15.04.2013 Views

Untitled - Universidade do Porto

Untitled - Universidade do Porto

Untitled - Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

17<br />

Cátia Antunes - A história da análise de redes e a análise de redes em história<br />

História. Revista da FLUP <strong>Porto</strong>, IV Série, vol. 2 - 2012, pp 11-22<br />

determinadas redes comerciais. 21<br />

Embora o trabalho de Subrahmanyan e <strong>do</strong>s seus co-autores faça referência a alguns processos<br />

de conectividade no interior das redes comerciais das quais provê um estu<strong>do</strong> de caso, o<br />

resulta<strong>do</strong> final da sua obra não é, de facto, uma abordagem sistemática <strong>do</strong> que é uma rede ou tão<br />

pouco da sua funcionalidade interna face aos indivíduos que a compõem. Na realidade, os autores<br />

apresentam ao público uma descrição aturada da interacção de indivíduos provenientes de<br />

grupos religiosos e étnicos diferentes, inseri<strong>do</strong>s em comunidades díspares, e a forma como estes<br />

indivíduos funcionavam como media<strong>do</strong>res culturais ou agentes dessas mesmas comunidades,<br />

não preenchen<strong>do</strong> estas conclusões os parâmetros básicos impostos por antropólogos e sociólogos<br />

para o estu<strong>do</strong> de redes. 22<br />

A contribuição de Subrahmanyan para a historiografia é inquestionável e o seu trabalho chamou<br />

a atenção <strong>do</strong>s historia<strong>do</strong>res para este instrumento de trabalho que é a análise social de redes.<br />

Por essa razão, pese embora o resulta<strong>do</strong> final <strong>do</strong> seu trabalho não ter si<strong>do</strong>, de facto, a realização de<br />

uma análise de redes aplicada à história, foi sem dúvida um incentivo a incluir esta temática na<br />

historiografia <strong>do</strong> século XXI e a promovê-la a categoria de análise histórica.<br />

Ao identificar algumas das deficiências já acima mencionadas no trabalho de Subrahmanyan,<br />

António Molho e Diogo Ramada Curto abriram uma nova era no estu<strong>do</strong> de redes em<br />

história. Recusan<strong>do</strong> aceitar uma perspectiva descritiva e imóvel de redes, comunidades e indivíduos,<br />

e sob os auspícios <strong>do</strong> European University Institute de Florença, Molho e Curto editaram<br />

uma colecção de artigos dedica<strong>do</strong>s à análise social de redes. 23<br />

Das discussões saídas da escola de Florença salienta-se, por um la<strong>do</strong>, um retorno às dificuldades<br />

implícitas no estu<strong>do</strong> da identidade de indivíduos, comunidades e redes, despoleta<strong>do</strong> pelos<br />

estu<strong>do</strong>s de Boissevain, e, por outro la<strong>do</strong>, a abertura de mais uma linha de inquérito histórico,<br />

nomeadamente a compreensão da funcionalidade das redes não tanto <strong>do</strong> ponto de vista sócio-<br />

-antropológico, mas económico. 24<br />

Com efeito, as questões de identidade em comunidades e actores históricos, e a sua relação<br />

com a constituição de redes, foram assumidas por historia<strong>do</strong>res cujo trabalho se debruçou<br />

sobre as comunidades mercantis em diáspora, sen<strong>do</strong> os casos mais conheci<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>s judeus e<br />

<strong>do</strong>s arménios. Deste grupo, salientam-se as contribuições revolucionárias de Sebouh Aslanian,<br />

Jonathan Israel e Miriam Bodian. 25<br />

O que Aslanian, Bodian e Israel têm em comum é que a sua concepção de rede se encontra<br />

radicada na constituição de comunidades por indivíduos que partilham o mesmo substrato<br />

cultural, representa<strong>do</strong> primeiramente por uma prática linguística e religiosa.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, o que distingue os livros de Bodian e Israel <strong>do</strong>s artigos de Aslanian é o<br />

21 S. Subrahmanyan (ed.), Merchant Networks in the Early Modern World (Variorum: Ashgate, 1996).<br />

22 Subrahmanyan recupera, em certa medida, a definição de media<strong>do</strong>r cultural em relações económicas defendida por Philip<br />

Curtin em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 80. Vide: Philipe Curtin, Cross-Cultural Trade in World History (Cambridge: Cambridge University Press,<br />

1984). O trabalho desenvolvi<strong>do</strong> por Curtin, embora de grande relevância, teve como precursor o artigo de Edna Bonacich. Vide: Edna<br />

Bonacich, ‘‘A Theory of Middleman Minorities’’, American Sociological Review, 38-5 (1973), 583-594.<br />

23 Diogo Ramada Curto e Anthony Molho (eds.), Commercial Networks in the Early Modern World, EUI Working Paper HEC<br />

nr 2002/2 (Florence: European University Institute, 2002). Anthony Molho e Diogo Ramada Curto (eds.), Finding Europe. Discourses<br />

on Margins, Communities, Images ca. 13 th – c. 18 th centuries (New York: Bergahn Books, 2007).<br />

24 Esta ídeia aparece subentendida no trabalho de Curto e Molho de 2002, mas é claramente veiculada no artigo de Francesca<br />

Trivellato, ‘‘Jews of Leghorn, Italians of Lisbon, and Hindus of Goa: Merchant Networks and Cross-Cultural Trade in the Early<br />

Modern Period’’, Diogo Ramada Curto e Anthony Molho (eds.), Commercial Networks in the Early Modern World, EUI Working<br />

Paper HEC nr 2002/2, 59-89.<br />

25 Miriam Bodian, Hebrews of the Portuguese Nation: Conversos and Community in Early Modern Amsterdam (Bloomington: Indiana<br />

University Press, 1997). Jonathan I. Israel, Diasporas within a Diaspora: Jews, Crypto-Jews and the World Maritime Empires (1540-1740)<br />

(Leiden: Brill, 2002). Sebouh Aslanian, ‘‘Trade Diaspora versus Colonial State: Armenian Merchants, the English East India Company, and<br />

the High Court of Admiralty in Lon<strong>do</strong>n, 1748-1752’’, Diaspora: A Journal of Transnational Studies, 13-1 (2004), 37-100.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!