médio.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - Que outras ações<br />
precisam ser feitas para que a educação no país<br />
"dê certo"?<br />
Prof. Amaury – Além das outras ações já<br />
pontuadas, creio que, primeiro, deixar de ser<br />
elemento de discurso e passar a ser coisa concreta.<br />
Segundo, que nisso se envolvam todos os agentes<br />
nacionais e as pessoas como cidadãos. Eu nunca<br />
entendi, por exemplo, porque as centrais sindicais<br />
10<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
"As escolas não estão<br />
preparadas para nada<br />
a não ser para isso que<br />
já fazem. Acontece<br />
que mudanças têm<br />
de ser feitas para que<br />
as coisas não piorem<br />
ainda mais"<br />
nunca foram para a praça lutar – pedir greve geral! –<br />
pela educação, pela melhoria de ensino. Na verdade,<br />
eu sempre entendi sim: o objetivo eminentemente<br />
economicista dos sindicatos e centrais sindicais se<br />
orienta para que o trabalhador ganhe mais para<br />
poder colocar, por exemplo, o filho numa escola<br />
privada. Nunca fizeram um movimento mais amplo<br />
do que essa preocupação economicista, então<br />
não surpreende que tenham guardado todas<br />
aquelas pseudobandeiras que pensavam o Brasil<br />
mais amplamente: tudo discurso de algum modo<br />
eleitoreiro.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - As escolas estão<br />
preparadas para as mudanças?<br />
Prof. Amaury - As escolas não<br />
estão preparadas para nada a não ser<br />
para isso que já fazem. Acontece que<br />
mudanças têm de ser feitas para que<br />
as coisas não piorem ainda mais.<br />
As escolas públicas não se<br />
incomodam com as mudanças – é claro<br />
que as corporações de professores de<br />
Português e Matemática são contra,<br />
mas eles não sabem porque os<br />
alunos têm de aprender Português e Matemática.<br />
Eles sentam em cima de uma tradição muito mal<br />
construída. É bobagem dizer que Português e<br />
Matemática estão em tudo, ora se assim é, porque<br />
precisamos de aulas específicas dessas disciplinas?<br />
Fora uns dois ou três anos iniciais, elas poderiam<br />
ser incorporadas às outras disciplinas e terem suas<br />
aulas reduzidas, transformadas em instrumentais<br />
apenas, que é o que são. Aliás, são conteúdos por<br />
excelência interdisciplinares, não devendo ser<br />
disciplinas mesmo.<br />
Claro que a corporação de professores de<br />
História também vai chiar, mas, também, até hoje<br />
não se sabe por que estudamos História – a História<br />
passada não é modelo, não é regra. É cultura? Ótimo,<br />
aí sim, eu entenderia. Mas coisas como identidade<br />
nacional, conhecer o passado para não cometer os<br />
mesmo erros etc etc, não é bem o caso. Observe,<br />
não sou contra o ensino dessas disciplinas, apenas<br />
acho que elas têm prioridade sobre as demais: é<br />
tudo muito arbitrário, ou, no máximo, resultado<br />
de um arbítrio histórico, que a qualquer momento<br />
pode ser mudado, como o que estamos fazendo.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - Como as escolas
devem preparar os professores e alunos para<br />
tais mudanças?<br />
Prof. Amaury - Uma primeira coisa é cobrando<br />
que eles se atualizem quanto a esses debates.<br />
Segundo, que os encaminhem ou promovam cursos,<br />
seminários sobre tais temas. Pagando melhor os<br />
professores, fazendo processos avaliação etc.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - O que precisa ser<br />
alterado na lei que ainda não foi?<br />
Prof. Amaury - Creio que a lei deveria ser<br />
revista por completo. Retomarmos o substitutivo<br />
Jorge Hage e os debates que vinham sendo<br />
realizados. O que há de bom na atual lei deve ser<br />
incorporado (pouca coisa) e o que há de ruim<br />
devemos melhorar, baseados naquele projeto de<br />
lei que vinha sendo debatido no congresso e foi<br />
abortado.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> – Algumas alterações<br />
prevêem acompanhamento médico e<br />
odontológico para os alunos. Qual sua opinião<br />
para esse tema?<br />
Prof. Amaury - Não sei se<br />
a escola é lugar para essas ações<br />
sociais. Acho que o que deveria haver<br />
seria um atendimento mais completo<br />
da saúde, das condições de vida da<br />
população, mas de outro modo, por<br />
outros agentes. A escola ser lugar de<br />
tudo isso me lembra da escola dos<br />
começos da república, que tinha tais<br />
tarefas, mas isso num Brasil de pouco<br />
mais de 20 milhões de pessoas, em<br />
que nem dez por cento chegava às<br />
escolas. Hoje, acho que deveria voltar a escola para<br />
o seu fim próprio. Outras políticas públicas devem<br />
ter seu lugar próprio.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - O que falta para o<br />
Brasil para ter uma educação semelhante ao<br />
ensino de grandes países? Dá para comparar o<br />
ensino brasileiro com o de outros países?<br />
Prof. Amaury - Essas coisas são complicadas.<br />
Por exemplo, no que devemos comparar o Brasil<br />
aos Estados Unidos? Educação lá tem resultados<br />
também muito discutíveis. Com alguns exemplos<br />
europeus, até podíamos nos comparar e nos mirar<br />
"Não sei se a escola é<br />
lugar para essas ações<br />
sociais. Acho que o<br />
que deveria haver<br />
seria um atendimento<br />
mais completo da<br />
saúde, das condições<br />
de vida da população,<br />
mas de outro modo,<br />
por outros agentes"<br />
neles para chegarmos a uma situação melhor. Por<br />
exemplo, a universalização, a valorização da escola<br />
pública, que em alguns países é única – sem que<br />
isso pareça comunismo, como aqui pareceria. Isso,<br />
se a escola fosse um valor para todos e não só para<br />
os que estão envolvidos com ela – os educadores.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> – Há<br />
alguma consideração a mais que<br />
queira fazer sobre o que falamos?<br />
Prof. Amaury - Essas são<br />
questões muito amplas que pude<br />
apenas tangenciar. Merecem um<br />
tratamento mais demorado. Como<br />
expus, pode parecer precipitação ou<br />
achismo. Mas o que me incomoda<br />
é como também as coisas são feitas<br />
e muitos ficam presos a situações<br />
estabelecidas sem se preocuparem com isso tudo.<br />
Não há muita honestidade no trato dessas questões.<br />
Amaury César Moraes é professor Doutor<br />
de Metodologia do Ensino de Ciências Sociais da<br />
Faculdade de Educação da USP, bacharel licenciado<br />
em Ciências Sociais –USP, bacharel licenciado em<br />
Filosofia – USP, Mestre em Ciência Política – USP,<br />
Doutor em Educação USP, pesquisador sobre ensino<br />
de Sociologia e sobre relações entre escola e cinema.<br />
É autor das OCN-Sociologia do MEC e do parecer<br />
sobre a obrigatoriedade do ensino de Sociologia para<br />
o MEC.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
11
12<br />
Notas<br />
Para ministro, famílias devem<br />
acompanhar filhos em escola<br />
É muito ruim para a educação brasileira<br />
que a família não acompanhe o desempenho de<br />
seus filhos. Para o ministro da Educação, Fernando<br />
Haddad, “a família é essencial. Atitudes simples<br />
como ajudar o filho a fazer o dever de casa provocam<br />
mudanças a curto prazo que podem modificar a<br />
educação do país”.<br />
Haddad defendeu, ainda, a participação dos<br />
pais na gestão das escolas e disse que a falta de<br />
interesse na educação dos filhos é um fenômeno<br />
que atinge todas as classes sociais. “Existem pais<br />
de classe média alta que matriculam seus filhos em<br />
escolas particulares e não têm interesse algum na<br />
educação deles”, ressaltou.<br />
Fonte: MEC<br />
Proposta: pagar financiamento com<br />
exercício em sala de aula<br />
O ministro Fernando Haddad levantou<br />
uma proposta para incentivar os estudantes do<br />
magistério a atuarem em escolas públicas. “Estamos<br />
estudando uma proposta de cruzar a atuação em<br />
escolas públicas com o Financiamento Estudantil<br />
(Fies)”, disse. Pela proposta, os estudantes que<br />
optarem por carreiras do magistério e custearem<br />
seus estudos por meio do Fies, poderiam pagar o<br />
financiamento trabalhando em salas de aula de<br />
escolas públicas.<br />
Haddad destacou, ainda, que existe um<br />
esforço do Ministério da Educação para que as<br />
universidades públicas assumam a responsabilidade<br />
pela formação de professores para a educação<br />
básica. “Infelizmente nossos professores das<br />
escolas públicas são formados por instituições<br />
de baixa qualidade, enquanto as universidades<br />
públicas formam professores que atuam em escolas<br />
particulares”, lamentou.<br />
Fonte: MEC<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
MEC proíbe uso de nome “universidade”<br />
sem autorização<br />
O Ministério da Educação proibiu as<br />
instituições de ensino superior não autorizadas<br />
como centros universitários ou universidades<br />
de incluir em seus nomes expressões como<br />
“universidade”, “uni”, “un”, “centro”, “autônomas” ou<br />
qualquer outra que remeta às características e<br />
especificidades desse tipo de estabelecimento.<br />
As faculdades e instituições de ensino<br />
superior que se encaixam nesse perfil estão<br />
recebendo ofício da Sesu (Secretaria de Educação<br />
Superior) que alerta para as regras que devem ser<br />
seguidas, além das possíveis punições para aquelas<br />
que não as cumprirem.<br />
O ofício explica que o único nome a ser<br />
utilizado pela instituição é o aprovado no processo<br />
de autorização de funcionamento do MEC. Segundo<br />
o Sesu, o não-cumprimento pode representar<br />
quebra do Código de Defesa do Consumidor.<br />
Fonte: FSP<br />
Universidades apresentam<br />
projetos de licenciaturas<br />
O Programa de Apoio à Formação Superior<br />
e Licenciaturas Indígenas (Prolind) 2008 recebeu<br />
propostas de 16 universidades públicas federais<br />
e estaduais das regiões Norte, Nordeste, Centro-<br />
Oeste e Sul. Elas se propõem a abrir 1.464 vagas<br />
para professores de 96 povos. O objetivo do Prolind<br />
é ampliar a oferta de licenciaturas interculturais<br />
para professores indígenas que não possuem<br />
graduação.<br />
Ação conjunta de duas secretarias do<br />
MEC, de Educação Superior (Sesu) e de Educação<br />
Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), o<br />
programa transfere recursos do governo federal às<br />
universidades para formação de professores.<br />
Fonte: MEC
Alunos da rede pública receberão livros<br />
de inglês e espanhol a partir de 2011<br />
Os alunos dos anos finais do ensino<br />
fundamental público passarão a receber livros<br />
didáticos de inglês e espanhol a partir de 2011.<br />
O processo para a seleção das obras começa<br />
este ano. Até dezembro, o Fundo Nacional de<br />
Desenvolvimento da Educação deve lançar edital<br />
para a inscrição de títulos das duas disciplinas<br />
para os anos finais do ensino fundamental (5ª<br />
à 8ª série ou 6º ao 9º ano). Depois de inscritas, as<br />
obras passarão por rigoroso processo de avaliação<br />
quanto às especificações técnicas e de conteúdo.<br />
Em seguida, virá a fase da escolha, em que diretores<br />
e professores selecionam os livros mais adaptados<br />
a seus alunos. Após a escolha, o FNDE convoca as<br />
editoras para negociar o preço das publicações.<br />
Reforço na biblioteca<br />
Durante a palestra na bienal, realizada em<br />
agosto, o presidente do FNDE anunciou o aumento<br />
dos acervos das bibliotecas escolares. O governo<br />
federal vai adquirir obras de referência nas diversas<br />
áreas do conhecimento, como sociologia, filosofia e<br />
química, para as escolas públicas de ensino médio.<br />
Fonte: MEC<br />
Ricardo Stuckert/MEC<br />
Presidente Lula e ministro Fernando Haddad,<br />
em visita ao prédio da UFABC<br />
Universidade trará dez mil novas<br />
vagas até 2010<br />
O presidente da República, Luiz Inácio Lula<br />
da Silva, o ministro da Educação, Fernando Haddad,<br />
o reitor da Universidade Federal do ABC, Adalberto<br />
Fazzio, e o presidente da Câmara dos Deputados,<br />
Arlindo Chinaglia, estiveram em Santo André para a<br />
inauguração do primeiro prédio da UFABC. De todas<br />
as autoridades presentes, talvez poucas soubessem<br />
tanto quanto Samuel Santos de Oliveira, 19 anos, o<br />
que a implementação de uma nova universidade<br />
representa.<br />
Há seis meses, Samuel ingressou na UFABC<br />
por meio das vagas reservadas para estudantes<br />
que vieram de escolas públicas. A instituição<br />
destina 50% de suas vagas para alunos da rede<br />
pública. Samuel é o primeiro da família a ingressar<br />
na educação superior. Cursando o bacharelado de<br />
Ciência e Tecnologia, curso interdisciplinar que é o<br />
ciclo básico para todos os estudantes da UFABC, ele<br />
já está envolvido em um projeto de pesquisa.<br />
Vinda de Sergipe, a família de Samuel, que<br />
tem dois irmãos, vive da renda do pai, que trabalha<br />
como cilindrista na indústria de borracha dos<br />
arredores. A mãe é dona-de-casa e os outros dois<br />
irmãos mais novos estão estudando. “Eu não teria<br />
como arcar com os custos de uma universidade<br />
particular”, relatou o estudante. Em um laboratório<br />
novo, Samuel busca soluções para melhorar o<br />
desempenho do etanol e do metanol. “Queremos<br />
otimizar a oxidação do biocombustível”, tenta<br />
explicar.<br />
10 mil até 2010<br />
Até 2010, dez mil estudantes como Samuel<br />
serão recebidos pela Universidade Federal do ABC.<br />
A instituição é apenas uma das 14 novas criadas a<br />
partir do processo de expansão das universidades<br />
federais. Desde que começou a ser implementada,<br />
em 2003, a expansão já investiu R$ 2,4 bilhões<br />
no parque de universidades federais do Brasil.<br />
A previsão é que o investimento chegue a R$ 4<br />
bilhões até o final de 2012 e que o número de vagas<br />
dessas instituições passe das atuais 500 mil para um<br />
milhão e 86 mil até o final de 2012.<br />
Fonte: MEC<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
13
14<br />
Sindical<br />
Mais<br />
mulheres!<br />
Elas ainda não são a maioria<br />
no trabalho formal, mas já<br />
chegam a representar 40%<br />
do total de trabalhadores<br />
sindicalizados no Brasil<br />
As mulheres são maioria quando<br />
falamos em eleitoras e em alunas<br />
matriculadas em universidades.<br />
Mas, mesmo ocupando mais espaço<br />
em instituições de ensino superior, a realidade no<br />
mercado de trabalho ainda é desigual, uma vez que<br />
os homens lideram os índices de trabalhadores com<br />
registro em carteira e as mulheres encabeçam as<br />
estatísticas de desempregados e de trabalhadores<br />
informais. Pesquisas mostram, ainda, que os<br />
salários são menores para elas.<br />
Sindicalizadas<br />
Em agosto, a Central Única dos Trabalhadores<br />
lançou a cartilha “Igualdade é o máximo, cota<br />
é o mínimo – As mulheres no mundo sindical”,<br />
com dados inéditos sobre a sindicalização das<br />
mulheres no país. O estudo foi realizado pela CUT<br />
em parceria com o Dieese e mostra que o índice de<br />
sindicalização entre o sexo feminino cresceu muito<br />
na última década, se comparado com os números<br />
masculinos.<br />
Apesar desse crescimento, a participação<br />
sindical das mulheres, segundo constata a<br />
pesquisa, “ainda é inferior à sua inserção no<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
mercado de trabalho e, ainda que a sindicalização<br />
das mulheres tenha aumentado, nas diretorias<br />
das entidades essa inserção não inclui cargos<br />
tradicionalmente considerados mais importantes:<br />
Presidência, Secretaria Geral e Tesouraria”.<br />
Como exceção a essas estatísticas,<br />
encontramos o Sindicato dos Bancários do ABC,<br />
que, atualmente, tem a Presidência e a Tesouraria<br />
administradas por mulheres. A categoria bancária<br />
na região é composta, em sua maioria, por<br />
trabalhadoras do sexo feminino, em torno de 60%<br />
(a mesma porcentagem corresponde ao número<br />
de sindicalizadas à entidade).<br />
Na atual diretoria do Sindicato dos<br />
Bancários, 30% dos dirigentes são mulheres.<br />
“Temos somente 30% de mulheres e isso porque<br />
nosso estatuto determina cota mínima. Ter duas<br />
diretoras na Executiva do Sindicato é algo muito<br />
raro”, comenta Maria Rita Serrano, presidente da<br />
entidade de representação bancária, que já milita<br />
no movimento sindical há mais de 20 anos. “Chegar<br />
à direção não foi fácil, demorou 50 anos para que<br />
o Sindicato tivesse uma mulher na Presidência”,<br />
esclarece Rita, “tive que vencer muitas dificuldades<br />
pessoais e políticas para enfrentar o desafio de<br />
coordenar um monte de homens. Tive e tenho
que provar, o tempo todo, que sou capaz para a<br />
função”, completa Serrano.<br />
Sobre a participação feminina em atividades<br />
sindicais, Maria Rita ressalta: “Hoje temos poucos<br />
trabalhadores que realmente atuam junto ao<br />
sindicato e a grande maioria é de homens. As<br />
mulheres têm mais dificuldades, por conta dos<br />
compromissos com a família e, acredito que, para<br />
elas, a atividade política ainda é coisa nova, falta<br />
vontade de atuar”. “Tenho esperança e tento usar<br />
o meu mandato para incentivar a participação das<br />
mulheres. Nosso olhar da vida é mais amplo e por<br />
essa razão nossa contribuição para a vida sindical<br />
e política pode ser determinante na construção<br />
de um modelo mais solidário de relações”, finaliza<br />
Maria Rita.<br />
Cotas<br />
De acordo com o documento publicado<br />
pela CUT, uma das alternativas para superar a<br />
situação de ausência das mulheres<br />
em atividades sindicais é a adoção<br />
de cotas. “A aplicação dessa medida<br />
é um passo para a construção de<br />
políticas que alterem as condições<br />
gerais da participação política das<br />
mulheres”, destaca a pesquisa.<br />
Para a Central, as direções<br />
sindicais devem seguir a cota mínima<br />
de 30% e máxima de 70% para<br />
ambos os sexos. Essa ação é inicial,<br />
não devendo considerar “o mínimo<br />
como o máximo”. Muito ainda está<br />
por vir.<br />
Para as mulheres, participar<br />
de atividades sindicais representa intensificar a<br />
luta por direitos específicos, por isso, a Central<br />
destaca a importância da atuação feminina junto a<br />
órgãos de representação. Para tanto, é necessário<br />
intensificar o trabalho de formação e politização<br />
das trabalhadoras.<br />
Crescimento em números<br />
Segundo a pesquisa, a participação das<br />
mulheres no mercado de trabalho cresceu<br />
significativamente. Enquanto em 1970 o número de<br />
brasileiras que trabalhavam fora de casa apontava<br />
18%, em 2007 esse porcentual se aproximou dos<br />
50%.<br />
Quando se fala em associação a sindicatos,<br />
"A mulher precisa<br />
ocupar, cada vez mais,<br />
os espaços políticos.<br />
As mulheres têm<br />
que estar à frente de<br />
cargos de liderança,<br />
sejam políticos, sejam<br />
em representação<br />
sindical".<br />
Bebel<br />
as mulheres também foram responsáveis por um<br />
notável crescimento. Em 1998, 65% dos filiados a<br />
órgãos sindicais eram homens e 35% mulheres,<br />
enquanto, em 2006, 60% eram trabalhadores do<br />
sexo masculino e 40% do sexo feminino.<br />
Mulheres mais independentes<br />
Com o crescimento da participação feminina<br />
em atividades sindicais, algumas mudanças foram<br />
percebidas e apontadas na pesquisa cutista. Entre<br />
os principais impactos, a CUT destaca a queda da<br />
taxa de fecundidade, crescimento acentuado de<br />
famílias chefiadas por mulheres, mulheres cada<br />
vez mais voltadas para o trabalho remunerado e<br />
para construção de carreira profissional.<br />
Na educação<br />
Quando se fala em profissionais da educação,<br />
no Brasil, 75% dos sindicalizados são mulheres.<br />
No ABC, as professoras da rede<br />
particular correspondem cerca de<br />
70% dos filiados, do ensino infantil<br />
ao superior.<br />
Na Apeoesp, entidade de<br />
representação dos professores do<br />
Estado de São Paulo, as mulheres<br />
ocupam importantes cargos na<br />
diretoria sindical. Segundo a<br />
assessoria da entidade, na Diretoria<br />
Executiva da Apeoesp, 37% dos cargos<br />
são ocupados por professoras.<br />
Em entrevista à <strong>Revista</strong> do<br />
<strong>Professor</strong>, a docente Maria Izabel<br />
Noronha, presidente da Associação,<br />
destaca: “A Apeoesp é um dos maiores sindicatos<br />
da América Latina e posso dizer que fui muito<br />
bem recebida pelos professores quando meu<br />
nome foi indicado à presidência”. “As professoras<br />
se sentem mais respaldadas sendo representadas<br />
por uma mulher. Há uma grande confiabilidade,<br />
aproximação e segurança quando precisam<br />
conversar comigo”, observa a presidente.<br />
Para Bebel, como é chamada, somente com<br />
participação ativa, as mulheres poderão conquistar<br />
e manter direitos. “A mulher precisa ocupar, cada<br />
vez mais, os espaços políticos. Não podemos<br />
conferir as atividades políticas somente aos<br />
homens”, comenta. “As mulheres têm que estar à<br />
frente de cargos de liderança, sejam políticos, sejam<br />
em representação sindical”, finaliza a professora.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
15
16<br />
Especial<br />
1968:<br />
40 anos depois<br />
A história contada e analisada por quem participou de forma intensa<br />
da luta dos estudantes no Brasil<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
Por Glauco Faria e Pedro Venceslau*<br />
“Depois daquele ano, o mundo não<br />
foi mais o mesmo, embora o que a<br />
compulsão simplificadora da mídia<br />
relembre hoje como 68 tenha sido, na<br />
verdade, uma rebelião plural e diversificada. Isto é,<br />
vários 68 coincidindo, com as suas peculiaridades<br />
locais, em diversos países. O nosso, por exemplo,<br />
foi deflagrado quando a Polícia Militar do Rio,<br />
então sob o comando do Exército, matou, no<br />
restaurante estudantil do Calabouço, em 28 de<br />
março, o estudante Edson Luís, que participava<br />
com colegas de manifestação pela melhoria da<br />
comida e da higiene; a francesa começou quando<br />
os universitários de Nanterre resolveram exigir o<br />
fim das barreiras que separavam os dormitórios<br />
masculino e feminino no campus. Não deixa de ser<br />
interessante distinção entre as aflições do terceiro e<br />
do primeiro mundos”.<br />
O depoimento acima é de Arthur Poerner,<br />
à época com 28 anos e quintanista da Faculdade<br />
Nacional de Direito da Universidade do Brasil<br />
(atual UFRJ), e dá uma mostra do que foi aquele<br />
ano histórico no país. Ao mesmo tempo em que a<br />
ditadura militar começava a endurecer a repressão,<br />
que chegaria no auge com o advento do AI-5 em<br />
dezembro, o movimento estudantil tomou corpo<br />
e passou a ter uma importância fundamental<br />
na resistência contra o regime autoritário. Ao<br />
mesmo tempo, novas concepções estéticas e<br />
comportamentais promoveram uma verdadeira<br />
revolução no modo de agir e de pensar do brasileiro,<br />
influenciando de forma decisiva a ação política de<br />
esquerda.
O estudante citado por Poerner, Edson Luís<br />
de Lima Souto, 18 anos, não era exatamente o<br />
padrão “classe média” que alguns historiadores<br />
dizem ser o tipo do estudante que participava das<br />
manifestações célebres de 1968. Nascido em Belém,<br />
mudou-se para o Rio de Janeiro e continuou seus<br />
estudos secundários no Instituto Cooperativo de<br />
Ensino, que funcionava no restaurante Calabouço.<br />
E nesse refeitório, ocupado por estudantes, que<br />
o paraense foi alvejado pela repressão policial e<br />
acabou morrendo antes de receber socorro médico.<br />
Era 28 de março de 1968 e outras seis pessoas<br />
ficaram feridas na ocasião, sendo atendidas no<br />
Hospital Souza Aguiar.<br />
Morto, Edson tornou-se um símbolo. Foi<br />
levado para a Assembléia Legislativa por estudantes<br />
e velado ali mesmo, em cima de uma mesa, onde<br />
também foi feita a necrópsia. O enterro, no cemitério<br />
São João Batista, foi precedido por uma passeata que<br />
levou o seu corpo até o local. Aproximadamente 50<br />
mil pessoas gritavam “mataram um estudante. E se<br />
fosse seu filho?” e faixas questionavam: “Bala mata<br />
fome?” e “Os velhos no poder, os jovens no caixão”.<br />
Era o início de uma série de manifestações<br />
estudantis que daria uma outra forma à luta política<br />
e à resistência contra a ditadura. Naquele ano,<br />
oficialmente outras nove pessoas seriam mortas na<br />
repressão aos protestos liderados, em sua maioria,<br />
por estudantes. No dia 1o de abril seguinte, nova<br />
onda de protestos em função do aniversário<br />
daquilo que os militares chamavam de “revolução”.<br />
No Rio de Janeiro, um confronto entre policiais e<br />
estudantes deixou 56 feridos, sendo 30policiais.<br />
Mas um funcionário da Companhia de Navegação<br />
Costeira, David de Souza Meira, e o estudante de<br />
Medicina Jorge Aprígio de Paula foram mortos por<br />
policiais que tentavam dispersar manifestantes<br />
desarmados. Cogita-se até que David não fazia<br />
parte da passeata.<br />
Na manhã do dia seguinte, 2 de abril, foi<br />
realizada na Candelária uma missa em homenagem<br />
a Edson Luís, celebrada pelo bispo auxiliar da<br />
cidade e mais quinze padres. Já no transcorrer da<br />
cerimônia, policiais, fuzileiros navais e agentes do<br />
Departamento de Ordem Política e Social (Dops)<br />
cercaram a saída da igreja. Um esquadrão da<br />
cavalaria da polícia, armado de sabres, bloqueia<br />
os portões. Os padres formam um cinturão de<br />
mãos dadas protegendo aproximadamente 2,5<br />
mil pessoas. Conseguem convencer os soldados<br />
de que não haveria passeata. Ainda assim, houve<br />
Arthur Poerner<br />
“No Brasil, a ditadura se viu obrigada a tirar o que lhe restava<br />
de máscara democrática, o que contribuiria para o seu<br />
inglório final; na França, as mulheres casadas se livraram da<br />
até então obrigatória autorização dos maridos para abrir<br />
contas bancárias, e as relações entre professores e alunos se<br />
tornaram menos autoritárias (já podem até se tratar por “tu”).<br />
Pelo mundo afora, México, Alemanha, Tchecoslováquia etc.,<br />
um alento libertário sacudiu relações anacrônicas de poder e<br />
ridicularizou a caretice, reforçando os movimentos ecológicos,<br />
feministas, das minorias raciais e sexuais; enfim, fortalecendo a<br />
luta mundial pela igualdade e pelos direitos humanos.”<br />
perseguição a pequenos grupos de estudantes<br />
após a dispersão, mas o pior é evitado.<br />
Além do contexto político brasileiro, o<br />
panorama internacional favorecia e inspirava a ação<br />
dos estudantes no país. “É fato que as lutas no Brasil<br />
uniram-se ao furacão que atravessou o mundo<br />
naquele ano: maio em Paris, revoltas estudantis na<br />
Alemanha, na Itália e na Inglaterra, movimentos<br />
contra a guerra do Vietnã e o racismo nos Estados<br />
Unidos, protestos de rua em Tóquio. Também<br />
o bloco socialista foi abalado com a invasão da<br />
Tchecoslováquia, onde o Partido Comunista local<br />
tentava conciliar socialismo com liberdade. E a<br />
ofensiva do Tet, o ano novo budista, contra as<br />
tropas americanas no Vietnã, mostrou que o triunfo<br />
do Vietcong era uma questão de tempo”, avalia o<br />
ministro da Comunicação Social Franklin Martins,<br />
que estudava Economia e era ligado à Dissidência,<br />
uma organização política com base universitária<br />
que havia rompido com o Partido Comunista.<br />
Contudo, Martins, que participou ativamente<br />
das movimentações à época, assegura que a ação<br />
estudantil no país não era uma mera extensão<br />
do que ocorria em outros países. “Esse turbilhão<br />
internacional produziu um caldo de cultura propício<br />
para o surgimento e o crescimento do movimento<br />
estudantil no Brasil. Mas, nem de longe, a luta por<br />
aqui foi um reflexo do que se passava lá fora, tanto<br />
que as primeiras grandes manifestações no Rio<br />
ocorreram em fins de março, bem antes, portanto,<br />
do Maio francês ou da Primavera de Praga”, esclarece.<br />
“Pessoalmente, creio que bem maior, no coração<br />
e na mente dos jovens brasileiros, foi o impacto<br />
da ofensiva do Tet [ataque lançado pelos nortevietnamitas<br />
contra as forças estadunidenses e sulvietnamitas<br />
em 31 de janeiro de 1968, na Guerra<br />
do Vietnã]. A sensação foi de que, se os vietnamitas<br />
podiam vencer a mais poderosa máquina de guerra<br />
do mundo, por que o povo brasileiro não poderia<br />
derrubar a ditadura?.”<br />
Um dos líderes das manifestações de 1968<br />
no Rio de Janeiro era o então presidente da União<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
17
Franklin Martins<br />
"O movimento estudantil também deixou um legado de<br />
mudanças em hábitos, comportamentos, cultura, relações<br />
familiares, relações entre casais, sexo, que nos fizeram ser<br />
hoje um país menos careta do que éramos no final dos<br />
anos 60. E isso é bom. Além de tudo, 1968 ajudou que nos<br />
abríssemos para o mundo e para a novidade. Deixou o país<br />
mais antenado e menos provinciano, sem que com isso ele<br />
deixasse de valorizar o que é seu. E isso também é bom. "<br />
Metropolitana dos Estudantes (UME) e graduando<br />
em Direito na Universidade do Brasil, Vladimir<br />
Palmeira. À época, também era “foca” do jornal<br />
Última Hora. “Eu era – e continuo sendo – socialista.<br />
Achava que a revolução era a saída para o Brasil, mas<br />
não era militarista, defendia a insurreição urbana<br />
e a guerrilha rural. No movimento estudantil nós<br />
só usamos a violência, em 1968, para mostrar que<br />
queríamos dialogar”, pontua.<br />
Palmeira fazia parte de uma vertente do<br />
movimento estudantil que via a necessidade de<br />
se trabalhar a base nas próprias escolas, tendo<br />
como foco temas como a discussão do currículo,<br />
as condições do professor, as verbas para a<br />
universidade pública. Mas a mobilização e a força<br />
do movimento faziam dos estudantes personagens<br />
centrais na resistência, alcançando uma visibilidade<br />
maior do que as articulações que eram feitas no<br />
plano institucional. “Hoje, avalio que as ações<br />
estudantis do Rio foram corretas. Nós defendíamos,<br />
nas entidades, a luta contra a política educacional<br />
do governo, e não contra a ditadura. Queríamos<br />
mais verbas para a universidade. Foi a ditadura<br />
que se encarregou de politizar nosso movimento”,<br />
recorda.<br />
“O agito parisiense de 1968 teve reflexos<br />
em todos os cantos do mundo, mas aqui havia<br />
peculiaridades próprias porque vivíamos numa<br />
ditadura. A repressão aos sindicatos era mais<br />
violenta e fora o MDB, único partido de oposição<br />
‘permitido’, foram os estudantes que orientaram<br />
a grande reação”, relembra outro importante líder<br />
estudantil da década de 60, o ex-ministro José<br />
Dirceu. “O movimento estudantil começou com<br />
bandeiras próprias, buscando ensino superior<br />
gratuito e de qualidade para o jovem brasileiro<br />
e, lógico, mais liberdade, menos autoritarismo.<br />
Depois, a repressão crescente foi um fator a mais<br />
para que conquistasse as ruas. Essa militância mais<br />
política legitimou o movimento como uma reação<br />
de massa àquela situação terrível.”<br />
O historiador Daniel Aarão Reis, presidente<br />
da UME que antecedeu Palmeira, argumenta que o<br />
ano de 1968 se tornou especial para todos aqueles<br />
que se interessavam de perto pela política com<br />
18<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
uma concepção de esquerda, abrindo um leque<br />
de expectativas que duraria até a promulgação<br />
do Ato Institucional número 5. Segundo ele, é<br />
preciso ressaltar uma importante diferença entre os<br />
movimentos sociais e as organizações revolucionárias<br />
que participavam e, até então, em parte dirigiam<br />
politicamente o processo de lutas. “Trata-se de uma<br />
distinção formulada há anos pelo Vladimir Palmeira,<br />
amigo pessoal, e maior líder do movimento<br />
estudantil em 1968, e que nem sempre é percebida<br />
com a devida acuidade”, explica. “Os movimentos<br />
sociais, entre eles o movimento estudantil, se<br />
pautavam por um programa fundamentalmente<br />
sindical, com reivindicações precisas, concretas,<br />
graças a isso inclusive os movimentos cresceram<br />
tanto na época. Politicamente, o que a ampla<br />
maioria queria era a restauração da democracia, das<br />
liberdades democráticas”, sustenta. “As organizações<br />
revolucionárias, embora empenhadas nas lutas<br />
sociais, tinham outras perspectivas, articuladas em<br />
torno de um projeto revolucionário, de derrubada<br />
violenta da ditadura para instauração de uma<br />
sociedade revolucionária, surgindo aí muitas<br />
divergências entre os grupos revolucionários que se<br />
inspiravam – sem copiar – nas grandes experiências<br />
revolucionárias do século XX: Rússia, China e Cuba.”<br />
Segundo o historiador, muitas das<br />
organizações revolucionárias ficaram surpresas<br />
com a “explosão” social de 68, e tiveram uma certa<br />
dificuldade de avaliar aqueles movimentos sob a<br />
perspectiva revolucionária. “[A visão deles] passava<br />
muito mais pelo enfrentamento armado –guerrilhas<br />
urbanas e rurais – do que por uma articulação<br />
complexa entre movimentos sociais e lutas políticas<br />
e militares”, pontua.<br />
O endurecimento<br />
Estudantes, trabalhadores, artistas, padres<br />
e parlamentares. Eram eles e milhares de outras<br />
pessoas que davam um colorido especial à<br />
Cinelândia, Rio de Janeiro, naquele 26 de junho<br />
de 1968. Calcula-se que 100 mil pessoas tenham<br />
participado do evento que não foi apenas contra a<br />
ditadura, tinha diversos outros focos. Fazia oposição<br />
à política educacional do governo e questionava o<br />
capitalismo estadunidense.<br />
Em São Paulo, os estudantes também se<br />
mobilizavam (ver página 14). Uma reunião da<br />
direção da União Nacional dos Estudantes (UNE)<br />
no mês de julho decidiu que a realização do 30º<br />
Congresso da UNE seria em São Paulo e a União
Estadual dos Estudantes (UEE) seria a responsável<br />
pela organização. “O local não poderia ser um<br />
convento de religiosos como nos congressos<br />
anteriores porque a repressão poderia localizá-lo<br />
com facilidade”, conta Paulo de Tarso Venceslau,<br />
que estudava Economia na USP e foi um dos<br />
organizadores do Congresso, que se realizou em<br />
Ibiúna e terminou com a prisão de mais de 800<br />
estudantes.<br />
Às vésperas do início do Congresso, em 2 de<br />
outubro, eclodiu um episódio até hoje conhecido<br />
como a batalha da rua Maria Antônia. “O conflito<br />
foi resultado de provocações articuladas pelo<br />
chamado Comando de Caça aos Comunistas<br />
(CCC) – que tinha na universidade Mackenzie sua<br />
principal base de operações”, recorda Venceslau.<br />
“Lá se embaralhavam agentes como Raul Careca,<br />
um delegado do Dops [Departamento de Ordem<br />
Política e Social], até capitão Maurício, que no DOI-<br />
Codi, no ano seguinte, seria chefe de uma equipe<br />
de torturadores. Foram eles que plantaram, no meio<br />
dos estudantes da USP, um agente provocador,<br />
Brasil de Oliveira, um dos responsáveis pelo começo<br />
do confronto. Para nós, não havia o menor interesse<br />
em chamar atenção sobre o movimento estudantil<br />
porque o 30º Congresso da UNE estava agendado<br />
para a segunda semana de outubro e estava sendo<br />
encaminhado desde agosto em todos os estados<br />
do Brasil”, relata.<br />
Naquele dia, estudantes da Filosofia da USP<br />
recolhiam fundos para a realização do Congresso<br />
quando foram atacados por pessoas identificadas<br />
com a universidade Mackenzie. Venceslau contesta a<br />
versão de que o conflito se deu simplesmente entre<br />
mackenzistas e uspianos. “Até porque nossos aliados<br />
detinham o controle das entidades estudantis do<br />
Mackenzie, inclusive o DCE [Diretório Central de<br />
Estudantes]. Todos nós vimos e testemunhamos<br />
viaturas do Exército brasileiro descarregando<br />
rojões e armas de fogo, sob o comando do capitão<br />
Maurício, na entrada lateral do Mackenzie, na rua<br />
Itambé”. Um dos tristes resultados do conflito foi o<br />
assassinato do secundarista José Guimarães.<br />
Outro ponto importante na mobilização<br />
dos estudantes e que se tornou fundamental para<br />
o endurecimento do regime militar aconteceria<br />
no dia 1 o de setembro. A Universidade de Brasília<br />
fora invadida por um grupo de agentes à paisana<br />
sob o pretexto de procurar o estudante Honestino<br />
Guimarães, que seria morto mais tarde. O resultado<br />
foi uma série de espancamentos, tumultos e tiros<br />
disparados pela repressão.<br />
Em vista da situação, o deputado Márcio<br />
Moreira Alves fez dois discursos na Câmara nos dias<br />
2 e 3. Por conta desses proncunciamentos, o então<br />
procurador-geral da República, Délio Miranda,<br />
entrou com uma representação no Supremo Tribunal<br />
Federal (STF), acusando o deputado de “abusar dos<br />
direitos individuais e políticos, praticando atentado<br />
contra a ordem democrática, vilipendiando as<br />
Forças Armadas”. Um dos trechos pinçados pelo<br />
procurador no primeiro discurso de Moreira Alves<br />
dizia: “Quando poderemos ter confiança naqueles<br />
que devem executar e cumprir as leis? Quando não<br />
será a polícia um bando de facínoras? Quando não<br />
será o Exército um valhacouto de torturadores?”. A<br />
palavra “valhacouto” equivale a asilo, refúgio.<br />
Além disso, ficou célebre a segunda ocasião,<br />
ocorrida em um horário das sessões reservado para<br />
pequenos pronunciamentos, onde ele disse: “Vem<br />
aí o 7 de Setembro. As cúpulas militaristas procuram<br />
explorar o sentimento profundo de patriotismo do<br />
povo e pedirão aos colégios que desfilem junto<br />
com os algozes dos estudantes. Seria necessário<br />
que cada pai, cada mãe, se compenetrasse que a<br />
presença de seus filhos nesse desfile é um auxílio<br />
aos carrascos que os espancam e os metralham<br />
nas ruas. Portanto, que cada um boicotasse esse<br />
desfile. Esse boicote pode passar também – sempre<br />
falando de mulheres – às moças que dançam com os<br />
cadetes e namoram os jovens oficiais. Seria preciso<br />
fazer hoje no Brasil com que as mulheres de 1968<br />
repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e<br />
recusassem a entrada à porta de suas casas àqueles<br />
que vilipendiam a Nação, recusassem aqueles que<br />
silenciam e, portanto, se acumpliciam. Discordar<br />
em silêncio pouco adianta”.<br />
No dia 12 de dezembro, a maioria da<br />
Câmara dos Deputados votou contra o pedido para<br />
processar Marcio Moreira Alves. Esse foi o pretexto<br />
para que a linha dura do governo vencesse a disputa<br />
interna resultando no AI-5, promulgado em 13 de<br />
dezembro e que dava poderes absolutos ao regime,<br />
fechando o Congresso Nacional por quase um ano,<br />
Paulo de Tarso Venceslau<br />
"Hoje, muitas análises abstraem a força, a intensidade,<br />
a velocidade e a dimensão planetária daquele contexto.<br />
Portanto, apesar de falhas e desvios, não há do que se<br />
arrepender, desde que se entenda o clima daquele ano. Não<br />
há dúvida que a inexperiência, o voluntarismo, os excessos<br />
decorrentes da pouca idade marcaram nossa atuação. Mas<br />
eram os poucos recursos que dispúnhamos para encontrar<br />
coragem para enfrentar o aparato repressivo do Estado<br />
controlado pelos militares e políticos golpistas."<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
19
José Dirceu<br />
"Os movimentos de 68 foram responsáveis por uma verdadeira<br />
revolução cultural por meio da música, do feminismo, do amor livre,<br />
da arquitetura, literatura e as artes de uma forma geral. Também<br />
faço parte da primeira geração que estuda e trabalha fora. Meu<br />
maior sonho era entrar na faculdade e, quando consegui, vi aquele<br />
cemitério, tudo vazio. Foi o maior choque da minha vida. Essa<br />
sensação me fez entrar na militância política. Foi um período de<br />
criatividade intensa que trouxe ótimos frutos para as gerações de<br />
hoje. Graças aos questionamentos que fizemos lá, hoje vivemos<br />
uma liberdade incrível."<br />
conferindo poderes ao presidente da República<br />
para decretar estado de sítio e suspendendo a<br />
admissibilidade do habeas corpus para “crimes<br />
políticos”. Os movimentos populares tiveram seu<br />
golpe de morte àquela altura. A repressão os<br />
empurrou para a clandestinidade.<br />
20<br />
O legado de 1968<br />
Passados 40 anos de uma luta que mudou<br />
não apenas os rumos do regime autoritário que<br />
vigorava no Brasil, mas também a própria forma<br />
de luta política, como avaliar a importância<br />
dos acontecimentos de 1968? Para Aarão Reis,<br />
é preciso destacar as múltiplas dimensões dos<br />
atores que se organizavam a partir dali, como os<br />
chamados novos movimentos sociais, mulheres,<br />
negros, homossexuais, índios e outros que não<br />
queriam acompanhar o discurso tradicional das<br />
organizações revolucionárias de “vanguarda”, de<br />
tradição marxista-leninista. “Não aceitavam mais<br />
a dogmática marxista-leninista, esta poderosa<br />
religião laica, nem estavam dispostos a esperar os<br />
‘amanhãs que cantam’ para verem seus propósitos<br />
e reivindicações realizados”, aponta Reis. “Queriam<br />
o que queriam aqui e agora, e isto despedaçou a<br />
constelação das esquerdas em 1001 pedaços. As<br />
esquerdas tradicionais nunca perdoaram o ano de 68<br />
por ter sido o ‘revelador’ destes novos movimentos<br />
que se situariam, mais tarde, e na seqüência, como<br />
grandes atores na cena política. Eles, a rigor, foram e<br />
são até hoje o grande legado positivo e construtivo<br />
daquele ano.”<br />
Frei Betto, que estudava Antropologia<br />
na USP e militava na Ação Libertadora Nacional<br />
(ALN), comandada por Carlos Marighella, acredita<br />
que uma das grandes conquistas foi justamente o<br />
desenvolvimento de formas de organização dos<br />
estudantes, algo que influencia ainda hoje o meio<br />
universitário. “O maior legado é a capacidade de<br />
mobilização do movimento estudantil, como<br />
recentemente se viu na Universidade de Brasília,<br />
com a deposição do reitor e do vice-reitor”, fazendo<br />
uma comparação com o episódio da ocupação<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
da reitoria da UnB. “Pena que, hoje, os fatores<br />
de desmobilização sejam mais fortes que os de<br />
mobilização. Mas ficou a certeza de que é na<br />
juventude que nos impregnamos de valores éticos,<br />
revolucionários, solidários, na busca de um ‘outro<br />
mundo (e Brasil) possível’.”<br />
De acordo com Venceslau, o grande feito<br />
dos movimentos estudantis está associado ao<br />
enfrentamento contra uma sociedade autoritária.<br />
“Sem aquele tipo de contestação, a ordem das<br />
coisas não muda. A repressão aos estudantes, em<br />
1968, no Brasil, deveu-se muito mais à contestação<br />
da ordem e dos costumes do que às propostas<br />
políticas revolucionárias de pequenas organizações<br />
clandestinas”, analisa.<br />
“Naquela situação, não havia muitas<br />
alternativas. Era tudo ou nada porque veio o AI-5<br />
e não dava para fazer movimento de massa. Os<br />
caminhos eram muito restritos. O golpe dentro do<br />
golpe (o AI-5) foi duríssimo”, pondera José Dirceu,<br />
que atribui a ação dos estudantes à imposição<br />
daquele momento histórico. “Não era escolha, não<br />
era opção. O movimento estudantil é, injustamente,<br />
responsabilizado pelo endurecimento da ditadura.<br />
Na verdade, basta olhar aquele passado, buscar a<br />
verdade para perceber que ele viria de qualquer jeito.<br />
Pagamos o preço, fomos às últimas conseqüências,<br />
reviramos nossas vidas, mas somos vitoriosos.”<br />
A discussão sobre se as estratégias adotadas<br />
eram as mais corretas ou se tudo poderia ser feito<br />
de outra forma sempre vai existir e até hoje causa<br />
dissenso entre quem participou daquele momento<br />
histórico. Mas, sem dúvida, o legado de 1968 vai<br />
muito além. “Acho curiosa a preocupação com<br />
eventuais ações equivocadas. Porque, no fundo,<br />
equivocado era apoiar a ditadura, ou não lutar<br />
contra ela e ficar em casa esperando o carnaval<br />
chegar. Quem luta, acerta e erra; quem não luta, só<br />
erra”, aponta Franklin Martins. “Penso sempre com<br />
respeito e carinho nos que lutaram quando era<br />
tão difícil lutar. Dou muito pouca importância aos<br />
seus erros. Até porque os que lutavam, errando ou<br />
acertando, pagaram um preço muito alto por não se<br />
conformarem com a repressão e a injustiça: prisão,<br />
tortura e muitas vezes assassinato. A geração de<br />
1968 poderá ser acusada de muitos erros, mas dela<br />
ninguém poderá tirar o maior de seus méritos: ter<br />
se entregado de corpo e alma àquilo que ela achava<br />
melhor para o Brasil e para o mundo. Foi bom ter<br />
vivido aquele tempo, foi fantástico conviver com<br />
tanta gente extraordinária.”<br />
*Publicado na <strong>Revista</strong> Fórum / maio 2008
Mais uma novidade do<br />
SINPRO ABC exclusiva<br />
para você, sócio!<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
21
22<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
23
Cuide do seu futuro brincando<br />
Com a ajuda do economista Luis Carlos Ewald, CAIXA incentiva<br />
aportes extras na previdência complementar<br />
Quem não gostaria de ter uma consultoria financeira sempre à mão quando precisasse investir um<br />
dinheiro extra, reduzir as despesas domésticas ou controlar melhor os gastos? Pensando nisso, o<br />
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dicas de economia. Nos vídeos, disponíveis na página da Caixa (www.caixavidaeprevidecia.com.br),<br />
Ewald explica as vantagens de investir em previdência complementar, além da necessidade cada vez mais<br />
crescente de ter uma boa gestão financeira em casa. “O grande segredo é cuidar do seu dinheiro agora<br />
para que ele possa cuidar de você depois”, garante.<br />
A consultoria “gratuita” faz parte da campanha recém-lançada pela empresa para divulgar as vantagens<br />
de investir na previdência complementar. “A previdência continua sendo, de longe, um dos melhores<br />
investimentos que se pode fazer a longo prazo”, afirma o diretor da CAIXA VIDA & PREVIDÊNCIA, Juvêncio<br />
Braga. “E o mercado vem crescendo a olhos vistos. Prova disso é que nosso faturamento total (PGBL e<br />
VGBL) cresceu 53,25% entre agosto de 2007 e agosto de 2008. Um dos melhores resultados do setor.<br />
Durante esse período, também tivemos um aumento significativo em nossa reserva: 33,47%".<br />
Acontece na vida - O jogo “Acontece na Vida” será distribuído aos novos e antigos clientes que fizerem<br />
depósitos a partir de R$ 1 mil na previdência da CAIXA e àqueles que contratarem um seguro de vida<br />
no banco, até o dia 29 de dezembro ou até o final do estoque do brinquedo. “A nossa preocupação é<br />
educar as pessoas quanto ao cuidado do futuro. Como sabemos que se trata de uma mudança cultural<br />
e de comportamento, buscamos estratégias lúdicas para que o aprendizado se dê de forma simples e<br />
permanente”, afirma o diretor da CAIXA VIDA & PREVIDÊNCIA. “Na prática, o jogo mostra que é possível<br />
proteger a família, o patrimônio e o futuro desde já. E quanto antes, melhor, pois o impacto no orçamento<br />
será menor.”<br />
Benefício fiscal – Final de ano é tempo de gratificação, décimo terceiro salário e férias. Momento propício<br />
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fazer a declaração completa de IR. O produto permite ao participante deduzir as contribuições realizadas<br />
no ano, até o limite de 12% da renda bruta anual, na declaração do Imposto de Renda. Dessa maneira,<br />
paga-se menos impostos no curto prazo e é possível acumular uma reserva maior de recursos, que<br />
afetará positivamente a rentabilidade dos mesmos. O imposto deduzido hoje será descontado somente<br />
no momento do resgate dos recursos. Em sua página na Internet, a CAIXA VIDA & PREVIDÊNCIA oferece<br />
um simulador moderno e eficiente, capaz de indicar ao cliente o valor a ser abatido do imposto, caso ele<br />
invista em um plano PGBL. Assim, fica ainda mais fácil comprovar as vantagens do benefício fiscal.<br />
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PROFESSORES DO ABC podem aderir aos planos com<br />
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24<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC
Que ano!<br />
Autor do livro "1968, por aí... Memórias burlescas da ditadura" conta<br />
um pouco do cotidiano dos estudantes à época<br />
Por Mouzar Benedito *<br />
Com muita justiça, o ano de 1968 virou algo<br />
mitológico na história do Brasil e do mundo,<br />
seja no plano político ou de costumes. (...) O<br />
crédito de tudo que aconteceu, inclusive aqui, costuma ser<br />
dado aos estudantes franceses que abalaram a república<br />
de De Gaulle em maio daquele ano. Tudo começou com<br />
uma greve contra uma reforma universitária, e a coisa foi<br />
se radicalizando e virou um protesto generalizado, com<br />
batalhas de rua contra a polícia.<br />
Mas a coisa não foi bem assim, para nós brasileiros.<br />
Nossos protestos começaram antes, contra o acordo MEC-<br />
Usaid, contra o imperialismo e contra a ditadura em que<br />
vivíamos. No dia 28 de março, portanto bem antes do<br />
famoso Maio de 68 francês, houve um protesto estudantil<br />
no restaurante da Universidade Federal do Rio de Janeiro,<br />
conhecido como Calabouço, e a repressão foi muito<br />
violenta. Na ocasião, morreu um estudante, Edson Luís de<br />
Lima Souto, de apenas 18 anos. (...)<br />
Nossa luta era outra. Não vivíamos numa democracia<br />
como os estudantes franceses. Aqui tínhamos uma ditadura<br />
submissa aos interesses do capitalismo internacional,<br />
especialmente dos Estados Unidos, e queríamos o fim<br />
tanto da ditadura quanto do imperialismo.<br />
Isso explica uma coisa que muita gente não<br />
compreende até hoje: a vaia a Caetano Veloso num<br />
festival de música da Globo, em agosto de 1968, no<br />
Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo<br />
(PUC-SP). A música dele tinha como título o lema dos<br />
estudantes franceses, “É proibido proibir”, enquanto os<br />
estudantes brasileiros se identificavam mais com a música<br />
“Pra não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré,<br />
apresentada um pouco antes. (...)<br />
Isso não significa que estivéssemos desligados<br />
do que acontecia no mundo. Vibrávamos com a derrota<br />
que os vietnamitas impunham aos poderosos EUA e seus<br />
aliados, cultuávamos o mito Che Guevara que se iniciava<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
25
(ele foi morto menos de três meses antes do início de<br />
1968), usufruíamos a chegada da pílula anticoncepcional<br />
que acabou com o mito da virgindade, acompanhávamos<br />
os acontecimentos da China, onde ocorria a “Revolução<br />
Cultural” com seus muitos excessos, nos informávamos<br />
sobre o movimento hippie que ocorria nos Estados<br />
Unidos e que logo chegaria aqui, com o lema “paz e amor”,<br />
e muitos de nós (não eu) eram apaixonados pela música<br />
dos Beatles.(...)<br />
Em 13 de dezembro daquele ano, a ditadura<br />
radicalizou, com a edição do Ato Institucional nº 5, o<br />
famigerado AI-5, que, entre muitas outras coisas ruins,<br />
permitia à polícia prender sem motivos e, indiretamente,<br />
torturar e matar opositores. Para o ex-reitor da USP e<br />
então ministro da Justiça, Gama e Silva, ainda era pouco.<br />
Ele queria mais, babava por sangue. E o mitológico ano de<br />
1968 terminou com o início de uma nova fase na história<br />
do Brasil, de violência, medo, prisões, tortura, morte e<br />
exílio. Mas também de muita esperança.<br />
O típico “meia-oito”<br />
Barba ou cavanhaque, cabelos compridos, calça<br />
jeans e camiseta, sandálias (...) alguma novidade? Hoje,<br />
não, mas na época era. Até então, a maioria das empresas<br />
exigia que seus empregados não operários usassem<br />
roupas formais, gravata, cabelo arrumadinho, barba feita<br />
todos os dias e calçados engraxados. (...)<br />
Cabeludo podia ser considerado adepto da Jovem<br />
Guarda, fã de Roberto Carlos, coisas por aí. Mas barbudo,<br />
não! Barbudo era de esquerda. Pelo menos era o que<br />
26<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
pensava quase todo mundo, com uma certa razão. Os<br />
guerrilheiros da Revolução Cubana eram barbudos. Mas<br />
para se infiltrar entre os estudantes, muitos policiais<br />
também deixaram a barba crescer. Um dos policiais mais<br />
sádicos do Dops tinha o apelido de JC, iniciais de Jesus<br />
Cristo, por causa do cabelo e da barba compridos.<br />
Já havia muitas repúblicas de estudantes antes<br />
disso, mas a partir daí “morar em comunidade”, como<br />
alguns diziam, se tornou quase uma obrigação. Até casais<br />
não estudantes entravam nessa.<br />
(...) A universidade era muito melhor do que hoje,<br />
mas – pelo menos na USP – aprendíamos muito mais nos<br />
corredores do que nas salas de aula. Procurávamos nos<br />
“embasar” sobre qualquer assunto novo, estudando muito,<br />
discutindo, questionando. Nos corredores e no pátio do<br />
prédio de Geografia e História, onde estudei, havia sempre<br />
grupos se reunindo para discutir alguma coisa, inclusive<br />
aos sábados e domingos.<br />
O “meia-oito” típico podia ser chamado de um<br />
monte de coisas, como radicalóide, revolucionário de<br />
boteco, sonhador, iconoclasta, maluco... mas não de<br />
alienado, de desinformado ou qualquer coisa por aí.<br />
Fazendo história<br />
Em São Paulo, duas instituições que podiam ser<br />
consideradas os principais focos de oposição à ditadura<br />
eram a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP,<br />
com sede na rua Maria Antônia, na região central da<br />
cidade, mas com muitos cursos já na Cidade Universitária,<br />
e o Crusp, Conjunto Residencial da USP. Eu estudava
naquela faculdade e morava no Crusp. Não era líder<br />
de nada, embora tenha sido da direção do Centrinho<br />
acadêmico de Geografia e depois representante dos<br />
alunos na Congregação da faculdade.<br />
Para quem não viveu aquele momento, parece<br />
hoje que éramos militantes 24 horas por dia, só pensando<br />
em política. Não era bem assim, nós nos divertíamos<br />
bastante também. (...) Além de namorar muito, ouvíamos<br />
muita música, bebíamos, sambávamos... e gozávamos a<br />
ditadura! Fazíamos tudo que um jovem de hoje faz, só que<br />
íamos além disso, tínhamos uma perspectiva histórica e<br />
uma luta.<br />
Nunca me filiei a nenhuma organização política,<br />
mas tinha boas relações com muitas, às vezes fazia umas<br />
panfletagens em bairros operários e outros trabalhinhos<br />
assim. Havia muita gente igual a mim, e muitos de nós nos<br />
reuníamos num boteco barateiro da entrada da Cidade<br />
Universitária, o Bar da Tia Rosa. Quando começávamos<br />
a nos sentir em risco, com a polícia nos rodeando,<br />
procurando saber o que fazíamos de “sério” contra a<br />
ditadura, promovíamos uma culhãozada de boi no Bar da<br />
Tia Rosa (...) Ter fama de bagunceiros fazia bem pra saúde.<br />
Cadeia para todos<br />
Muitos de nós tivemos nossas passagens pela<br />
polícia, seja por uma noite, por alguns dias ou por muitos<br />
anos. Depois a coisa engrossou, a tortura tornou-se rotina<br />
e foi mais aprimorada, mais cruel e covarde, matava-se<br />
presos...<br />
Mas ainda em 68, mesmo dentro da cadeia,<br />
procurávamos incomodar os caras. Lembro-me que<br />
quatro dias depois de instituído o AI-5, uma invasão<br />
militar prendeu quase todos os moradores do Crusp, mais<br />
de 1.200 estudantes. Os que escaparam foi porque não<br />
estavam lá na madrugada de 17 de dezembro ou porque<br />
estavam de sentinela e fugiram quando chegou aquela<br />
imensidão de soldados. A grande maioria saiu da cadeia<br />
na noite seguinte, sobrando apenas 78 de nós, divididos<br />
em três celas do presídio Tiradentes (que sacanagem pôr<br />
o nome dele num presídio). Vimos que em uma cela em<br />
frente tinha umas figuras prestando atenção nas nossas<br />
tentativas de comunicar de uma cela com outra aos gritos,<br />
para propor alguma encheção de saco contra os nossos<br />
algozes. Eram policiais.<br />
Como passar as decisões das “assembléias<br />
de cela” para os colegas das outras celas, sem que os<br />
policiais ouvissem? Em cada cela havia pelo menos um<br />
estudante que falava japonês. E eles se tornaram nossos<br />
“comunicadores”, gritando para os japoneses de outras<br />
celas, que repassavam as decisões em português para os<br />
colegas presos. Ríamos muito com o olhar embasbacado<br />
dos policiais.<br />
As brigas com a direita<br />
A direita não era constituída só pelos militares, ao<br />
contrário, havia muitos civis apoiando a ditadura. Afinal, o<br />
partido do regime, a Aliança Renovadora Nacional (Arena)<br />
era o mais forte e tinha líderes que estão aí até hoje, como<br />
Marco Maciel, Jorge Bornhausen, Paulo Maluf e José<br />
Sarney, além do ACM. E tinha o Comando de Caça aos<br />
Comunistas (CCC), cuja base principal era a Universidade<br />
Mackenzie, que ficava na rua Maria Antônia, bem em<br />
frente à Faculdade de Filosofia, foco da esquerda.<br />
Não podia dar outra, e não deu. Em 68 estourou<br />
uma briga feia em que a polícia chegou... e se aliou aos<br />
mackenzistas. Destruíram a Faculdade de Filosofia, com<br />
tiros e bombas. Um estudante foi morto e vários ficaram<br />
feridos.<br />
Mas até nisso tínhamos um lado quixotesco que<br />
sempre achei interessante. Era uma época em que a<br />
América Latina estava dominada quase totalmente por<br />
ditaduras apoiadas pelos Estados Unidos e, em vários<br />
países, militantes de esquerda seqüestravam aviões e os<br />
desviavam para Cuba, para se exilar lá. No Brasil não tinha<br />
acontecido nenhum seqüestro de avião. Na briga da Maria<br />
Antônia, correu um boato de que o CCC tinha se juntado a<br />
policiais para atacar o Crusp e um líder estudantil não teve<br />
dúvidas: juntou um bando de estudantes da Faculdade<br />
de Filosofia, parou um ônibus que tinha o Aeroporto<br />
de Congonhas como destino, mandou os passageiros<br />
descerem e o desviou para o Crusp. “Seqüestro de ônibus!”,<br />
gozei quando soube.<br />
Enfim, 1968 não é lembrança só de tempos trágicos,<br />
nem só de tempos heróicos. Era também um tempo de<br />
criatividade, de militância política com humor. E como já<br />
disse, de muita esperança, de uma sensação boa de fazer<br />
parte da História.<br />
* Trechos da matéria publicada na <strong>Revista</strong> Fórum, em<br />
maio de 2008. Mouzar era estudante de Geografia na USP,<br />
em 1968.<br />
A íntegra desse texto pode ser encontrada em www.<br />
revistaforum.com.br<br />
Daniel Aarão Reis<br />
"Para uma melhor compreensão<br />
do ano, penso que deveriam também ser analisadas<br />
as forças que apostaram na contra-corrente dos<br />
movimentos sociais, as forças frias, cinzentas,<br />
reacionárias ou simplesmente indiferentes. Elas<br />
ganharam a parada em 68. Sem estudar as tradições<br />
que estas forças vitoriosas representam, corremos<br />
o risco de apenas celebrar os derrotados, o que<br />
é sempre estimulante, mas nem sempre ajuda a<br />
compreender os fundamentos sociais e históricos<br />
das derrotas. "<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
27
28<br />
Nacional<br />
Que crise é essa?<br />
Para entender essa “crise”, é preciso entender a globalização, os<br />
seus prós e os seus contras<br />
Por Ítalo Aretini*<br />
O assunto é bastante complexo, mas os seus<br />
fundamentos podem ser entendidos por todos.<br />
Como ninguém ignora, está em pleno andamento<br />
uma “crise”, com extensão e efeitos de difícil<br />
avaliação. Porém, uma coisa é certa: ela é muito grave<br />
e atingirá a todos nós. Até os próprios governos não<br />
estão bem certos. As reuniões internacionais se<br />
sucedem, mas a crise avança. Tentemos entender os<br />
fundamentos da “crise” atual, cujas raízes remontam<br />
aos primeiros anos da década de 1990 e até a<br />
períodos anteriores.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
Antecedentes<br />
Ilustração: Israel Barbosa<br />
Do final da segunda guerra mundial (1945)<br />
até 1975, aproximadamente, a economia capitalista<br />
passou por um longo período de crescimento<br />
econômico, a chamada “era de ouro”, ou anos<br />
dourados. Nesse período, a economia era baseada<br />
no “mercado”, na acumulação de capital, na<br />
exploração cada vez maior da mão de obra e no<br />
uso predatório dos recursos naturais, além da busca<br />
desenfreada do lucro a qualquer preço.<br />
Durante esses trinta anos, as economias dos<br />
países centrais (EUA, Europa Ocidental e Japão)
cresceram muito; na América Latina e em alguns<br />
países da Ásia, como a China, por exemplo, houve<br />
um razoável crescimento econômico. Mas no resto<br />
do mundo (África, Índia e países do sudeste asiático),<br />
os resquícios da descolonização e o grande atraso<br />
econômico deixaram graves problemas econômicos<br />
e seqüelas.<br />
Na década de 1970, surgiram várias crises,<br />
como a energética e a das dívidas externas em<br />
diversos países (inclusive o Brasil), o que acarretou<br />
um rearranjo dos sistemas e cadeias produtivas em<br />
nível mundial.<br />
A união (“conluio?”) que existia entre os<br />
grandes grupos multinacionais e os trabalhadores<br />
organizados dos países centrais (unidos em<br />
sindicatos fortes e poderosos), foi aquinhoada com<br />
generosas políticas sociais (“subornos sociais?”).<br />
Haviam colaborado para conter o avanço do<br />
comunismo, já não se apresentava tão favorável,<br />
com tendência à redução desses benefícios.<br />
Na década de 1980, o bloco “socialista” estava<br />
em processo de exaustão. As grandes empresas<br />
passaram a atuar em mercados globais e a divisão<br />
macro-econômica do trabalho passou a ter uma<br />
importância cada vez maior. Os mercados passaram<br />
periodicamente por grandes flutuações e os ciclos<br />
econômicos foram ficando cada vez mais curtos.<br />
A inovação tecnológica também teve um papel<br />
fundamental. A “flexibilização” (que deve ser<br />
entendida como exploração) nas economias foi<br />
enfatizada para haver estabilidade econômica.<br />
As garantias sociais que protegiam os<br />
trabalhadores foram consideradas excessivas, em<br />
mercados cada vez mais competitivos. Do lado da<br />
produção ocorreram grandes avanços tecnológicos,<br />
que aumentaram a produtividade de forma brutal.<br />
Até meados dos anos da década de<br />
1970, o ciclo 'investimento, produção, lucro', reinvestimento,<br />
mais produção e mais lucro etc,<br />
aumentava a capacidade produtiva e ocupava mais<br />
mão de obra, criando demanda para a produção.<br />
Daí em diante, os aumentos de produtividade<br />
e de produção foram obtidos basicamente através<br />
de técnicas de gestão, telecomunicações e software,<br />
sem investimentos importantes em capacidade<br />
física de produção, exigindo pequenos acréscimos<br />
de mão de obra (altamente qualificada) e, em<br />
muitos casos, desempregando a mão de obra já<br />
ocupada, considerada “superada”, causando, assim,<br />
um desemprego muito grande em áreas tradicionais<br />
de ocupação.<br />
Em paralelo, o consumismo desenfreado<br />
se alastrou pelo mundo, constituindo-se em fator<br />
importante da “globalização”. Dentro desse quadro<br />
de produção cada vez maior e internacionalizada,<br />
as operações financeiras e a movimentação de<br />
capitais cresceram de forma espantosa. Os controles<br />
governamentais sobre os fluxos financeiros foram<br />
ficando muito complexos e complicados. Novos<br />
instrumentos financeiros apareceram, como as<br />
operações de “hedge” (de salvaguarda, ou proteção),<br />
ou “derivativos” (contratos com valores derivados<br />
dos valores de outros ativos), muito empregados<br />
em contratos “a termo”, onde contratos para épocas<br />
futuras são celebrados, com preços previstos, em<br />
moeda local e/ou dólares.<br />
Como se percebe, esse panorama passou a<br />
favorecer a especulação financeira. Por exemplo,<br />
uma empresa contrata com grande antecedência<br />
a venda de dólares obtidos com exportações, a R$<br />
1,75/US$. Suponha que, na época da venda dos<br />
créditos, o câmbio efetivo (R$/US$) esteja situado<br />
em 2,35 R$ por US$, causando um prejuízo de R$<br />
0,60 por US$, ou seja, 34,3%, que pode chegar a<br />
bilhões de dólares, no caso de exportadores.<br />
Todo esse crescimento econômico<br />
desenfreado e descontrolado causou, nos anos<br />
seguintes, várias “crises” (como, por exemplo, a do<br />
meio ambiente, a da liberalização do comércio<br />
exterior, a da dívida externa e da inflação em países<br />
periféricos e pobres, a da energia – etanol & petróleo<br />
etc), causando desequilíbrios e instabilidade<br />
econômica, que passou a ser a grande preocupação<br />
dos governantes. Em paralelo, surgiu o Euro (moeda<br />
dos países da União Européia, exceto Inglaterra<br />
e outros) e o Dólar norte-americano perdeu<br />
substância, cerca de 35%, face ao dólar.<br />
A economia mundial tinha um outro grande<br />
ator, a China. A perda de substância do dólar reflete<br />
os problemas da economia norte-americana dos<br />
últimos anos, como déficits comerciais enormes,<br />
déficit público e os equívocos políticos dos seus<br />
governantes, como a participação prolongada em<br />
guerras caras e inúteis.<br />
Esse é, a“grosso modo”, o quadro problemático<br />
da economia mundial atual, onde, aos poucos, se<br />
formava a crise recém deflagrada.<br />
A crise atual<br />
As crises não têm dia e hora para acontecer.<br />
São armadas e montadas no dia-a-dia, ao longo<br />
dos anos. A eclosão que mostra com clareza cruel<br />
uma situação desastrosa ocorre quando os seus<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
29
efeitos são de uma magnitude tal e envolvendo<br />
tantas pessoas e organismos, causando danos de<br />
tal magnitude que não são possíveis ignorar.<br />
Assim, em início de 2008, a “crise atual” se<br />
mostrou com toda a sua perversidade, no mundo<br />
inteiro. A globalização cobrava a sua conta e<br />
o mundo percebeu que a era do consumismo<br />
desenfreado e das bolhas especulativas estava<br />
chegando ao fim. O “barco do capitalismo” do modo<br />
como estava navegando fazia água. Embora não<br />
sejamos adeptos incondicionais da linha “E Marx<br />
tinha razão!”, a situação atual está preocupando os<br />
liberais, neoliberais e outros "ais".<br />
O sistema financeiro dos países ricos está<br />
repleto de créditos podres, ou seja, sem possibilidade<br />
de recebimento por parte dos credores (por créditos<br />
concedidos a tomadores sem possibilidade de pagálos,<br />
mas induzidos a comprar). Na economia, existem<br />
o setor real (indústria, comércio e serviços, que<br />
realmente produzem riqueza) e o setor financeiro<br />
(bancos comerciais, bancos de investimento,<br />
financeiras etc), que cresceu enormemente.<br />
O capital do banco é uma pequena parte<br />
dos seus empréstimos; os bancos captam recursos<br />
e os emprestam. Por sua vez, os tomadores<br />
dos empréstimos depositam esses valores nos<br />
bancos, que passam a reemprestá-los, e assim<br />
sucessivamente. Assim, os bancos acabam<br />
assumindo dívidas ou responsabilidades muito<br />
acima do seu patrimônio líquido (capital próprio).<br />
Essa relação entre dívidas e/ou responsabilidades e<br />
o “patrimônio líquido” é a “alavancagem financeira”:<br />
Alavancagem financeira: Dívidas e responsabilidades<br />
Patrimônio líquido<br />
A alavancagem financeira é um instrumento<br />
importante para o sistema financeiro, porque<br />
permite o aumento do crédito e, assim, fomentar<br />
o crescimento da economia. Porém, quando é<br />
utilizado de modo leviano e irresponsável, tornase<br />
muito perigoso. Com isso, pelo uso e abuso<br />
desse mecanismo, a crise eclodiu nos EUA, onde<br />
muitos bancos estavam apresentando essa relação<br />
atingindo valores enormes, como por exemplo,<br />
segundo a grande imprensa: (Rev. Veja-ed.2080, e<br />
Jornais):<br />
30<br />
Merril Lynch -31<br />
Lehman Brothers -30<br />
Goldman Sachs -24<br />
Nível tido recomendável (seguro) -12<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
Esse cenário assemelhava-se a uma bola de<br />
neve, que cresce cada vez mais quando rola pela<br />
montanha, ou a um castelo de cartas, onde tudo<br />
cai quando é retirada uma carta na base. A crise<br />
se iniciou nos EUA, com a inadimplência crescente<br />
dos compradores de imóveis, gerando uma reação<br />
em cadeia. Pelo vulto que os fatos assumiram, os<br />
governos (norte-americano e de muitos outros<br />
países) resolveram intervir no sistema financeiro,<br />
para impedir que afunde, dando ajuda substancial,<br />
de trilhões de dólares. Vale lembrar que 1 trilhão<br />
significa mil bilhões, e um bilhão representa mil<br />
milhões, valores estes enormes.<br />
Somente para fixar a ordem de grandeza, o<br />
P.I.B. (produto interno bruto do Brasil), é da ordem 1,1<br />
trilhões de US$. A saída encontrada foi capitalizar as<br />
instituições financeiras, pela aquisição de ações por<br />
parte dos governos. Mais tarde, quando a economia<br />
se normalizar, o governo poderá revender essas<br />
ações.<br />
O empenho dos governos não se prende aos<br />
bancos ou aos banqueiros, mas aos aplicadores<br />
e poupadores, que tudo perderiam em caso<br />
de falência dos bancos, além das estruturas de<br />
produção, que necessitam do crédito. Entretanto,<br />
esqueceram das pessoas endividadas, que perderam<br />
casas e empregos. Porém, parece que os governos<br />
também estão preparando um plano de ajuda<br />
para os endividados, que terão dias difíceis pela<br />
frente, pois os seus empregos minguarão, devido<br />
à redução da produção, que depende de crédito<br />
para funcionar. Os setores mais atingidos, além do<br />
sistema financeiro, são os setores automobilístico,<br />
construção civil, de eletrodomésticos, entre<br />
outros, todos dependentes fundamentalmente de<br />
crédito, e apresentando um elevado “coeficiente<br />
multiplicador”, ou seja, os seus efeitos positivos<br />
ou negativos se propagam para toda a economia<br />
(um automóvel utiliza plástico, borracha, tecidos,<br />
aço etc; um edifício, utiliza cimento, alumínio, PVC,<br />
madeira e muita mão de obra).<br />
As conseqüências da “crise”<br />
Ainda são difíceis de prever e, sobretudo,<br />
quantificar. Não se sabe quem foi atingido e<br />
em que proporção. Por essas e outras razões, o<br />
crédito se retraiu de forma severa, as taxas de juros<br />
aumentaram e a taxa cambial (R$/US$) sofreu um<br />
brutal aumento, passando de 1,7 para 2,35, o que<br />
terá sérias conseqüências. Veja uma tentativa<br />
(rápida) para entender as “conseqüências” da crise:
- Pela turbulência nas instituições financeiras,<br />
e por não ser conhecido quem foi atingido e<br />
em que proporção, inclusive entre bancos, as<br />
instituições retraíram o crédito e aumentaram (até<br />
preventivamente), as taxas de juros, que no Brasil<br />
já eram as mais altas do mundo; o crédito pessoal<br />
(como cheque especial, cartões de crédito, por<br />
exemplo) também deverá ficar ainda mais caro.<br />
- Pelo exposto, deve haver um encarecimento<br />
do custo dos produtos, levando a uma redução<br />
nos volumes adquiridos (sobretudo automóveis,<br />
motocicletas, construção civil, eletrodomésticos<br />
etc). Bens de consumo semi-duráveis,<br />
como roupas e sapatos, também<br />
poderão sofrer redução no consumo,<br />
pelo menos em um primeiro<br />
momento;<br />
- As empresas exportadoras,<br />
com contratos de câmbio fechados<br />
(futuros) a R$/US$ a 1,75 ou 1,80, terão<br />
uma queda nas receitas e prejuízos.<br />
Deverão vender os seus créditos de<br />
exportação pelo valor contratado, salvo<br />
algum tipo de renegociação. Além<br />
disso, as linhas crédito internacionais<br />
estarão difíceis. Entretanto, a apreciação do US$ em<br />
alguns casos poderá baratear os preços dos seus<br />
produtos internacionalmente, facilitando assim as<br />
exportações;<br />
- A produção que utiliza insumos e matériasprimas<br />
com quotação em US$ terá aumentos de<br />
custos e de preços, assim como o comércio;<br />
- As empresas com dívidas em US$ deverão<br />
dispor de muitos mais Reais para adquirir os dólares<br />
para amortizar essa dívidas;<br />
- Como é possível perceber, o nível de<br />
emprego tenderá a se reduzir, pelo menos no início,<br />
podendo levar a um aumento da inadimplência e<br />
acarretando um grande número de revisões de<br />
contratos; a carga tributária poderá pesar mais, pois<br />
o contribuinte irá recolher impostos em má fase de<br />
retração, sobre operações feitas em uma fase “boa”<br />
da economia. Exemplo: a pessoa teve um bom<br />
salário em 2008, mas pagará o valor da Declaração<br />
de Ajuste-IRPF no ano de 2009, no qual ele poderá<br />
estar inclusive desempregado.<br />
Qual a duração da crise?<br />
Quanto irá durar essa crise e quando tudo<br />
voltará “ao normal”? Não há condições de afirmar<br />
"Quanto irá durar essa<br />
crise e quando tudo<br />
voltará ao normal?<br />
Não há condições<br />
de afirmar nada! À<br />
primeira vista, essa<br />
crise deve durar até<br />
meados ou final de<br />
2009. Quem sabe?"<br />
nada! À primeira vista, essa crise deverá durar até<br />
meados ou final de 2009. Quem sabe? Porém, uma<br />
coisa é certa: automóvel em 80 meses, com juros de<br />
0,5% a.a.? Nunca mais, pelo que é dado inferir.<br />
O governo brasileiro também tomou<br />
medidas quanto à crise, no sentido de aumentar<br />
a disponibilidade de crédito, via redução do<br />
encaixe compulsório dos bancos. Entretanto,<br />
aparentemente está enfrentando dificuldades com<br />
o sistema financeiro, que não está repassando esses<br />
recursos à produção e ao consumo.<br />
Quais as conseqüências<br />
no setor da educação?<br />
É muito difícil prever o<br />
que vai acontecer, mas algumas<br />
conseqüências são passíveis de<br />
visualizar:<br />
a) Muitas instituições<br />
particulares terão dificuldades<br />
financeiras e até poderão deixar<br />
de existir. Atualmente já existem<br />
problemas;<br />
b) As instituições públicas poderão sofrer<br />
cortes de verbas, em função de revisões de<br />
orçamento no poder público;<br />
c) Como conseqüências decorrentes, poderá<br />
ocorrer um aumento da evasão nas instituições<br />
particulares, ou um aumento significativo da<br />
inadimplência do alunato, o que obrigará a muitas<br />
negociações e renegociações (ou a ações na<br />
Justiça);<br />
d) Do lado do professorado, poderá haver<br />
uma tendência das mantenedoras à redução<br />
dos salários e vantagens, pela contratação de<br />
profissionais novatos e com salário menor. Uma<br />
escola é uma empresa como outra qualquer, visto<br />
que a educação está virando “mercadoria”. Somente<br />
a união com as entidades de classe (sindicatos)<br />
pode ser uma defesa válida;<br />
e) Investimentos em novas unidades, poderão<br />
ser adiados, até a tempestade amainar.<br />
*Ítalo Aretini é professor de Economia na FSA/EX,<br />
EAESP/FGV e sócio do SINPRO ABC.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
31
32<br />
Cultura<br />
Bossa<br />
“Um” pode parecer pouco. Mas<br />
apenas um violão é o suficiente<br />
para fazer qualquer pessoa viajar<br />
ao som de uma boa música. E,<br />
há 50 anos, os brasileiros e o<br />
mundo podem embarcar em<br />
“viagens” ao som da Bossa Nova<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
sempre<br />
nova<br />
sxc.hu<br />
Há 50 anos, uma nova forma de tocar<br />
samba dava início a um gênero<br />
musical admirado até os dias atuais:<br />
a Bossa Nova. Uma roda de amigos,<br />
um violão e o amor serviram de inspiração para<br />
grandes composições da Bossa Nova, como, por<br />
exemplo, as canções de João Gilberto, Tom Jobim<br />
e Vinícius de Moraes. A princípio, o novo gênero<br />
conquistou o Rio de Janeiro, que foi produtor e<br />
divulgador da Bossa Nova, mas logo, o mundo se<br />
rendeu a esse estilo musical.<br />
Para aqueles que não conhecem a história da<br />
Bossa Nova, o professor Herom Vargas esclarece:<br />
“Surgida no final da década de 50, além de um<br />
gênero musical derivado do samba, a Bossa Nova
é, também, um jeito de tocar e cantar, que leva em<br />
conta a sutileza e a proximidade entre o cantor e<br />
o ouvinte”. Talvez seja por isso que, em muitas<br />
canções, ocorra tanta identificação entre aquele<br />
que está apreciando a música e a letra cantada. É o<br />
que popularmente falamos “foi feita para mim”.<br />
Jobim, João Gilberto e Vinícius são citados<br />
pelo professor Herom como os três criadores da<br />
Bossa Nova, mas Baden Powell, Carlos Lyra, Ronaldo<br />
Bôscoli, Roberto Menescal, Nara Leão, Sylvia Telles,<br />
Os Cariocas, Zimbo Trio, Oscar Castro-Neves e Eumir<br />
Deodato completam a lista dos grandes ícones<br />
musicais do gênero cinqüentenário.<br />
Brasil no exterior<br />
A cena às vezes se repete. Quando<br />
acompanhamos entrevistas de cantores e outros<br />
artistas internacionais, não é difícil que, ao serem<br />
questionados a respeito da música brasileira no<br />
exterior, respondam cantando ou<br />
citando trechos de obras conhecidas<br />
como, por exemplo, “Garota de<br />
Ipanema”, “Águas de março”, “Samba<br />
do avião”, “Eu sei que vou te amar” ou<br />
“Wave”.<br />
Para o Brasil, isso é um belo<br />
retrato e sinônimo de valorização<br />
cultural. “Depois que a Bossa Nova<br />
foi para os Estados Unidos, tornou-se<br />
um dos gêneros musicais brasileiros<br />
mais conhecidos no mundo”, comenta<br />
Vargas, “claro que não é tão representativo quanto<br />
o próprio samba”, completa o professor. “É um salto<br />
de qualidade na técnica musical para a música<br />
brasileira”, observa Herom.<br />
Bossa sempre Nova<br />
Cinqüenta anos se passaram e o estilo da Bossa<br />
Nova, para alguns músicos, se parece com batidas<br />
de gêneros mais atuais. Prova disso é a cantora<br />
Fernanda Porto, que em suas entrevistas destaca “as<br />
possibilidades de misturar sons da Bossa Nova com,<br />
por exemplo, a música eletrônica”. Com fusões dos<br />
estilos, vistas nas pistas de dança nos últimos anos,<br />
as canções antigas ganham toque contemporâneo.<br />
Exemplo mais conhecido é a música “Só tinha de<br />
ser com você”, composição de Tom Jobim e Aloysio<br />
de Oliveira, que foi sucesso na voz da cantora, no<br />
início dessa década. Além de Porto, Bebel Gilberto,<br />
"Além de um gênero<br />
musical derivado<br />
do samba, a Bossa<br />
Nova é, também,<br />
um jeito de tocar e<br />
cantar, que leva em<br />
conta a sutileza e a<br />
proximidade entre o<br />
cantor e o ouvinte"<br />
Fernanda Takai e outros artistas também utilizam<br />
as influências musicais e transformam a Bossa em<br />
sempre Nova. “Alguns cantores mantêm viva a<br />
chama da Bossa Nova, como as cantoras Joyce e<br />
Leila Pinheiro, sem esquecer do pessoal das antigas<br />
que continua atuando: João Gilberto, Edu Lobo, por<br />
exemplo”, completa Vargas.<br />
Qualidade x modismo<br />
Hoje em dia, pouquíssimas rádios destinam<br />
a programação à música popular brasileira, seja<br />
ela atual ou não. Cantores e conjuntos sazonais e<br />
músicas de duplo sentido (às vezes de qualidade<br />
discutível) ganham destaque em diversas emissoras,<br />
enquanto os apreciadores da boa música têm de se<br />
contentar com uma ou duas alternativas.<br />
Não podemos falar em competição entre<br />
estilos, porque se trata de opção do ouvinte. O que<br />
sabemos é que as músicas “de moda” passam, o que<br />
é bom, contrariando o dito popular,<br />
fica (e não dura pouco). “Como a Bossa<br />
Nova é música de qualidade, pode ser<br />
ouvida em qualquer tempo. Até hoje,<br />
tem forte marca”, comenta o professor<br />
Herom, “gêneros da moda sempre<br />
existiram e o que chamamos de música<br />
sem qualidade, também”, completa. “A<br />
Bossa Nova é marcada pela qualidade<br />
técnica musical, acordes dissonantes,<br />
melodia trabalhada, arranjos criativos.<br />
Mesmo quando a Bossa Nova era<br />
sucesso, o que mais tocava nas rádios eram outros<br />
gêneros. Sempre houve e sempre haverá música de<br />
consumo mais imediato e outra que não tem data<br />
de vencimento e pode ser ouvida sempre”, ressalta<br />
o professor Herom Vargas.<br />
Bossa na sala<br />
A pedido da redação da <strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong>,<br />
o docente Herom Vargas sugere uma forma de<br />
atrelar a Bossa Nova com atividades em salas de<br />
aulas. “A partir das canções, é possível pensar<br />
em estudar a época do desenvolvimentismo do<br />
período JK”, indica o professor. “Nos anos 50, muitas<br />
propagandas usavam a expressão Bossa Nova para<br />
apresentar produtos modernos para a vida urbana<br />
que se desenvolvia”, finaliza Vargas.<br />
Fica registrada a sugestão. Boa aula, boa<br />
música, bom conhecimento!<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
33
Nova<br />
34<br />
Educação<br />
língua portuguesa<br />
Novas regras começam a valer a partir de janeiro de 2009<br />
São detalhes que fazem diferença na<br />
hora escrever. Hífen, trema e alguns<br />
acentos sofrerão mudanças a partir da<br />
reforma na Língua Portuguesa.<br />
No final do mês de setembro, o presidente<br />
da República, Luiz Inácio Lula da Silva promulgou<br />
o protocolo da modificação e regulamentação do<br />
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.<br />
De acordo com informações do Ministério<br />
da Educação, “o acordo representa a simplificação e<br />
o aprimoramento da língua em todos os países da<br />
comunidade lusitana”.<br />
A partir de 1º de janeiro de 2009 a reforma será<br />
implantada e, até 2012, conviverão as ortografias<br />
da maneira antiga e a prevista no acordo. Com isso,<br />
o MEC substituirá os livros didáticos com a nova<br />
ortografia.<br />
O que muda?<br />
No portal do Ministério da Educação são<br />
retomadas algumas declarações do filólogo Antônio<br />
Houaiss (1915-1999), principal negociador brasileiro<br />
do acordo ortográfico. Para ele, não deve haver<br />
uniformização, já que a língua é dinâmica e atrelada<br />
às tradições culturais.<br />
Ao todo, cerca de 20 mudanças ocorrerão,<br />
sendo algumas o fim do trema, alterações no emprego<br />
do hífen, inclusão das letras k, w e y no alfabeto e<br />
transformações na formas de acentuação.<br />
O Diário Oficial da União, com a íntegra do<br />
Histórico<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
decreto assinado pelo presidente Lula e as mudanças,<br />
está disponível em nosso site www.sinpro-abc.org.<br />
br.<br />
Opiniões<br />
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa<br />
esclarece, no site oficial da organização, as vantagens<br />
das mudanças. “O Português é língua oficial em<br />
oito Estados soberanos, mas tem duas ortografias,<br />
ambas corretas, a de Portugal e a do Brasil. Existem<br />
desvantagens na manutenção desta situação e a<br />
língua será internacionalmente tanto mais importante<br />
quanto maior for o seu peso unificado. Assim, no<br />
plano intracomunitário, a dupla grafia dificulta a<br />
partilha de conteúdos, no plano internacional, limita<br />
a capacidade de afirmação do idioma, provocando,<br />
por exemplo, traduções quer literárias quer técnicas<br />
diferentes para Portugal e Brasil”.<br />
Por outro lado, José Saramago, escritor<br />
português, criticou a reforma ortográfica, em<br />
entrevista à Folha de São Paulo. Na ocasião,<br />
Saramago declarou: "Parece que querem transformar<br />
o português em um húngaro que ninguém fala.<br />
Não sei o que temos a ganhar com isso, mas sei que<br />
temos muito a perder". "O português de Angola e de<br />
Moçambique são muito diferentes do que é falado<br />
em Portugal ou mesmo aqui no Brasil, é claro. Obrigar<br />
esses países a perderem suas características não pode<br />
ser bom. Quanto mais se complica, a língua se torna<br />
mais rica, com mais palavras. O idioma é um corpo<br />
em constante movimento”, completou o português.<br />
Em 1990, os presidentes dos sete países onde a língua portuguesa é idioma oficial haviam assinado um tratado ortográfico<br />
que deveria vigorar em 1994. Nesse ínterim, os países africanos passaram por dificuldades políticas ou guerras civis. Também<br />
após esse prazo, o Timor Leste tornou-se independente, em 1999, e a CPLP foi criada em 1996. Com o Decreto Legislativo nº<br />
54, de 18 de abril de 1995, o Decreto Legislativo nº 120, de 12 junho de 2002, e o protocolo modificativo de julho de 2004, a<br />
unificação ortográfica ganhou os contornos do atual acordo.<br />
Fonte: MEC
Veja, educação, vinho e o país<br />
Por Jorge de Barros**<br />
A<br />
revista “VEJA” não se contenta mais<br />
em ofender nossa inteligência, ela<br />
quer reescrever a história e (um<br />
horror!) moldar as gerações futuras.<br />
Na série de recentes ataques aos professores, os<br />
“showrnalistas” citaram o professor Paulo Freire<br />
como “personagem arcano sem contribuição efetiva<br />
à civilização ocidental” * e “autor de um método de<br />
doutrinação disfarçado de alfabetização” (edição<br />
2074, pág. 82). Interessante é que, na mesma edição,<br />
numa matéria sobre o leilão dos bens do Barão<br />
Cyril Rudolf Goldschimidt-Rothschild (ex-marido da<br />
apresentadora Márcia Goldschimidt), ao enumerar<br />
os feitos da família, encontramos a seguinte pérola:<br />
“para além das finanças, o ramo francês e inglês<br />
deram outra contribuição importante à civilização * : o<br />
primeiro passou a produzir o Châteu Lafite Rothschild,<br />
e o segundo, o Châteu Mouton Rothschild - dois<br />
dos melhores vinhos do mundo” (pág. 123). Ora,<br />
não é simplesmente SINTOMÁTICO que o clã Civita<br />
considere muito mais relevante para a civilização um<br />
ou dois vinhos caros do que um método de educação<br />
reconhecido e aplaudido pela ONU e que foi capaz<br />
de dar dignidade a milhares de pessoas no mundo?<br />
Quanto ao restante da matéria? Uma enfiada<br />
de absurdos cujo mote principal é: os professores<br />
“doutrinam” seus alunos e a educação deve se<br />
pautar pela neutralidade. Ora, a visão de educação<br />
“politicamente neutra”, levantada pela revista, é na<br />
verdade a defesa de uma educação acrítica. E foi este<br />
tipo de educação que o regime militar desenvolveu<br />
neste país nos 60 e 70 e que nos legou algumas<br />
gerações de analfabetos políticos e cidadãos<br />
apáticos. Lentamente estamos nos recuperando dos<br />
malefícios da pedagogia liberal tecnicista, baseada<br />
na formação de mão de obra competente (e só)<br />
para o mercado de trabalho, pautada nas idéias de<br />
eficiência e produtividade a fim de corresponder<br />
aos interesses da sociedade capitalista industrial,<br />
banindo o espírito crítico e reflexivo do ambiente<br />
escolar. E parece ser esse o tipo de ensino defendido<br />
pela Veja, embora, como sempre, ela mascare as suas<br />
Artigo<br />
que queremos ser<br />
próprias inclinações políticas.<br />
Mais uma vez, SINTOMÁTICO que esses ataques<br />
aos professores ocorram num momento em que a<br />
Sociologia e a Filosofia se preparam para entrar no<br />
Ensino Médio, munidas da força de conscientização<br />
capaz de, finalmente, soterrar o tecnicismo da<br />
educação no cemitério do passado; e num momento<br />
em que o povo está encontrando novas opções<br />
criativas para seus problemas e os movimentos<br />
populares avançam e se estabelecem como forças<br />
políticas e sociais determinantes.<br />
Sou professor e me recuso a ser neutro. As<br />
ciências humanas (as mais atacadas pela matéria<br />
da revista) não se contentam com a observação e a<br />
análise distanciadas porque são capazes de perceber<br />
padrões sociais e, assim, tentar promover mudanças<br />
na sociedade. Ser crítico e politicamente ativo é<br />
o melhor exemplo que posso dar a meus alunos.<br />
Claro que não sou sindicalista na sala de aula, claro<br />
que não lhes ensino que não há outras opções, mas<br />
não posso chamar “opressão”, “fome”, “discriminação”<br />
e “exploração” por outros nomes e não posso ser<br />
neutro frente a esses fenômenos. Não posso ser,<br />
como a revista Veja, determinista, e aceitar os fatos<br />
sociais como redes de causas e conseqüências sobre<br />
as quais não posso agir concretamente. E se 78%<br />
dos meus colegas acreditam que a principal missão<br />
da escola é formar cidadãos, loas e festas, pois<br />
estamos conseguindo sair da idade das trevas (para<br />
desespero de certas instituições arcaicas da direita<br />
conservadora, de quem o citado periódico histérico<br />
é o mais dedicado porta-voz)<br />
Fico aqui só a imaginar que maravilha será o<br />
seminário “O Brasil que queremos ser” promovido,<br />
em breve, pela honrosa revista. Haverá alguma<br />
palestra sobre educação? Quem a ministrará? O<br />
diretor Aristarco?<br />
* grifos do autor<br />
** Jorge de Barros é professor de Literatura,<br />
blogueiro, poeta, estudante de Ciências Sociais e diretor<br />
do Sindicato dos <strong>Professor</strong>es do ABC<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
35
Internacional<br />
Bolívia, Evo e a Constituição<br />
contra o<br />
obscurantismo fascista<br />
Na nova Carta Magna da Bolívia, as razões da histeria da oligarquia e<br />
dos EUA contra o avanço da democracia e da justiça social<br />
"Tupac Katari, a rebelião. Evo Morales, a<br />
revolução", estampava o cartaz grudado<br />
numa das tantas paredes cheias de<br />
vida e paixão do Palácio Quemado,<br />
em La Paz. Enquanto esperava na fila das sempre<br />
elásticas agendas governamentais, comecei a ler<br />
36<br />
Por Leonardo Severo*<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
Divulgação<br />
Leonardo Severo e a cônsul geral da Bolívia, Shirley<br />
Orozco<br />
a nova Constituição Política do Estado, aprovada<br />
sob sangrentos protestos da direita. Passado pouco<br />
mais de um mês daquela visita, a oligarquia faz o<br />
sangue jorrar forte e caudaloso. O rancor e a histeria<br />
golpista se agudizam, ganhando contornos nítidos<br />
e taxativos. Criminosas explosões de gasodutos,<br />
queima de emissoras de rádios e tevês populares,<br />
destruição de prédios públicos e o mais repugnante:<br />
a inominável covardia contra os mais pobres, contra<br />
os camponeses e indígenas, a quem a oligarquia<br />
quer culpar pelo seu próprio fracasso. A palavra de<br />
ordem “Derrubar o índio” fala por si de um racismo
ancestral trazido pelos colonizadores espanhóis e<br />
sustentado política, econômica e ideologicamente<br />
pela embaixada norte-americana.<br />
Na capa azul do material de popularização do<br />
texto da nova Constituição, aprovada em dezembro<br />
de 2007, se vê no alto a bandeira vermelha, amarela<br />
e verde, com o Sim, "para construir uma Bolívia<br />
digna, soberana, democrática e produtiva". Com<br />
destaque, abaixo do brasão nacional utilizado como<br />
marca d'água, um singelo: "Para viver bem". Logo<br />
em seguida, na apresentação datada de fevereiro<br />
de 2008, o presidente Evo Morales Ayma lembra<br />
que o texto "contou com o respaldo de mais de dois<br />
terços dos constituintes de dez frentes políticas<br />
dos nove departamentos do país". "Nesta etapa de<br />
socialização e comunicação de todos os capítulos<br />
e artigos da nova Constituição Política do Estado,<br />
que devem estar respaldados em um referendo, é<br />
preciso assinalar que entre todos os bolivianos e<br />
bolivianas, do campo e da cidade, devemos buscar<br />
a unidade do país", afirmou.<br />
Passados nove meses de aprovada a nova<br />
Constituição e uma eleição consagradora, onde<br />
obteve o apoio de mais de dois terços dos eleitores<br />
(67,4%), no dia 10 de agosto, Evo Morales enfrenta<br />
a radicalização dos setores fascistas, capitaneados<br />
por latifundiários e marionetes das transnacionais,<br />
que tentam fragmentar a nação. Os mesmos que<br />
dilaceraram o corpo de Tupac Katari, em 1781,<br />
amarrando suas pernas e braços a quatro cavalos.<br />
Mal sabiam eles que ao destroçarem os membros do<br />
líder aymará, ao lhe partirem em pedaços, estavam<br />
somando consciência e multiplicando convicções.<br />
Neste exato momento, a mesma pusilanimidade<br />
se repete como ação vil dos que historicamente se<br />
apropriaram do poder e das riquezas do país, que<br />
roubavam e prostituíam para os estrangeiros.<br />
A atuação do governo boliviano nestes pouco<br />
mais de dois anos, assim como a nova Constituição,<br />
aponta para ações coletivas rumo à ruptura de um<br />
Estado colonial, pois, agora, o povo é cada vez mais<br />
sujeito e senhor de seu destino.<br />
Para contribuir com o debate e o bom<br />
combate, publicamos abaixo uma síntese do que<br />
consideramos como os artigos mais expressivos da<br />
nova Constituição, que precisa ainda ser ratificada<br />
pelo voto popular. Ao lê-la, o leitor conhecerá as<br />
razões dos oligarcas fascistas e racistas que, com o<br />
coro da mídia vende-pátria e o patrocínio ianque,<br />
se opõem ao clamor popular, com conspirações,<br />
boicotes e sabotagens.<br />
A nova Carta Magna boliviana determina<br />
ao Estado "a direção integral do desenvolvimento<br />
econômico e seus processos de planificação";<br />
aprofunda e massifica a reforma agrária; fomenta a<br />
industrialização; impede a privatização e a concessão<br />
dos serviços públicos essenciais; estabelece normas<br />
de proteção aos trabalhadores (reconhecidos<br />
como a principal força produtiva da sociedade);<br />
subordina a propriedade privada à função social e<br />
ao interesse coletivo; garante a educação pública,<br />
universal, descolonizadora e de qualidade; fortalece<br />
a democracia e a soberania popular com o voto e o<br />
serviço militar obrigatórios; impede os monopólios e<br />
o oligopólio nas comunicações, fomenta a criação e<br />
manutenção de meios comunitários "em igualdade<br />
de condições e oportunidades", garantindo o direito<br />
à retificação e à réplica, assegurando a liberdade de<br />
expressão, opinião e informação.<br />
Conhecer a nova Constituição boliviana é ver<br />
com clareza o horizonte que se descortina, vivo e rico<br />
para o povo, como as cores do arco-íris da bandeira<br />
andina, mas também trágico e lúgubre para a<br />
guarda pretoriana da ignorância e da subserviência<br />
ao amo estrangeiro.<br />
Abaixo, fragmentos do texto constitucional<br />
que aponta para a melhoria da qualidade de vida,<br />
ao presente e futuro da nação boliviana, onde<br />
reverbera o último grito de Tupac Katari: “Voltarei e<br />
serei milhões!”.<br />
POLÍTICA ECONÔMICA<br />
"A economia plural compreende a<br />
responsabilidade estatal de dirigir integralmente o<br />
desenvolvimento e a planificação com participação<br />
cidadã, a industrialização dos recursos naturais e<br />
a intervenção estatal em toda a cadeia produtiva<br />
dos recursos estratégicos. As atividades econômicas<br />
devem servir para fortalecer a soberania econômica<br />
do país, gerar trabalho digno, contribuir na redução<br />
das desigualdades, na erradicação da pobreza e na<br />
proteção do meio ambiente". (Artigos 312 a 314)<br />
"O investimento boliviano será priorizado<br />
frente ao investimento externo. Todo investimento<br />
externo se submeterá à jurisdição, leis e autoridades<br />
bolivianas". (Artigo 320)<br />
"O orçamento geral incluirá a todas as entidades<br />
do setor público, atendendo especialmente à educação,<br />
saúde, alimentação, moradia e desenvolvimento<br />
produtivo". (Artigo 321)<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
37
38<br />
DELITOS ECONÔMICOS<br />
"Não prescreverão as dívidas e os danos<br />
econômicos ao Estado" . (Artigo 324)<br />
RECURSOS NATURAIS<br />
Disposições gerais<br />
"Os recursos naturais são propriedade do povo<br />
boliviano, respeitando direitos de propriedade sobre a<br />
terra e de aproveitamento sobre os recursos naturais".<br />
(Artigo 349)<br />
"Os recursos naturais são de caráter estratégico<br />
e de interesse público para o desenvolvimento do<br />
país". (Artigo 348)<br />
"O aproveitamento dos recursos naturais deve<br />
garantir a sustentabilidade e o equilíbrio ecológico".<br />
(Artigo 342)<br />
"O Estado, através de entidades públicas,<br />
sociais ou comunitárias, assumirá o controle e direção<br />
sobre toda a cadeia produtiva referente aos recursos<br />
naturais. Para sua gestão e administração se deve<br />
garantir o controle e a participação social". (Artigo<br />
351)<br />
HIDROCARBONETOS<br />
"Os hidrocarbonetos serão administrados<br />
em toda a cadeia produtiva sob a gestão da YPFB,<br />
que poderá subscrever contratos de serviços com<br />
empresas públicas, mistas ou privadas, mediante<br />
prévia autorização legislativa. A industrialização dos<br />
hidrocarbonetos estará a cargo de uma empresa<br />
estatal. Constitucionaliza-se que serão destinados<br />
11% de impostos aos departamentos (Estados)<br />
produtores". (Artigos 361 a 363 e 368)<br />
MINERAÇÃO<br />
"O Estado é responsável pelas riquezas<br />
mineralógicas, exercerá controle e fiscalização em<br />
toda a cadeia produtiva, outorgará direitos mineiros<br />
sujeitos ao cumprimento de uma função econômicosocial.<br />
Se reconhece como atores produtivos a indústria<br />
mineira estatal, privada e sociedades cooperativas.<br />
Os grupos mineiros nacionalizados, suas unidades<br />
industriais e funções não poderão ser transferidas a<br />
empresas privadas". (Artigos 369 a 372)<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
RECURSOS HÍDRICOS<br />
"A água é um direito fundamentalíssimo para<br />
a vida, o Estado promoverá seu uso e acesso, pelo que<br />
não poderão ser privatizados nem concessionados seus<br />
serviços. Para o manejo e gestão sustentável da água,<br />
se reconhecem os usos e costumes das comunidades.<br />
O Estado regulará o manejo e gestão sustentável<br />
dos recursos hídricos e das bacias hidrográficas,<br />
segurança alimentária e serviços básicos. Todo tratado<br />
internacional sobre recursos hídricos deve preservar a<br />
soberania do país". .(Artigos 373 a 377)<br />
TERRA-TERRITÓRIO<br />
"Se reconhece a propriedade individual e<br />
comunitária sobre a terra, sujeitas ao cumprimento<br />
da função social e da função econômico social<br />
correspondentes". (Artigo 391)<br />
"A propriedade individual compreende a<br />
pequena propriedade e a propriedade empresarial".<br />
(Artigo 392)<br />
"Se proíbe o latifúndio, entendido como os<br />
imóveis que excedem a superfície máxima, que não<br />
cumpram a função econômico-social ou reproduzam<br />
sistemas de servidão ou semi-escravistas de trabalho<br />
humano". (Artigo 396)<br />
"As terras públicas serão distribuídas a<br />
indígenas, camponeses originários e afro-bolivianos".<br />
(Artigo 393)<br />
"O descumprimento da função econômicosocial<br />
ou a condição de latifúndio do lugar ocasionará<br />
a reversão da propriedade da terra". (Artigo 397)<br />
* O presente artigo<br />
integra a segunda<br />
edição do livro Bolívia<br />
nas ruas e urnas contra<br />
o imperialismo, Editora<br />
Limiar, de autoria de<br />
Leonardo Wexell Severo,<br />
assessor de Comunicação<br />
da CUT Nacional
Quatro décadas<br />
depois<br />
Por Tulio Bulcão*<br />
Além de participar ativamente do<br />
Movimento Universitário, entre<br />
1965 e 1968, fui um observador<br />
privilegiado, pois trabalhava a<br />
menos de cinqüenta metros do prédio do Ministério<br />
da Educação - mudou a capital, mas permaneceu<br />
sua estrutura. Nos quarteirões à sua volta, tudo<br />
acontecia, entre a Cinelândia, a Igreja de Santa<br />
Luzia e a Esplanada do Castelo. Acampamentos,<br />
panelaços, correrias de um lado e pancadarias,<br />
cavalarias, tiroteios de outro...<br />
E mais, fui preso, no dia 16/12/68, à noite, na<br />
Faculdade de Filosofia da UFF, e levado sob escolta<br />
armada para o 3° RI, em São Gonçalo/RJ, sendo<br />
transferido naquela mesma noite, ainda sob escolta<br />
armada, para a Fortaleza Santa Cruz, na entrada<br />
da Baia de Guanabara e enquadrado no dito AI-5,<br />
por motivos vagos e genéricos, sempre rotulados<br />
por atividades subversivas. Fui trancado em um<br />
alojamento onde já se encontravam outros presos<br />
políticos, dentre eles, dois deputados estaduais,<br />
o presidente e o 1° secretário da Assembléia<br />
Legislativa do RJ, dois vereadores de Campos/RJ,<br />
um ex-prefeito de uma cidade do interior, um líder<br />
ferroviário, um dono de cartório e um estudante<br />
presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade<br />
de Engenharia da UFF. Na mesma noite, já às 2<br />
horas de 17/12, fui embarcado em uma viatura, sob<br />
escolta armada, “para um passeio”, expressão que,<br />
Sala de aula<br />
"Olha o verso, olha o outro, olha o velho, olha o moço chegando<br />
Que medo você tem de nós, olhai, olhai... "<br />
(Pesadelo, de M. Tapajós e P. C. Pinheiro)<br />
como era do conhecimento geral, poderia significar<br />
“vamos te fuzilar” ou “vamos te jogar em alto-mar”,<br />
ou ainda, “vamos acabar com você sob tortura”.<br />
Fui transferido para o forte Rio Branco e mantido<br />
incomunicável até a véspera da formatura da minha<br />
turma.<br />
Vai daí que há muito tempo cultivo a idéia<br />
de que as mortes dos estudantes, em 1968, foram<br />
planejadas para provocar o Movimento Estudantil,<br />
criando um clima favorável ao golpe dentro<br />
do golpe, como de fato aconteceu com o Ato<br />
Institucional número 5 (AI-5), em 13 de dezembro<br />
daquele ano, quando também fui trancafiado e<br />
passei o natal atrás das grades. Finalmente resolvi<br />
buscar fundamentos para a comprovação:<br />
Zuenir Ventura trabalhava em um prédio de<br />
frente para o Calabouço, sendo testemunha ocular<br />
junto com Ziraldo, de toda a movimentação e do<br />
assassinato dos estudantes Edson Luis de L. Souto e<br />
Benedito F. Dutra, naquele 28 de março, no Rio. Em<br />
sua obra de 2008, lembra: "nos últimos vinte anos,<br />
armazenaram-se dezenas de indícios comprovando<br />
que, naquela altura do ano, as forças radicais, cada<br />
vez mais fortes dentro do governo, não mais abririam<br />
mão das medidas de exceção. A própria invasão da<br />
UnB fazia parte desse plano de empurrar o país a um<br />
impasse cuja solução levasse ao endurecimento" (p.<br />
174). E mais: "A oposição não afastava a hipótese de<br />
que os acontecimentos do Rio pudessem ter, além da<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
39
40<br />
Os blogs<br />
iniciativa estudantil, alguma inspiração militar para<br />
criar Os o diários clima indispensável virtuais viraram às medidas mania. de Famosos,<br />
exceção" (p.<br />
102). políticos e anônimos compartilham opiniões,<br />
histórias, Daniel críticas Aarão Reis e, como Filho, militante não podia de esquerda, faltar,<br />
em futilidades 1967, abriu em mão páginas de sua da candidatura internet, à chamadas presidência<br />
da blogs. UME em favor de Vladimir Palmeira e, no mesmo<br />
ano, De no acordo 29° Congresso com o site da especializado UNE perdeu a em presidência blogs,<br />
para Technorati, Luis Travassos o serviço por de sete busca votos. indicou Atualmente que mais é<br />
historiador de 35,5 milhões e professor de diários da UFF virtuais e, em sua estavam obra de<br />
1988, registrados comenta: em “Quando abril deste o estudante ano. A cada do dia, Calabouço cerca<br />
morreu de 1,2 baleado milhão no de Rio, notas alguns são ainda publicadas, puderam o atribuir que<br />
o chega crime a um 50 mil policial postagens isolado. por Mas, hora. nos dias seguintes,<br />
a Vale repressão ressaltar matava que nem outro tudo estudante o que é publicado<br />
em Goiânia.<br />
Desde em blogs, então, assim e excetuada como a na semana internet, de liberdade expressa das<br />
passeatas a realidade. em junho, Cabe ao a repressão leitor ser policial crítico continuaria<br />
e avaliar<br />
dissolvendo o conteúdo. a Busque tiros as sempre passeatas, mais<br />
banalizando fontes de pesquisas! a morte nas ruas” (p. 30).<br />
E, em entrevista com José Dirceu de<br />
Oliveira1 ''Ali, por exemplo,<br />
morreu José<br />
, vamos encontrar: ''Ali, por<br />
Guimarães. Falou-se<br />
exemplo, morreu José Guimarães. Falou-<br />
na época na 'guerra'<br />
se na época na 'guerra' entre Mackenzie<br />
e USP. Na verdade, foi uma provocação<br />
entre Mackenzie e<br />
para dar início a escalada da repressão USP. Na verdade, foi<br />
ao movimento estudantil (...) Sabíamos uma provocação para<br />
que aquilo não estava sendo feito dar início a escalada<br />
pelos estudantes da Mackenzie, em da repressão ao<br />
geral, mas por uns 100 estudantes, movimento estudantil"<br />
organizados pelo DOPS e pelo serviço<br />
secreto das Forças Armadas. Grande<br />
parte dos estudantes da Mackenzie ficou do lado da<br />
gente, lutando contra o CCC e o DOPS" (p. 140).<br />
Já Vladimir Palmeira, uma das principais<br />
lideranças (em 1968, presidente da UME, e, em<br />
1985, deputado federal Constituinte, pelo PT), em<br />
sua obra de 1988, acrescenta: "Naquele segundo<br />
semestre, a UME convocou protesto para a porta do<br />
jornal O Globo, ali perto do Carmo. A polícia chegou<br />
atirando e matou um estudante. Dias depois, ocorreu<br />
outro grande confronto, na Faculdade de Ciências<br />
Médicas, e mais um estudante foi assassinado.<br />
Tinha virado rotina" (p.163). Recentemente, no 3°<br />
Congresso do PT, encontrei o Vladimir e trocamos<br />
algumas figurinhas. Eu estava lembrando da<br />
chamada “Passeata dos 50 mil”, rumo ao tribunal<br />
militar, em que vários estudantes estavam sendo<br />
julgados. Do outro lado da avenida, o Ministério da<br />
Guerra rodeado de tanques e recrutas armados até<br />
os dentes. Qualquer bobeira poderia causar uma<br />
tragédia e ele, no controle da situação, desviou<br />
o trajeto para a Assembléia Legislativa e depois<br />
de algumas falações dispersou a multidão sem<br />
qualquer incidente.<br />
<strong>Revista</strong> do <strong>Professor</strong> - SINPRO ABC<br />
Jacob Gorender, que em 1943 era estudante<br />
de Direito na Bahia e esteve preso por três meses<br />
por ordem da ditadura Vargas, em sua obra de<br />
1987, registra: "Apesar das ações da esquerda<br />
radical, a extrema direita do regime ditatorial<br />
não as julgou suficientes para a criação do clima<br />
propício ao fechamento completo. Daí a formação<br />
de organizações paramilitares e de bandos de<br />
provocadores às ordens de diferentes chefias do<br />
alto escalão governamental" (p. 150). Sendo que<br />
"consumado o fechamento ditatorial, não era mais<br />
necessário a atuação provocadora das organizações<br />
paramilitares. O terrorismo de direita se oficializou" (p.<br />
152).<br />
Voltando a Reis Filho (1988): "No dia seguinte<br />
(21 de junho), houve a 'Sexta feira<br />
sangrenta '. Os estudantes protestaram<br />
contra os acontecimentos do dia<br />
anterior, e já se dispersavam quando<br />
a polícia chegou atirando para ferir e<br />
matar. Muitos morreram nesta tarde<br />
de sangue" (p.16); "protestos contra<br />
assassinatos resultaram em mais<br />
assassinatos. Mortes em manifestações<br />
públicas tornaram-se anônimas,<br />
banais" (...) "A polícia já não hesitava<br />
em dissolver à bala manifestações<br />
pacíficas, invadir Igrejas e hospitais"<br />
(p.18). "Em Goiânia, a polícia se permitiu<br />
atacar os manifestantes e invadir a Catedral da<br />
cidade, atirando em rapazes e moças que ali estavam<br />
refugiados, matando mais um estudante" (p. 14).<br />
Franklin Martins 2 , em entrevista a Araujo<br />
(2007), expressa sua opinião: "a manifestação que<br />
teve no Rio, quando o Congresso de Ibiúna caiu,<br />
foi reprimida a bala. E não era um PM ou outro que<br />
perdeu a cabeça, não. Passou a ser uma orientação<br />
atirar! Mas apesar de tudo ainda não tinha sido criada<br />
a condição necessária para fazer uma repressão em<br />
larga escala, o que veio com o AI-5”.<br />
Muitos morreram e poderiam ser muitos mais<br />
se acrescentarmos o número de feridos, dando uma<br />
noção da extensão do fenômeno, que atingiu as<br />
principais cidades do país, conforme Cronologia em<br />
Reis Filho (mesma obra, pp. 202 a 213):<br />
- "28 de março, Rio de Janeiro. Assassinato de<br />
Edson Luis de Lima Souto". E mais seis feridos no<br />
mesmo dia e local, dentre eles Benedito Frazão<br />
Dutra que veio a falecer logo depois, no Hospital<br />
Souza Aguiar; além de mais três feridos durante o<br />
velório;<br />
- "29 de março, Brasília. Repressão faz 20
feridos";<br />
- "30 de março, Goiânia. Polícia mata Ivo<br />
Vieira";<br />
- "12 de maio, Curitiba. Seis feridos";<br />
- "21 de junho, Rio de Janeiro. 57 feridos e três<br />
mortos";<br />
- "28 de junho, manifestações em Brasília e<br />
Porto Alegre, onde há repressão violenta";<br />
- "08 de agosto, passeata em Salvador<br />
violentamente reprimida a bala pela polícia";<br />
- "29 de agosto, Brasília. Muitos feridos graves";<br />
- "Assembléia na Praia Vermelha, no Rio, é<br />
atacada a tiros pela polícia";<br />
- "03 de outubro, São Paulo. Morto José<br />
Guimarães";<br />
- "06, 07 e 08 de outubro, São Paulo e Rio de<br />
Janeiro. Muitos feridos e mais mortos";<br />
- "22 de outubro, Vila Isabel, no Rio de Janeiro.<br />
Polícia reprime a tiros, matando um estudante e<br />
ferindo sete à bala";<br />
- "23 de outubro, Rio de Janeiro. Mais dois<br />
mortos".<br />
Cabe acrescentar que todos os Mortos Oficiais<br />
de 1968 participavam da movimentação estudantil,<br />
conforme o "Dossiê dos mortos e desaparecidos<br />
políticos a partir de 1964" (GTNM/RJ e PE - pp. 52<br />
a 55), onde encontramos uma breve biografia dos<br />
mesmos.<br />
A partir do AI-5, boa parte das lideranças<br />
Rodapé<br />
Referências Bibliográficas<br />
estudantis acabou na clandestinidade, ingressando<br />
na luta armada ou partiram para o exílio. E a política<br />
da ditadura militar, agora escancarada, passou a ser:<br />
prender, torturar, assassinar e desaparecer com os<br />
vestígios dos opositores.<br />
Como professor, achei interessante a<br />
observação do Vladimir Palmeira (1998), já que na<br />
época estávamos ocupando a Apeoesp que viria a<br />
ser um dos maiores sindicatos do Brasil: "Boa parte<br />
do pessoal de 68 é hoje professor. Quando cheguei<br />
ao Brasil (1979), o movimento de professores estava<br />
muito forte e todas as suas lideranças eram aqueles<br />
estudantes de 68" (p.193).<br />
A movimentação estudantil mundo afora teve<br />
motivação a mais variada, sendo que, no Brasil em<br />
particular, queríamos o fim da ditadura militar, além<br />
da reformulação de toda sua política universitária.<br />
Por si só tal motivação justificaria toda a agitação,<br />
mas as mortes, sem dúvida, foram provocadas por<br />
uma direita troglodita que queria mais espaço no<br />
poder.<br />
* Túlio S. Bulcão, 69, graduado em Geografia<br />
pela UFF, entre 1965 e 1968; professor da rede estadual<br />
de SP, de 1970 a 1985 e diretor de Escola até 1990;<br />
docente no 3° Grau em Santo André, desde 1973,<br />
militante da Apeoesp e Fundador do SINPRO ABC<br />
ARAÚJO, Maria do Amparo Almeida et. al. - Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de<br />
1964. Prefácio de Dom Evaristo Arns e apresentação de Miguel Arraes de Alencar. Recife: Cia. Editora de<br />
Pernambuco, 1995.<br />
ARAÚJO, Maria Paula - Memórias estudantis, 1937-2007: da fundação da UNE aos nossos dias. Rio de<br />
Janeiro: Relume Dumará, 2007.<br />
DIRCEU, José e PALMEIRA, Vladimir - Abaixo à ditadura. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo: Garamond,<br />
1998.<br />
GORENDER, Jacob - Combate nas trevas. 3ª ed. São Paulo: Ática S.A., 1987.<br />
REIS FILHO, Daniel Aarão - 68, a paixão de uma utopia. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1988.<br />
VENTURA, Zuenir - 1968, o ano que não terminou. 3ª ed. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008.<br />
1 Em 1968, era presidente da UEE/SP, foi candidato à presidência da UNE em seu 30° Congresso, em Ibiúna/SP, quando<br />
todos foram presos. Foi deputado federal, chefe da Casa Civil do governo Lula, até 2005.<br />
2 Uma das principais lideranças do Rio, integrante da "Comissão dos 100 Mil" e que, em setembro de 1969, participou do<br />
seqüestro do embaixador norte americano; depois jornalista político e, hoje, ministro da Comunicação Social<br />
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Quem<br />
PRO é<br />
FES<br />
SOR<br />
é<br />
SINPRO ABC<br />
O SINPRO ABC conta com um grande número de professores e professoras associados, que são responsáveis<br />
por conquistas como: garantia semestral de salários, pagamento de janelas e horas-atividade, descanso<br />
semanal remunerado (DSR), pagamento antecipado de férias, abono de 1/3 sobre o pagamento de férias, bolsa<br />
de estudo para dependentes, garantindo o seu poder aquisitivo, entre outros direitos assegurados através da<br />
Convenção Coletiva de Trabalho. Você, que ainda não é sócio, faça a sua parte! Vamos trabalhar ainda mais<br />
pela nossa valorização profissional e por qualidade no ensino privado.<br />
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