RAÍZES ITALIANAS EM SÃO JOÃO DEL REI - Ponte Entre Culturas
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<strong>RAÍZES</strong> <strong>ITALIANAS</strong> <strong>EM</strong> <strong>SÃO</strong> <strong>JOÃO</strong> <strong>DEL</strong> <strong>REI</strong><br />
DAURO JOSÉ BUZATTI<br />
Acervo da Galeria de Arte Moderna de Roma – Angiolo Tomasi /Museu de Arte de<br />
São Paulo/Fondazione Giovanni Agnelli<br />
A MOTIVAÇÃO<br />
Sempre senti uma acentuada curiosidade em saber como se iniciou a vinda dos<br />
primeiros imigrantes italianos, principalmente para São João del Rei, na<br />
encantadora Várzea do Marçal, onde meus avós paternos se instalaram. Aos<br />
poucos fui reunindo fragmentos esparsos dessa aventura da emigração italiana e<br />
pude reunir as peças desse quebra-cabeças na década de 80, escrevendo “Raízes<br />
Italianas em São João del Rei”. Não se trata de um extenso documentário, mas<br />
sim a associação organizada, passo a passo, dos primeiros momentos da instalação<br />
do Núcleo Colonial de São João del Rei.<br />
É um trabalho de pesquisa que somente foi possível em decorrência das<br />
oportunidades que me levaram ao Rio de Janeiro, por diversas vezes, e onde pude<br />
comprovar no Arquivo Nacional a veracidade das informações, conciliando-as com<br />
as obtidas em nosso conceituado Arquivo Público Mineiro. Este trabalho já foi<br />
citado em livros e artigos e também na bibliografia da “Altreitalie”, publicação<br />
internacional da Fondazione Giovanni Agnelli, destinada à divulgação de estudos<br />
sobre a emigração italiana e sediada em Torino, Itália.
BREVES PALAVRAS<br />
“Raízes Italianas em São João del Rei” foi publicado em 1988, como parte das<br />
festividades comemorativas do 1º Centenário Comemorativo da Instalação do<br />
Núcleo Colonial em São João del Rei. O evento ocorreu na tradicional Cantina do<br />
Ítalo, que patrocinou a festa do lançamento. Com saudade lembramos a ajuda<br />
inestimável do inesquecível Jucelino da Costa Filho, na busca de dados.<br />
O prefácio do livro foi feito pelo Presidente do Instituto Histórico e Geográfico<br />
de São João del Rei, Geraldo Guimarães, do qual extraímos algumas referências:<br />
"A nosso ver se aquilata o valor de uma obra, não pelo número de páginas mas sim<br />
pelo seu conteúdo, pela sua essência e pela sua condição de transmitir com<br />
segurança e clareza o tema focado. Isto o autor muito bem o fez. Sua condição de<br />
pesquisador, somada à emoção de ordem familiar, pelas suas origens, pelo lado<br />
paterno oriundas dos primitivos colonos italianos, sem dúvida muito influíram para<br />
o cabal desempenho do trabalho proposto.” E mais adiante:<br />
“O presente trabalho histórico de Dauro José Buzatti é, sem dúvida, valiosa<br />
colaboração à História desta região do Rio das Mortes e certamente constituirá<br />
um marco e um estímulo para outras pesquisas que certamente virão a acontecer”.<br />
Dedicatória:<br />
DEDICATÓRIA DO TRABALHO<br />
Ao perseverante Colono Italiano, que irrigou com o suor do rosto a Terra<br />
Brasileira e soube colher os frutos da Esperança! (1888 – 1988)<br />
JORNADA DE ESTUDOS SOBRE IMIGRAÇÃO<br />
ITALIANA<br />
<strong>SÃO</strong> <strong>JOÃO</strong> <strong>DEL</strong> <strong>REI</strong><br />
2007
AOS LEITORES<br />
Pelo fato de ter sua edição esgotada apresentamos, nas páginas seguintes, uma<br />
coletânea de trechos do livro “Raízes Italianas em São João del Rei”.<br />
Começaremos em 28 de agosto de 1881, quando D. Pedro II lança, no fértil Vale<br />
do Rio das Mortes, a semente de uma nova era, inaugurando a Estrada de Ferro<br />
Oeste de Minas!.<br />
A locomotiva, partindo mansamente da “briosa e fiel” São João del Rei, atravessa<br />
paisagens bucólicas e pitorescas, deslizando sobre os trilhos em direção à<br />
Estação do Sítio (hoje Antônio Carlos), localizada bem à sombra da Serra da<br />
Mantiqueira.<br />
Os tempos estavam mudando. Por todo o florescente Vale do Rio das Mortes<br />
nascera um firme desejo de expandir a lavoura e de instalar novas indústrias.<br />
Somente abrandava este desejo a perspectiva da falta da mão-de-obra, uma vez<br />
que as campanhas abolicionistas já acendiam, nos corações escravos, a justa<br />
chama da liberdade.<br />
Temendo a redução ou mesmo perda do braço escravo, fazendeiros paulistas<br />
abastados levantam então suas vozes, clamando pela vinda do imigrante. E este<br />
clamor se fez ouvir nos rincões da longínqua Itália, onde o povo e principalmente o<br />
agricultor menos afortunado, vivia subjugado por uma situação político-econômica<br />
tristonha e de perspectivas obscuras.<br />
Assim, por iniciativa desses fazendeiros, incentivados pelo Governo Imperial,<br />
começaram a chegar ao Brasil os primeiros imigrantes, principalmente do norte da<br />
Itália, as regiões mais atingidas pela crise. As montanhas e colinas das províncias<br />
venetas, lombardas e trentinas, assistem impotentes a despedida de seus filhos,<br />
que saem na esperança de voltar...<br />
Foram espalhando-se pelo Brasil, notadamente para São Paulo, Espírito Santo, Rio<br />
Grande do Sul e Santa Catarina mas, atraídos por uma propaganda bem conduzida,<br />
começam aos poucos a vir para Minas Gerais.<br />
No Vale do Rio das Mortes, entretanto, o processo de sua fixação somente foi<br />
efetivamente iniciado com a fundação do Núcleo Colonial de São João del Rei,<br />
instalado pelo Dr. Armênio de Figueiredo na vasta e alegre Várzea do Marçal.
E este fato memorável modificou profundamente a vida da pacata São João del<br />
Rei. Ao lado das modinhas e lundus surge a cançoneta; ao lado do aguardente<br />
surge o vinho; ao lado do arroz com feijão surge a polenta e contrastando com o<br />
bronzeado e a graça das brasileiras surge a alvura e beleza das italianas...<br />
Aparece então o caldeamento das raças, gerando inúmeras famílias que se<br />
arraigaram na nossa terra e de onde sobressaíram vultos que se notabilizariam na<br />
Sociedade Brasileira.<br />
Veremos, mais adiante, o desenrolar dos fatos ligados à fundação do Núcleo<br />
Colonial de São João del Rei. Antes porém visualizaremos, em linhas gerais, a<br />
situação da Itália e do Brasil no século XIX, polos do processo de emigraçãoimigração,<br />
com raízes profundas na formação social, cultural e étnica de nossa<br />
pátria.<br />
A ITÁLIA NO SÉCULO XIX<br />
Voltemos aos meados do século XVIII e encontraremos uma Itália recém-liberta,<br />
convulsionada por múltiplas insurreições de caráter nacionalista, objetivando a<br />
unificação do país. Procurava-se o entrosamento de todas as regiões, criando o<br />
sentimento nacional de italianidade. Mas séculos de isolamento e diferenciação<br />
consolidaram profundamente divergências regionais. Existiam assim venetos,<br />
lombardos, sardos, calabreses... mas não italianos.<br />
O norte da Itália, transformado em palco de lutas e combates, era ocupado por<br />
exércitos diferentes que causavam, não só danos à propriedade, mas desrespeito<br />
à dignidade da família, impedindo ou devastando plantações e aumentando a<br />
miséria por toda a parte.<br />
O Governo Italiano, após 1870, tentou enviar esforços no sentido de promover o<br />
comércio e a indústria, mas a Itália, com os seus trinta milhões de habitantes, era<br />
bastante pobre e a produção nacional mantinha-se presa às raízes agrícolas. Os<br />
métodos de cultivo eram extremamente arcaicos e tanto no norte como no sul,<br />
existiam deficiências no sistema agrícola e na organização da propriedade. No<br />
norte a presença do minifúndio era tão alarmante quanto o latifúndio no sul.<br />
O número de pessoas que viviam em dificuldades era tão grande que a um anúncio<br />
requisitando mil trabalhadores para a ferrovia da Alta-Itália responderam nada<br />
menos que 58 mil candidatos! Esse fato foi transcrito no Correio Paulistano de 3<br />
de janeiro de 1880.
A necessidade de emigração tornou-se vital, merecendo de um escritor da época a<br />
seguinte afirmação:<br />
“A emigração, para a Itália, é uma necessidade. Precisamos que<br />
partam de 200 a 300 mil indivíduos por ano para que possam encontrar trabalho<br />
os que ficam”.<br />
Acrescente-se ainda que, além dos produtos do norte da Itália, também a mãode-obra<br />
disponível deixou de ser absorvida pelo poderoso mercado austríaco. O<br />
clima de incerteza, os temores da guerra criados pela possibilidade de novos<br />
conflitos com a Áustria e a pobreza colocaram principalmente venetos, lombardos<br />
e trentinos em situação demasiadamente aflitiva e numa posição em que a maior<br />
segurança adviria da opção pela saída do solo pátrio.<br />
E partem para a América, descrita pelos países que desejam acolhê-los como<br />
sendo a “terra da promissão”.<br />
O BRASIL NO SÉCULO XIX (E <strong>EM</strong> ESPECIAL MINAS GERAIS)<br />
No Brasil, o problema da mão-de-obra tornara-se agudo, principalmente depois da<br />
abolição do tráfego de escravos, em 1850. A necessidade de mão-de-obra<br />
agravava-se mais ainda devido a uma cultura relativamente nova, o café, qu<br />
rapidamente se desenvolvia, ocupando áreas cada vez maiores. Ao contrário do<br />
que ocorria em outras províncias, em Minas Gerais o problema já não foi tão<br />
grave, uma vez que possuía a maior população escrava do país (cerca de 170 mil<br />
escravos, pelo censo de 1872) e foi fácil o seu desvio da mineração, então<br />
decadente, para a agricultura, principalmente para a lavoura cafeeira da Mata e<br />
do Sul. Já em São Paulo o café, penetrando para o oeste da província, demandava<br />
mão-de-obra abundante, tanto para formar novos cafezais como para manter os<br />
já existente e, para isto, os escravos já rareavam.<br />
Nasceram então duas correntes de opinião relativas à imigração: uma defendendo<br />
a necessidade de atrair o imigrante, sem o objetivo de substituir o escravo e<br />
favorável à sua fixação em núcleos coloniais; a outra desejando, de imediato,<br />
através da imigração em massa, trazer mão-de-obra para o trabalho nas<br />
fazendas.<br />
Minas Gerais estava em perfeita concordância com a política do Império,<br />
favorecendo o povoamento de seu solo através da criação de núcleos coloniais.
Os imigrantes, principalmente de origem alemã, que chegaram em Minas a partir<br />
de 1856 formaram então as colônias do Mucurí, D. Pedro II e Urucu. Mas a falta<br />
de recursos financeiros, o desinteresse por parte do Governo e do particular,<br />
inibiu a continuação da política de povoamento, reduzindo-se a esses três núcleos,<br />
que apesar das dificuldades, conseguiram progredir.<br />
Sendo enviado inicialmente para as regiões onde haviam as grandes fazendas de<br />
café, como Ribeirão Preto, o italiano foi substituindo o escravo às vésperas da<br />
abolição.<br />
Os procedimentos relativos à imigração variavam assim, de província para<br />
província e o Governo Imperial, desejando discipliná-los, criou a Inspetoria Geral<br />
de Terras e Colonização, em 23 de fevereiro de 1886, pelo Decreto nº 6.129.<br />
Nele todas as atividades ligadas à fiscalização do bem estar do imigrante foram<br />
previstas, desde a inspeção das condições dos navios até a sua instalação em<br />
núcleos coloniais. De especial importância como infraestrutura de suporte do<br />
sistema imigratório criou-se a Hospedaria, cujo Diretor, diretamente<br />
subordinado ao Inspetor, deveria propiciar ao imigrante condição adequada de<br />
alimentação e hospedagem.<br />
Também as Minas Gerais, temendo os reflexos da extinção da escravatura,<br />
fazendeiros de café e industriais que se encontravam em fase de expansão<br />
começaram a se articular para trazer o imigrante.<br />
Às vésperas da abolição, ou seja, a 20 de janeiro de 1888, o Governo Provincial<br />
baixou o Regulamento nº 108 onde, além de outras determinações, estabelecia-se<br />
as normas para o funcionamento da Hospedaria dos Imigrantes e para a criação<br />
de Núcleos Coloniais oficiais e particulares.<br />
<strong>Entre</strong> os núcleos coloniais criados pelo Governo encontra-se o de São João Del<br />
Rei, instalado na Várzea do Marçal e na ex-fazenda de José Theodoro, que<br />
foram, como veremos adiante, também denominados por Bolonha e Ferrara,<br />
respectivamente, devido à origem dos italianos que os formaram.<br />
A grande verdade, no entanto, é que o Brasil não estava preparado para um<br />
empreendimento de tal envergadura. Além disso, a eminente transformação do<br />
Império em República, alterava os compromissos assumidos, e em 10 de janeiro de<br />
1889 lê-se no “A Província de Minas – nº 565 – Ouro Preto”:
“Esses fatos mais recentes, combinados com outros mais tristes e<br />
deploráveis, mostram bem o que é e o que tem sido o malfadado serviço de<br />
imigração para esta província”.<br />
Veremos que somente pessoas bem intencionadas, como o Dr. Armênio de<br />
Figueiredo e o Cel. Severiano Nunes Cardoso de Rezende, conseguiam modificar<br />
este estado de coisas. O seu trabalho dedicado, honesto e a sua firmeza de<br />
propósitos, foram realmente os pilares sobre os quais construiu-se o Núcleo<br />
Colonial de São João del Rei. Não obstante as inúmeras dificuldades encontradas,<br />
procuraram instalar condignamente os imigrantes, o que pode ser comprovado<br />
pelos relatos minuciosos e precisos do Engenheiro Chefe.<br />
Após 107 anos que os fatos aqui narrados aconteceram, não podemos esquecer<br />
que os nomes e as personalidades marcantes desses homens, indelevelmente se<br />
liga a todos eles.<br />
São João del Rei<br />
O NÚCLEO COLONIAL DE <strong>SÃO</strong> <strong>JOÃO</strong> <strong>DEL</strong> <strong>REI</strong><br />
Estamos em 1881! Situada em local muito aprazível, de clima ameno e saudável, na<br />
margem esquerda do rio das Mortes, encontramos a progressista São João Del<br />
Rei!. (A pintura de R. Walsh mostra São João del Rei em 1829).
O córrego do Tijuco (depois Lenheiro) corre de sul à norte, dividindo-a em dois<br />
bairros: o da Matriz e o de S. Francisco. As ruas do bairro da Matriz são, em<br />
geral, mal alinhadas, contrastando com as do bairro de S. Francisco que são retas,<br />
com casas bem arejadas, possuindo, sem exceção, um pomar ou um vergel, que<br />
lhes dá um aspecto repousante e agradável. Unindo os dois bairros duas soberbas<br />
pontes de cantaria, cada uma com três alçadas.<br />
Contava São João Del Rei, nesta época distante, com cerca de 1600 casas de um<br />
só pavimento, distribuídas em 33 ruas e 10 praças. <strong>Entre</strong> essas casas haviam 80<br />
sobrados, alguns dos quais de notável beleza. <strong>Entre</strong> outros, sobressaíam os<br />
seguintes edifícios públicos: o teatro, o prédio nacional da extinta Intendência e<br />
Fundição de Ouro, o sólido edifício do Paço Municipal com a cadeia instalada no<br />
seu pavimento inferior e a Santa Casa de Misericórdia. Dedicados à religião<br />
católica contavam-se onze igrejas, entre as quais a admirável Matriz de Nossa<br />
Senhora do Pilar, a de Nossa Senhora das Mercês, a de Nossa Senhora do Carmo<br />
e a de S. Francisco de Assis.<br />
A sua população era então de aproximadamente 11 mil almas.<br />
Saindo da cidade em direção ao norte, além de algumas pontes, encontramos a do<br />
Porto, construída sobre o rio das Mortes e a mais notável da Comarca, pela sua<br />
extensão e solidez, toda ela em aroeira do sertão.<br />
Finalmente, estendendo-se perpendicularmente ao rio das Mortes e continuando<br />
além desse até o rio Carandaí. Deparamos com uma das mais agradáveis paisagens<br />
da terra mineira. Trata-se de uma bela planície, com uma largura variando de 250<br />
metros a 2 quilômetros, cuja área admitia-se abrigar mais de 300 mil moradores.<br />
Divide-se em duas partes, uma do Lenheiro ao rio das Mortes e a outra daí ao rio<br />
Carandaí. Essa segunda parte é de particular beleza, causando enlevo e admiração<br />
a visitantes estrangeiros que em épocas remotas a visitaram, como Auguste de S.<br />
Hilaire. É chamada Várzea do Marçal, local escolhido para a instalação do<br />
Núcleo Colonial de São João Del Rei.<br />
Essas notas foram reunidas por um ilustre são-joanense, Aureliano Corrêa<br />
Pimentel, nos idos de 1881.<br />
D. Pedro II, admirando a cultura e os princípios morais desse grande sãojoanense,<br />
o levou para a Corte, para ser professor de seus filhos... E atribuem ao<br />
Imperador a seguinte frase: “Prefiro o título de Professor às honras de<br />
Imperador do Brasil.
O Início<br />
É na pitoresca São João del Rei que, aos 8 de março de 1888, chega o Dr.<br />
Armênio, nomeado aos 10 de fevereiro, para ocupar o cargo de Engenheiro Chefe<br />
da Comissão de Medição de Terras. As finalidades da Comissão foram<br />
claramente explicitadas por ele em ofício de 22 de março, encaminhado ao<br />
Presidente da Província:<br />
“(...) comunico a V. Exª que a Comissão à meu cargo tem por fim: não<br />
só a medição e demarcação de lotes para o estabelecimento de um núcleo colonial<br />
em terras adquiridas pelo Estado, como também a discriminação de terras<br />
devolutas pertencentes ao Estado, das do domínio particular(...)”. (grafia atual)<br />
Mais tarde, em relatório datado de 30 de abril complementa:<br />
atual).<br />
“ (...) e estabelecimento de imigrantes nesse núcleo (...)” (grafia<br />
Eram então, o Presidente da Província de Minas Gerais e Inspetor Geral de<br />
Terras e Colonização, respectivamente, o Dr. Luiz Eugênio Horta Barbosa e o<br />
Tenente Coronel Francisco de Barros e Accioli de Vasconcellos.<br />
Aos 9 de março, portanto no dia seguinte ao da chegada do Dr. Armênio,<br />
assumem os cargos de Engenheiro Auxiliar o Dr. Jerônimo Francisco Coelho, de<br />
Agrimensor o Sr. Pedro Zanith e o de Escriturário o Sr. Jerônimo Euclides da<br />
Silva, como parte da equipe de trabalho. Ainda nesse mesmo mês incorpora-se à<br />
equipe o Engenheiro Ajudante Dr. José Lopes Pereira de Carvalho. Essas pessoas,<br />
durante toda a fase de instalação do núcleo colonial, trabalharam com extrema<br />
dedicação e zelo, afastando-se dos serviços que lhes foram confiados somente<br />
por motivo de doença que requeresse cuidado especial.<br />
E aos 10 de março são efetivamente iniciados os trabalhos!.<br />
Os Primeiros Trabalhos<br />
Percorrendo as terras situadas à margem direita do rio das Mortes, Dr. Armênio<br />
distribuiu o serviço a ser feito em três turmas: coube à primeira, chefiado por<br />
ele, o levantamento do perímetro de toda a região; à segunda, chefiada pelo<br />
Engenheiro Coelho, coube o levantamento das estradas, caminhos, pequenos<br />
cursos d´água e outros detalhes; à terceira coube a confecção da planta do rio<br />
das Mortes e Carandaí, chefiada pelo Agrimensor Zanith.
Os trabalhos desenvolveram-se com presteza e dentro das expectativas, pois aos<br />
30 de abril o Engenheiro Chefe comunicava que já havia organizado a planta da<br />
área e estudado a melhor forma de dividir os lotes, optando pelas<br />
“ (...) terras situadas na margem direita do rio das Mortes, onde é<br />
preferível estabelecer logo os imigrantes(...) “<br />
Dando mostras de sua meticulosidade nos trabalhos o Dr. Armênio, no intuito de<br />
registrar as variações climáticas locais, mandou instalar, no próprio escritório da<br />
Comissão, situado na praça do Matozinhos, uma estação metereológica, equipada<br />
com todos os instrumentos necessários. Três observações diárias eram feitas (às<br />
4h e 10 min, 9 h e 7 min, 16 h e 10 min). Para o Observatório Astronômico, no Rio<br />
de Janeiro, eram encaminhados diariamente por telegrama, os resultados das<br />
observações feitas às 9h e 7 min (hora do Rio de Janeiro). Cumpria-se, assim, uma<br />
determinação do Serviço Metereológico do Império.<br />
Parte da zona adquirida pelo Estado, para a instalação do núcleo colonial,<br />
situava-se no município de São José Del Rei (hoje Tiradentes). Uma<br />
comprovação do interesse e da acolhida dada à iniciativa de instalação do núcleo<br />
colonial, pode ser vista por um documento encaminhado à Inspetoria Geral de<br />
Imigração, em 24 de abril, por moradores de São José del Rei, que em parte<br />
transcrevemos a seguir:<br />
“(...) Agora constando aos abaixo assinados, habitantes desta mesma Cidade, que o<br />
Governo Imperial trata de estabelecer um núcleo colonial nas confluências dos<br />
rios das Mortes e Carandaí, medida esta de subido alcance para esta Cidade, e<br />
existindo a maior parte desse terreno sem habitação alguma, e sendo certo que<br />
ele limita-se com a Fazenda do Marçal comprada pelo Governo, os abaixo<br />
assinados, sucessores legítimos daqueles concessionários, e que sobremaneira<br />
desejam o engrandecimento e prosperidade deste lugar, vêm respeitosamente<br />
suplicar a V. Ex.ª que se digne, em seu nome, ofertar ao Governo de S. M.<br />
Imperial o referido terreno, nas margens do rio das Mortes, para nele se<br />
estender o projetado núcleo colonial (...)”. (grafia atual).<br />
Apesar de não poder contar com o Engenheiro Auxiliar Jerônimo Coelho, no<br />
período de 5 de maio a 23 de agosto, por motivo de doença, o Dr. Armênio,<br />
competentemente, dirige sua eficiente equipe de trabalho, solicitando ao<br />
Inspetor Geral, aos 10 de setembro, definição quanto ao tipo de moradia a<br />
ser construída e envia os respectivos orçamentos.
Digno de referência é o cuidado demonstrado no acerto das despesas e na<br />
realização da contabilidade da Comissão. Não obstante a lentidão do envio dos<br />
recursos pela Tesouraria da Fazenda, vê-se, pelos relatos do Dr. Armênio, a<br />
preocupação em manter absoluta correção e controle dos gastos públicos,<br />
costume que nos parece, foi há muito esquecido...<br />
As Moradias para os Imigrantes<br />
Estava se aproximando o fim do ano e também a chegada das chuvas na região. O<br />
Engenheiro Chefe, prudente e precavido, temendo uma redução ou mesmo<br />
impedimento no andamento dos serviços, oficializou a necessidade urgente de<br />
se construir as casas para moradias dos imigrantes, isto aos 10 de<br />
setembro!. Junto ao ofício encaminhou dois projetos de casas, que segundo ele,<br />
poderiam ser construídas com rapidez e economia. E chama a atenção para um<br />
detalhe construtivo interessante:<br />
“(...) Em ambos, a cobertura é de papelão e as paredes de adobe, com<br />
fundações de pedra seca, afim de proteger da umidade a parte inferior da 1ª<br />
fiada de adobes (...)” E mais adiante:<br />
“(...) O adobe é uma espécie de tijolo, com dimensões arbitrárias,<br />
feito de barro amassado com água, seco ao sol, de fácil mão-de-obra, em geral<br />
empregado nas construções aqui e de duração relativamente extraordinária (...)”.<br />
Não encontramos as plantas das casas, mas inferimos, pela lista de materiais, que<br />
no projeto indicado pelo Engenheiro Chefe, a área de construção ficaria no<br />
entorno de 40 metros quadrados.<br />
Aqui já nos deparamos com o primeiro entrave, muito comum nos<br />
empreendimentos que vinculam sua realização à promessas sem garantias. A<br />
morosidade das decisões, os entraves burocráticos e o desinteresse do Governo,<br />
associados a uma reduzida dotação de recursos forçaram a adoção de soluções<br />
improvisadas e na maioria das vezes inadequadas. Assim, ao invés das casas, o<br />
Ministério da Agricultura, por um ofício enviado ao Dr. Armênio em 5 de<br />
novembro (portanto 56 dias após o envio dos projetos das casas!) decide pela<br />
construção de:<br />
“(...) um galpão para agasalho de imigrantes recém-chegados (...)”.
O prazo, portanto, para a construção do galpão seria de apenas 30 dias!<br />
Mesmo assim, imediatamente, três projetos de um galpão suficiente para abrigar<br />
250 pessoas, com os respectivos orçamentos, foram enviados pelo Engenheiro<br />
Chefe à Inspetoria Geral em 17 de novembro. Mas as chuvas já estavam<br />
próximas e os primeiros imigrantes estavam chegando...<br />
Apesar de não terem sido encaminhados ao núcleo colonial, como veremos adiante,<br />
deram início ao movimento imigratório para a região, à partir de fins de<br />
outubro de 1888.<br />
Sabendo que o prazo estava se esgotando e que a construção de um galpão<br />
naquelas circunstâncias era totalmente inviável, o Engenheiro Chefe, aos 26 de<br />
novembro, relata que tendo em vista a urgência de se instalar imigrantes no<br />
núcleo, enviava ao Inspetor Geral as plantas de duas já construídas. Salientou que<br />
haveria a possibilidade de alojá-los convenientemente desde que fossem feitos<br />
alguns reparos. E fornece detalhes quanto à localização das mesmas:<br />
A primeira localizava-se na Várzea do Marçal, cerca de 5,5 quilômetros da<br />
Estação de Ferro Oeste de Minas, devendo acomodar 60 a 70 pessoas. O<br />
barracão vizinho à casa poderia abrigar 40 pessoas;<br />
A segunda situava-se em terras que foram de José Theodoro, na margem<br />
esquerda do rio das Mortes, próxima à linha férrea e podendo acomodar 150 a<br />
160 pessoas.<br />
Ressalta ainda que se a autorização para a execução dos reparos fosse dada, por<br />
telegrama, teria condições de prepará-las até o dia 10 de dezembro.<br />
Ali os imigrantes deveriam ficar, aguardando os recursos prometidos pelo<br />
Governo, não só para a construção de suas casas mas também para o início dos<br />
trabalhos de lavoura.<br />
Com habilidade e parcimônia o Dr. Armênio foi suprindo as necessidades básicas<br />
de instalação do núcleo, uma vez que o Ministério de Agricultura somente havia<br />
aprovado, para o período de março a dezembro, a mirrada verba de 40.000$000<br />
(quarenta mil contos de réis) para as despesas totais da Comissão. E até 30 de<br />
setembro, sem ter sido aprovada a construção das casas, constata-se, pelos<br />
minuciosos relatórios do Dr. Armênio, que as despesas já atingiam o valor de<br />
23.498$786. Se excluíssemos as despesas da própria Comissão, o restante<br />
da verba aprovada daria, aos preços vigentes na época, para a construção de<br />
apenas 55 casas!
No período de 1º de outubro a 9 de novembro ficou afastado do serviço, por<br />
motivo de doença, o Agrimensor Pedro Zanith.<br />
Movimento Imigratório antes dos Primeiros Colonos<br />
Em fins de novembro (dia 28) Dr. Armênio comunica à Inspetoria Geral que<br />
somente naquela data havia recebido o telegrama avisando-o para que se<br />
preparasse par receber as primeiras 90 famílias, para serem instaladas no<br />
núcleo colonial.<br />
Se basearmos nas declarações do Sr. Carlos Preda, cidadão italiano que há muitos<br />
anos vivia em São João del Rei, veremos que o fluxo imigratório para a região já<br />
havia se iniciado em fins de outubro, como anteriormente mencionamos. Cita<br />
que esses primeiros imigrantes foram trazidos por fazendeiros de Bom Sucesso<br />
para o trabalho na lavoura.<br />
No início de novembro (dia 7), por incumbência do Dr. Diogo de Vasconcelos,<br />
então Inspetor Geral da Imigração na Província, chegam com o Capitão Felicíssimo<br />
Pinto Monteiro mais 150 imigrantes. Ficaram alojados no Hotel Boa Vista, em<br />
frente à Estação da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Dali, no terceiro dia,<br />
foram deslocados para o trabalho em fazendas de Bom Sucesso e Oliveira.<br />
Logo depois, no dia 22 de novembro, nova leva de imigrantes é trazida pelo<br />
mesmo Capitão, de 112 imigrantes. Também ficaram hospedados no Hotel Boa<br />
Vista e dali foram deslocados para as fazendas em Bom Sucesso, Oliveira e<br />
Lavras. Desses nem todos saíram do Hotel, por falta de procura por parte dos<br />
fazendeiros ou por doenças nas crianças (principalmente sarampo).<br />
Nesta data o Coronel Severiano de Rezende havia sido nomeado, pelo Dr.<br />
Diogo de Vasconcelos, para ser o Diretor da Hospedaria Provincial de São João<br />
del Rei. Para isto ele havia alugado, em 15 de novembro, no Largo do Carmo, o<br />
mais vasto prédio que possuía a cidade. Além de vasto, arejado e limpo, tinha boas<br />
acomodações e facilmente alojaria 250 imigrantes. Anteriormente conhecido<br />
como Solar da Baronesa logo passou a ser chamado de Hospedaria.
A Hospedaria, no Largo do Carmo<br />
Para Juiz de Fora seguiu então o Sr. Carlos Preda, nomeado Intérprete e Auxiliar<br />
na Hospedaria, para receber instruções precisas, voltando, no dia 28 de<br />
novembro, com 63 imigrantes venetos e ferrarenses.<br />
Quase todos foram colocados imediatamente nas fazendas, não permanecendo na<br />
Hospedaria mais do que dois a três dias. Somente uma família, por motivo de<br />
doença, ficou nove dias. Isto porque, em resposta às circulares expedidas pelo<br />
Coronel Severiano de Rezende para os fazendeiros, estes não tardaram em<br />
buscar os imigrantes, celebrando com eles, à vista do Diretor e do Intérprete, o<br />
contrato de trabalho redigido em português e italiano. Desses imigrantes poucos<br />
deixaram mais tarde as fazendas e os que assim fizeram dedicaram-se a<br />
atividades independentes.<br />
Vemos, portanto, que tais fatos ocorreram à margem daqueles ligados<br />
diretamente à instalação do núcleo colonial. Não obstante, segundo as<br />
informações constantes do documento anteriormente citado, inúmeras<br />
dificuldades começaram a surgir para a colocação dos imigrantes que vieram<br />
posteriormente e que, saindo de Juiz de Fora se destinavam ao trabalho nas<br />
fazendas. Adiante daremos as razões que determinaram tais fatos.<br />
O “Arauto de Minas” de 22/12/1888 registra que o movimento na Hospedaria foi<br />
de 755 imigrantes o que daria uma média diária de 34 pessoas nesse período.
Preparativos para a Chegada dos Primeiros Colonos<br />
Estamos às vésperas da chegada dos primeiros colonos destinados<br />
especificamente ao Núcleo Colonial de São João del Rei.<br />
Em agosto haviam sido iniciados os trabalhos de locação e medição dos lotes e, em<br />
fins de novembro, 100 lotes já estavam convenientemente demarcados e<br />
prontos para serem entregues.<br />
Precavido e bem intencionado, em tudo demonstrando que desejava uma adequada<br />
recepção e instalação dos imigrantes, Dr. Armênio tomou todas as providências<br />
para que isto ocorresse. Assim, avisou ao Inspetor Geral que os imigrantes<br />
deveriam viajar em trem especial, para que pudessem chegar em São João del Rei<br />
entre 10 e 12 horas da manhã, possibilitando assim o transporte durante o dia e<br />
uma fácil instalação dos mesmos.<br />
No intuito de atender os imigrantes que, em virtude da hora da chegada, não<br />
pudessem ser transferidos<br />
“para as casas que vão servir de galpão”,<br />
informa ao Inspetor Geral que, por precaução, havia providenciado com o Sr.<br />
Severiano de Rezende, agasalho e alimentação no dia da chegada dos imigrantes<br />
destinados ao núcleo colonial. Mencionou que havia acertado inclusive o preço da<br />
diária, ou seja, 800 réis por adulto e 400 réis por menor.<br />
Delegou ao Dr. Jerônimo Coelho, Engenheiro Auxiliar, a atribuição de dirigir o<br />
serviço de recepção dos imigrantes bem como sua instalação provisória,<br />
transporte, verificação dos nomes e número de pessoas, orientação e tudo o que<br />
era necessário para a completa localização das famílias.<br />
Além dessas atribuições, solicitou ao Dr. Coelho para que utilizasse,<br />
imediatamente, a aptidão de cada imigrante para a construção das casas, cujo<br />
local teria que indicar, levando em consideração as condições topográficas e a<br />
facilidade de transporte.<br />
<strong>Entre</strong> outras medidas também havia providenciado a concorrência para o<br />
fornecimento de gêneros alimentícios aos imigrantes.
Estabelecera uma dieta básica para cada imigrante com idade superior a 12 anos<br />
constituída por:<br />
Açúcar mascavo ------------ 80 g<br />
Café ------------------------ 35 g<br />
Carne verde ---------------- 450 g<br />
Toucinho -------------------- 40 g<br />
Arroz ----------------------- 2 dl<br />
Feijão ----------------------- 1 dl<br />
Farinha de milho (ou fubá)- 5 dl<br />
Para crianças com idade entre 3 a 12 anos era fornecida uma dieta básica para<br />
cada duas crianças. Para as de idade inferior a 3 anos não havia o fornecimento da<br />
dieta.<br />
E aos 3 de dezembro, o Dr. Armênio organiza os últimos preparativos: orienta<br />
que o transporte dos imigrantes que fossem destinados ao território da margem<br />
direita do rio das Mortes (Várzea do Marçal) seria feito pelos meios comuns. Os<br />
que se estabeleceriam na margem esquerda do rio das Mortes (ex-fazenda de<br />
José Theodoro) seriam transportados pela Estrada de Ferro Oeste de Minas,<br />
devendo o Dr. Coelho comunicar-lhe o número e a hora para que pudesse ser<br />
solicitado o número de carros para esse fim.<br />
No dia da chegada dos imigrantes deveriam ficar alojados na Hospedaria, onde<br />
passariam a noite. No dia seguinte seriam levados para as casas que servirão de<br />
galpões e que já se achavam preparadas para recebê-los.<br />
Festa da Chegada<br />
Ainda no mesmo dia 3 de dezembro chegam os primeiros 102 colonos,<br />
constituindo 22 famílias destinadas ao núcleo. A cidade se alegra e se entusiasma.<br />
Apesar de terem passado pela Hospedaria outros imigrantes, como vimos<br />
anteriormente, para os são-joanenses entretanto, aqueles eram diferentes. Afinal<br />
vieram para permanecer. E a curiosidade e o júbilo do povo se misturam,<br />
acolhendo os primeiros colonos com alegria e acompanhando-os até a Hospedaria.<br />
Era um bloco de homens robustos e de mulheres de faces coradas, de mãos dadas<br />
com suas crianças e acompanhados pelos mais velhos, que ante a admiração geral<br />
andavam lentamente, suspirando extasiados os ares de uma nova vida
Nos rostos alegres retratavam a esperança que lhes aquecia a alma, envolvidos<br />
por uma natureza exuberante e pelo clima contagiante do entusiasmo sãojoanense.<br />
Naqueles instantes o cenário bucólico e esmaecido da florescente São João del<br />
Rei se transformava. Os novos personagens que chegavam traziam cores mais<br />
vivas e duradouras, pela força do trabalho e pelo desejo inquebrantável de<br />
vencer.<br />
Nos seus pensamentos ainda confusos se mesclavam os sonhos de ventura,<br />
afugentando de corpos extenuados os vestígios de uma longa e penosa viagem nos<br />
porões do navio que os expatriava.<br />
E sufocados por aquele torvelinho de emoções, deixavam que dos olhos cansados,<br />
diante da jovialidade e estupefação de quase todos, brotassem algumas furtivas<br />
lágrimas.<br />
À noite, após a esfuziante receptividade dos são-joanenses, é possível que os<br />
imigrantes tenham se entregado a mil devaneios, deixando que a imaginação os<br />
levasse a campos floridos e fecundos, onde não mais existisse a miséria e sim, a<br />
almejada esperança de dias melhores.<br />
No dia seguinte, ainda cansados e entorpecidos, foram levados para a Várzea do<br />
Marçal, sendo instalados na casa provisória, até que construíssem as suas. As<br />
crianças pequenas e doentes foram transportadas por lentos carros de bois, com<br />
o seu chiar lânguido e bucólico.<br />
Pressentindo a necessidade de agilizar a assistência médica, o Engenheiro Chefe,<br />
no dia 5 de dezembro, solicita ao Inspetor Geral autorização para fornecer<br />
medicamentos e atendimento médico aos que adoecessem, no que parece ter sido<br />
atendido. Mesmo assim, apesar da presteza da assistência médica, três crianças<br />
que já se encontravam enfermas faleceram e novamente as lágrimas molharam os<br />
rostos daqueles que, há poucas horas antes, choravam de felicidade...<br />
Para o Dr. Francisco de Paula Moreira Mourão, médico do núcleo colonial, foram<br />
dadas instruções para a instalação de uma enfermaria, possibilitando assim, um<br />
melhor atendimento aos doentes.
Outras levas de colonos foram chegando sucessivamente e o Engenheiro Chefe,<br />
aos 18 de dezembro, ou seja, uma quinzena após a chegada dos primeiros<br />
colonos, informa que já se achavam instalados, em 6 casas provisórias na<br />
Várzea do Marçal 371 colonos e na ex-fazenda de José Theodoro, mais 186<br />
colonos. Neste mesmo relato designa o Engenheiro Auxiliar, Dr. Coelho, para<br />
fazer a<br />
“instalação, estabelecimento e distribuição dos lotes aos imigrantes”<br />
recomendando que eles, desde já, iniciassem a construção de suas casas.<br />
<strong>Entre</strong>tanto, para que as casas pudessem ser construídas, o Dr. Armênio teve que<br />
providenciar o fornecimento não só de ferramentas, sementes e mudas (milho,<br />
batata, arroz, feijão e uva) mas também dos utensílios de cozinha indispensáveis.<br />
Argumentavam os colonos da Várzea do Marçal que se o Governo não fizesse<br />
certas concessões estariam no firme propósito de voltar à Itália. Fundamentavam<br />
suas reivindicações no fato de que, iludidos pelos agentes de imigração, lhes<br />
foram feitas inúmeras promessas que não estavam sendo cumpridas. E,<br />
certamente, se julgavam no direito de recebê-las. Diziam ainda que, sendo<br />
provenientes de duas aldeias vizinhas, Bolonha e Ferrara, acreditaram nas<br />
promessas feitas e vieram em massa se estabelecer no Brasil. Por esse motivo, o<br />
Núcleo Colonial de São João del Rei, em alguns documentos, é citado como Núcleo<br />
Bolonha-Ferrara. Um desses documentos é o ofício do Comendador José Carlos de<br />
Carvalho ao Dr. Armênio, comunicando-lhe que assumira o cargo de Inspetor Geral<br />
de Imigração da Província.<br />
Tanto a denominação de Núcleo “Bolonha-Ferrara”, como a oficial (Núcleo Colonial<br />
de São João del Rei), não ganharam popularidade e sim os nomes regionais tais<br />
como “José Theodoro“, “Giarola”, “Bengo” , “Felizardo” ou mesmo o uso corrente<br />
da denominação “Colônia”<br />
Não sabemos ao certo o número de lotes que foram distribuídos na Colônia mas,<br />
pelo relato do Dr. Armênio, presumimos que tenham sido no entorno de 180.<br />
Também em outro documento importante, o Livro Auxiliar da Colônia, são<br />
relacionados 135 lotes na Várzea do Marçal e 39 lotes na ex-fazenda de José<br />
Theodoro.<br />
À primeira vista pode parecer um número pequeno, mas é bom lembrar que,<br />
naquela época, implicou no aumento de 10% da população da cidade, em menos<br />
de um mês!
E já no dia 20 de dezembro o Dr. Armênio informa que somente poderia<br />
acomodar mais 6 famílias,<br />
“(...) porquanto neste núcleo não posso estabelecer mais imigrantes (...)”.<br />
Alguns Transtornos<br />
Mencionamos, anteriormente, que alguns conflitos começaram a surgir para a<br />
colocação dos imigrantes, vindos de Juiz de Fora e destinados ao trabalho nas<br />
fazendas. Vejamos as causas de tais transtornos:<br />
Os imigrantes destinados às fazendas começaram a chegar a partir de fins de<br />
outubro. Ora, nesta data já estavam sendo feitos os preparativos para a recepção<br />
dos colonos destinados ao núcleo colonial e deste fato tomavam imediato<br />
conhecimento. Dessa forma a perspectiva de se tornaram independentes e<br />
proprietários em um núcleo administrativamente estruturado os atraía muito mais<br />
e por melhores que fossem as condições de trabalho oferecidas pelos<br />
fazendeiros, eles sistematicamente recusavam. Ficavam na Hospedaria, sem<br />
destino, aguardando uma ilusória entrega de novos lotes, que há muito haviam se<br />
esgotado. Faziam petições constantes sempre com a argumentação de que<br />
desejavam ir para a Colônia, onde encontrariam amigos e parentes, insistindo em<br />
desconhecer o fato de que a lotação do núcleo estava esgotada. Assim ficavam os<br />
fazendeiros sem os colonos e estes, sem os desejados lotes!<br />
Estes fatos culminaram com a exoneração injusta do Coronel Severiano, que<br />
desgostoso deixava a Direção da Hospedaria, sendo nomeado em seu lugar o Dr.<br />
Armênio, logo nos primeiros dias de janeiro de 1889, que tentou em vão<br />
resolver o problema nos três meses que se seguiram. Na Hospedaria se<br />
encontravam então 24 famílias, sem destino.<br />
A atuação do Coronel Severiano à frente da Hospedaria havia sido tão humana e<br />
eficiente que, em documento público, os imigrantes agradeceram a sua atuação<br />
(foi publicado no “Arauto de Minas”, n.º 29).<br />
Além da substituição do Diretor da Hospedaria outro fato importante ocorreria<br />
naquele período, ou seja, os fazendeiros, na tentativa de impor um sistema semiescravagista<br />
aos imigrantes, começaram a desrespeitar os contratos de trabalho<br />
firmados e motivaram, como conseqüência, a saída das famílias de suas fazendas,<br />
que se deslocavam desprotegidas para o único reduto disponível: a Hospedaria.
E nos fins de março de 1889 se encontravam ali hospedadas nada menos do<br />
que 54 famílias, que obstinadamente insistiam em serem instaladas na Colônia,<br />
recusando o deslocamento para outros núcleos ou a volta ao trabalho nas<br />
fazendas. Nesta data somente eles ocupavam a Hospedaria da Cidade, uma vez<br />
que o Dr. Armênio já havia instalado outra, mais modesta, no Matosinhos,<br />
enquanto aguardava a decisão do Governo Provincial, em relação aos imigrantes ali<br />
alojados, para poder fechá-la. Somente mais tarde, em maio de 1889, com o<br />
deslocamento daquelas famílias, foi possível o fechamento definitivo da<br />
Hospedaria da Cidade.<br />
Contabilizando todos os recursos despendidos pelo Governo, o Dr. Armênio<br />
demonstra ter recebido o total de 36.744$939. E para se ter uma pálida idéia do<br />
que este valor representava basta dizer que, se todo esse recurso fosse<br />
direcionado unicamente para a construção das 180 casas necessárias, não se<br />
conseguiria construir, economicamente, nem 100 delas!<br />
Vida na Colônia<br />
Apesar do esforço e dedicação do Dr. Armênio conclui-se, pelos seus relatos, que<br />
o colono teve que resignar-se em ver os seus primeiros sonhos esvanecerem-se,<br />
perdendo o primitivo encanto e colorido. E isto se deve ao fato dos entraves<br />
administrativos terem sido muitos, aliados à morosidade, uma característica<br />
marcante nos serviços ligados à imigração. Não havia uma conscientização da sua<br />
importância e, como conseqüência, o Governo não se preparara convenientemente<br />
para um empreendimento de tal envergadura.<br />
Os imigrantes, ao receberem os seus lotes tiveram a orientação de construírem<br />
imediatamente as suas casas, afim de que deixassem os alojamentos provisórios e<br />
pudessem iniciar os trabalhos de lavoura em suas terras. Mas vejamos o que<br />
ocorreu lembrando, entretanto, que desde julho o Dr. Armênio chamava a<br />
atenção e pedia a autorização para que fossem construídas urgentemente as<br />
30 primeiras casas.<br />
Como vimos o seu pedido não foi atendido. Ele então direcionou os colonos, à<br />
partir de fins de dezembro, para a construção de suas casas, medida<br />
corretíssima e humanitária, uma vez que eles se encontravam em casas<br />
provisórias, em condições precárias de higiene e conforto. Acertou-se então com<br />
o Governo, através da Inspetoria Geral, a remessa de todo o madeirame, ao passo<br />
que os colonos seriam responsáveis pelos trabalhos de execução dos alicerces das<br />
casas e da fabricação dos adobes.
E em fins de janeiro de 1889 as fundações das primeiras 50 casas já<br />
estavam prontas! A madeira para cobri-las, entretanto, não havia chegado.<br />
Apesar disto os trabalhos de fabricação dos adobes e a abertura das estradas do<br />
núcleo continuaram a ser executados no mesmo ritmo.<br />
Quanto à alimentação, as dietas básicas eram distribuídas, por comodidade, para<br />
cada 8 dias, sendo entregues aos delegados de um certo número de famílias, que<br />
se deslocavam até o depósito da Comissão e ali assistiam à pesagem dos gêneros<br />
alimentícios. Depois, usando carros de bois, transportavam os gêneros até as<br />
casas provisórias, onde eram distribuídos às famílias.<br />
É interessante observar como o tipo de alimentação preferido pelos colonos<br />
interferiu na dieta básica fornecida. Na Itália, daquela época, haviam muitas<br />
comidas à base de milho e a polenta, atribuída à tradição italiana, era muito<br />
diferente da que conhecemos hoje. O que os imigrantes conheciam era a “mosa”,<br />
que consistia na mistura de água, leite, farinha de milho e sal, alimentação básica<br />
na mesa dos ricos e pobres. Era um tipo de polenta mole, também chamada “le<br />
pape”. À mosa acrescentava-se queijo ralado e servia-se sem outras misturas. E<br />
foi por esse motivo que os colonos pediram que se triplicasse a quantidade de<br />
farinha de milho (ou de fubá) fornecida, já que o preço unitário permaneceria<br />
praticamente o mesmo. O macarrão, tão ligado para nós brasileiros, à imagem do<br />
italiano, era para eles, naquela época, um alimento de luxo.<br />
Na Colônia os dias iam passando, na rotina da construção das casas e caminhos e<br />
nas lidas domésticas comunitárias, sem entretanto possibilitar a cada colono que<br />
tivesse realmente o seu lar, que continuava destelhado, a ver estrelas...<br />
Chegou então o mês de fevereiro de 1889 e os colonos, já com 74 casas com<br />
as fundações prontas e cerca de 80.000 adobes continuavam à espera do<br />
madeirame! O Engenheiro Chefe insiste nos pedidos do material, imprescindível<br />
para a cobertura das casas e propõe que sejam usadas telhas de barro, por<br />
higiene e economia.<br />
Diante da inércia da Inspetoria Geral ele impacienta-se. Afinal o período das<br />
chuvas já estava no fim e os colonos se encontravam desestimulados diante de<br />
tanta espera e vivendo em condições de habitabilidade precárias e promíscuas.<br />
Desgostoso com a situação e com a falta de atenção dada aos seus pedidos<br />
encaminha à Inspetoria Geral a sua demissão.
Terminava o mês de março de 1889...Três meses haviam se passado desde a<br />
chegada dos colonos e não é difícil imaginar a angústia e desespero que viveram<br />
nessas circunstâncias.<br />
Podemos ainda avaliar, daí para frente, a dura luta que os colonos enfrentaram.<br />
Ressalte-se ainda que, no limiar do alvorecer da República, não deveria haver por<br />
parte do Governo tanto empenho no cumprimento de obrigações assumidas pelo<br />
Império. Mas os imigrantes estavam acostumados ao sofrimento e retemperaram<br />
nele as suas forças. Valeram-se da sua garra e do seu espírito indomável e<br />
finalmente venceram!<br />
As suas casas simples, de piso de chão batido, foram enfim cobertas. Começaram<br />
as plantações e a colheita de maçãs, pêssegos, laranjas, peras, uvas, milho, batata<br />
e hortaliças, que eram vendidos pelas italianas, em seus pesados balaios<br />
dependurados em “derlas”. Depois foram usadas as charretes que levavam a<br />
produção excedente até os locais de venda em São João del Rei. Nos fornos de<br />
cupim, do lado de fora da casa, assavam os seus pães, reacendendo em suas almas<br />
a certeza de dias melhores.<br />
Eram as raízes da destemida gente italiana fixando-se definitivamente no fértil<br />
solo são-joanense!<br />
A publicação gratuita “Lo Stato di Minas-Gerais”, editado em Genova no ano de<br />
1896, continuava a incentivar a emigração para o Brasil e em relação ao Núcleo<br />
Colonial de São João del Rei cita que “misura un’ area di 2,562 ettari divisa in 174<br />
lotti. La sua populazione è di 700 persone, tutta gente laboriosa, morigerata e<br />
prospera” (p. 56).<br />
Uma Homenagem Final<br />
Prestamos finalmente uma sincera homenagem a todos os primeiros colonos do<br />
Núcleo Colonial de São João del Rei, relacionando alguns dos seus nomes. Os<br />
nomes aqui mencionados encontram-se em vários documentos importantes, mas<br />
provavelmente a lista que fizemos estará incompleta, em função de falhas nos<br />
registros realizados.<br />
Citando os nomes adiante damos o testemunho da admiração por esta brava<br />
gente, que mesclando-se aos brasileiros arraigaram-se na nossa terra, amando-a<br />
como se fosse o torrão da Itália. Deram-nos o exemplo vivo do trabalho honesto e<br />
dedicado, esquecendo as agruras passadas e mostrando-nos que nos momentos de<br />
desespero a luz maior é a fé em Deus e a esperança no futuro!
Primeiros Colonos<br />
“Os primeiros colonos que receberam seus lotes, segundo os registros que<br />
encontramos, são os seguintes:<br />
Instalados na VÁRZEA DO MARÇAL<br />
AMBROSIO, Vitale; BALLARDINI, Domenico; BANDIERA, Pasquale; BASSI,<br />
Antonio; BENFENATTI, Enrico; BIANCHINI, Giuseppe; BOARI, Albino;<br />
BOARI, Giuseppe; BOARI, Luigi; BOLDRINI, Alessio; BOLDRINI, Luigi;<br />
BOTTONI, Gaetano; BRAVATI, Carlo; BRIGHENTI, Cesare; CALORE, Egisto;<br />
CAMANZO, Gaetano; CAMPOLONGO, Giovanni; CARAVITA, Antonio;<br />
CAVALETTI, Giovanni; CAZONI, Primo; CAZZONI, Roberto; CESARI, Natale;<br />
DAVIN, Marco; DETOMI, Angelo; FALIN, Giovanni; FAVA, Victorio;<br />
FAZZION, Lourenzo; FELLONI, Achile; FERRAREZZI, Giovanni; FRACAROLLI,<br />
Giovanni; FRAZZONI, Giuseppe; FREDERICO, Alesssandro; GAIANI, Gaetano;<br />
GARBINI, Giuseppe; GATTI, Luigi; GEROLA, Luigi; GEROMINI, Marco;<br />
GEROMINI, Santi; GHELERE, Giovanni Maria; LIBRENTI, Luigi; LUCIEN,<br />
Ferralle; LUCCHI, Giovanni; MARANEZZI, Ludovico; MAR<strong>DEL</strong>ATO, Giovanna;<br />
MARGOTTI, Lourenzo; MARTELLI, Erminio; MARTELLI, Luigi; MAZZOLI,<br />
Albino; MINARELLI, Angelo; MONARI, Angelo; MONTOANELLI, Angelo;<br />
MURANDI, Luigi; PADUAN, Mariano; PADUAN, Pietro; PIAZZI, Giocondo;<br />
RANDI, Michele; ROZETTO, Zenone; RUBINI, Antonio; SARTINI, Carlo;<br />
SARTORI, Giuseppe; SCHIASSI, Giuseppe; TAROCO, Giacomo; TREBBI,<br />
Roberto; TRERÉ, Giacomo; UNGARELLI, Giulio; VERLICHI, Emilio; VIANINI,<br />
Zefiro; VICENTINI, Etore; ZUCCHERI, Clemente.<br />
Instalados na ex-FAZENDA DE JOSÉ THEODORO<br />
AGOSTINI, G. Battista; ANDRETTO, Pasquale; BRESOLIN, Luigi;<br />
CALSAVARA, Andrea; CALSAVARA, Angelo; CHIAMENTI, Luigi;<br />
CHRISTOFOLI, Angelo; CHRISTOFOLI, Antonio; CHITARRA, Giuseppe;<br />
CORTESI, Domenico; <strong>DEL</strong>AI, Giovanni Baptista; D<strong>EM</strong>ARCHI, Vincenzo;<br />
DINALI, Antonio; FAZZION, Sante; FUSATTO, Giuseppe; GHELERE, Marco;<br />
GODI, Luigi; GUZZO, Luigi; LOMBELLO, Antonio; MARINI, Luigi; MINZON,<br />
Giacomo; MONTOLI, Francesco; MUFFATO, Nicola; PANORATO, Angela;<br />
POZZA, Domenico; ROSSATI, Pietro; SOTANA, Agostino; STEFANELLI,<br />
Antonio; TIRAPELLI, Antonio; TOFALINI, Andrea; ZANETTI, Angelo;<br />
ZANGIACOMO, Catherina; ZANOLA, Pietro; ZANSAVIO, Luigi; ZERLOTINI,<br />
Giovanni, ZERLOTINI, Romano; ZIVIANI, Pietro.
Além desses primeiros colonos outros vieram, mas transferiram-se<br />
posteriormente. Muitos outros colonos também foram surgindo, apesar de não<br />
constarem dos registros anteriormente citados. <strong>Entre</strong> estes últimos vale a pena<br />
lembrar os seguintes:<br />
BASSI, Giuseppe; LONGATTI, Giovanni; FUSATTO, Luciano; BINI, Rafael;<br />
LOVATO, Antonio; BRIGHENTI, Deodoro; STANCIOLI, Nicolau; CAVALARI,<br />
Giuseppe; GIOVANNI, Salvatore; ZANITI, Augusto; <strong>DEL</strong>A COSTA, Luigi;<br />
PAGLARINI, Filipo; DALDEGAN, Pietro; MONTOLI, Francesco; <strong>DEL</strong><br />
VECCHIO, Giacomo; SBAMPATO, Alessandro; CALVETTI, Luigi e<br />
PERIGRINELLI, Carlo.<br />
Finalmente ressaltamos que alguns imigrantes italianos já moravam em São João<br />
del Rei nesta época, como MARCHETTI, Felipe; PREDA, Carlos; LOVAGLIO e<br />
muitos outros.<br />
Reunimos aqui os nomes da maioria das famílias que foram gradativamente se<br />
fixando na região:<br />
AGOSTINI, AGOSTINO, ALBINI, ALLEOTI, ALLEVA, AMADEI,<br />
AMBROSIO, ANDRETO, ANGELIN, ANGIOLI, ARENARI, ARGENTESI,<br />
BACCARINI, BACHI, BAGNI, BALBI, BALDINI, BALDRATTI, BALDUZZI,<br />
BANDIERA, BANDINELLI, BARALDI, BARBE, BARBI, BARBONI,<br />
BARTHOLO, BARUFALDI, BASSI, BEDESCHI, BELCHIOR, BELFIORI,<br />
BELLINI, BELLO, BELLUSCHI, BENEDETTI, BENEVENUTTI,<br />
BENFENATTI, BERGO, BERINGHELLI, BERMAGOSI, BERNARDINI,<br />
BERSANETTI, BERSANI, BERTELLI, BERTOCHI, BERTOLINI,<br />
BERTOLUCCI, BIANCHINI, BIAZUTTI, BINI, BIOTINI, BISCARE,<br />
BISOLLI, BIZZAIA, BOA<strong>DEL</strong>LI, BOARI, BOLDRATTI, BOLDRINI,<br />
BOLOGNANI, BONFIOLI, BONICENI, BORNELLI, BORSETTI, BOSCOLO,<br />
BOTTONI, BRAGIO, BRAVATTI, BRESOLIN, BRESOLINI, BRIGHENTI,<br />
BROGLIO, BUZATTI, CALORE, CALSAVARA, CALVETTI, CAMANZO,<br />
CAMARANO, CAMPANATTI, CAMPELLO, CAMPOLONGO, CANAVESE,<br />
CANAVEZ, CANELLA, CAMPOLONGO, CAPRINI, CAPRONI, CAPUTO,<br />
CARAVITA, CARAZZA, CARRARA, CASARITI, CASELLI, CAS<strong>EM</strong>IRO,<br />
CASSANO, CASTORINO, CAVALARI, CAVALETTI, CAVALIERI,<br />
CAVALINI, CAVALLASI, CAZONI, CAZZONI, CESARI, CHIAMENTI,<br />
CHIARINI, CHITARRA, CHRISTOFOLI, CIAMARINI, CICARELLI,<br />
CICARINI, CIPRIANI, CONSALVI, CORROTI, CORTESI, CORTEZZI,<br />
COZZI, CUPOLILLO, DA COSTA, DALDEGAN, D’ANGELO, DAVIN, DE<br />
FILIPPO, <strong>DEL</strong>LA COSTA, <strong>DEL</strong>AI, DE LELLIS, <strong>DEL</strong>LA CROCE, , <strong>DEL</strong>LA
SAVIA, DE LUCCA, <strong>DEL</strong> VECCHIO, D<strong>EM</strong>ARCHI, DETOMI, DILASCIO,<br />
DINALI, DONATI, FABRI, FACCION, FACHINI, FAGIOLI, FALCONERI,<br />
FALIN, FANTONI, FARAGALLA, FARIGNOLLI, FARNEZZI, FAVA,<br />
FAVERA, FAZANELLI, FERRAREZZI, FINALDI, FIOCHI, FIORELLI,<br />
FIRMO, FONTENELLI, FORAZENO, FORMAGIO, FRACCAROLLI, FRANCIA,<br />
FRANZOSO, FRAZZONI, FREALDI, FREDERIGO, FRIGO, FUSATTO,<br />
FUSCHINI, FUZATTI, GARDONI, GAIANI, GAIO, GALARANA, GALLI,<br />
GALLO, GARAVELLI, GARBINI, GARBOGINI, GATTI, GAZZI, GEROMINI,<br />
GHERELE, GIAROLA, GIOLITTI, GIORGIO, GIOVANNINI, GODI,<br />
GOTARDO, GOTTAR<strong>DEL</strong>LI, GRASSI, GRELLA, GRIPPI, GUARINI, GUELLI,<br />
GUERRA, GUILARDUCCI, GUITARRA, GUZZO, IMBROISI, INECO,<br />
IZOLANI, JANONI, JANUZZI, LANCETTI, LAUDARI, LIBONI,<br />
LIBRENTI, LIMONCINNI, LOBOSQUE, LOMBARDI, LO,BELLO,<br />
LONGATTI, LONRENZONI, LORENGIONI, LOVAGLIO, LOVATO, LUCCHI,<br />
LUCIEN, MACERONI, MAGALDI, MAGGIOLI, MAGNAVACCA,<br />
MANFREDINI, MANFRINI, MANTOANELLI, MANTOVANI, MARANEZZI,<br />
MARCELLI, MARCHIORI, MAR<strong>DEL</strong>ATTO, MARGARON, MARGOTTI,<br />
MARINI, MARRONI, MARTELLI, MARTINELLI, MARZOCHI, MAURO,<br />
MAZZANTI, MAZZINI, MAZZOLI, MAZZONI, MENEGHINI, MENEGON,<br />
MENICUCCI, MENILLOMIATO, MINARELLI, MINQUITTI, MINZON,<br />
MISSON, MOEBUS, MONARI, MONDAINE, MONTOLI, MONTREZOR,<br />
MORANDI, MORELLI, MORFETTI, MUFATO, MUGIANI, NAPOLEON,<br />
NATALI, NEGRINI, NOZILIO, OTTONI, PADOVANI, PADUAN,<br />
PAGANINI, PAGANUCCI, PAGGI, PAGLIARINI, PALACCI, PALUMBO,<br />
PANAIN, PANORATO, PANZACHI, PANZERA, PAOLUCCI, PARIZZI,<br />
PARRINI, PASSARELLI, PASSARINI, PASSINI, PASTORINI,<br />
PATERNOSTER, PAVANELLI, PAZIN, PEDRONI, PELUZZI, PENONI,<br />
PEPARELLI, PERARO, PELEGRINELLI, PERILLI, PEZEUTTI, PEZZALI,<br />
PIAZZI, PICORELLI, PIERINI, PIERUCETTI, PIFANELLI, PITTI, PIZZA,<br />
POLASTRI, PONZETTI, POSSA, POZZA, POZZATO, PUGLIESI, PUTTINI,<br />
QUAGLIA, RA<strong>DEL</strong>LI, RANDI, RASTELLI, RIANI, RIGHETI, RIGOTTI,<br />
RIVETTI, RIZUTTI, ROLFINI, ROSSATO, ROSSINI, ROSSITO,<br />
ROZZETO, RUBINI, RUFINI, RUSSO, SABIDO, SACHETTI, SALVATORE,<br />
SANCETTI, SANTI, SANTINI, SARTINI, SARTORI, SBAMPATO,<br />
SCARPARETO, SCARPELLI, SCHIASSI, SCHIAVI, SCHINGAGLIA,<br />
SCULTORI, SERGIONI, SERTIANI, SOAVI, SOGHIRI, SOLVA, SOTANA,<br />
SOTTANI, SPADINI, SPILTRA, SPINELLI, STANCIOLI, STEFANELLI,<br />
STERACHI, STREFEZZI, TALIN, TAROCO, TESTONI, TIMPONI,<br />
TIRAPELLI, TOFALINI, TOFOLINI, TONELLI, TORECCHI, TORGA,<br />
TORNAGHI, TORTI, TORTIERI, TORTOMANO, TORTORIELLI,<br />
TRANQUILO, TRAVAGLI, TREBBI, TRERÈ, TREVIGIANI, TUBERTINI,<br />
TURRA, TUTTI, UNGARELLI, VALINI, VASSALO, VERALDO, VERLICHI,
VERONEZZI, VERSALI, VIANINI, VICENTINI, VICO, VITALLI,<br />
VITORELLI, VITTA, VOLPI, VOLTA, ZAGA, ZAGOTTA, ZANDI,<br />
ZANETTI, ZANGIACOMO, ZANITTI, ZANNI, ZANOLA, ZANSAVIO,<br />
ZARAMELLA, ZERBNINI, ZERLOTINI, ZINI, ZIVIANI, ZUCHERI.<br />
PEQUENA CRONOLOGIA DO NÚCLEO COLONIAL<br />
Como seqüência dos acontecimentos relacionados aos trabalhos da Comissão para<br />
instalação do Núcleo Colonial de São João del Rei elaboramos a pequena<br />
cronologia a seguir:<br />
♦ 10/02/88 – nomeação do Engenheiro Chefe da Comissão<br />
♦ 08/03/88 – chegada de Dr. Armênio a São João del Rei<br />
♦ 09/03/88 – assumem os cargos os demais membros da Comissão<br />
♦ 10/03/88 – início dos trabalhos da Comissão<br />
♦ 22/03/88 – são definidas as atribuições da Comissão<br />
♦ 30/04/88 – encerrado o levantamento da área e comunicado à Inspetoria<br />
♦ 10/09/88 – envio projeto das casas à Inspetoria e pedido para construí-las<br />
♦ 05/11/88 – o Ministério da Agricultura decide pela construção de galpão<br />
♦ ---/10/88 – início de chegada dos primeiros imigrantes para as fazendas<br />
♦ 07/11/88 – primeira chegada de 150 imigrantes para as fazendas<br />
♦ 15/11/88 – aluguel da Hospedaria dos Imigrantes pelo Dr. Severiano<br />
♦ 17/11/88 – solicitação à Inspetoria da urgência na aprovação dos galpões<br />
♦ 22/11/88 – chegada de mais 112 imigrantes, também para as fazendas<br />
♦ 26/11/88 - Dr. Armênio propõe, ao invés do galpão, usar 2 casas construídas<br />
♦ 28/11/88 – o Engenheiro Chefe recebe aviso que receberá 90 famílias<br />
♦ 28/11/88 – chegam mais 63 imigrantes venetos/ferrarenses para fazendas<br />
♦ ---/11/88 – 100 lotes encontram-se demarcados para serem distribuídos<br />
♦ 03/12/88 – tomadas as últimas providências para recepção dos imigrantes<br />
♦ 03/12/88 – chegam os primeiros 102 colonos constituindo 22 famílias<br />
♦ 10/12/88 – prazo mínimo para o preparo das casas se houver autorização<br />
♦ 18/12/88 – já instalados 371 colonos na Várzea e 186 em José Theodoro<br />
♦ 20/12/88 – aviso à Inspetoria que só existem acomodações para 6 famílias<br />
♦ ---/01/89 – Dr. Severiano deixa a Hospedaria; Dr. Armênio assume<br />
♦ --/02/89 – alicerces de 74 casas e 80 mil adobes esperando madeira<br />
♦ --/03/89 – encontram-se na Hospedaria 54 famílias sem destino<br />
♦ --/03/89 – Dr. Armênio pede exoneração<br />
♦ --/05/89 – fechada a Hospedaria dos Imigrantes