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Dia da Indústria - Fiec

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Publicação do Sistema Federação <strong>da</strong>s <strong>Indústria</strong>s do Estado do Ceará<br />

Ano IV n N o 37 n JUNHO/2010<br />

Correspondência<br />

1000013828/2006<br />

DR/CE<br />

FIEC<br />

CORREIOS<br />

Presidente <strong>da</strong> CNI, Armando Monteiro, governador do estado, Cid Gomes,<br />

e presidente <strong>da</strong> FIEC, Roberto Macêdo, ladeiam os homenageados Jorge<br />

Parente, Airton Queiroz, Alexandre Grendene e filha de Vicente de Paiva<br />

(in memoriam), Cristiane de Paiva<br />

<strong>Dia</strong> <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong><br />

Comemorações ocorrem num cenário de retoma<strong>da</strong> do crescimento,<br />

após o país ultrapassar a crise econômica mundial<br />

3


junho 2010 | No Publicação do Sistema Federação <strong>da</strong>s<br />

<strong>Indústria</strong>s do Estado do Ceará<br />

37<br />

................................................................................................<br />

Fim <strong>da</strong> pobreza no CE<br />

08<br />

REnDA FAMILIAR<br />

Segundo o Laboratório de Estudos<br />

<strong>da</strong> Pobreza (LEP), caso seja<br />

mantido o nível de crescimento <strong>da</strong><br />

ren<strong>da</strong> familiar, a pobreza no estado<br />

será extinta em 32 anos<br />

Robôs cearenses<br />

14<br />

Confecções<br />

19<br />

SoFTWARE<br />

Criado pelo SENAI/CE, o<br />

Vestio padroniza medi<strong>da</strong>s de<br />

peças do vestuário e amplia a<br />

competitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s indústrias de<br />

confecção do Ceará<br />

Recicla Nordeste<br />

36<br />

RoBÓTICA<br />

Projeto de robótica <strong>da</strong> Armtec<br />

mostra que o Brasil é capaz<br />

de inovar com tecnologia de<br />

ponta e ganha reconhecimento<br />

internacional<br />

FEIRA<br />

Sindiverde e INDI/FIEC promovem<br />

feira para <strong>da</strong>r impulso às<br />

indústrias de reciclagem <strong>da</strong> região,<br />

no Centro de Convenções, de 10 a<br />

12 de novembro<br />

Civilização do boi<br />

39<br />

CoLonIZAÇÃo<br />

Responsável pelo primeiro ciclo<br />

econômico do estado do Ceará,<br />

o gado marcou o processo<br />

de colonização <strong>da</strong>s terras do<br />

estado do Ceará<br />

Capa<br />

60 anos <strong>da</strong> FIEC<br />

22<br />

Comemorações ocorrem num cenário de<br />

retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> economia, após fim <strong>da</strong> crise<br />

mundial e início de empreendimentos<br />

estruturantes no estado<br />

Vi<strong>da</strong>s transforma<strong>da</strong>s<br />

31<br />

VIRAVIDA<br />

Mais 103 jovens concluem<br />

o Projeto ViraVi<strong>da</strong> no<br />

Ceará e iniciam nova etapa<br />

em suas vi<strong>da</strong>s. Desde<br />

o projeto piloto, 158 já<br />

foram formados no estado<br />

Seções<br />

Mensagem<strong>da</strong>Presidência........5<br />

Notas&Fatos..............................6<br />

Inovações&Descobertas.........13<br />

Junho de 2010 | Revista<strong>da</strong>FIEC |<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo


Federação <strong>da</strong>s <strong>Indústria</strong>s do Estado do Ceará — FIEC<br />

DIRETORIA Presidente Roberto Proença de Macêdo 1 o Vice-Presidente Ivan Rodrigues Bezerra Vice-presidentes Carlos Roberto de Carvalho<br />

Fujita, Pedro Alcântara Rego de Lima e Wânia Cysne Medeiros Dummar Diretor administrativo Affonso Taboza Pereira Diretor financeiro Álvaro<br />

de Castro Correia Neto Diretor administrativo adjunto José Moreira Sobrinho Diretor financeiro adjunto José Carlos Braide Nogueira <strong>da</strong> Gama.<br />

Diretores Verônica Maria Rocha Perdigão, Abraão Sampaio Sales, Antônio Lúcio Carneiro, Cândido Couto Filho, Flávio Barreto Parente,<br />

Francisco José Lima Matos, Geraldo Bastos Osterno Júnior, Hercílio Helton e Silva, Jaime Machado <strong>da</strong> Ponte Filho, José Sérgio França<br />

Azevedo, Júlio Sarmento de Meneses, Manuel Cesário Filho, Marco Aurélio Norões Tavares, Marcos Veríssimo de Oliveira, Pedro Jorge<br />

Joffily Bezerra e Raimundo Alves Cavalcanti Ferraz CONSELHO FISCAL Efetivos Frederico Hosanan Pinto de Castro, José Apolônio de Castro<br />

Figueira e Vanildo Lima Marcelo Suplentes Hélio Perdigão Vasconcelos,<br />

Fernando Antonio de Assis Esteves e José Fernando Castelo Branco Ponte Delegados na CNI Efetivos Roberto Proença de Macêdo<br />

e Jorge Parente Frota Júnior Suplentes Manuel Cesário Filho e Carlos Roberto de Carvalho Fujita<br />

Superintendente geral do Sistema FIEC Paulo Stu<strong>da</strong>rt Filho<br />

Serviço Social <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong> — SESI<br />

CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados <strong>da</strong>s Ativi<strong>da</strong>des Industriais Efetivos Carlos Roberto Carvalho Fujita,<br />

Marcos Silva Montenegro, Ricardo Pereira Sales e Luiz Francisco Juaçaba Esteves Suplentes José Moreira Sobrinho Representantes do Ministério do<br />

Trabalho e Emprego Efetivo Francisco Assis Papito de Oliveira Suplente André Peixoto Figueiredo Lima Representantes do Governo do Estado do<br />

Ceará Efetivo Denilson Albano Portácio Suplente Paulo Venício Braga de Paula Representantes <strong>da</strong> Categoria Econômica <strong>da</strong> Pesca no Estado do<br />

Ceará Efetivo Paulo de Tarso Teófilo Gonçalves Neto Suplente Eduardo Camarço Filho<br />

Representante dos Trabalhadores <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong> no Estado do Ceará Efetivo Aristides Ricardo Abreu Suplente Raimundo Lopes Júnior<br />

Superintendente Regional Francisco <strong>da</strong>s Chagas Magalhães<br />

Serviço nacional de Aprendizagem Industrial — SEnAI<br />

CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados <strong>da</strong>s Ativi<strong>da</strong>des Industriais Efetivos Alexandre Pereira Silva, Ricard<br />

Pereira Silveira, Francisco Túlio Filgueiras Colares e Pedro Jacson Gonçalves de Figueiredo Suplentes Álvaro de Castro Correia Neto, Paula Andréa<br />

Cavalcante <strong>da</strong> Frota, Pedro Jorge Joffily Bezerra e Geraldo Bastos Osterno Júnior Representante do Ministério <strong>da</strong> Educação Efetivo Cláudio Ricardo<br />

Gomes de Lima Suplente Samuel Brasileiro Filho Representantes <strong>da</strong> Categoria Econômica <strong>da</strong> Pesca no Estado do Ceará Efetivo Elisa Maria<br />

Gradvohl Bezerra Suplente Eduardo Camarço Filho Representante do Ministério do Trabalho e Emprego Efetivo André Peixoto Figueiredo Lima<br />

Suplente Francisco Assis Papito de Oliveira Representante dos Trabalhadores <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong> no Estado do Ceará Efetivo Francisco Antônio Ferreira<br />

<strong>da</strong> Silva Suplente Antônio Fernando Chaves de Lima Diretor do Departamento Regional do SENAI/CE Francisco <strong>da</strong>s Chagas Magalhães<br />

Instituto Euvaldo Lodi — IEL<br />

Diretor-presidente Roberto Proença de Macêdo Superintendente Vera Ilka Meireles Sales<br />

Coordenação e edição Luiz Carlos Cabral de Morais (lcarlos@sfiec.org.br) Re<strong>da</strong>ção Ângela Cavalcante (adbastos@sfiec.org.br),<br />

David Negreiros Cavalcante (dncavalcante@sfiec.org.br), G evan Oliveira (gdoliveira@sfiec.org.br) e Luiz Henrique Campos (lhcampos@sfiec.org.br) Fotografia José Sobrinho e<br />

Giovanni Santos <strong>Dia</strong>gramação Taís Brasil Millsap Coordenação Gráfica Marcograf Endereço e Re<strong>da</strong>ção Aveni<strong>da</strong> Barão de Stu<strong>da</strong>rt, 1980 — térreo. CEP 60.120-901.<br />

Telefones (085) 3421.5435 e 3421.5436 Fax (085) 3421.5437 Revista <strong>da</strong> FIEC é uma publicação mensal edita<strong>da</strong> pela Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia<br />

(AIRM) do Sistema FIEC Coordenador <strong>da</strong> AIRM Luiz Carlos Cabral de Morais Tiragem 5.000 exemplares Impressão Marcograf<br />

Publici<strong>da</strong>de (85) 3421-5434 e 9187.5063 — publici<strong>da</strong>desfiec@sfiec.org.br e airm@sfiec.org.br<br />

Endereço eletrônico www.sfiec.org.br/publicacao/revista<strong>da</strong>fiec<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Revista <strong>da</strong> FIEC. – Ano 4, n 37 (jun. 2010) -<br />

– Fortaleza : Federação <strong>da</strong>s <strong>Indústria</strong>s do Estado do Ceará, 2008 -<br />

v. ; 20,5 cm.<br />

Mensal.<br />

ISSN 1983-344X<br />

1. <strong>Indústria</strong>. 2. Periódico. I. Federação <strong>da</strong>s <strong>Indústria</strong>s do<br />

Estado do Ceará. Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia.<br />

CDU: 67(051)<br />

Mensagem<strong>da</strong>Presidência<br />

Roberto Proença de Macêdo<br />

A FIEC aos 60 anos<br />

A Diretoria <strong>da</strong> FIEC se sente muito feliz por estar<br />

coroando o man<strong>da</strong>to do período 2006-2010 no ano de comemoração<br />

<strong>da</strong>s seis déca<strong>da</strong>s <strong>da</strong> nossa Federação. A Federação<br />

<strong>da</strong>s <strong>Indústria</strong>s do Estado do Ceará nasceu há 60 anos a partir<br />

<strong>da</strong> associação de cinco sindicatos existentes em 1950: Fiação<br />

e Tecelagem, Construção Civil, Tipografia, <strong>Indústria</strong> de Calçados,<br />

Alfaiataria e Confecções de Roupas Masculinas, sob a<br />

liderança de Waldyr Diogo de Siqueira e Thomás Pompeu de<br />

Souza Brasil Netto.<br />

Com a diversificação do parque<br />

industrial, a FIEC passou a ter um<br />

papel preponderante no atendimento<br />

à crescente deman<strong>da</strong> por<br />

gestão e mão de obra especializa<strong>da</strong>.<br />

Esse papel vem sendo desempenhado<br />

hoje pela eficiente atuação<br />

do SENAI, do SESI e do IEL,<br />

que integram a nossa estrutura.<br />

A FIEC atingiu um elevado nível<br />

de experiência e de conhecimentos<br />

nessas seis déca<strong>da</strong>s. Hoje<br />

podemos confirmar a maturi<strong>da</strong>de<br />

do parque industrial cearense <strong>da</strong> Federação.<br />

e sua capaci<strong>da</strong>de de contribuir<br />

diretamente para a realização dos<br />

projetos estruturantes, anunciados e em implantação, fun<strong>da</strong>mentais<br />

para o desenvolvimento do estado. São muitos os desafios<br />

postos, entre os quais, uma refinaria de petróleo, uma<br />

siderúrgica, uma ZPE, a geração de energia eólica e térmica,<br />

a transposição e integração do Rio São Francisco – e a consequente<br />

agricultura irriga<strong>da</strong> –, a Transnordestina, a exploração<br />

de urânio e fosfato em Itataia e a expansão do Porto do Pecém.<br />

É importante lembrar ain<strong>da</strong> as ações de adequação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

de Fortaleza para a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e<br />

mais outras 3.800 obras em an<strong>da</strong>mento, pilota<strong>da</strong>s pessoalmente<br />

pelo governador Cid Gomes.<br />

“Nos últimos três anos,<br />

trabalhamos com<br />

persistência no fortalecimento<br />

sindical, por acreditarmos que as<br />

células do nosso organismo e a<br />

modernização do nosso Estatuto<br />

passam primordialmente pela<br />

“<br />

forma de escolha dos dirigentes<br />

O Ceará, como o resto do Brasil, ressente-se <strong>da</strong> escassez de<br />

mão de obra especializa<strong>da</strong>, e a FIEC, por meio do SENAI e do<br />

SESI, tem contribuído para suprir essa deman<strong>da</strong>, ampliando<br />

sua atuação, com novos cursos de especialização e novos laboratórios<br />

para atender às novas tecnologias.<br />

Por meio do IEL, dentre outros programas, desenvolvemos<br />

o de qualificação de fornecedores e o de apoio à competitivi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s micro e pequenas indústrias – Procompi.<br />

O CIN, Centro Internacional de Negócios, tem tido uma<br />

intensa ativi<strong>da</strong>de na expansão <strong>da</strong>s<br />

exportações <strong>da</strong>s empresas cearenses,<br />

mediante contatos com<br />

representações de diversos países,<br />

visando o fortalecimento <strong>da</strong>s<br />

relações comerciais.<br />

No Posto de Informações do<br />

BNDES/FIEC instalado no INDI<br />

firmamos em 2009 cerca de mil<br />

operações de crédito, com desembolso<br />

de R$ 112 milhões de<br />

reais para médias e pequenas<br />

empresas. O INDI vem desenvolvendo<br />

também com afinco o<br />

Programa de Mobilização Empresarial<br />

pela Inovação (MEI).<br />

Nos últimos três anos, trabalhamos com persistência no<br />

fortalecimento sindical, por acreditarmos que as células<br />

do nosso organismo e a modernização do nosso Estatuto,<br />

por intermédio <strong>da</strong> democratização <strong>da</strong> gestão, passam<br />

primordialmente pela forma de escolha dos dirigentes <strong>da</strong><br />

Federação. Para tanto, teremos a partir desta <strong>da</strong>ta em que<br />

a FIEC faz 60 anos o exercício do voto direto de todos os<br />

empresários associados aos seus sindicatos. Assim, contamos<br />

com a participação de todos para que, no exercício<br />

desse direito, contribuam efetivamente para a consoli<strong>da</strong>ção<br />

<strong>da</strong> Federação que queremos.<br />

Junho de 2010 | Revista<strong>da</strong>FIEC |


Notas&Fatos<br />

o q u E A C o n T E C E n o S I S T E M A F I E C , n A P o L í T I C A E n A E C o n o M I A<br />

CIDADAnIA<br />

esColas<br />

CeaRenses<br />

pRemia<strong>da</strong>s<br />

DOZE ESCOLAS cearenses<br />

foram premia<strong>da</strong>s com o<br />

Prêmio Construindo a Nação<br />

2009-2010. Nesta edição,<br />

57 instituições de ensino<br />

concorreram. A Escola SESI<br />

Dr. Thomaz Pompeu de<br />

Souza Brasil, de Fortaleza,<br />

foi contempla<strong>da</strong> na<br />

categoria Destaque Social.<br />

A comen<strong>da</strong> busca destacar,<br />

valorizar e mostrar como<br />

exemplo, criando referências,<br />

ações que escolas públicas<br />

e priva<strong>da</strong>s realizam com a<br />

presença ativa de seus alunos<br />

no diagnóstico e promoção<br />

de ações para a solução de<br />

problemas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des<br />

onde estão situa<strong>da</strong>s. Visa<br />

ain<strong>da</strong> valorizar o papel<br />

do educador no processo<br />

de formação do aluno<br />

como ci<strong>da</strong>dão e preparar<br />

os estu<strong>da</strong>ntes para a vi<strong>da</strong>,<br />

a partir <strong>da</strong> convivência<br />

com as deman<strong>da</strong>s sociais.<br />

A premiação é realiza<strong>da</strong><br />

pelo Instituto <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

Brasil, CNI e SESI. A versão<br />

estadual é coordena<strong>da</strong><br />

pelo SESI/CE.<br />

REVISTA 60 AnoS<br />

O presidente <strong>da</strong> FIEC, Roberto<br />

Proença de Macêdo, é formado<br />

em Engenharia Mecânica e<br />

não em Engenharia Elétrica,<br />

conforme informado na edição<br />

de maio (pág. 35) <strong>da</strong> Revista<br />

<strong>da</strong> FIEC, comemorativa dos 60<br />

anos <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de.<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

SESI<br />

ação Global beneficia<br />

mais de 18 000 no Ce<br />

MAIS de 18 000<br />

pessoas foram<br />

beneficia<strong>da</strong>s na<br />

edição 2010 <strong>da</strong> Ação<br />

Global no Ceará, realiza<strong>da</strong><br />

em 22 de maio no<br />

município de Eusébio, na<br />

região metropolitana de<br />

Fortaleza. Elas tiveram<br />

amplia<strong>da</strong> a sua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

ao ter acesso a serviços<br />

gratuitos como emissão<br />

de documentos pessoais,<br />

atendimentos médicos e<br />

odontológicos, orientações<br />

sobre alimentação saudável<br />

e ativi<strong>da</strong>des de lazer e<br />

cultura. A iniciativa foi<br />

uma promoção conjunta<br />

do SESI/CE e <strong>da</strong> TV<br />

Verdes Mares, afilia<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

Rede Globo, e envolveu<br />

1 050 voluntários e 52<br />

organizações parceiras.<br />

Foram totalizados 55 161<br />

atendimentos. Entre os<br />

serviços mais procurados<br />

pelo público ficaram os de<br />

saúde, que registraram 16<br />

828 atendimentos.<br />

RESPonSABILIDADE SoCIAL<br />

ConSTRuToRA CEAREnSE RECEBE PRêMIo nACIonAL<br />

O programa Descobrindo Saberes<br />

– Construindo Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, <strong>da</strong> <strong>Dia</strong>s de<br />

Sousa Construções, é um dos vencedores<br />

do Prêmio de Responsabili<strong>da</strong>de Social<br />

<strong>da</strong> Câmara Brasileira <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong><br />

<strong>da</strong> Construção (CBIC). A premiação<br />

reconhece o trabalho realizado pela<br />

empresa no desenvolvimento de ativi<strong>da</strong>des<br />

socioeducativas e culturais <strong>da</strong>s crianças<br />

ConSTRuÇÃo<br />

setoR ContRataRá<br />

380 000 até 2014<br />

no país<br />

A COnSTRUçãO civil<br />

precisará contratar<br />

380 000 trabalhadores<br />

por ano até 2014 no país.<br />

Entre os profissionais<br />

mais procurados<br />

estão aju<strong>da</strong>ntes de<br />

obras, trabalhadores<br />

de estruturas em<br />

alvenaria, montadores de<br />

estruturas em madeira,<br />

metal e compostos,<br />

supervisores de obras e<br />

instaladores elétricos.<br />

As informações são de<br />

pesquisas prospectivas<br />

e de tendências feitas<br />

pelo SENAI Nacional.<br />

Segundo os estudos, 54%<br />

<strong>da</strong> deman<strong>da</strong> por mão<br />

de obra <strong>da</strong> construção<br />

civil será concentra<strong>da</strong> na<br />

região Sudeste, 18% no<br />

Nordeste, 14% no Sul,<br />

8% no Centro-Oeste e<br />

6% no Norte. Parte dessa<br />

deman<strong>da</strong> deverá ocorrer<br />

no interior dos estados.<br />

e adolescentes com i<strong>da</strong>de entre sete e 16<br />

anos, filhos de colaboradores do setor <strong>da</strong><br />

construção civil. A <strong>Dia</strong>s de Sousa é uma<br />

<strong>da</strong>s organizações que integram a rede<br />

de Agentes de Responsabili<strong>da</strong>de Social,<br />

programa coordenado pelo SESI/CE que<br />

consiste na capacitação de representantes<br />

do setor empresarial para a atuação em<br />

projetos sociais.<br />

AngoLA<br />

missão<br />

paRtiCipa de<br />

FeiRa em julho<br />

A MISSãO empresarial brasileira<br />

a Angola, articula<strong>da</strong> pelo<br />

Centro Internacional de<br />

Negócios (CIN) <strong>da</strong> FIEC,<br />

participará de 20 a 25 de<br />

julho <strong>da</strong> Feira Internacional de<br />

Luan<strong>da</strong> (Fil<strong>da</strong>). Cerca de 30<br />

empresários de todo o Brasil,<br />

incluindo cearenses, integram a<br />

comitiva. Em sua 27ª edição, a<br />

Fil<strong>da</strong> é uma feira multissetorial<br />

que permite o contato não<br />

apenas com o mercado<br />

angolano, mas também com<br />

importadores dos demais países<br />

<strong>da</strong> África Austral. Informações:<br />

(85) 3421-5419.<br />

CARIRI<br />

senai/Ce Realiza<br />

CuRso de pedReiRo<br />

paRa mulheRes<br />

A ESCOLA do SENAI/CE<br />

em Juazeiro do Norte e<br />

a Construtora Raimundo<br />

Coelho (CRC) <strong>da</strong>rão formação<br />

técnica gratuita na área <strong>da</strong><br />

construção civil a 60 mulheres<br />

do município. O projeto,<br />

intitulado Mulher Pedreira,<br />

está treinando inicialmente<br />

dez mulheres. As participantes<br />

são seleciona<strong>da</strong>s pela<br />

Secretaria de Ação Social do<br />

município e pela CRC. Os prérequisitos<br />

são ter concluído<br />

ou estar cursando o ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental, comprovar<br />

situação de pobreza e residir<br />

no entorno <strong>da</strong> obra. As aulas<br />

teóricas serão ministra<strong>da</strong>s na<br />

uni<strong>da</strong>de do SENAI e a parte<br />

prática ocorrerá no canteiro<br />

de obras <strong>da</strong> construtora.<br />

Notas&Fatos<br />

ALASCA<br />

FieC apoia expedição de<br />

montanhista cearense<br />

AFIEC está<br />

apoiando a<br />

expedição do<br />

cearense Rosier<br />

Alexandre na<br />

montanha mais fria<br />

<strong>da</strong> terra: o McKinley,<br />

com 6 194 metros de<br />

altitude, localizado<br />

perto do Polo Norte,<br />

no Alasca (EUA).<br />

Antes desse desafio,<br />

Rosier já escalou o<br />

Aconcágua, maior<br />

montanha <strong>da</strong> Terra<br />

fora <strong>da</strong> Ásia, e o Ojos del Salado, maior vulcão do<br />

planeta. A atual expedição ocorre durante o mês de<br />

junho, com duração aproxima<strong>da</strong> de 20 dias. Além<br />

<strong>da</strong> paixão por altas montanhas, o combustível que<br />

move Rosier em seus desafios são a garra, ousadia,<br />

planejamento, determinação e comprometimento com<br />

seus propósitos e metas, o mesmo que movimenta as<br />

grandes organizações em direção ao sucesso.<br />

FoToS<br />

AS DUAS FOTOS utiliza<strong>da</strong>s na página 11 <strong>da</strong><br />

edição de maio <strong>da</strong> Revista <strong>da</strong> FIEC,<br />

publicação especial em comemoração aos<br />

60 anos <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de, pertencem ao arquivo<br />

pessoal do industrial e escritor cearense Cândido<br />

Couto Filho. O empresário é autor do livro<br />

Ceará – A civilização do couro, entre outras<br />

obras alusivas ao setor coureiro cearense.<br />

FotoS: CÂNDIDo CoUto<br />

Foto: ARQUIVo PESSoAL DE RoSIER ALEXANDRE<br />

CURTAS<br />

---------------------<br />

n A ALIMEnTOS<br />

Funcionais do Brasil<br />

(AFBr), em parceira<br />

com o Parque de<br />

Desenvolvimento<br />

Tecnológico <strong>da</strong> UFC e<br />

empresas cearenses,<br />

está lançando franquia<br />

para instalação de<br />

rede de lojas que<br />

comercializarão apenas<br />

alimentos funcionais<br />

inéditos produzidos<br />

no Brasil. O projeto<br />

inovador pretende abrir<br />

80 lojas nos próximos<br />

cinco anos. A iniciativa<br />

conta com a parceria<br />

do Banco do Nordeste e<br />

já está com a estrutura<br />

operacional monta<strong>da</strong>. As<br />

lojas franquea<strong>da</strong>s serão<br />

abasteci<strong>da</strong>s com produtos<br />

inéditos fabricados pela<br />

AFBr com tecnologia<br />

patentea<strong>da</strong> que será<br />

licencia<strong>da</strong> pela Polymar.<br />

A primeira loja deve entrar<br />

em operação em agosto.<br />

n O BRASIL apresenta<br />

situação privilegia<strong>da</strong><br />

em termos de utilização<br />

de fontes renováveis<br />

de energia. De acordo<br />

com <strong>da</strong>dos de 2009, no<br />

país, 47,3% <strong>da</strong> Oferta<br />

Interna de Energia (OIE)<br />

é renovável, enquanto a<br />

média mundial é de 14%<br />

e nos países desenvolvidos<br />

apenas 6%. A OIE, também<br />

denomina<strong>da</strong> de matriz<br />

energética, representa<br />

to<strong>da</strong> a energia disponível<br />

para ser transforma<strong>da</strong>,<br />

distribuí<strong>da</strong> e consumi<strong>da</strong><br />

nos processos produtivos<br />

do país.<br />

Junho de 2010 | Revista<strong>da</strong>FIEC |


Ceará<br />

Pobreza extinta<br />

em 32 anos<br />

Cálculo é do levantamento do Laboratório de Estudos <strong>da</strong> Pobreza<br />

(LEP) levando em conta uma taxa média de crescimento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong><br />

familiar per capita no patamar de 1,58% ao ano<br />

POR ÂNGELA CAvALCANTE<br />

Em quanto tempo será erradica<strong>da</strong> a pobreza no<br />

Ceará? Levantamento do Laboratório de Estudos<br />

<strong>da</strong> Pobreza (LEP), vinculado ao Curso de Pós-Graduação<br />

em Economia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do<br />

Ceará (CAEN/UFC), calcula que se a taxa média de crescimento<br />

<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> familiar per capita se mantiver no patamar<br />

de 1,58% ao ano, como ocorreu entre 1995 e 2007, a<br />

pobreza no estado será extinta em 32 anos.<br />

Para o coordenador do LEP, Flávio Ataliba Barreto, o<br />

prazo pode ser reduzido se, além do crescimento econômico,<br />

forem utiliza<strong>da</strong>s políticas públicas que possam alterar<br />

o perfil distributivo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de cearense. Conforme o<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

economista, a utilização de estratégias volta<strong>da</strong>s para a geração<br />

de ren<strong>da</strong> entre os mais pobres é fun<strong>da</strong>mental, já que a ren<strong>da</strong><br />

do salário é considera<strong>da</strong> o principal responsável pela que<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de. Segundo Ataliba, a melhoria <strong>da</strong> educação e<br />

<strong>da</strong> saúde pública para os mais pobres é também decisiva para<br />

transformar o cenário de desigual<strong>da</strong>de no estado.<br />

Na análise do LEP, o tempo médio de extinção <strong>da</strong> pobreza<br />

reduz à medi<strong>da</strong> que a ren<strong>da</strong> real cresce. Conforme<br />

as simulações, caso a ren<strong>da</strong> real <strong>da</strong>s famílias cearenses<br />

crescesse a uma taxa anual consecutiva de apenas 0,5% ao<br />

ano, seriam necessários 97 anos e seis meses para abolir<br />

completamente a pobreza no Ceará. Considerando, então,<br />

que o rendimento aumentasse por ano na faixa de 5%, a<br />

perspectiva de extinção seria de apenas dez anos.<br />

Embora o estudo Sobre a Quali<strong>da</strong>de do Crescimento<br />

Econômico no Brasil de 1995 a 2008: uma Análise<br />

Comparativa entre Estados e Regiões Brasileiras, realizado<br />

recentemente também pelo LEP, ateste que o Ceará<br />

melhorou todos os seus indicadores socioeconômicos,<br />

o nível de desigual<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> é muito grande, como no<br />

restante do país.<br />

No período de 1995 a 2008, o estado apresentou crescimento<br />

em favor <strong>da</strong> pobreza, reduzindo ca<strong>da</strong> um dos<br />

indicadores e em todos os percentuais de ren<strong>da</strong> analisados.<br />

Segundo Flávio Ataliba, a redução <strong>da</strong> pobreza ocorre<br />

por meio <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça na distribuição <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> e do seu<br />

crescimento, que impacta na diminuição <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de<br />

econômica. “Nos dois fatores o Ceará apresentou melhoria<br />

no período estu<strong>da</strong>do”, observa o economista.<br />

O Índice de Gini, criado em 1912 pelo estatístico italiano<br />

Corrado Gini para medir o grau de desigual<strong>da</strong>de<br />

existente na distribuição de indivíduos segundo a ren<strong>da</strong><br />

domiciliar per capita, revela uma melhoria na distribuição<br />

do rendimento cearense ao longo dos anos contemplados<br />

no estudo em questão. O índice considera que, quanto<br />

mais próximo de zero, menor é a diferença de ren<strong>da</strong> entre<br />

a população. As taxas verifica<strong>da</strong>s para o estado foram<br />

de 0,61% (período FHC), de 0,58% (período Lula) e 0,53%<br />

(1995 – 2008). Outro ponto positivo, em relação ao Ceará,<br />

é que a taxa de crescimento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> domiciliar per capita<br />

continua crescente. Ela passou de 2,19% (1995 a 2002) para<br />

26,90% (2000 a 2008), fechando numa variação de 29,68%,<br />

no período de 1995 a 2008.<br />

Da mesma forma como ocorre com a desigual<strong>da</strong>de,<br />

O prazo para<br />

a pobreza ser<br />

erradica<strong>da</strong> pode ser<br />

reduzido se, além do<br />

crescimento econômico,<br />

forem utiliza<strong>da</strong>s políticas<br />

públicas que possam alterar o perfil<br />

distributivo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de cearense.<br />

““<br />

Flávio Ataliba Barreto, coordenador do LEP<br />

a evolução nos indicadores socioeconômicos do estado<br />

também tem sido percebi<strong>da</strong> em todo o país. Por esse motivo,<br />

não é possível afirmar até que ponto a evolução no<br />

desenvolvimento cearense estaria liga<strong>da</strong> a políticas públicas<br />

estaduais, ou seria reflexo <strong>da</strong>s federais.<br />

De acordo com o pesquisador do LEP, Carlos Manso,<br />

as desproporções do desenvolvimento continuam no<br />

Ceará para com o interior, assim como no Brasil para com<br />

o Nordeste. “A zona rural cearense tem 22% <strong>da</strong> população<br />

e 40% dos pobres, assim como o Nordeste, que tem<br />

apenas 28% <strong>da</strong> população nacional e responde por 48%<br />

do número de pobres”, compara. Segundo ele, a evolução<br />

no desenvolvimento do estado poderia estar mais veloz<br />

se fossem amplia<strong>da</strong>s políticas públicas direciona<strong>da</strong>s, por<br />

exemplo, para a educação, especialmente na infância.<br />

Junho de 2010 | Revista<strong>da</strong>FIEC |<br />

Foto: ARQUIVo PESSoAL, FLÁVIo AtALIBA


Lentidão se deve à “pulverização” do Fecop Estudos mostram que a desigual<strong>da</strong>de tende a inibir o<br />

Outra pesquisa do LEP, que relaciona o Fundo Estadual<br />

de Combate à Pobreza (Fecop) com o Índice de<br />

Desenvolvimento Municipal (IDM) em dez ci<strong>da</strong>des do<br />

Ceará e em dez locali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> capital do estado, Fortaleza,<br />

entre os anos de 2004 e 2006, aponta que as ações do<br />

fundo teriam maior eficácia no desenvolvimento econômico<br />

dos municípios cearenses se fossem adotados fatores<br />

condicionantes, como comprovações de matrícula escolar e<br />

de vacinação de crianças para a execução dos programas.<br />

O estudo, que também comparou o Fecop com o Bolsa<br />

Família, revela maior impacto do programa de transferência<br />

de ren<strong>da</strong> do governo federal do que do Fecop na melhoria dos<br />

indicadores do estado. “Constatamos estatisticamente que o<br />

Bolsa Família tem um maior peso na evolução dos indicadores.<br />

Entretanto, nem o Fecop sozinho, ou associado ao Bolsa<br />

Família, fez os IDMs dos municípios pesquisados crescerem<br />

acima <strong>da</strong> média dos outros. Isso merece uma reflexão sobre a<br />

metodologia a ser utiliza<strong>da</strong> na continui<strong>da</strong>de desse programa”,<br />

avalia a economista Lúcia de Fátima Muniz, responsável pelo<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa do LEP.<br />

Em seu sexto ano de atuação, o Fecop tem prazo de<br />

vigência previsto para 31 de dezembro próximo. Para a<br />

economista, ele deve ser mantido, mas com mu<strong>da</strong>nças.<br />

Inicialmente, em 2004, os recursos do fundo eram destinados<br />

aos dez municípios mais pobres do Ceará (na época, Salitre,<br />

Aiuaba, Catarina, Quiterianópolis, Granja, Moraújo, Tarrafas,<br />

Parambu, Cariús e Irauçuba). Porém, a metodologia sofreu<br />

alterações e hoje todos os 184 municípios são contemplados.<br />

A quanti<strong>da</strong>de de ações também se multiplicou e a gestão<br />

do Fecop passou de um comitê central para as secretarias<br />

estaduais. “Essa pulverização pode ser aponta<strong>da</strong> como a razão<br />

para a lentidão dos resultados obtidos”, argumenta Muniz.<br />

Desigual<strong>da</strong>de X ren<strong>da</strong><br />

Entre 2001 e 2008, o Ceará conseguiu superar<br />

as regiões brasileiras e o próprio país na<br />

redução <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de. O estado acumulou<br />

uma redução de 7,69%, enquanto o Brasil apresentou<br />

retração de 5,09%. A região Norte também superou<br />

o nível nacional, com que<strong>da</strong> de 6,05%. O Nordeste<br />

teve o segundo pior desempenho, com 4,54% de<br />

redução, perdendo apenas para o Centro-Oeste, que<br />

teve variação negativa de 3,11%. Os índices têm por<br />

base os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Pesquisa Nacional por Amostra<br />

de Domicílio (PNAD), do Instituto Brasileiro de<br />

Geografia e Estatística (IBGE).<br />

Para os pesquisadores do LEP Flávio Ataliba Barreto,<br />

Carlos Alberto Manso e Raimundo Loiola Filho e os<br />

colaboradores do estudo A Ren<strong>da</strong> do Trabalho e a Redução<br />

<strong>da</strong> Desigual<strong>da</strong>de – Evidências para o Ceará, Regiões e Brasil,<br />

Janaína Rodrigues Feijó e Danielly Viana Santos, tais números<br />

jogam luz na esperança de que, ao ser atualiza<strong>da</strong> a estatística do<br />

Programa <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para o Desenvolvimento (PNUD), o<br />

Estudo que comparou o<br />

Fecop com o Bolsa Família<br />

revela maior impacto do programa<br />

de transferência de ren<strong>da</strong> do governo<br />

federal do que do Fecop na melhoria<br />

dos indicadores do estado.<br />

Lúcia de Fátima Muniz, economista responsável<br />

pelo desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa do LEP<br />

““<br />

Na análise dos economistas do Caen, o Fecop, criado<br />

pelo governo estadual em 2003 e regulamentado em março<br />

do ano seguinte, tem como premissa básica a melhoria <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> dos municípios mais pobres do Ceará, com<br />

dois macro-objetivos: promover transformações estruturais<br />

para combater a pobreza e assistir as populações que se<br />

encontram abaixo <strong>da</strong> linha de pobreza, visando melhorar<br />

suas condições de vi<strong>da</strong> mediante políticas de transferência<br />

de ren<strong>da</strong>, com caráter assistencialista.<br />

Dados do IDM 2008, divulgados pelo Instituto de Pesquisa<br />

e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), mostram que dos<br />

184 municípios cearenses, apenas 20, ou cerca de 11%,<br />

apresentam condições satisfatórias de infraestrutura e índices<br />

sociais e econômicos relativamente favoráveis. Dez destes<br />

pertencem à região metropolitana de Fortaleza. Os outros 164,<br />

onde vive metade <strong>da</strong> população do estado, detêm indicadores<br />

econômicos e sociais classificados como baixos.<br />

Índice de GINI: Brasil, Regiões e Ceará. 2001 e 2008 (%)<br />

Locali<strong>da</strong>des 2001 2008 Variação<br />

Centro-Oeste 60,22 57,00 -3,22<br />

Norte 58,03 51,99 -6,05<br />

Nordeste 61,10 56,56 -4,54<br />

Ceará 62,24 54,55 -7,69<br />

Sul 55,16 49,61 -5,54<br />

Sudeste 57,14 51,84 -5,30<br />

Brasil 60,13 55,04 -5,09<br />

Fonte: Elaborado pelos autores do estudo a partir dos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> PNAD/IBGE<br />

nosso país passe a ocupar melhor posição. Na última edição do<br />

PNUD, realiza<strong>da</strong> em 2003, dos 160 países pesquisados, o Brasil<br />

ficou em 8º lugar entre os mais desiguais, superando apenas<br />

Guatemala e os africanos Suazilândia, República Centro-Africana,<br />

Serra Leoa, Botsuana, Lesoto e Namíbia.<br />

crescimento econômico dos países, principalmente em<br />

economias de baixa ren<strong>da</strong>. O motivo é que a desigual<strong>da</strong>de<br />

contribui para potencializar os desvios e conflitos sociais,<br />

aumentando a necessi<strong>da</strong>de de os governos destinarem<br />

vultosos recursos de seus orçamentos para ativi<strong>da</strong>des não<br />

produtivas, como construção de novos presídios, aumento<br />

do aparelho policial, ampliação <strong>da</strong> justiça etc. Outro fator<br />

limitador é que a alta desigual<strong>da</strong>de restringe o tamanho<br />

do mercado consumidor interno, já que a propensão<br />

média a consumir tende a ser menor em economias de<br />

ren<strong>da</strong> mais concentra<strong>da</strong>.<br />

O sucesso de políticas públicas na redução <strong>da</strong><br />

pobreza passa necessariamente por ações que<br />

promovam, de forma simultânea, a expansão <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> e<br />

a redução <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de. Quanto mais alto o nível de<br />

concentração de ren<strong>da</strong> inicial, maior a necessi<strong>da</strong>de de<br />

que os resultados benéficos do crescimento econômico<br />

sejam espalhados para to<strong>da</strong>s as classes <strong>da</strong> população,<br />

especialmente as mais carentes.<br />

No Ceará, o estudo do LEP revela que, do total <strong>da</strong> ren<strong>da</strong><br />

per capita, a ren<strong>da</strong> advin<strong>da</strong> do trabalho representa 72,1%. A<br />

média nacional é maior, chegando a quase 80%. Observase,<br />

porém, que essa variável perdeu participação em to<strong>da</strong>s<br />

as regiões em 2008, significando evidentemente que os<br />

outros componentes ganharam maior peso. Depois <strong>da</strong> ren<strong>da</strong><br />

do trabalho, os rendimentos de aposentadorias e pensões<br />

pagas pelo governo federal ou por institutos de previdência<br />

têm a segun<strong>da</strong> maior importância, representando no Brasil<br />

um pouco menos de 20% do total. Essa variável, junto a<br />

rendimentos relacionados aos pagamentos de juros ou<br />

dividendos e transferências de programas sociais como o<br />

Bolsa Família, teve aumento na participação em 2008, com<br />

especial atenção para esse último no Nordeste – mais do<br />

que duplicou sua importância relativa.<br />

Segundo o estudo, como a ren<strong>da</strong> do trabalho é<br />

o componente mais importante na ren<strong>da</strong> total, ela<br />

Evolução <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> salarial per capita 2002 a 2008<br />

Ceará Nordeste Brasil<br />

Fonte: Elaborado pelos autores do estudo a partir dos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> PNAD/IBGE<br />

tem grande peso na determinação <strong>da</strong> magnitude <strong>da</strong><br />

desigual<strong>da</strong>de no Brasil. “Significa que a ren<strong>da</strong> advin<strong>da</strong> do<br />

trabalho praticamente coman<strong>da</strong> a medi<strong>da</strong> de desigual<strong>da</strong>de<br />

no país. Constata-se inicialmente, então, que o principal<br />

responsável pela que<strong>da</strong> <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de nas diversas<br />

locali<strong>da</strong>des é o aumento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> do trabalho”, avaliam os<br />

autores do estudo.<br />

Com exceção do Nordeste, em to<strong>da</strong>s as regiões e no<br />

Brasil, a participação <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> do trabalho na ren<strong>da</strong> total<br />

está acima de 60%, com destaque para o Sudeste, que<br />

é responsável por quase 78% <strong>da</strong> variação do Índice de<br />

Gini. O Ceará, com 62,56%, apresenta um comportamento<br />

semelhante ao <strong>da</strong> região Sul.<br />

Quanto aos outros componentes, verifica-se que<br />

a ren<strong>da</strong> proveniente de aluguéis e doações feitas por<br />

pessoas de outros domicílios teve pouca participação<br />

na redução <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de, enquanto que recursos de<br />

aposentadorias e pensões pagas pelo governo federal<br />

ou por institutos de previdência tiveram expressiva<br />

influência na região Sul, contribuindo com quase 28%<br />

para sua redução. Isso significa que entre as pessoas<br />

que recebem esse tipo de rendimento, a desigual<strong>da</strong>de<br />

ficou menor nesse grupo de ren<strong>da</strong>, o que, por extensão,<br />

contribui para a que<strong>da</strong> <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de geral. Ain<strong>da</strong> sobre<br />

esse componente, a contribuição de 16,76% no Ceará<br />

acompanha o padrão nacional (16,36%) e <strong>da</strong>s regiões<br />

Nordeste (16,46%) e Sudeste (15,90%).<br />

Os desembolsos com transferências oficiais (Bolsa<br />

Família, por exemplo) e o pagamento de juros <strong>da</strong>s<br />

aplicações financeiras têm pouca expressivi<strong>da</strong>de nas<br />

regiões mais desenvolvi<strong>da</strong>s do país, como Sul e Sudeste.<br />

Nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, a contribuição<br />

dessas fontes de ren<strong>da</strong> é bem mais significativa, sendo<br />

responsável por quase 40% <strong>da</strong> que<strong>da</strong> de desigual<strong>da</strong>de<br />

de ren<strong>da</strong> entre os nordestinos. No Ceará, a contribuição<br />

de benefícios como o Bolsa Família representa cerca de<br />

22,31% <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> total.<br />

10 | Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Junho de 2010 11<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC |


Segun<strong>da</strong> pior média<br />

Apesar de a ren<strong>da</strong> do trabalho ser o principal<br />

responsável pela redução <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de no<br />

Brasil e no Ceará, a média salarial do estado<br />

para o ano de 2008, considerando a faixa etária<br />

com i<strong>da</strong>de ativa de trabalho (15 anos ou mais), teve<br />

a segun<strong>da</strong> pior média do país (R$ 618,30), ficando<br />

à frente apenas do Piauí (R$ 585,87). Em relação<br />

à evolução <strong>da</strong> média salarial, o estado apresentou<br />

uma taxa de crescimento de 12,68% no período,<br />

sendo inferior à média nordestina (19,23%), mas<br />

superior à taxa nacional (7,60%). Quando se avalia<br />

essa evolução em relação a to<strong>da</strong> a população, o<br />

desempenho no Ceará, com uma taxa de 30,61%,<br />

supera novamente Brasil e Nordeste.<br />

Analisando o mercado de trabalho cearense<br />

a partir <strong>da</strong> distribuição <strong>da</strong> população ocupa<strong>da</strong> e sua ren<strong>da</strong><br />

por ativi<strong>da</strong>des de 2002 a 2008, o estudo do LEP verifica<br />

que grande parte do contingente em 2002 encontrava-se<br />

nas ativi<strong>da</strong>des agrícolas (31%), segui<strong>da</strong>s do comércio (16%)<br />

e indústria (14%). Em 2008, constata-se uma redução na<br />

participação <strong>da</strong> população no setor agrícola (27%), com<br />

aumento expressivo no pessoal ocupado no setor industrial<br />

(um crescimento de dois pontos percentuais) e no comércio,<br />

subindo sua participação para 17%.<br />

Ren<strong>da</strong> <strong>da</strong> população ocupa<strong>da</strong> por ativi<strong>da</strong>des no Ceará, 2008<br />

Educação e Saúde<br />

15%<br />

Outras<br />

24%<br />

Adm. Pública<br />

11%<br />

Agrícola<br />

8%<br />

<strong>Indústria</strong><br />

14%<br />

Comércio<br />

21%<br />

Fonte: Elaborado pelos autores do estudo a partir dos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> PNAD/IBGE<br />

Construção 7%<br />

O componente mais importante verificado no estudo, em<br />

relação à evolução anual <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> do trabalho entre 2002-<br />

2008, foi o aumento <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de. No Ceará, esse ganho<br />

representou uma taxa de crescimento média anual de 3,03%,<br />

enquanto que no Brasil essa taxa foi de 1,90%, e no Nordeste<br />

a expansão foi de 3,89%. No caso específico do Ceará, a<br />

taxa verifica<strong>da</strong> decorreu especialmente <strong>da</strong> expansão que se<br />

observou de 2006 a 2008. A expansão <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de foi o<br />

principal responsável pelo ganho de produtivi<strong>da</strong>de no período,<br />

especialmente para o Nordeste.<br />

Inovaçoes<br />

TECLADO SOBRE A PELE<br />

Foto: CHRIS HARRISoN<br />

Em breve, os touchpads dos<br />

notebooks ou as telas sensíveis<br />

ao toque de computadores,<br />

celulares e outros equipamentos<br />

portáteis, tecnologias que<br />

mal chegaram às prateleiras,<br />

serão “coisa” do passado. Elas<br />

devem ficar “obsoletas” quando<br />

o skinput – uma mescla de<br />

skin (pele) e input (entra<strong>da</strong><br />

de <strong>da</strong>dos) – estiver à ven<strong>da</strong>.<br />

Desenvolvi<strong>da</strong> por Chris Harrison<br />

e Desney Tan Dan Morris, <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Carnegie Mellon,<br />

nos Estados Unidos, o skinput<br />

é uma combinação de sensores<br />

bioacústicos e um programa de<br />

inteligência artificial que pode<br />

transformar os dedos, os braços<br />

– ou virtualmente qualquer<br />

parte do corpo – em um teclado<br />

virtual para controlar telefones<br />

celulares inteligentes e outros<br />

equipamentos eletrônicos.<br />

Em um teste envolvendo 20<br />

voluntários, o teclado virtual<br />

projetado sobre a pele foi capaz<br />

de identificar as entra<strong>da</strong>s com<br />

88% de exatidão. A precisão<br />

depende <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong>de do<br />

toque com os sensores: toques<br />

no antebraço puderam ser<br />

identificados com 96% de<br />

exatidão quando os sensores<br />

estavam fixados abaixo do<br />

cotovelo. Os testes indicaram que<br />

a precisão do skinput é menor<br />

nas pessoas mais gordinhas, e a<br />

i<strong>da</strong>de e o sexo também podem<br />

afetar a precisão. Mas isso eles<br />

ain<strong>da</strong> não explicaram o porquê!<br />

Então, tá!<br />

&Descobertas<br />

PnEUS “VERDES” DEVEM RODAR EM CInCO AnOS<br />

Os primeiros pneus verdes, fabricados com<br />

matéria-prima renovável, deverão estar disponíveis<br />

no mercado dentro de cinco anos. Foi o que afirmou<br />

o cientista Joseph McAuliffe, durante a Conferência<br />

Anual <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Química Americana. As pesquisas<br />

atuais tentam substituir o petróleo<br />

por compostos derivados de<br />

plantas. Ca<strong>da</strong> pneu fabricado<br />

hoje consome 26 litros e,<br />

anualmente, é produzido<br />

perto de um bilhão de<br />

uni<strong>da</strong>des. McAuliffe explica<br />

que o novo processo usa<br />

os açúcares derivados <strong>da</strong><br />

biomassa para produzir um<br />

composto químico chamado<br />

BITUCA DE CIGARRO EVITA<br />

CORROSãO DO AçO<br />

Quem diria!<br />

Encontraram um<br />

benefício trazido pelo<br />

cigarro o cigarro além<br />

do enriquecimento<br />

dos seus produtores e<br />

dos impostos para os<br />

governos. Cientistas<br />

chineses afirmam que<br />

os cigarros, ou melhor,<br />

as bitucas que sobram depois do uso podem ser<br />

usa<strong>da</strong>s como um poderoso anticorrosivo do aço.<br />

Segundo estudo publicado na revista científica<br />

Industrial & Engineering Chemistry Research, o<br />

filtro de cigarro usado produz nove substâncias<br />

químicas diferentes, entre elas a nicotina, que,<br />

quando imersa em água, impede a corrosão<br />

do aço. Explica o cientista Jun Zhao, um dos<br />

responsáveis pelo trabalho, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Xian<br />

Jiaotong: “Quando os extratos foram aplicados em<br />

canos de aço comumente usados na indústria do<br />

petróleo, verificou-se que as substâncias tinham<br />

a proprie<strong>da</strong>de de impedir a corrosão do material,<br />

mesmo quando o metal foi submetido a condições<br />

extremas”. Zhao e sua equipe citaram estatísticas<br />

de acordo com as quais 4,5 trilhões de filtros de<br />

cigarro são descartados no meio ambiente a ca<strong>da</strong><br />

ano. Os chineses consomem cerca de um terço dos<br />

cigarros produzidos no planeta.<br />

isopreno, um derivado do petróleo usado na<br />

fabricação do pneu. “Um dos desafios técnicos tem<br />

sido o desenvolvimento de um processo eficiente para<br />

converter os açúcares em isopreno. Nós resolvemos<br />

isso utilizando um processo de fermentação baseado<br />

em uma cepa de bactérias geneticamente<br />

modifica<strong>da</strong>s para converter os carboidratos<br />

<strong>da</strong> biomassa em nosso bioisopreno”,<br />

diz McAuliffe. A empresa agora firmou<br />

um contrato com a Goodyear,<br />

uma <strong>da</strong>s maiores fabricantes de<br />

pneus do mundo, para levar o<br />

método para escala industrial,<br />

integrando o processo de<br />

fermentação, recuperação e<br />

purificação do bioisopreno.<br />

CAMPO ELéTRICO REVOLUCIOnA<br />

FABRICAçãO DE CERâMICA<br />

Pesquisadores<br />

<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

Carolina do Norte<br />

descobriram como<br />

utilizar um campo<br />

elétrico para mol<strong>da</strong>r<br />

peças de cerâmica,<br />

tornando o processo<br />

muito mais eficiente<br />

energeticamente, resultando em economia de<br />

custo significativo para a indústria de cerâmica. O<br />

coordenador dos trabalhos, Hans Conrad, explica<br />

que a cerâmica é um material cristalino, e que uma<br />

de suas características está nos defeitos entre os<br />

minúsculos grânulos que os formam. Um desses<br />

defeitos é chamado de contorno do grânulo, que<br />

é onde os cristais com átomos alinhados em<br />

diferentes direções se encontram no material.<br />

“Nós descobrimos que, se aplicarmos um campo<br />

elétrico ao material, ele interage com as cargas<br />

nas fronteiras dos grânulos e torna mais fácil para<br />

os cristais deslizarem uns sobre os outros. Esse<br />

processo dinamiza a deformação do material”, diz<br />

Conrad. Em outras palavras, o material se torna<br />

superplástico, permitindo que a cerâmica seja<br />

mol<strong>da</strong><strong>da</strong> na forma deseja<strong>da</strong> usando uma força<br />

muito menos intensa, quase zero. Os resultados<br />

significam que os fabricantes de cerâmica poderão<br />

passar a fazer suas peças gastando menos energia.<br />

“Isso vai tornar os processos de produção mais<br />

rentáveis e diminuir a poluição”,finaliza Conrad.<br />

Junho de 2010 1<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC |


Tecnologia<br />

Robôs cearenses<br />

Empresa Armtec ganha reconhecimento internacional e mostra que o<br />

Brasil é capaz de inovar com tecnologia robótica de ponta<br />

POR GEvAN OLIvEIRA<br />

Na mitologia tupi, a figura do caipora está intimamente<br />

associa<strong>da</strong> à vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> floresta. É o guardião<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> animal, aprontando to<strong>da</strong> sorte de cila<strong>da</strong>s<br />

para o caçador, sobretudo aquele que abate animais<br />

além de suas necessi<strong>da</strong>des; o saci, também um ser<br />

mitológico, é retratado como um negrinho travesso de<br />

uma perna só, de cachimbo e com barrete vermelho que<br />

persegue os viajantes ou lhes arma cila<strong>da</strong>s pelo caminho.<br />

No imaginário popular esses seres encantam há gerações.<br />

Atualmente, há um outro saci e um outro caipora an<strong>da</strong>ndo<br />

por aí, mas que, ao contrário dos seres descritos acima,<br />

não metem medo em ninguém. Numa coisa, no entanto,<br />

se assemelham: chamam a atenção por onde passam.<br />

Na era hightec, o saci responde pelo nome de sistema<br />

de apoio ao combate de incidentes. É feito de fibra, aço e<br />

alumínio, entre outros materiais na<strong>da</strong> irreais. Ele não desaparece,<br />

nem tira on<strong>da</strong> como o seu xará; na ver<strong>da</strong>de, sua<br />

missão é a mais nobre possível: salvar a vi<strong>da</strong> de vítimas<br />

de incêndio. Estamos falando do robô desenvolvido pela<br />

empresa cearense Armtec. Mais parecido com um minitanque<br />

de guerra, o saci cabeça chata foi o principal destaque<br />

<strong>da</strong> Semana de Ciência e Tecnologia, realiza<strong>da</strong> na Esplana<strong>da</strong><br />

dos Ministérios, em Brasília, no ano de 2009.<br />

Com menos de 2 metros de comprimento, 1,5 metro de<br />

altura e pesando 1 tonela<strong>da</strong>, saci é o menor robô do mundo<br />

utilizado no combate a incêndios. Construído com tecnologia<br />

nacional, é também o único modelo com um canhão<br />

d’água que gira 360 graus. O saci teve sua gênese em 2003,<br />

quando o professor universitário Roberto Menescal apresentou,<br />

em sala de aula, o primeiro robô especializado em<br />

combater incêndios no mundo, de origem japonesa. No<br />

ano seguinte, Roberto Lins de Macedo (filho do professor)<br />

concluía o curso de engenharia eletrônica na Universi<strong>da</strong>de<br />

de Fortaleza (Unifor) apresentando ao mundo o modelo<br />

brasileiro do robô nipônico.<br />

À época, o projeto chamou a atenção do governo cearense,<br />

que incentivou Roberto Lins a criar e incubar uma<br />

empresa para fabricar o robô. “Na ocasião, contávamos<br />

Foto: ABR / MARCELo CASAL<br />

com um depósito de patente e fomos a primeira<br />

empresa incuba<strong>da</strong> na Unifor”, afirma o<br />

engenheiro, hoje diretor-executivo <strong>da</strong> Armtec.<br />

Em 2005, o saci ganhou os três maiores prêmios<br />

de tecnologia do Brasil: <strong>da</strong> Confederação<br />

Nacional <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong> (CNI), <strong>da</strong> Petrobras e <strong>da</strong><br />

Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).<br />

Esse último prêmio, a Armtec ganhou quatro<br />

vezes, com diferentes produtos.<br />

A empresa também é reconheci<strong>da</strong> como<br />

caso de sucesso <strong>da</strong> cadeia de petróleo e gás, Serviço<br />

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas<br />

Empresas (Sebrae), Associação Brasileira <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong><br />

de Máquinas e Equipamentos (Abimaq)<br />

e Instituto Nacional de Proprie<strong>da</strong>de Industrial<br />

(Inpi), além de ter ganho o prêmio no Ceará e<br />

nacional do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), na categoria<br />

Melhores Práticas de Estágio, e Werner<br />

Von Siemens (2006), entre outras comen<strong>da</strong>s.<br />

A empresa foi a primeira companhia cearense,<br />

e uma <strong>da</strong>s pioneiras do país, a ser certifica<strong>da</strong><br />

com o ISO 9000:2008 em seu sistema de gestão<br />

<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de. Considerando que a Armtec tem<br />

sede em uma universi<strong>da</strong>de, trata-se de um feito<br />

e tanto. Sobre o fato de ain<strong>da</strong> permanecer na<br />

Unifor, Roberto Lins diz: “Onde mais teríamos<br />

acesso a várias tecnologias, aos maiores cérebros<br />

e a linhas de financiamento e fomento, entre outras<br />

vantagens, se não fosse na universi<strong>da</strong>de?”<br />

O pulo do saci<br />

Com um jato que alcança até 60 metros<br />

de distância, em linha reta, e 15 metros<br />

de altura, equivalendo a um prédio de<br />

quatro an<strong>da</strong>res, hoje o robô saci, que utiliza<br />

água e espuma no combate ao fogo, está na<br />

terceira geração, atraindo olhares de admiração<br />

em feiras e congressos por onde passa, aqui e<br />

em outros países. Roberto Lins explica que as<br />

vantagens do robô cearense estão no tamanho,<br />

na agili<strong>da</strong>de e no preço. De fato, se comparado<br />

ao modelo chinês, que custa o equivalente a<br />

R$ 700 000, o invento brasileiro se mostra<br />

muito mais competitivo com os seus R$ 200<br />

000. “O saci pode an<strong>da</strong>r em qualquer terreno,<br />

garantindo mais eficiência no combate a<br />

incêndios”, afirma o engenheiro.<br />

De frente para o perigo, o maior trunfo<br />

do saci é garantir segurança aos bombeiros<br />

no combate ao fogo, uma vez que pode ser<br />

operado a uma distância de até 180 metros.<br />

“O controle <strong>da</strong> máquina pode ser feito pelo<br />

bombeiro a pelo menos 120 metros. O saci<br />

As vantagens do robô<br />

cearense estão no<br />

tamanho, na agili<strong>da</strong>de e no preço.<br />

O saci pode an<strong>da</strong>r em qualquer<br />

terreno, garantindo mais eficiência<br />

no combate aos incêndios.<br />

Roberto Lins de Macedo, engenheiro e diretor-executivo <strong>da</strong> Armtec<br />

““<br />

foi criado para suportar as chamas, por isso<br />

pode ir avançando até o fogo sem problemas”,<br />

ressalta Roberto Lins.<br />

O robô é a maior estrela <strong>da</strong> Armtec, sem o<br />

qual a empresa cearense não existiria. Mas ele<br />

é apenas o primeiro de uma série com siglas<br />

que formam nomes tipicamente brasileiros.<br />

Entre as invenções estão a mulata (máquina<br />

unifica<strong>da</strong> para lazer, atendimento, treinamento<br />

e apresentações), o samba (minissubmarino<br />

de avaliação de estruturas marítimas, fluviais<br />

e meio ambiente brasileiro automatizado), o<br />

caipora (carro automatizado instrumentado para<br />

perícia, observação, resgate e ataque a artefatos<br />

suspeitos e cargas perigosas).<br />

A mulata, por exemplo, apresenta<strong>da</strong> no<br />

evento o Melhor do Brasil em dezembro de<br />

2009, no Rio de Janeiro, a convite <strong>da</strong><br />

Agência Brasileira de Promoção de<br />

Exportações e Investimentos (Apex-Brasil),<br />

é uma máquina controla<strong>da</strong> a distância<br />

capaz de interagir com as pessoas e de<br />

realizar o papel de agente de marketing e<br />

propagan<strong>da</strong>, entre muitas outras funções.<br />

Durante o encontro, o invento impressionou<br />

até o presidente Lula porque o robô, além de<br />

ser uma espécie de recepcionista Avatar, está<br />

sendo aperfeiçoado para enfrentar locais de<br />

risco por meio de controle remoto.<br />

A máquina tem sistemas<br />

de transmissão e recepção<br />

de áudio (ouve e fala), de<br />

recepção e transmissão<br />

de vídeo (vê e transmite<br />

informações), de<br />

iluminação e<br />

de câmeras<br />

infravermelhas<br />

(vê no escuro).<br />

“Em eventos,<br />

a mulata<br />

A mulata é capaz de<br />

interagir com as pessoas<br />

e realizar o papel de<br />

agente de marketing,<br />

entre outras funções<br />

1 | Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Junho de 2010 1<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC |<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

Foto: FELIPE VELCHIo


pode convocar pessoas para os estandes<br />

e levá-las para passear. Ou mesmo realizar<br />

missões mais radicais, como auxiliar em<br />

missões de negociação com sequestradores,<br />

apoiar a segurança e fazer ron<strong>da</strong> em ambientes<br />

fechados, sendo programa<strong>da</strong> para cumprir<br />

rotas predetermina<strong>da</strong>s”, explica Roberto Lins.<br />

Além disso, pode ser utiliza<strong>da</strong> em ativi<strong>da</strong>des de<br />

ensino a distância, permitindo a interativi<strong>da</strong>de<br />

com os alunos. Também serve de base de<br />

apoio para a realização de cirurgias a distância,<br />

utilizando para tanto o sistema de câmeras e a<br />

tela de transmissão para apoiar o trabalho dos<br />

cirurgiões com informações.<br />

O samba do siri<br />

As invenções <strong>da</strong> Armtec não param<br />

por aí. O samba, projeto que tem<br />

como parceiros a Marinha brasileira,<br />

o Ministério <strong>da</strong> Defesa e a Unifor, é outra<br />

invenção fa<strong>da</strong><strong>da</strong> ao sucesso. Trata-se de um<br />

minirrobô submarino não-tripulado, também<br />

controlado a distância, capaz de realizar<br />

diferentes tarefas, em ambientes marítimos<br />

e fluviais, como verificar a extensão de um<br />

desastre ambiental e checar vazamentos ou<br />

<strong>da</strong>nos na estrutura de um navio, além de<br />

poder fazer reparos. Entre os diferenciais do<br />

samba estão um sistema de posicionamento<br />

para manter a estabili<strong>da</strong>de em meio às<br />

correntes marítimas e a capaci<strong>da</strong>de de<br />

movimentar-se em todos os sentidos.<br />

Produtos similares só existem no exterior a um<br />

custo que varia de R$ 400 000 a R$ 600 000.<br />

O valor <strong>da</strong> versão cearense deve ficar entre<br />

R$ 100 000 a R$ 200 000.<br />

O primeiro samba, que pode trabalhar a<br />

uma profundi<strong>da</strong>de de até 100 metros, deverá<br />

ser entregue à Marinha ain<strong>da</strong> este ano. A partir<br />

deste lançamento, a empresa está criando um<br />

outro robô marítimo ain<strong>da</strong> mais avançado, o siri<br />

(sistema integrado para resgate e investigação),<br />

com capaci<strong>da</strong>de de chegar a 300 metros<br />

de profundi<strong>da</strong>de. Além de telecoman<strong>da</strong>do,<br />

será autônomo, cumprindo sozinho tarefas<br />

previamente programa<strong>da</strong>s.<br />

Outro equipamento desenvolvido pela<br />

Armtec, que já interessa ao mercado nacional<br />

e ao exterior, é o caipora (carro automatizado<br />

instrumentado para perícia, observação,<br />

resgate e ataque a artefatos suspeitos e cargas<br />

perigosas). Países como Rússia, Emirados<br />

Árabes, Alemanha e Estados Unidos – que<br />

conheceram o protótipo pela internet – estão<br />

de olho na máquina. O caipora cumpre as<br />

tarefas de detecção, manuseio e desativação de<br />

artefatos suspeitos e cargas perigosas, sendo<br />

capaz de penetrar em diferentes ambientes<br />

hostis para realizar tarefas civis e militares, ou<br />

seja, é um robô antibombas com suporte para<br />

diversas ações civis e militares.<br />

Sucesso financeiro<br />

Oknow-how na construção de equipamentos<br />

robóticos fez <strong>da</strong> Armtec um caso único<br />

no país, uma vez que ela an<strong>da</strong> com os<br />

próprios pés e o melhor: dá lucro, inclusive para<br />

a Unifor, que recebe parte dos valores negociados<br />

com a ven<strong>da</strong> dos robôs. O faturamento atual<br />

gira em torno de R$ 850 000 reais por ano, e<br />

a capaci<strong>da</strong>de de captação de recursos é R$<br />

7 milhões (montante atual captado). E um<br />

dos responsáveis pelo sucesso financeiro é o<br />

segmento de asfalto <strong>da</strong> Petrobras: a Armetc<br />

hoje é a principal fornecedora para o Centro de<br />

Tecnologia em Asfalto.<br />

São quatro os equipamentos negociados<br />

com a estatal: o triaxial, que avalia a<br />

resistência mecânica do solo e do asfalto; o<br />

MTB, equipamento para produção de misturas<br />

asfálticas; o siembs, um módulo de misturas<br />

betuminosas e solos, e o sistran, vencedor do<br />

Prêmio Finep em 2007 (um dos quatro que a<br />

empresa coleciona). O equipamento consegue<br />

prever as condições em que uma estra<strong>da</strong> vai se<br />

encontrar após até dez anos de uso. Ele funciona<br />

como um laboratório porque testa antes do início<br />

<strong>da</strong>s obras o tipo de asfalto mais indicado para<br />

uma determina<strong>da</strong> rodovia.<br />

O samba é um minirrobô<br />

submarino capaz de<br />

realizar diferentes tarefas<br />

em ambientes marítimos<br />

e fluviais<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

O sistran, vencedor<br />

do Prêmio Finep em<br />

2007, consegue<br />

prever as condições<br />

em que uma estra<strong>da</strong><br />

vai estar após até dez<br />

anos de uso<br />

Foto: ARQUIVo ARMtEC<br />

O sistran é composto por dois equipamentos:<br />

o compactador e o simulador. No primeiro, são<br />

misturados os materiais com os quais a estra<strong>da</strong><br />

será construí<strong>da</strong> – brita, borracha, material<br />

reciclado e cerâmica. O processo dá origem ao<br />

protótipo do asfalto. No segundo equipamento,<br />

duas ro<strong>da</strong>s simulam sobre o protótipo o tráfego e<br />

a carga estimados para um período de dez anos.<br />

Essa simulação leva aproxima<strong>da</strong>mente 8 horas.<br />

Os dois equipamentos custam R$ 400 000,<br />

cerca de 33% a menos que o similar francês, o<br />

LCPC, que sai por cerca de R$ 600 000.<br />

Com as enormes perspectivas que surgirão<br />

a partir <strong>da</strong> exploração de petróleo <strong>da</strong> cama<strong>da</strong><br />

do pré-sal, Roberto Lins acredita que a Armtec<br />

também deverá se beneficiar. Por isso já trabalha<br />

no desenvolvimento de duas novas tecnologias<br />

destina<strong>da</strong>s às uni<strong>da</strong>des de bombeio para<br />

elevação artificial de petróleo (conhecidos<br />

como cavalo de pau), utiliza<strong>da</strong>s em poços que<br />

não estão em plena capaci<strong>da</strong>de de produção.<br />

O projeto foi contratado pela Petrobras e a<br />

assinatura <strong>da</strong> parceria ocorreu em maio passado.<br />

Também em 2010, a empresa deverá voltar<br />

sua atenção para a internacionalização de<br />

seus produtos, a começar com a ven<strong>da</strong>, para a<br />

Rússia, do robô saci. No momento, o mercado<br />

árabe é um de seus principais focos. Roberto<br />

Lins diz que países como Arábia Saudita, Egito,<br />

Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Estado <strong>da</strong><br />

Palestina, Bahrein, Líbano, Catar, Kuwait, Líbia e<br />

Síria manifestaram interesse na compra do robô<br />

de combate a incêndio. “Focaremos os países<br />

árabes porque eles têm uma capaci<strong>da</strong>de de<br />

investimento em tecnologia bastante eleva<strong>da</strong> e<br />

estão se capacitando tecnologicamente para se<br />

expandir em outras áreas, quando não houver<br />

mais petróleo”, acrescenta o engenheiro.<br />

Terceirização<br />

Com cerca de cinco anos de ativi<strong>da</strong>de,<br />

a Armtec é um caso único de<br />

empresa que nasceu e se mantém<br />

em uma universi<strong>da</strong>de conquistando<br />

admiração até no exterior. Em 2009, a<br />

empresa foi a única escolhi<strong>da</strong> pelo governo<br />

brasileiro para representar o país na 1ª<br />

Semana Nacional de Inovação do Peru.<br />

Na ocasião, Roberto Lins apresentou a<br />

trajetória, os equipamentos, as tecnologias,<br />

o modelo de gestão e a política de<br />

parcerias <strong>da</strong> Armtec. “Somos uma empresa<br />

associativista. Ou seja, acreditamos em<br />

atuação conjunta no mercado, por isso nos<br />

envolvemos com federações de indústria,<br />

sindicatos etc.”, ressalta.<br />

Entre as singulari<strong>da</strong>des <strong>da</strong> empresa<br />

que merecem destaque, porque seguem<br />

os modelos mais eficientes de gestão no<br />

mundo, está a terceirização <strong>da</strong> produção.<br />

Na Unifor, funciona apenas o cérebro<br />

<strong>da</strong> corporação. Quando os pedidos são<br />

fechados, a empresa contrata galpões<br />

e/ou outras empresas para executar<br />

as ativi<strong>da</strong>des de produção. As etapas<br />

chegam a ser pulveriza<strong>da</strong>s entre vários<br />

fornecedores. “Seguimos o mesmo modelo<br />

<strong>da</strong> Nike, por exemplo, que distribui sua<br />

produção em vários países. Terceirizamos<br />

as ativi<strong>da</strong>des não intelectuais, mas os<br />

fornecedores se comprometem conosco<br />

por meio <strong>da</strong> assinatura do termo de<br />

confidenciali<strong>da</strong>de”, diz Roberto Lins. No<br />

caso de descumprimento do acordo, o<br />

fornecedor paga indenização à Armtec.<br />

No início, a empresa era composta<br />

apenas por Roberto Lins e o pai. Hoje,<br />

a equipe conta com 27 funcionários,<br />

entre eles dois doutores. Noventa por<br />

cento dos colaboradores são professores,<br />

pesquisadores e gente que desenvolve<br />

tecnologia. Os funcionários, incluindo os<br />

estagiários, têm um plano de carreira<br />

individual e participação nos lucros. Para<br />

desenvolver tanta tecnologia, a Armtec conta<br />

com mais de 40 parceiros em pesquisa e<br />

desenvolvimento (P&D). Entre eles mais de<br />

20 universi<strong>da</strong>des nacionais e internacionais.<br />

“Não somos grandes, mas para estar entre<br />

elas, temos de pensar e agir como as<br />

melhores do mundo”, arremata.<br />

1 | Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Junho de 2010 1<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC |


Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

Confecção<br />

SENAI/CE cria<br />

software para elevar<br />

competitivi<strong>da</strong>de<br />

Projeto, que também busca reduzir custos, foi testado e<br />

aprovado na empresa Slap <strong>Indústria</strong> e Comércio<br />

OServiço Nacional de Aprendizagem<br />

Industrial (SENAI/CE), órgão <strong>da</strong><br />

Federação <strong>da</strong>s <strong>Indústria</strong>s do Estado<br />

do Ceará (FIEC), lançou um novo<br />

software para promover a competitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

indústria de confecção cearense, melhorando<br />

a quali<strong>da</strong>de de seus produtos e processos e reduzindo<br />

custos. O projeto inovador, intitulado<br />

Vestio, foi um dos selecionados pelo Edital<br />

SENAI SESI de Inovação, recebendo financiamento<br />

do SENAI Nacional para sua execução.<br />

O software, implementado como piloto na<br />

empresa Slap <strong>Indústria</strong> e Comércio, aguar<strong>da</strong> o<br />

registro do Instituto Nacional de Proprie<strong>da</strong>de<br />

Industrial (Inpi) para ser colocado à disposição<br />

<strong>da</strong>s empresas por meio <strong>da</strong>s consultorias<br />

presta<strong>da</strong>s pela instituição.<br />

Desenvolvido por Cecília Alves, técnica<br />

do SENAI/CE e docente de modelagem do<br />

Esse software<br />

determinará o ponto<br />

exato de corte, algo feito até<br />

hoje via método tentativa-erro.<br />

Haverá menos desperdício.<br />

Cecília Alves, técnica do SENAI/CE<br />

““<br />

Centro de Formação Profissional Ana Amélia<br />

Bezerra de Menezes e Souza, localizado no<br />

bairro Parangaba, o software foi criado para<br />

atender a uma deman<strong>da</strong> premente do setor<br />

no mercado cearense: a padronização dos<br />

tamanhos <strong>da</strong>s peças de roupas. Trata-se de<br />

uma planilha eletrônica que adequa as medi<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong>s tabelas <strong>da</strong> empresa, considerando os<br />

diversos tecidos e processos utilizados e calculando<br />

as diferenças para deixar os modelos<br />

dentro do mesmo padrão.<br />

“Os clientes produziam bons produtos,<br />

mas com variação de tamanho. Quando lançavam<br />

no mercado, encontravam resistência<br />

dos consumidores. Ninguém gosta de mu<strong>da</strong>r<br />

do manequim 40 para um 42 simplesmente ao<br />

optar por outro tipo de tecido de um mesmo<br />

modelo”, exemplifica Cecília. Segundo ela, a<br />

falta de tamanho padrão era um problema<br />

que afetava muito as indústrias porque, além<br />

<strong>da</strong> insatisfação do mercado, provocava o aumento<br />

dos custos com a fabricação de várias<br />

peças-piloto e com o retrabalho dos profissionais<br />

de criação <strong>da</strong>s fábricas.<br />

Para a técnica, o novo software contribui<br />

também para a melhor quali<strong>da</strong>de do produto<br />

final e redução do desperdício. “O encolhimento<br />

do tecido é comum no processo produtivo<br />

<strong>da</strong> indústria de confecção. Esse software<br />

determinará o ponto exato de corte, algo feito<br />

até hoje via método tentativa-erro. Haverá<br />

menos desperdício”, garante Cecília Alves.<br />

1 | Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Junho de 2010 1<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC |


Testado e aprovado<br />

Oempresário Raimundo Macário Pereira<br />

<strong>da</strong> Silva comprova a eficiência do<br />

software Vestio, testado e aprovado<br />

por sua empresa, Slap <strong>Indústria</strong> e Comércio.<br />

Há 12 anos no mercado, a Slap possui quatro<br />

uni<strong>da</strong>des fabris na região metropolitana de<br />

Fortaleza, que produzem 180 000 peças<br />

por mês, gerando 280 empregos diretos e<br />

cerca de 250 indiretos. “O tempo de trabalho<br />

dos modelistas reduziu em torno de 50%<br />

ou mais, significando menos gasto com<br />

horas extras e também com matéria-prima,<br />

pois os profissionais de criação utilizavam<br />

muito tecido para confeccionar várias<br />

peças-piloto. Por mais que se esforçassem,<br />

não conseguiam atingir uma modelagem<br />

padrão que servisse para malha com ou<br />

sem elastano ou mesmo para um jeans.<br />

Assim, perdíamos em quali<strong>da</strong>de”, recor<strong>da</strong> o<br />

presidente <strong>da</strong> Slap. Com o software, garante,<br />

nenhum modelista erra na medi<strong>da</strong>, pois o<br />

ajuste é calculado automaticamente.<br />

Macário Pereira acredita que o software<br />

padronizador de tabelas de medi<strong>da</strong>s do<br />

vestuário vai elevar o padrão <strong>da</strong> indústria<br />

cearense de confecção, colocando o Ceará<br />

num patamar mais alto perante outros<br />

estados brasileiros. “A mo<strong>da</strong> é a vocação<br />

Marca SENAI + Design ganha força<br />

Para o diretor regional do<br />

SENAI/CE, Francisco <strong>da</strong>s Chagas<br />

Magalhães, o lançamento de<br />

uma ferramenta que vai agregar mais<br />

valor às empresas de confecção<br />

reforça a marca SENAI + Design, à<br />

proporção que resolve o problema<br />

de padronização de medi<strong>da</strong>s com<br />

uma tecnologia cria<strong>da</strong> na própria<br />

instituição. Segundo ele, outra<br />

iniciativa que consoli<strong>da</strong> a atuação do<br />

SENAI na área do design é Caderno<br />

Perfil Mo<strong>da</strong> Inspirações e Tendências<br />

– Verão 2010. A publicação, volta<strong>da</strong><br />

às micro e pequenas empresas do<br />

segmento, busca identificar novos<br />

nichos de mercado consumidor e antecipar<br />

novi<strong>da</strong>des em design, tendências e estilos<br />

internacionais para que os profissionais do<br />

20<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

“O tempo de<br />

trabalho dos<br />

modelistas reduziu em<br />

torno de 50% ou mais,<br />

o que significa menos<br />

gasto com horas<br />

extras e também com<br />

matéria-prima.<br />

“<br />

Raimundo Macário Pereira <strong>da</strong> Silva,<br />

proprietário <strong>da</strong> Slap <strong>Indústria</strong> e Comércio<br />

natural do estado. Já temos a padronização. O<br />

que nos falta agora é unir as empresas do setor<br />

para superar barreiras que encontramos lá fora<br />

para vender nossas peças, como a escala de<br />

produção insuficiente para atender à deman<strong>da</strong>”,<br />

destaca o empresário, cuja empresa é associa<strong>da</strong><br />

ao Sindicato <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong> de Confecções de<br />

Roupas de Homem e Vestuário do Estado do<br />

Ceará (Sindroupas).<br />

Caderno Perfil Mo<strong>da</strong> Inspirações e<br />

Tendências – Verão 2010<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K<br />

setor tenham subsídios para desenvolver novas<br />

matérias-primas e inovar coleções.<br />

O estudo foi elaborado em 19 estados do<br />

Brasil por designers altamente qualificados<br />

<strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des do SENAI, que realizaram<br />

pesquisas em publicações e viagens nacionais<br />

e internacionais. “Fácil de ser utilizado, o<br />

caderno também é uma importante ferramenta<br />

para o desenvolvimento, a competitivi<strong>da</strong>de e<br />

a inovação <strong>da</strong>s micro e pequenas empresas”,<br />

ressalta Magalhães.<br />

Para a designer e ex-aluna do SENAI, Cristina<br />

Rejane Feitosa Silva, um dos diferenciais do<br />

caderno é a pesquisa que aponta o perfil do<br />

consumidor brasileiro, dividido nos estilos<br />

contemporâneo, romântico, sensual, irreverente<br />

e esportivo. Para ca<strong>da</strong> um existem tendências<br />

<strong>da</strong> mo<strong>da</strong> atual volta<strong>da</strong>s ao verão/2010. “Mas<br />

to<strong>da</strong>s levam em conta a brasili<strong>da</strong>de. No caso<br />

do Ceará, o grande diferencial é a utilização<br />

do artesanato, que deve ser explorado dentro<br />

de uma linguagem contemporânea”, observa<br />

a designer. Ela recomen<strong>da</strong> o uso de outra<br />

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é possível consultar todos os cadernos de design<br />

do SENAI (vestuário, mobiliário e calçados)”,<br />

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Cristina: “Caderno aponta<br />

o perfil do consumidor<br />

brasileiro”<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo


Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

<strong>Dia</strong> <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong><br />

Crescimento econômico marca os 60 anos <strong>da</strong> FIEC<br />

Comemorações ocorrem num cenário de retoma<strong>da</strong> do crescimento, após o país transpor uma crise econômica mundial inicia<strong>da</strong> em 2008 e prolonga<strong>da</strong> por<br />

2009, e no início <strong>da</strong> concretização de empreendimentos estruturantes esperados há déca<strong>da</strong>s pelos cearenses<br />

Jorge Parente, Airton Queiroz, Alexandre Grendene e Cristiane de Paiva (filha de Vicente de Paiva) foram as personali<strong>da</strong>des agracia<strong>da</strong>s com as comen<strong>da</strong>s<br />

Um elenco expressivo de motivações dignas<br />

de comemoração para o setor industrial do<br />

Ceará marcou a edição 2010 <strong>da</strong> festa anual<br />

do <strong>Dia</strong> <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong>, realiza<strong>da</strong> pela Federação<br />

<strong>da</strong>s <strong>Indústria</strong>s do Estado do Ceará (FIEC) em 13<br />

de maio passado, no bufê La Maison em Fortaleza.<br />

Associa<strong>da</strong> à tradicional outorga <strong>da</strong> Me<strong>da</strong>lha do Mérito<br />

Industrial (FIEC) e <strong>da</strong> Me<strong>da</strong>lha Ordem do Mérito<br />

Industrial pela Confederação Nacional <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong><br />

(CNI) a quatro personali<strong>da</strong>des, a Federação festejou<br />

60 anos de atuação em prol do desenvolvimento socioeconômico<br />

do estado. O aniversário ocorre num cenário<br />

de retoma<strong>da</strong> do crescimento (a economia cearense<br />

aumentou 8,92% no primeiro trimestre deste ano),<br />

após o país transpor uma crise econômica mundial<br />

inicia<strong>da</strong> em 2008 e prolonga<strong>da</strong> por 2009. O ano marca<br />

ain<strong>da</strong> o início <strong>da</strong> concretização de empreendimentos<br />

estruturantes esperados há déca<strong>da</strong>s pelo estado.<br />

Roberto Proença de Macêdo, presidente <strong>da</strong> FIEC<br />

e anfitrião <strong>da</strong> noite, fez questão de destacar em seu<br />

discurso a conjuntura que envolve o ano no qual<br />

a enti<strong>da</strong>de se torna sexagenária. “Estamos com a<br />

economia crescendo a um nível de aproxima<strong>da</strong>mente<br />

6% e com ameaça de inflação de deman<strong>da</strong>”,<br />

observou, lembrando que tal reali<strong>da</strong>de é boa, mas<br />

ao mesmo tempo “preocupante”. Um <strong>da</strong>do positivo<br />

mencionado por Roberto Macêdo é o crescimento<br />

<strong>da</strong> produção do país, que registra expansão em 26<br />

dos 28 setores industriais pesquisados pela Confederação<br />

Nacional <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong> (CNI).<br />

Sobre os fatores que preocupam, o presidente <strong>da</strong><br />

FIEC citou a falta de infraestrutura, o custo Brasil e o<br />

excesso de burocracia que, segundo ele, impedem uma<br />

contribuição mais rápi<strong>da</strong> e efetiva do setor produtivo<br />

ao desenvolvimento brasileiro. Roberto Macêdo enfatizou<br />

que “sem as reformas estruturantes – a exemplo<br />

<strong>da</strong> tributária, trabalhista e política – não seremos capazes<br />

de alavancar o desenvolvimento do Brasil nos<br />

níveis desejados e no tempo possível”.<br />

O representante dos industriais do Ceará alertou<br />

que o ano eleitoral é “uma excelente oportuni<strong>da</strong>de”<br />

para os empresários escolherem e apoiarem somente<br />

“candi<strong>da</strong>tos reconheci<strong>da</strong>mente éticos” e comprometidos<br />

em promover tais reformas. Ele lembrou<br />

ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>s alterações políticas e econômicas do país<br />

enfrenta<strong>da</strong>s pelos empresários brasileiros ao longo<br />

22 | Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Junho de 2010 2<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC |


dos últimos 60 anos. “Nessas seis déca<strong>da</strong>s<br />

de existência <strong>da</strong> FIEC, tivemos<br />

17 presidentes <strong>da</strong> República, 53 ministros,<br />

13 planos econômicos e oito<br />

reformas no padrão monetário, que<br />

levaram a seis mu<strong>da</strong>nças de moe<strong>da</strong>”,<br />

pontuou. Dentre os desafios presentes<br />

e futuros que se apresentam ao Ceará<br />

Roberto Macêdo citou a refinaria, a<br />

siderúrgica, a Zona de Processamento<br />

de Exportação do Pecém, aprova<strong>da</strong> no<br />

dia 26 de maio pelo Conselho Nacional<br />

<strong>da</strong> Zona de Processamento de Exportação<br />

(CZPE); a geração de energia<br />

eólica e térmica, a transposição e<br />

integração do Rio São Francisco, a<br />

Transnordestina, a expansão do Porto<br />

do Pecém e a adequação de Fortaleza<br />

para a Copa do mundo de 2014, além<br />

de outras obras em an<strong>da</strong>mento.<br />

Ele fez ain<strong>da</strong> um resumo <strong>da</strong>s ações<br />

que a FIEC, por meio <strong>da</strong>s casas que integram<br />

o Sistema, está realizando para viabilizar<br />

mão de obra especializa<strong>da</strong> aos novos empreendimentos,<br />

bem como para incrementar negócios e<br />

fomentar a responsabili<strong>da</strong>de socioempresarial no<br />

Ceará. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial<br />

(SENAI/CE), com 30 novas salas de aula,<br />

projeta gerar 5 000 matrículas adicionais. E mais:<br />

iniciou seis novos cursos de especialização e criou<br />

mais quatro laboratórios para garantir inovação<br />

tecnológica à indústria do estado.<br />

O Serviço Social <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong> (SESI/CE),<br />

dentre inúmeras atribuições, capacitou 158<br />

jovens do programa ViraVi<strong>da</strong>, inserindo-os no<br />

mercado de trabalho por meio de empresas parceiras.<br />

O Instituto Euvaldo Lodi (IEL/CE) capacitou<br />

46 micro e pequenas empresas no Programa de<br />

Qualificação de Fornecedores, tornando-as aptas<br />

a atenderem deman<strong>da</strong>s de indústrias-âncora, com<br />

base nas exigências do mercado globalizado.<br />

O líder <strong>da</strong> FIEC destacou também a atuação<br />

do Centro Internacional de Negócios (CIN/CE),<br />

principalmente pela promoção do 5° Encontro<br />

Empresarial de Negócios na Língua Portuguesa.<br />

Ao Instituto de Desenvolvimento Industrial do<br />

Ceará (INDI) atribuiu o sucesso do Posto de Informações<br />

BNDES/FIEC, instalado na Casa <strong>da</strong><br />

<strong>Indústria</strong>, que firmou 967 operações de crédito<br />

em 2009, com desembolso de R$ 112 milhões<br />

para médias e pequenas empresas. De janeiro a<br />

abril deste ano, o posto atendeu 762 empresas,<br />

número que representa 48% <strong>da</strong>s 1.571 operações<br />

de crédito realiza<strong>da</strong>s pelo banco no estado. Para<br />

o setor industrial cearense, o BNDES financiou<br />

294 operações, com desembolso de mais de R$ 33<br />

milhões (crescimento de 401% ante o mesmo período<br />

do ano passado). Por fim, destacou, dentre<br />

as ações do Instituto FIEC de Responsabili<strong>da</strong>de<br />

Social (FIRESO), a parceria firma<strong>da</strong> com a Secretaria<br />

de Cultura do Estado do Ceará (Secult) e<br />

a Universi<strong>da</strong>de Federal do Ceará (UFC) para implantar<br />

o memorial dos povos indígenas do Ceará<br />

nas dependências <strong>da</strong> Casa de José Alencar.<br />

O presidente <strong>da</strong> CNI, Armando Monteiro Neto,<br />

ratificou as ponderações de Roberto Macêdo, destacando<br />

que o Brasil vive um momento de grande<br />

desenvolvimento econômico. Apesar do desempenho<br />

positivo, ele lembrou que há grandes desafios<br />

pela frente. Ele reforçou a necessi<strong>da</strong>de de<br />

o país cumprir uma agen<strong>da</strong> pós-crise para recuperar<br />

a competitivi<strong>da</strong>de no cenário internacional,<br />

onde a produção manufatureira brasileira vem<br />

perdendo espaço. “Precisamos retomar as reformas<br />

interrompi<strong>da</strong>s; elevar a poupança pública<br />

para investir em infraestrutura e promover a reforma,<br />

sobretudo a tributária, para retirar o peso<br />

dos impostos sobre o emprego formal. O Brasil<br />

precisa criar um sistema tributário de classe internacional<br />

e temos o compromisso de trabalhar<br />

fortemente para fazer essa agen<strong>da</strong> avançar. Essa é<br />

a agen<strong>da</strong> <strong>da</strong> indústria brasileira para os próximos<br />

anos”, completou Armando Monteiro.<br />

Encerrando a soleni<strong>da</strong>de, o governador Cid<br />

Ferreira Gomes destacou que a história <strong>da</strong> FIEC<br />

se confunde com um Ceará moderno, sendo<br />

contemporâneo <strong>da</strong> implantação <strong>da</strong> Hidrelétrica<br />

de Paulo Afonso e <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> Sudene. “A<br />

FIEC nasceu na hora e no lugar certo e continua<br />

na direção certa”, sublinhou.<br />

Governador Cid<br />

Ferreira Gomes:<br />

“FIEC continua na<br />

direção certa”<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

Os homenageados<br />

Sobre as personali<strong>da</strong>des homenagea<strong>da</strong>s na noite, o<br />

presidente <strong>da</strong> FIEC destacou Alexandre Grendene,<br />

que recebeu <strong>da</strong> CNI a Me<strong>da</strong>lha Ordem do Mérito<br />

Industrial, como “ícone <strong>da</strong> indústria de calçados do Brasil,<br />

que viu no Ceará o lugar ideal para a expansão de seus<br />

negócios, tornando-se o maior empregador do estado”. Em<br />

relação aos três homenageados pela FIEC com a Me<strong>da</strong>lha do<br />

Mérito Industrial, sobre o industrial e chanceler Airton Queiroz<br />

Roberto Macêdo falou de sua “excepcional gestão” à frente<br />

dos negócios do Grupo Edson Queiroz, elevando o Ceará no<br />

contexto socioeconômico do país e colocando o empresário<br />

entre os mais importantes líderes <strong>da</strong> indústria brasileira.<br />

O vice-presidente <strong>da</strong> CNI e ex-presidente <strong>da</strong> FIEC, Jorge<br />

Parente Frota Júnior, foi destacado pela sua capaci<strong>da</strong>de<br />

de realização e de articulação, bem como pela liderança<br />

e dinamismo. Vicente Mendes de Paiva, homenageado in<br />

memoriam, foi lembrado por Roberto Macêdo como um<br />

idealista que dedicou grande parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> promovendo o<br />

desenvolvimento do setor de confecções do Ceará, projetando<br />

o estado nos cenários nacional e internacional.<br />

O governador Cid Gomes entregou a comen<strong>da</strong> a<br />

Airton Queiroz, e enalteceu o empresário por orgulhar<br />

os cearenses pela dinâmica, postura e discrição. “Airton<br />

Queiroz não traz apenas os genes de Edson Queiroz, mas<br />

também a sua geniali<strong>da</strong>de, ao perpetuar o legado pioneiro<br />

deixado por seu pai”, frisou.<br />

Enfim, sai a ZPE do Pecém<br />

Depois de anos de espera, finalmente foi aprova<strong>da</strong><br />

em Brasília, pelo Conselho Nacional <strong>da</strong>s Zonas de<br />

Processamento de Exportação (CZPE), a Zona de<br />

Processamento de Exportação (ZPE) do Pecém. A perspectiva<br />

é que o empreendimento transforme a feição do Complexo<br />

Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), em São Gonçalo do<br />

Amarante, com a instalação de novas empresas, a geração de<br />

centenas de empregos e a ampliação <strong>da</strong>s exportações do estado.<br />

A ZPE de Pecém será instala<strong>da</strong> em uma área de 4.271,41<br />

hectares, a 20 quilômetros do cais do porto e a cerca de<br />

60 quilômetros de Fortaleza. “Serão mais de 200 indústrias<br />

no complexo portuário”, antevê o superintendente do Centro<br />

Internacional de Negócios (CIN) <strong>da</strong> FIEC, Eduardo Bezerra Neto.<br />

Com a implementação de uma ZPE no Pecém, o superintendente<br />

do CIN estima que dobrem as exportações cearenses, que hoje<br />

estão no patamar de US$ 1 bilhão ao ano. Além do impulso<br />

na produção industrial, ele aponta impactos na geração de<br />

empregos e no consumo. “Os trabalhadores <strong>da</strong> região vão<br />

deman<strong>da</strong>r produtos, elevando a arreca<strong>da</strong>ção tributária do<br />

estado”, ressalta Eduardo Bezerra.<br />

Depois <strong>da</strong> sanção presidencial, o governo estadual terá 90<br />

dias para criar uma empresa autônoma para administrar a ZPE.<br />

Caberá em segui<strong>da</strong> ao estado viabilizar os lotes para receber<br />

as empresas. A previsão é que os primeiros 50 hectares fiquem<br />

Jorge Parente recebeu a me<strong>da</strong>lha do presidente <strong>da</strong><br />

CNI, Armando Monteiro, que elogiou a proativi<strong>da</strong>de, o<br />

senso de prontidão e a sua gestão compartilha<strong>da</strong> à frente<br />

<strong>da</strong> FIEC. O empresário agradeceu em nome de todos os<br />

homenageados, destacando ca<strong>da</strong> um e relembrando suas<br />

ações à época em que liderou a Federação. Visivelmente<br />

emociona<strong>da</strong>, a filha do empresário Vicente de Paiva,<br />

Cristiane de Paiva, recebeu do presidente Roberto Macêdo<br />

a comen<strong>da</strong> destina<strong>da</strong> ao seu pai.<br />

Em nome <strong>da</strong> CNI, Armando Monteiro fez a outorga<br />

<strong>da</strong> Ordem do Mérito ao industrial a Alexandre Grendene,<br />

que dividiu a homenagem com os colaboradores<br />

<strong>da</strong>s suas empresas, ressaltando que o trabalho e o<br />

comprometimento dessas pessoas o fizeram chegar<br />

aonde está.<br />

prontos ain<strong>da</strong> este ano. A primeira fase do projeto contempla<br />

325 hectares que contam com recursos <strong>da</strong> ordem de R$ 26<br />

milhões para aquisição do terreno e infraestrutura básica,<br />

devendo o local ser ocupado em até dois anos. A área total<br />

deverá estar contempla<strong>da</strong> em 20 anos. O local poderá receber<br />

empresas nacionais e internacionais. A siderúrgica partiu na<br />

frente e já sinalizou sua participação na ZPE. Mil hectares são<br />

<strong>da</strong> Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP).<br />

As ZPEs são áreas delimita<strong>da</strong>s, nas quais empresas que<br />

produzem bens exportáveis recebem incentivos tributários<br />

e administrativos. A suspensão de tributos é concedi<strong>da</strong> na<br />

compra de bens e serviços do mercado interno – Imposto<br />

sobre Produtos Industrializados (IPI), Cofins e PIS/Pasep – e na<br />

importação, quando a suspensão fiscal será aplica<strong>da</strong> sobre o<br />

Imposto de Importação, IPI, Cofins, PIS/Pasep e Adicional de<br />

Frete para Renovação <strong>da</strong> Marinha Mercante (AFRMM). Dentre<br />

os incentivos administrativos está a dispensa de licença ou de<br />

autorização de órgãos federais – com exceção dos controles<br />

de ordem sanitária, de interesse <strong>da</strong> segurança nacional e de<br />

proteção do meio ambiente –, além de mais agili<strong>da</strong>de nas<br />

operações aduaneiras. O prazo de vigência dos incentivos<br />

previstos para uma empresa em ZPE é de até 20 anos,<br />

prorrogável por igual período. Para fazer jus aos benefícios, as<br />

empresas precisam exportar no mínimo 80% do que produzem.<br />

2 | Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Junho de 2010 2<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC |


CNI estima crescimento de 6% em 2010<br />

ACNI reviu as projeções de crescimento <strong>da</strong> economia<br />

brasileira em 2010. No Informe Conjuntural divulgado<br />

em 17 de maio último, a enti<strong>da</strong>de aponta crescimento<br />

de 6% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano em relação<br />

a 2009. A estimativa de expansão do PIB em dezembro<br />

passado era de 5,5%. De acordo com o relatório <strong>da</strong><br />

CNI, a indústria será o setor que mais contribuirá para o<br />

desempenho <strong>da</strong> economia brasileira em 2010.<br />

A previsão de crescimento do PIB industrial subiu de 7%<br />

para 8%. A expectativa <strong>da</strong> CNI é que a produção industrial<br />

cresça 12% este ano. A expansão <strong>da</strong> economia deve estimular<br />

os investimentos. De acordo com a previsão <strong>da</strong> indústria, os<br />

investimentos que tiveram uma que<strong>da</strong> de 9,9% em 2009<br />

aumentarão 18% em 2010. A estimativa anterior, de dezembro<br />

de 2009, apontava para um crescimento de 14%.<br />

“Além <strong>da</strong> produção, o investimento também deverá<br />

crescer fortemente, o que significa que o setor industrial vem<br />

respondendo bem às necessi<strong>da</strong>des de oferta <strong>da</strong> economia”,<br />

observa o estudo <strong>da</strong> CNI. O consumo <strong>da</strong>s famílias deve<br />

crescer 6,2%, impulsionado pelo aumento <strong>da</strong> oferta de<br />

empregos. A estimativa é que a taxa média de desemprego<br />

neste ano fique em 7,2% <strong>da</strong> População Economicamente<br />

Otimismo permanece alto<br />

Outro levantamento <strong>da</strong> CNI – o Índice de Confiança do<br />

Empresário Industrial (ICEI), divulgado em 24 de maio,<br />

mostra que o otimismo dos industriais brasileiros<br />

permanece alto, mas sofreu leve que<strong>da</strong>. Em maio, o índice<br />

ficou em 66,3 pontos, correspondendo a 0,6 ponto abaixo do<br />

registrado no mês anterior. Mesmo com a retração, o índice<br />

está 7,2 pontos acima <strong>da</strong> média histórica, que é de 59,1<br />

pontos. De acordo com o estudo, a confiança eleva<strong>da</strong> do<br />

empresário continuará a crescer nos próximos meses. Dos 27<br />

setores pesquisados, apenas o de refino de petróleo apresenta<br />

um índice de confiança abaixo <strong>da</strong> média histórica.<br />

Para o economista <strong>da</strong> CNI Marcelo Azevedo, a que<strong>da</strong> do<br />

ICEI, que vem sendo registra<strong>da</strong> desde janeiro, não surpreende<br />

porque no final do ano passado o otimismo do empresariado<br />

estava muito elevado por causa <strong>da</strong> recuperação <strong>da</strong><br />

economia. “É natural haver essa acomo<strong>da</strong>ção. Também houve<br />

mu<strong>da</strong>nças que podem afetar a confiança, como a retira<strong>da</strong><br />

dos incentivos fiscais e a retoma<strong>da</strong> do aumento <strong>da</strong> taxa de<br />

juros”, destaca. Conforme o estudo, 12 setores apresentam<br />

confiança relativamente estável, com variação positiva ou<br />

negativa inferior a um ponto. Entre os que apresentam<br />

que<strong>da</strong> superior a dois pontos estão os de alimentos, couros,<br />

calçados, química, limpeza e perfumaria e material eletrônico<br />

e o de comunicação.<br />

O índice <strong>da</strong>s expectativas para os próximos seis meses<br />

também recuou de 69,7 pontos em abril para 69,1 pontos em<br />

maio. Os empresários estão menos otimistas tanto em relação<br />

“ Trecho do Informe Conjuntural <strong>da</strong> CNI<br />

contribuirá para o desempenho<br />

<strong>da</strong> economia brasileira em 2010.<br />

Ativa, ante os 7,6% previstos em dezembro de 2009.<br />

Os técnicos <strong>da</strong> CNI preveem que a inflação medi<strong>da</strong><br />

pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de<br />

2010 será de 5,4%, maior do que os 4,7% estimados em<br />

dezembro de 2009 e superior à taxa de 4,3% registra<strong>da</strong><br />

no ano passado. O aumento dos preços será provocado<br />

especialmente por reajustes em alimentos, bebi<strong>da</strong>s e<br />

serviços. Com isso, os juros devem chegar ao final de<br />

2010 em 11% ao ano, ante os 8,75% de dezembro de<br />

2009. A elevação pode reduzir o ritmo de investimento<br />

e de crescimento <strong>da</strong> economia brasileira em 2010,<br />

segundo a enti<strong>da</strong>de.<br />

Setor de calçados<br />

indústria será o setor que ma“A<br />

is<br />

à economia brasileira quanto à própria empresa. De acordo com<br />

Azevedo, mesmo com a que<strong>da</strong>, o resultado ain<strong>da</strong> mostra que<br />

as perspectivas são boas, uma vez que o índice está acima dos<br />

65 pontos, denotando grande otimismo. O ICEI varia de zero a<br />

cem. Valores acima de 50 indicam empresários confiantes. A<br />

pesquisa foi feita com 1.543 empresas (859 pequenas, 475<br />

médias e 209 grandes), em 24 estados e no Distrito Federal,<br />

entre os dias 30 de abril e 20 de maio.<br />

Inflação de deman<strong>da</strong> é ameaça?<br />

Embora o Brasil ain<strong>da</strong> comemore o fim <strong>da</strong> crise mundial,<br />

a recuperação <strong>da</strong> economia brasileira e a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong>des do país, alguns economistas e empresários<br />

já se mostram preocupados com a ameaça de aumento <strong>da</strong><br />

inflação e com os riscos que ela pode representar ao futuro<br />

dos brasileiros. Outra corrente, encabeça<strong>da</strong> pelo ministro<br />

<strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, Guido Mantega, descarta essa possibili<strong>da</strong>de e<br />

aposta na capaci<strong>da</strong>de produtiva <strong>da</strong> indústria brasileira.<br />

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo<br />

Mendes, afirmou no início de maio que há sintomas de<br />

inflação de deman<strong>da</strong> no primeiro trimestre deste ano.<br />

Segundo ele, a inflação de bens comercializáveis e não<br />

comercializáveis está subindo. Durante apresentação num<br />

seminário sobre juros e câmbio, ele chegou a dizer que as<br />

avaliações do relatório Focus mais subavaliam a inflação por<br />

vir do que superavaliam, principalmente em momentos de<br />

retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> inflação. “Eles erram mais para menos do que<br />

para mais”, ratificou.<br />

O ex-ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> e economista Maílson <strong>da</strong><br />

Nóbrega acredita que a economia brasileira está se<br />

recuperando numa veloci<strong>da</strong>de de crescimento incompatível<br />

com a capaci<strong>da</strong>de produtiva do país. “Essa situação pode<br />

ser resolvi<strong>da</strong> de duas maneiras. A primeira é com o aumento<br />

<strong>da</strong> importação, entretanto, existe uma série de itens que<br />

impede esse processo. A outra forma de equilibrar o problema<br />

é via inflação, que corrói os salários e reduz a deman<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

economia”. Para Nóbrega, a economia brasileira já vive uma<br />

inflação de deman<strong>da</strong>. “Por conta do desequilíbrio, o governo<br />

pode perder o controle e o Banco Central será obrigado a<br />

aumentar a taxa de juros”, avalia.<br />

De acordo com o empresário e diretor administrativo <strong>da</strong><br />

FIEC, Affonso Taboza, o problema pode ser superado com<br />

a “simplificação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s empresas”. “A massa salarial<br />

cresceu, a classe média foi amplia<strong>da</strong> com o ingresso de<br />

indivíduos <strong>da</strong>s classes menos favoreci<strong>da</strong>s e isso deu um<br />

grande dinamismo ao comércio. A inflação de deman<strong>da</strong> ocorre<br />

A inflação de<br />

deman<strong>da</strong> ocorre<br />

devido à grande procura<br />

de bens e à facili<strong>da</strong>de<br />

de crédito, quando<br />

a indústria não tem<br />

condições de suprir<br />

essas necessi<strong>da</strong>des.<br />

““<br />

Affonso Taboza, diretor administrativo <strong>da</strong> FIEC<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

INFLAÇÃO DE DEMANDA<br />

OFERTA DEMANDA<br />

devido à grande procura de bens e à facili<strong>da</strong>de de crédito,<br />

quando a indústria não tem condições de suprir essas<br />

necessi<strong>da</strong>des”, afirma Taboza, para arrematar: “É preciso<br />

que o governo reduza as exigências legais e a burocracia que<br />

tomam tempo <strong>da</strong>s empresas para que elas possam manter o<br />

foco no planejamento <strong>da</strong> produção”.<br />

Guido Mantega descarta que haja uma inflação de<br />

deman<strong>da</strong>. “A inflação que tivemos até agora não é de<br />

deman<strong>da</strong>, na minha opinião, é de choque de oferta<br />

tecnicamente”, argumenta. Segundo Mantega, “a indústria<br />

vem de 2009 com capaci<strong>da</strong>de ociosa. (...) Além disso, está<br />

fazendo muitos investimentos. Portanto, não há nenhuma<br />

dificul<strong>da</strong>de para a indústria atender à deman<strong>da</strong>. (...) Ficam<br />

afasta<strong>da</strong>s, assim, as possibili<strong>da</strong>des de uma inflação de<br />

deman<strong>da</strong>”, enfatizou.<br />

O empresário Fernando Castelo Branco não visualiza no<br />

cenário atual ameaça de inflação de deman<strong>da</strong>. “Que houve<br />

aquecimento <strong>da</strong> economia é inegável. As classes D e E<br />

estão de fato entrando no mercado consumidor. Se isso está<br />

caracterizando deman<strong>da</strong> excessiva a ponto de gerar inflação<br />

é que tenho dúvi<strong>da</strong>. A indústria passou por um período de<br />

estagnação <strong>da</strong> economia no ano passado e tem reserva de<br />

capaci<strong>da</strong>de ociosa que pode expandir, mas não há escassez<br />

de deman<strong>da</strong>”, assegura.<br />

Sobre a afirmação de Aldo Mendes, diretor de Política<br />

Monetária do Banco Central, de que existem sintomas<br />

de inflação de deman<strong>da</strong> no primeiro trimestre deste ano,<br />

Castelo Branco diz que o Banco Central é ultraconservador.<br />

“A qualquer ruído sobe os juros para proteger a moe<strong>da</strong> de<br />

uma inflação em níveis elevados”, resume.<br />

2 | Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Junho de 2010 2<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC |


Foto: AGÊNCIA CNI / JoSÉ PAULo LACERDA<br />

Competitivi<strong>da</strong>de<br />

Ampliar a ren<strong>da</strong> per capita a ca<strong>da</strong> 15 anos e oferecer<br />

melhores condições para que o Brasil cresça com<br />

uma economia sóli<strong>da</strong> e competitiva. Esses são alguns<br />

dos desafios que o presidente <strong>da</strong> CNI, Armando Monteiro,<br />

colocou para os pré-candi<strong>da</strong>tos à Presidência <strong>da</strong> República,<br />

Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV),<br />

que se reuniram, em 25 de maio, num debate na sede<br />

<strong>da</strong> CNI em Brasília. “Corrigir os principais obstáculos à<br />

competitivi<strong>da</strong>de é um dos desafios para o novo governo”,<br />

afirmou ele, na abertura do evento. “Para isso é preciso que<br />

as ações sejam acompanha<strong>da</strong>s por uma visão estratégica<br />

<strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des que se apresentam para o país”,<br />

acrescentou Armando Monteiro.<br />

No documento A <strong>Indústria</strong> e o Brasil – Uma Agen<strong>da</strong> para<br />

Crescer Mais e Melhor, entregue a ca<strong>da</strong> pré-candi<strong>da</strong>to, a<br />

CNI elegeu cinco eixos estratégicos para aju<strong>da</strong>r o próximo<br />

Presidente <strong>da</strong> República a tornar o Brasil mais competitivo:<br />

a expansão do mercado doméstico, a internacionalização, a<br />

inovação, os projetos propulsores, como os de infraestrutura,<br />

os de habitação e o pré-sal, e a preparação do Brasil para<br />

uma economia de baixo carbono. “São fatores transformadores<br />

e importam desafios para empresas e governos. Mas todos<br />

convergem para a geração de uma estrutura industrial mais<br />

forte, diversifica<strong>da</strong>, com capaci<strong>da</strong>de de promover inovação e<br />

maior produtivi<strong>da</strong>de”, explicou Armando Monteiro.<br />

Segundo a CNI, o Brasil deve assumir a agen<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

competitivi<strong>da</strong>de com urgência e afastar os obstáculos<br />

que deterioram o ambiente institucional e limitam o<br />

potencial de crescimento <strong>da</strong> economia. “A eleva<strong>da</strong> carga<br />

tributária, o custo do financiamento, a insuficiência<br />

dos marcos regulatórios, a valorização cambial, as<br />

deficiências de infraestrutura e logística resultam um<br />

Marina Silva (PV), Dilma Rousseff (PT), Armando Monteiro (presidente <strong>da</strong> CNI) e José Serra (PSDB)<br />

realizar um<br />

trabalho intenso no sentido<br />

de elevar a competitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

indústria nacional.<br />

Armando Monteiro Neto, presidente <strong>da</strong> CNI<br />

ambiente pouco favorável aos negócios e colocam<br />

o Brasil em posição desvantajosa em relação aos<br />

concorrentes”, alertou Armando Monteiro. Segundo ele,<br />

após a eleição, um dos pré-candi<strong>da</strong>tos “se defrontará<br />

com dois grandes desafios: remover esses obstáculos e o<br />

construir novas competências”.<br />

O presidente <strong>da</strong> CNI acrescentou que é preciso reforçar<br />

o investimento em educação e inovação tecnológica, que<br />

poderão garantir o futuro do país como nação industrial<br />

e moderna. “Sem elevado nível de escolari<strong>da</strong>de, não<br />

disporemos de uma força de trabalho tecnicamente<br />

capacita<strong>da</strong> para atingir os níveis de produtivi<strong>da</strong>de<br />

indispensáveis à competitivi<strong>da</strong>de do produto brasileiro,<br />

geração de novos empregos e melhor remuneração de<br />

trabalhadores e investidores”, afirmou Armando Monteiro.<br />

O presidente <strong>da</strong> CNI reforçou ain<strong>da</strong> a importância de<br />

uma aliança estratégica entre os setores público e privado<br />

para que o país avance. “Precisamos realizar um trabalho<br />

intenso no sentido de elevar a competitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> indústria<br />

nacional”, sugeriu Armando Monteiro, lembrando que a<br />

indústria produz grande impacto sobre a produtivi<strong>da</strong>de<br />

global <strong>da</strong> economia, gera inovação “e é fun<strong>da</strong>mental para o<br />

desenvolvimento sustentável”.<br />

““ Precisamos<br />

Reformas estruturantes para<br />

alicerçar desenvolvimento<br />

Economistas, políticos e empresários<br />

acreditam na mesma premissa. O Brasil<br />

precisa realizar reformas estruturantes<br />

urgentemente para continuar crescendo de<br />

modo sustentável. Não foi por acaso que<br />

o presidente <strong>da</strong> FIEC, Roberto Proença de<br />

Macêdo, alertou os empresários presentes à<br />

soleni<strong>da</strong>de do <strong>Dia</strong> <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong> a escolherem<br />

e apoiarem, neste ano eleitoral, somente<br />

“candi<strong>da</strong>tos reconheci<strong>da</strong>mente éticos” e<br />

comprometidos em promover as reformas<br />

tributária, trabalhista e política. “Sem<br />

as reformas estruturantes não seremos<br />

capazes de alcançar o desenvolvimento<br />

do Brasil nos níveis desejados e no tempo<br />

possível”, sentenciou.<br />

Três meses antes, em fevereiro de 2010,<br />

os cientistas políticos Amaury de Souza<br />

e Bolívar Lamounier lançavam o livro A<br />

Classe Média Brasileira, com o apoio <strong>da</strong><br />

CNI, defendendo o mesmo princípio. Basea<strong>da</strong><br />

em <strong>da</strong>dos coletados pelo Ibope em 2008, a<br />

publicação mostra que para manter o processo<br />

de crescimento <strong>da</strong> classe média e consoli<strong>da</strong>r a<br />

distribuição de ren<strong>da</strong> ocorri<strong>da</strong> nos últimos anos,<br />

o país depende de avanços que somente serão<br />

possíveis por meio de tais reformas.<br />

Segundo os pesquisadores, são necessárias<br />

principalmente reformas no modelo de<br />

tributação e na legislação trabalhista para<br />

que o processo de desenvolvimento continue.<br />

“Não é apenas uma questão de manter<br />

a política macroeconômica. Só isso não<br />

resolve. Chegamos no ponto em que é preciso<br />

fazer reformas. Fazer uma reforma tributária<br />

para valer e fazer uma reforma trabalhista”,<br />

argumenta Souza, para quem os avanços<br />

sociais foram possíveis nos últimos anos devido<br />

à estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> economia e ao aumento do<br />

acesso ao crédito, especialmente de longo<br />

prazo –, “o que seria impensável em uma<br />

economia inflacionária”, observa.<br />

José Pastore, sociólogo especialista em<br />

relações do trabalho e desenvolvimento<br />

institucional e professor <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de<br />

Economia e Administração <strong>da</strong> USP, ratifica a<br />

opinião de Amaury de Souza. Segundo ele,<br />

uma reforma trabalhista que vise urgentemente<br />

“ “ Uma<br />

desoneração bem feita poderá<br />

proporcionar um saudável aumento dos<br />

salários, o que é bom para os trabalhadores e<br />

para a economia.<br />

José Pastore, sociólogo especialista em relações do trabalho e<br />

desenvolvimento institucional<br />

desonerar a folha de salários precisa ser feita<br />

no contexto de uma reforma tributária. “Uma<br />

desoneração bem feita poderá proporcionar um<br />

saudável aumento dos salários, o que é bom para os<br />

trabalhadores e para a economia”, frisa José Pastore.<br />

Para Ricardo Young, empresário e pré-candi<strong>da</strong>to<br />

a senador por São Paulo pelo Partido Verde (PV), a<br />

reforma política é outro ponto central <strong>da</strong> agen<strong>da</strong> de<br />

mu<strong>da</strong>nças estruturais do país. “A reforma política<br />

vai permitir o financiamento público de campanha,<br />

reduzindo a desigual<strong>da</strong>de entre os candi<strong>da</strong>tos e a<br />

força do poder econômico”, argumentou em artigo<br />

publicado, dia 24 de maio, no Jornal <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de<br />

Bauru (SP). Para Young, a mu<strong>da</strong>nça vai substituir o<br />

“vale-tudo atual” por uma maior transparência no<br />

processo eleitoral do Brasil.<br />

2 | Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Junho de 2010 2<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC |


O pré-candi<strong>da</strong>to à Presidência <strong>da</strong> República José Serra<br />

(PSDB) garante que suas primeiras iniciativas, caso seja<br />

eleito, serão as reformas política e administrativa. “A reforma<br />

administrativa não precisa de lei. A política, vou começar<br />

por ela”, afirmou durante entrevista à Super Rádio Tupy,<br />

do Rio de Janeiro, em meados de maio. Entretanto, não<br />

forneceu detalhes <strong>da</strong>s duas reformas. Durante o encontro<br />

dos empresários com os presidenciáveis na CNI, Serra voltou<br />

a falar <strong>da</strong> reforma administrativa, ressaltando que o governo<br />

brasileiro precisa gastar menos com a máquina e mais com<br />

o povo. O candi<strong>da</strong>to tucano fez críticas à carga tributária<br />

e às taxas de juros e prometeu, se eleito, acabar com a<br />

cobrança do PIS/Cofins sobre o faturamento <strong>da</strong>s empresas<br />

de saneamento em 2 de janeiro de 2011, um dia depois<br />

<strong>da</strong> posse. O tributo, que segundo ele dobrou de 3,5% para<br />

7% no atual governo, representa uma arreca<strong>da</strong>ção de cerca<br />

de R$ 2 bilhões que, com a isenção, seriam destinados a<br />

investimentos no setor.<br />

A pré-candi<strong>da</strong>ta à Presidência <strong>da</strong> República pelo PV<br />

Marina Silva defende a convocação de uma Constituinte<br />

para que sejam feitas as reformas necessárias no país,<br />

como tributária, política e trabalhista. “Se fosse fácil,<br />

o sociólogo teria feito a reforma política, tributária e<br />

previdenciária. Se fosse fácil, o operário teria feito a reforma<br />

trabalhista. Isso não foi feito por nenhum deles. Por isso<br />

temos de formar uma Constituinte e fazer as reformas que<br />

o Brasil precisa”, disse a senadora durante a 13ª Marcha<br />

dos Prefeitos, dia 19 de maio, em Brasília. Na CNI, criticou<br />

o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), dizendo<br />

que ele não é um programa que pensa o crescimento do<br />

país para os próximos 20, 30 e 40 anos. Segundo ela, o<br />

PAC se limita à gestão de obras. Marina prometeu fazer<br />

uma reforma tributária, mas sem gerar “falsas expectativas”.<br />

Reconheceu que a tarefa é difícil, lembrando que a iniciativa<br />

está na agen<strong>da</strong> do país há 16 anos.<br />

Dilma Rousseff, pré-candi<strong>da</strong>ta do PT à Presidência <strong>da</strong><br />

República, assumiu o compromisso de realizar, se eleita, a<br />

reforma tributária. Ela declarou durante o encontro na CNI que a<br />

reforma tributária é “a reforma <strong>da</strong>s reformas” e explicou que vai<br />

alterar definitivamente a relação de distribuição entre as esferas<br />

federa<strong>da</strong>s e também a “imensa confusão e esse caos tributário<br />

que existe no nosso país”. Uma <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças previstas em<br />

sua proposta é a redução <strong>da</strong> alíquota patronal do INSS de<br />

20% para 15%. “Vamos aproveitar a mobilização <strong>da</strong> campanha<br />

eleitoral e os primeiros cem dias do governo para fazer a<br />

reforma tributária”, prometeu em entrevista coletiva logo após o<br />

encontro. Apesar de defender a reforma tributária e afirmar que<br />

é preciso “diminuir e não aumentar” os impostos, Dilma criticou<br />

seis dias antes, na Marcha dos Prefeitos, a decisão de acabar<br />

com a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira<br />

(CPMF), que para ela foi uma “armadilha” <strong>da</strong> oposição.<br />

Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário<br />

(IBPT), os ci<strong>da</strong>dãos do Brasil consomem 40,5% de seu<br />

rendimento bruto para pagar os impostos federais, estaduais<br />

e municipais. Tal percentual corresponde, em média, ao<br />

trabalho de quatro meses e 28 dias de ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dão. No<br />

Temos um<br />

emaranhado de<br />

legislações tributárias<br />

entre os estados que não<br />

permite às empresas gerar<br />

eficiência e sinergia entre<br />

as diversas uni<strong>da</strong>des<br />

implanta<strong>da</strong>s no país.<br />

Robson Braga de Andrade, presidente eleito <strong>da</strong> CNI<br />

““<br />

calendário, essa estimativa significa que o rendimento<br />

percebido de 1º de janeiro até 28 de maio foi todo<br />

consumido na quitação dos impostos. Conforme o<br />

instituto, tal carga tributária só é menor do que a que<br />

pesa sobre os ci<strong>da</strong>dãos suecos (185 dias) e franceses<br />

(149 dias). Nos Estados Unidos, o imposto corresponde a<br />

102 dias de trabalho e, na Argentina, a 97.<br />

O presidente eleito <strong>da</strong> CNI, Robson Braga de Andrade,<br />

que também é presidente <strong>da</strong> Federação <strong>da</strong>s <strong>Indústria</strong>s<br />

do Estado de Minas Gerais (FIEMG), reforça que é preciso<br />

desonerar investimentos e exportações, simplificar o<br />

sistema tributário e tributar o consumo. “Temos um<br />

emaranhado de legislações tributárias entre os estados<br />

que não permite às empresas gerarem eficiência e sinergia<br />

entre as diversas uni<strong>da</strong>des implanta<strong>da</strong>s no país”, destacou.<br />

Para Andrade, “qualquer investimento custa ao empresário,<br />

pelo menos, 25% a mais em tributos e isso se agrava ao<br />

considerarmos um país que não tem poupança pública e<br />

com uma poupança priva<strong>da</strong> pequena”.<br />

Além <strong>da</strong> reforma tributária, o presidente eleito <strong>da</strong> CNI<br />

destaca a urgência <strong>da</strong>s reformas fiscal, <strong>da</strong> previdência,<br />

trabalhista e política. “São reformas estruturantes<br />

necessárias ao avanço e crescimento do Brasil”, afirmou.<br />

“Apesar de o país avançar, sem essas reformas haverá um<br />

esgotamento <strong>da</strong> economia brasileira de tal forma que não<br />

seremos capazes de competir no mercado globalizado”,<br />

alertou Robson Andrade.<br />

Carga trIbutárIa<br />

os ci<strong>da</strong>dãos<br />

brasileiros consomem<br />

40,5%<br />

de seu rendimento<br />

bruto para pagar os<br />

impostos federais,<br />

estaduais e municipais<br />

Foto: AGÊNCIA CNI / MIGUEL ANGELo<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

ViraVi<strong>da</strong><br />

Mais vi<strong>da</strong>s<br />

transforma<strong>da</strong>s<br />

Cento e três novos profissionais, habilitados em seis turmas do<br />

ViraVi<strong>da</strong>, estão aptos a buscar um futuro melhor<br />

Começa uma nova etapa no Ceará na<br />

vi<strong>da</strong> de 103 jovens, tendo como marco<br />

a conclusão de outras seis turmas<br />

do ViraVi<strong>da</strong> no estado, no dia 5 de<br />

maio, em soleni<strong>da</strong>de realiza<strong>da</strong> na sede do Serviço<br />

Nacional de Aprendizagem Comercial<br />

(Senac). Iniciativa do Conselho Nacional do<br />

Serviço Social <strong>da</strong> <strong>Indústria</strong> (SESI), o projeto<br />

foi aplicado pela primeira vez em Fortaleza<br />

há dois anos. De lá para cá, muitos sonhos de<br />

meninos e meninas, que viviam em situação<br />

de risco, foram concretizados. E mais: o programa<br />

lhes devolveu a digni<strong>da</strong>de e se expandiu<br />

pelo país, onde inaugurou uma nova era, com<br />

foco na justiça social. O pioneirismo cearense<br />

no ViraVi<strong>da</strong> se consoli<strong>da</strong> também na união do<br />

Sistema S, na ampla adesão <strong>da</strong>s empresas locais<br />

ao programa e no estímulo ao cooperativismo<br />

como ferramenta de inclusão <strong>da</strong> juventude no<br />

mercado de trabalho.<br />

Os novos profissionais foram habilitados<br />

nos cursos de Gastronomia (Senac), Auxiliar<br />

Os formandos foram<br />

habilitados em Gastronomia,<br />

Auxiliar Administrativo/<br />

Recepção, Costura Industrial<br />

em Mo<strong>da</strong> Praia e Mo<strong>da</strong><br />

Íntima, Comunicação Digital,<br />

Assistente Administrativo<br />

Industrial e Formação em<br />

Cooperativismo<br />

0 | Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Junho de 2010 1<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC |


Administrativo/Recepção (Senac), Costura<br />

Industrial em Mo<strong>da</strong> Praia e Mo<strong>da</strong> Íntima<br />

(Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial<br />

– SENAI no bairro Parangaba), Comunicação<br />

Digital e Assistente Administrativo<br />

Industrial (SENAI Antônio Urbano de Almei<strong>da</strong><br />

no bairro Jacarecanga) e Formação em<br />

Cooperativismo, realizado em parceria com<br />

SENAI, SESI, Serviço Brasileiro de Apoio às<br />

Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Serviço<br />

Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo<br />

do Ceará (Sescoop). Independente<br />

do curso escolhido, ca<strong>da</strong> um sai do ViraVi<strong>da</strong><br />

capacitado para exercer com competência a<br />

ativi<strong>da</strong>de abraça<strong>da</strong>.<br />

“Não estamos simplesmente comemorando<br />

a conclusão de seis turmas do Projeto<br />

ViraVi<strong>da</strong> e a entrega dos certificados, mas<br />

reconhecendo a determinação e a coragem<br />

de jovens sonhadores, que ousaram e vislumbraram<br />

uma mu<strong>da</strong>nça de vi<strong>da</strong>, um futuro<br />

diferente”, observa o presidente <strong>da</strong> FIEC,<br />

Roberto Proença de Macêdo, para quem essa<br />

etapa do programa marca também a realização<br />

do “sonho de ver o Sistema S aliado no<br />

Ceará, reconhecendo que juntas as enti<strong>da</strong>des<br />

poderão fazer muito mais”.<br />

Segundo Roberto Macêdo, num cenário<br />

de recursos escassos e deman<strong>da</strong>s crescentes,<br />

o Sistema FIEC vê a parceria como moe<strong>da</strong><br />

valiosa. “Por isso estamos abertos para outras<br />

iniciativas conjuntas”, antecipa. Para ele,<br />

a magnitude do desafio que representa o enfrentamento<br />

à exploração de crianças e adolescentes<br />

exige ações em parceria. “O Brasil<br />

não pode negar a suas crianças, adolescentes<br />

e jovens o direito a proteção e o acesso<br />

a educação, saúde, cultura e lazer. Daí porque<br />

o Sistema FIEC, por meio do SESI e do<br />

SENAI, abraçou essa causa e abraçará outras<br />

mais que promovam impactos e mu<strong>da</strong>nças<br />

substanciais na vi<strong>da</strong> dos nossos jovens”, sublinhou<br />

Roberto Macêdo.<br />

Jair Meneguelli, presidente do Conselho<br />

Nacional do SESI e precursor do ViraVi<strong>da</strong>,<br />

lembrou que Roberto Macêdo foi um dos<br />

primeiros empresários cearenses a abraçar<br />

o projeto. A Cemec, do grupo J. Macêdo, é<br />

uma <strong>da</strong>s empresas que abriram as portas para<br />

incluir os jovens egressos do projeto no mercado<br />

de trabalho. Meneguelli destaca o pioneirismo<br />

de Fortaleza. “Da mesma forma que<br />

sediou a turma-piloto do ViraVi<strong>da</strong>, a capital<br />

do Ceará continua <strong>da</strong>ndo um passo à frente<br />

com a implantação <strong>da</strong> primeira incubadora<br />

<strong>da</strong> cooperativa do projeto”, disse.<br />

João Nicédio Alves Nogueira, presidente<br />

do Sescoop, que ingressou no ViraVi<strong>da</strong> para<br />

contribuir com a inserção dos jovens no<br />

mercado de trabalho, por meio <strong>da</strong> formação<br />

de cooperativas, ratificou o apoio <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de<br />

à iniciativa. “Estamos à disposição para<br />

orientar alunos do projeto que decidirem se<br />

tornar donos de seus próprios negócios por<br />

intermédio do cooperativismo”, reforçou<br />

João Nicédio.<br />

Para Luiz Gastão Bittencourt, presidente <strong>da</strong><br />

Federação do Comércio do Estado do Ceará<br />

(Fecomercio), mais do que propiciar uma<br />

profissão e o acesso ao primeiro emprego, o<br />

ViraVi<strong>da</strong> dá aos jovens a oportuni<strong>da</strong>de de<br />

uma consciência maior <strong>da</strong> sua ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia,<br />

além <strong>da</strong> chance de receberem conhecimento<br />

e, assim, ampliarem os horizontes. Após a participação<br />

inédita no programa, a Fecomercio,<br />

segundo Luiz Gastão, irá ampliar a oferta de<br />

cursos do Senac.<br />

Roberto Proença de Macêdo, presidente <strong>da</strong> FIEC<br />

““<br />

Jair Meneguelli: capital<br />

do Ceará continua <strong>da</strong>ndo<br />

um passo à frente com a<br />

implantação <strong>da</strong> primeira<br />

incubadora <strong>da</strong> cooperativa<br />

do projeto ViraVi<strong>da</strong><br />

Não estamos simplesmente<br />

comemorando a conclusão de seis<br />

turmas do Projeto ViraVi<strong>da</strong>, mas reconhecendo<br />

a determinação e a coragem de jovens<br />

sonhadores, que ousaram e vislumbraram uma<br />

mu<strong>da</strong>nça de vi<strong>da</strong>, um futuro diferente.<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

Oempresário Carlúcio Pereira, proprietário <strong>da</strong><br />

Dilady Lingerie, uma <strong>da</strong>s empresas parceiras,<br />

diz que só tem elogios ao projeto. “É uma<br />

iniciativa excelente. Além de <strong>da</strong>r oportuni<strong>da</strong>de a<br />

quem nunca teve chance na vi<strong>da</strong>, fornece mão<br />

de obra eficiente para as empresas. Na Dilady,<br />

contratamos cinco pessoas forma<strong>da</strong>s pelo ViraVi<strong>da</strong>,<br />

como operadores de máquina de costura, e foi<br />

uma surpresa! Em pouco tempo eles desenvolvem<br />

o trabalho com muita eficiência. Estamos até<br />

pensando em ampliar nossa parceria”, antecipa.<br />

Cátia Maria Oliveira Pinheiro, responsável pelo<br />

setor de pessoal <strong>da</strong> empresa Colonial, afirma que<br />

o projeto tem sido de grande valia. “Os jovens<br />

aprendizes oriundos do ViraVi<strong>da</strong> conseguem<br />

melhor desempenho porque possuem um maior<br />

acompanhamento <strong>da</strong> equipe do projeto. Isso faz<br />

com que não tenhamos problemas com atrasos e<br />

faltas. A diferença é que o ViraVi<strong>da</strong>, além de treinar,<br />

orienta os alunos nos campos profissional, social e<br />

psicológico”, explica.<br />

Para o superintendente regional <strong>da</strong> Caixa<br />

Econômica Federal em Fortaleza, Gotardo Gomes<br />

Gurgel Júnior, o ViraVi<strong>da</strong> é um exercício de<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia para empresas e jovens beneficiados.<br />

“A Caixa é parceira do projeto, contratando e<br />

prestando orientação profissional a esses jovens.<br />

Nosso objetivo é que eles sintam orgulho em<br />

participar <strong>da</strong> nossa equipe e que os empregados<br />

de nossa empresa vejam a importância dessa<br />

missão social que o banco coloca para ca<strong>da</strong> um<br />

de nós. É um projeto de responsabili<strong>da</strong>de ci<strong>da</strong>dã<br />

e um ato cristão”, reforça.<br />

Em reconhecimento ao apoio <strong>da</strong>do ao projeto,<br />

o ViraVi<strong>da</strong> concedeu certificados às empresas<br />

parceiras, como Caixa, Dilady e Colonial, que têm<br />

garantido a empregabili<strong>da</strong>de dos jovens formados<br />

Vi<strong>da</strong> nova<br />

Estou começando uma vi<strong>da</strong> nova. Eu, que não sabia fazer<br />

na<strong>da</strong>, agora vou <strong>da</strong>r novo rumo à minha vi<strong>da</strong>. Antes de<br />

entrar no programa, eu não trabalhava nem estu<strong>da</strong>va. Ninguém<br />

acreditava em mim. Hoje, é meu irmão que está surpreso por eu<br />

ter mu<strong>da</strong>do tanto. Meu filho nasce no próximo mês. Depois que<br />

ele nascer, vou voltar no SESI e eles vão me encaminhar para um<br />

emprego. Quero <strong>da</strong>r um futuro bom para o meu menino, com lazer<br />

e educação como eu nunca tive.<br />

Aline de Lima Santos, 20 anos, grávi<strong>da</strong> de oito meses, concludente do curso de Costura<br />

Industrial em Mo<strong>da</strong> Praia e Mo<strong>da</strong> Íntima, realizado pelo SENAI Parangaba.<br />

““<br />

pelo projeto. Em vídeo apresentado durante a<br />

soleni<strong>da</strong>de, o vice-presidente <strong>da</strong> República, José<br />

Alencar, elogiou os parceiros e convidou outras<br />

empresas a aderirem ao projeto. “O Sistema S<br />

já está fazendo a sua parte. O ViraVi<strong>da</strong> oferece<br />

a chance de as empresas participarem dessa<br />

mu<strong>da</strong>nça na vi<strong>da</strong> de nossos jovens. O Brasil conta<br />

com vocês”, completou.<br />

Ao final do evento no Senac, as empresas Dilady<br />

Lingerie e Sanny Underwear apresentaram um<br />

desfile <strong>da</strong>s novas coleções de mo<strong>da</strong> íntima e mo<strong>da</strong><br />

praia, cuja produção contou com a mão de obra de<br />

concludentes do ViraVi<strong>da</strong> provenientes do curso de<br />

Costura Industrial em Mo<strong>da</strong> Praia e Mo<strong>da</strong> Íntima.<br />

O ViraVi<strong>da</strong> foi idealizado em 2008 pelo<br />

Conselho Nacional do SESI para capacitar<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

As empresas Dilady<br />

Lingerie e Sanny Underwear<br />

apresentaram desfile <strong>da</strong>s<br />

novas coleções de mo<strong>da</strong><br />

íntima e mo<strong>da</strong> praia<br />

2 | Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Junho de 2010 | Revista<strong>da</strong>FIEC |<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo


jovens em situação de risco e exploração<br />

sexual, e teve o projeto piloto coordenado<br />

pelo SESI/CE. Em segui<strong>da</strong>, outras instituições<br />

do Sistema S se engajaram. “A ca<strong>da</strong> edição<br />

aumenta a participação. Além do SESI/CE e<br />

Senac, contamos com a parceria do SENAI,<br />

Serviço Social do Comércio (Sesc), Serviço<br />

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas<br />

Empresas (Sebrae) e Sescoop, entre outras<br />

organizações”, afirma a coordenadora do<br />

projeto no Ceará, Catarina Sabino.<br />

A iniciativa contempla educação básica,<br />

empreendedorismo, atendimento psicossocial e<br />

apoio às famílias. O projeto já formou 158 jovens<br />

no Ceará, dos quais 104 estão trabalhando,<br />

resultando num índice de inserção de 66%.<br />

Empresas e instituições<br />

parceiras:<br />

> Pena Sportwear<br />

> Panifício Aguananbi S.A (Panevita)<br />

> EIT – Empresa Industrial Técnica S/A<br />

> Dilady Lingerie<br />

> Banco do Nordeste<br />

> Banco do Brasil<br />

> Cemec Construções Eletromec S/A<br />

> Unitêxtil <strong>Indústria</strong> Têxtil<br />

> Chaves S.A<br />

> Araucária Incorporações<br />

> Cocobambu<br />

> Sanny Underwear<br />

> Panificadora Montmartre<br />

> Caixa Econômica Federal<br />

> Cachaça Colonial<br />

> Construtora e Imobiliaria JMV Lt<strong>da</strong>.<br />

> Enguia Gen BA, CE e PI Lt<strong>da</strong>.<br />

> Manhattam/ABC<br />

> Inco Engenharia<br />

> Facul<strong>da</strong>des Cearenses - FAC<br />

> Curso Juscelino Kubitschek<br />

> Centro Integrado Empresa Escola - CIEE<br />

> Secretaria de Direitos Humanos – Coordenação <strong>da</strong><br />

Criança e do Adolescente<br />

> Conselho Nova Vi<strong>da</strong> – Convi<strong>da</strong><br />

> Associação <strong>da</strong>s Prostitutas do Ceará – Aproce<br />

> Associação Maria Mãe <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong><br />

> Barraca <strong>da</strong> Amizade<br />

> Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Redenção<br />

> Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS)<br />

> Superintendência Regional do Trabalho (SRT)<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Mu<strong>da</strong>nça completa<br />

“<br />

Depois do ViraVi<strong>da</strong>,<br />

mudou muita coisa<br />

em minha vi<strong>da</strong>. Penso<br />

em estu<strong>da</strong>r, em construir<br />

meu próprio negócio<br />

– uma confecção de mo<strong>da</strong><br />

masculina e feminina.<br />

Antes de entrar no<br />

programa, eu tinha até largado<br />

os estudos. A oportuni<strong>da</strong>de surgiu quando eu mais<br />

precisava. Hoje, trabalho no Núcleo de Referência em<br />

Saúde do SESI. O ViraVi<strong>da</strong> representa tudo de bom em<br />

minha vi<strong>da</strong>. Aprendi coisas que vou aplicar em todos<br />

os ramos de minha vi<strong>da</strong>, seja na minha confecção ou<br />

na administração industrial. Nunca vou esquecer.<br />

Ramon Vlad de Sousa Alves <strong>da</strong> Silva, 17 anos, aluno do curso Assistente<br />

Administrativo Industrial, ministrado no SENAI Urbano de Almei<strong>da</strong>.<br />

Olhar futuro<br />

“<br />

Foi uma senhora <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de que trouxe<br />

a novi<strong>da</strong>de para o bairro. Com o incentivo<br />

dela, me inscrevi pela primeira vez no ViraVi<strong>da</strong>,<br />

mas não compareci no dia marcado. Depois, quando<br />

apareceu outra chance de me inscrever, agarrei. Não<br />

é todo mundo que tem duas oportuni<strong>da</strong>des de mu<strong>da</strong>r<br />

de vi<strong>da</strong>. Graças ao ViraVi<strong>da</strong> já estou trabalhando<br />

há quatro meses como<br />

jovem aprendiz no Banco<br />

do Nordeste. Quero<br />

deixar para trás tudo de<br />

ruim que vivi. Agora,<br />

só vou olhar para a<br />

frente. Existem poucas<br />

iniciativas assim. E esse<br />

programa veio para<br />

salvar muitos jovens,<br />

como eu.<br />

“<br />

Renara Mendes <strong>da</strong> Silva,<br />

21 anos, concludente do curso Comunicação Digital e Produção de Eventos,<br />

ministrado no SENAI Urbano de Almei<strong>da</strong>.<br />

“<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

Foto: GIoVANNI SANtoS<br />

Cooperativa no Ceará<br />

Aprimeira incubadora <strong>da</strong> cooperativa do<br />

projeto ViraVi<strong>da</strong> foi inaugura<strong>da</strong> em 5 de<br />

maio último pelo Conselho Nacional do<br />

SESI e o SESI/CE na uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> instituição no<br />

bairro Parangaba, contando com 21 cooperados<br />

egressos dos cursos de Costura Industrial em<br />

Mo<strong>da</strong> Praia e Mo<strong>da</strong> Íntima, Criação & Mo<strong>da</strong>,<br />

Comunicação Digital e Produção de Eventos.<br />

Durante dois anos, os cooperados terão o<br />

acompanhamento integral do SESI/CE. A partir<br />

de agosto deste ano, começam os contratos com<br />

os primeiros clientes, e a inserção no mercado<br />

toma forma definitiva. Em 2012, a cooperativa<br />

já deverá estar prepara<strong>da</strong> para caminhar com<br />

o próprio Ca<strong>da</strong>stro Nacional de Pessoa Jurídica<br />

(CNPJ). O empreendimento é dedicado ao setor<br />

de confecção e a produção deverá ter início no<br />

segundo semestre deste ano.<br />

A presidente <strong>da</strong> incubadora, Joyce <strong>da</strong> Silva,<br />

21 anos, tem uma história de vi<strong>da</strong> forte e<br />

personali<strong>da</strong>de firme. “Fico feliz em ter sido<br />

escolhi<strong>da</strong> para a presidência, mas sei que, na<br />

ver<strong>da</strong>de, tenho 20 chefes”, afirma, fazendo<br />

referência aos outros cooperados. Segundo<br />

ela, a ideia <strong>da</strong> incubadora surgiu durante o<br />

desenvolvimento do Vi<strong>da</strong>Vi<strong>da</strong> e foi ganhando<br />

corpo a partir <strong>da</strong> iniciativa do próprio grupo.<br />

Este ano, de janeiro a abril, os membros<br />

<strong>da</strong> cooperativa tiveram acesso a consultorias,<br />

nas quais foram abor<strong>da</strong>dos os aspectos<br />

mercadológicos do empreendimento. O Sescoop,<br />

integrante do Sistema Cooperativista Nacional,<br />

repassou conhecimentos sobre o assunto.<br />

Durante os cursos, os alunos passaram por<br />

“ do Vi<strong>da</strong>Vi<strong>da</strong> e foi “<br />

A ideia <strong>da</strong><br />

incubadora<br />

surgiu durante o<br />

desenvolvimento<br />

ganhando corpo a<br />

partir <strong>da</strong> iniciativa do<br />

próprio grupo.<br />

Joyce <strong>da</strong> Silva,<br />

presidente <strong>da</strong> incubadora<br />

disciplinas técnicas de gestão e finanças e<br />

por aulas de formação técnica para preparar a<br />

cooperativa para atuar no mercado. Joyce ressalta<br />

que o planejamento foi feito a longo prazo e<br />

a produção será volta<strong>da</strong> para a confecção de<br />

far<strong>da</strong>mentos e, depois, enxovais para restaurantes<br />

e estabelecimentos de hospe<strong>da</strong>gem.<br />

“A mu<strong>da</strong>nça que ocorreu na vi<strong>da</strong> desses<br />

meninos, de perspectiva e de quali<strong>da</strong>de de<br />

vi<strong>da</strong>, foi imensa. Muitos não tinham vínculos<br />

familiares, e o projeto pôde aproximar essas<br />

famílias. Este é um momento ímpar, o término<br />

de um trabalho de muito sucesso”, resume a<br />

responsável pelo acompanhamento psicológico<br />

dos alunos, Isabel Cristina Teixeira.<br />

Primeira incubadora <strong>da</strong><br />

cooperativa do projeto<br />

ViraVi<strong>da</strong> funcionará no<br />

SESI Parangaba<br />

Junho de 2010 | Revista<strong>da</strong>FIEC |<br />

Foto: GIoVANNI SANtoS


Preservação ambiental<br />

Recicla Nordeste <strong>da</strong>rá<br />

impulso ao setor<br />

Evento trará o que há de mais moderno em máquinas e<br />

equipamentos para a indústria de reciclagem nordestina<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Parquinho feito de plástico<br />

reciclável tem maior durabili<strong>da</strong>de<br />

porque não enferruja nem se<br />

deteriora com facili<strong>da</strong>de<br />

Para impulsionar o setor de reciclagem na região<br />

Nordeste, o Sindicato <strong>da</strong>s Empresas de Reciclagem<br />

de Resíduos Sólidos Domésticos e Industriais do<br />

Estado do Ceará (Sindiverde), em parceria com a<br />

Federação <strong>da</strong>s <strong>Indústria</strong>s do Estado do Ceará (FIEC), por<br />

meio do Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI),<br />

realizará no Centro de Convenções de Fortaleza, de 10 a 12<br />

de novembro de 2010, a feira Recicla Nordeste – evento pioneiro<br />

do segmento no Ceará e também na região. A feira trará<br />

o que há de mais moderno em máquinas e equipamentos<br />

para a indústria de reciclagem. Além de promover negócios<br />

e desenvolver o setor, a Recicla Nordeste deverá reunir todos<br />

os atores <strong>da</strong> cadeia produtiva.<br />

A ideia surgiu depois que o Sindiverde participou de feiras<br />

setoriais em São Paulo e noutros estados. “Identificamos<br />

que, além de serem locais para lançamentos de máquinas e<br />

equipamentos modernos, que buscam ca<strong>da</strong> vez mais a melhoria<br />

<strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de, as feiras oferecem ao expositor e visitante<br />

oportuni<strong>da</strong>des de negócios”, explica Marcos Augusto<br />

Nogueira de Albuquerque, presidente do Sindiverde. A meta<br />

para a primeira edição é movimentar R$ 50 milhões. O público<br />

estimado é de mais de 10 000 visitantes. No total, serão<br />

colocados à disposição 108 estandes. O público-alvo <strong>da</strong> feira<br />

são empresários do setor de reciclagem, transformadores, cooperativas,<br />

técnicos, professores e pesquisadores, entre outros.<br />

Simultaneamente à Recicla Nordeste, serão realizados durante<br />

dois dias seminários sobre meio ambiente, com a participação<br />

de universi<strong>da</strong>des, facul<strong>da</strong>des, escolas, associações,<br />

cooperativas, prefeituras, representantes do governo federal e<br />

estadual e a socie<strong>da</strong>de civil. Após as palestras, haverá ro<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

de negócio. Será promovido ain<strong>da</strong> um concurso jornalístico<br />

sobre meio ambiente. A premiação será entregue na abertura<br />

<strong>da</strong> feira. Em paralelo, o Núcleo de Meio Ambiente (Numa) <strong>da</strong><br />

FIEC fará a entrega do Prêmio FIEC por Desempenho Ambiental<br />

para empresas com produção mais limpa, reuso de<br />

água, educação ambiental e integração com a socie<strong>da</strong>de.<br />

Estudos indicam que a reciclagem dos resíduos sólidos,<br />

além de contribuir com a preservação ambiental, evita que<br />

milhares de tonela<strong>da</strong>s de lixo sejam lança<strong>da</strong>s a céu aberto nos<br />

lixões ou em aterros sanitários, contaminando o solo e aumentando<br />

a temperatura com a emissão de gases poluentes.<br />

“Quando reciclamos, estamos reduzindo o consumo de<br />

energia e preservando nossas florestas e nossos recursos naturais.<br />

Com a ativi<strong>da</strong>de de reciclagem, podemos gerar milhares<br />

de empregos e ren<strong>da</strong> para a população que não tem nenhuma<br />

especialização”, ressalta o presidente do Sindiverde.<br />

Junho de 2010 | Revista<strong>da</strong>FIEC |


Tributação é alta<br />

Segundo Marcos Albuquerque, com<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 300 empresas atuando<br />

no segmento de reciclados, o Ceará é um<br />

dos estados brasileiros que mais reaproveitam<br />

seus resíduos sólidos. Mesmo assim, de todo o<br />

resíduo destinado aos aterros sanitários e lixões<br />

somente são aproveitados 30%. Esse pequeno<br />

índice é consequência direta <strong>da</strong> ausência de<br />

coleta seletiva no estado. Estimativas indicam<br />

que a coleta elevaria para cerca de 70% o<br />

percentual de resíduos aproveitáveis no Ceará.<br />

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia<br />

e Estatística (IBGE) indicam que apenas 8,2%<br />

<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des brasileiras fazem coleta seletiva<br />

do lixo. Para Marcos Albuquerque, o fato de no<br />

Brasil a reciclagem ain<strong>da</strong> estar com percentuais<br />

muito baixos se deve à ausência de uma<br />

Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).<br />

Aprovado em março último pela Câmara dos<br />

Deputados, o Projeto de Lei 203/91 ain<strong>da</strong><br />

passará por ajustes e nova votação no Senado,<br />

antes de seguir para sanção presidencial.<br />

No Ceará, a falta de incentivo do governo<br />

é um dos principais desafios do setor. A<br />

tributação que incide sobre as indústrias que<br />

trabalham com matéria-prima recicla<strong>da</strong> é<br />

igual à de qualquer indústria. Não existe uma<br />

política de crédito com juros menores para os<br />

recicladores e a tarifa <strong>da</strong> energia é tão alta<br />

como a de qualquer outro consumidor.<br />

De acordo com Marcos Albuquerque, o Ceará<br />

foi um dos primeiros estados brasileiros a se<br />

preocupar com a reciclagem de termoplásticos.<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Estamos trabalhando<br />

com o SENAI/CE para<br />

capacitar todos os operadores<br />

de máquinas injetoras. Em<br />

breve, teremos conhecimento<br />

e tecnologia para vender para<br />

outros estados brasileiros.<br />

Marcos Albuquerque, presidente do Sindiverde<br />

““<br />

O sindicato, por sua vez, tem investido na<br />

capacitação de pessoal, na estruturação <strong>da</strong>s<br />

empresas, na busca de novas tecnologias<br />

e na aquisição de máquinas e periféricos<br />

modernos para melhorar a produtivi<strong>da</strong>de e,<br />

consequentemente, a competitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

indústrias cearenses em relação ao restante<br />

do país. “Estamos trabalhando com o Serviço<br />

Nacional de Aprendizagem Industrial do<br />

Ceará (SENAI/CE) para capacitar todos<br />

os operadores de máquinas injetoras. Em<br />

breve, teremos conhecimento e tecnologia<br />

para vender para outros estados brasileiros”,<br />

projeta Marcos Albuquerque.<br />

SERVIÇO:<br />

Mais informações sobre a feira pelo<br />

telefone (85) 3261-1111.<br />

A reciclagem dos resíduos<br />

sólidos evita que milhares<br />

de tonela<strong>da</strong>s de lixo sejam<br />

lança<strong>da</strong>s nos lixões e<br />

aterros sanitários<br />

História<br />

Civilização do boi<br />

Responsável pelo primeiro ciclo econômico do estado do Ceará, o<br />

gado foi fun<strong>da</strong>mental no processo de colonização de nossas terras<br />

POR GEvAN OLIvEIRA<br />

Diferentemente de outros estados, onde a população<br />

se deslocava do litoral para o interior, foi a<br />

partir do sertão que começou o povoamento do<br />

Ceará. E um animal em particular – o boi – marcou<br />

os passos dessa caminha<strong>da</strong>, deixando mais do que rastros<br />

e estrumes pela terra seca e empoeira<strong>da</strong> do semiárido<br />

cearense. No início oficial <strong>da</strong> nossa história, está registrado<br />

que as terras <strong>da</strong>qui não despertaram a atenção dos colonizadores<br />

(ou melhor, exploradores) nos primeiros cem<br />

anos após a partilha <strong>da</strong>s capitanias hereditárias.<br />

Dizia-se que a terra era inútil, sem ouro nem pedras<br />

preciosas. Apenas sal e pouca madeira sem muito valor<br />

comercial. Está escrito também que o português Antônio<br />

Cardoso de Barros, incumbido, em 1535, de administrar<br />

as centenas de léguas do Rio Grande do Norte, Ceará e<br />

Maranhão (o Siará Grande), não pisou por estas ban<strong>da</strong>s<br />

uma única vez. Coube ao açoriano Pero Coelho de Sousa,<br />

em 1603, liderar a primeira expedição a este lado do<br />

Atlântico. Mas as secas brabas e índios cabras-machos,<br />

inconformados com a escravidão, expulsaram o europeu<br />

e sua turba de volta ao frio do velho continente. Contudo,<br />

os teimosos e ávidos exploradores não deram trégua e logo<br />

regressaram sob o comando do português Martin Soares<br />

Moreno, considerado o fun<strong>da</strong>dor do Ceará, em busca de<br />

fortuna, fartura e de nossas índias – por que não? –, como<br />

romanticamente retratou o escritor José de Alencar na trilogia<br />

indianista Iracema, O Guarani e Ubirajara.<br />

Sempre no encalço dos branquelos, índios e piratas inimigos<br />

dos portugueses dificultaram a exploração <strong>da</strong> terra<br />

até 1637, quando a região foi oficialmente invadi<strong>da</strong> pelos<br />

holandeses, que então passaram a ser o alvo dos bravos tupiniquins,<br />

que lhes impuseram fragorosas derrotas. No entanto,<br />

sob o poderio <strong>da</strong>s armas de fogo, os holandeses atacaram<br />

em maior número em 1649, numa expedição chefia<strong>da</strong> por<br />

Matias Beck, instalando-se, após vitórias, nas proximi<strong>da</strong>des<br />

do riacho Pajeú, onde construíram o Forte Schoonenborch,<br />

tomado pelos portugueses em 1694, e renomeado de Forte<br />

de Fortaleza de Nossa Senhora <strong>da</strong> Assunção. À sua volta,<br />

formou-se a segun<strong>da</strong> vila do Ceará, chama<strong>da</strong> de Vila do<br />

Forte ou Fortaleza. A primeira foi a de Aquiraz.<br />

Junho de 2010 | Revista<strong>da</strong>FIEC |<br />

Foto: ÉDIS MALAGUttI


“Bicho que mija pra trás”<br />

Mas, voltando às primeiras linhas deste texto,<br />

pode-se afirmar que foi com a aju<strong>da</strong> do<br />

boi que o Ceará (e, na ver<strong>da</strong>de, a região<br />

Nordeste) passou a ser povoado em todos os seus<br />

recantos. O fenômeno pode ser explicado a partir<br />

desta frase: “Bicho que mija pra trás é que bota<br />

homem pra frente”. Foi assim que o historiador<br />

Leonardo Mota eternizou o adágio popular her<strong>da</strong>do<br />

dos que fizeram do gado sua primeira fonte de<br />

riqueza em to<strong>da</strong> a região. No livro O Processo<br />

Histórico de Industrialização do Ceará (2001), o<br />

historiador Geraldo Nobre diz que o estabelecimento<br />

do primeiro curral nordestino (e brasileiro) se deve<br />

a Garcia d’Ávila, filho de Tomé de Sousa, o primeiro<br />

governador geral do Brasil, que chegou ao país<br />

em 1549, estabelecendo-se em Salvador, Bahia.<br />

A Garcia d’Ávila também é creditado o feito de ter<br />

trazido, para o país, o coco e o gado nelore.<br />

Foi então, a partir <strong>da</strong> Bahia, que a criação de<br />

gado teve início. A ativi<strong>da</strong>de logo chegou em Sergipe<br />

e Pernambuco, sempre seguindo o curso do rio São<br />

Francisco. Em poucos anos, esses estados (outrora<br />

capitanias) passaram a engor<strong>da</strong>r, matar e exportar<br />

milhares de cabeças de gado. Contudo, o historiador<br />

cearense Capistrano de Abreu relata que essa<br />

expansão (ou seria melhor dizer invasão) de terras<br />

não ocorreu de forma pacífica, principalmente às<br />

margens do São Francisco, onde estavam finca<strong>da</strong>s<br />

várias tribos pertencentes ao tronco cariri, que<br />

lutaram muito por suas terras.<br />

Geraldo Nobre amplia esse fato explicando<br />

que “a hostili<strong>da</strong>de dos índios ain<strong>da</strong> bravios e<br />

a invasão holandesa, até o início <strong>da</strong> segun<strong>da</strong><br />

metade do século seguinte ao <strong>da</strong> introdução do<br />

gado, e, em segui<strong>da</strong>, as lutas contra os quilombos,<br />

haviam desorganizado os rebanhos, criando sérios<br />

problemas para os fazendeiros, que procuraram<br />

novas regiões de criar, sendo atendidos nos sertões<br />

do Piauí, Rio Grande do Norte e, principalmente, do<br />

Ceará”. Eis o início <strong>da</strong>s boia<strong>da</strong>s sertão adentro.<br />

O empresário e escritor Cândido Couto Filho,<br />

no livro Ciclos Econômicos do Ceará, conta que<br />

as boia<strong>da</strong>s provenientes <strong>da</strong> Bahia e Pernambuco<br />

chegavam ao Ceará pelos rios Jaguaribe e Acaraú, e<br />

vinham essencialmente para a engor<strong>da</strong> (ou fugindo<br />

de ataques de inimigos), aproveitando-se <strong>da</strong>s<br />

abun<strong>da</strong>ntes pastagens e <strong>da</strong>s características salinas<br />

do solo, ou seja, tinham o objetivo de retornar aos<br />

estados de origem. Mas, em função <strong>da</strong>s longas<br />

viagens, muitos desistiam do regresso, seja porque<br />

encontravam abrigo e comércio para o seu rebanho<br />

por aqui mesmo, ou simplesmente pelo fato de não<br />

compensar a viagem de volta, haja vista que o gado<br />

mirraria novamente.<br />

O grande relevo histórico dessas travessias de<br />

centenas de quilômetros pela caatinga – que não<br />

se faziam em menos de 15 dias – é o de serem<br />

considera<strong>da</strong>s o mais significativo fato para a<br />

colonização do Ceará, pois, por onde passavam,<br />

muitos criadores iam se fixando, sobretudo, às<br />

margens dos rios, originando, assim, os primeiros<br />

povoados, vilas e, claro, os primeiros coronéis e<br />

jagunços, que defendiam as reses, terras e entes<br />

queridos com muita valentia e sangue frio, e não<br />

poucas vezes.<br />

Cândido Couto mostra em seu livro que<br />

as famílias partiam com o gado de Acarape,<br />

transpunham o Jaguaribe e atravessavam Russas<br />

e Icó, subindo o rio Salgado até suas nascentes.<br />

“Esta estra<strong>da</strong> serviu de escoamento para o gado<br />

do sertão do Ceará até o médio São Francisco.<br />

Foi a mais notável via de colonização do Ceará<br />

colonial. Por ela, chegaram para ficar os primeiros<br />

povoadores, dentre eles os Feitosas e os Montes”,<br />

afirma o escritor ao se reportar à gênese de duas<br />

<strong>da</strong>s mais tradicionais famílias do Ceará. A primeira,<br />

dos Montes, era coman<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo coronel Francisco<br />

do Monte Silva, procedente de Sergipe, e que fez<br />

história por aqui nas locali<strong>da</strong>des de Icó e Sobral,<br />

principalmente. A segun<strong>da</strong>, dos irmãos Lourenço<br />

“ Cândido Couto Filho, empresário e escritor<br />

Ci<strong>da</strong>de de Aracati<br />

As famílias partiam com o gado de<br />

Acarape, transpunham o Jaguaribe<br />

e atravessavam Russas e Icó, subindo o rio<br />

Salgado até suas nascentes.<br />

“<br />

Alves Feitosa e Francisco Alves Feitosa, trouxe o<br />

gado de Alagoas até o Rio Jaguaribe e, também, Icó,<br />

“protagonizando inúmeros conflitos de terra com a<br />

família Monte”, conta Cândido Couto.<br />

Em função do declínio dos currais <strong>da</strong> Bahia<br />

e Pernambuco, o negócio do gado no Ceará<br />

prosperou de tal forma que, no início do século<br />

18, já se apresentava como o maior <strong>da</strong> colônia,<br />

gerando um importante comércio de carnes pelo<br />

Porto dos Barcos de Santa Cruz (atual município<br />

de Aracati). O local atraía, na época do abate,<br />

dezenas de intermediários no fornecimento do<br />

produto às capitanias de Pernambuco e Bahia.<br />

Portanto, é um fato histórico que o negócio do<br />

gado foi o principal responsável pelo povoamento<br />

do interior cearense, criando vilas prósperas que<br />

mais tarde deram início às ci<strong>da</strong>des de Icó, Aracati,<br />

Acaraú, Camocim, Sobral, Quixeramobim, Tauá,<br />

Crateús, Russas e Mora<strong>da</strong> Nova.<br />

Carne de sol do Ceará<br />

Em 1780, relata Cândido Couto, existiam na<br />

capitania do Ceará quase mil fazen<strong>da</strong>s de<br />

criação, com uma média de 750 cabeças<br />

de gado vacum ca<strong>da</strong> uma. Somente na região do<br />

baixo Jaguaribe eram mais de 300 000 animais.<br />

Quais os motivos de tanta prosperi<strong>da</strong>de? Por<br />

que o comércio do gado vingou de tal forma por<br />

aqui? Geraldo Nobre oferece uma explicação:<br />

“Apresentou esta capitania a vantagem de a área<br />

do criatório confundir-se praticamente com a<br />

do litoral, facilitando o comércio de carne, leite,<br />

couros, chifres etc., de maneira a intensificar-se<br />

rapi<strong>da</strong>mente a ativi<strong>da</strong>de”.<br />

De fato, era muito bicho para pouca gente.<br />

O que no início (por volta de 1650) foi uma<br />

grande vantagem, logo se transformou em um<br />

desafio porque a maioria <strong>da</strong> população local<br />

tinha baixo poder aquisitivo. O problema, de<br />

início, foi solucionado com a comercialização do<br />

gado (vivo) nas feiras pernambucanas e baianas.<br />

Contudo, a i<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mana<strong>da</strong>s para esses centros<br />

passou a não compensar mais em função <strong>da</strong>s<br />

longas viagens que debilitavam os rebanhos,<br />

a ponto de não servirem para o abate (de tão<br />

magras após as viagens).<br />

Foi a partir <strong>da</strong>í que surgiu a ideia, em Aracati<br />

(então Porto dos Barcos de Santa Cruz), de se<br />

abater o gado e exportar a carne salga<strong>da</strong>. Em<br />

toscos sobrados, passou a ser fabricado um tipo de<br />

carne seca, prensa<strong>da</strong>, modera<strong>da</strong>mente salga<strong>da</strong> e<br />

desidrata<strong>da</strong> ao sol e ao vento. Surgiam, assim, no<br />

Ceará, as fábricas de beneficiar carne, as chama<strong>da</strong>s<br />

oficinas ou feitorias, instala<strong>da</strong>s nos estuários dos<br />

rios Jaguaribe, Acaraú e Coreaú, estendendo-se<br />

depois ao Parnaíba, no Piauí, e ao Açu, Rio Grande<br />

do Norte. Outra saí<strong>da</strong> foi beneficiar os subprodutos,<br />

como o couro. Nessa época, centenas de pequenos<br />

comércios surgiram, já a partir <strong>da</strong>s secas de 1710-<br />

1711, para transformar a pele do animal em roupas,<br />

chapéus, sapatos, bolsas e tudo mais que a criativa<br />

mente do cearense pudesse imaginar. Essa indústria<br />

ganhou tal vulto que por aqui passaram a nos<br />

denominar de a “civilização do couro”.<br />

Com tudo isso, em poucos anos, o estado passou a<br />

ser o principal produtor e exportar dessas mercadorias<br />

(carne e objetos em couro) para as demais províncias<br />

e até para Portugal. Nesse contexto, a ci<strong>da</strong>de que mais<br />

prosperou foi Aracati, tendo recebido, por volta de<br />

1744, o título de capital brasileira <strong>da</strong> carne de sol e do<br />

couro salgado. É também dessa mesma ci<strong>da</strong>de e ano<br />

que se tem o registro <strong>da</strong> primeira indústria cearense<br />

(um curtume artesanal que beneficiava peles de cabra,<br />

carneiro e boi em tanques de madeira, usando cinzas,<br />

pedra ume e casca de angico).<br />

Atualmente, apesar <strong>da</strong>s crises do setor pecuarista<br />

cearense, fato que teve início já partir do início dos<br />

anos 1800, em função, principalmente, <strong>da</strong>s grandes<br />

secas, a indústria de beneficiamento do couro ain<strong>da</strong><br />

se mostra pujante em nosso estado, sempre entre<br />

os cinco primeiros na pauta de exportação. Segundo<br />

números do Centro Internacional de Negócios (CIN)<br />

<strong>da</strong> Federação <strong>da</strong>s <strong>Indústria</strong>s do Estado do Ceará<br />

(FIEC), as ven<strong>da</strong>s de couro ficaram em terceiro<br />

lugar no mês de março deste ano, com quase US$<br />

41 milhões, cerca de 13% do total dos produtos<br />

vendidos ao exterior.<br />

0 | Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

Junho de 2010 1<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC |<br />

Carne de sol


Frases&Ideias<br />

T I R A D A S I n S P I R A D A S , F R A S E S C o n C E I T u A I S E o u T R A S<br />

<strong>Indústria</strong> no Ceará é uma ativi<strong>da</strong>de responsável<br />

por grande quanti<strong>da</strong>de de empregos e que tem<br />

conseguido crescer em índices<br />

superiores à média nacional.<br />

CID GOMES, govErNaDor Do CEará<br />

PrESIDENtE Da FIEC<br />

CERâMICA<br />

gASTôMETRo<br />

o ideal seria conter o ‘gastômetro’ do governo para investir<br />

na reforma <strong>da</strong> saúde e educação.<br />

ALENCAR BURTI, PrESIDENtE Da aSSoCIação CoMErCIal DE São Paulo (aCSP),<br />

ao CoMENtar quE a arrECaDação rEgIStraDa NEStE aNo No IMPoStôMEtro<br />

SuPEra toDaS aS PrEvISõES: ChEgou EM 2 DE juNho à MarCa DE r$ 500 bIlhõES<br />

A sustentabili<strong>da</strong>de do setor cerâmico passa pela eficiência<br />

energética e evolução tecnológica, mas também pela busca de mu<strong>da</strong>nças<br />

de comportamento e atitudes ecologicamente corretas e adoção de<br />

tecnologias mais limpas.<br />

FERNANDO IBIAPINA, PrESIDENtE Do SINDCEraMICa<br />

MÃo DE oBRA quALIFICADA<br />

a escassez de mão de obra qualifica<strong>da</strong> já “inflaciona”<br />

os salários, principalmente nas empresas dos setores de<br />

mineração e petróleo.<br />

CoNCluSão DE PESquISa FEIta CoM 175 000 ProFISSIoNaIS quE trabalhaM EM<br />

árEaS oPEraCIoNaIS, gErENCIaIS E No alto ESCalão DE EMPrESaS DE 20 raMoS<br />

ECoNôMICoS, PublICaDa No JORNAL FOLHA DE S. PAULO, EDIção DE 2/6/2010<br />

EDITADo PoR LuIZ CARLoS CABRAL DE MoRAIS<br />

E-MAIL LCARLoS@SFIEC.oRg.BR<br />

O crescimento e o progresso <strong>da</strong> economia do<br />

Ceará, hoje um polo de alta relevância na região<br />

nordestina, se confundem com a<br />

atuação <strong>da</strong> FIEC.<br />

ARMANDO MONTEIRO NETO, PrESIDENtE Da CNI<br />

A FIEC atingiu um<br />

A FIEC é responsável por<br />

elevado nível de experiência<br />

importantes momentos não<br />

nestes 60 anos. Hoje podemos<br />

somente industriais, mas também<br />

confirmar a maturi<strong>da</strong>de do<br />

institucionais.<br />

parque industrial cearense. ERNANI BARREIRA, PrESIDENtE Do<br />

ROBERTO PROENÇA DE MACêDO,<br />

trIbuNal DE juStIça Do CEará<br />

A FIEC é uma instituição muito importante. Nós,<br />

empresários, precisamos ser representados e a FIEC<br />

cumpre bem essa função.<br />

ALExANDRE GRENDENE, PrESIDENtE Do CoNSElho DE aDMINIStração E<br />

DIrEtor-PrESIDENtE Da grENDENE S.a<br />

Foto: JoSÉ SoBRINHo<br />

2<br />

| Revista<strong>da</strong>FIEC | Junho de 2010<br />

A FIEC, nos seus 60 anos,<br />

contribuiu eficazmente com as políticas públicas<br />

implementa<strong>da</strong>s pelo governo estadual, mantendo-se<br />

ain<strong>da</strong> uma instituição moderna e contemporânea.<br />

JORGE PARENTE FROTA JúNIOR, Ex-PrESIDENtE Da FIEC E<br />

vICE-PrESIDENtE Da CNI<br />

ESTALEIRo<br />

o estaleiro é o empreendimento que está tendo mais<br />

polêmica, e outros estados estão doidos para pegá-lo.<br />

ZUZA OLIVEIRA, PrESIDENtE Da agêNCIa DE DESENvolvIMENto Do CEará<br />

(aDECE), alErtaNDo quE o EStaDo Não PoDE PErDEr o EMPrEENDIMENto<br />

InADIMPLênCIA<br />

percebe-se uma estabili<strong>da</strong>de. não há nenhum risco<br />

de a inadimplência crescer. o índice de emprego e ren<strong>da</strong><br />

continua aumentando.<br />

ANTôNIO CARLOS RODRIGUES, SuPErINtENDENtE Da CâMara DE DIrEtorES<br />

lojIStaS (CDl), DIzENDo quE a INaDIMPlêNCIa No CoMérCIo DE FortalEza CaIu<br />

10,07% No aCuMulaDo Do aNo DE jaNEIro a MaIo<br />

Onde tem pessoas para aprender tem o SENAI para ensinar.<br />

FIEC I AIRM<br />

Nos quatro cantos do estado do Ceará, o SENAI acompanha<br />

o crescimento e a expansão <strong>da</strong> indústria. São nove núcleos<br />

escolares em cinco municípios, além de diversas uni<strong>da</strong>des<br />

móveis para atender à deman<strong>da</strong> <strong>da</strong>s empresas cearenses<br />

por educação e aprimoramento profissional.<br />

(85) 3421.5900<br />

www.senai-ce.org.br

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