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Monumentos megalíticos do concelho de Arronches - Universidade ...

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A<br />

<strong>Monumentos</strong> <strong>megalíticos</strong> <strong>do</strong> <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong><br />

Jorge <strong>de</strong> Oliveira *, Emílio Moitas ** & Clara Oliveira *<br />

presente comunicação <strong>de</strong>corre <strong>do</strong> projecto “Paisagens Megalíticas <strong>do</strong> Norte-Alentejano”,<br />

promovi<strong>do</strong> pela Região <strong>de</strong> Turismo da Serra <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong>. O principal objectivo <strong>de</strong>ste<br />

projecto, que se iniciou em 1998, previa a i<strong>de</strong>ntificação, estu<strong>do</strong> e divulgação <strong>do</strong> património<br />

megalítico <strong>do</strong> distrito <strong>de</strong> Portalegre. No <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> projecto foi possível i<strong>de</strong>ntificar<br />

mais <strong>de</strong> seiscentas e cinquenta sepulturas megalíticas e uma trintena <strong>de</strong> menires, distribuí<strong>do</strong>s<br />

pelos quinze <strong>concelho</strong>s que formam a região <strong>de</strong> turismo. Com uma equipa muito reduzida afecta<br />

ao projecto socorremo-nos, igualmente, da colaboração <strong>do</strong>s arqueólogos municipais, quan<strong>do</strong><br />

estes existiam, ou <strong>de</strong> pessoas que, embora sem formação específica em arqueologia, se interessavam<br />

pelo o património e conheciam bem a sua região. No caso concreto <strong>do</strong> <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong><br />

contámos com a preciosa colaboração <strong>de</strong> Emílio Moitas, técnico <strong>de</strong> turismo da câmara<br />

municipal, profun<strong>do</strong> conhece<strong>do</strong>r <strong>do</strong> seu <strong>concelho</strong> e activo militante da preservação <strong>do</strong> património<br />

cultural e natural <strong>do</strong> seu <strong>concelho</strong>.<br />

O património megalítico <strong>do</strong> <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong> encontrava-se totalmente ausente da<br />

bibliografia da especialida<strong>de</strong>. Neste <strong>concelho</strong>, no que se reporta à Pré-História, apenas eram<br />

conheci<strong>do</strong>s os abrigos com pinturas rupestres da Freguesia da Esperança. No Norte Alentejano<br />

o <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong> foi um <strong>do</strong>s poucos que não foi contempla<strong>do</strong> no corpus megalítico elabora<strong>do</strong><br />

pelo casal Leisner. Essa ausência terá condiciona<strong>do</strong> a inexistência <strong>de</strong> posteriores levantamentos<br />

ou meros estu<strong>do</strong>s sobre as manifestações megalíticas neste <strong>concelho</strong>. Quan<strong>do</strong>, em<br />

1998, iniciámos o reconhecimento <strong>do</strong> distrito <strong>de</strong> Portalegre o <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong> foi um<br />

<strong>do</strong>s que, à partida, nos iria colocar mais problemas face à inexistência <strong>de</strong> informações bibliográficas.<br />

Contu<strong>do</strong>, com a colaboração <strong>de</strong> Emílio Moitas <strong>de</strong>senvolvemos prospecções selectivas,<br />

porque o projecto não contemplava prospecções sistemáticas, que proporcionaram a i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong> nove antas, uma provável sepultura <strong>de</strong> falsa cúpula, <strong>do</strong>is esteios removi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

anta e um pequeno menir <strong>de</strong>sloca<strong>do</strong>, para além <strong>de</strong> outros arqueossítios que não sen<strong>do</strong> <strong>megalíticos</strong><br />

não se inscrevem nesta comunicação.<br />

Os trezentos e quinze quilómetros quadra<strong>do</strong>s que formam o <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong> são<br />

marca<strong>do</strong>s por uma forte diversida<strong>de</strong> orográfica, por uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> solos e por abundantes<br />

linhas <strong>de</strong> água, das quais se <strong>de</strong>staca o Rio Caia. Cristas quartzíticas envoltas por encostas<br />

xistosas <strong>de</strong>scansam em vales bem drena<strong>do</strong>s, recorta<strong>do</strong>s por caprichosos afloramentos graníticos.<br />

Esta diversida<strong>de</strong> paisagística propiciou condições excepcionais para o estabelecimento das primeiras<br />

comunida<strong>de</strong>s agropastorís. A partir <strong>do</strong>s alvores <strong>do</strong> sexto milénio antes <strong>de</strong> Cristo, na encosta<br />

sul da Serra <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong>, as primeiras comunida<strong>de</strong>s neolíticas ensaiam a <strong>do</strong>mesticação<br />

da terra e <strong>do</strong>s animais. Gradualmente, a se<strong>de</strong>ntarização sazonal dará lugar a uma maior apropriação<br />

da terra na qual a monumentalização <strong>do</strong>s espaços da morte e a divinização <strong>de</strong> alguns locais<br />

terão papel fundamental assumin<strong>do</strong>-se, igualmente, como factores <strong>de</strong>terminantes da coesão e<br />

estruturação sociais.<br />

* Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora.<br />

** Técnico da Câmara Municipal <strong>de</strong> Marvão.<br />

Arqueologia <strong>do</strong> Norte Alentejano – Comunicações das 3. as<br />

Jornadas, Lisboa, Edições Colibri/C. M. Fronteira,<br />

2011, pp. 415-424


416 Arqueologia <strong>do</strong> Norte Alentejano<br />

Os testemunhos monumentais neolíticos <strong>do</strong> <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong> inscrevem-se, plenamente,<br />

nas variantes já reconhecidas para esta região da Península Ibérica. No que se reporta às<br />

sepulturas megalíticas reconhecem-se monumentos obti<strong>do</strong>s, maioritariamente em granito da<br />

região, forman<strong>do</strong> câmaras poligonais <strong>de</strong> sete ou nove esteios com corre<strong>do</strong>res longos. Ocupam,<br />

por norma, o topo <strong>de</strong> suaves colinas, não muito evi<strong>de</strong>ntes na paisagem e sempre nas imediações<br />

<strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> água. Denota-se que se implantam, por norma, nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formações<br />

rochosas, algumas comportan<strong>do</strong> abrigos naturais, em torno <strong>do</strong>s quais ocorrem, à superfície,<br />

fragmentos <strong>de</strong> cerâmica com características pré-históricas, indicia<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> habitats contemporâneos<br />

<strong>do</strong>s construtores <strong>do</strong>s megálitos. Esta constatação assume particular interesse junto da Anta<br />

<strong>do</strong> Vale <strong>de</strong> Bêbedas on<strong>de</strong>, para além da presença <strong>de</strong> materiais cerâmicos, num afloramento granítico<br />

foram rasga<strong>do</strong>s <strong>de</strong>graus para acesso ao topo, fazen<strong>do</strong> adivinhar alguma intenção ritual. A<br />

carga simbólica associada aos espaços da morte é, sobretu<strong>do</strong> constatável, na proximida<strong>de</strong> geográfica<br />

<strong>do</strong>s sepulcros da Nave Fria com os abrigos pinta<strong>do</strong>s da Freguesia da Esperança, situada<br />

no limite nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong>. Este contexto arqueológico não <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong>sliga<strong>do</strong><br />

da presença <strong>de</strong> testemunhos <strong>de</strong> <strong>do</strong>is habitats atribuíveis aos inícios da metalurgia situa<strong>do</strong>s<br />

nas cumeadas envolventes da ermida <strong>do</strong> Rei Santo, que <strong>do</strong>mina o vale on<strong>de</strong> se localizam os<br />

monumentos da Nave Fria. Assume particular interesse o monumento 1 da Nave Fria por parecer<br />

tratar-se <strong>de</strong> um monumento funerário megalítico <strong>de</strong> falsa cúpula. Do que é possível observar<br />

<strong>de</strong>ste monumento parece apresentar uma câmara circular formada por múltiplos esteios, <strong>de</strong><br />

pequena dimensão, obti<strong>do</strong>s em xisto, justapostos e implanta<strong>do</strong>s na vertical. A estrutura lítica<br />

que <strong>de</strong>fine a câmara funerária apresenta-se interrompida na face virada ligeiramente a su<strong>de</strong>ste<br />

fazen<strong>do</strong> adivinhar a presença <strong>de</strong> um corre<strong>do</strong>r, provavelmente ainda soterra<strong>do</strong>. Nas imediações<br />

<strong>do</strong> monumento po<strong>de</strong>m observar-se várias lajes <strong>de</strong> xisto, algumas reaproveitadas nas construções<br />

agrícolas anexas à casa que aí se localiza. O interior da câmara funerária e parte <strong>do</strong>s ortóstatos,<br />

in situ, apresentam uma coloração branca <strong>de</strong>corrente da não muito recuada utilização <strong>de</strong>ste<br />

espaço para “<strong>de</strong>rregar” cal, <strong>de</strong>stinada às repetidas caiações das habitações das re<strong>do</strong>n<strong>de</strong>zas. Se este<br />

monumento se vier a <strong>de</strong>finir, como tu<strong>do</strong> indica, como um sepulcro <strong>de</strong> falsa cúpula, então estaremos<br />

em presença <strong>do</strong> monumento funerário com estas características que mais a norte <strong>do</strong><br />

Alentejo se conhece e po<strong>de</strong>rá estar em estreita relação quer com a fase calcolítica da arte rupestre<br />

da Esperança e com alguns <strong>do</strong>s testemunhos <strong>de</strong> habitat envolventes da ermida <strong>do</strong> Rei Santo.<br />

O inventário, que agora se apresenta e que não resulta <strong>de</strong> qualquer prospecção exaustiva <strong>do</strong><br />

<strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong> justifica novos trabalhos <strong>de</strong> reconhecimento sistemático <strong>do</strong> território<br />

que, seguramente, propiciará novas e importantes surpresas arqueológicas.<br />

INVENTÁRIO DOS MONUMENTOS MEGALÍTICOS<br />

Nº<br />

(*)<br />

Monumento<br />

Coor<strong>de</strong>nadas UTM<br />

X Y<br />

Características<br />

1 Rasquilha 0652954 4330260 Anta <strong>de</strong> granito<br />

2 Mte. <strong>do</strong> Reguengo 0656320 4324258 Menir <strong>de</strong> granito tomba<strong>do</strong> e <strong>de</strong>sloca<strong>do</strong><br />

3 Mte. <strong>do</strong> Reguengo 0656768 4324259 Anta <strong>de</strong> granito<br />

4 Mte. <strong>do</strong>s Fartos 0643538 4335775 Anta <strong>de</strong> granito<br />

5 Mte. das Sarnadas 0642671 4337405 Anta <strong>de</strong> granito<br />

6 Casa Branca 0643090 4334330 Anta <strong>de</strong> granito<br />

7 Moreiros 0642517 4330680 Anta <strong>de</strong> granito<br />

8 Vale <strong>de</strong> Bêbedas 0649320 4328484 Anta <strong>de</strong> granito<br />

9 Nave Fria I 0651320 4336918 Sepultura <strong>de</strong> falsa cúpula (?)<br />

10 Nave Fria II 0651178 4336980 Anta <strong>de</strong> diorito<br />

11 Stº. António 0649399 4331639 Anta <strong>de</strong> granito sazonalmente submersa<br />

12 Rasquilha (esteios) 0652953 4330257 Dois esteios <strong>de</strong>sloca<strong>do</strong>s em granito<br />

(*) A numeração correspon<strong>de</strong> à i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s monumentos no mapa <strong>do</strong> <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong>.


<strong>Monumentos</strong> <strong>megalíticos</strong> <strong>do</strong> <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong> 417<br />

1 – Anta da Rasquilha


418 Arqueologia <strong>do</strong> Norte Alentejano<br />

2 – Menir <strong>do</strong> Reguengo<br />

3 – Anta <strong>do</strong> Reguengo


<strong>Monumentos</strong> <strong>megalíticos</strong> <strong>do</strong> <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong> 419<br />

4 – Anta <strong>do</strong>s Fartos<br />

5 – Anta das Sarnadas


420 Arqueologia <strong>do</strong> Norte Alentejano<br />

6 – Anta da Casa Branca<br />

7 – Anta <strong>do</strong>s Moreiros


<strong>Monumentos</strong> <strong>megalíticos</strong> <strong>do</strong> <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong> 421<br />

8 – Anta <strong>do</strong> Vale <strong>de</strong> Bêbedas<br />

9 – Anta da Nave Fria 1


422 Arqueologia <strong>do</strong> Norte Alentejano<br />

10 – Anta da Nave Fria 2<br />

11 – Anta <strong>de</strong> Santo António


<strong>Monumentos</strong> <strong>megalíticos</strong> <strong>do</strong> <strong>concelho</strong> <strong>de</strong> <strong>Arronches</strong> 423<br />

12 – Anta <strong>de</strong> Santo António submersa<br />

13 – Esteios junto à Anta da Rasquilha


424 Arqueologia <strong>do</strong> Norte Alentejano<br />

14 – Afloramento trabalha<strong>do</strong> junto à Anta <strong>de</strong> Vale <strong>de</strong> Bêbedas

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