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O desgosto da “mistura” com prostitutas e favelados ... - Dilemas

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8 Para o autor, a análise <strong>da</strong><br />

confi guração <strong>da</strong>s classes<br />

não é determina<strong>da</strong> puramente<br />

pelo econômico. O<br />

espaço multidimensional<br />

leva em conta a descrição<br />

dos diversos tipos de capital<br />

(econômico, social, cultural<br />

e simbólico), que são<br />

princípios de diferenciação<br />

presentes em <strong>da</strong>do universo<br />

social. A formação de<br />

uma classe, ou de frações<br />

de classe, tem to<strong>da</strong> relação<br />

<strong>com</strong> disposições de aproximação<br />

ou distância entre<br />

indivíduos – é, portanto,<br />

relacional – e habitus <strong>com</strong>partilhados<br />

entre grupos<br />

sociais. “Classe social” não<br />

é uma coleção de proprie<strong>da</strong>des<br />

– gênero, i<strong>da</strong>de,<br />

origem social, etnici<strong>da</strong>de,<br />

ocupação etc. –, mas a estrutura<br />

de relações entre<br />

to<strong>da</strong>s essas proprie<strong>da</strong>des<br />

e os efeitos que ca<strong>da</strong> uma<br />

delas exerce nas práticas<br />

sociais (BOURDIEU, 1987).<br />

zação <strong>da</strong>s casas de sua rua. Durante suas narrativas<br />

nos encontros nos quais descrevia os dramas vividos<br />

nas relações interpessoais <strong>com</strong> os moradores de favela,<br />

ela era alvo de chacotas e desqualificações: “Nossa,<br />

parece descontrola<strong>da</strong>!” Ao mesmo tempo, suas falas<br />

mobilizavam o apoio de outros moradores e inflamavam<br />

o <strong>desgosto</strong> coletivo pela convivência <strong>com</strong> os<br />

pobres. Em um dos momentos em que ela reclamava<br />

<strong>da</strong> falta de higiene dos moradores de barracos e do<br />

tráfico de drogas, alguns moradores diziam: “Tem que<br />

matar esse povo” ou “Tem que contratar uns pistoleiros”.<br />

Nesse sentido, relações de aproximação e distância<br />

se faziam presentes ao mesmo tempo. Se, por<br />

um lado, alguns moradores se identificavam em torno<br />

<strong>da</strong> intolerância em relação aos moradores de favelas<br />

– chamados sempre de “sujos”, “incultos”, “bandidos”<br />

e, não raro, “nordestinos” –, por outro, também se diferenciavam<br />

quanto à maneira (mais ou menos próxima)<br />

de se relacionar <strong>com</strong> os públicos considerados<br />

“agentes <strong>da</strong> insegurança”. Diferentemente de muitos<br />

moradores, Silvia não apenas morava na mesma rua<br />

que os “<strong>favelados</strong>”, <strong>com</strong>o se relacionava <strong>com</strong> eles.<br />

Estava claro que os moradores do Jardim Aeroporto<br />

não se consideravam <strong>com</strong>o pertencentes à mesma<br />

fração de classe dos moradores <strong>da</strong> região central de<br />

Campo Belo. Retomando a noção de classe social indica<strong>da</strong><br />

por Bourdieu (1987) 8 , os moradores <strong>da</strong> rua <strong>da</strong><br />

classe média não ocupavam a mesma posição no espaço<br />

social, não dispunham de condições materiais equivalentes<br />

e apresentavam diferentes experiências <strong>com</strong> os<br />

moradores de favelas. Enquanto os moradores <strong>da</strong> classe<br />

média alta de Campo Belo se sentiam mais próximos<br />

dos bairros nobres <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, os moradores <strong>da</strong> classe<br />

média tinham a clara sensação de que sua ren<strong>da</strong> não<br />

era <strong>com</strong>patível para arcar <strong>com</strong> o custo de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s áreas<br />

mais valoriza<strong>da</strong>s. Ao mesmo tempo, as diferenças entre<br />

Silvia e os moradores de barraco era, em sua opinião,<br />

que ela se contentava <strong>com</strong> o que tinha e os pobres não<br />

se resignavam em viver dentro dos limites <strong>da</strong> pobreza.<br />

Em outras palavras, ela declarava que aceitava sua inferiori<strong>da</strong>de,<br />

enquanto os pobres, não:<br />

136 DILEMAS O <strong>desgosto</strong> <strong>da</strong> <strong>“mistura”</strong> <strong>com</strong> <strong>prostitutas</strong> e <strong>favelados</strong> Ana Paula Galdeano

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