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Pornessência - Rodrigo Adamski

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pornessência<br />

<strong>Adamski</strong>


“Publicação independente e sem fins<br />

lucrativos”<br />

<strong>Adamski</strong><br />

Porto Alegre, RS - Brasil<br />

maio de 2010<br />

Contos libertinos<br />

Não recomendado para menores de 18 anos<br />

Leia e passe adiante


Índice.<br />

Pornescência .... 07<br />

O nome de Dora .... 11<br />

Amantes e amados .... 15<br />

O homem irresistível .... 30<br />

“Para uma viagem mais saborosa,<br />

calma deve ser a leitura”


Pornescência<br />

Aos quinze anos pecou. Assim pensara o pobre e<br />

inocente menino, que ainda todas as manhãs de domingo<br />

freqüentava a igreja. Era noite de verão, papai e mamãe<br />

dormiam em um quarto da casa da vovó e ele na sala. A casa<br />

era pequena e sua priminha o fez companhia. Enquanto ele<br />

dormia no chão, ela dormia no sofá. “Ai, ai que calor”, suspirou<br />

Aninha ao seu lado. Gentil e educado, prontificou-se<br />

em abrir a janela. Ao virar-se, sentiu a silhueta dos seios de<br />

sua prima tocar seu rosto. Pensou ter se descuidado e não<br />

ter visto ela. Pediu desculpas e Aninha não deu bola. Na<br />

cabeça de Chiquinho, mesmo com um corpo bastante avantajado<br />

para um menino de sua idade, até então só passavam<br />

jogos, desenhos, rock n’ roll e até mesmo algumas meninas<br />

que ele vira em revistinhas de seus amigos. De repente, ele<br />

sente alguma coisa procurar seu corpo. Percebe a mão de<br />

Aninha, e o seu rosto observando-o. Chiquinho, nervoso,<br />

não sabia o que dizer mas sentia um calor subir-lhe. “Você é<br />

tão baby, priminho”, disparou ela. Quase totalmente paralisado,<br />

o máximo que ele consegue responder é um: “É?!”<br />

Logo Aninha estava em seus braços. Um beijo atiça<br />

o tesão do menino que parece acordar, com uma mão, acaricía<br />

a nuca dela, forte, cada dedo massageia o inicio de suas<br />

costas e começa a puxar levemente os cabelos. Ela morde<br />

sua orelha e desce o pescoço, lambe embaixo do queixo. Ele<br />

geme no ouvido dela. Não entende. Pode ser sonho. Percebe<br />

que não e suspira com voz grave: “me ensina tudo?”<br />

7


Ela fica toda arrepiada e chupa a pele que divide o peito<br />

e pescoço de Chiquinho, com a língua percorre o caminho<br />

até a orelha dele e responde: “tudo”. Inocente, o menino<br />

cobre de beijinhos o rosto branco dela. Ela começa a ficar<br />

molhada, sente suas pernas suarem docemente. Ele faz a<br />

volta e fica atrás, suavemente faz uma massagem, forcejando<br />

o polegar a modo de excitá-la. Com uma mão ela pega<br />

seus fones e liga o rádio rapidamente, dando um dos fones<br />

para ele. Toca Fitzgerald. Continuando a massagem, como<br />

um vampiro, Chiquinho dá suaves lambidinhas na pele<br />

dela e enquanto sua barba recém por crescer roça a nuca,<br />

dominando-a, com a outra mão, alisa o rosto de Aninha,<br />

penetrando sua boca, recebendo mordidinhas e leves suspiros.<br />

Sem se controlar, ela geme, sente o tesão, a excitação,<br />

uma penetração, em alguns momentos goza devarinho. Ele<br />

avança seu braço suado pelo corpo dela e entrelaça um dos<br />

braços como se formasse uma chave de pescoço, rapidamente<br />

rasga a camisa de Aninha, descobrindo os seus seios<br />

redondinhos e rosados. Apertando, ele começa a chupálos,<br />

mordendo seus mamilos, mamando e lambendo ferozmente.<br />

Ela já não agüenta, quer ser penetrada, quer ver<br />

todo seu corpo penetrado. Rebola seu bumbum e o menino<br />

o acaricia. Ela arranha suas costas, morde sua orelha, na<br />

mesma proporção que ele saliva sobre seus peitos e aperta<br />

sua bunda. Ousadamente, começa a dar apertadinhas entre<br />

as pernas dela. Aninha desce a mão e começa a movimentar<br />

seu pau, para cima e para baixo. Com a boca, ele termina<br />

de rasgar a camisa, ela também desabotoa a dele e<br />

beija seu peito como uma amante. Sentem-se escravos um<br />

do outro. O casal gruda-se, ele empurra ela para o sofá e<br />

ela deita, desabotoa as calças dela. Acariciando a vagina de<br />

Aninha, tira as meias e beija seus pequenos pezinhos, pro-<br />

8


vocando cosquinhas misturadas a ofegante excitação. Bem<br />

devagar começa a retirar as calças dela. Sente o gosto da<br />

luxúria. Beija suas pernas, lambendo-a dos pés a cabeça,<br />

terminando em um beijo suculento nos lábios um do outro.<br />

Ela sobe em seu colo, desferindo um beijo animalesco, envolvendo<br />

mordidas, chupadas e arranhões. A calcinha dela<br />

jorra ejaculação. Eles voltam para o chão, esfregando os corpos<br />

suados um no outro, Chiquinho desce até entre as pernas<br />

de Aninha. Ela fecha os olhos e imagina tudo vermelho,<br />

ele tira a calcinha dela e vagarosamente começa a lamber<br />

seus lábios inferiores, delicadamente nus. Ao mesmo tempo<br />

que lambe sua vagina, Chiquinho movimenta com um dos<br />

dedos o clitóris, enquanto chupa, como se a castigasse de<br />

tanto prazer. Aninha geme “ai,uhhh,yeah” e começa a ter<br />

um orgasmo, porém o prende, faz a volta e tira as calças de<br />

Chiquinho. Colocando o pau dele todo melado em sua boca,<br />

ela chupa e geme e lambe, enquanto ele força sua cabeça<br />

com as mãos. Ele também desce e na mesma proporção que<br />

ela chupa-o, ele a lambe e chupa sua vagina, um serve ao<br />

outro. Ela fica de bruços e ele dá pequenas mordidinhas no<br />

seu bumbum redondo. Ela apenas se limita ao prazer de se<br />

encaminhar ao inferno que sentia: “enfia”, “me fode”, gesticula.<br />

Ele obedece e penetra a vagina de Aninha, que retrai,<br />

morde os lábios, faz um pequeno gesto de dor. Chiquinho<br />

enfia com força e duramente, enquanto ela está de quatro<br />

com as fartas coxas contraindo e seios balançado. Frente<br />

e trás, frente e trás, ele geme com precaução. Ela se vira,<br />

vai para baixo e abre as pernas, sorrateiramente ele volta<br />

penetrá-la com força e ainda mais rápido. Os dois querem<br />

gritar, seus corpos estão tomados por uma selvageria mas<br />

tem de se conter. Ela se levanta e puxa-o pela mão, vai até<br />

a janela e pula, chamando-o para a rua, numa bela noite de<br />

9


lua cheia. Como a casa na verdade era um sítio, ao redor<br />

o mato e grama predominavam, eles caminham um pouco<br />

entre às árvores e encontram um canto mais limpo. Ele,<br />

ainda ereto, chega antes, ao chegar Aninha volta a chupar<br />

seu pau e agora arranhando-o com toda intensidade que<br />

queria. Os dois ficam em pé e ela pula no colo dele, abrindo<br />

as pernas ao redor de seu tronco. Fodendo, apoiados na árvore,<br />

ela puxa seu cabelo e ele enfia mais forte, atingindo<br />

o fundo das partes dela. Aninha grita, uiva “isso, isso, enfia<br />

fundo, quero mais” e Chiquinho ofega. Como dominadora,<br />

Aninha monta nele como se fosse um cavalinho, subindo e<br />

descendo, o menino aperta seus peitos um contra o outro e<br />

ela sai da posição, colocando o pau dele entre seus seios e<br />

movimenta-os. Chiquinho vira Aninha de quatro novamente<br />

e mete fundo, batendo com a palma da mão em suas coxas<br />

e gritando, ele puxa o cabelo dela e bate, bate. Ela rebola<br />

e empurra a bunda para trás. Ele enfia mais rápido, puxa<br />

sua pele e arranha suas costas, desce e inflama novamente<br />

a boca sobre os líquidos que saem da buceta dela. Aninha<br />

grita “eu vou gozar, vou gozar” e Chiquinho, lambendo e<br />

dando tapas nas suas coxas aceita: “isso goza, goza”, ela responde:<br />

“enfia mais, mete! mete!” Ele obedece e ela apóia<br />

as mãos na árvore e olha para a lua, sentindo ser fodida por<br />

inteiro e o prazer jamais esquecido atravessando seu corpo,<br />

ela ejacula vagarosamente e vê o gozo escorrer pingando<br />

enquanto o pau dele entra e sai no meio de suas pernas.<br />

Ao mesmo tempo Chiquinho sente o orgasmo subindo e a<br />

avisa, ela desce até seu pau e chupa enquanto ele goza em<br />

sua boca e ofega quase sem ar. Suspiram.<br />

10<br />

f.


O nome de Dora<br />

Nos jornais, as manchetes estampavam: “Presa<br />

suspeita de envenenar mais de vinte homens”.<br />

Na sala, além de Dora e o investigador, a fumaça<br />

dos cigarros e a intriga se beijavam. Fumaça de um maço<br />

onde restavam seis marlboros vermelhos. Para o investigador<br />

não havia dúvida: “Dora foi responsável pelo assassinato<br />

de vinte e três homens”. Como, era a intriga. Dora fora<br />

prostituta e sua bunda tão empinada quanto seus peitos era<br />

desejo de qualquer homem são.<br />

“Cuspo em ti, sim, seu investigador de merda!” -<br />

“Vagabunda!”, revida. “Continua, quero saber como matou<br />

esses pobres coitados”. A mulher ignora. Marcas em seu<br />

rosto, pescoço e braços deixam claro que o investigador<br />

Dutra estaria perdendo a paciência. De repente fosse a hora<br />

dela por em prática seu plano. Dora calcula, decide e abre<br />

a boca. Certa do que precisa, solta uma frase tão maliciosa<br />

quanto o investigador jamais poderia perceber. “Gato, façamos<br />

um trato! Assim: não te digo, te mostro. Porém, tu me<br />

amarás agora e aqui”.<br />

Duas idéias se passavam na cabeça de Dutra e<br />

achara ele que só poderia ser um presente divino, desvendar<br />

esse abacaxi e ainda por cima traçar a gostosa da<br />

acusada. Eu, que escrevo, somo a isso três elementos para<br />

11


a próxima morte dessa história, a do próprio investigador:<br />

menosprezar uma mulher, confiar numa mulher e o traseiro<br />

de uma mulher.<br />

Prontificou-se para ninguém interromper o “interrogatório”,<br />

trancou a porta e condicionou que as mãos da<br />

acusada continuariam algemadas. Tudo aceito por ela.<br />

Dora jogou-se na mesa sobre os cigarros apagados.<br />

Sua consciência misturava o desfecho do caso e a excitação<br />

no interrogatório. Seus seios nus eram percorridos lentamente<br />

pela barba mal feita do investigador. Uma pseudopaixão,<br />

o tesão dele bloqueava qualquer lembrança dos<br />

crimes. “Ah, isso. Tua barba ....ah.... fico arrepiada.. oh,<br />

minhas pernas”, suspirava Dora, enquanto tinha todo o seu<br />

corpo descoberto. O investigador a virou com o cuidado de<br />

uma esposa, deitando-se sobre ela e apertando suas coxas,<br />

enquanto acariciava seu pescoço. Desceu e colocou Dora na<br />

cadeira, de modo que seus braços algemados enfatizavam<br />

peitos fartos. Dutra fez a volta e ficou atrás dela. “Vou te dar<br />

um castigo, Dora”. Apertava-lhe a boca e ela lhe acariciava o<br />

pênis, ainda sob a calça, envolvendo-no com o pouco movimento<br />

possível de se fazer com as mãos presas.<br />

A boca de Dora encontra o pênis endurecido de<br />

Dutra, quando esse, depois de muito insistir com a fivela estragada<br />

de seu cinto, o deixa a mostra. Dutra só pensava que<br />

esse era o melhor caso que já havia pegado na vida. Dora o<br />

chupava com o envolvimento de ter esquecido o motivo da<br />

transa. O investigador soltava pequenos espasmos e quase<br />

gozava a cada chupada dela. Colocou-na de bruços na mesa<br />

e Dora sentiu o investigador penetrar-lhe fundo o meio de<br />

suas pernas. Deu um leve gemido e arranhou com força<br />

12


sua barriga. O prazer fazia que a acusada ameaçasse gritar,<br />

mas logo o investigador tampava sua boca. Enfiava-lhe sem<br />

dó. Puxava seu cabelo. Ela sem reação, apenas empinava a<br />

bunda e sentiasse fodida por completo, rebolava enquanto<br />

via o revólver de Dutra suspenso sobre a bainha, no outro<br />

canto da mesa. Dutra sentou e colocou Dora em cima,<br />

atravessando sua buceta, ela pulava e entrava em outra sintonia,<br />

quando mordeu o dedo indicador de Dutra, subiu e<br />

desceu mais duas vezes e comprimiu o pênis dentro de si.<br />

Tremeu. Conteve o grito que saia da garganta. Entrou em<br />

um estado de concentração pleno, desligando-se de tudo.<br />

Sentia a euforia percorrer sua cabeça. Pulou mais rápido.<br />

“Mete, mete!”, gemia. Sua vulva se abriu para lentamente<br />

liberar pequenos jorros de porra. Dora gozava. Gozava e ria.<br />

Fodendo é que era feliz. O pau do investigador roçava seu<br />

clitóris enquanto ela ejaculava sobre as pernas dele. De repente<br />

tirou, parecia ter acordado de um transe e fatalmente<br />

fez um pedido: “Me chupa?” Dutra, enfeitiçado pela transa<br />

esqueceu qualquer passado de Dora, desceu e lambeu-lhe<br />

a vagina. O gosto amargo da mulher adormecia sua língua.<br />

O cabelo dela caia sobre a boca carnuda e Dora suspirava<br />

num prazer inimaginável, sentiasse completa. Amada pelo<br />

investigador. Foram para o chão, ela abriu as pernas e novamente<br />

era penetrada por ele. Dutra sentia seu coração acelerar.<br />

Botava as mãos entre as pernas de Dora e massageava,<br />

inclinando as coxas dela para enfiar mais fundo. Dora dizia:<br />

“goza, goza como se fosse teu último gozo”. Dutra, não continha<br />

a excitação e até pensava em soltar Dora para que essa<br />

se tornasse sua amante. Nunca tivera uma foda tão prazerosa.<br />

Aos poucos sentia a ejaculação subir de suas bolas<br />

para o pênis, segurou o quanto pôde, começou a tremer e<br />

penetrar mais duramente e fundo, gemia e não se contro-<br />

13


lava. Seu coração disparava. Dora suspirava: “Fundo, goza,<br />

vai, mete...” Sem aguentar os olhos de Dutra se fecharam.<br />

Tudo estava escuro. Arrombava ela bem fundo. Batia contra<br />

as coxas dela e apertava suas costas bem forte. Metia cada<br />

vez mais rápido, na velocidade certeira para saciar seu tesão.<br />

Abriu um sorriso de quem está vivendo um gozo eterno.<br />

Tudo ficou vermelho e por fim, gozou.<br />

Caiu ao lado de Dora. Estava morto.<br />

Dora pegou a chave das algemas que estava no<br />

bolso da calça do cadáver de Dutra. Livrou as mãos, vestiuse<br />

e pegou sua bolsa. Jogou o cabelo para trás, reforçou<br />

o baton. Virou-se para o corpo estendido no chão, revirou<br />

seus bolsos e roubou os R$ 50,00 da carteira dele. “Então,<br />

investigador, foi assim. Tu, como a maioria, pensava só com<br />

a cabeça debaixo”. Abriu a porta e saiu tranquilamente da<br />

delegacia.<br />

Na rua, pegou um taxi e atravessou a cidade. Entrou<br />

no seu apartamento, acendeu um cigarro, baixou a saia<br />

e a calcinha, pegou um pano e limpou o veneno que horas<br />

antes de dirigir-se a delegacia havia depositado em suas<br />

próprias partes.<br />

Na sala, discou um novo número de sua agenda.<br />

“Então, gato, amanhã às nove. Tenho certeza que tu nunca<br />

mais vai pensar em outra puta. Beijinhos.”<br />

Dora, vai até seu velho toca-discos. Escolhe um<br />

blues. Liga o abajur e saboreando uma boa dose de whisky,<br />

lê Humberto Eco.<br />

14<br />

* f.


Amantes e amados<br />

O doce gemido dela desperta a atenção dos vizinhos.<br />

No quarto, suas coxas colam o rosto dele numa feroz<br />

posição transcendental. São exatas seis e meia da manhã de<br />

segunda-feira e o balançar da cama se mistura aos ruídos<br />

proferidos pelos amantes. No chão, roupas íntimas e sapatos<br />

entrelaçados fazem parte do ambiente escuro e desarrumado<br />

do quarto. O rapaz penetra com força todo corpo<br />

da garota que, seduzida a um prazer eterno, pede mais. Sua<br />

boca percorre o corpo dele e chega onde desejava. É súbito,<br />

os dois derretem em um inferno térreo.<br />

Após, ela deita-se no colo dele. Não acendem cigarros,<br />

não contemplam, não ofegam. O ritual já era costume<br />

dos dois, mesmo não se amando, se completavam. Dessa<br />

forma e pronto. Instantes depois, ela se levanta enrolada a<br />

um roupão, expressava certa vergonha ou arrependimento,<br />

esconde seu corpo do homem que acabara de traçá-la.<br />

Ela toma um banho. Antes de sair, pega o guarda-chuva,<br />

pois lá fora caia uma chuva fina e a manhã era cinza. Se despede:<br />

“Yuri, estou saindo.. acorda!”<br />

cer”<br />

Yuri responte: “ Ta bom, bom trabalho, Gabrielle”<br />

Gabrielle: “Levanta logo, eu volto antes do anoite-<br />

Ele: “Vá!”<br />

15


* * *<br />

Gabrielle dispara rua a fora. Alguém a segue. É<br />

Tales, seu namorado. Finge que não percebe e mente um<br />

susto quando ele a surpreende. “Oi, meu amor”, suspira<br />

no ouvido dela. “Que bom te ver, amorzinho”, Gabrielle<br />

responde e continua.... “levantei cedo, precisava arrumar<br />

a bagunça em casa”. Gentil, Tales a acompanha até o mercadinho<br />

onde ela trabalha. O casal cruza as ruas em passos<br />

lentos, enquanto a garoa continua sobre suas cabeças. Duas<br />

quadras antes de chegarem, o velho Antonio abria a floricultura.<br />

“Linda, fecha os olhos e espera só um pouquinho”,<br />

enquanto dizia, Tales ia em direção a floricultura. Segurando<br />

uma rosa na boca, Tales corre até a namorada, que espera<br />

de costas. “Pode ver agora”..... “ain, Tales, você é o melhor<br />

namorado do mundo, que coisa mais linda”.<br />

Os dois seguem e ao chegar no mercado beijamse<br />

longamente. “Vai lá em casa hoje à noite, também vou<br />

te dar um presente...” diz Gabriella, “Mal posso esperar...”,<br />

responde Tales. Ela entra no mercado e ele segue até a parada.<br />

A chuva ficava cada vez mais forte.<br />

***<br />

No mercado, vestida com um avental branco e salientando<br />

seus seios macios e arredondados, vê o escroto<br />

Beto, seu chefe, que sob a luz em meia-fase, pensa estar<br />

oculto de sua visão. Ela rebola, joga os quadris para um lado<br />

e para o outro. Pega a vassoura e aperta, se insinua, provoca<br />

o furtivo discretamente. Logo ele sai do “esconderijo”<br />

e com um olhar pseudogaranhão, diz: “bom dia, garotinha”.<br />

16


Ignora-o. Ele quer conversa: “e aquelas rosas? Aposto que<br />

foi o namoradinho, não é?! Beto a segura pelo braço e com<br />

a outra mão procura o entre as pernas de Gabrielle. Ela o<br />

ajuda a encontrar, morde o lábio, mas num segundo de distração<br />

do tirissento de seu chefe, escapa. “No fundo tu adoraria<br />

vir de boa vontade, como antes de ontem, não é?”, ele<br />

com um sorriso sacana. “Acorda pra vida, seu inútil! Você<br />

não deve nem tomar banho, qualquer boa vontade acabaria<br />

com esse cheiro”, responde. “AH, cachorra. Vá trabalhar!<br />

Coitado é desse garotinho aí, não sabe nada sobre você. Me<br />

espanta ele ter vindo de uma cidade onde você não transou<br />

com nenhum homem!”<br />

Gabrielle finaliza: “Beto, deu! Tenho coisas mais<br />

importantes do que discutir minha reputação”.<br />

A moça segue organizando o balcão, até que, ao<br />

terminar, vê se Beto não está por perto, esconde-se e liga<br />

para sua casa. “Alô, Yuri?”..com voz sonolenta, responde do<br />

apartamento de Gabrielle: “Ssssim, quem é?” “A Gabrielle,<br />

sua besta!”<br />

Ela não nota, mas Beto a observa a partir de agora.<br />

“Ah, que susto, Gabi, por que não falou antes!?”<br />

“Não posso demorar, é só pra avisar que o Tales vai para<br />

aí hoje, então... melhor mudarmos os planos... vá para sua<br />

casa, quando der eu te ligo, ta? Tenho que desligar” “Mais<br />

essa.... o corno que se foda! Tá, eu vou pra casa, me liga...<br />

beijo!”<br />

* * *<br />

Antes de sair, Yuri veste sua jaqueta e as botas.<br />

Pega um papel e escreve algo. Dobra e deixa em baixo do<br />

17


travesseiro. Vai embora.<br />

* * *<br />

A noite chega e o expediente de Gabrielle termina.<br />

Ao passar em frente a uma banca, entra para comprar um<br />

jornal e ver seu horóscopo do dia seguinte.<br />

“Me vê um jornal de domingo”, diz. O jovem jornaleiro pega-o<br />

e espera o dinheiro. Gabrielle procura por dinheiro em<br />

sua bolsa, mas percebe que esqueceu sua carteira no mercado.<br />

Encontra algumas moedas que não são o suficiente<br />

para comprá-lo, então propositalmente joga uma delas no<br />

chão e diz: “Uii, caiu!” Ela se abaixa e exibe a metade de seus<br />

seios descoberta pelo decote. Levanta-se e finge que conta<br />

as moedas. Faz um biquinho para conseguir o que quer: “ah,<br />

esqueci a carteira em casa, não posso passar aqui para dar<br />

o resto depois, querido?” O jornaleiro, após uns dez segundos,<br />

consegue fechar a boca e responde: “Fecho às 20:30 aí<br />

tu vêm.....me pagar, é claro”. Com o jornal debaixo do braço,<br />

ela diz: “Às oito e trinta e um, estarei aqui”.<br />

Desce a Tomas Flores, e na entrada do parque encontra<br />

sua melhor amiga, a Helena, sentada em um banco<br />

com uma garrafa de vinho em uma das mãos e na outra<br />

uma taça. “Você não muda mesmo, Helena!” A amiga enche<br />

a taça respondendo e apontando: “eu mudo zzim. Ontem<br />

mesmo eu tava bebendo mais ali ó....”<br />

As duas riem, Gabrielle senta e pega a taça. “Sabe<br />

o Tales, né?” Helena responde: “óbvio, o corno star” “Exatamente...<br />

Hoje, eu estava saindo do meu apartamento...<br />

depois de passar a noite toda com o Yuri...”<br />

18


Helena suspira: “Ahhhh ...”, e Gabrielle continua: “E adivinha<br />

quem me aparece logo na esquina da minha rua... ?<br />

“Ta brincando?”<br />

“Infelizmente não... Bom, mas o Tales, coitado, é<br />

tão burro que nem desconfiou de nada... Até marcou de ir lá<br />

em casa hoje de noite... Aliás, daqui a pouco...”<br />

Helena toma a taça da mão de Gabrielle e questiona: “Ah,<br />

mas e o Yuri?<br />

“Nem sei. Liguei para ele ir para a casa dele.”<br />

Gabrielle se deita no colo de Helena. Com os olhos<br />

fixos no horizonte bebe um longo gole direto da garrafa. Depois<br />

de um minuto em silencio, pergunta:<br />

que?”<br />

“Está aqui já faz quanto tempo?”<br />

“Algumas horas...”<br />

Gabrielle diz: “Por que?” E amiga responde: “O<br />

“Por que está aqui parada...?”<br />

“Eu gosto daqui.. além do mais, estar parada em<br />

um lugar, não significa ‘estar parada em um lugar’ ...”<br />

“Como assim?”<br />

Helena diz: “Estando aqui, parada, posso voar com<br />

meus pensamentos por aí...”<br />

“Uma viagem dentro da tua cabeça?” Pergunta Gabriele.<br />

“Pode crer que sim. Broto... a gente anda bebendo<br />

demais, não acha?<br />

Helena pega o jornal e lê a primeira notícia que<br />

vê. “Olha, mataram outro aqui no centro ontem!”. “Ai,<br />

cruzes”, exclama, Gabrielle e continua: “Ai, morrer por tiro<br />

não eras, muito nada a ver”.<br />

19


“Tu quer partir pra outra com glamour, né, sua<br />

loca!?”, questiona Helena.<br />

“Como diva”, Gabrielle finaliza e começa um novo<br />

assunto: “ai, tô tão dura que fui comprar o jornal e não tinha<br />

um puto na bolsa”.<br />

“Tá e tu roubou então?” Soluçando, ela responde:<br />

“Ah sabe como é o jeitinho, né?! Atendente bonitinho ficou<br />

todo melado, falei que voltava lá depois para pagar.<br />

“Aí tu não presta mesmo, Gabrielle, vive enganando<br />

os homens!”<br />

“Mas quem disse que não vou pagar?”<br />

As duas ficam rindo da vida, de Ricky Martin por<br />

não tê-las conhecido e cantam um rock ou outro, até Gabrielle<br />

decidir ir embora.<br />

Ao passar em frente à banca, o jornaleiro está se<br />

preparando para fechá-la. Gabrielle então para. “Não é que<br />

tu veio mesmo”, responde ele surpreso. Ela chega bem perto<br />

dele: “Tá tão frio aqui fora, será que aí dentro não é mais<br />

quentinho?”<br />

O jornaleiro entende, abre a banca e os dois entram.<br />

Gabrielle parte para mais uma transa. Dessa vez ela<br />

é rápida, entra na pequena casa, troca uns amassos com o<br />

rapaz, e logo baixa a calça jeans e deixa ser abusada. Tem<br />

pressa, pois logo Tales estará na sua casa, então deixa-lhe<br />

fuder onde quisesse. Gabrielle é metida por trás, no inicio<br />

sente dor. O jornaleiro era um tanto avantajado e derrubam<br />

alguns livros. O lugar, no mínimo, excita Gabrielle pela ex-<br />

20


centricidade. Sobe no balcão e abre as pernas. Encaixa na<br />

cintura do rapaz. Ele mete até ela pedir que parasse por causa<br />

da dor. Arrebita a bunda e abre, soa, e manda-lhe foder<br />

novamente. Cada vez que o jornaleiro mete, ela suspira um<br />

suave “ui”, como se estivesse soluçando. Faz um biquinho e<br />

“ui”. Parecia uma francesa. Coloca um livro entre os dentes<br />

para conter o gemido. O jornaleiro chupa-lhe as coxas e<br />

enfia com cuidado para não machucá-la mais. Logo, pouco<br />

aguenta aqueles peitos balançando na sua frente. Ela nem<br />

tem tempo de gozar, ele termina e Gabrielle se despede dizendo<br />

que voltaria mais vezes.<br />

* * *<br />

Ao chegar no apartamento, percebe que a porta<br />

estava aberta e entra. Depara-se com uma surpresa. Tales<br />

já estava lá e havia preparado um simples jantar. No fundo<br />

Gainsbourg versava em francês. “Oi, amor. Como tu entrou?”<br />

pergunta Gabrielle. “A porta estava aberta, tu deve<br />

ter esquecido”...“Ain, tu ainda teve o trabalho de fazer a janta?!<br />

É por isso que te amo!”, Tales a abraça. “Eu só retribuo<br />

teu amor, Gabi”<br />

Os dois se beijam e entesados vão até a parede,<br />

no abraço as mãos já se confundem. Acabam rolando até<br />

a cama. Então, no momento que Gabrielle tirava a blusa,<br />

deixa cair o travesseiro. Tales vê um pedaço de papel e para<br />

de acaricia-la. Curioso, pega o bilhete de Yuri, Gabrielle olha<br />

sem entender o que Tales tem entre as mãos.<br />

Ele, intrigado, pergunta: “O que é isso?” Ela mais intrigada<br />

ainda, responde: “Também não sei. Estava aí?”<br />

21


Tales levanta-se, aumenta o tom de voz e lê os versos escritos<br />

no papel:<br />

“Gabrielle,<br />

Sei que possui homens e és uma mulher decidida..<br />

Apesar de admirar isso, e ter você como amante, a deixarei<br />

esta semana. Não tive tempo para lhe falar, consegui um<br />

emprego no Rio e se tudo der certo, partirei ainda nesta semana.<br />

Bom, sei que não sentira minha falta.. mas mesmo<br />

assim, quero lhe dizer que foram ótimos os momentos que<br />

passamos juntos.<br />

De um amante para outro, Yuri.”<br />

Gabrielle não tem reação. Não tem idéia do que<br />

fazer. Não tem desculpas.<br />

Descem lágrimas. Tales a observa com um olhar<br />

sério, decidido e cínico. “Vadia! Tu não vale nada. Como<br />

pôde fazer isso comigo?” Que tipo de mulher é você?”<br />

Gabrielle nunca vira o manso namorado com raiva, se joga<br />

de joelhos a sua frente. “Não, meu amor, é tudo um engano”.<br />

“Eu devia era te matar”.<br />

Aos berros, ele vira a mesa com o jantar.<br />

Gabrielle tenta acalmá-lo: “Tales, por favor, deixa<br />

eu explicar”. “Cala essa boca, seu monstro. To indo embora,<br />

já chega! Adeus, Gabrielle!”.<br />

“Não, meu amor. Não me deixa sozinha. Não!!!”<br />

Tales cai fora do apartamento. Gabrielle fica aos<br />

prantos. Berra, chora, tudo em vão. Pela janela, vê Tales<br />

partir. Mesmo em toda sua canalhice, ela o amava mais<br />

22


que sua própria vida. Acreditava na putaria como algo além<br />

do que sentia. Ela encontra uma garrafa de uma bebida<br />

qualquer. Toma um gole de secar a garrafa. Assim passa o<br />

resto da noite, bebendo e chorando. O disco do Gainsbourg<br />

acaba.<br />

* * *<br />

Ao deixar o apartamento de Gabrielle, Tales caminha<br />

rápido, pega seu telefone e disca um número.<br />

“Alô”. “É o Tales, tá okay. To indo até lá... tchau”<br />

* * *<br />

Sem razão para mais e sem amor algum, amargurada,<br />

Gabrielle precisava desabafar. Pensa em Helena e procura<br />

o telefone da amiga. Procura na agenda mas não acha.<br />

Bota a jaqueta e um cigarro no canto da boca. Toma a noite<br />

para encontrar Helena. Com a maquiagem borrada, ela desce<br />

as escadas tropeçando.<br />

* * *<br />

Animadíssimos, conversam bebendo num bar<br />

Tales, Helena, Beto e Yuri.<br />

Brindando, Tales ri: “Cara, o melhor de tudo é<br />

aquela cara dela, tipo: ‘eu estou te enganado’ hahaha”.<br />

“Conheço bem essa cara”, revida Yuri. “Isso porque vocês<br />

não a viram de avental”, diz Beto. “Ah, isso eu queria ver”,<br />

revela Helena.<br />

“Precisam ver como ela ficou! Se não fosse a Ga-<br />

23


ielle até ficaria com pena”, comenta Tales. “Dá até pena”,<br />

sente Helena. “Pena nada, devia era ter dado uns tabefes na<br />

cara dela”. “Ainn, no meio de tanta maldade, tem lugar para<br />

um coração, Beto?”, pergunta Helena. “Sim, um coração do<br />

tamanho do teu fígado...”responde.<br />

Mas como naquela noite ninguém se daria bem e<br />

por coincidência, magia, sorte e azar, ou melhor, motivos<br />

não importam, Gabrielle encontra Tomas, um amigo incomum<br />

com Helena. “Ah sim, eu vi, ela tava com uns caras<br />

ali no Divina Comédia. Tudo bem? Tu está chorando!” “Sim<br />

sim”, grossa vai embora e corta Tomas, após ele ter respondido<br />

sua pergunta.<br />

Chegando ao encontro de Helena, escuta gargalhadas.<br />

Eis que um filme passa por sua cabeça, do outro lado<br />

da calçada enxerga os quatro juntos. Fica paralisada. Não<br />

entende. Cai no chão, os olhos já secos, passam a chorar<br />

mais ainda. Tudo escurece ao seu redor. Eles nem percebem<br />

e continuam conversando. Gabrielle se vê num abismo, fica<br />

assim por uns instantes, quando então, decide voltar para<br />

casa. De cabeça baixa, chorando, sozinha como sempre esteve.<br />

* * *<br />

Gabrielle consternada deita-se e com um pensamento<br />

fixo pega no sono. Em meio a pesadelos acorda de<br />

madrugada com apenas um objetivo na cabeça. Pega sua<br />

bolsa e parte para a noite, em busca de dar fim a sua angústia.<br />

Tem um plano e ao mesmo tempo não.<br />

Chega à casa de Beto e pensativa, sem ter certeza se é o que<br />

quer bate na porta. Beto parecia estar dormindo e demora<br />

24


a abrir.<br />

Resmungando, ele abre a porta: “Olha só a princesinha<br />

essa hora, teu gato preto não deu conta?!... oh mas já<br />

vou avisando se é dinheiro só vou te pagar depois de quarta!”<br />

Gabrielle faz um gesto de estar com frio: “Ah, Beto não fale<br />

assim, não vai me convidar para entrar?” Ele a deixa entrar.<br />

“Sabe fui deitar hoje e não consegui dormir, fiquei<br />

preocupada. Pensei que tu tivesse levado a sério o que te<br />

disse hoje de manhã”, diz Gabrielle<br />

Beto diz: “Sua safada, sabe que o meu é melhor”.<br />

“Não sei, por que tu não me mostra?”<br />

Os dois então se entrelaçam no ato e partem para<br />

uma selvageria incontrolável. Beto tira a jaqueta dela e<br />

depois de poucos beijos tira o seio de Gabrielle por cima<br />

da camiseta. Enquanto chupa os mamilos rosados de seus<br />

peitos e aperta e contorce a bunda dela, Gabrielle sai debaixo<br />

e morde a orelha de Beto levemente. No fundo, Gabrielle<br />

era entesada por seu chefe. Nunca entendera o porque,<br />

mesmo sendo um homem grosso, sentia-se protegida nos<br />

seus braços e sabia que, por dentro, aquele estúpido era<br />

um doce. Beto é apressado, abre o zíper da calça de Gabrielle<br />

e lambe a moça recém depilada. Ela termina de tirar<br />

a roupa, tira a calça dele e beija seu pau. Em um meia<br />

nove indiscreto, a transa toma forma. Beto sabia que o que<br />

Gabrielle estava fazendo era um de seus talentos. Ela lhe<br />

chupa, sai e envolve o pênis de Beto com seus peitos, pra<br />

frente e para trás. Ele não se controla, dá tapas na bunda<br />

dela e puxa seu cabelo. Gabrielle apenas geme: “mete,<br />

mete”. Vira-se de quatro e Beto enfia. Ela berra mas adora.<br />

Pede mais, vira e fica em posição de elevador, com as pernas<br />

25


nos ombros dele. Depois, joga o patrão no chão, e monta<br />

pulando em cima dele. Fica assim, subindo e descendo por<br />

uns três minutos. O alcool ainda no seu organismo, desinibe<br />

Gabrielle, ela vira de costas, encaixa o pau de Beto no meio<br />

de suas partes e continua pulando. Sai, e ele a manda lhe<br />

chupar. Ela o faz, colocando o pênis molhado até quase suas<br />

bolas na boca. Beto se contorce de prazer. Ele levanta e ela<br />

também. Faz o que Gabrielle mais ama, a segura no colo e<br />

os dois trepam em pé. Encaixados, ele a leva até a parede<br />

para ter mais força. Gabrielle lambe o pescoço dele, fecha<br />

os olhos, morde os lábios e geme sendo fudida na parede.<br />

Sente o orgasmo nascer com a porra lhe escorrendo por entre<br />

as pernas. Suspira, já está cansada. Foram várias transas<br />

no dia. Beto a deita e continua lhe enfiando, grita, diz que<br />

vai gozar e Gabrielle tira o pau dele de dentro. Beto se irrita<br />

pois estava no ponto de terminar.<br />

Ela ofega: “Quero fazer aquilo que eles fazem no<br />

filme, com leite condensado”.<br />

“Espera que já te dou leitinho, gata”.<br />

“Tô falando sério, Beto”.<br />

“Humm, tá, vai rápido sabe como me deixou mal!<br />

Vamos ver se é bom mesmo, pega a chave e traz um ali do<br />

mercado”.<br />

Gabrielle vai em direção ao mercado, que fica do<br />

lado da casa de seu chefe. Procura no balcão, pois sabia que<br />

era ali que Beto guardava o revólver no caso de algum assaltante<br />

tentar roubar-lo. Ela o encontra, carrega, pensa em<br />

largá-lo, mas alguma força parece tomar seu corpo e desejo.<br />

Vai em direção as prateleiras, pega uma garrafa de leite condensado<br />

e volta para a casa de Beto.<br />

Quando chega, esconde a arma com as mãos para<br />

trás.<br />

26


Gabrielle diz: Fecha os olhos.<br />

Beto o faz e Gabrielle começa a espalhar o produto<br />

sobre seu peito.<br />

Gabriele diz: Agora abre a boca.<br />

“Hummm..tá ficando bom isso”, diz Beto<br />

Ele abre a boca e Gabrielle enfia o revólver em sua<br />

boca. Ele abre os olhos.<br />

Beto diz: “Não sabia que a princesinha tinha esse<br />

tipo de fetiches”.<br />

“Fetiches são apenas vontades que desejaríamos<br />

que acontecessem de verdade”, responde.<br />

Beto diz: “Então por que tu não veste aquele teu<br />

avental?”<br />

“Porque ainda tenho outras contas a acertar nessa<br />

madrugada”, beijando a testa dele, tira a arma de sua boca,<br />

fecha os olhos e dispara um tiro certeiro no coração de<br />

Beto.<br />

Gabrielle não se controlava mais. Não era mais ela<br />

quem estava ali. Vê o corpo e por minutos, deita-se sobre o<br />

cadáver e lambe-lhe o peito, coberto de leite condensado.<br />

Deixa a casa e acende outro cigarro. Parte novamente para<br />

continuar o assassin à troix.<br />

* * *<br />

Chega à casa de Yuri, ouve risadas e reconhece a<br />

voz de Tales, então antes de bater na porta, tenta abri-la<br />

para verificar se não está trancada. Aos poucos a porta se<br />

abre. Ela entra, mas fica escondida.<br />

Tales e Yuri estão na cama conversando, os dois<br />

deitados, assistindo um filme.<br />

27


“Assim amanhã vou me fazer de corno manso de<br />

novo, mas agora tô afim de botar o Ricardinho na parada já<br />

que o Beto deu para trás”.<br />

“É, não acredito que aquele filho da puta ia contar<br />

ontem de manhã para ela”, diz Yuri.<br />

Gabrielle bota a mão na cabeça. Suspira.<br />

Tales ouve algo e pergunta a Yuri: “O meu, tu tem<br />

aquele cachorro ainda?”<br />

“Não, por quê?”<br />

“Pensei ter ouvid....”<br />

No mesmo instante, ela aparece com o revólver<br />

na mão. Os três ficam se olhando, e o filme continua passando.<br />

“Por que, hein? Eu te amava Tales!”, Gabrielle fala.<br />

“Será mesmo? Então por que esse tempo todo deu<br />

pro Yuri?”<br />

“Eu não te amava na cama, te amava quando via<br />

teu sorriso bobo no rosto, quando me dava flores, quando<br />

contávamos as estrelas ou enquanto me deixava deitar no<br />

teu ombro até dormir”, ela suplica<br />

“Mas todo esse tempo, te amei apenas na cama”.<br />

De repente Yuri revela: “E eu queria te amar do mesmo<br />

modo que tu amou o Tales, queria te levar para conhecer<br />

meus pais, contar piadas, entregar bilhetinhos de amor,<br />

comer algodão doce. Não te queria só na cama, amor”.<br />

“Parem! Parem!”, grita Gabrielle.<br />

Ela puxa os próprios cabelos. Está confusa. Tales começa a<br />

se levantar, Gabrielle manda-o voltar para a cama.<br />

“Gabrielle, pra ti, qual é a linha tenue entre o afeto,<br />

28


a putaria e a sacanagem?”, ele pergunta.<br />

“Uma mulher nunca engana um homem, Gabrielle!”,<br />

continua.<br />

Yuri completa: “Muito menos três!”<br />

“E um homem nunca escapa de uma mulher”, ela<br />

termina.<br />

Engatilha o revólver e dispara dois tiros certeiros,<br />

no coração de cada um.<br />

Cai de joelhos, se arrasta até a parede, olha para o<br />

matador e os touros no filme que passava, e a mulher e sua<br />

adaga. Reconhece, era Almodóvar.<br />

Pensa em Helena, no que fazer com ela, mas não<br />

tem mais forças para sair dali. Desiste de tudo. Então, pega<br />

o revólver e coloca em sua boca, olha a arma mas pensa<br />

melhor.<br />

Ao longe, na prateleira, vê uma caixa de remédios.<br />

Os prefere. Vai em direção a eles, os coloca na mão. Muitos,<br />

o suficiente para morrer duas vezes. Olha para o filme de<br />

novo quando ele marca o fim. Respira fundo e toma os comprimidos.<br />

Tudo escurece....<br />

Já é dia, tosses e vômitos. Alguém agoniza ajoelhado<br />

na privada. É Gabrielle. Os corpos de Tales e Yuri continuam<br />

na cama, no quarto, na casa. E ficaram lá.<br />

** f.<br />

29


O homem irresistível<br />

No alto de um velho prédio, desses de pé só para<br />

acabar com a dúvida de viver ou morrer em alguma alma<br />

desamparada, ela solta o cabelo e mergulha no seu mar de<br />

lembranças. Entre piqueniques, jantares à luz de velas e juras<br />

de amor eterno, se despedia da fervorosa platéia na rua<br />

abaixo.<br />

O som das sirenes se aproximava, não seria emocionante<br />

se chegasse a tempo. Todos queriam um espetáculo<br />

completo, com um final digno, mas sabiam que isso só<br />

ocorreria de um modo. E Sofia o fez.<br />

Francisco acorda com o sol em seu rosto. Abre os<br />

olhos. Não reconhece onde está e nem a bela mulher deitada<br />

ao seu lado na cama. A festa da noite anterior lhe deixara<br />

com uma dor de cabeça e uma amnésia terrível. Veste-se<br />

em silêncio e sai. Na rua, a luminosidade diurna arde em<br />

seus olhos. Reconhece o Gasômetro e que está perto de<br />

casa.<br />

A cada passo, vagas lembranças recobram em sua<br />

consciência. Algumas garotas, uma briga, um carro a mil rua<br />

abaixo. Cada passo é também uma tortura, pois sua cabeça<br />

parece prestes a explodir. Ao chegar em frente ao seu prédio,<br />

procura a chave no bolso, quando é interrompido por<br />

dois oficiais de justiça, que, sem meias palavras, o levam algemado.<br />

Por quê? Não tinha a mínima idéia.<br />

30


Os boatos no caminho à delegacia eram que se<br />

tratava de um maníaco, um homem que precisava ser controlado.<br />

Cinco era o número de vítimas no último ano, todas<br />

com o mesmo fim. Logo, sua advogada lhe informou que<br />

provavelmente seria pena de morte ou prisão por incontáveis<br />

anos. Acreditava-se que o número de vítimas poderia<br />

ser maior.<br />

No entanto, ele continuava desconhecendo o motivo<br />

de sua prisão. Estranhava também o fato da advogada<br />

lhe fazer ao menos três visitas diárias, e ainda não obstante<br />

trazer alguns presentes. Segundo ela, tudo para diminuir a<br />

falta de conforto da delegacia.<br />

Francisco ao menos admitia que a madura advogada<br />

não era exceção, afinal, as mulheres sempre foram um<br />

problema na sua vida, não por falta, mas sim uma demasia<br />

quase incontrolável. Não foram poucas as brigas, entre elas,<br />

ou com seus namorados. Sobre isso, sentia-se inocente. Era<br />

simplesmente romântico, um homem que ainda entregava<br />

flores e bilhetinho de amor.<br />

No dia do julgamento, estava tranqüilo. Via tudo<br />

como um grande equívoco. Francisco não tinha coragem alguma<br />

para machucar alguém, quanto mais tirar a vida. A juíza<br />

do tribunal se apresentou desferindo um olhar fatal para<br />

seu corpo, em seguida, as testemunhas começaram o processo.<br />

Primeiro, um jovem rapaz, irmão de uma das supostas<br />

vítimas de Francisco, desabafou: “ela passou a viver de<br />

calmantes [...] mais tarde, após o sumiço dele, não resistiu<br />

tamanha dor e morreu”. Depois, um homem de cerca de 50<br />

31


anos, misturando uma profunda tristeza ao ódio, apenas incitava<br />

ameaças contra a vida de Francisco, não conseguindo<br />

ajudar para o processo penal, os guardas foram obrigados<br />

a lhe retirar do recinto. Sua filha também falecera meses<br />

atrás.<br />

O mesmo ocorreu com outras nove ou dez testemunhas<br />

seguintes, até uma moça magra e parecendo<br />

muito mais velha do que realmente era, sentar na cadeira<br />

das testemunhas e, sem capacidade de dar informações,<br />

apenas chorou. Numa última tentativa, com muito esforço,<br />

conseguiu murmurar algumas palavras. Voltou-se para<br />

Francisco e emitiu sons como: “se não era para sempre...”, e<br />

em seguida, finalizou com a palavra “amor”. Tal moça havia<br />

tentado suicídio três vezes, agora passava os dias em uma<br />

clínica de reabilitação.<br />

Assustado, Francisco via na situação uma brincadeira.<br />

Não podia ser verdade. De fato, lembrava de praticamente<br />

todas as mulheres. Embora não tê-las levado a sério<br />

como exigiam, tratava isso com normalidade.<br />

Deram-lhe então, um direito para resposta. Francisco<br />

levantou-se e questionou a todos presentes: “Por favor,<br />

qual a minha culpa de fazer uma mulher sentir-se especial?<br />

De dar-lhe flores? Fazer canções e desenhos? De fazer<br />

juras em seus ouvidos? De dar-lhe carinho? Eu preciso ser<br />

como a maioria dos homens, ou seja, ignorante? Não é um<br />

dos papéis fundamentais do homem, o de fazer uma mulher<br />

incrivelmente feliz para sempre?<br />

Infelizmente, era tarde.<br />

32


A juíza pediu para o rapaz se aproximar, mas uma<br />

reação avarenta partiu da advogada, que lhe segurou e disse<br />

que não havia obrigação dele fazer tal ato. De qualquer<br />

forma, Francisco o fez e aproximando-se da Excelentíssima<br />

ouviu apenas uma indagação de porque. Ela insistiu que o<br />

jovem não tinha culpa direta, mas o corpo do júri, todo formado<br />

por homens, se reuniu para a decisão.<br />

Tempos depois, todos voltaram à sala. A advogada<br />

soltava doces palavras no ouvido do agora preocupado<br />

carpinteiro Francisco, o júri deu a ordem e a juíza seria a<br />

porta-voz do resultado. Em frases curtas, ela revelou o desejo<br />

dele (júri): Francisco não poderia mais viver. Deveria ser<br />

encaminhado a última instância, ou seja, nada menos que a<br />

pena de morte, devido aos não apenas cinco, mas agora oito<br />

vítimas que já se tinha conhecimento.<br />

Com seus poderes e outros interesses, a juíza então<br />

declarou que Francisco, tendo culpa direta ou não, iria cumprir<br />

prisão perpétua por cometer o crime de ser irresistível e<br />

incapaz de viver numa sociedade com outras mulheres.<br />

Não havia como recorrer mas a advogada nunca<br />

desistiu.<br />

Duas semanas depois, estava escuro na cela de<br />

Francisco. Era madrugada e ele dormia. Ouviu-se uma voz.<br />

Era a juíza.<br />

f.<br />

33


A leitura a seguir, é parte do conto O homem irresistível.<br />

Não é essencial para compreensão do texto. Apenas<br />

ilustra algumas horas antes de tudo mudar na vida de Francisco.<br />

Francisco espera Lola abrir a porta. Havia combinado<br />

às quatro. Pontualidade, porém, não lhe era virtude,<br />

estava quarenta e cinco minutos atrasado. Lola, a cobiçada<br />

filha de um casal de empresários milionários, não se importava.<br />

Ela o ama. “Tava morrendo de medo que tu não viesse,<br />

meu amor.” Francisco sorri. “Então, me prometeu uma surpresa!?”.<br />

Lola continua: “Sabe, meu bem, gosto tanto de ti<br />

que vou fazer algo que nunca fiz. Apresentar alguém para os<br />

meus pais”.<br />

Lola o puxa pelo braço. O rapaz se impressiona, seu<br />

apartamento era no mínimo cinqüenta vezes menor que a<br />

casa dela. Os móveis cheiravam à Europa desconhecida<br />

para ele, o corrimão da escada bem poderia ser banhado<br />

a ouro. Em todo canto, aparatos tecnológicos futurísticos.<br />

Um luxo inimaginável para o pobre Francisco.<br />

“Gostou da minha casa, meu amor?... Depois de<br />

nos casarmos, meu pai nos dará uma melhor ainda”.<br />

“Ah, então esse é o Francisco que minha filha não<br />

para de falar”, diz o pai de Lola, quando os dois chegam à cozinha.<br />

“Nossa, é melhor ainda de como o descreveu, filha”,<br />

diz a mãe de Lola.<br />

“É um prazer,.. prazer”, cumprimenta ele.<br />

34


Sentam-se a mesa e dois empregados servem o<br />

café. “Sabe, rapaz, lhe sou muito grato por fazer Lola tão<br />

feliz. Se lhe falta algo, não existe em nos falar, entende?”<br />

Francisco era um jovem de poucas ambições, não<br />

buscava um amanhã. Abria a boca tão pouco quanto no<br />

máximo o suficiente. Fato justificado por mente e corpo viverem<br />

distantes. Se tinha um defeito, era sua incapacidade<br />

de perceber o que as pessoas sentiam por ele. No fundo foi<br />

um doce preocupado demais em ajudar as pessoas ao seu<br />

redor. Assim ele era feliz.<br />

“Senhor Rosembach, aviso sim”, responde Francisco.<br />

O telefone dele toca enquanto termina de responder<br />

ao pai de Lola.<br />

Se afasta da mesa.<br />

“Alô”<br />

“Cretino, to te esperando há duas horas. Onde tu<br />

está, com quem tu está?”<br />

“Quem é?”<br />

“Francisco, sou eu, a Cristine”.<br />

“Cristi..?! Ah, sim, tudo bem? Tô tomando café com<br />

uma amiga e os pais dela”<br />

“Seu cretino, quero te ver! Sai daí e vem de uma<br />

vez. Tinha marcado comigo”.<br />

“Tínhamos?”<br />

“Claro, por que tu acha que eu pego aquele ônibus<br />

de merda todo dia?”<br />

“Sei lá, para chegar a algum lugar”.<br />

“Não, é só para te ver, Francisco. E tu não pegou<br />

35


nem ontem e nem hoje”.<br />

“Cristine, não temos nada”.<br />

“Vem de uma vez, senão te mato e me mato. Tô<br />

falando sério”.<br />

Não era a primeira vez que ele ouvia isso e preferiu<br />

não arriscar.<br />

tino?”<br />

“Fica calma. Tudo bem, eu vou”.<br />

“Ah, Francisco, me perdoa por te chamar de cre-<br />

“Tá”<br />

“Perdoa mesmo?”<br />

“Já até esqueci”<br />

“Ain, não sabe o quanto te amo, meu amor”, finaliza<br />

Cristine.<br />

Ela passa as coordenadas de onde está e ele desliga<br />

o telefone.<br />

“Lola, preciso ir”<br />

“Por que, meu amor?”<br />

“Outra hora te explico. Uma amiga não está bem”<br />

“Ah, Francisco, tu vem dormir aqui hoje, então”, ordena<br />

Lola.<br />

“É, isso mesmo, vem!” Completa a jovial Senhora<br />

Rosembach.<br />

“Ligo para combinar. Vocês são muito simpáticos,<br />

obrigado pelo café”<br />

Ao se despedir, ele fica em dúvida se o arranhão<br />

feito em suas costas pela Senhora Rosembach foi mesmo<br />

sem querer.<br />

36


Francisco parte em sua lambreta ao encontro da<br />

menina cujo mal lembrava o nome. No meio do caminho,<br />

porém, uma caminhonete o acerta em cheio.<br />

“Moço, moço, você está bem?”, pergunta a mulher<br />

que dirigia o carro que lhe acertou.<br />

“Uau, to legal sim”, responde Francisco levantando-se<br />

do chão.<br />

“Tua lambreta tá inteiraça. Vem, vou te pagar um<br />

suco”<br />

Ele examina sua moto e vê que nada estragou.<br />

Os dois entram em um boteco.<br />

“Cara, uau, você podia ter morrido. Cortou minha<br />

frente. Prazer, me chamo Patrícia”<br />

“É, eu tava distante. Prazer, sou Francisco”<br />

“Posso te chamar de Chico?”....”Não, eu odeio Chico,<br />

prefiro Francisco mesmo”, irrita-se.<br />

“Cigarro?”, oferece ela.<br />

“Tá”.<br />

“Vou ao banheiro”, diz Patrícia.<br />

Francisco percebe que a garçonete do bar não para<br />

de observá-lo.<br />

“Hey, gato, tua boca está sangrando”, diz a garçonete.<br />

“Deixa eu limpar”<br />

A moça pega uma toalha e o limpa. Pega uma caneta<br />

e anota um número. “Oh, cuidado com tua namoradinha,<br />

esse aqui é o meu fone. Se tiver enjoado dela, tem uma<br />

festa legal hoje....”. No final assina o nome Tereza.<br />

“Claro, mas ela não é...”<br />

A garçonete pisca e sai antes dele terminar a<br />

37


frase.<br />

“Então, o que tu faz?”, pergunta Patrícia ao voltar<br />

para a mesa.<br />

“Eu?”..<br />

“É”<br />

“Ah, sou carpinteiro, e tu?”<br />

“Modelo”, vim de Milão há uma semana.<br />

“Legal”, responde.<br />

“Hey, sabe, uma das minhas paixões é admirar o<br />

pôr-do-sol, e está quase na hora. Quer vê-lo?”<br />

“Humm, vou te dar o prazer de passear um pouco<br />

comigo”, diz a modelo.<br />

Ela paga a conta dos sucos e cigarros e os dois partem.<br />

Patrícia na caminhonete e ele na velha lambreta.<br />

Contemplam a despedida do sol naquele dia e os<br />

pássaros.<br />

“Meu horóscopo não erra sobre o amor”, diz Patrícia.<br />

“Tenho medo de amar mas tenho mais ainda de<br />

não amar”, começa Francisco.<br />

“E... sabe, deve-se sofrer muito em uma paixão<br />

mas pior ainda deve ser morrer e nem ter tido uma”, continua.<br />

“É como um sorvete sem sabor”, e completa<br />

“Sim, um doce sem açúcar”, diz Patrícia.<br />

“E isso existe?”, se pergunta Francisco.<br />

Os dois riem. Passados trinta ou quarenta minutos<br />

de conversa, a modelo já estava completamente apaixonada.<br />

Quando a conversa dá lugar ao silêncio, Patrícia cola seu<br />

rosto em Francisco. O telefone dele, então, desperta.<br />

38


“Puxa, babe, preciso ir”.<br />

“Como assim, Francisco, pensei que passaríamos a<br />

noite juntos?”<br />

“Tenho um compromisso inadiável. Marcamos um<br />

dia, pode?”. “Não, outro dia eu não quero, se tu não sair<br />

comigo hoje não adianta chorar arrependido depois”, decreta<br />

a modelo.<br />

“Você que sabe”, Francisco se despede.<br />

“Foi um lindo pôr-do-sol, não tenta prever demais<br />

a vida”.<br />

“Não, Francisco espera... eu tava brincando, me<br />

liga sim, viaja comigo, que tal?”<br />

“Combinamos”<br />

Francisco monta a lambreta e vai para seu apartamento.<br />

Precisa tomar banho e trocar de roupa. Quando<br />

entra, é surpreendido por sua amiga Amanda apenas de<br />

calcinha, na sala de seu JK.<br />

“Eu tava te esperando, meu amorzinho”.<br />

Francisco acende um cigarro. “Como você tem a<br />

chave do meu apartamento, Amandinha?”<br />

“Não importa, Francisquinho, vem cá”. “Amandinha,<br />

eu tenho um compromisso agora. Te veste, deixa a cópia<br />

da chave e combinamos outro dia”.<br />

“Não, eu espero tu voltar”.<br />

“Você que sabe. Estou atrasado”<br />

Francisco entra no banheiro e tranca a porta. Amandinha<br />

bate e pede para entrar. Ele não atende, se veste e sai<br />

rapidamente.<br />

Entra no ônibus e chega no local combinado. Tinha<br />

39


uma reunião com sua chefe e sócios. Era um restaurante<br />

fino onde todas as sextas tocava uma banda de jazz.<br />

“Desculpa o atraso, Margot”. “Você sempre se<br />

atrasa, Francisco”<br />

“Pelo visto os sócios estão mais atrasados ainda!”,<br />

diz o rapaz.<br />

“Eles não virão... mas assim ficamos mais a sós”.<br />

Margot era uma gringa tão atraente quanto solitária.<br />

Vivia arrastando uma asa para Francisco, que nunca<br />

dava corda. “Adoro essa do Davis, dança comigo?”, pergunta<br />

a chefe. “Claro”, responde.<br />

No meio da dança, Margot desafia: “Menino, você<br />

poderia ser mais que um carpinteiro. Sabe disso!”. “Eu gosto<br />

do que faço. Meu pai era”, responde.<br />

“Tenho uma proposta pra ti. Que tal irmos lá pro<br />

meu apartamento discuti-la”, convida Margot.<br />

“Se fosse apenas de trabalho poderíamos tratar<br />

aqui mesmo”.<br />

“Tu sabe o que eu quero, Francisco, e o que eu<br />

sempre quis de ti”.<br />

“Sei, Margot”.<br />

“E então?”, pergunta esperançosa.<br />

Francisco ri, coloca a jaqueta deixada na cadeira e<br />

sai do restaurante. Margot lhe segue. “Esperança podada<br />

no inicio não dá frutos. Quero te ver bem, Margot, se<br />

eu fosse contigo, amanhã ou depois tu ficaria pior”.<br />

“Ficaríamos juntos pra sempre, por mim. Sabe o<br />

que sinto por ti, meu bem. Poderia ter o que quisesse”.<br />

Ele volta. Dá um abraço e seca as lágrimas nos olhos<br />

dela. Beija sua testa e vai.<br />

40


janta”.<br />

“Tu nunca amou ninguém!”, conclui Margot.<br />

“Não”, responde<br />

“Espera, Francisco, vamos ao menos terminar a<br />

“Margot, seja feliz. Estou atrasado. Adeus”. Entra<br />

em um taxi e parte.<br />

A ex-chefe fica parada em frente ao restaurante.<br />

Triste, vê o carro e sua razão sumir.<br />

Ao descer do taxi, Antoni e Alfredo esperavam.<br />

“Você está atrasado, cara”<br />

“Eu sei, pago uma cerveja pra vocês”.<br />

Tomam algumas doses no bar e entram em uma<br />

discoteca.<br />

Em uma festa, você sabe, o que acontece nela fica<br />

e morre na festa. Mas revelo, Francisco era tão admirado<br />

quanto cobiçado lá e sua presença era sinônimo também da<br />

presença de muitas mulheres. Todas o amavam.<br />

...<br />

41


Manifesto<br />

Exalta tua liberdade. A vida bela, vida, é breve<br />

o quanto tu viveste nestes teus anos?<br />

Exalta teu lado assentimental. Dor há, amigo, mas<br />

o sofrimento provindo dela quem cria és tu<br />

Tu mesmo na florescência buscando a intriga,<br />

credita aos teus olhos ignorantes a falta de erotismo no<br />

que colhe<br />

Soma os prazeres, as paixões ávidas, as amantes e<br />

as conquistas<br />

Diminua doenças, descontentamento e quem<br />

esbanjou a vida no teu lugar<br />

Percebes que morre cedo? Amor, tu perdeu a<br />

essência, viveste como se vivesse para sempre. Tornaste<br />

como os que buscam a imortalidade ideológica<br />

Para depois morrerem<br />

Desperta.<br />

Os sorvetes e os chocolates<br />

Os passeios de bicicleta com os amigos<br />

O almoço de domingo com a família<br />

O banho de chuva no verão<br />

E os beijinhos quando acordar.<br />

Exalta tuas virtudes. Proteste! Limpe a injustiça.<br />

Teu orgulho é tua virtude estóica, tua virtude é<br />

tua essência e tua essência és tu.<br />

Reaja, amigo. Tu é a parte e o todo nessa história.<br />

42


Não passou a hora de ser feliz<br />

Goza teus gozos<br />

Tenha fome de viver<br />

Tenha sede de criar<br />

Mostre para o mundo tua beleza<br />

Há aqueles que inventam fetiches no banheiro<br />

Há os que realizam nas camas, nos cinemas, nas<br />

bibliotecas e nos aviões.<br />

Inunde tua boca em outra<br />

Corpo deseja corpo deseja calor<br />

Fuja do trabalho, durma com tua esposa<br />

Diga que a ama se ama<br />

Seja um amante<br />

Seja o prazer<br />

Supere teus ídolos<br />

A vida em seu cerne dispensa diferenças étnicas,<br />

sociais e econômicas<br />

Hoje seja um ator, amanhã jogador de futebol e<br />

depois conheça a boêmia<br />

Colhe o dia, confia o mínimo no amanhã mas<br />

tenha certeza que esse<br />

será como o inocente sorriso de meninos no colegial<br />

Limpo com o puro e doce verbo “viver”, junto de<br />

feliz.<br />

Não se preocupe em nascer e morrer<br />

Pegue a mochila, coloque-a nas costas e simplesmente<br />

vá.<br />

43


44<br />

“Todos esses contos<br />

são recortes”<br />

Agradeço<br />

a toda pessoa que me faz feliz.<br />

&<br />

** Jnny em “Amantes e Amados (ou Cult Gabrielle)”<br />

* Flpe em “O nome de Dora”w

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