Federalismo à Brasileira
Federalismo à Brasileira
Federalismo à Brasileira
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
236 <strong>Federalismo</strong> <strong>à</strong> <strong>Brasileira</strong>: questões para discussão<br />
Esse argumento, no entanto, não leva em consideração a possibilidade de<br />
existência de consórcios públicos para a consecução e a provisão de serviços públicos<br />
específicos. Estes consórcios poderiam diminuir o preço médio a ser pago por cada governo<br />
participante, auferindo os ganhos associados <strong>à</strong>s economias de escala existentes.<br />
Outro fator que poderia favorecer a provisão centralizada de bens públicos é a<br />
presença de externalidades. Uma vez que as ações de um governo local podem afetar<br />
as jurisdições vizinhas, pode ser que as decisões locais subestimem os custos ou benefícios<br />
de seus programas. Neste caso, o governo central poderia internalizar estas<br />
externalidades, ampliando o bem-estar da federação como um todo. No entanto,<br />
embora as externalidades possam realmente ter um peso considerável na provisão de<br />
muitos bens públicos, esta linha de argumentação negligencia outros mecanismos<br />
para lidar com o problema, tais como os impostos e os subsídios pigouvianos.<br />
Esse dilema entre as escolhas fiscais descentralizadas, por um lado, e as externalidades<br />
e os ganhos de escala, por outro, foi caracterizado pela primeira vez por<br />
Oates (1972) em seu teorema da descentralização. O teorema estabelece um conjunto<br />
de condições suficientes para que a provisão local de bens públicos seja eficiente<br />
e gere um nível mais elevado de bem-estar econômico que a provisão centralizada.<br />
Outra questão central apresentada pela teoria de primeira geração é o problema<br />
da jurisdição tributária. Este consiste em determinar qual esfera de governo<br />
arrecadaria de forma mais eficiente cada tipo de imposto existente. Para lidar com<br />
este problema, é necessário reconhecer primeiro que distorções podem ser causadas<br />
por tributos locais que incidem sobre bases de arrecadação móveis, como o<br />
capital, por exemplo, uma vez que este fator tenderá a se realocar de regiões com<br />
altos tributos para aquelas nas quais a carga tributária é menor. Este argumento<br />
favorece a administração centralizada de tributos sobre bases móveis.<br />
Sob esse ponto de vista, os governos locais deveriam se ater na taxação sobre<br />
bases de arrecadação fixas, como impostos sobre propriedade imobiliária. Este tipo<br />
de especialização poderia trazer algumas vantagens em termos de bem-estar, especialmente<br />
se prevalecer a pressuposição de que os governos locais são mais bem informados.<br />
Neste caso, a coleta de dados e a administração da arrecadação dos impostos<br />
sobre propriedades seriam realizadas de forma mais eficiente pelos governos locais.<br />
Também poderia ampliar o bem-estar social a utilização de taxas com propósito<br />
específico – isto é, tributos associados <strong>à</strong> provisão, por parte dos governos locais,<br />
de bem ou serviço público específicos, pagos pelos agentes que efetivamente<br />
se beneficiarão dele. 3 Esta linha argumentativa leva ao famoso modelo de Tiebout<br />
(1956), no qual os cidadãos se realocam com o objetivo de escolher a localidade<br />
que provê a sua combinação preferida em termos de impostos e serviços públicos.<br />
3. Ver Stiglitz (1988) e Hines (2000).