15.04.2013 Views

AMBEV Antecedentes da fusão - ESPM

AMBEV Antecedentes da fusão - ESPM

AMBEV Antecedentes da fusão - ESPM

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>AMBEV</strong><br />

<strong>Antecedentes</strong> <strong>da</strong> <strong>fusão</strong><br />

www.espm.br/centraldecases<br />

Central de Cases


<strong>AMBEV</strong><br />

<strong>Antecedentes</strong> <strong>da</strong> <strong>fusão</strong><br />

Preparado por Michelle R. Higuthi, sob supervisão do Prof. Alexandre Gracioso.<br />

Recomen<strong>da</strong>do para as disciplinas de: Administração<br />

Este caso foi escrito inteiramente a partir de informações obti<strong>da</strong>s no meio eletrônico<br />

e pesquisa bibliográfica menciona<strong>da</strong>. Não é intenção dos autores avaliar ou julgar o<br />

movimento estratégico do setor em questão. Este texto é destinado exclusivamente<br />

ao estudo e discussão acadêmica, sendo ve<strong>da</strong><strong>da</strong> a sua utilização ou reprodução<br />

em qualquer outra forma. A violação aos direitos autorais sujeitará o infrator às<br />

penali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> lei. Direitos Reservados <strong>ESPM</strong>.<br />

2002<br />

www.espm.br/centraldecases<br />

Central de Cases


RESUMO<br />

Este caso discute a necessi<strong>da</strong>de de fusões entre empresas concorrentes, como forma<br />

de enfrentar as oportuni<strong>da</strong>des e os desafios do novo ambiente global de negócios. A<br />

<strong>fusão</strong> entre a Brahma e Antarctica é um bom exemplo disso. Se essas empresas não<br />

tivessem se unido, correriam o sério risco de serem “engoli<strong>da</strong>s” por um concorrente<br />

estrangeiro. No entanto, após a <strong>fusão</strong>, é a AmBev que passa a ameaçar os mercados<br />

dos fabricantes dos outros países. Há uma contradição entre as leis antitruste e a nova<br />

reali<strong>da</strong>de do mercado global. O futuro parece pertencer aos gigantes que operam em<br />

escala mundial.<br />

PALAVRAS-CHAVE<br />

AmBev, <strong>fusão</strong>, ambiente global de negócios, leis antitruste.<br />

| | Central de Cases<br />

3


SUMÁRIO<br />

Apresentação ..................................................................................................... 5<br />

Principais cervejarias antes <strong>da</strong> <strong>fusão</strong> ............................................................ 6<br />

Antarctica ................................................................................................. 6<br />

Portfólio ............................................................................... 7<br />

Brahma...................................................................................................... 7<br />

Portfólio ............................................................................... 8<br />

Kaiser ............................................................................................. 8<br />

Portfólio ............................................................................... 9<br />

Participação no mercado de cervejas ............................................ 9<br />

Processo de <strong>fusão</strong> ................................................................................. 10<br />

Fusões aprova<strong>da</strong>s pelo Cade....................................................... 11<br />

Decisão do Cade .......................................................................... 11<br />

Ações pós-<strong>fusão</strong> ................................................................................... 14<br />

Conclusão ............................................................................................. 15<br />

Anexos ................................................................................................... 16<br />

Da análise <strong>da</strong> operação à luz do art. 54: ..................................................... 18<br />

| Central de Cases 4


Apresentação<br />

No dia 1º de julho de 1999, o mercado de cervejas e refrigerantes foi surpreendido pelo<br />

anúncio <strong>da</strong> <strong>fusão</strong> de duas grandes empresas do setor brasileiro, a Antarctica e a Brahma,<br />

formando a terceira maior cervejaria do mundo, a AmBev, Companhia de Bebi<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong>s Américas (American Beverage Company). A união passaria a concentrar 73% do<br />

mercado de cerveja, fato que desagradou a muitos no setor e levou o Cade (Conselho<br />

Administrativo de Defesa Econômica) a suspender a <strong>fusão</strong> até que fosse avaliado o<br />

impacto do acontecimento no mercado interno.<br />

A “guerra” foi mais visível e direta entre as marcas de cerveja, um segmento<br />

bastante promissor no Brasil, quarto maior mercado do mundo. Porém, perto de outros<br />

países o consumo per capita de cerveja no Brasil ain<strong>da</strong> é baixo, ficando em torno de 44<br />

litros, frente aos 100 litros per capita consumidos na Alemanha e aos 80 litros consumidos<br />

nos Estados Unidos.<br />

Apesar de to<strong>da</strong> a controvérsia, no final a <strong>fusão</strong> foi aprova<strong>da</strong>, o que mudou totalmente<br />

o panorama competitivo nesse setor, no Brasil. Este caso coloca em questão as<br />

razões pelas quais a <strong>fusão</strong> foi realiza<strong>da</strong>, pede para que sejam levanta<strong>da</strong>s alternativas à<br />

<strong>fusão</strong> e também que se discuta a decisão do Cade.<br />

| Central de Cases 5


Principais cervejarias antes <strong>da</strong> <strong>fusão</strong><br />

Antarctica<br />

Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1885 por sete empresários, a Antarctica começou como uma pequena<br />

fábrica de gelo e comi<strong>da</strong>. Em 1888, passou a produzir cerveja, alcançando dois anos<br />

mais tarde 4 milhões de litros produzidos. No ano de 1893, Zerrener, Büllow & Cia. assumiram<br />

o controle <strong>da</strong> companhia, iniciando um forte processo de expansão do negócio,<br />

sendo uma de suas ações a compra <strong>da</strong> Cervejaria Bavaria, em 1904. Em 1911, o grupo<br />

inaugurou a fábrica de Ribeirão Preto, a primeira fora <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de São Paulo.<br />

Em 1922, a empresa começou a produzir o Guaraná Antarctica, carro-chefe<br />

na categoria refrigerantes e que ocupa o segundo lugar no segmento. Nos anos 30<br />

a Antarctica passou a ser controla<strong>da</strong> pela Fun<strong>da</strong>ção Antônio e Helena Zerrener, uma<br />

organização filantrópica, que visava ao bem-estar de seus funcionários em particular e<br />

dos necessitados em geral.<br />

Através dos anos, o processo de expansão manteve-se como priori<strong>da</strong>de, com<br />

a construção de novas fábricas e a compra de concorrentes mais fracos, entre eles a<br />

Bohemia. Em 1970, a Antarctica produzia mais de 500 milhões de litros de cerveja e<br />

refrigerantes. Ao final <strong>da</strong>quela déca<strong>da</strong>, a empresa começou a se expandir internacionalmente,<br />

através <strong>da</strong> exportação do Guaraná Antarctica.<br />

Nos anos 80, foi formado o Grupo Antarctica com 22 empresas coliga<strong>da</strong>s. Em<br />

1992, a Antarctica iniciou um profundo processo de modernização, para enfrentar o<br />

mercado que se tornara mais competitivo. Nesse processo, a empresa reduziu o quadro<br />

de funcionários, aumentou a qualificação de novos profissionais contratados e ampliou<br />

sua linha de produtos.<br />

Ao longo dos anos 90, o segmento de cerveja começou a ficar ca<strong>da</strong> vez mais<br />

competitivo com o fortalecimento <strong>da</strong> Brahma e com o crescimento <strong>da</strong> Kaiser, o que<br />

tornou o quadro desfavorável para a Antarctica, que começou a perder fatias desse<br />

mercado. Sua participação, que era de 32% em 1995, caiu para 24% em 1997. A per<strong>da</strong><br />

de participação se tornou constante tanto no mercado de cervejas como no de refrigerantes;<br />

o grau de endivi<strong>da</strong>mento ficava ca<strong>da</strong> vez mais alto, chegando a 550 milhões de<br />

reais em 99 e o desânimo atingiu a todos do Grupo.<br />

Em um artigo do início de 20001, o professor Oscar Malvessi fez uma análise<br />

<strong>da</strong>s duas participantes <strong>da</strong> AmBev antes de sua formação, onde são utilizados sistemas<br />

de mensuração financeira que avaliam a sua criação de valor aos acionistas. A Antarctica,<br />

no ano anterior ao anúncio <strong>da</strong> <strong>fusão</strong>, havia apresentado destruição do valor investi-<br />

| Central de Cases 6<br />

fonte:<br />

Economática


do pelos acionistas <strong>da</strong> ordem de R$ 1,4 bilhão. Refletindo essa destruição de valor, para<br />

ca<strong>da</strong> R$ 1,00 anos, o valor de mercado de ação <strong>da</strong> empresa caiu sucessivamente.<br />

Portfólio<br />

Brahma<br />

Cervejas Refrigerantes<br />

Antarctica Pilsen<br />

(Extra e Extra<br />

Cristal)<br />

Antarctica Pilsener<br />

Chopp<br />

Malzbier<br />

München Extra<br />

Rio Cristal<br />

Bavaria (Pilsen e<br />

Premium)<br />

Budweiser<br />

Bohemia<br />

Kronenbier<br />

Serramalte<br />

Original<br />

Polar (Export,<br />

Pielsen)<br />

Niger<br />

Chopp Antarctica<br />

Polar<br />

Guaraná Antarctica (Diet)<br />

So<strong>da</strong> Antarctica (Diet)<br />

Água Tônica (Diet)<br />

Pop Cola (Diet)<br />

Pop Laranja (Diet)<br />

Clube So<strong>da</strong> Antarctica<br />

Baré Cola<br />

Baré Tuti-Frutti<br />

Guaraná Frisante Polar<br />

A Brahma teve origem em 1888, quando o imigrante suíço Joseph Villiger inaugurou a<br />

“Manufatura de Cerveja Brahma Villiger & Companhia”, no Rio de Janeiro, com produção<br />

diária de 12.000 litros de cerveja e 32 funcionários.<br />

No ano de 1894, Villiger abriu uma nova socie<strong>da</strong>de no mesmo local <strong>da</strong> anterior:<br />

a empresa cervejeira Georg Maschke & Cia. Dez anos mais tarde, nasceu a Companhia<br />

Cervejaria Brahma, resultante <strong>da</strong> <strong>fusão</strong> entre a Georg Maschke & Cia. e a Preiss Häussler<br />

& Cia. A produção naquele ano chegou a 6 milhões de litros.<br />

Em 1965 iniciou-se o trabalho <strong>da</strong>s primeiras reven<strong>da</strong>s exclusivas <strong>da</strong> Brahma,<br />

realiza<strong>da</strong>s em grande parte por antigos funcionários <strong>da</strong> Brahma. No ano de 1968, foi<br />

inaugura<strong>da</strong> sua Estação Experimental de Ceva<strong>da</strong> no Rio Grande do Sul, com a finali<strong>da</strong>de<br />

de testar novas varie<strong>da</strong>des de ceva<strong>da</strong> cervejeira e estu<strong>da</strong>r suas a<strong>da</strong>ptações ao solo<br />

e clima <strong>da</strong> região.<br />

Nos anos 70, a empresa expandiu a fabricação e distribuição de seus produtos<br />

para as regiões Norte e Nordeste do Brasil e lançou sua linha de refrigerantes. No início<br />

<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> seguinte, a Brahma adquiriu o controle acionário <strong>da</strong>s Cervejarias Reuni<strong>da</strong>s<br />

Skol Caracu S.A., passando a ser chama<strong>da</strong> Brahma Administração, Investimentos e<br />

Participações Lt<strong>da</strong>. Alguns anos mais tarde (1984 ), foi firmado um acordo com a PepsiCo<br />

Internacional para a fabricação e distribuição <strong>da</strong> marca Pepsi no Rio de Janeiro,<br />

| Central de Cases 7


além de operar três fábricas no Rio Grande do Sul. A parceria foi posteriormente desfeita<br />

e retoma<strong>da</strong> somente em 1997.<br />

Em 1989, o Grupo Garantia comprou a Brahma e introduziu grandes mu<strong>da</strong>nças<br />

no mercado de cervejas. Os novos dirigentes adotaram uma administração agressiva,<br />

implementando um profundo e extenso processo de expansão, modernização e busca<br />

de eficiência. A empresa mudou radicalmente suas estratégias, passando a utilizar política<br />

agressiva de promoção de ven<strong>da</strong>s, de redução de custos, de aumento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de<br />

produtiva e de expansão internacional. No início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90, a participação<br />

soma<strong>da</strong> <strong>da</strong> marca Brahma era de 38% superando a <strong>da</strong> Antarctica. No ano de 1994, a<br />

Brahma incorporou a Cia. Anónima Cervecera Nacional, na Venezuela, e inaugurou uma<br />

fábrica na Argentina. No ano seguinte, concluiu acordo com a norte-americana Miller<br />

Brewing Company e passou a produzir e distribuir a cerveja Miller no Brasil.<br />

A cerveja Brahma manteve-se líder de mercado por quase to<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90;<br />

apesar disso tanto a marca Brahma como a Antarctica perderam fatias do mercado<br />

devido ao crescimento de concorrentes como as cervejas Kaiser, Schincariol e a própria<br />

Skol, marca associa<strong>da</strong> ao grupo Brahma, que obteve um impressionante avanço, e<br />

chegou à liderança em 1998, com 27% do mercado.<br />

No mesmo estudo realizado pelo professor Oscar Malvessi (citado no tópico<br />

anterior), no qual são analisados os resultados econômicos <strong>da</strong> Antarctica e <strong>da</strong> Brahma,<br />

antes <strong>da</strong> formação <strong>da</strong> AmBev, averiguou-se que a Brahma proporcionou ao seus acionistas<br />

um incremento de riqueza <strong>da</strong> ordem de R$ 1,8 bilhão. Em termos de retorno, para<br />

ca<strong>da</strong> R$ 1,00 investido os acionistas possuíam R$ 2,00.<br />

Portfólio<br />

Cervejas Refrigerantes Isotônicos Chás Águas<br />

Brahma Chopp<br />

Brahma Bock<br />

Brahma Extra<br />

Brahma Light<br />

Chopp <strong>da</strong><br />

Brahma<br />

Chopp Escuro <strong>da</strong><br />

Brahma<br />

Malzbier<br />

Cerveja Miller<br />

Carlsberg<br />

Skol<br />

Caracu<br />

Kaiser<br />

Guaraná Brahma<br />

(Light)<br />

Limão Brahma<br />

Sukita<br />

Tônica Brahma<br />

So<strong>da</strong> Cristal<br />

Brahma<br />

Pepsi (Light)<br />

Mirin<strong>da</strong><br />

7UP<br />

Kas<br />

Teen<br />

Marathon Isotônico Marathon Ice<br />

Tea (Diet)<br />

Águas Fratelli<br />

Vita Fonti<br />

A Kaiser surgiu em 1982, por iniciativa do fabricante e distribuidor <strong>da</strong> Coca-Cola no Estado<br />

de Minas Gerais, Luiz Otávio Pôssas Gonçalves. Sua primeira fábrica foi instala<strong>da</strong><br />

em Divinópolis, com capaci<strong>da</strong>de para produzir cerca de 50 milhões de litros anuais e<br />

utilizava uma tecnologia até então inédita no país: um processo de maturação e fermentação<br />

em tanques fechados, sem interferência ambiental, que reduzia em 30% o<br />

consumo de energia e mão-de-obra.<br />

Nos anos 80, a estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> economia havia criado um ambiente favorável<br />

ao surgimento de novos competidores no mercado. Nessa época, a deman<strong>da</strong> era maior<br />

| Central de Cases 8


do que a oferta, o que auxiliou o sucesso do lançamento <strong>da</strong> cerveja Kaiser em Minas.<br />

Assim, distribuidores de Coca-Cola de outras regiões também se uniram ao empreendimento,<br />

e passaram produzir e comercializar a nova cerveja.<br />

Na distribuição e ven<strong>da</strong>, a Kaiser passou a praticar o processo de “ven<strong>da</strong> casa<strong>da</strong>”,<br />

também utilizado pelas líderes do mercado, no qual a ven<strong>da</strong> de cerveja era vincula<strong>da</strong><br />

à compra de refrigerante, usando os canais de distribuição <strong>da</strong> Coca-Cola. No final<br />

de 83 a maior exportadora de cerveja do mundo, a cervejaria Heineken, <strong>da</strong> Holan<strong>da</strong>,<br />

passou a <strong>da</strong>r assistência técnica à Kaiser. No ano seguinte, a Coca-Cola Internacional<br />

entrou na socie<strong>da</strong>de comprando 10% <strong>da</strong> cervejaria.<br />

Em 1989, a Heineken passou a ser acionista <strong>da</strong> empresa, que na época já<br />

possuía quase 8% do mercado. Com uma estratégia agressiva de preços, a Kaiser,<br />

na déca<strong>da</strong> de 90, apresentou um rápido crescimento, passando a incomo<strong>da</strong>r as cervejarias<br />

líderes. No ano de 1996, sua produção anual era de 1,3 bilhão de litros e sua<br />

participação alcançava 16% do mercado nacional.<br />

Portfólio<br />

Cervejas<br />

Kaiser Pilsen<br />

Kaiser Bock<br />

Kaiser Summer Draft<br />

Kaiser Gold<br />

Santa Cerva<br />

Heineken<br />

Xingu<br />

Participação no mercado de cervejas<br />

1<br />

| Central de Cases 9<br />

1<br />

No gráfico as<br />

participações <strong>da</strong><br />

Brahma/1997-1998,<br />

<strong>da</strong> Skol/1997 e <strong>da</strong><br />

Antarctica/1998 são<br />

valores estimados.<br />

fonte: Nielsen e<br />

Panorama Setorial.


Processo de <strong>fusão</strong><br />

Duas semanas após o anúncio <strong>da</strong> <strong>fusão</strong>, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa<br />

Econômica), baseado na Lei Antitruste (nº 8.884), havia suspendido qualquer operação<br />

<strong>da</strong>s duas empresas, que ficariam impedi<strong>da</strong>s de desativar fábricas, demitir pessoal ou<br />

unificar suas estruturas, antes <strong>da</strong> avaliação <strong>da</strong>s consequências <strong>da</strong> formação <strong>da</strong> AmBev<br />

no mercado brasileiro de cervejas e refrigerantes.<br />

Lei Antitruste: A lei antitruste de 1994 passou a regulamentar os acordos de<br />

união ou cooperação entre empresas, dentre os quais os chamados “atos de cooperação”,<br />

quando a junção representa mais de 20% do mercado. Para chegar a um<br />

veredicto, são percorridos três fóruns. O primeiro é a Secretaria de Acompanhamento<br />

Econômico (Seae), do Ministério <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, que dá o parecer sobre os efeitos econômicos<br />

do “ato” no mercado. Logo depois, o processo segue para a Secretaria de Direito<br />

Econômico (SDE), do Ministério <strong>da</strong> Justiça, responsável pela análise dos aspectos jurídicos<br />

<strong>da</strong> petição. Os dois pareceres são independentes e servem como uma forma de<br />

orientação para o outro órgão do Ministério <strong>da</strong> Justiça, o Conselho de Administração<br />

Econômica (Cade), este sim com poderes para aprovar ou vetar o pedido <strong>da</strong>s empre-<br />

2<br />

sas.<br />

Com o slogan “multinacional verde-e-amarela”, a AmBev, já no dia 1º de julho,<br />

deixou claro que sua intenção era expandir-se no mercado internacional com a estratégia<br />

de distribuição mundial do Guaraná Antarctica, por meio <strong>da</strong> estrutura ofereci<strong>da</strong> pela<br />

Pepsi. O principal argumento a favor <strong>da</strong> <strong>fusão</strong>, anunciado pelos grupos controladores<br />

<strong>da</strong> Antarctica e <strong>da</strong> Brahma, era o seu fortalecimento para não serem presas futuras do<br />

capital estrangeiro e <strong>da</strong> desnacionalização.<br />

A Kaiser foi a primeira empresa a se pronunciar contra a <strong>fusão</strong>, alegando que<br />

a haveria formação de monopólio, o que permitiria à AmBev impor aumentos abusivos<br />

de preços e que a <strong>fusão</strong> na<strong>da</strong> mais seria que um disfarce <strong>da</strong> aquisição <strong>da</strong> Antarctica<br />

pela Brahma. A Cervejaria apresentou cálculos que previam milhares de demissões nas<br />

duas empresas. A Coca-Cola, liga<strong>da</strong> à Kaiser, também se sentiu prejudica<strong>da</strong> pela <strong>fusão</strong>,<br />

que tem como objetivo levar seu concorrente, o Guaraná Antarctica, para competir no<br />

mercado internacional. Porém, os interesses <strong>da</strong> gigante estrangeira não foram mencionados<br />

no processo.<br />

3º parágrafo, retirado do artigo “A Guerra <strong>da</strong>s Cervejas”, publicado pela revista<br />

Exame em janeiro de 2000. No mês de novembro de 1999, foi divulgado o parecer do<br />

primeiro fórum: a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) recomendou a<br />

ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> Skol, a marca mais consumi<strong>da</strong> no País, pertencente à Cervejaria Brahma. A<br />

ven<strong>da</strong> evitaria a concentração no mercado de cervejas, impedindo o aumento de tama-<br />

| Central de Cases 10<br />

2<br />

Parágrafo<br />

retirado do<br />

artigo “A Guerra<br />

<strong>da</strong>s Cervejas”<br />

publicado pela<br />

revista Exame em<br />

janeiro de 2000.


nho <strong>da</strong> empresa. A opinião do segundo fórum, a Secretaria de Direito Econômico (SDE),<br />

foi anuncia<strong>da</strong> no início de 2000, que propôs a ven<strong>da</strong> de uma três marcas de cerveja <strong>da</strong><br />

empresa (Antarctica, Brahma ou Skol), além <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> de duas fábricas de cerveja (uma<br />

em Manaus e outra em Cuiabá). Ambos os pareceres foram considerados pela AmBev<br />

inviáveis, pois eliminariam os ganhos com a <strong>fusão</strong>. A decisão do caso ficou sob os<br />

cui<strong>da</strong>dos dos membros do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que<br />

teve um prazo de 60 dias para aprovar ou não a AmBev.<br />

Durante esses 60 dias, o clima era de apreensão. Pelo código, a AmBev não<br />

poderia existir, porém o Cade já havia aprovado outras fusões que também resultaram<br />

na concentração do mercado:<br />

Fusões aprova<strong>da</strong>s pelo Cade<br />

Decisão do Cade<br />

3<br />

Empresas Setor Concentração<br />

de mercado<br />

Brosol / Echin Autopeças 96%<br />

Helio / Carbex Material de escritório 85%<br />

Colgate / Kolynos Higiene 78%<br />

Mahle / Cofap / Metal Leve Autopeças 78%<br />

Ajinomoto / Oriento Alimentação 72%<br />

Electrolux Eletrodomésticos 61%<br />

Cumprindo o prazo estipulado, em 31 de março de 2000, o Conselho Administrativo<br />

de Defesa Econômica divulgou o parecer final sobre o caso. A decisão foi basea<strong>da</strong> nas<br />

relações custo/benefício <strong>da</strong> <strong>fusão</strong>: por um lado, o ato de concentração ocasionaria a<br />

eliminação de um concorrente do mercado, a potencial redução de empregos no setor,<br />

restrição à possibili<strong>da</strong>de de escolha do consumidor (exclusivi<strong>da</strong>de no ponto-de-ven<strong>da</strong>);<br />

por outro lado, a união <strong>da</strong>s duas empresas permitiria um aumento do bem-estar econômico<br />

por meio de ganhos de eficiência <strong>da</strong> ordem de R$ 177 milhões/ano .<br />

A AmBev conseguiu a aprovação do Cade, porém foram impostas medi<strong>da</strong>s<br />

para compensar os custos econômicos do ato:<br />

Restrições principais:<br />

• Ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> marca Bavaria no prazo de oito meses, com a transferência dos contatos de<br />

fornecimento e distribuição <strong>da</strong> cervejaria.<br />

• O comprador não poderá ter participação acima de 5% do mercado de cerveja.<br />

• Ven<strong>da</strong> de cinco fábricas <strong>da</strong> Antarctica e <strong>da</strong> Brahma com capaci<strong>da</strong>de total de 709<br />

milhões de litros, também no prazo de oito meses, localiza<strong>da</strong>s em Getúlio Vargas (RS),<br />

Ribeirão Preto (SP), Cuiabá (MT), Salvador (BA), Manaus (AM).<br />

• A AmBev deverá compartilhar, por quatro anos, sua rede de distribuição com cinco<br />

pequenas empresas (com até 5% de participação no mercado), uma em ca<strong>da</strong> região.<br />

| Central de Cases 11<br />

3<br />

Fonte: Revista<br />

Veja, 9 de janeiro<br />

de 2000.


Restrições adicionais:<br />

• A nova empresa fica proibi<strong>da</strong> de desativar fábricas por um período de quatro anos.<br />

Se quiser se desfazer de uma uni<strong>da</strong>de durante este prazo, terá de vendê-la a terceiros.<br />

• Deverá ser mantido o nível de emprego anterior à <strong>fusão</strong>. Em caso de demissão consequente<br />

de programas de reestruturação, a AmBev terá de oferecer cursos de qualificação<br />

e realocação profissional aos trabalhadores.<br />

• A fábrica <strong>da</strong> Antarctica de Ribeirão Preto deverá ser equipa<strong>da</strong> antes <strong>da</strong> ven<strong>da</strong>, passando<br />

a oferecer também envasamento em latas.<br />

• A AmBev terá de compartilhar sua rede de distribuição com os compradores <strong>da</strong> Bavaria<br />

e <strong>da</strong>s outras cinco fábricas por um período de quatro anos, renovável por mais<br />

dois anos.<br />

• A Ambev não poderá obrigar a ven<strong>da</strong> exclusiva de seus produtos nos pontos-deven<strong>da</strong>.<br />

• A Empresa assinará com o Cade um termo de compromisso de desempenho com<br />

metas de redução de custos e ganhos de eficiência que devem ser cumpridos por um<br />

período de cinco anos, sob pena de pagamento de multa.<br />

Na análise feita pelo Cade, foram avaliados os impactos de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s possíveis<br />

decisões do caso, que inclui os pareceres <strong>da</strong> Seae e <strong>da</strong> SDE:<br />

Opções Alternativas<br />

1. Aprovação sem restrições<br />

2. Ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> marca Skol<br />

3. Ven<strong>da</strong> Skol, Antartica ou Brahma<br />

4. Desconstituição <strong>da</strong> operação<br />

5. Decição do Cade<br />

Decisão do Cade: Caso AmBev<br />

Desvantagens<br />

Per<strong>da</strong> de um concorrente sem<br />

compensação<br />

Não resolve o problema em to<strong>da</strong>s as<br />

regiões; inviabiliza o negócio; per<strong>da</strong> de<br />

eciência.<br />

Idem acima<br />

Per<strong>da</strong> de eciência de no mínimo RS<br />

177 milhões/ano, possível per<strong>da</strong> de<br />

concorrente.<br />

Eliminação dos <strong>da</strong>dos a concorrência se<br />

per<strong>da</strong> efeciências.<br />

Com a imposição <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> marca Bavária e <strong>da</strong>s fábricas, o Cade visa possibilitar<br />

a entra<strong>da</strong> de um novo concorrente com potencial para crescer e conquistar<br />

20% de participação no mercado nacional em um prazo de quatro anos. Na época<br />

<strong>da</strong> decisão, a Bavária possuía 4,5% do mercado de cervejas e um índice de 25% de<br />

lembrança junto ao consumidor . A distribuição nesse mercado é muito pulveriza<strong>da</strong> e<br />

dispendiosa, tornando-se uma <strong>da</strong>s principais barreiras para entra<strong>da</strong> de novos concorrentes.<br />

Dados <strong>da</strong> Antarctica e <strong>da</strong> Anheuser-Bush afirmam que no Brasil, para atingir o<br />

ponto de equilíbrio, uma planta de produção de cerveja precisa ter uma capaci<strong>da</strong>de de<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 200 milhões de litros por ano e produzir efetivamente ao menos 160<br />

milhões de litros por ano.<br />

| Central de Cases 12


Segundo Gesner de Oliveira, presidente do Cade, o novo quadro poderá garantir<br />

uma redução de 10% nos preços <strong>da</strong>s cervejas para o consumidor. Gesner deixou<br />

claro que, se caso alguma <strong>da</strong>s determinações do Conselho não fosse cumpri<strong>da</strong>, a Am-<br />

Bev estaria sujeita a multas diárias de até R$ 106 mil.<br />

Mesmo com restrições à concretização <strong>da</strong> <strong>fusão</strong>, os interesses <strong>da</strong> nova cervejaria<br />

não foram prejudicados; <strong>da</strong>s três principais condições impostas, apenas uma não<br />

estava de acordo com o que a AmBev desejava e planejava: a que determinava que sua<br />

distribuição fosse compartilha<strong>da</strong> com outras cervejarias.<br />

A união entre a Antarctica e a Brahma criou a terceira maior cervejaria do mundo<br />

e a maior <strong>da</strong> América Latina, em produção; e no mercado de bebi<strong>da</strong>s mundial assumiu<br />

a quinta colocação. No Brasil, a AmBev passou a concentrar 67% do mercado de<br />

cervejas, passou a atuar em 18 Estados <strong>da</strong> Federação, além <strong>da</strong>s fábricas no Uruguai,<br />

na Argentina e na Venezuela, e conta com franquias de refrigerantes no Estado Unidos,<br />

Japão e Portugal. As operações de exportação <strong>da</strong>s duas empresas juntas já se encontravam<br />

em mais de 25 países.<br />

As maiores cervejarias do mundo:<br />

Empresa País Bilhões de litros<br />

1 Anheuser-Bush EUA 12,1<br />

2 Heineken NV Holan<strong>da</strong> 7,3<br />

3 AmBev Brasil 6,2<br />

4 Miller Brewing EUA 5,2<br />

5 S. African Beweries África do Sul 4,3<br />

6 InterBrew Bélgica 3,6<br />

7 Carlsberg Dinamarca 3,3<br />

8 Ceveceria Modelo AS México 3<br />

9 Kirin Japão 2,9<br />

10 Foster’s Austrália 2,8<br />

Participação no Mercado de Cervejas (2000)<br />

| Central de Cases 13<br />

Fonte: Impacta<br />

Databank<br />

Consultoria


As principais prejudica<strong>da</strong>s na decisão do Cade foram a Kaiser e a Schincariol,<br />

que foram excluí<strong>da</strong>s <strong>da</strong> compra dos ativos <strong>da</strong> AmBev, por terem participação de mercado<br />

superior a 5%. Para o presidente <strong>da</strong> Kaiser, Humberto Pandolpho, os votos do Cade<br />

não foram técnicos; foram mais troca de opiniões entre os conselheiros. Segundo ele, o<br />

relatório final era frágil e inconsequente, acusando o procurador-geral do Cade, Amauri<br />

Serralvo, de ter desprezados 177 páginas de informações basea<strong>da</strong>s em análises técnicas<br />

de seis procuradores do próprio Conselho, que elaboraram o relatório sobre a<br />

AmBev.<br />

A decisão do Cade gerou bastante controvérsia e nem todos saíram satisfeitos.<br />

No mesmo dia <strong>da</strong> decisão do Cade, o Jornal Folha de S.Paulo publicou algumas opiniões<br />

de profissionais do mercado a respeito <strong>da</strong> formação <strong>da</strong> Ambev: O gerente nacional<br />

de ven<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Schincariol, Francisco Martins, afirmou que as condições impostas prejudicariam<br />

frontalmente os interesses dos consumidores e <strong>da</strong>s demais empresas que<br />

atuam no setor, sendo esta uma situação inadmissível em uma economia de mercado,<br />

que defende mecanismos éticos de concorrência. Percival Maricato, presidente do<br />

conselho Deliberativo <strong>da</strong> Abredi (Associação dos Bares e Restaurantes de São Paulo)<br />

declarou estar bastante temeroso, pois a aprovação <strong>da</strong> AmBev leva à formação de uma<br />

empresa muito forte, e um grupo grande, sempre quer aumentar seu poder, portanto é<br />

obrigação <strong>da</strong> Abredi exigir que as autori<strong>da</strong>des cuidem para que todos os pontos <strong>da</strong> decisão<br />

do Cade sejam cumpridos. De acordo com Maricato, as pressões para que haja<br />

ven<strong>da</strong>s casa<strong>da</strong>s e aumento de preços estão ficando ca<strong>da</strong> vez maiores, o que o setor<br />

não pode suportar mais. Para Melquíades de Araújo, vice-presidente <strong>da</strong> Força Sindical,<br />

existem dois pontos positivos que podem ser destacados na decisão do Cade. O<br />

primeiro é o <strong>da</strong> obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> cerveja Bavaria, o que diminui os riscos<br />

de cartelização. O outro é a garantia <strong>da</strong> manutenção do emprego por quatro anos.<br />

Ele espera que essa garantia se esten<strong>da</strong> também aos trabalhadores terceirizados. O<br />

presidente <strong>da</strong> Fiesp (Federação <strong>da</strong>s Indústrias do Estado de São Paulo), Horácio Lafer<br />

Piva, considera a criação <strong>da</strong> AmBev um processo positivo; o Brasil começa a criar suas<br />

próprias multinacionais. Já Jorge Siqueira, gerente comercial e de marketing <strong>da</strong> Santa<br />

Marina, empresa fornecedora <strong>da</strong> Antarctica e <strong>da</strong> Brahma, afirmou que a <strong>fusão</strong> cria um<br />

potencial exportador e isso deverá aumentar a deman<strong>da</strong> por seus produtos e melhorar<br />

também a programação de fornecimento. Segundo ele, o lado negativo <strong>da</strong> união é que<br />

a AmBev poderá exercer uma pressão maior durante as negociações.<br />

Ações pós-<strong>fusão</strong><br />

Com a aprovação <strong>da</strong> <strong>fusão</strong>, a AmBev iniciou suas ações para cumprir as restrições impostas<br />

pelo Cade no prazo de oito meses. Em maio de 2000, a cervejaria assinou convênios<br />

com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o Sebrae (Serviço<br />

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para requalificação de funcionários.<br />

O primeiro ficou responsável pela elaboração de cursos de atualização e requalificação<br />

profissional e o segundo, pela realização de cursos de desenvolvimento de novos<br />

empreendedores. Os termos dos convênios tiveram aprovação do Cade, os quais são<br />

orientados e supervisionados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).<br />

No mês de junho, a AmBev contratou o banco de investimentos norte-americano<br />

Donaldson, Lufkin & Jenrette Securities Corp. (DLJ), especializado em fusões e<br />

aquisições no mercado mundial. O grupo passou a cui<strong>da</strong>r do processo de negociações<br />

<strong>da</strong> ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> marca Bavaria e <strong>da</strong>s fábricas. No final de julho, já havia 10 companhias<br />

| Central de Cases 14


estrangeiras interessa<strong>da</strong>s na marca, entre elas foram cita<strong>da</strong>s a South African Breweries<br />

(SAB) e Anheuser-Busch, nomes fortes do mercado cervejeiro.<br />

O DLJ manteve contato com as principais empresas de bebi<strong>da</strong>s do mercado<br />

internacional e investidores financeiros. A melhor proposta foi apresenta<strong>da</strong> pela Molson<br />

Inc., cervejaria líder no mercado canadense com 45% de participação e 24º lugar no<br />

ranking mundial. As negociações foram concluí<strong>da</strong>s em novembro de 2000 e a marca<br />

Bavaria foi vendi<strong>da</strong> à Molson Inc. por US$ 213 milhões, dos quais US$ 98 milhões<br />

foram pagos no fechamento do negócio e o restante condicionado à performance <strong>da</strong><br />

companhia.<br />

A operação obteve aprovação do Cade, a qual também envolveu a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

fábricas de cerveja localiza<strong>da</strong>s em Ribeirão Preto (SP), Getúlio Vargas (RS), Cuiabá<br />

(MT), Manaus (AM) e Camaçari (BA). As uni<strong>da</strong>des foram e entregues pela AmBev em<br />

plena operação, que investiu cerca de R$ 17 milhões para a ven<strong>da</strong>, cumprindo a determinação<br />

do Conselho. No acordo, a AmBev se responsabilizou pela distribuição <strong>da</strong><br />

Bavaria por um período de 10 anos.<br />

Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1786, a Molson atuava até então apenas na América do Norte, a<br />

compra <strong>da</strong> Bavaria fazia parte de sua estratégia de internacionalização <strong>da</strong> marca canadense.<br />

No primeiro ano (2001) o faturamento líquido <strong>da</strong> Bavaria foi de cerca de R$ 210<br />

milhões, com uma produção de 300 milhões de litros. As cinco fábricas empregam 750<br />

funcionários. Para 2002, a Molson planeja exportar uma nova marca, a Bavaria Export,<br />

para o Canadá. Serão 30 milhões de garrafas (10 milhões de litros) por ano. Além disso,<br />

a Molson adquiriu no início de 2002 o controle <strong>da</strong> Kaiser, passando a ter uma participação<br />

expressiva no mercado brasileiro.<br />

Conclusão<br />

O mercado mundial de cervejas é altamente concentrado, em muitos países uma ou<br />

duas cervejarias dominam mais de 70% do mercado, entre elas podem ser cita<strong>da</strong>s<br />

a South African Breweries que detém mais de 90% do mercado <strong>da</strong> África do Sul e a<br />

Quinsa que possui 73% do mercado argentino. O mercado brasileiro de cerveja não<br />

foge à regra, apesar de percorrer um longo processo as cervejarias Antarctica e Brahma<br />

conseguiram concretizar a <strong>fusão</strong> e passaram a dominar 67% deste mercado.<br />

Enfim, a formação <strong>da</strong> AmBev teve grande repercussão no setor e na mídia,<br />

deixando muitas questões em aberto. Com a leitura do caso e se julgar necessário com<br />

pesquisa complementar, discuta:<br />

1. Que outras alternativas Antarctica e Brahma teriam? Analise, especialmente, a importância<br />

de economias de escala na indústria de cerveja e refrigerantes e o seu impacto<br />

sobre as empresas do setor.<br />

2. Analise as estratégias segui<strong>da</strong>s pelas duas empresas no período anterior ao <strong>da</strong> <strong>fusão</strong><br />

(você provavelmente terá que realizar pesquisas em materiais suplementares a este<br />

caso para fazer isso) e compare os resultados econômicos de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s empresas.<br />

Por que Antarctica e Brahma apresentavam resultados tão diferentes?<br />

3. Como as empresas do setor de bebi<strong>da</strong>s (cervejas e refrigerantes) devem agir no novo<br />

cenário competitivo que surgiu após a <strong>fusão</strong>?<br />

4. Opinião do leitor/ concor<strong>da</strong> ou discor<strong>da</strong> com a decisão do Cade? Se pudesse fazer<br />

o papel do Cade, quais seriam suas medi<strong>da</strong>s?<br />

| Central de Cases 15


Anexos<br />

Fragmentos do Parecer <strong>da</strong> Procuradoria do Cade sobre processo do caso AmBev :<br />

(...)<br />

Das manifestações sobre a <strong>fusão</strong><br />

Em manifestação ofereci<strong>da</strong> pela cervejaria Kaiser, foram apresenta<strong>da</strong>s diversas tabelas<br />

e informações, forneci<strong>da</strong>s pela A.C. Nielsen, a respeito do market share por uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

federação, cujos valores são apresentados na tabela I a seguir:<br />

| Central de Cases 16


A seguir, também apresentaram tabela demonstrando capaci<strong>da</strong>de e utilização <strong>da</strong>s respectivas<br />

fábricas, apresenta<strong>da</strong> na tabela II, abaixo:<br />

Capaci<strong>da</strong>de Utilização<br />

Local Empresa (hl/ano) (%) Incentivos<br />

AM Manaus ANTARCTICA 1.150.000 38% Não<br />

AM Manaus BRAHMA 380.000 38% Não<br />

BA Camaçari BRAHMA 3.500.000 48% Sim<br />

BA Lagoinha Schincariol 3.500.000 50% Sim<br />

BA Camaçari<br />

Feira de<br />

ANTARCTICA 3.225.000 48% Sim<br />

BA Santana Kaiser 2.160.000 46% Sim<br />

CE Pacatuba Kaiser 1.500.000 34% Sim<br />

CE Fortaleza Brahma 1.200.000 100% Sim<br />

DF Brasília BRAHMA 990.000 100% Sim<br />

GO Anápolis BRAHMA 1.000.000 100% Sim<br />

GO Goiânia ANTARCTICA 650.000 100% Não<br />

MA São Luís BRAHMA 1.000.000 77% Sim<br />

MG Mateus Leme BRAHMA 3.100.000 100% Não<br />

MG Pirapora ANTARCTICA 1.200.000 100% Não<br />

MG Divinópolis Kaiser 1.032.000 41% Não<br />

MT Cuiabá ANTARCTICA 2.000.000 100% Não<br />

MT Cuiabá BRAHMA 600.000 100% Sim<br />

PA Belém ANTARCTICA 1.000.000 100% Sim<br />

PB João Pessoa ANTARCTICA 3.800.000 40% Sim<br />

PE Cabo BRAHMA 2.000.000 100% Sim<br />

PI Teresina ANTARCTICA 1.870.000 91% Sim<br />

PR Ponta Grossa Kaiser 2.880.000 61% Sim<br />

PR Curitiba BRAHMA 1.850.000 100% Sim<br />

RJ Rio de Janeiro BRAHMA 12.000.000 62% Sim<br />

RJ Jacarepaguá ANTARCTICA 7.500.000 62% Sim<br />

RJ Queimados Kaiser 3.240.000 48% Sim<br />

RN Natal ANTARCTICA 1.500.000 56% Sim<br />

RS Viamão Brahma 3.000.000 78% Sim<br />

RS Estrela ANTARCTICA 700.000 78% Não<br />

RS Gravataí Kaiser 1.680.000 62% Não<br />

RS Montenegro ANTARCTICA 680.000 78% Não<br />

RS Getúlio Vargas ANTARCTICA 580.000 78% Não<br />

SC Lages BRAHMA 4.000.000 59% Sim<br />

SC Joinville ANTARCTICA 185.000 59% Não<br />

SE Estância BRAHMA 3.000.000 20% Não<br />

SP Itaú Schincariol 11.000.000 50% Não<br />

SP Jacareí BRAHMA 8.000.000 44% Não<br />

SP Jacareí Kaiser 7.200.000 54% Não<br />

SP Jaguariúna ANTARCTICA 7.000.000 44% Não<br />

SP Agudos BRAHMA 3.500.000 44% Sim<br />

| Central de Cases 17


Da análise <strong>da</strong> operação à luz do art. 54:<br />

A ideia de eficiências surgiu e tomou corpo com a Escola de Chicago, que<br />

reconhecia seu valor como justificativa para aprovação de fusões de empresas que gerassem<br />

concentração de mercado. Essa corrente de pensamento surgiu como um movimento<br />

que questionava a utilização do paradigma estrutura-conduta-desempenho.<br />

Na teoria econômica neoclássica, o termo eficiência abrange dois enfoques<br />

diferentes, a saber:<br />

1- Eficiência produtiva: Aquela que revela ganhos de produtivi<strong>da</strong>de decorrentes <strong>da</strong> sinergia<br />

entre os recursos tecnológicos de ambas as empresas.<br />

2- Eficiência alocativa: Aquela que se relaciona com a distribuição dos recursos na<br />

socie<strong>da</strong>de.<br />

Em termos econômicos, a análise <strong>da</strong>s eficiências dá-se através de estudos<br />

econômicos, que mensuram, ou buscam quantificar, os níveis de eficiência produtiva<br />

e alocativa versus a redução <strong>da</strong> concorrência, a fim de verificar se há ou não ganhos<br />

líquidos, em termos de bem-estar, para o mercado.<br />

(...)<br />

É importante destacar que ambas as Secretarias (Seae e SDE) fizeram incursões<br />

nas análises quantitativas, a fim de aferir os ganhos líquidos advindos <strong>da</strong> operação,<br />

adotando, ca<strong>da</strong> uma, critérios metodológicos diferentes.<br />

(...)<br />

Desse modo, a análise ora empreendi<strong>da</strong> por esta Procuradoria pauta-se, unicamente,<br />

em critérios qualitativos de avaliação <strong>da</strong>s alegações <strong>da</strong>s empresas, em termos<br />

de juízo de mérito acerca <strong>da</strong> certeza jurídica e <strong>da</strong> verossimilhança <strong>da</strong> realização <strong>da</strong>s<br />

eficiências no mercado. Destaque-se, por completude, que a maioria <strong>da</strong>s análises de<br />

eficiências realiza<strong>da</strong>s por este Conselho costuma pautar-se tão-somente em avaliações<br />

qualitativas. Afinal, uma intervenção estrutural não pode basear-se em probabili<strong>da</strong>des,<br />

falecendo diante <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de segurança jurídica.<br />

(...)<br />

| Central de Cases 18

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!