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O Domínio Fundiário <strong>do</strong> Mosteiro de Paço de Sousa nos séculos XI e XII<br />

de análise, a problemática que lhe está subjacente e o seu contexto historiográfico, assim<br />

como o corpus <strong>do</strong>cumental selecciona<strong>do</strong> e a meto<strong>do</strong>logia utilizada na sua análise.<br />

Seguir-se-á um enquadramento geral da abadia no ambiente político, religioso e<br />

sócio-económico da época e no espaço que a envolve através <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da geografia<br />

física (relevo e rede hidrográfica) e da geografia humana. 27<br />

Estabeleci<strong>do</strong> este pano de fun<strong>do</strong>, passaremos à análise <strong>do</strong>s mecanismos de aquisição<br />

e/ou organização deste <strong>do</strong>mínio (<strong>do</strong>ações, compras e permutas) e da natureza <strong>do</strong>s<br />

bens que o constituem, avalian<strong>do</strong> a sua distribuição no espaço e no tempo.<br />

Num novo capítulo, continuaremos a caracterização <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> mosteiro de<br />

Paço de Sousa e da paisagem agrária daquela região, esboçan<strong>do</strong> as estratégias de gestão<br />

e exploração <strong>do</strong> património. No que concerne à dinâmica estabelecida entre os camponeses<br />

que trabalham essas terras e o senhorio, existem muito poucos elementos que nos<br />

permitam apreender esta realidade, uma vez que os contratos agrários escritos são escassos<br />

nestes séculos mais recua<strong>do</strong>s. 28<br />

No quinto capítulo, importará conhecer os actores e perceber os poderes que estão<br />

por trás da formação e organização deste senhorio. Num primeiro momento, pretende-se<br />

a identificação <strong>do</strong>s patronos <strong>do</strong> mosteiro, liga<strong>do</strong>s à família <strong>do</strong>s Riba<strong>do</strong>uro.<br />

Esta integrava a nobreza infancional, que iniciou a sua ascensão a partir <strong>do</strong> século XI e<br />

que procurou ligar-se a casas monásticas, utilizan<strong>do</strong>-as como um instrumento de gestão<br />

patrimonial e de legitimação <strong>do</strong> seu poder e prestígio. 29 É necessário perceber quem<br />

<strong>do</strong>ava e por que motivo o fazia, pois ao acto de <strong>do</strong>ar estava subjacente uma contrapartida<br />

que poderia ser de ordem espiritual ou material. 30 Identificar, nos diplomas relativos<br />

a Paço de Sousa, os <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res bem como outros intervenientes, parece-nos fundamental<br />

para compreender o crescimento deste <strong>do</strong>mínio. Do mesmo mo<strong>do</strong>, não podemos esquecer<br />

o papel desempenha<strong>do</strong> pelos superiores <strong>do</strong> convento nomeadamente os abades<br />

e restantes membros da comunidade usualmente com uma expressão pouco<br />

significativa nas fontes.<br />

Por fim, seguir-se-ão as principais conclusões da investigação, a listagem das<br />

fontes e da bibliografia activa, bem como o conjunto de apêndices e de índices.<br />

ORGANIZAÇÃO E CRESCIMENTO DO DOMÍNIO DE PAÇO DE SOUSA – ALGUMAS QUESTÕES<br />

O diploma mais antigo que diz directamente respeito ao mosteiro de S. Salva<strong>do</strong>r e que<br />

chegou até aos nossos dias data de 22 de Fevereiro de 994, quan<strong>do</strong> o abade Randulfo<br />

faz <strong>do</strong>ação da sua herdade constituída por villae situadas no actual concelho de Oliveira<br />

de Azeméis. 31 Este é o primeiro de 139 actos escritos nos quais são feitas <strong>do</strong>ações a esta<br />

instituição, representan<strong>do</strong> 79,9% da totalidade <strong>do</strong> nosso corpus <strong>do</strong>cumental. 32<br />

Quem faz estas <strong>do</strong>ações e por que razão as fez?<br />

A maioria <strong>do</strong>s benfeitores justifica a sua <strong>do</strong>ação dizen<strong>do</strong> que o faz pro remedio<br />

anima sua ou <strong>do</strong>s seus parentes ou pro remissione omnium pecatorum. No entanto, a<br />

salvação da alma e o perdão <strong>do</strong>s peca<strong>do</strong>s não são os únicos “contra-<strong>do</strong>ns” 33 pie<strong>do</strong>sos<br />

27 Elementos fundamentais para o estu<strong>do</strong> e a caracterização de uma determinada região. Cf. a análise proposta em José<br />

Ángel García de Cortázar, História Rural Medieval (Lisboa: Estampa, 1983), 13-40, 59-81.<br />

28 O mais provável é que esses actos de arrendamento fossem realiza<strong>do</strong>s oralmente. Cf. Maria Helena da Cruz Coelho, O<br />

Mosteiro de Arouca <strong>do</strong> Século X ao Século XIII (Arouca: Câmara Municipal de Arouca, Real Irmandade da Rainha<br />

Santa Mafalda, 1988), 131.<br />

29 José Mattoso, Ricos-homens, Infanções e Cavaleiros (Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2001), 33-77.<br />

30 A este propósito, veja-se também: Wendy Davies, Acts of Giving: Individual, Community, and Church in Tenth-<br />

Century Christian Spain (Oxford: Oxford University Press, 2007), 113-130.<br />

31 Livro <strong>do</strong>s Testamentos <strong>do</strong> Mosteiro de Paço de Sousa, <strong>do</strong>c. 132.<br />

32 Reunimos 174 <strong>do</strong>cumentos, <strong>do</strong>s quais as compras representam 11,5%; as sentenças 2,9%; os escambos 2,3%; os emprazamentos<br />

2,3% e os acor<strong>do</strong>s 1,1% (percentagens arre<strong>do</strong>ndadas para uma casa decimal).<br />

33 A questão da obrigatoriedade ou não de uma contrapartida como consequência <strong>do</strong> acto de <strong>do</strong>ar tem gera<strong>do</strong> opiniões<br />

diversas que não vamos aqui explanar. Remetemos para a colectânea intitulada Don et Sciences Sociales: théories et<br />

pratiques croisées, cf. Eliana Magnani, ed., Don et Sciences Sociales: théories et pratiques croisées (Dijon: Ed. Universitaires<br />

Dijon, 2007), sobretu<strong>do</strong> os artigos de Eliana Magnani (p. 15-28), Alain Testard (p. 153-164) e Anita Guerreau-<br />

Jalabert, que rejeita a teoria maussiana da “economia <strong>do</strong> <strong>do</strong>m” e nega a existência de qualquer contrapartida <strong>do</strong> <strong>do</strong>m<br />

(“Formes et conceptions du <strong>do</strong>n: problèmes historiques, problèmes métho<strong>do</strong>logiques”, p. 193-208). Cf. também a perspectiva<br />

de W. Davies, que afirma que o acto de <strong>do</strong>ar obriga explicitamente em alguns <strong>do</strong>s diplomas a um retorno, ainda<br />

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