Capelas de Aveiro
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<strong>Capelas</strong> <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong><br />
José Morais<br />
Pinturas e Texto
<strong>Capelas</strong> <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong><br />
no fim do século XX<br />
José Morais<br />
Pinturas e Texto
Preâmbulo<br />
Po<strong>de</strong> dizer-se que não há local <strong>de</strong> encontro que mais perdure ao longo dos<br />
tempos, como aquele que <strong>de</strong>corre do facto das pessoas se reunirem à volta <strong>de</strong> uma<br />
capela, em dia <strong>de</strong> festa anual.<br />
E se isso é concreto em qualquer circunstância, particularmente poético é,<br />
quando esse encontro acontece à volta <strong>de</strong> uma ermida, qual ponto branco que não<br />
cessa <strong>de</strong> brilhar e rebrilhar lá no alto da serra, dando nas vistas e nos corações,<br />
suscitando entusiasmos e anseios nas gentes <strong>de</strong> longínquas redon<strong>de</strong>zas.<br />
Enfim, eis o lugar em que, vivências e folguedos <strong>de</strong> velhos e novos se<br />
harmonizam numa só alma, em dia <strong>de</strong> festa à volta <strong>de</strong> uma capela, até que tudo<br />
termina, mais uma vez, num <strong>de</strong>licioso cansaço. Depois, tudo recomeça conforme a<br />
tradição, ano após ano, a caminho do futuro.<br />
Mas as CAPELAS, e é do seu simbolismo que se preten<strong>de</strong> falar, são por si<br />
mesmas, preciosos marcos, verda<strong>de</strong>iros relicários da humanida<strong>de</strong>, testemunhas vivas<br />
da História, como é o caso da gran<strong>de</strong> maioria das capelas <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, estas mesmas,<br />
que existem no espaço urbano da cida<strong>de</strong>, no fim do século XX.<br />
Na verda<strong>de</strong>, se um simples cruzeiro (por vezes umas simples alminhas à beira<br />
dum caminho), tem a força <strong>de</strong> perpetuar remotas lembranças, algumas <strong>de</strong>las<br />
carregadas não só <strong>de</strong> comovente humanismo, mas também <strong>de</strong> elevado valor histórico,<br />
como foi o caso do simples Cruzeiro do Senhor das Barrocas, tão escondido que<br />
1<br />
estava, a dado momento, quase submerso no meio dos frondosos silvados , que dizer<br />
então do valor histórico que nos sugere a Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora da Alegria, em Sá,<br />
enquanto testemunha viva da célebre Confraria dos Pescadores e Mareantes <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>?<br />
Mas, enfim, se a Capela da Sr.ª da Alegria é lembrada como se<strong>de</strong> social <strong>de</strong>sses
obreiros aveirenses, dinâmicos e crentes, * pois ali se reuniram por mais <strong>de</strong> 600 anos,<br />
já as capelas <strong>de</strong> São Gonçalinho e S. Bartolomeu, sitas no bairro da Beira -Mar,<br />
recordam envolvimentos porventura mais populares, contudo igualmente importantes;<br />
basta recordar que, à sua volta, foram escutadas as mais violentas dores do povo<br />
aveirense, enquanto sucumbia, a torto e a direito, à morte, vítima <strong>de</strong> pestes e outras<br />
doenças, conjugadas com os efeitos <strong>de</strong>sastrosos do mar sobre barras incertas, as quais<br />
escangalhava, sucessivamente, alheado da podridão que provocava na planura .<br />
Bom mas isto são apenas exemplos que justificam o meu ponto <strong>de</strong> partida para<br />
este trabalho que, como disse, visa reunir as <strong>Capelas</strong> <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong> neste espaço,<br />
invocando-as numa perspectiva puramente humanista, coisa que pouco tem a ver com<br />
<strong>de</strong>scrições sábias, <strong>de</strong>vidamente fundamentadas dos nossos cre<strong>de</strong>nciados<br />
historiógrafos, que <strong>de</strong>las falam amplamente, realçando juntamente o seu valor<br />
estrutural e arquitectónico.<br />
Suce<strong>de</strong>u que num primeiro passo <strong>de</strong>cidi pintá-las em acrílico sobre papel, e,<br />
posteriormente, achei por bem agrupá-las neste pequeno livro, juntamente breves<br />
apontamentos históricos alusivos a cada uma <strong>de</strong>las que, ao fim e ao cabo, são<br />
pequenos fragmentos da maravilhosa história da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>.<br />
<strong>Aveiro</strong>, 1999<br />
J. Morais<br />
1 Bom; importa dizer que o cruzeiro do Senhor das Barrocas não é menos importante que qualquer outro marco histórico, não só<br />
pela força da sua influência espiritual e humanista, (chegou a ser <strong>de</strong>signado por povos distantes, ( “O Senhor <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>” ) mas<br />
também porque que foi esse humil<strong>de</strong> cruzeiro, que <strong>de</strong>u origem ao belo templo, a obra <strong>de</strong> arte que hoje admiramos, a Capela do<br />
Senhor das Barrocas.<br />
2 Essas extraordinárias e valorosas figuras do passado, esteios que foram <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> parte da história <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, do<br />
ponto <strong>de</strong> vista socioeconómico, “uma das mais belas e prósperas Vilas do Reino”.
Capela <strong>de</strong> S. Gonçalinho
Capela <strong>de</strong> S. Gonçalinho<br />
Edificada em data incerta a Capela <strong>de</strong> S. Gonçalinho (no início uma ermida situada<br />
no bairro piscatório da Beira Mar), passou por várias transformações ao longo dos<br />
tempos e, o edifício que hoje apreciamos, é a transformação que resultou da sua última<br />
reforma, a qual teve lugar no ano <strong>de</strong> 1714.<br />
S. Gonçalo terá falecido a 10 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1262.<br />
Como se lê em Mons. João Gonçalves Gaspar, no seu livro intitulado São Gonçalo<br />
1<br />
<strong>de</strong> Amarante , o santo é “particularmente invocado para a causa <strong>de</strong> doenças ósseas”<br />
mas, o mesmo autor, faz também referência uma outra bem específica valência, que o<br />
povo, insistentemente atribui a S. Gonçalo: “Dizem que o querido Santo também não<br />
recusa o seu valimento na resolução das dificulda<strong>de</strong>s matrimoniais”.<br />
In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da troça que as pessoas do povo em geral, costumam fazer<br />
das solteironas (em <strong>Aveiro</strong> essa valência é <strong>de</strong> há longos anos tida em muito boa conta,<br />
posto que alguns dos milhares <strong>de</strong> cavacas que voam nos céus do Bairro durante os dias<br />
da sua festa, são exactamente a prova clara do pagamento <strong>de</strong> promessas cumpridas,<br />
naturalmente coroadas <strong>de</strong> êxito. Mas não só; obviamente outros milhares voam também,<br />
<strong>de</strong>stinadas a outros fins. Para quem não sabe, as referidas cavacas são atiradas, por<br />
largas centenas <strong>de</strong> <strong>de</strong>votos, lá do alto da platibanda da capela sobre a multidão, que no<br />
adro se acotovela, tentando apanhá-las, se possível, ainda no ar.<br />
Mas porquê, São Gonçalinho, “Casamenteiro das Velhas”?<br />
Conta o mesmo autor que esta crendice terá surgido a partir <strong>de</strong> uma situação<br />
concreta em que o Santo, fazendo as suas pregações numa ermida sobre o Rio Tâmega<br />
“pregação sempre moralizante”, às quais acorria muita gente, entre esta os habitantes
<strong>de</strong> uma freguesia <strong>de</strong> nome Aboa<strong>de</strong>la do Marão, e que, em tempo esta se chamou <strong>de</strong><br />
Ovelha. “Como o bondoso Apóstolo – continua o autor – conseguisse legalizar,<br />
religiosamente, muitos casais daquela terra, que viviam em relações imorais,<br />
começaram a apelidar S. Gonçalo <strong>de</strong> casamenteiro dos <strong>de</strong> Ovelha... alcunha que<br />
estropiada, chegou aos nossos dias”: “casamenteiro das velhas”<br />
Bom mas para além dos já referidos valimentos, S. Gonçalinho, em <strong>Aveiro</strong>, é<br />
solicitado com gran<strong>de</strong> fé, e particular familiarida<strong>de</strong>, pelas gentes do Bairro da Beira<br />
Mar.<br />
Por vezes, ao falarmos com alguns dos habitantes do característico bairro,<br />
quase se fica com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que S. Gonçalinho vive realmente ali com eles, porta<br />
com porta.<br />
Muitos <strong>de</strong>stes sentimentos <strong>de</strong> fé e familiarida<strong>de</strong> com o seu santo querido, estão<br />
bem expressos, aqui e ali, na nas obras do poeta aveirense, Ama<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Sousa,<br />
também ele, filho brioso daquele bairro.<br />
A propósito da festa <strong>de</strong> S. Gonçalinho que se realiza a 10 <strong>de</strong> Janeiro, ou no<br />
domingo seguinte, diz Ama<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Sousa nos seus versos, em jeito <strong>de</strong> anúncio:<br />
Toca o sino, foguetório,<br />
Ban<strong>de</strong>iras em <strong>de</strong>salinho.<br />
- É no bairro piscatório<br />
2<br />
A festa <strong>de</strong> S. Gonçalinho<br />
E para que todos saibam e... anotem, diz:<br />
Dos Santos todos <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>,<br />
Desta Terra, <strong>de</strong>ste Céu,<br />
S. Gonçalinho é sem dúvida<br />
3<br />
O Santo mais cagaréu
Falando, como falam todas as pessoas do bairro ao seu amigo, protector e<br />
confi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> todas as horas, o poeta chama-lhe a atenção para o seguinte:<br />
S. Gonçalinho não <strong>de</strong>ixe<br />
Desaparecer do mar<br />
A farturinha <strong>de</strong> peixe<br />
4<br />
Sustento do nosso lar<br />
E por certo na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> prevenir algum <strong>de</strong>vasso ou brincalhão, vai dizendo:<br />
S. Gonçalinho é lugar<br />
De entranhada <strong>de</strong>voção<br />
Do bairro da Beira-Mar<br />
5<br />
Que o traz no coração .<br />
Mas o poeta, brincando também, não se inibe <strong>de</strong> lembrar ao bondoso santo,<br />
naturalmente integrado no comportamento geral das gentes do seu bairro, a<br />
importância e mesmo a necessida<strong>de</strong> dos valimentos, enquanto “casamenteiro das<br />
velhas”:<br />
Diz ele nos seus versos, a propósito <strong>de</strong> uma “velha” menos feliz:<br />
Atentai S. Gonçalinho<br />
Na cavaca que já sou<br />
Nem lançada com jeitinho<br />
6<br />
O fulano me agarrou .
Meu rico S. Gonçalinho<br />
Tem pena <strong>de</strong>sta donzela<br />
Que promete ao pé coxinho<br />
7<br />
Dar cem voltas à capela .<br />
Reunidas em comício<br />
As velhas da Beira-Mar<br />
Exigiram por ofício 8<br />
Um prazo para casar .<br />
Uma velha já cansada<br />
De esperar pelo parceiro<br />
Ameaçou o santinho<br />
9<br />
Com um pau marmeleiro .<br />
Porém, falando muito a sério, diz:<br />
S. Gonçalinho só quer<br />
Junto ao altar, bem ao pé<br />
Seja homem ou mulher,<br />
10<br />
Quem tenha amor, tenha fé .
Capela <strong>de</strong> S. Gonçalinho<br />
(Reformada em 1714)
Cúpula da Capela <strong>de</strong> S. Gonçalinho<br />
(Vista do Canal da Praça do Peixe, Cais dos Mercantéis)
Capela do Senhor das Barrocas
Capela do Senhor das Barrocas<br />
Segundo <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> historiógrafos aveirenses, a zona on<strong>de</strong> se situa a<br />
Capela do Senhor das Barrocas - hoje um amplo airoso espaço urbanizado - foi, em<br />
tempos remotos, um local “medonho e perigoso”.<br />
Fundos barrancos e enormes silvados a ensombrar o estreito caminho, e o<br />
ribeiro que por ali passava, eram elementos naturais daquele cenário, <strong>de</strong>veras<br />
inquietante<br />
Mas tal cenário, tornado ainda mais misterioso <strong>de</strong>vido às crendices populares,<br />
era realmente muito perigoso, isso sim, <strong>de</strong>vido à presença <strong>de</strong> salteadores que ali<br />
faziam as suas investidas.<br />
Era aquele o único caminho que havia entre a Vila <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong> e Esgueira, no<br />
qual, pelo ano <strong>de</strong> 1707, foi levantado o famoso Cruzeiro do Senhor das Barrocas.<br />
Tempos se terão passado <strong>de</strong>pois da sua implantação, visto que já altas<br />
ramagens e musgos o cobriam, <strong>de</strong>sprezado portanto, quando, <strong>de</strong>vido a várias<br />
curas milagrosas atribuídas ao Cruzeiro do Senhor das Barrocas, o curso dos<br />
acontecimentos mudou como sabemos. Isto é, a afluência dos crentes foi tão<br />
gran<strong>de</strong> e os seus contributos tão avultados que, em quinze anos apenas, foi<br />
possível proce<strong>de</strong>r ao lançamento da primeira pedra e, em <strong>de</strong>z anos mais - em 16 <strong>de</strong><br />
Novembro <strong>de</strong> 1732 - foi inaugurado o templo maravilhoso que hoje po<strong>de</strong>mos<br />
contemplar.<br />
Em Amaro Neves, na sua obra AVEIRO HISTÓRIA E ARTE lê-se: “Patenteia-<br />
se, na verda<strong>de</strong>, no edifício, um acentuado cunho italianizante, que levou Dieulafoy a<br />
consi<strong>de</strong>rá-lo uma transcrição portuguesa muito elegante, dos baptistérios <strong>de</strong> Pisa e<br />
Florença”. É na verda<strong>de</strong> um tempo maravilhoso e diferente, que vale a pena<br />
11<br />
contemplar .
Capela do Senhor das Barrocas<br />
(inaugurada em 1732)
Portal da Capela do Senhor das Barrocas
Capela dos Santos Mártires
Capela dos Santos Mártires<br />
12<br />
Segundo escreve António Christo , os santos, que <strong>de</strong>ram nome à quinta e à<br />
capela, são os chamados Santos Mártires <strong>de</strong> Lisboa, os nobres irmãos Veríssimo,<br />
Máxima e Júlia.<br />
É uma capela do século XVII mandada construir por Simão da Costa Almeida<br />
da qual foi o primeiro administrador.<br />
Após o seu falecimento no ano <strong>de</strong> 1673, a quinta e a capela tiveram<br />
sucessivos administradores do vínculo, até que no ano <strong>de</strong> 1822 Miguel Rangel <strong>de</strong><br />
Quadros da Costa Monteiro <strong>de</strong>u a quinta <strong>de</strong> arrendamento a uma criada do<br />
<strong>de</strong>sembargador Francisco Lourenço <strong>de</strong> Almeida.<br />
A partir daí, passaram a reunir-se, no interior da quinta, os elementos <strong>de</strong> uma<br />
loja maçónica, cuja associação acabou por ser <strong>de</strong>sagregada durante o absolutismo<br />
miguelista.<br />
A quinta passou a ser olhada com horror pelo povo e odiada pelos partidários<br />
do absolutismo.<br />
Um pouco mais voltados para as motivações espirituais do fundador, importa,<br />
talvez, dizer quem foram os santos a quem ele <strong>de</strong>dicou a capela.<br />
Veríssimo, Máxima e Júlia eram filhos <strong>de</strong> nobres abastados e, pela fé cristã,<br />
sofreram cruéis martírios sob as or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> um legado do imperador Diocleciano, <strong>de</strong><br />
nome Públio Daciano.<br />
Foram presos e flagelados, torturados em ecúleos e por fim <strong>de</strong>capitados.<br />
Os corpos foram lançados ao mar e, segundo a tradição, apareceram numa<br />
praia do Tejo - Praia <strong>de</strong> Santos, em Lisboa - no dia 1 <strong>de</strong> Outubro do ano 307.<br />
No interior da capela figuram os três santos com roupagens <strong>de</strong> romeiro,<br />
lembrando a penosa viagem que fizeram aos sepulcros <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo.
Capela dos Santos Mártires<br />
Construida na segunda meta<strong>de</strong> do Século XVII<br />
O portão da Quinta foi Construido após o restauro <strong>de</strong> 1882
Capela <strong>de</strong> São Sebastião
Capela <strong>de</strong> São Sebastião<br />
A capelinha <strong>de</strong>dicada ao Mártir S. Sebastião fica situada na Rua Aires<br />
Barbosa. Foi construída em 1896.<br />
De pequenina que é, faz lembrar uma miniatura que alguém ali construiu por<br />
graça, ainda mais se a relacionarmos com as casas mo<strong>de</strong>rnas que ultimamente se<br />
construíram à sua beira.<br />
Ao <strong>de</strong>pararmos com ela, arranjada como está neste momento, somos<br />
tocados por um sentimento <strong>de</strong> especial carinho, talvez tão-somente por ser<br />
pequenina - é mesmo uma capela e não um nicho – mas também por nos vir à i<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> como foi possível a minúscula capelinha satisfazer às necessida<strong>de</strong>s das pessoas<br />
daquele tempo, naquele lugar.<br />
No seu interior cabem apenas cinco ou seis pessoas mais ou menos<br />
apertadas, mas é comovedor saber que a capelinha possuiu ainda artefactos e<br />
paramentos, basicamente necessários às celebrações e actos litúrgicos.<br />
Importa dizer que não é esta, a primeira capela que, neste local, foi erigida e<br />
<strong>de</strong>dicada ao Mártir S. Sebastião.<br />
A primeira, junto à qual havia uma fonte com o mesmo nome, foi <strong>de</strong>molida, já<br />
13<br />
em ruínas, no ano <strong>de</strong> 1839 .<br />
Das transformações ocorridas com o <strong>de</strong>saparecimento da capela, a dita fonte<br />
foi refeita e, por inspiração numa lenda que se per<strong>de</strong>u, passou a chamar-se Fonte<br />
14<br />
dos Amores<br />
O que aconteceu foi que, cinquenta e sete anos passaram sobre a <strong>de</strong>molição<br />
da primeira capela, quando o povo enten<strong>de</strong>u que não podia passar sem repor,<br />
naquele local, um sinal da fé <strong>de</strong> outrora, no santo Mártir S. Sebastião.
Capela <strong>de</strong> S. Sebastião<br />
Construida em 1896
Capela da Senhora da Ajuda
Capela da Senhora da Ajuda<br />
A “Capela <strong>de</strong> Santiago”, igualmente <strong>de</strong>dicada a Nossa Senhora da Ajuda tal<br />
como duas outras edificadas antes, inclui, na sua construção, materiais que vieram<br />
da capela anterior.<br />
A ruína da primeira capela <strong>de</strong>veu-se ao terramoto <strong>de</strong> 1755, e a segunda, foi<br />
<strong>de</strong>molida em 1915.<br />
Da lenda consta que, a imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora da Ajuda apareceu <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> um caixão, na praia do mar, no qual estava também um papel a dizer que se<br />
colocasse a imagem em capela <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, fora da vila.<br />
A imagem tinha pen<strong>de</strong>ntes “duas contas, a que chamavam leitores e que<br />
vinham <strong>de</strong>ntro do mesmo caixão da Senhora, e por serem prendas suas, têm as<br />
mulheres sua <strong>de</strong>voção e fé, <strong>de</strong> que pondo-as ao pescoço recuperarão abundância<br />
15.<br />
<strong>de</strong> leite para alimentarem os filhos”
Capela da Nossa Senhora da Ajuda<br />
Século XX
Capela <strong>de</strong> São Bartolomeu
Capela <strong>de</strong> São Bartolomeu<br />
Tal como S. Gonçalinho, S. Bartolomeu é também um santo muito querido das<br />
gentes do Bairro da Beira-Mar.<br />
A sua capela situa-se na Rua <strong>de</strong> S. Bartolomeu em frente à Rua do Norte, e foi<br />
mandada construir por André Dias Cal<strong>de</strong>ira, no ano <strong>de</strong> 1568.<br />
Por razões totalmente <strong>de</strong>sconhecidas, passou para o povo, <strong>de</strong> geração em<br />
geração, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a capela foi mandada edificar por mareantes que, <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>,<br />
navegavam para a Terra Nova. Segundo pesquisa <strong>de</strong> António Christo in <strong>Capelas</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Aveiro</strong> (16)<br />
Esta atribuição transparece claramente numa informação paroquial <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong><br />
Março <strong>de</strong> 1721, em que Frei Manuel Coelho <strong>de</strong> Oliveira - <strong>de</strong>corriam já 153 anos<br />
sobre a edificação do templo - escreve o seguinte:<br />
“ Como também há outra capela, intitulada Sant Bartholomeu; a qual foi<br />
edificada pelos Mareantes <strong>de</strong>sta Villa, q navegavão para a Terra Nova, <strong>de</strong> cuja hera,<br />
não achei notícia certa; São administradores os mesmos fregueses”.<br />
Mais adiante o mesmo prior tem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrever que a capela não<br />
“contem Letereyo algun”.<br />
Ora nada disto correspon<strong>de</strong> à verda<strong>de</strong>, e o que se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> é que, já nessa<br />
altura, as pessoas nada conheciam sobre o passado da capela.<br />
Afinal a sua i<strong>de</strong>ntificação estava patente na própria capela, sobre a porta <strong>de</strong><br />
entrada, mas totalmente escondida <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> cal.<br />
"Esta caza mandou fazer Andre Dyas Cal<strong>de</strong>ira No Ano <strong>de</strong> 1568 “<br />
Acresce a tudo isto que o nome <strong>de</strong> André Dias Cal<strong>de</strong>ira, que até po<strong>de</strong>ria ter<br />
sido um <strong>de</strong>sses mareantes, jamais se encontrou em qualquer outro documento.
A capela está pois <strong>de</strong>vidamente i<strong>de</strong>ntificada, contudo ficamos sem saber quais<br />
foram as motivações que levaram à sua edificação, e quem foi Andre Dyas Cal<strong>de</strong>ira.<br />
Pelo que sabemos, São Bartolomeu não esteve ligado a activida<strong>de</strong>s marítimas;<br />
e como as pessoas elegem normalmente para seus patronos santos que nesta vida<br />
tiveram activida<strong>de</strong>s semelhantes às suas, nada sugeria, portanto, que esta<br />
invocação fosse feita por homens do mar.<br />
17<br />
São Bartolomeu é i<strong>de</strong>ntificado por S. João Evangelista pelo nome <strong>de</strong><br />
Natanael ou dom <strong>de</strong> Deus, e também dava pelo nome <strong>de</strong> Bar-Tomai.<br />
Era um homem culto que acreditava piamente na vinda do Messias e gostava<br />
<strong>de</strong> ler e meditar na Sagrada Escritura ao ar livre, <strong>de</strong>baixo das árvores.<br />
Dele disse Jesus ao vê-lo pela primeira vez: “Eis aqui um verda<strong>de</strong>iro israelita<br />
em que não há fingimento”.<br />
Mas para além do diálogo que teve com Jesus Cristo, nesse momento, nada<br />
mais se soube ao certo da sua vida!<br />
No século XIII nasceu a lenda <strong>de</strong> que o santo foi <strong>de</strong>golado por um rei<br />
misterioso da Arménia; muitos continuaram a falar <strong>de</strong> <strong>de</strong>capitação, mas os artistas<br />
preferiram representá-lo com a pele <strong>de</strong> rastos e na mão uma faca. Daí o ter<br />
prevalecido em todo o mundo a crença <strong>de</strong> que o seu martírio consistiu em ser<br />
esfolado. Contudo nada po<strong>de</strong> ser comprovado.<br />
Entretanto S. Bartolomeu é consi<strong>de</strong>rado padroeiro dos que trabalham com<br />
peles - curtidores, carniceiros e até enca<strong>de</strong>rnadores.<br />
Bom, S. Bartolomeu é como se sabe um dos doze Apóstolos e é nessa<br />
qualida<strong>de</strong> que, a ele recorrem, aliás <strong>de</strong> um modo muito especial, as gentes da<br />
Beira-Mar.<br />
Um exemplo:<br />
Há anos atrás, foi atribuída a um certo homem <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, a autoria <strong>de</strong> um<br />
crime <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> uma quantia bastante avultada.<br />
O acusado sofreu não só o incomodo da <strong>de</strong>sconfiança que sobre ele e a
família recaiu, mas também, mais concretamente ainda, sofreu, na pele, o amargo<br />
das penosas diligências policiais, ao tentarem arrancar-lhe palavras <strong>de</strong> uma<br />
eventual “confissão”. Mas porque o processo <strong>de</strong>corria já longo e sem fim à vista,<br />
três mulheres da Beira-Mar, certas da sua inocência, <strong>de</strong>cidiram recorrer a S.<br />
Bartolomeu, solicitando a sua intercepção, em favor do pobre homem.<br />
Mar.<br />
É interessante o modo como são feitas estas orações pelas gentes da Beira-<br />
Tal como em outros casos difíceis, as três mulheres foram à meia noite à porta<br />
da capela, isto durante uns dias, e, dando as três pancadinhas habituais na porta<br />
fechada - em jeito <strong>de</strong> quem solicita uma atenção muito especial em favor <strong>de</strong> alguém<br />
aflito – segredaram <strong>de</strong> seguida para <strong>de</strong>ntro, através do postigo, as suas fervorosas<br />
súplicas.<br />
Quanto a estes rogos das gentes da Beira-Mar junto à porta da Capela <strong>de</strong> S.<br />
Bartolomeu em momentos <strong>de</strong> aflição, <strong>de</strong>certo que os mais compungentes terão sido<br />
aquelas que tiveram lugar no tempo da pneumónica, quando se supunha que o<br />
vento infectado - contaminado pelos lamaçais putrificados ao longo da extensa<br />
*<br />
laguna - trazia nele o próprio diabo<br />
Na verda<strong>de</strong> muita gente morreu em <strong>Aveiro</strong>, nesse tempo, vítima da peste,<br />
principalmente porque o mar, impedido por um imenso cordão <strong>de</strong> areia que se<br />
formou na costa, ao longo <strong>de</strong> muitos anos, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> purificar a imensa planura<br />
aveirense.<br />
* Na capela há uma estatueta <strong>de</strong> um diabo preso por uma corrente para que, uma vez preso, não possa fazer mal às pessoas.
Capela <strong>de</strong> S. Bartolomeu<br />
Construção do Século XVI
Capela da Senhora das Febres
Capela da Senhora das Febres<br />
Edificada no século XVI.<br />
Segundo António Christo “não se conseguiu apurar quando passou a ser<br />
<strong>de</strong>dicada a Nª. Senhora das Febres. Entretanto, os fiéis, principalmente os da Beira-<br />
Mar, nunca <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> recorrer a São Roque em suas doenças, constituindo-o<br />
advogado contra a peste”.<br />
Desconhecendo-se pois os motivos que houve para, em dado momento,<br />
<strong>de</strong>dicar a capela a Nª. Senhora, sabe-se, isso sim, que esta foi construída e<br />
<strong>de</strong>dicada a S. Roque, tido como padroeiro dos mestres construtores <strong>de</strong> naus -<br />
carpinteiros e afins.<br />
“Justificava-se esta <strong>de</strong>voção <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Quatrocentos com uma colónia <strong>de</strong><br />
calafates, carpinteiros e tanoeiros a laborarem pelo canal central, nos Botirões e<br />
18<br />
sobretudo no canal <strong>de</strong> S. Roque”
Capela da Senhora das Febres<br />
Edificada no Século XVI
Capela da Madre <strong>de</strong> Deus
Capela da Madre <strong>de</strong> Deus<br />
“Em 1687, escreveu Cristóvão <strong>de</strong> Pinho Queimado que a população do<br />
burgo, notavelmente diminuída por motivo <strong>de</strong> múltiplas causas, pouco exce<strong>de</strong>ria<br />
então 2700 vizinhos, que se encontravam repartidos pelas freguesias <strong>de</strong> S. Miguel,<br />
Espírito Santo, Vera Cruz e N.ª Sr.ª da Apresentação”.<br />
Nessa altura havia 14 ermidas ou capelas não contíguas às igrejas e entre<br />
elas, a da Madre <strong>de</strong> Deus, no Seixal.<br />
No seu interior está uma escultura <strong>de</strong> S. João Baptista da autoria <strong>de</strong> um<br />
artista local, Joaquim dos Santos, que alcançou renome entre os barristas<br />
portugueses. Faleceu em 1801.<br />
19<br />
É uma capela elegante e o seu pequeno interior merece ser visitado .
Capela da Madre <strong>de</strong> Deus<br />
Edificada em meados do Século XVII
Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora da Alegria
Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora da Alegria<br />
Se as capelas são testemunhas vivas <strong>de</strong> acontecimentos do passado, e se<br />
elas são também, locais privilegiados da convivência humana que mais perdura no<br />
<strong>de</strong>senrolar do tempo, a capela <strong>de</strong> Nossa Senhora da Alegria é disso o exemplo mais<br />
significativo.<br />
Po<strong>de</strong> dizer-se que falar da Capela <strong>de</strong> N. S. da Alegria é falar da prestimosa<br />
Confraria dos Pescadores e Mareantes <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, instituição que reuniu e<br />
acompanhou gerações sucessivas, ao longo dos 650 anos!<br />
Segundo se lê em Francisco Ferreira Neves20, a Confraria <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora <strong>de</strong> Sá (da Alegria mais tar<strong>de</strong>) <strong>de</strong>dicava-se à realização <strong>de</strong> obras pias e <strong>de</strong><br />
carida<strong>de</strong>, para o que possuía, entre outros meios, um hospital na Vila <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong><br />
“com 10 ou 12 camas <strong>de</strong> roupa, para agasalhar os pobres ou quem <strong>de</strong>las<br />
precisasse”. Refere-se também que, a certa altura, havia na instituição cerca <strong>de</strong> 400<br />
confra<strong>de</strong>s.<br />
A maioria dos pescadores vivia num arrabal<strong>de</strong> da Vila <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, uma<br />
pequena povoação chamada Vila Nova, hoje lugar <strong>de</strong> Sá. Situava-se a norte do<br />
Esteiro da Ribeira e do paul chamado Cojo. O caminho chamou-se Rua Torta,<br />
<strong>de</strong>pois Rua da Vila Nova, hoje Rua <strong>de</strong> Manuel Firmino. Pelo ano <strong>de</strong> 1572, a Vila <strong>de</strong><br />
<strong>Aveiro</strong> tinha somente uma freguesia: a <strong>de</strong> S. Miguel.<br />
Sá, em latim é sala.<br />
Já existia no século IX e, em 1835 foi incorporada no Concelho <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>.<br />
Foi no século XIII, mais precisamente no ano <strong>de</strong> 1200, que, os pescadores e<br />
mareantes <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, <strong>de</strong>sfrutando <strong>de</strong> uma certa abundância fundaram esta Confraria<br />
com se<strong>de</strong> na pequena igreja daquele local.
A pesca do Bacalhau:<br />
Para além da pesca que se exercia nos canais ou rios salgados, <strong>de</strong>u-se início<br />
à pesca do bacalhau na Terra Nova, para on<strong>de</strong> começaram a partir os pescadores<br />
aveirenses e vianenses, isto por volta do ano <strong>de</strong> 1500.<br />
Sabe-se que mo ano <strong>de</strong> 1552, conforme uma comunicação que o Juíz <strong>de</strong><br />
Fora Jorge Afonso enviou ao Rei D. João III, havia em <strong>Aveiro</strong> 36 naus e navios e 34<br />
caravelas; ao todo 70 embarcações.<br />
nunca tivera.<br />
O porto <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong> tornou-se muito importante e a Vila adquiriu riqueza que<br />
Também, sobre a referida comunicação, os navios rotavam para a Terra<br />
Nova, Irlanda, Inglaterra, Flandres e Ilhas.<br />
O progresso <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong> continuou por muito tempo, até que o constante<br />
assoreamento da barra acabou por ensombrar tremendamente a sua existência.<br />
21<br />
Cristóvão <strong>de</strong> Pinho Queimado , <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> referir que <strong>Aveiro</strong> <strong>de</strong>clinava na sua<br />
gran<strong>de</strong>za no início do século XV, escreveu, em 1687, o seguinte:<br />
“Esta Vila pa<strong>de</strong>ce o achaque <strong>de</strong> maleitas que, na quadra da Primavera e do<br />
Outono, fazem adoecer muita gente, e em alguns anos morrem muitas pessoas, o<br />
que é atribuído às águas encharcadas nas salinas e outros lugares plainos, on<strong>de</strong><br />
morrem as águas do Inverno. Se não fosse este mal que ainda se não po<strong>de</strong> afastar,<br />
seria esta Vila a mais famosa, e talvez a mais rica <strong>de</strong> quantas vilas marítimas tem o<br />
reino, e as epi<strong>de</strong>mias têm sido a principal razão das pessoas se afastarem”.<br />
Por todos esses contratempos, e segundo o mesmo historiógrafo, a certa<br />
altura, a população <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong> ficou reduzida a cerca <strong>de</strong> 1700 vizinhos!<br />
Mas, <strong>Aveiro</strong>, como se sabe, sobreviveu da tremenda ferida e livre se tornou,<br />
talvez como nunca; sem muralhas e dispondo <strong>de</strong> uma bela barra, sem<br />
impedimentos <strong>de</strong> espécie alguma.
O seu progresso é famoso em todo o País, toda uma região em franca<br />
expansão, no final do século XX.<br />
Ainda quanto à Confraria dos Pescadores e Mareantes <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, importa<br />
talvez referir que, já em gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência no princípio do século XIX, foi <strong>de</strong>clarada<br />
extinta pelo Governo Civil <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, em 9 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1855.<br />
séculos.<br />
Por sua vez, a Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora da Alegria continua lá a <strong>de</strong>safiar os<br />
A sua festa anual realiza-se a 15 <strong>de</strong> Agosto.
Capela da Nossa Senhora da Alegria<br />
Edificada no Século XII<br />
O Cruzeiro foi edificado em 1554
Capela da Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>de</strong> São Francisco
Capela da Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>de</strong> São Francisco<br />
22<br />
Como se lê em Amaro Neves , a Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>de</strong> São Francisco terá<br />
surgido em <strong>Aveiro</strong> no ano <strong>de</strong> 1670 e, em 16 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1677, foi feito o<br />
lançamento da primeira pedra <strong>de</strong>sta construção.<br />
Actualmente, talvez por a capela ter ligação lateral com a igreja <strong>de</strong> Santo<br />
António, na qual se realizam todos os actos litúrgicos, o templo é apenas utilizado<br />
como espaço mortuário.<br />
Mas a capela <strong>de</strong> S. Francisco merece ser visitada pelo seu conjunto artístico,<br />
como refere também o mesmo autor: “O conjunto artístico encanta pelo casamento<br />
plástico resultante das talhas, azulejos e <strong>de</strong>corações murais, principalmente o<br />
tecto.”
Capela da Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>de</strong> S. Francisco<br />
Conjunto com a Igreja e Convento <strong>de</strong> Santo António.<br />
Lançada a primeira pedra em 16/1/1677
Capela da Senhora do Álamo
Capela da Senhora do Álamo<br />
23<br />
Como refere João Evangelista <strong>de</strong> Campos , “a Senhora do Álamo é<br />
advogada das parturientes: é a ela que recorrem as mulheres que se vêem<br />
atrapalhadas ao aproximar-se a ocasião <strong>de</strong> serem mães”.<br />
O autor diz que a romaria anual que ali se realizava no Domingo <strong>de</strong><br />
Pascoela, era “pretexto para a realização <strong>de</strong> merendolas, e justificava, também, o<br />
convite que as raparigas faziam aos seus compadres para irem comer juntos, o folar<br />
da Páscoa”.<br />
“O local prestava-se à <strong>de</strong>scontracção e à convivência dos romeiros ao longo<br />
da linha do caminho <strong>de</strong> ferro e nos pinhais que orlavam Esgueira; hoje, porém,<br />
<strong>de</strong>vido ao crescimento e às gran<strong>de</strong>s transformações que <strong>Aveiro</strong> tem tido em tão<br />
pouco tempo, esses “recantos” <strong>de</strong>sapareceram.”<br />
Contudo, é preciso dizê-lo, essa alegria, e tudo o mais, não esmoreceu;<br />
apenas se transferiu para a Senhora da Alumieira, ainda que um pouco mais longe,<br />
lugar <strong>de</strong> Mataduços.
Capela da Senhora do Álamo
Capela <strong>de</strong> São Tomás <strong>de</strong> Aquino
Capela <strong>de</strong> São Tomás <strong>de</strong> Aquino<br />
Embora apostado em reunir neste trabalho a representação <strong>de</strong> todas as<br />
capelas <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong> existentes no espaço urbano, no fim do séc. XX, hesitei em<br />
incluir escombros e uma frontaria arruinada, que restam <strong>de</strong> um pequeno templo,<br />
outrora edificado (pelos dominicanos?) na Agra dos Fra<strong>de</strong>s, em honra <strong>de</strong> S.<br />
Tomás <strong>de</strong> Aquino.<br />
Acabei por incluí-lo, primeiro, porque alguém me disse que a fachada da<br />
“capela”é um resto que dá ainda uma i<strong>de</strong>ia do que foi a sua bela arquitectura no<br />
conjunto das capelas <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>; segundo, porque motivado pelo <strong>de</strong>svelo com que o<br />
ilustre historiógrafo aveirense António Christo falou da capela no seu livro intitulado<br />
“<strong>Capelas</strong> <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>”. Diz ele:<br />
“O genial doutor S. Tomás <strong>de</strong> Aquino foi e será sempre mestre dos sábios e<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> santos.<br />
O seu nome glorioso não sofre limites <strong>de</strong> espaço ou <strong>de</strong> tempo: é universal e<br />
24<br />
eterno, enche <strong>de</strong> clarões o mundo e os séculos” .<br />
Seguidamente o historiógrafo, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo valores universais, naturalmente<br />
atribuídos também à clarividência dos aveirenses, diz ainda:<br />
“Compreen<strong>de</strong>-se, assim que também os aveirenses <strong>de</strong> antanho, presos do<br />
encantamento da sua ciência profundíssima ou das suas virtu<strong>de</strong>s excelsas, lhe<br />
atribuíssem a sua maior admiração, erguendo na cida<strong>de</strong> dois templos, ainda que<br />
mo<strong>de</strong>stos, em sua honra”. Não sei qual foi o outro templo aqui referido, mas esta<br />
capela é a que António Christo foca com particular interesse.
Tenho a firme certeza que os aveirenses, todos os aveirenses,<br />
nomeadamente os mais instruídos e por isso mesmo mais responsáveis, jamais<br />
<strong>de</strong>sprezaram os valores <strong>de</strong>stes intelectuais <strong>de</strong> antanho, mas somente estão a<br />
cometer um pecado chamado “<strong>de</strong>sleixo” e talvez falta <strong>de</strong> atenção, pela capelinha<br />
que tão bem ficaria na encosta, sem provocar qualquer estorvo, nem no presente e<br />
<strong>de</strong>certo, nem no futuro.
Capela <strong>de</strong> S. Tomás <strong>de</strong> Aquino
Capela <strong>de</strong> Santo António do Mudo
Capela <strong>de</strong> Santo António do Mudo<br />
Não tendo encontrado na Biblioteca Municipal qualquer referência à Capela<br />
<strong>de</strong> Santo António do Mudo situada na Forca, resolvi ir ao local na mira <strong>de</strong> encontrar<br />
alguém que me falasse da referida capelinha.<br />
Foi até fácil encontrar um casal; a senhora Rosa e o Sr. Manuel Maria Freire<br />
Lagoncha, pessoas <strong>de</strong> há muito responsáveis pelo arranjo da pequena capela.<br />
A história que me contou o Sr. Lagoncha, já com setenta e dois anos <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong>, ouviu-a ele da boca do Sr. António Canhoto, já falecido há muito.<br />
Pelo que diz o Sr. Lagoncha a existência da capelita po<strong>de</strong> rondar os 130 ou<br />
mesmo os 150 anos.<br />
filho mudo.<br />
Foi mandada construir por um Senhor <strong>de</strong> nome Saramago o qual tinha um<br />
Este <strong>de</strong>u por sua vez continuida<strong>de</strong> à festa andando a pedir pelas redon<strong>de</strong>zas,<br />
com o “Santo António” no braço e sempre com as calças arregaçadas até ao joelho.<br />
Daí que a capela passasse a ser <strong>de</strong>signada por Santo António do Mudo.<br />
Digna <strong>de</strong> referência é também a “iluminação” da festa que nesses tempos<br />
usavam: eram pinhas a ar<strong>de</strong>r, juntamente com vasos cheios <strong>de</strong> resina e um pavio<br />
pendurados nos arcos sobre a rua.<br />
Assim aconteceu ano após ano, até que comissões espontâneas apareceram<br />
dando à festa relevo cada vez maior.<br />
No dizer do Sr. Lagoncha, é uma gran<strong>de</strong> festa.
Capela <strong>de</strong> Santo António do Mudo
Capela <strong>de</strong> Santo Amaro
Capela <strong>de</strong> Santo Amaro<br />
Como diz João P. Lemos na sua obra intitulada “Vilar Doce e Poético<br />
Cantinho”, “o limite geográfico <strong>de</strong> Vilar ninguém o saberá <strong>de</strong>finir, permanecendo no<br />
25<br />
abstracto duma vaga memória” .<br />
Diz ainda:- “Hoje Vilar está inserida na parte rural da cida<strong>de</strong> e limitada por<br />
novas freguesias que nos seus limites “roubaram” um pedaço a Vilar, a saber,<br />
Aradas, São Bernardo, Santa Joana e Esgueira! “<br />
Ora, ainda que Vilar se situe na parte rural da cida<strong>de</strong>, e este trabalho visa<br />
focar apenas as capelas, existentes no espaço urbano no fim do século XX, importa<br />
referir que Vilar, e naturalmente, a Capela <strong>de</strong> Santo Amaro (capela <strong>de</strong> Vilar), são<br />
parte integrante <strong>de</strong>sse espaço. Vilar faz parte da freguesia <strong>de</strong> Nª. Srª da Glória.<br />
De Rangel <strong>de</strong> Quadros, na sua obra “<strong>Aveiro</strong> – Apontamentos Históricos”, e<br />
26<br />
aqui referido também por João Lemos , diz-se que: “...Vilar com a sua capela, já<br />
existia no meado do século XV, e é <strong>de</strong> tradição, que não só existia muito antes<br />
d'esse tempo, mas muito antes do lugar <strong>de</strong> S. Bernardo. Mas a capella estava n'um<br />
sítio baixo, quasi um valle, próximo da povoação. E por isso e pelo <strong>de</strong>correr dos<br />
anos, foi mister substituila pela capella actual, que é <strong>de</strong> maiores dimensões...”<br />
Das referências que João Lemos faz a algumas datas mais marcantes,<br />
relativamente à Capela <strong>de</strong> Vilar, anotei uma, particularmente interessante, que diz o<br />
seguinte: “ Em 1574, João Jorge Rolão tendo <strong>de</strong> ir ao mar fez um testamento em<br />
que <strong>de</strong>ixava cento e cincoenta reis, a S. Amaro <strong>de</strong> Vilar para as pare<strong>de</strong>s da casa”.<br />
Haveria muito a dizer sobre a Capela <strong>de</strong> Santo Amaro mas, <strong>de</strong> acordo com o<br />
objectivo <strong>de</strong>ste trabalho, é forçoso limitar o texto, pelo que termino com as seguintes<br />
27<br />
achegas, também elas transcritas <strong>de</strong>sta obra <strong>de</strong> João Lemos :
Escreveu em 1911 José Reinaldo <strong>de</strong> Quadros Oudinot: “Esta capela é<br />
actualmente mais conhecida pela invocação da Senhora da Vitória e a festa, em<br />
honra da imagem d'este nome, tem sido a mais aparatosa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> certa época.<br />
Houve para isso um motivo. Quando em 1832 a cholera attacou muitas povoações<br />
do norte do reino, foi <strong>Aveiro</strong> uma das que mais sofreram e não pouco sofreram os<br />
povos circunvizinhos. Então os habitantes <strong>de</strong> Vilar recorreram à protecção da<br />
Virgem, sob o título da Senhora da Vitória, promettendo sempre festejá-la”.<br />
Merece referência o cenário antigo que João Lemos <strong>de</strong>screve no seu livro, ao<br />
relacionar a capela com as transformações ocorridas na paisagem, fora das<br />
muralhas:<br />
“Por razões óbvias a capela é um marco histórico. É <strong>de</strong> supor no entanto que<br />
no início fosse apenas uma “ermida” isolada mas à vista <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, pois a um<br />
quilómetro em linha recta e à vista <strong>de</strong>sarmada e antes do aterro que tapou o vale<br />
em 1850 para a instalação do caminho <strong>de</strong> ferro (inaugurado em 1863), <strong>de</strong>via ver-se<br />
<strong>de</strong> cima das muralhas construídas em 1422 e <strong>de</strong>struídas em 1806 para obras da<br />
28<br />
barra” .<br />
Santo Amaro morreu a 15 <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong> 567. “O primeiro milagre que lhe é<br />
atribuído refere que caminhando sobre as águas salvou o jovem Plácido que caíra<br />
29<br />
ao açu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Subiaco” .
Capela <strong>de</strong> Santo Amaro
Capela do Espírito Santo
Capela do Espírito Santo<br />
Não tendo encontrado referências mais antigas sobre a história<br />
<strong>de</strong>sta capela, transcrevo, o que se lê em José Gonçalves Venâncio, no seu<br />
30<br />
livro intitulado, Esgueira - Al<strong>de</strong>ia Medieval .<br />
“... foi em tempo renovada e está em bom estado <strong>de</strong> conservação.<br />
Tornou-se na casa mortuária da Freguesia...”<br />
“ É bastante antiga. A sua porta principal, apesar <strong>de</strong> modificada<br />
conserva ainda o carácter do século XVII...”<br />
“Conserva-se o antigo e singelo arco cruzeiro, mas alterado. A<br />
escultura <strong>de</strong> calcário da Trinda<strong>de</strong> pertence à segunda meta<strong>de</strong> do século<br />
XV...”
Capela do Espirito Santo<br />
(Esgueira)
Capela <strong>de</strong> São Geraldo
Capela <strong>de</strong> São Geraldo<br />
31<br />
Segundo se lê na obra Santos <strong>de</strong> Cada Dia <strong>de</strong> José Leite, S.J., São Geraldo<br />
“ faleceu no dia 5 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1108”. Trata-se <strong>de</strong> uma das gran<strong>de</strong>s figuras da<br />
Igreja naquele tempo. Tal como refere aquele autor, S. Geraldo é “mais um antístite<br />
bracarense vindo do estrangeiro, nascido <strong>de</strong> família nobre e altamente religiosa, na<br />
diocese <strong>de</strong> Cahors na França”.<br />
Por força da sua gran<strong>de</strong> activida<strong>de</strong> consegue <strong>de</strong> Pascal II várias bulas, a<br />
partir das quais efectuou reformas importantes e se tornaram “sufragâneas da<br />
arquidiocese <strong>de</strong> Braga: Astorga, Lugo, Tui, Mondonhedo e Orense, mais Porto e<br />
Coimbra, com Viseu e Lamego”.<br />
Pelo que se lê, <strong>de</strong>certo conduzido pela sua elevada instrução e muito saber,<br />
além do sentido espiritual do seu múnus, o seu objectivo predominante era a<br />
formação do clero e a instrução religiosa do povo.
Capela <strong>de</strong> São Geraldo
Igreja das Carmelitas
Igreja das Carmelitas<br />
De acordo com uma última revisão da Igreja Católica no que respeita a<br />
classificação dos templos por igrejas ou capelas, a Igreja das Carmelitas é <strong>de</strong> facto<br />
Igreja, tal como são afinal todas as outras, exceptuando as capelas particulares.<br />
Este trabalho foi feito antes <strong>de</strong>sta nova postura, pelo que, por agora, estas<br />
são as capelas da cida<strong>de</strong> que existem no seu espaço urbano, ao fim do século.<br />
Quanto às Carmelitas, sendo igreja, alguns lhe chamaram capela do<br />
convento etc. – para quem se interessar procure tirar isso a limpo nas obras bem<br />
documentadas — e, por mim, se a coloco neste livro – em separata – é a pensar<br />
que daí não vem nenhum mal ao mundo.<br />
Contudo, a Igreja das Carmelitas é também um ponto <strong>de</strong> referência, <strong>de</strong> algum<br />
vulto, na história <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, <strong>de</strong>vido a ocorrências passadas em tempos relativamente<br />
recentes (ano <strong>de</strong> 1905).<br />
O caso é que quando entramos, por exemplo, na Biblioteca Municipal <strong>de</strong><br />
<strong>Aveiro</strong> cujo objectivo é como se fosse chegarmos a uma janela para olhar dali para<br />
o passado, somos surpreendidos por acontecimentos e atitu<strong>de</strong>s humanas que nos<br />
interpelam, principalmente quando conhecemos os lugares referidos nas <strong>de</strong>scrições,<br />
e estes nos mostraram vezes sem conta à evidência algo <strong>de</strong> errado, mas que <strong>de</strong> tal<br />
incongruência não sabíamos a causa.<br />
Estou a referir-me, obviamente, ao meio claustro, um verda<strong>de</strong>iro disparate<br />
arquitectónico, virado para a Praça Marquês do Pombal, on<strong>de</strong> hoje está instalada a<br />
Polícia <strong>de</strong> Segurança Pública.<br />
Pelo que se lê a propósito, foram momentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> impacto na vida e na<br />
história da cida<strong>de</strong> e, para os que nada sabem sobre a arquitectura daquela fachada,
vale a pena resumir algo do que se lê no Arquivo Distrital <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong> e no Inventário<br />
Artístico <strong>de</strong> Portugal da Aca<strong>de</strong>mia Nacional <strong>de</strong> Belas Artes – Distrito <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, por<br />
A. Nogueira Gonçalves; pág. 130: “O convento e a igreja foram inutilmente<br />
mutilados para se regularizar uma praça e <strong>de</strong>stacar a mo<strong>de</strong>sta arquitectura do<br />
edifício do poente; eliminaram a ala norte daquele e todo o coro alto, o fundo da<br />
igreja”.<br />
A propósito <strong>de</strong>ssa mutilação, escreveu Jaime <strong>de</strong> Magalhães Lima, em 1905<br />
— pág. 130 da mesma obra acima referida: — “Pensa o governo em mutilar o<br />
convento das carmelitas d`<strong>Aveiro</strong>, antigo passo ducal n`esta cida<strong>de</strong> uma das poucas<br />
relíquias das suas gran<strong>de</strong>zas. A comissão dos monumentos nacionais, tendo<br />
conhecimento do facto, encarregou o Sr. Ramalho Ortigão <strong>de</strong> examinar o assunpto<br />
e apresentar o seu parecer...”<br />
E Jaime Magalhães Lima, conclui:<br />
“ De nada valeu, que a mutilação <strong>de</strong>u-se. As obras <strong>de</strong> Arte só se conservam<br />
quando não incomodam ou não se fazem lembranças”.<br />
Ramalho Ortigão – crítico <strong>de</strong> arte – dizia, mostrando-se contra a mutilação do<br />
convento — Escreve Francisco Ferreira Neves, Arq. Dist. <strong>Aveiro</strong>, pág. 232, vol.<br />
XXVI: — “O edifício do convento das Carmelitas primitivamente palácio da<br />
residência dos duques <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, sem ser uma obra monumental, é uma curiosa<br />
construção típica, bastante característica dos usos sociais e do sentimento artístico<br />
do século <strong>de</strong>zassete”.<br />
Também em Francisco Ferreira Neves, Arq. Dist. <strong>Aveiro</strong>, Vol XXVI, pag. 313,<br />
se encontra o texto do Parecer <strong>de</strong> Ramalho Ortigão. Este <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se mostrar<br />
contra a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> parte do convento - diz a certa altura – pág. 314: — “É claro<br />
que nenhuma argumentação <strong>de</strong> conveniência higiénica ou <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> urbana<br />
<strong>de</strong>terminaria jamais que, sob qualquer pretexto, se fizesse <strong>de</strong>saparecer Notre-Dame
ou a Saint Chapelle em Paris, Westminster em Londres, o Palácio da Justiça em<br />
Bruxelas, ou o Vaticano em Roma...”<br />
Diz ainda: “in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> qualquer intervenção da arqueologia, da<br />
crítica, ou da lei, perante a simples consciência pública dos países civilizados, os<br />
altos interesses da arte predominam absolutamente sobre todos os <strong>de</strong>mais<br />
interesses da civilização”.<br />
“... É como que uma amputação dolorida e saudosa do seu próprio ser.” –<br />
disse ainda a propósito do corte que <strong>de</strong>cidiram fazer ao convento.<br />
Por sua vez os liberais argumentavam que a “capela” — expressão sua – se<br />
tornaria mais visível “...e portanto mais atraente ao culto divino”<br />
“Mas, quando mesmo se entenda que este templo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> restaurado e<br />
mais aformoseado ainda, não baste para perpetuar a singela tradição histórica que<br />
está ligada aquele convento, qual é a do duque <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, o regicida, lá fica ainda<br />
intacta a maior parte daquela gran<strong>de</strong> mole, on<strong>de</strong> os inimigos do progresso po<strong>de</strong>rão<br />
ir chorar as lágrimas <strong>de</strong> sentida sauda<strong>de</strong> por um passado iníquo...”. Ver pág. 238,<br />
Vol. XXVI do Arq. De <strong>Aveiro</strong>, <strong>de</strong> Francisco Ferreira Neves<br />
Eis pois questões <strong>de</strong> fundo, certamente como muitas outras dolorosas por<br />
que a cida<strong>de</strong> passou ao longo da sua história, e também as razões porque hoje<br />
<strong>de</strong>paramos com aquele enigmático conjunto arquitectónico: -Fachada da Igreja das<br />
Carmelitas, parte <strong>de</strong> um claustro cortado ao meio, mais a parte do todo, hoje<br />
instalações da Polícia <strong>de</strong> Segurança Pública.
Igreja das Carmelitas<br />
(Outrora Capela do Convento)
Notas Bibliográficas<br />
1. Gonçalves Gaspar, João; in São Gonçalo <strong>de</strong> Amarante, pág. 14, 16 e 20.<br />
2. Teixeira <strong>de</strong> Sousa, Ama<strong>de</strong>u; in S. Gonçalinho em redondilhas, pág. 45.<br />
3. Teixeira <strong>de</strong> Sousa, Ama<strong>de</strong>u; in S. Gonçalinho em redondilhas, pág. 10.<br />
4. Teixeira <strong>de</strong> Sousa, Ama<strong>de</strong>u; in S. Gonçalinho em redondilhas, pág. 58.<br />
5. Teixeira <strong>de</strong> Sousa, Ama<strong>de</strong>u; in S. Gonçalinho em redondilhas.<br />
6. Teixeira <strong>de</strong> Sousa, Ama<strong>de</strong>u; in S. Gonçalinho em redondilhas, pág. 23.<br />
7. Teixeira <strong>de</strong> Sousa, Ama<strong>de</strong>u; in S. Gonçalinho em redondilhas, pág. 11.<br />
8. Teixeira <strong>de</strong> Sousa, Ama<strong>de</strong>u; in S. Gonçalinho em redondilhas, pág. 50.<br />
9. Teixeira <strong>de</strong> Sousa, Ama<strong>de</strong>u; in S. Gonçalinho em redondilhas, pág. 22.<br />
10. Teixeira <strong>de</strong> Sousa, Ama<strong>de</strong>u; in S. Gonçalinho em redondilhas, pág. 29.<br />
11. Neves, Amaro; in <strong>Aveiro</strong> – História e Arte, pág. 70.<br />
12. Christo, António; in <strong>Capelas</strong> <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, pág. 68.<br />
13. Gomes, Marques; in Memórias <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, Arq. Distr. <strong>Aveiro</strong>, pág 145.<br />
14. Christo, António; in <strong>Capelas</strong> <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, pág. 97.<br />
15. Christo, António; in <strong>Capelas</strong> <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, pág. 27.<br />
16. Christo, António; in <strong>Capelas</strong> <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, pág. 56.<br />
17. Leite, José; in Santos <strong>de</strong> cada dia, Vol. II, pág. 491.<br />
18. Christo, António; in <strong>Capelas</strong> <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, pág. 85.
19. Christo, António; in <strong>Capelas</strong> <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, pág.51.<br />
20. Ferreira Neves, Francisco; in Confraria dos Pescadores e Mareantes <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, Arq. Ditr.<br />
<strong>Aveiro</strong>, vol. XXXIX, pág. 241 a 271.<br />
21. Pinho Queimado, Cristóvão <strong>de</strong>; in Memórias sobre <strong>Aveiro</strong>, Arq. Distr. De <strong>Aveiro</strong>, pág. 99.<br />
22. Neves, Amaro; in <strong>Aveiro</strong> – História e Arte, pág. 114.<br />
23. Evangelista <strong>de</strong> Campo, João; in Achegas para a Historiografia Aveirense, pág. 25.<br />
24. Christo, António; in <strong>Capelas</strong> <strong>de</strong> <strong>Aveiro</strong>, pág. 79.<br />
25. Pereira Lemos, João; in Vilar Doce e Poético Cantinho, pág. 25.<br />
26. Pereira Lemos, João; in Vilar Doce e Poético Cantinho, pág. 123.<br />
27. Pereira Lemos, João; in Vilar Doce e Poético Cantinho, pág.132.<br />
28. Pereira Lemos, João; in Vilar Doce e Poético Cantinho, pág. 115.<br />
29. Pereira Lemos, João; in Vilar Doce e Poético Cantinho, pág. 135.<br />
30. Venâncio, José Gonçalves; in Esgueira – Al<strong>de</strong>ia Medieval.<br />
31. Leite, José; in Santos <strong>de</strong> cada dia, Vol. II, pág. 404.