O Novo Panorama do Divórcio no Brasil - Terapia familiar, de casal ...
O Novo Panorama do Divórcio no Brasil - Terapia familiar, de casal ...
O Novo Panorama do Divórcio no Brasil - Terapia familiar, de casal ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Enten<strong>de</strong>m os abolicionistas que a Constituição, a <strong>de</strong>speito da sua supremacia, <strong>de</strong>ve ser interpretada<br />
como uma lei maior, aplican<strong>do</strong>-se a ela os clássicos méto<strong>do</strong>s interpretativos, <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s na<br />
Alemanha, por Savigny.<br />
Alegam, com base <strong>no</strong> estu<strong>do</strong> clássico da hermenêutica, que a literalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> dispositivo ora estuda<strong>do</strong><br />
é apenas o ponto <strong>de</strong> partida da interpretação, sen<strong>do</strong> necessário se realizar uma interpretação histórica<br />
e teleológica da <strong>no</strong>rma. Nesse senti<strong>do</strong>:<br />
É possível que haja resistência <strong>de</strong> alguns em enten<strong>de</strong>r que a separação judicial foi extinta <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa<br />
organização jurídica. Mas, para estas possíveis resistências, basta lembrar os mais elementares<br />
preceitos que sustentam a ciência jurídica: a interpretação da <strong>no</strong>rma <strong>de</strong>ve estar contextualizada,<br />
inclusive historicamente. O argumento finalístico é que a Constituição da República extirpou<br />
totalmente <strong>de</strong> seu corpo <strong>no</strong>rmativo a única referência que se fazia à separação judicial. Portanto, ela<br />
não apenas retirou os prazos, mas também o requisito obrigatório ou voluntário da prévia separação<br />
judicial ao divórcio por conversão.[34]<br />
A<strong>de</strong>mais, invocam, <strong>no</strong> bojo da interpretação histórica, aquela que aten<strong>de</strong> a chamada vonta<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
legisla<strong>do</strong>r (mens legitoris). Este, aliás, é o principal argumento utiliza<strong>do</strong> pelos abolicionistas, pois<br />
enten<strong>de</strong>m que basta se analisar o conteú<strong>do</strong> das justificativas das PEC´s 33/07 e 413/05 para<br />
chegarmos à conclusão <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>sejo <strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r foi abolir o instituto da separação.<br />
Convenhamos, é o argumento mais frágil, conforme analisa<strong>do</strong> em capítulo próprio. De qualquer sorte,<br />
em senti<strong>do</strong> contrário, afirma um <strong>do</strong>s maiores <strong>de</strong>fensores da tese:<br />
“Quis o legisla<strong>do</strong>r constitucional - e <strong>de</strong>liberadamente, confessadamente quis - que a dissolução da<br />
socieda<strong>de</strong> conjugal e a extinção <strong>do</strong> vínculo matrimonial ocorram pelo divórcio, que passou a ser,<br />
então, o instituto jurídico único e bastante para resolver as questões matrimoniais que levam ao fim<br />
<strong>do</strong> relacionamento <strong>do</strong> <strong>casal</strong>”.[35]<br />
Outro argumento comumente utiliza<strong>do</strong> para os <strong>de</strong>fensores <strong>de</strong>sta tese é o <strong>de</strong> que o seu não<br />
acolhimento implicaria na negativa da aplicação <strong>do</strong> princípio da força <strong>no</strong>rmativa da Constituição, ou<br />
até mesmo <strong>do</strong> princípio da máxima efetivida<strong>de</strong>.[36] Pelo primeiro, enten<strong>de</strong> Ca<strong>no</strong>tilho que “na solução<br />
<strong>do</strong>s problemas jurídico-constitucionais <strong>de</strong>ve dar-se prevalência aos pontos <strong>de</strong> vista que, ten<strong>do</strong> em<br />
conta os pressupostos da constituição (<strong>no</strong>rmativa), contribuem para uma eficácia óptima da lei<br />
fundamental”[37]; pelo segun<strong>do</strong>, enten<strong>de</strong> o referi<strong>do</strong> mestre que “<strong>no</strong> caso <strong>de</strong> dúvidas <strong>de</strong>ve preferir-se<br />
a interpretação que reconheça maior eficácia aos direitos fundamentais”[38]<br />
No tocante à <strong>no</strong>va or<strong>de</strong>m constitucional surgida com a Emenda, a corrente abolicionista a<strong>do</strong>ta o<br />
entendimento <strong>de</strong> que a separação e os requisitos para o divórcio estariam sen<strong>do</strong> revoga<strong>do</strong>s<br />
tacitamente. Entretanto, cabe aprofundar um pouco o tema em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle <strong>de</strong><br />
constitucionalida<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> em vista que o STF tem entendimento atual <strong>no</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que, em casos<br />
como este, estaríamos, em verda<strong>de</strong>, diante <strong>do</strong> fenôme<strong>no</strong> da não-recepção (o STF ainda não admite a<br />
teoria da inconstitucionalida<strong>de</strong> superveninente).<br />
Isso se explica pelo simples fato <strong>de</strong> que a Constituição é composta, regra geral, <strong>de</strong> diretrizes e <strong>no</strong>rmas<br />
<strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> aberto e principiológicas, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que não possui – embora inegável a sua força<br />
<strong>no</strong>rmativa – a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>no</strong>rmativa <strong>de</strong> uma lei, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ssa forma simplesmente revogá-la.<br />
Em relação ao fenôme<strong>no</strong> da não-recepção, discordan<strong>do</strong> da posição <strong>do</strong> STF, e alinhan<strong>do</strong>-se à mo<strong>de</strong>rna<br />
jurisdição Constitucional <strong>do</strong> direito alienígena (que a<strong>do</strong>ta amplamente a teoria da<br />
inconstitucionalida<strong>de</strong> superveniente), explana a <strong>do</strong>utrina que: