Foto: Fernando Rezende - Arquidiocese de Sorocaba

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este Carnaval percebi que muita coisa estava
igual. Há datas que, para a minha vida, nada
acrescentam. Quando jovem chegamos, eu e
inha esposa, a gostar dos carnavais. Era vibrante.
rescemos em idade, e continuamos a vida, mas os
arnavais perderam o sabor. Percebi que todo o ano é a
esma coisa. Embora sendo um feriado "forçado" (já que,
ela lei, nem a terça-feira de Carnaval é feriado, mas ponto
acultativo), o povo emenda da sexta anterior à quartaeira
seguinte, isso sem falar daqueles que emendam até o
omingo da próxima semana.
E o que vemos? Todos os anos jovens se embebedando
uito, drogas espalhadas pelo universo carnavalesco,
romiscuidade sexual mantida e favorecida pela
ropaganda do "use camisinha" (deveriam colocar no
ínimo um adendo: "usem camisinha... pelo menos").
ulheres de bumbum de fora, cada vez mais de fora e, se
proximando dos homens com requebros mirabolantes
eróticos. Acidentes de mortes nas estradas que passam
os números dos três dígitos. Dizem que a festa é bonita.
é mesmo! Os desfiles mostram carros alegóricos prá lá
e bonitos e bem feitos. Cor e movimentos são bonitos.
úsicas são contínuas, embora nem sempre bonitas.
essoas ou fatos históricos são homenageados. Alguns
firmam que o Carnaval foi feito sob medida para os
rasileiros!
Será mesmo? Vou lembrar alguns dados. Primeiro,
ue o Carnaval já existia como festa popular e pagã, nos
esmos moldes de hoje (com bebedeiras e promiscuidade
exual, relaxamento dos costumes morais) centenas de
nos antes da descoberta do nosso Brasil. Na época da
oma antiga já existia o Carnaval, festa da Carne, em
omenagem ao deus Baco, o deus do vinho e da
romiscuidade sexual. Aqui no Brasil entrou através dos
ortugueses, com a festa do Entrudo, quando brincadeiras
té maldosas (como jogar urina em passantes) foram
Feriado é "tudo" igual?
introduzidas no Rio de Janeiro imperial. E até hoje muitos
- diria que é a maioria- pensam que o Carnaval orienta a
data da Páscoa que se segue. É comum ouvir que "o
Carnaval este ano é mais cedo, e, então, a Páscoa será
depois de quarenta dias".
Esclarecendo melhor: a Páscoa é uma festa religiosa
desde a época de Moisés, e transformada em um novo e
mais profundo sentido com o nosso Jesus Cristo. Portanto,
sua origem possui, provavelmente, mais de 4.000 anos. A
Páscoa é a festa de comemoração da "passagem" do povo
hebreu da escravidão do Egito para a Terra Prometida,
tudo isto garantido pela presença e proteção do grande e
poderoso único Deus Javé. Com Jesus, a Páscoa adquire
novo significado: a Nova Aliança com Seu Sangue nos
possibilita a garantia da "passagem" desta vida para a vida
eterna, junto de Deus.
Ora, a Páscoa sempre ocorre no primeiro domingo
após a primeira lua cheia que ocorre na Primavera (no
hemisfério norte, já que, no hemisfério sul é o Outono),
ou seja, é equivalente à antiga regra de que seria o primeiro
Domingo após o 14º dia do mês lunar do mês de Nisan,
entre os hebreus. Poderá assim ocorrer entre 22 de março
e 25 de abril, e, com isso, esta data se modifica ano a ano.
Estabelecida a data da Páscoa, desde o século IV da Era
Cristã (Concílio de Nicéia) se estabeleceu a Quaresma,
Março/2012
quarenta dias de penitência que antecedem a Páscoa. Na
Bíblia, quarenta é um número de penitência: o povo
hebreu vagou 40 anos no deserto, Jesus jejuou e orou 40
dias no deserto, e outros exemplos se seguem. Pois bem,
para a quarta-feira das Cinzas, a data está apensa à data da
Páscoa, cerca de 40 dias antes. Então, e só então, optaram
por colocar a terça-feira de Carnaval no dia anterior ao
da quarta-feira das Cinzas (a terça de Carnaval está sempre
47 dias antes do dia da Páscoa). Portanto, meus irmãos e
minhas irmãs, quem orienta a data do Carnaval é a data
da Páscoa, e não o inverso!
A importância disto torna-se óbvia para os cristãos: a
maior data é a religiosa, e não a profana. A festa da Páscoa
é a maior festa do Cristianismo, seguida do Natal de Jesus
e, depois, da festa de Pentecostes.
Esquecemos da Páscoa! Tristeza... porque o Carnaval
tornou-se mais importante que a Páscoa. Páscoa não gera
dinheiro, gera a vida. Ela não gera bagunça, gera alegria
verdadeira. Ela não gera explosões de prazer, mas
implosões de reflexão e louvor... Tudo isto e, neste
modernismo, está levando a Páscoa a ser mais um
"feriadão", igual ao Carnaval, ou igual ao "Corpus Christi",
ou igual ao "Primeiro de Maio".
Feriado é "tudo" igual, diz o povão hoje. Tempo de
viajar, de emendar dias sem trabalho, de esquecer o motivo
principal do feriado. Transformamos tudo em Carnaval.
Mas, não nos esqueçamos, Páscoa assim tem direito a tudo
que o Carnaval oferece: bebedeiras, viagens cansadas,
acidentes e mortes em estradas, discussões e brigas, e,
sobretudo, o esquecimento de Deus nas vidas de cada um!
O que nos lembra a Palavra? "Ora, nós sabemos que
Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém é temente a
Deus, e faz a sua vontade, a esse ouve". (Jo 9,31)
Gilson L. Delgado
Paróquia de S. Carlos Borromeu - Arquidiocese de Sorocaba
e-mail: drgilson@terra.com.br