15.04.2013 Views

Contribuições da Fonética Acústica para a Formação do ... - PUC-SP

Contribuições da Fonética Acústica para a Formação do ... - PUC-SP

Contribuições da Fonética Acústica para a Formação do ... - PUC-SP

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ASSUNTA MANZI AGUENA<br />

CONTRIBUIÇÕES DA FONÉTICA ACÚSTICA PARA A<br />

FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE INGLÊS:UM ESTUDO DE CASO<br />

MESTRADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA<br />

LINGUAGEM<br />

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO<br />

2006


ASSUNTA MANZI AGUENA<br />

CONTRIBUIÇÕES DA FONÉTICA ACÚSTICA PARA A<br />

FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE INGLÊS:UM ESTUDO DE CASO<br />

Dissertação apresenta<strong>da</strong> à Banca Examina<strong>do</strong>ra <strong>da</strong><br />

Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica de São Paulo,<br />

como exigência parcial <strong>para</strong> obtenção <strong>do</strong> título de<br />

MESTRE em Lingüística Aplica<strong>da</strong> e Estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

Linguagem, sob orientação <strong>da</strong> Profa. Dra. Aglael<br />

Juliana Apareci<strong>da</strong> Gama Rossi.<br />

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO<br />

2006


Banca Examina<strong>do</strong>ra<br />

___________________________________________________<br />

Prof a Dra. Aglael Juliana Apareci<strong>da</strong> Gama Rossi – Orienta<strong>do</strong>ra<br />

___________________________________________________<br />

Prof a Dra. Paulina Dalva Artimonte Rocca (<strong>PUC</strong>­<strong>SP</strong>)<br />

___________________________________________________<br />

Prof. Dr. John Robert Schmitz (UNICAMP)


Autorizo, exclusivamente <strong>para</strong> fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou<br />

parcial desta dissertação por processos de fotocopia<strong>do</strong>ras ou eletrônicos<br />

Assinatura: ____________________________ São Paulo, 31 de agosto de 2006


Ao meu mari<strong>do</strong>, Marcelo, por tu<strong>do</strong> que conquistamos juntos nesses anos de<br />

convivência e, especialmente, por sua constante aju<strong>da</strong> e paciência com que<br />

acompanhou to<strong>da</strong>s as etapas deste trabalho, colaboran<strong>do</strong> de maneira decisiva <strong>para</strong> o<br />

meu crescimento pessoal e profissional.


“Assim, se to<strong>da</strong>s as coisas inteiras pudessem ser parti<strong>da</strong>s<br />

ao meio ... to<strong>do</strong>s teriam possibili<strong>da</strong>des de sair de sua<br />

uni<strong>da</strong>de obtusa e ignorante.<br />

Eu era inteiro e to<strong>da</strong>s as coisas eram, <strong>para</strong> mim, naturais<br />

e confusas, estúpi<strong>da</strong>s como o ar, acreditava ver tu<strong>do</strong>;<br />

porém,era apenas aparência. Se algum dia se transformar<br />

na metade de si mesmo compreenderá coisas que estão<br />

além <strong>da</strong> inteligência comum <strong>do</strong>s cérebros inteiros. Terá<br />

perdi<strong>do</strong> a metade de si mesmo e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>; porém, a<br />

metade que sobrar será mil vezes mais profun<strong>da</strong> e<br />

preciosa.”<br />

Ítalo Calvino – O Visconde Parti<strong>do</strong> ao Meio


AGRADECIMENTOS<br />

Ao Mestre Ama<strong>do</strong>, Senhor Jesus, pela esperança renova<strong>da</strong> em meu coração,<br />

fortalecen<strong>do</strong>­me , a ca<strong>da</strong> dia, <strong>para</strong> a realização de mais este sonho. Ele é minha<br />

fonte inesgotável, justiça, graça e amor.<br />

“Quero trazer à memória o que me pode <strong>da</strong>r esperança. As misericórdias <strong>do</strong><br />

Senhor são a causa de não sermos consumi<strong>do</strong>s, porque as suas misericórdias não<br />

têm fim; renovam­se ca<strong>da</strong> manhã. Grande é a tua fideli<strong>da</strong>de. A minha porção é o<br />

senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele. Bom é o Senhor <strong>para</strong> os que<br />

esperam por Ele, <strong>para</strong> a alma que o busca. Bom é aguar<strong>da</strong>r a salvação <strong>do</strong> Senhor,<br />

e isso, em silêncio”.<br />

(Lm 3.21­26)<br />

À Prof a Aglael Gama Rossi, pelo incentivo e colaboração constantes no decorrer <strong>da</strong><br />

orientação deste trabalho; pela disponibili<strong>da</strong>de, confiança, dedicação, amizade e,<br />

principalmente, por me aju<strong>da</strong>r na construção <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> profissional e pessoal.<br />

Às prof as Elizabeth Mara Pow, Sandra Madureira e Zaina A. Ab<strong>da</strong>lla Nunes, pelo<br />

senso profissional e crítico e pelas sugestões valiosas na qualificação deste<br />

trabalho.<br />

Aos professores <strong>do</strong>utores <strong>da</strong> Banca Examina<strong>do</strong>ra, por procederem à análise deste<br />

trabalho de pesquisa.<br />

Aos professores <strong>do</strong> LAEL que muito me ensinaram.


À minha mãe, que se fez ausente, estan<strong>do</strong> sempre presente.<br />

Aos meus irmãos e familiares, pelo apoio em to<strong>do</strong>s os momentos <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> e,<br />

especialmente, a minha irmã, Carla, por sua disponibili<strong>da</strong>de e dedicação <strong>para</strong> com<br />

os <strong>da</strong><strong>do</strong>s deste trabalho.<br />

À Lia Buratto, pela revisão <strong>do</strong> texto.<br />

À Ernesto Luis Foschi, técnico <strong>do</strong> Laboratório de Rádio e TV <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de<br />

Comunicação e Filosofia <strong>da</strong> <strong>PUC</strong>­<strong>SP</strong>, pela serie<strong>da</strong>de e entusiasmo com que se<br />

dedicou às horas de gravação e edição <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />

Aos colegas <strong>do</strong> Programa de Estu<strong>do</strong>s Pós­gradua<strong>do</strong>s em Lingüística Aplica<strong>da</strong> e<br />

Estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Linguagem <strong>da</strong> Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica de são Paulo e <strong>do</strong><br />

Laboratório Integra<strong>do</strong> de Análise <strong>Acústica</strong> e Cognição, pela cooperação e incentivo<br />

constantes.<br />

Aos sujeitos de pesquisa, que, dispon<strong>do</strong> de seu tempo e paciência, realizaram as<br />

gravações deste trabalho.<br />

Aos funcionários <strong>da</strong> secretaria e <strong>do</strong> laboratório de jornalismo <strong>do</strong> Programa de<br />

Estu<strong>do</strong>s Pós­gradua<strong>do</strong>s em Lingüística Aplica<strong>da</strong> e Estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Linguagem <strong>da</strong><br />

Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica de São Paulo, pelo auxílio e atenção.


RESUMO<br />

Esta dissertação de mestra<strong>do</strong> tem como objetivo investigar os aspectos rítmicos e<br />

entoacionais na produção <strong>do</strong> inglês por um falante proficiente nessa língua e nativo<br />

<strong>do</strong> português brasileiro (PB), ten<strong>do</strong> como referência a produção de um falante<br />

nativo <strong>do</strong> inglês, e assim inspecionar de que mo<strong>do</strong> e em que grau processos<br />

fonético­fonológicos <strong>da</strong> relação entre sons e ritmo e entoação <strong>da</strong> língua­alvo são<br />

mapea<strong>do</strong>s na prosódia <strong>da</strong> língua materna. A relação entre a produção de sons e<br />

prosódia é observa<strong>da</strong> na fala corrente por meio <strong>da</strong> transformação de sons na juntura<br />

entre palavras, <strong>do</strong> uso de pausas, <strong>da</strong> assimilação, redução e/ou apagamento de sons,<br />

entre outros. Para aproximar­se de uma produção de fala corrente, foi utiliza<strong>do</strong> um<br />

corpus composto por 40 sentenças, retira<strong>da</strong>s <strong>do</strong> script <strong>do</strong> filme Cheaper by the<br />

Dozen (Doze é Demais), as quais foram digita<strong>da</strong>s em fichas individuais e li<strong>da</strong>s por<br />

ca<strong>da</strong> sujeito, ambos <strong>do</strong> sexo feminino e na faixa etária entre 25 e 30 anos, em seis<br />

repetições, sen<strong>do</strong> as fichas embaralha<strong>da</strong>s antes de ca<strong>da</strong> repetição. A gravação <strong>da</strong>s<br />

leituras foi feita no Estúdio de Rádio e TV <strong>da</strong> <strong>PUC</strong>­<strong>SP</strong>. A análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s foi<br />

feita por meio <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong>, a partir de medi<strong>da</strong>s de duração (tempo que um<br />

som leva <strong>para</strong> ser produzi<strong>do</strong>) e <strong>da</strong> variação <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental (variação de<br />

tons durante a fala), realiza<strong>da</strong>s com base na forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong> alinha<strong>da</strong> a<br />

espectrogramas de ban<strong>da</strong> larga, extraí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sinal de fala digitaliza<strong>do</strong>, por um<br />

programa de análise acústica. Foram seleciona<strong>da</strong>s algumas sentenças <strong>do</strong> corpus<br />

<strong>para</strong> análise, nas quais foram medi<strong>do</strong>s segmentos acústicos correspondentes a<br />

vogais e consoantes. Em segui<strong>da</strong>, foram elabora<strong>do</strong>s gráficos <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s de<br />

duração e f0 <strong>para</strong> observar o quanto os <strong>do</strong>is sujeitos aproximavam­se ou<br />

distanciavam­se na produção <strong>do</strong>s sons e <strong>do</strong> ritmo e entoação <strong>do</strong> inglês em função<br />

<strong>da</strong> interferência <strong>do</strong> português brasileiro sobre o sujeito não­nativo. Os resulta<strong>do</strong>s<br />

obti<strong>do</strong>s indicam que: (1) a produção de sons e <strong>do</strong> ritmo e entoação estão<br />

intimamente relaciona<strong>da</strong>s na fala corrente; (2) há interferência <strong>da</strong> língua materna<br />

(neste trabalho, o português brasileiro) na produção de sons e prosódia <strong>do</strong> inglês;<br />

porém, o aspecto importante é que essa interferência não é categórica; poden<strong>do</strong> ou<br />

não ocorrer e, se ocorrer, fazê­lo em diferentes graus; e (3) a <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong><br />

proporciona vantagens <strong>para</strong> o ensino e aprendizagem <strong>da</strong>s questões rítmicas e<br />

entoacionais de uma língua estrangeira, na medi<strong>da</strong> em que os diferentes aspectos <strong>da</strong><br />

produção podem ser observa<strong>do</strong>s, possibilitan<strong>do</strong> que professores brasileiros de<br />

inglês possam explicitar as diferenças entre a língua materna e a língua­alvo aos<br />

seus alunos, diferenças que podem ou não ser por eles percebi<strong>da</strong>s e/ou produzi<strong>da</strong>s,<br />

ou incorpora<strong>da</strong>s, e em diferentes graus.<br />

Palavras­chave: Ensino e aprendizagem de inglês; <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong>; Relação entre<br />

som e ritmo e entoação; Mapeamento entre língua materna e língua­alvo


ABSTRACT<br />

This dissertation aims at investigating the rhythmical and intonation aspects of the<br />

English production by a fluent speaker of this language whose mother language is<br />

Portuguese, having as a reference the production of a native speaker of English, and<br />

thus, to inspect how and in which level the phonological­phonetic processes related<br />

to sounds, rhythm and intonation of the target language are transferred to the<br />

mother language prosody. The relation between the sound production and the<br />

prosody can be seen in the connected speech provided by sound modifications in<br />

the juncture between words, in the use of pauses, assimilation, reduction and<br />

elimination of sounds, among others. The corpus, comprised of 40 sentences from<br />

the film Cheaper by the Dozen was used to get closer to a connected speech<br />

production. The sentences were typed in individual cards and read six times by<br />

each subject, both female, between 25 and 30 years old, and the cards were shuffled<br />

before each repetition. The six reading recordings were <strong>do</strong>ne at <strong>PUC</strong>­<strong>SP</strong>’s Radio<br />

and TV studio. The <strong>da</strong>ta analysis was provided by the Acoustic Phonetic using<br />

duration measures (time a sound takes to be produced) and the variation of the<br />

fun<strong>da</strong>mental frequency (tone variation during the speech) based on the waveform<br />

ranged to the wide­band spectrograms, extracted from the speech signal digitalized<br />

by an acoustic analysis program. Some sentences from the corpus were chosen to<br />

the analysis, and consonantal and vowel segments were measured. Duration<br />

measures and f0 charts were made in order to observe how much the subjects got<br />

closer or farther to the sound production, and to the English rhythm and intonation<br />

due to the Brazilian Portuguese interference. The final results point that: (1) the<br />

sound production, English rhythm and intonation are related to the connected<br />

speech; (2) the mother language (in this case, the Brazilian Portuguese) interferes in<br />

the sound production and English prosody, but, an important aspect is that this<br />

interference is not categorical, it can occur or not and, if it occurs, it must be <strong>do</strong>ne<br />

in different levels; and (3) the Acoustic Phonetic provides some advantages to the<br />

teaching and learning of a foreign language rhythm and intonation, in so far as the<br />

different production aspects can be observed, making possible that the Brazilian<br />

English teacher makes clear the differences between the mother language and the<br />

target one to the students, differences that can or can’t be noticed or produced by<br />

the students, and in different levels.<br />

Key words: English teaching and learning, Acoustic Phonetic, relation between<br />

sound and rhythm and intonation, the transfer process from the mother language to<br />

the target one.


SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO 01<br />

CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />

1.1. A pronúncia nos méto<strong>do</strong>s de ensino e aprendizagem <strong>do</strong> inglês e a formação<br />

<strong>do</strong>cente 10<br />

1.1.1.A interferência <strong>da</strong> língua materna (LM) na aprendizagem <strong>da</strong> língua<br />

estrangeira (LE) 17<br />

1.1.2.A questão <strong>da</strong> inteligibili<strong>da</strong>de 30<br />

1.1.3. Paradigma nativo/não­nativo 39<br />

1.2. Aspectos segmentais e prosódicos <strong>da</strong> fala corrente 49<br />

1.2.1. Entoação e Ritmo 63<br />

1.2.2.Fonema e Traço Distintivo 78<br />

1.2.3. Fonemas <strong>do</strong> inglês que geram dificul<strong>da</strong>des de pronúncia <strong>para</strong> os aprendizes<br />

brasileiros 82<br />

1.2.4. Composição <strong>Acústica</strong> 89<br />

CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA DE PESQUISA<br />

2.1. A escolha <strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia de pesquisa 96<br />

2.1.1. Sujeitos de pesquisa 98<br />

2.1.2. Corpus de pesquisa 99<br />

2.1.3. Gravação <strong>do</strong> corpus de pesquisa 100<br />

2.1.4. Critérios <strong>para</strong> a análise acústica 101


CAPÍTULO 3 – DISCUSSÃO E RESULTADOS DOS DADOS 109<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS 189<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 194<br />

ANEXOS<br />

ANEXO 1 – Termo de consentimento 207<br />

ANEXO 2 – Corpus 208<br />

ANEXO 3 – Classificação <strong>do</strong>s sons em português e inglês 212


LISTA DE FIGURAS<br />

FIGURAS (CAP. II) PÁGS.<br />

FIGURA 1: Forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong> e espectrograma de ban<strong>da</strong> larga <strong>para</strong> a<br />

frase didn’t think about that, na fala de NA, com a etiquetação de<br />

ca<strong>da</strong> segmento, em transcrição ortográfica, e, na segun<strong>da</strong> cama<strong>da</strong>,<br />

valores correspondentes de duração em ms. As freqüências<br />

formânticas <strong>da</strong>s vogais estão rastrea<strong>da</strong>s pelas linhas vermelhas<br />

pontilha<strong>da</strong>s<br />

FIGURA 2: Forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong> e espectrograma de ban<strong>da</strong> larga <strong>para</strong> a<br />

frase didn’t think about that, na fala de NA, com o contorno <strong>da</strong><br />

freqüência fun<strong>da</strong>mental (f0), em linha azul<br />

FIGURAS (CAP. III) PÁGS.<br />

FIGURA 1: Repetição 1 de But we por NA 112<br />

FIGURA 2: Repetição 1 de But we por NON 113<br />

FIGURA 3: Repetição 2 de But we por NON 114<br />

FIGURA 4: Repetição 3 de But we por NON 115<br />

FIGURA 5: Repetição 1 de times por NON 115<br />

FIGURA 6: Repetição 1 de zero out por NA 116<br />

FIGURA 7: Repetição 1 de zero out por NON 117<br />

FIGURA 8: Repetição 5 de ero out our por NON 118<br />

FIGURA 9: Repetição 6 de bank account por NA 120<br />

FIGURA 10: Repetição 6 de bank account por NON 121<br />

FIGURA 11: Contorno <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental no padrão<br />

entoacional <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de declarativa de but we didn’t think por NA<br />

FIGURA 12: Contorno <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental no padrão<br />

entoacional <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de declarativa de but we didn’t think por<br />

05<br />

06<br />

130<br />

132


NON<br />

FIGURA 13: Repetição 1 de is still por NON 134/157<br />

FIGURA 14: Repetição 1 de is still por NA 135<br />

FIGURA 15: Repetição 3 de having small por NON 136<br />

FIGURA 16: Repetição 3 de having a small por NA 137<br />

FIGURA 17: Repetição 3 de having small por NON 140<br />

FIGURA 18: Repetição 3 de having a small por NA 140<br />

FIGURA 19: Repetição 1 de I spent most por NA 142<br />

FIGURA 20: Repetição 1 de I spent most por NON 143<br />

FIGURA 21: Repetição 3 de emo (spent most) por NON 144<br />

FIGURA 22: Repetição 5 de entm (spent most) por NON 145<br />

FIGURA 23: Repetição 6 de spenm (spent most) por NON 146<br />

FIGURA 24: Repetição 5 de emo (spent most) por NA 146<br />

FIGURA 25: Repetição 1 de number por NA 147<br />

FIGURA 26: Repetição 3 de number por NA 148<br />

FIGURA 27: Repetição 4 de number por NA 148<br />

FIGURA 28: Repetição 1 de number por NON 149<br />

FIGURA 29: Repetição 1 de kids but por NA 150<br />

FIGURA 30: Repetição 1 de kids but por NON 151<br />

FIGURA 31: Repetição 5 de still our por NON 152<br />

FIGURA 32: Repetição 5 de sure por NON 152<br />

FIGURA 33: Repetição 5 de still our por NA 153<br />

FIGURA 34:Repetição 5 de st de still por NON 155<br />

FIGURA 35: Repetição 5 de st de still por NA 156<br />

FIGURA 36: Repetição 3 de children but por NON 163


FIGURA 37: Repetição 3 de children but por NA 164<br />

FIGURA 38: Repetição 6 de children but por NA 165<br />

FIGURA 39: Repetição 2 de we still por NON 175<br />

FIGURA 40 Repetição 3 de we still por NON 175<br />

FIGURA 41: Repetição 6 de we still por NA 177<br />

FIGURA 42: Repetição 4 de have a por NON 178<br />

FIGURA 43: Repetição 4 de have a por NA 179<br />

FIGURA 44: Repetição 6 de children por NON 179<br />

FIGURA 45: Repetição 6 de children por NA 180<br />

FIGURA 46: Repetição 1 de but no por NON 181<br />

FIGURA 47: Repetição 3 de but no por NON 182<br />

FIGURA 48: Repetição 1 de but no (t seta[d] por NA 183<br />

FIGURA 49: Repetição 4 de met at por NON 184<br />

FIGURA 50: repetição 4 pelo sujeito NA de met at 185<br />

FIGURA 51: Repetição 4 de got a por NON 185<br />

FIGURA 52: Repetição 4 de got a por NA 186<br />

FIGURA 53: Repetição 2 de got us por NON 186<br />

FIGURA 54: Repetição 2 de got us por NA 187<br />

FIGURA 55: Repetição 6 de job offers por NA 188<br />

FIGURA 56: Repetição 6 de job offers por NA 188<br />

FIGURA 57: Repetição 6 de experts at managing por NON 189


FIGURA 58: Repetição 6 de experts at managing por NA 189


LISTA DE TABELAS<br />

TABELAS (CAP. II) PÁGS.<br />

TABELA 1: Valores percentuais de duração, média, desvio­padrão e<br />

coeficiente de variação <strong>da</strong>s seis repetições <strong>da</strong> sentença It’s the<br />

number of times we zero out our bank account each year, na fala de<br />

NA<br />

TABELA 2: Valores de f0, medi<strong>do</strong>s nas porções inicial, medial e<br />

final, <strong>da</strong>s vogais <strong>da</strong>s seis repetições <strong>da</strong> sentença It’s the number of<br />

times we zero out our bank account each year, na fala de NA. As<br />

células em branco correspondem aos locais nos quais não puderam<br />

ser extraí<strong>do</strong>s os valores de f0<br />

TABELAS (CAP. III) PÁGS.<br />

TABELA 1: Valores de f0 nas porções inicial, medial e final <strong>da</strong>s seis<br />

repetições de our bank account <strong>da</strong> sentença It’s the number of times<br />

we zero out our bank account each year na fala de NA<br />

TABELA 2: Valores de f0 nas porções inicial, medial e final <strong>da</strong>s seis<br />

repetições de our bank account <strong>da</strong> sentença It’s the number of times<br />

we zero out our bank account each year na falade NON<br />

TABELA 3 – Valores de duração em ms e % <strong>para</strong> os elementos <strong>da</strong><br />

seqüência i, ng, a e sm de having a small, com média, desvio­padrão<br />

e coeficiente de variação <strong>para</strong> NA<br />

TABELA 4 – Valores de duração em ms e % <strong>para</strong> os elementos <strong>da</strong><br />

seqüência ing e sm de having a small, com média, desvio­padrão e<br />

coeficiente de variação <strong>para</strong> NON<br />

TABELA 5 – Valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s no meio <strong>da</strong>s vogais /a/,<br />

/ing/, /all/ <strong>para</strong> NON<br />

TABELA 6 – Valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s no meio <strong>da</strong>s vogais /i/, /a/,<br />

/all/ <strong>para</strong> NA<br />

TABELA 7 Valores <strong>da</strong> taxa de elocução <strong>da</strong> sentença Sure, twelve is<br />

still our number pelo sujeito NA<br />

TABELA 8 Valores <strong>da</strong> taxa de elocução <strong>da</strong> sentença Sure, twelve is<br />

still our number pelo sujeito NON<br />

TABELA 9: Valores <strong>da</strong> taxa de elocução e <strong>da</strong> taxa de articulação <strong>da</strong><br />

sentença We still have a mess of children, but no theories por NON e<br />

107<br />

109<br />

122<br />

123<br />

138<br />

138<br />

141<br />

141<br />

162<br />

162<br />

169


NA<br />

TABELA 10: Valores de duração em ms e % <strong>para</strong> a pausa inseri<strong>da</strong><br />

entre as frases entoacionais //We still have a mess of children//but no<br />

theories// <strong>para</strong> NON<br />

TABELA. 11: Valores de duração em ms e % <strong>para</strong> a pausa inseri<strong>da</strong><br />

entre as frases entoacionais //We still have a mess of children//but no<br />

theories//<strong>para</strong> NA<br />

TABELA 12: Valores de duração em ms e % <strong>para</strong> a sequência st em<br />

still por NON<br />

TABELA 13: Valores de duração em ms e % <strong>para</strong> a sequência st em<br />

still por NA<br />

169<br />

170<br />

174<br />

176


LISTA DE GRÁFICOS<br />

GRÁFICOS (CAP. III) PÁGS.<br />

GRÁFICO 1 – valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em três pontos <strong>da</strong>s vogais<br />

<strong>da</strong> sentença “It’s the number of times we zero out our bank account<br />

each year” <strong>para</strong> NA<br />

GRÁFICO 2 – valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em três pontos <strong>da</strong>s vogais<br />

<strong>da</strong> sentença “It’s the number of times we zero out our bank account<br />

each year” <strong>para</strong> NON<br />

GRÁFICO 3 – média e desvio­padrão <strong>para</strong> as vogais <strong>da</strong> sentença<br />

“It’s the number of times we zero out our bank account each<br />

year”<strong>para</strong> NA<br />

GRÁFICO 4 – média e desvio­padrão <strong>para</strong> as vogais <strong>da</strong> sentença<br />

“It’s the number of times we zero out our bank account each<br />

year”<strong>para</strong> NON<br />

GRÁFICO 5 – média e desvio­padrão <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong> sentença<br />

“It’s the number of times we zero out our bank account each<br />

year”<strong>para</strong> NA<br />

GRÁFICO 6 – média e desvio­padrão <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong> sentença 128<br />

“It’s the number of times we zero out our bank account each<br />

year”<strong>para</strong> NON<br />

GRÁFICO 7 – valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em três pontos <strong>da</strong>s vogais 130<br />

<strong>da</strong> sentença “But we didn’t think about that”<strong>para</strong> NA<br />

GRÁFICO 8 – valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em três pontos <strong>da</strong>s vogais 132<br />

<strong>da</strong> sentença “But we didn’t think about that” <strong>para</strong> NON<br />

GRÁFICO 9 – média e desvio­padrão <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong> sentença 154<br />

“Sure, twelve is still our number” <strong>para</strong> NA<br />

GRÁFICO 10 – média e desvio­padrão <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong> sentença 154<br />

“Sure, twelve is still our number” <strong>para</strong> NON<br />

GRÁFICO 11 – média e desvio­padrão <strong>da</strong>s vogais <strong>da</strong> sentença “Sure, 158<br />

twelve is still our number” <strong>para</strong> NA<br />

GRÁFICO 12 – média e desvio­padrão <strong>da</strong>s vogais <strong>da</strong> sentença “Sure, 159<br />

twelve is still our number” <strong>para</strong> NON<br />

GRÁFICO 13 – valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em três pontos <strong>da</strong>s 161<br />

vogais <strong>da</strong> sentença “Sure, twelve is still our number” <strong>para</strong> NA<br />

GRÁFICO 14 – valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em três pontos <strong>da</strong>s 161<br />

121<br />

122<br />

124<br />

125<br />

128


vogais <strong>da</strong> sentença “Sure, twelve is still our number” <strong>para</strong> NON<br />

GRÁFICO 15 – média e desvio­padrão <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong> sentença<br />

“We still have a mess of children, but no theories” <strong>para</strong> NA<br />

GRÁFICO 16 – média e desvio­padrão <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong> sentença<br />

“We still have a mess of children, but no theories” <strong>para</strong> NON<br />

GRÁFICO 17 – valores de duração, <strong>para</strong> as seis repetições <strong>da</strong><br />

sentença “We still have a mess of children, but no theories” <strong>para</strong> NA<br />

GRÁFICO 18 – valores de duração, <strong>para</strong> as seis repetições <strong>da</strong><br />

sentença “We still have a mess of children, but no theories” <strong>para</strong><br />

NON<br />

GRÁFICO 19 – valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em um ponto <strong>da</strong>s vogais<br />

<strong>da</strong> sentença “We still have a mess of children, but not theories” <strong>para</strong><br />

NA<br />

GRÁFICO 20 – valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em um ponto <strong>da</strong>s vogais<br />

<strong>da</strong> sentença “We still have a mess of children, but not theories” <strong>para</strong><br />

NA<br />

GRÁFICO 21 – média e desvio­padrão <strong>da</strong>s vogais <strong>da</strong> sentença “We<br />

still have a mess of children, but no theories” <strong>para</strong> NA<br />

GRÁFICO 22 – média e desvio­padrão <strong>da</strong>s vogais <strong>da</strong> sentença “We<br />

still have a mess of children, but no theories” <strong>para</strong> NON<br />

166<br />

166<br />

167<br />

167<br />

171<br />

172<br />

173<br />

173


LISTA DE QUADROS<br />

QUADROS (CAP. I) PÁGS<br />

QUADRO 1: Assimilação coalescente 52<br />

QUADRO 2: Alterações <strong>da</strong> acentuação nas palavras <strong>do</strong> inglês 61<br />

QUADRO 3: Sons vocálicos 85<br />

QUADRO 4: Sons vocálicos reduzi<strong>do</strong>s 86


SÍMBOLOS DO ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL 1<br />

As consoantes<br />

b bee, cab<br />

p pen, lip<br />

d <strong>do</strong>g, bad<br />

t too, cat<br />

g game, bag<br />

k cat, pack<br />

v voice, love<br />

f fall, life<br />

ð then, mother<br />

θ thin, path<br />

z zoo, <strong>do</strong>es<br />

s so, kiss<br />

measure, beige<br />

∫ she, fish<br />

h he, ahead<br />

cheese, watch<br />

1 Conforme descrito por Underhill (1994) em seu quadro fonêmico.


joy, age<br />

m man, seem<br />

n no, son<br />

ŋ singer, ring<br />

l look, full<br />

r red, car<br />

w wet, always<br />

j yet, you<br />

As vogais<br />

I it, fit<br />

i: key, feet<br />

put, foot<br />

u: hoot, mood<br />

e debt, bed<br />

Ә alive, climate<br />

: her, early<br />

: bore, talk<br />

æ hat, bad


hut, mud<br />

a: heart, far<br />

hot, pot<br />

IӘ clear, beard<br />

eI<br />

<strong>da</strong>te, eight<br />

UӘ sure, poor<br />

I boy, poison<br />

ӘU so, pole<br />

eӘ parent, care<br />

aI<br />

aU<br />

ice, fire<br />

out, hour


INTRODUÇÃO<br />

More important by far is competence as an instructor and<br />

this involves not only a solid education in pe<strong>da</strong>gogy but,<br />

even more importantly for EIL, an appreciation of ‘the<br />

foreignness and not the nativeness of the language’<br />

(Wid<strong>do</strong>wson)


A importância de estu<strong>da</strong>r a pronúncia no ensino de línguas tem recebi<strong>do</strong><br />

pouca atenção no que diz respeito ao Inglês como língua estrangeira. O fato de os<br />

professores focarem­se na Gramática e no vocabulário fez com que eles<br />

adquirissem maior competência na instrução destes aspectos lingüísticos em<br />

contraposição ao ensino <strong>da</strong> pronúncia. Morley (1987), Abreu (1997) e Jenkins<br />

(2000) afirmam que, desde o final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 60 até aproxima<strong>da</strong>mente o início <strong>da</strong><br />

de 80, o ensino <strong>da</strong> pronúncia ain<strong>da</strong> não era priori<strong>da</strong>de, tanto nos cursos de idiomas<br />

como na formação <strong>do</strong> professor.<br />

Jenkins (2000) e Lieff (2003) referem que o ensino <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> e Fonologia 2<br />

<strong>do</strong> inglês na formação <strong>do</strong> graduan<strong>do</strong> de Letras, e, de um mo<strong>do</strong> geral, por to<strong>do</strong>s<br />

aqueles que atuam no ensino de Inglês a falantes brasileiros, tem si<strong>do</strong> relega<strong>do</strong>. Em<br />

minha experiência, enquanto professora universitária e de Ensino Fun<strong>da</strong>mental e<br />

Médio – em escola particular –, tenho constata<strong>do</strong> que os livros didáticos, no que diz<br />

respeito à pronúncia, restringem­se a mostrar as diferenças na produção ou<br />

articulação de sons em ativi<strong>da</strong>des, tais como: minimal pairs (sheep /∫i:p/ X ship<br />

/∫Ip/), repetition drills (give me a cloth, give me some clothes), tongue­twisters (she<br />

sells seashells by the seashore, the shells she sells are seashells for sure) e<br />

transcrições fonêmicas (but /bΛt/; that /ðæt/), enfocan<strong>do</strong>, principalmente, os sons<br />

que não existem na língua­alvo.<br />

2 “A <strong>Fonética</strong> visa ao estu<strong>do</strong> sistemático <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong> fala <strong>do</strong> ponto de vista articulatório, com o intuito de verificar<br />

como os sons são articula<strong>do</strong>s ou produzi<strong>do</strong>s pelo aparelho fona<strong>do</strong>r, ou <strong>do</strong> ponto de vista acústico, visan<strong>do</strong> à análise<br />

<strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des físicas de sua produção e propagação, ou ain<strong>da</strong> <strong>do</strong> ponto de vista auditivo, com o objetivo de<br />

explicar como ocorre a recepção desses elementos. A Fonologia dedica­se ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sistemas de sons, de sua<br />

descrição, estrutura e funcionamento, analisa a forma <strong>da</strong>s sílabas, morfemas, palavras e frases, como se organizam e<br />

como se estabelece a relação “mente” e “língua” de mo<strong>do</strong> que a comunicação se processe” (Hernan<strong>do</strong>rena, 1996).<br />

1


Na maior parte <strong>da</strong>s vezes, ao fornecer um modelo de articulação de um<br />

determina<strong>do</strong> som, o professor não explicita os movimentos envolvi<strong>do</strong>s em sua<br />

produção e nem as semelhanças e diferenças entre ele e aqueles sons mais<br />

próximos à língua materna, neste caso, o sistema fonológico <strong>do</strong> português<br />

brasileiro.<br />

Um exemplo <strong>do</strong> que foi dito acima pode ser observa<strong>do</strong> na pronúncia de<br />

palavras que contêm a fricativa inter­dental não­vozea<strong>da</strong> (/θ/), tais como, think,<br />

thank, thumb, as quais são mapea<strong>da</strong>s pelo falante brasileiro, aprendiz de Inglês, na<br />

fricativa lábio­dental não­vozea<strong>da</strong> /f/, ou na oclusiva alveolar não­vozea<strong>da</strong> /t/. Da<br />

mesma forma, palavras que contêm a fricativa inter­dental vozea<strong>da</strong> são produzi<strong>da</strong>s<br />

com a oclusiva alveolar vozea<strong>da</strong> /d/, como nos exemplos: that, there, then,<br />

themselves, the, them, entre outros. Isto ocorre devi<strong>do</strong> ao fato de que as fricativas<br />

inter­dentais não­vozea<strong>da</strong>s e vozea<strong>da</strong>s partilham traços articulatórios e acústicos,<br />

tanto com a oclusiva alveolar não­vozea<strong>da</strong> (/t/) como com as fricativas lábio­<br />

dentais não­vozea<strong>da</strong>s (/f/) e alveolares não­vozea<strong>da</strong>s (/s/). A tendência <strong>do</strong> professor<br />

de Língua Inglesa é insistir em que o aluno produza a inter­dental /θ/, uma vez que,<br />

durante a formação <strong>do</strong> professor, o inglês­padrão, “americano” ou “britânico”, é<br />

considera<strong>do</strong> como o “correto”, o que é enfatiza<strong>do</strong> pelo livro didático 3 .<br />

Da mesma forma que as diferenças entre os aspectos articulatórios <strong>do</strong>s sons<br />

não são explicita<strong>da</strong>s, diferenças entre a construção <strong>do</strong> ritmo e <strong>da</strong> entoação e o uso<br />

de acento e pausas também não o são, já que a ênfase no ensino <strong>da</strong> pronúncia <strong>do</strong><br />

inglês recai sobre a transcrição fonológica <strong>da</strong> palavra isola<strong>da</strong> ou dicionariza<strong>da</strong>, o<br />

que é diferente <strong>do</strong> mesmo vocábulo no contexto <strong>da</strong> frase, emiti<strong>do</strong> na fala corrente.<br />

3 Para uma crítica de como a pronúncia <strong>do</strong> Inglês tem si<strong>do</strong> trata<strong>da</strong> pelos livros didáticos, ver Piccin, 2003.<br />

2


Isto porque o som que está sen<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong> modificou aquele que o precedeu,<br />

assim como será modifica<strong>do</strong> por aquele que o sucede. Este fenômeno é referi<strong>do</strong><br />

como coarticulação (Laver, 1994; Levelt, 1998; Hardcastle, W. J.; Hewlett, N.,<br />

1999), co­produção ou sobreposição <strong>do</strong>s movimentos articulatórios na fala<br />

corrente. O grau de sobreposição entre eles pode ser modifica<strong>do</strong> pela taxa de<br />

elocução, defini<strong>da</strong> de acor<strong>do</strong> com a quanti<strong>da</strong>de de sons emiti<strong>da</strong> pelo falante num<br />

determina<strong>do</strong> tempo, e que é reconheci<strong>da</strong> como “fala rápi<strong>da</strong>” (taxa de elocução alta)<br />

ou “fala lenta” (taxa de elocução baixa).<br />

No que se refere às modificações de sons que ocorrem na fronteira entre<br />

palavras, observamos sons que desaparecem, alteram­se, ou adquirem<br />

características <strong>do</strong>s sons que os precedem ou sucedem. Por exemplo, a sentença But<br />

we didn’t think about that, enuncia<strong>da</strong> pelo falante nativo <strong>do</strong> Inglês americano que<br />

participa como sujeito deste trabalho, foi emiti<strong>da</strong> como [bΛwi:dId nθIŋk baUðæ],<br />

com o desaparecimento <strong>da</strong> oclusiva dental não­vozea<strong>da</strong> /t/ em but, didn´t, about e<br />

that, o que gerou, respectivamente, [bΛwi:]→buwe; [dIdәn]→didn; [ baU]→abou;<br />

[ðæ]→tha.<br />

A meu ver, o que é necessário na formação <strong>do</strong> professor de inglês é o<br />

conhecimento explícito entre a produção de palavras isola<strong>da</strong>mente e delas na frase,<br />

o que vem sen<strong>do</strong> feito de mo<strong>do</strong> intuitivo ou por meio de um conhecimento<br />

implícito. Perini (2001) distingue <strong>do</strong>is tipos de conhecimento: “implícito” e<br />

“explícito”. Segun<strong>do</strong> o autor, qualquer falante <strong>do</strong> Português possui um<br />

conhecimento implícito <strong>da</strong> língua, embora não seja capaz de explicitar esse<br />

conhecimento, o qual não advém <strong>da</strong> instrução recebi<strong>da</strong> na escola, mas <strong>da</strong> aquisição<br />

<strong>da</strong> língua de forma natural e espontânea. Chamamos de Gramática internaliza<strong>da</strong><br />

3


pelo indivíduo o conhecimento implícito <strong>da</strong> língua. Por saber empregá­la, o falante<br />

faz as relações que deseja com as palavras escolhi<strong>da</strong>s de seu léxico, de forma que<br />

mol<strong>da</strong> seu texto <strong>para</strong> que este aten<strong>da</strong> às suas intenções.<br />

Perini (2001) cita como exemplo de conhecimento implícito o ato de an<strong>da</strong>r.<br />

Uma pessoa é capaz de an<strong>da</strong>r com razoável eficiência. Ninguém nunca lhe chamou<br />

a atenção, insinuan<strong>do</strong> que não se locomovia corretamente ou que deveria fazer um<br />

curso <strong>para</strong> aprender a an<strong>da</strong>r melhor. Sua maneira de movimentar­se não difere<br />

<strong>da</strong>quela de outras pessoas; no entanto, a pessoa não é capaz de descrever os<br />

processos musculares e nervosos que ocorrem quan<strong>do</strong> põe em prática a habili<strong>da</strong>de<br />

de an<strong>da</strong>r.<br />

Dessa forma, este trabalho se propõe a oferecer um conhecimento claro sobre<br />

aspectos <strong>da</strong> produção <strong>da</strong> fala <strong>da</strong>s Línguas Portuguesa e Inglesa – conhecimento este<br />

que se refere àquele advin<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> e <strong>da</strong> Fonologia –, com o objetivo de<br />

contribuir com a formação de professores brasileiros que se dedicam ao ensino <strong>do</strong><br />

Inglês, uma vez que, <strong>da</strong> mesma forma que uma pessoa comum não se dá conta <strong>do</strong><br />

que faz ao an<strong>da</strong>r, conforme cita Perini (op. cit.), os falantes não têm consciência <strong>do</strong><br />

que fazem ao falar.<br />

O conhecimento sobre a produção <strong>da</strong> fala não se resume ao conhecimento <strong>da</strong><br />

articulação <strong>do</strong>s sons, apesar de este, por si só, ser bastante complexo. A fala é<br />

composta por uma organização de sons sob uma melodia (entoação ou curva<br />

entoacional – variação entre tons graves e agu<strong>do</strong>s) e um ritmo (alternância entre<br />

acentos fracos e fortes), que podem ser modifica<strong>do</strong>s pela taxa de elocução (fala<br />

rápi<strong>da</strong> ou fala lenta) a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> pelo falante, a qual, por sua vez, condiciona o grau de<br />

sobreposição entre os sons (coarticulação), fazen<strong>do</strong> com que eles alterem­se, o que<br />

4


provoca, então, ajustes melódicos e rítmicos. Isso demonstra que não é possível<br />

li<strong>da</strong>r com a produção de sons isola<strong>do</strong>s sem considerar sua interação com a<br />

entoação, o ritmo, a taxa de elocução, entre outros. A isso se dá o nome de fala<br />

“corrente ou encadea<strong>da</strong>”.<br />

Atuan<strong>do</strong> como professora de Língua Inglesa há dezesseis anos no Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental e Médio, e, há cinco anos no Ensino Superior, especificamente no<br />

curso de Letras, e participan<strong>do</strong> de vários workshops com profissionais <strong>da</strong> área de<br />

ensino de inglês, sinto a necessi<strong>da</strong>de de pre<strong>para</strong>r os <strong>do</strong>centes com uma formação<br />

mais profun<strong>da</strong> em relação à pronúncia. Percebo que o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> e <strong>da</strong><br />

Fonologia, na formação <strong>do</strong> graduan<strong>do</strong> de Letras, tem si<strong>do</strong> pouco explora<strong>do</strong>.<br />

Analisan<strong>do</strong> as condições acima, pode­se concluir que as necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong><br />

aluno de Inglês, como sua capacitação quanto ao desempenho lingüístico, e o<br />

aumento de educa<strong>do</strong>res não­nativos envolvi<strong>do</strong>s no ensino deste idioma, deman<strong>da</strong>m<br />

novas perspectivas na formação de professores.<br />

Este trabalho emergiu <strong>do</strong> contato de um falante nativo <strong>do</strong> inglês canadense,<br />

recém­chega<strong>do</strong> ao Brasil, que, ao ouvir a sentença “Snakes hiss out of fear”,<br />

produzi<strong>da</strong> pelos <strong>do</strong>is sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de Castilho (2004) – uma falante nativa <strong>do</strong><br />

inglês americano e uma falante brasileira proficiente em inglês –, não a<br />

compreendeu quan<strong>do</strong> produzi<strong>da</strong> pela falante brasileira, e somente pôde identificar<br />

seu senti<strong>do</strong> ao escutá­la na fala <strong>da</strong> nativa. Madureira e Castilho (comunicação<br />

pessoal 2004), questionaram, então, o que prejudicava a compreensão por parte <strong>do</strong><br />

nativo canadense em relação à pronúncia <strong>da</strong> sentença produzi<strong>da</strong> pela brasileira.<br />

5


Uma análise espectrográfica 4 , com<strong>para</strong>n<strong>do</strong> a sentença produzi<strong>da</strong> pelos <strong>do</strong>is sujeitos,<br />

mostrou que a sentença “Snakes hiss out of fear” foi realiza<strong>da</strong> <strong>da</strong> seguinte forma<br />

por ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s falantes contempla<strong>da</strong>s no estu<strong>do</strong>:<br />

Falante nativa: Snakes hiss # ourof fear.<br />

Falante não­nativa: Snakes hiss out # of fear.<br />

A inserção <strong>da</strong> pausa (marca<strong>da</strong> por #) em diferentes locais por ambas as<br />

falantes, ou seja, entre hiss e out <strong>para</strong> a nativa, e entre hiss out e of fear <strong>para</strong> a não­<br />

nativa, modificou to<strong>da</strong> a organização fonética <strong>da</strong> sentença, impedin<strong>do</strong>, por<br />

exemplo, a implementação <strong>da</strong> regra fonológica que, em sua realização fonética,<br />

transforma os segmentos [t] e [d] no flap [r], quan<strong>do</strong> os primeiros aparecem entre<br />

vogais dentro <strong>da</strong> palavra (por exemplo, ladder, /lædӘr/ se transforma em [lærer])<br />

ou entre palavras (out of fear→ou[r]of fear).<br />

Houve também um prejuízo semântico­pragmático, uma vez que o ouvinte<br />

interpretou a produção <strong>da</strong> não­nativa como um item lexical (hiss out) que não<br />

existe. Em suma, a introdução <strong>da</strong> pausa em local inadequa<strong>do</strong> bloqueou a aplicação<br />

de uma regra fonológica de mu<strong>da</strong>nça de segmento, ou seja, de [t] em [r], crian<strong>do</strong><br />

4 Segun<strong>do</strong> Kent e Read (1992), o espectrograma é uma representação gráfica em que a ordena<strong>da</strong> corresponde à<br />

freqüência, a abscissa ao tempo e o contraste entre claro e escuro à amplitude <strong>do</strong>s componentes elementares <strong>do</strong>s sons<br />

(quanto mais escuro maior a amplitude). Adiante, o espectrograma e seu papel neste trabalho serão melhor<br />

explicita<strong>do</strong>s.<br />

6


uma nova uni<strong>da</strong>de semântica. Essa análise exemplifica o que vem a ser a interação<br />

entre segmento (som) e prosódia: a inserção <strong>da</strong> pausa impediu a juntura 5 entre out e<br />

of, que se transformaria em ou[r]of, e sua interpretação como uma única uni<strong>da</strong>de<br />

sintático­semântica (hiss é verbo <strong>do</strong> sintagma verbal e out of fear é um modifica<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> verbo ou sintagma preposiciona<strong>do</strong>, o qual compõe um único item,<br />

“cristaliza<strong>do</strong>”, no dicionário ou léxico mental).<br />

Partin<strong>do</strong> desta análise, passamos a nos questionar de que forma aspectos<br />

segmentais (articulação de “fonemas” <strong>do</strong> inglês) eram suficientes no ensino­<br />

aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> Língua Inglesa por falantes não­nativos, uma vez que a interação<br />

entre a produção segmental (sons <strong>da</strong> fala) e a implementação de aspectos<br />

prosódicos (acentos lexicais, formação de grupos acentuais, proeminência maior <strong>da</strong><br />

sentença, inserção de pausas, entre outros) parecem intimamente liga<strong>da</strong>s entre si.<br />

O objetivo deste trabalho é, então, compreender de que forma um falante<br />

nativo <strong>do</strong> português brasileiro sofre interferência desta língua ao falar inglês. Para<br />

isso, será utiliza<strong>da</strong>, como base <strong>para</strong> análise de <strong>da</strong><strong>do</strong>s, a <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong> 6 (ver<br />

explicação adiante). Preten<strong>do</strong> fornecer subsídios ao professor de Inglês <strong>para</strong> que<br />

este enten<strong>da</strong> de onde provêm as dificul<strong>da</strong>des de produção de segmentos, ritmo,<br />

entoação, acento e uso de pausas no aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> língua em questão. Isso<br />

significa tentar entender o “mapeamento” que o falante brasileiro faz <strong>da</strong> estrutura<br />

prosódica <strong>do</strong> português ao falar inglês. Espera­se que, uma vez que o professor de<br />

inglês adquira este conhecimento, ele possa compreender a produção <strong>do</strong> aluno, e, se<br />

5 Segun<strong>do</strong> Crystal (1985), “juntura é um termo usa<strong>do</strong> na fonologia <strong>para</strong> indicar os traços fonéticos de fronteira que<br />

podem demarcar as uni<strong>da</strong>des gramaticais, como os morfemas, palavras ou orações”. Já houve diversas tentativas de<br />

estabelecimento de uma tipologia <strong>da</strong>s junturas. Uma distinção comumente usa<strong>da</strong> é entre a juntura em que os traços<br />

são usa<strong>do</strong>s na fronteira de uma palavra (juntura externa), e a juntura que se refere às transcrições normais entre os<br />

sons dentro de uma palavra (juntura interna).<br />

6 A <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong> trata <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des físicas <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong> fala, consideran<strong>do</strong>­os como on<strong>da</strong>s sonoras. Essas<br />

proprie<strong>da</strong>des derivam <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como os sons são produzi<strong>do</strong>s, em conseqüência <strong>do</strong>s movimentos que têm lugar no<br />

aparelho fona<strong>do</strong>r, permitin<strong>do</strong> tanto sua transmissão como sua percepção (Malmberg, 1954).<br />

7


assim o desejar, explicitar­lhe as diferenças segmentais e prosódicas entre sua<br />

língua materna e a língua­alvo. A explicitação destas diferenças pode ou não<br />

acarretar uma maior inteligibili<strong>da</strong>de (ver discussão no capítulo 1) <strong>do</strong> Inglês fala<strong>do</strong><br />

pelo aluno brasileiro.<br />

A fim de operacionalizar os objetivos acima, proponho­me a desenvolver a<br />

seguinte questão de pesquisa:<br />

Que contribuições a <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong> pode oferecer <strong>para</strong><br />

explicitar a relação entre aspectos segmentais e prosódicos no<br />

conhecimento <strong>da</strong> Língua Inglesa pelo professor brasileiro, ten<strong>do</strong><br />

em vista o ensino dessa língua?<br />

Este trabalho 7 insere­se então em um conjunto de outros realiza<strong>do</strong>s no<br />

Laboratório Integra<strong>do</strong> de <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong> e Cognição (LIAAC/<strong>PUC</strong><strong>SP</strong>),<br />

orienta<strong>do</strong>s pela Profª. Dra. Sandra Madureira, relaciona<strong>do</strong>s à aquisição de um<br />

conhecimento fonético­acústico 8 ou psicolingüístico 9 , sobre os processos de<br />

compreensão e produção <strong>do</strong> inglês, além de uma crítica sobre o ensino <strong>da</strong><br />

pronúncia nos livros didáticos 10 .<br />

Esta dissertação compreende três capítulos, segui<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s considerações<br />

finais. No capítulo 1, apresento os pressupostos teóricos que fun<strong>da</strong>mentam a<br />

pesquisa. Nele, trato <strong>da</strong> pronúncia nos méto<strong>do</strong>s de ensino e aprendizagem <strong>do</strong> inglês<br />

e a formação <strong>do</strong>cente, a interferência <strong>da</strong> língua materna na aprendizagem <strong>da</strong> língua<br />

7 As regras de formatação, a partir <strong>da</strong>s quais este trabalho foi realiza<strong>do</strong>, seguem as propostas por Severino, 2003.<br />

8 Ver Rocca (2003) e Castilho (2004).<br />

9 Ver Polaczek (2003).<br />

10 Ver Piccin (2003).<br />

8


estrangeira, a inteligibili<strong>da</strong>de, e o falante nativo e não­nativo. A seguir, abor<strong>do</strong> os<br />

aspectos segmentais e prosódicos <strong>da</strong> fala corrente, entoação e ritmo, fonema e traço<br />

distintivo, focan<strong>do</strong> principalmente os fonemas que geram dificul<strong>da</strong>des de pronúncia<br />

<strong>para</strong> os aprendizes brasileiros e, por fim, os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> fonética acústica <strong>da</strong><br />

produção <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong> fala.<br />

O capítulo 2 concentrar­se­á na pesquisa em si, referin<strong>do</strong>­se à meto<strong>do</strong>logia<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>, incluin<strong>do</strong> os sujeitos de pesquisa, a construção <strong>do</strong> corpus e os<br />

procedimentos <strong>para</strong> análise acústica.<br />

O capítulo 3 apresenta a discussão e resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s e, na<br />

seqüência, as Considerações Finais, focalizarão a síntese <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s aponta<strong>do</strong>s<br />

pelo estu<strong>do</strong>. Por fim, apresento as referências bibliográficas e os anexos.<br />

9


CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />

“Ponunciation is not an optional extra for the language learner,<br />

any more than grammar, vocabulary or any other aspect of<br />

language is. If a learner’s general aim is to talk intelligibly to<br />

others in another language, a reasonable pronunciation is<br />

important. A teacher has to give due<br />

attention to it along with everything else.”<br />

(Paul Tench)


1.1. A pronúncia nos méto<strong>do</strong>s de ensino­aprendizagem <strong>do</strong> inglês e a formação<br />

<strong>do</strong>cente<br />

Segun<strong>do</strong> Jenkins (2000:199), quan<strong>do</strong> ocorrem treinamentos em pronúncia,<br />

dá­se ênfase à reprodução de técnicas e ativi<strong>da</strong>des práticas sem questionamentos,<br />

como forma de li<strong>da</strong>r com essa lacuna na formação <strong>do</strong> professor de inglês. Para a<br />

autora, esquece­se de que o professor necessita de um conhecimento fonético­<br />

fonológico <strong>para</strong> que ele possa pre<strong>para</strong>r seus alunos <strong>para</strong> o ato comunicativo de<br />

forma eficaz nos diferentes contextos de fala.<br />

Conforme Celce­Murcia, Brinton e Goodwin (1996:2), o ensino moderno de<br />

línguas apoiou­se em duas abor<strong>da</strong>gens <strong>para</strong> o ensino <strong>da</strong> pronúncia: a <strong>da</strong> imitação<br />

intuitiva e a abor<strong>da</strong>gem lingüística­analítica.<br />

A abor<strong>da</strong>gem 11 <strong>da</strong> imitação intuitiva pressupunha a capaci<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

estu<strong>da</strong>nte de ouvir e imitar o ritmo e os sons <strong>da</strong> língua­alvo sem a<br />

intervenção de qualquer informação explícita, mas ten<strong>do</strong> acesso a bons<br />

modelos, proporciona<strong>do</strong>s pelo uso de grava<strong>do</strong>res e laboratórios de línguas<br />

na metade <strong>do</strong> século XX e, mais recentemente, pelo uso de videocassetes e<br />

CDs. Por outro la<strong>do</strong>, a abor<strong>da</strong>gem lingüística­analítica utilizava informação<br />

e ferramentas, tais como o alfabeto fonético, descrições articulatórias,<br />

ilustrações <strong>do</strong> aparelho fona<strong>do</strong>r, informação contrastiva e outros suportes<br />

<strong>para</strong> as tarefas de ouvir, imitar e produzir. Essa abor<strong>da</strong>gem, que focalizava<br />

a atenção <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte nos sons e na estrutura rítmica <strong>da</strong> língua estrangeira,<br />

foi desenvolvi<strong>da</strong> <strong>para</strong> complementar e não <strong>para</strong> substituir a abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong><br />

imitação intuitiva, que foi manti<strong>da</strong> na fase de treinamento <strong>da</strong> informação<br />

fonética (Celce­Murcia et. alii, 1996:2).<br />

11 As traduções neste trabalho são de responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> autora.<br />

10


Os méto<strong>do</strong>s de ensino que se desenvolveram, até aproxima<strong>da</strong>mente a déca<strong>da</strong><br />

de 40, tinham como principal objetivo o ensino de vocabulário. A ênfase era <strong>da</strong><strong>da</strong> à<br />

palavra escrita, enquanto que as habili<strong>da</strong>des de audição e de fala eram praticamente<br />

ignora<strong>da</strong>s. Ao longo <strong>do</strong> século XX, alguns <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de ensino incluíram a<br />

pronúncia entre seus objetivos instrucionais (Abreu, 1997).<br />

Com o Reform Movement, proposto em 1880, a <strong>Fonética</strong> – análise científica<br />

e descrição <strong>do</strong>s sistemas <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong> língua – foi estabeleci<strong>da</strong>, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> novas<br />

perspectivas ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s processos <strong>da</strong> fala. No início <strong>do</strong> século XIX, Wilhelm<br />

Viëtor, Henry Sweet, Paul Passy e outros reformistas acreditavam que a língua<br />

fala<strong>da</strong> era importante no ensino, o que deveria ser refleti<strong>do</strong> em uma meto<strong>do</strong>logia de<br />

base oral, e que as descobertas <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> deveriam ser aplica<strong>da</strong>s ao ensino e<br />

treinamento de professores, caben<strong>do</strong> aos aprendizes primeiramente ouvir a língua,<br />

<strong>para</strong> depois terem contato com a forma escrita. Foram esses autores que criaram a<br />

Associação <strong>Fonética</strong> Internacional, em 1886, e desenvolveram o Alfabeto Fonético<br />

Internacional (IPA), com o objetivo de transcrever os sons de qualquer língua de<br />

forma precisa.<br />

Com a criação <strong>do</strong> IPA, tornou­se possível representar os sons de qualquer<br />

sistema lingüístico porque, pela primeira vez, havia a possibili<strong>da</strong>de de se<br />

estabelecer uma relação consistente de um <strong>para</strong> um entre os símbolos <strong>da</strong> escrita<br />

(grafemas) e o som por eles representa<strong>do</strong>s (fonemas). Jespersen (1904, apud Abreu,<br />

1997), foneticista pertencente ao Reform Movement, acreditava que os aprendizes<br />

deveriam <strong>do</strong>minar to<strong>do</strong>s os sons <strong>da</strong> língua­alvo, utilizan<strong>do</strong> a transcrição fonética<br />

<strong>para</strong> superar as dificul<strong>da</strong>des. Somente após a transcrição, o aluno passaria a<br />

trabalhar com a palavra escrita.<br />

11


O Direct Method, que vigorou no final de 1800 e começo de 1900, baseava­<br />

se na aprendizagem de palavras e/ou frases <strong>da</strong> língua estrangeira por associação<br />

direta com objetos e ações representativos <strong>da</strong> língua materna. Este méto<strong>do</strong><br />

preconizava que: (1) ca<strong>da</strong> língua deveria ser aprendi<strong>da</strong> antes pela prática <strong>do</strong> que por<br />

meio de regras (Grammar Translation Method); (2) a pronúncia deveria ser<br />

ensina<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong> intuição e imitação; (3) os professores deveriam ser nativos<br />

ou ter uma pronúncia semelhante à <strong>do</strong>s nativos; e (4) a pronúncia era aprendi<strong>da</strong><br />

pela imitação de um modelo – o professor. Esse méto<strong>do</strong> instrucional baseava­se em<br />

observações intuitivas de como as crianças aprendiam sua primeira língua e de<br />

como crianças e adultos aprendiam uma língua estrangeira em contextos não<br />

instrucionais.<br />

Naturalistic Methods (Total Physical Response desenvolvi<strong>do</strong> por Asher,<br />

1977; e Natural Approach, desenvolvi<strong>do</strong> por Krashen e Terrel, 1983), sucessores<br />

<strong>do</strong> Direct Method, defendiam a hipótese de que primeiro os alunos deveriam ser<br />

submeti<strong>do</strong>s a um perío<strong>do</strong> de audição a fim de internalizarem o sistema de som <strong>da</strong><br />

língua estrangeira, antes de qualquer tentativa de fala; o que, segun<strong>do</strong> eles, seria<br />

benéfico <strong>para</strong> os discentes, os quais adquiririam uma pronúncia melhor, mesmo não<br />

ten<strong>do</strong> recebi<strong>do</strong> o ensino desta de forma explícita.<br />

Entre 1940 e 1950, o objetivo era que o aluno alcançasse uma pronúncia<br />

como a <strong>do</strong> falante nativo e, <strong>para</strong> tanto, <strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s caracteriza<strong>do</strong>s pelo uso <strong>da</strong><br />

imitação e memorização por meio de exercícios de repetição foram difundi<strong>do</strong>s: um<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, chama<strong>do</strong> Audiolingual Method, e outro na Inglaterra,<br />

denomina<strong>do</strong> Oral Approach. Estes méto<strong>do</strong>s, origina<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Reform Movement,<br />

estavam fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong>s nos ensinamentos <strong>da</strong> Lingüística Estruturalista de<br />

Bloomfield (Language, 1933) e <strong>da</strong> Psicologia Behaviorista de Skinner (Verbal<br />

12


Behavior, 1957). Eles concebiam a língua como um conjunto de hábitos, e sua<br />

aquisição e aprendizagem como uma seqüência de reflexos condiciona<strong>do</strong>s.<br />

Basicamente, consistiam na apresentação de um modelo oral ao aluno, efetua<strong>do</strong><br />

pela voz <strong>do</strong> professor ou por meio de fitas cassetes, segui<strong>da</strong>s de intensivo trabalho<br />

oral (repetição) e também de conceitos <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> (sistema de transcrição visual<br />

ou uso de charts que mostravam a articulação <strong>do</strong>s sons). No Audiolingual Method,<br />

pronúncia correta, acentuação, ritmo e entoação eram enfatiza<strong>do</strong>s; no Oral<br />

Approach, tinha­se a repetição guia<strong>da</strong> pelo professor ou por fitas cassetes, bem<br />

como ativi<strong>da</strong>des como repetição em coro e drills. Nessa época, grande atenção foi<br />

dedica<strong>da</strong> aos contrastes fonêmicos (minimal pair drill), na busca <strong>da</strong> pronúncia<br />

“perfeita” alia<strong>da</strong> à ênfase <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> Gramática.<br />

Nos anos 60, a Abor<strong>da</strong>gem Cognitiva, inicialmente considera<strong>da</strong> uma versão<br />

moderniza<strong>da</strong> <strong>do</strong> Grammar­Translation Method, sofreu influência <strong>do</strong> modelo <strong>da</strong><br />

teoria Gerativa de Chomsky (1957, 1965 apud Celce­Murcia et. alii, 1996) e <strong>da</strong><br />

Psicologia Cognitiva (Neisser,1967 apud Celce­Murcia et. alii, 1996), na qual a<br />

cognição resulta <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de mental <strong>do</strong> sujeito que aprende (competência) e não <strong>da</strong><br />

influência direta <strong>do</strong> ambiente (desempenho). Este méto<strong>do</strong> voltou a enfatizar o<br />

ensino <strong>da</strong> Gramática e <strong>do</strong> léxico, e os teóricos cognitivistas acreditavam que uma<br />

pronúncia semelhante à <strong>do</strong> falante nativo era impossível de ser alcança<strong>da</strong>. O<br />

Méto<strong>do</strong> Cognitivo não chegou a propor na prática algo que fosse visto como uma<br />

nova solução <strong>para</strong> o ensino de línguas.<br />

Entre 1970 e 1980, surgiu o méto<strong>do</strong> Total Physical Response (TPR),<br />

desenvolvi<strong>do</strong> por Asher em 1977, que consistia na aprendizagem <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de<br />

auditiva antes <strong>da</strong> fala, e, segun<strong>do</strong> o autor (apud Richards e Rodgers,1997:4), a<br />

comunicação deveria ser inteligível <strong>para</strong> o falante nativo:<br />

13


A reasonable hypothesis is that the brain and nervous system are<br />

biologically programmed to acquire knowledge in a particular sequence<br />

and in a particular mode. The sequence is listening before speaking and the<br />

model is to synchronize language with the individual’s body 12 . (Asher,<br />

1977 apud Richards e Rodgers, 1997:4).<br />

Neste méto<strong>do</strong>, o aluno tinha o papel de um ouvinte participativo. Ele<br />

escutava atentamente e respondia fisicamente aos coman<strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s pelo professor<br />

por meio de drills, usan<strong>do</strong> o imperativo, e adquiria o direito de falar somente<br />

quan<strong>do</strong> uma base suficiente <strong>da</strong> língua já houvesse si<strong>do</strong> internaliza<strong>da</strong>. O professor<br />

tinha a função de proporcionar a aprendizagem de mo<strong>do</strong> que o aluno pudesse<br />

internalizar as regras básicas <strong>da</strong> língua estrangeira.<br />

As técnicas que apareceram nos anos 70 continuaram a apresentar diferenças<br />

significativas quanto ao ensino <strong>da</strong> pronúncia. O Silent Way (Gattegno, 1972, 1976<br />

apud Richards e Rodgers, 1997), cujo objetivo era o ensino <strong>da</strong> pronúncia sem que o<br />

aluno aprendesse o alfabeto fonético, chamava a atenção <strong>do</strong>s discentes <strong>para</strong> o fato<br />

de que a combinação de palavras, acento e entoação <strong>da</strong>riam formas à produção de<br />

um enuncia<strong>do</strong>. Não havia a fala constante <strong>do</strong> professor como modelo: este se<br />

apoiava nas ilustrações de sons e palavras basea<strong>da</strong>s em cores. O méto<strong>do</strong> foi<br />

denomina<strong>do</strong> Silent Way porque seu objetivo era fazer com que o aluno adquirisse<br />

independência, autonomia e responsabili<strong>da</strong>de. Gattegno (1976, apud Richards e<br />

Rodgers, 1997:83) explica que o silêncio é a melhor forma de aprendiza<strong>do</strong>:<br />

Silence is considered the best vehicle for learning, because in silence<br />

students concentrate on the task to be accomplished and the potential<br />

12 Uma hipótese razoável é que o cérebro e o sistema nervoso estão programa<strong>do</strong>s biologicamente <strong>para</strong> adquirir<br />

conhecimento em uma determina<strong>da</strong> seqüência e de um determina<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>. A seqüência é ouvir antes de falar e o<br />

modelo é <strong>para</strong> sincronizar a língua com o corpo <strong>do</strong> indivíduo. As traduções <strong>da</strong>s citações foram sugeri<strong>da</strong>s por Zaina<br />

Ab<strong>da</strong>lla Nunes no exame de qualificação.<br />

14


means to its accomplishment. Repetition (as opposed to silence) consumes<br />

time and encourages the scattered mind to remain scattered. Silence as<br />

avoi<strong>da</strong>nce of repetition, is thus an aid to alertness, concentration, and<br />

mental organization 13 (Gattegno, 1976 apud Richards e Rodgers, 1997:83).<br />

Segun<strong>do</strong> Stevick (1980, apud Richards e Rodgers, 1997), neste méto<strong>do</strong> o<br />

professor tinha a tarefa de: (a) ensinar usan<strong>do</strong> a linguagem não­verbal; (b) testar<br />

levan<strong>do</strong> em consideração a elicitação e a forma de produção <strong>do</strong> aluno; e (c) sair de<br />

cena após monitorar a interação entre os aprendizes por meio de gestos e gráficos.<br />

Ain<strong>da</strong> hoje, muitos educa<strong>do</strong>res acreditam que o princípio de correspondência som­<br />

cor aju<strong>da</strong> o aluno a internalizar o ver<strong>da</strong>deiro senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> língua, a dicção, o ritmo e a<br />

melodia (Blair, 1991).<br />

A abor<strong>da</strong>gem Community Language Learning (C L), desenvolvi<strong>da</strong> por<br />

Curran (1976, apud Richards e Rodgers, 1997), teve suas origens na abor<strong>da</strong>gem<br />

humanística de ensino­aprendizagem de segun<strong>da</strong> língua. Nela, várias ferramentas e<br />

técnicas eram usa<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o ensino <strong>da</strong> pronúncia. O grava<strong>do</strong>r, uma <strong>da</strong>s ferramentas<br />

utiliza<strong>da</strong>s <strong>para</strong> gravar as emissões <strong>do</strong>s alunos na C L, não só captaria o que fosse<br />

dito por eles como também proporcionaria um distanciamento <strong>da</strong>quilo que foi<br />

fala<strong>do</strong>, possibilitan<strong>do</strong> que o aluno focasse a atenção em sua própria pronúncia,<br />

com<strong>para</strong>n<strong>do</strong>­a com a <strong>do</strong> professor. O professor, no papel de “computa<strong>do</strong>r humano”,<br />

que poderia ser “liga<strong>do</strong>” ou “desliga<strong>do</strong>” segun<strong>do</strong> desejo <strong>do</strong> aluno, não oferecia<br />

correção de pronúncia, fican<strong>do</strong> a critério <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte a seleção <strong>do</strong> que praticar e o<br />

quanto praticar <strong>para</strong> atingir uma pronúncia mais próxima <strong>da</strong> língua­alvo. Assim<br />

como no Direct Method, a pronúncia na C L deveria ser ensina<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong><br />

13 Considera­se o silêncio o melhor veículo <strong>para</strong> aprendizagem, porque no silêncio os alunos se concentram na tarefa<br />

a ser realiza<strong>da</strong> e no meio potencial <strong>para</strong> sua realização. Repetição (como oposto de silêncio) consome tempo e<br />

incentiva a mente dispersa a se manter dispersa. Silêncio, enquanto forma de evitar a repetição, é uma maneira de<br />

aju<strong>da</strong>r na atenção, concentração, e organização mental.<br />

15


intuição e imitação; porém, o que aprender e o quanto a ser aprendi<strong>do</strong> eram<br />

controla<strong>do</strong>s pelo estu<strong>da</strong>nte e não pelo professor ou livro­guia.<br />

Com o advento <strong>da</strong> Abor<strong>da</strong>gem Comunicativa, no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 80,<br />

passou­se a privilegiar a eficácia na comunicação. Esta abor<strong>da</strong>gem buscava a<br />

competência comunicativa com uma pronúncia inteligível, de mo<strong>do</strong> que o ouvinte<br />

apreendesse a mensagem tal como deseja<strong>do</strong> pelo falante. Como não foram<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s estratégias <strong>para</strong> um ensino de pronúncia dentro dessa abor<strong>da</strong>gem, os<br />

professores que a a<strong>do</strong>tam empregam as técnicas tradicionalmente utiliza<strong>da</strong>s <strong>para</strong><br />

li<strong>da</strong>r com as questões de pronúncia no ensino de línguas, tais como: ouvir e imitar<br />

sons, treino fonético ou <strong>da</strong> articulação de determina<strong>do</strong>s sons, pares mínimos<br />

(palavras cujo significa<strong>do</strong> difere exatamente pela pronúncia de um som ou de parte<br />

dele, como, por exemplo, por um traço), e “tongue­twisters” (ou trava­línguas), que<br />

constituem na pronúncia de sons de relativa dificul<strong>da</strong>de numa seqüência, servin<strong>do</strong>,<br />

portanto, apenas <strong>para</strong> treino articulatório.<br />

Segun<strong>do</strong> Rocca (2003:60), “a ênfase continua sen<strong>do</strong> a produção correta <strong>do</strong><br />

som no nível <strong>da</strong> palavra, embora apareçam tentativas de tornar essas estratégias<br />

mais comunicativas diante <strong>da</strong> forte evidência de que a pronúncia de palavras<br />

isola<strong>da</strong>s é distinta de uma pronúncia em fala encadea<strong>da</strong>”. Hoje, influencia<strong>do</strong> pelas<br />

teorias de análise <strong>do</strong> discurso, o ensino de pronúncia volta­se <strong>para</strong> os traços<br />

prosódicos <strong>da</strong> língua (ritmo, acento e entoação), integran<strong>do</strong>­os, de forma adequa<strong>da</strong>,<br />

a um contexto discursivo, principalmente <strong>para</strong> o falante não­nativo. McNerney e<br />

Mendelsohn (1992, apud Celce­Murcia et. alii, 1996:10) deixam isto muito claro:<br />

... a short term pronunciation course should focus first and foremost on<br />

suprasegmentals as they have the greatest impact on the comprehensibility<br />

16


of the learner´s English. We have found that giving priority to the<br />

suprasegmental aspects of English not only improves learners´<br />

comprehensibility but is also less frustrating for students because a greater<br />

change can be effected in a short time 14 (McNerney e Mendelsohn, 1992<br />

apud Celce­Murcia et. alii, 1996:10).<br />

1.1.1. A interferência 15 <strong>da</strong> língua materna (LM) na aprendizagem <strong>da</strong> língua<br />

estrangeira (LE)<br />

Segun<strong>do</strong> Ellis (1994), o campo de aquisição 16 de uma língua estrangeira é<br />

vasto e complexo. O processo de aquisição de segun<strong>da</strong> língua não é um fenômeno<br />

uniforme: é resulta<strong>do</strong> de muitos fatores inerentes ao aprendiz e ao contexto de<br />

aprendizagem. Por isso, os estu<strong>do</strong>s de aquisição são vitais <strong>para</strong> o ensino e<br />

aprendizagem de uma língua. Tais estu<strong>do</strong>s começaram com investigações sobre a<br />

língua materna (LM) e posteriormente concentraram seu foco na segun<strong>da</strong> língua<br />

(LE). Na déca<strong>da</strong> de 50, por exemplo, houve pre<strong>do</strong>mínio <strong>da</strong>s correntes teóricas <strong>do</strong><br />

behaviorismo e <strong>do</strong> estruturalismo, que, apesar de diferentes em seus preceitos<br />

básicos, pregavam que os erros na LE eram resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> interferência <strong>da</strong> língua<br />

materna e que as dificul<strong>da</strong>des de aprendizagem deviam­se às diferenças entre a<br />

língua materna e a língua­alvo. Conforme afirma o autor, houve uma reavaliação,<br />

nos últimos anos, <strong>do</strong> papel <strong>da</strong> língua materna no processo de aquisição de segun<strong>da</strong><br />

14 Um curso de pronúncia deve focar­se antes de mais na<strong>da</strong> no nível suprasegmental, uma vez que tem um grande<br />

impacto na compreensão <strong>do</strong> Inglês <strong>do</strong> aprendiz. Sabemos que <strong>da</strong>r priori<strong>da</strong>de <strong>para</strong> os aspectos suprasegmentais <strong>do</strong><br />

Inglês não só melhora a compreensão <strong>do</strong>s aprendizes como também é menos frustrante <strong>para</strong> os alunos porque tais<br />

segmentos podem causar um efeito muito maior em um curto tempo.<br />

15 É a ocorrência de formas de uma língua na outra, causan<strong>do</strong> desvios perceptíveis no âmbito <strong>da</strong> pronúncia, <strong>do</strong><br />

vocabulário, <strong>da</strong> estruturação de frases bem como nos planos idiomático e cultural. A interferência é a principal<br />

característica <strong>da</strong> interlíngua e <strong>da</strong> fossilização (Crystal, 1995A).<br />

16 Refere­se à tradução de acquisiton, termo emprega<strong>do</strong> por Ellis (1994). Os termos acquisition e learning despertam<br />

muitas discussões entre os pesquisa<strong>do</strong>res. Muitos afirmam que <strong>para</strong> LE deveria ser usa<strong>do</strong> o termo acquisition, outros<br />

contestam essa posição. O que se tem como consenso na área é que aquisição está relaciona<strong>da</strong> a contextos naturais e<br />

aprendiza<strong>do</strong> a contextos formais. Será manti<strong>do</strong> o termo acquisition quan<strong>do</strong> este for emprega<strong>do</strong> no texto original, o<br />

mesmo ocorren<strong>do</strong> <strong>para</strong> o termo learning.<br />

17


língua, reavaliação que ocorreu de duas formas: (a) novo exame <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong><br />

transferência lingüística (“language transfer”) e (b) reorganização <strong>da</strong> contribuição<br />

<strong>da</strong> língua materna em bases cognitivas.<br />

Para Ellis (1994), a língua materna é um importante determinante <strong>da</strong><br />

aquisição de uma segun<strong>da</strong> língua. É a fonte de conhecimento à qual os aprendizes<br />

se reportam, consciente ou inconscientemente, <strong>para</strong> ajudá­los no entendimento <strong>do</strong>s<br />

elementos presentes na língua que estão aprenden<strong>do</strong>, e assim possam atuar <strong>da</strong><br />

melhor maneira possível numa segun<strong>da</strong>. À medi<strong>da</strong> que a proficiência <strong>do</strong> aprendiz<br />

na segun<strong>da</strong> língua aumenta, menos poderosa se torna a língua materna nesse<br />

processo. O autor afirma que as formas <strong>da</strong> língua materna, tais como aspectos<br />

sintáticos, fonológicos, semânticos e lexicais, influenciam as novas construções <strong>da</strong><br />

LE, usa<strong>da</strong>s pelo aprendiz, pois são leva<strong>da</strong>s <strong>para</strong> esta segun<strong>da</strong>. Porém, em muitas<br />

outras situações, os aprendizes criam estruturas que seriam intermediárias entre a<br />

LM e a LE, ou seja, usam seus conhecimentos <strong>da</strong> LE, mas resistem às regras <strong>da</strong><br />

mesma, escreven<strong>do</strong>­as de acor<strong>do</strong> com a língua materna ou crian<strong>do</strong> regras próprias<br />

que misturam ambas.<br />

Os aprendizes evitam usar estruturas que acham difíceis devi<strong>do</strong> a diferenças<br />

entre a língua materna e a língua­alvo, de acor<strong>do</strong> com Ellis (op. cit.). Neste caso, os<br />

efeitos <strong>da</strong> LM são evidentes não no que os aprendizes fazem, mas no que eles não<br />

fazem. Para La<strong>do</strong> (1964), onde houver similari<strong>da</strong>de entre as línguas materna e<br />

estrangeira, as estruturas <strong>da</strong> língua­alvo serão aprendi<strong>da</strong>s com facili<strong>da</strong>de, enquanto<br />

as diferenças implicarão dificul<strong>da</strong>des de assimilação. Ain<strong>da</strong> <strong>para</strong> Ellis (1994), um<br />

fato bastante freqüente em aprendizes de línguas é a generalização de regras, ou<br />

seja, uma vez aprendi<strong>da</strong>, uma regra passa a ser aplica<strong>da</strong> em contextos nos quais ela<br />

não é necessária ou não é permiti<strong>da</strong>. Um exemplo muito comum desse tipo de erro<br />

18


é o caso <strong>do</strong>s verbos no passa<strong>do</strong>. Pelo fato de o inglês ter verbos regulares cujo<br />

passa<strong>do</strong> segue a uma regra, há aprendizes que costumam aplicá­la nos irregulares, e<br />

passam a produzir, por exemplo, sentenças <strong>do</strong> tipo: I goed to the United States last<br />

year, sen<strong>do</strong> que os verbos irregulares, como o <strong>do</strong> exemplo, possuem outra forma de<br />

passa<strong>do</strong>, que deve ser memoriza<strong>da</strong>. Um outro ponto é a posição <strong>do</strong>s advérbios em<br />

uma sentença, que pode gerar dúvi<strong>da</strong>s mesmo em aprendizes em níveis avança<strong>do</strong>s,<br />

<strong>da</strong> mesma forma que a ausência de pronome/sujeito. O motivo destas dificul<strong>da</strong>des é<br />

a transferência de parâmetros <strong>da</strong> língua materna <strong>para</strong> a língua­alvo, em que o<br />

aprendiz produz sentenças como: I go tomorrow to school, know English very well.<br />

A interferência <strong>da</strong> LM na LE, quanto aos aspectos fonológicos, é bastante<br />

evidente e, na maioria <strong>do</strong>s casos, permanece <strong>para</strong> sempre, mesmo em indivíduos<br />

que já adquiriram <strong>do</strong>mínio sobre o vocabulário e a Gramática <strong>da</strong> LE. Aprendizes de<br />

língua estrangeira acreditam ouvir sons que, <strong>para</strong> eles, são semelhantes aos <strong>da</strong> sua<br />

língua materna e que estão enraiza<strong>do</strong>s em sua mente, persistin<strong>do</strong> assim em produzí­<br />

los de forma fossiliza<strong>da</strong> (Ellis, 1994).<br />

Quanto maior a diferença entre os sistemas fonológicos <strong>da</strong> língua materna <strong>do</strong><br />

aprendiz e <strong>da</strong> língua­alvo, maior a tendência de ocorrerem erros, pois, por não<br />

identificar determina<strong>do</strong>s sons, o falante tenderá a procurar um som pareci<strong>do</strong> em sua<br />

LM (Ellis, 1994). Segun<strong>do</strong> o autor, o conhecimento <strong>da</strong> LM é o ponto de parti<strong>da</strong><br />

<strong>para</strong> a aquisição <strong>da</strong> LE. A influência <strong>da</strong> LM tem si<strong>do</strong> considera<strong>da</strong> particularmente<br />

forte e persistente na área <strong>da</strong> fonologia, mesmo nos falantes mais fluentes,<br />

especialmente quan<strong>do</strong> há semelhanças muito próximas entre os <strong>do</strong>is sistemas.<br />

Para Ellis (1994), os aprendizes acreditam que a correspondência grafema­<br />

fonema segue apenas um padrão. Em relação ao português, por exemplo,<br />

19


pronunciam corretamente o < able > de table /´teIbӘl/ mas generalizam essa<br />

pronúncia <strong>para</strong> o < able > de comfortable /´kΛmftӘbӘl/; ou pronunciam a palavra<br />

basic /beIsIk/ de forma erra<strong>da</strong> /beIzIk/ porque utilizam a regra <strong>para</strong> o português<br />

fala<strong>do</strong> e escrito de que um s entre duas vogais transforma­se em z. Um “erro”<br />

muito freqüente <strong>do</strong>s aprendizes brasileiros é a pronúncia <strong>da</strong>s silent letters (letras<br />

que não são pronuncia<strong>da</strong>s), como em psychology, wednes<strong>da</strong>y, island, knowledge,<br />

knee, christmas e outras, porque em sua língua isso raramente ocorre.<br />

O conceito de transferência teve sua origem na hipótese <strong>da</strong> análise<br />

contrastiva, aceita nos anos 50 e 60. Esta hipótese, enraiza<strong>da</strong> no behaviorismo,<br />

sustenta que a principal barreira <strong>para</strong> aquisição de segun<strong>da</strong> língua se origina <strong>da</strong><br />

interferência cria<strong>da</strong> pelo sistema <strong>da</strong> LM. No final <strong>do</strong>s anos 60, como resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

influência de Chomsky, uma nova perspectiva no aprendiza<strong>do</strong> de línguas emergiu,<br />

e o aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> LE passou a ser considera<strong>do</strong> como um processo ativo, no qual o<br />

indivíduo conscientemente constrói e testa hipóteses sobre a língua em estu<strong>do</strong>.<br />

Odlin (1989:27) define transferência como: The influence resulting from the<br />

similarities and differences between the target language and any other language<br />

that has been previously (and perhaps imperfectly) acquired 17 . No entanto, o<br />

próprio Odlin admitiu que os termos “influência” e “adquiri<strong>da</strong>” são vagos ou<br />

parcialmente entendi<strong>do</strong>s nesta definição, pois a influência parte de um julgamento<br />

consciente ou inconsciente <strong>do</strong> aprendiz de que algo na língua materna e na língua<br />

em estu<strong>do</strong> são semelhantes, ou exatamente a mesma coisa. Porém, as condições que<br />

desencadeiam estes julgamentos de semelhança ou identi<strong>da</strong>de não são bem<br />

entendi<strong>da</strong>s.<br />

17 A influência resultante <strong>da</strong>s semelhanças e diferenças entre a língua­alvo e qualquer outra língua previamente (e<br />

talvez imperfeitamente) adquiri<strong>da</strong>.<br />

20


Segun<strong>do</strong> Ellis (1994:315­336), a transferência no aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> LE ocorre<br />

quan<strong>do</strong> o aprendiz usa LM na tentativa de desenvolver hipóteses sobre as regras <strong>da</strong><br />

LE. A transferência de uma língua à outra não é feita aleatoriamente, mas obedece<br />

às regras, ou apresenta regulari<strong>da</strong>des. Estas regulari<strong>da</strong>des encontram­se: (1) em<br />

ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s níveis de análise lingüística: fonológico, lexical, gramatical,<br />

semântico­discursivo; (2) na diferenciação de traços lingüísticos marca<strong>do</strong>s e não­<br />

marca<strong>do</strong>s; (3) no significa<strong>do</strong> prototípico de uma palavra em relação aos seus<br />

demais significa<strong>do</strong>s; (4) na percepção que o falante tem <strong>da</strong>s semelhanças e<br />

diferenças entre as línguas em questão; (5) no desenvolvimento <strong>do</strong>s processos<br />

naturais que levam à interlíngua 18 , ou a uma língua intermédia entre a língua­alvo e<br />

LE; (6) nos contextos sociais em que as línguas são produzi<strong>da</strong>s e na relação entre<br />

falantes e ouvintes; (7) nas diferenças individuais entre aprendizes, tais como,<br />

personali<strong>da</strong>de, i<strong>da</strong>de, propósito <strong>para</strong> a aprendizagem <strong>da</strong> LE, motivação e atitude; e,<br />

(8) por fim, no uso que o aprendiz faz <strong>da</strong> língua.<br />

Ellis (1994) nos diz que a transferência é a influência que a língua materna<br />

<strong>do</strong> aprendiz exerce na aquisição de uma LE. A língua materna é uma <strong>da</strong>s fontes de<br />

erro no aprendiza<strong>do</strong> e neste caso é chama<strong>da</strong> de “transferência negativa”; entretanto,<br />

há casos em que a LM <strong>do</strong> aprendiz pode facilitar a aquisição <strong>da</strong> LE.<br />

Acredito que a transferência ocorre em to<strong>do</strong> o processo de aquisição <strong>da</strong> LE, e<br />

que ela é inevitável, pois um aprendiz adulto, de forma involuntária, traz consigo o<br />

18 De acor<strong>do</strong> com Ellis (1994), a interlíngua pode ser entendi<strong>da</strong> como um sistema de transição cria<strong>do</strong> pelo aprendiz<br />

ao longo de seu processo de assimilação de uma língua estrangeira, que se caracteriza pela interferência <strong>da</strong> língua­<br />

mãe. A existência de uma interlíngua foi primeiramente assinala<strong>da</strong> na literatura por Selinker (1972), que a definiu<br />

como “um sistema lingüístico se<strong>para</strong><strong>do</strong>, basea<strong>do</strong> na produção observa<strong>da</strong> por falantes não­nativos, o qual é resulta<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> tentativa <strong>do</strong> falante de produzir (segmentos) segun<strong>do</strong> as normas <strong>da</strong> L2”. De acor<strong>do</strong> com Selinker há cinco fatores<br />

que influenciam o resulta<strong>do</strong> proveniente <strong>do</strong> sistema <strong>da</strong> interlíngua: (1) transferência <strong>da</strong> L1; (2) transferência de<br />

treino, resultan<strong>do</strong> de um determina<strong>do</strong> treino utiliza<strong>do</strong> na aprendizagem <strong>da</strong> L2; (3) estratégias de aprendizagem; (4)<br />

estratégias de comunicação; e (5) supergeneralização.<br />

21


conhecimento de sua LM, diferente de uma criança que, ao aprender sua língua<br />

materna, parte de um estágio “zero”.<br />

As línguas diferem entre si não apenas em relação à quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de<br />

de seus sons, mas também em relação às características acústicas usa<strong>da</strong>s <strong>para</strong><br />

distinguí­los. Desta forma, <strong>para</strong> adquirir sons de uma língua estrangeira, os<br />

aprendizes terão, em muitos casos, que aprender a fazer uso de características que a<br />

língua materna não faz.<br />

De um mo<strong>do</strong> geral, pesquisa<strong>do</strong>res parecem concor<strong>da</strong>r com o fato de que a<br />

língua materna exerce relativa influência tanto na percepção quanto na produção de<br />

sons na LE. Entretanto, nenhum consenso foi ain<strong>da</strong> alcança<strong>do</strong> quanto à forma ou<br />

mesmo quanto à extensão desta influência.<br />

Segun<strong>do</strong> Flege (1995), a produção e percepção <strong>do</strong>s segmentos de segun<strong>da</strong><br />

língua (LE) estão correlaciona<strong>do</strong>s. Quanto mais tarde se aprende uma segun<strong>da</strong><br />

língua, maior a probabili<strong>da</strong>de de se ter sotaque. Segun<strong>do</strong> Scovel (1988:62), se a<br />

aquisição <strong>da</strong> LE ocorrer após o perío<strong>do</strong> crítico, quan<strong>do</strong> a possibili<strong>da</strong>de de aprender<br />

uma nova língua diminui devi<strong>do</strong> à per<strong>da</strong> <strong>da</strong> plastici<strong>da</strong>de neural, a produção e<br />

percepção serão afeta<strong>da</strong>s de formas diferentes.<br />

O Speech Learning Model (Modelo de Aprendizagem <strong>da</strong> Fala), desenvolvi<strong>do</strong><br />

por Flege pela primeira vez em 1987, em sua versão atual, continua fiel às suas<br />

idéias originais, na medi<strong>da</strong> em que se baseia na semelhança entre os segmentos <strong>da</strong><br />

LM e <strong>da</strong> LE e não mais nas diferenças, como se fazia na Contrastive Analysis (CA),<br />

e também na percepção <strong>para</strong> explicar as dificul<strong>da</strong>des na aquisição de sons de uma<br />

língua estrangeira. O SLM postula que os mecanismos de aprendizagem de fala<br />

22


permanecem intactos durante to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> indivíduo, embora eles possam deixar<br />

de atingir uma produção pareci<strong>da</strong> com a de um falante nativo, devi<strong>do</strong> a mu<strong>da</strong>nças<br />

relaciona<strong>da</strong>s com a i<strong>da</strong>de, no que diz respeito a como o sistema fonético de<br />

primeira língua (LM) interage com o <strong>da</strong> LE.<br />

De acor<strong>do</strong> com o SLM, a precisão com a qual os segmentos de L2 19 são<br />

percebi<strong>do</strong>s limita o mo<strong>do</strong> como serão produzi<strong>do</strong>s, mesmo que nem to<strong>do</strong>s os<br />

aspectos <strong>da</strong> aprendizagem perceptual possam ser incorpora<strong>do</strong>s na produção. A<br />

produção e a percepção não podem estar em perfeita simetria como ocorre na<br />

aquisição de fala em L1. Desta forma, o Modelo de Aprendizagem de Fala prevê<br />

que modestas correlações existirão entre a produção e percepção <strong>do</strong>s segmentos de<br />

L2 <strong>para</strong> falantes altamente experientes de uma L2. Por outro la<strong>do</strong>, Strange (1995)<br />

observou que, embora os erros de produção segmental por falantes não tão<br />

experientes de uma L2 possam ser percebi<strong>do</strong>s pelos seus erros perceptuais, as<br />

dificul<strong>da</strong>des perceptuais persistirão mesmo após o <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> produção segmental.<br />

O autor, ao contrário de Flege (1995), chegou à conclusão de que a produção e<br />

percepção segmental de L2 por falantes altamente experientes de uma L2 podem<br />

não estar correlaciona<strong>da</strong>s. De acor<strong>do</strong> com Flege (op. cit.), uma possível explicação<br />

<strong>para</strong> tal fenômeno é o fato de que nem to<strong>do</strong>s os que aprendem a perceber um som<br />

de L2 com precisão atualizam a produção segmental, <strong>para</strong> que esteja em<br />

conformi<strong>da</strong>de com a nova representação <strong>do</strong> som em L2.<br />

Um <strong>do</strong>s aspectos mais importantes <strong>do</strong> SLM (Flege, 1995) é a idéia de que<br />

sons <strong>da</strong> LE que são similares a sons <strong>da</strong> LM serão mais dificilmente adquiri<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

que novos sons. Segun<strong>do</strong> o SLM, sons específicos de uma determina<strong>da</strong> língua são<br />

19 L2 refere­se a qualquer outra língua que não seja a língua­mãe (L1) de um indivíduo. Neste caso, usamos o termo<br />

L2 como Língua Estrangeira.<br />

23


armazena<strong>do</strong>s na memória fonêmica <strong>do</strong> falante e ca<strong>da</strong> uma destas representações<br />

constitui uma categoria fonética. Se, durante a sua aprendizagem <strong>da</strong> LE, o falante<br />

não­nativo é confronta<strong>do</strong> com um novo som, um som diferente <strong>da</strong> LM, este<br />

resultará na formação de uma nova categoria fonética, específica <strong>para</strong> este som <strong>da</strong><br />

LE. Por outro la<strong>do</strong>, sons <strong>da</strong> LE que são similares a sons <strong>da</strong> LM, serão simplesmente<br />

conecta<strong>do</strong>s à categoria fonética já existente, que foi forma<strong>da</strong> com base na LM.<br />

Neste caso, não há formação de uma nova categoria, mas sim uma “fusão” de<br />

categorias: <strong>do</strong>is ou mais sons armazena<strong>do</strong>s em uma única categoria. Desta forma, o<br />

modelo de Flege prevê que, quanto maior for a proximi<strong>da</strong>de entre sons <strong>da</strong> LM e<br />

sons <strong>da</strong> LE, maior será a dificul<strong>da</strong>de de aquisição. Espera­se que os falantes que<br />

estabeleceram uma categoria de som encontra<strong>da</strong> na LE e não na LM produzam os<br />

sons com maior acui<strong>da</strong>de <strong>do</strong> que aqueles que não estabeleceram nenhuma<br />

categoria.<br />

Os aprendizes <strong>da</strong> LE podem filtrar as características fonéticas e/ou<br />

proprie<strong>da</strong>des usa<strong>da</strong>s nela , mas não na LM nos primeiros estágios <strong>da</strong> aprendizagem<br />

de fala <strong>da</strong> LE (Flege, 1995). Um exemplo disso é cita<strong>do</strong> por Munro (1993, apud<br />

Flege, 1995) que descobriu que árabes nativos que moraram nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

por seis anos aprenderam a produzir a diferença espectral entre as vogais /i/ e /I/ <strong>do</strong><br />

inglês como nativos, as quais diferem espectralmente <strong>da</strong>s vogais <strong>do</strong> árabe /i/ e /i:/.<br />

Porém, estes sujeitos exageraram na diferença temporal entre /i/ e /I/ <strong>do</strong> Inglês,<br />

como se os sons fossem produzi<strong>do</strong>s fonologicamente como vogais <strong>do</strong> árabe curtas e<br />

longas e não como vogais tensas e relaxa<strong>da</strong>s. Desta forma, falantes não­nativos não<br />

foram capazes de construir uma nova categoria <strong>para</strong> sons que se utilizam de traços<br />

de tensão.<br />

24


To<strong>da</strong>via, o modelo sugere que, à medi<strong>da</strong> que o falante não­nativo adquire<br />

experiência na LE, este pode desenvolver a capaci<strong>da</strong>de de perceber tais features e,<br />

desse mo<strong>do</strong>, formar novas categorias fonéticas, mesmo <strong>para</strong> sons <strong>da</strong> LE muito<br />

similares a sons <strong>da</strong> LM. A aprendizagem de fala <strong>da</strong> LE, como mostra o SLM,<br />

ocorre lentamente e exige uma grande quanti<strong>da</strong>de de input <strong>do</strong> falante nativo <strong>para</strong><br />

que haja sucesso. Esta afirmação baseia­se na observação de que a fala na LM se<br />

desenvolve também em um longo perío<strong>do</strong> de tempo. Pode­se concluir deste modelo<br />

que o desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de percepção de traços <strong>da</strong> LM é uma <strong>da</strong>s<br />

maneiras de se adquirir fluência em uma língua estrangeira.<br />

O Perceptual Assimilation Model (PAM), desenvolvi<strong>do</strong> por Best (1995),<br />

também está direciona<strong>do</strong> <strong>para</strong> o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> produção e percepção <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong><br />

língua­alvo. O PAM parte <strong>do</strong> princípio de que a percepção de sons de uma língua<br />

estrangeira é influencia<strong>da</strong> pela língua nativa: a L1 funciona como um filtro <strong>para</strong><br />

sons <strong>da</strong> L2. Ambos modelos, PAM e SLM, propõem que a eficácia em perceber<br />

contrastes não­nativos está parcialmente determina<strong>da</strong> pela maneira por meio <strong>da</strong><br />

qual estes fones são assimila<strong>do</strong>s em relação às categorias fonéticas nativas. No<br />

PAM, sugere­se que os sons <strong>da</strong> LE são percebi<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com suas semelhanças<br />

em relação aos sons <strong>da</strong> língua materna mais próximos articulatoriamente. O SLM<br />

difere­se <strong>do</strong> PAM, pois este primeiro trata diretamente <strong>da</strong> aprendizagem <strong>da</strong> LE.<br />

Nele, argumenta­se que um mecanismo chama<strong>do</strong> classificação por equivalência<br />

dificultaria a criação de novas categorias fonéticas <strong>para</strong> sons <strong>da</strong> LE semelhantes aos<br />

<strong>da</strong> LM, mas assim não o faria com os sons bem distintos.<br />

A relação entre produção e percepção vem sen<strong>do</strong> examina<strong>da</strong> por inúmeros<br />

autores. Flege et. alii (1995) investigaram estas duas características por meio <strong>da</strong><br />

25


produção <strong>da</strong>s vogais <strong>do</strong> Inglês /i/­/I/, /æ/­/ε/, pronuncia<strong>da</strong>s por 20 falantes nativos<br />

adultos <strong>da</strong> Alemanha, Espanha, Coréia e de Man<strong>da</strong>rin, os quais permaneceram nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s por 4 anos. Dois contínuos de vogais sintetiza<strong>da</strong>s foram<br />

produzi<strong>do</strong>s, um de beat /i/ <strong>para</strong> bit /I/, e outro de bat /æ/ <strong>para</strong> bet /ε/. Em ambos<br />

contínuos, a quali<strong>da</strong>de foi modifica<strong>da</strong> 11 vezes e a duração 3, produzin<strong>do</strong> um total<br />

de 66 estímulos, apresenta<strong>do</strong>s depois em um teste de identificação. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

obti<strong>do</strong>s a partir destes testes foram com<strong>para</strong><strong>do</strong>s com os de um teste de produção<br />

também elabora<strong>do</strong>.<br />

A produção <strong>da</strong>s vogais pelos sujeitos não­nativos foi avalia<strong>da</strong> acusticamente<br />

e auditivamente por falantes nativos de Inglês. Pôde ser visto que os falantes<br />

nativos de inglês produziram grandes diferenças no espectro, porém pequenas<br />

diferenças temporais entre /i/­/I/ e /æ/­/ε/, enquanto que os falantes não­nativos não<br />

produziram diferenças no espectro entre um ou ambos os pares, mas produziram<br />

grandes diferenças temporais. Também foi aponta<strong>da</strong> uma relação entre o grau de<br />

precisão de produção com o de percepção <strong>da</strong>s vogais inglesas. Finalmente, pôde ser<br />

observa<strong>do</strong> que a precisão na produção e percepção destas vogais variavam em<br />

relação ao inventário fonético <strong>da</strong> LM. Quanto maior eram as diferenças no espectro<br />

produzi<strong>da</strong>s pelos falantes não­nativos, maior o efeito <strong>da</strong> manipulação deste nos<br />

estímulos <strong>da</strong>s vogais sintetiza<strong>da</strong>s ao identificar as vogais como /i/ ou /I/ e /æ/ ou<br />

/ε/.<br />

A relação entre produção e percepção também foi examina<strong>da</strong> por Rochet<br />

(1995, apud Baptista, 2000). Falantes canadenses de inglês e falantes brasileiros de<br />

português sujeitaram­se a um teste de imitar a vogal francesa /y/ e catalogar um<br />

26


contínuo de vogais altas como /i/ ou /u/. Os erros de produção – a substituição <strong>da</strong><br />

vogal francesa /y/ por /u/ no caso <strong>do</strong>s falantes de inglês, e por /i/ no caso <strong>do</strong>s de<br />

português – correspondiam aos resulta<strong>do</strong>s no teste de percepção – vogais com o<br />

segun<strong>do</strong> formante 20 na altura de /y/ eram mais identifica<strong>da</strong>s como /u/ pelos falantes<br />

de inglês e como /i/ pelos de português.<br />

Morrison (2002A) comparou, em um estu<strong>do</strong> longitudinal, a percepção <strong>do</strong><br />

mesmo contraste entre falantes nativos <strong>do</strong> inglês e aprendizes japoneses e<br />

espanhóis. Foi utiliza<strong>do</strong> neste estu<strong>do</strong> um contínuo multidimensional de fala<br />

sintetiza<strong>da</strong> <strong>da</strong>s palavras beat /bit/, bit /bIt/, bead /bid/ e bid /bId/, varian<strong>do</strong> em<br />

duração e quali<strong>da</strong>de. Os sujeitos foram testa<strong>do</strong>s no primeiro e no sexto mês depois<br />

de suas chega<strong>da</strong>s nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Enquanto os japoneses apresentaram um<br />

limite categórico basea<strong>do</strong> em informação espectral nos testes inicial e final, os<br />

falantes de espanhol não apresentaram limites categóricos no teste inicial, mas<br />

foram encontra<strong>do</strong>s limites categóricos basea<strong>do</strong>s em duração ou quali<strong>da</strong>de no<br />

segun<strong>do</strong> teste.<br />

Em 1967, Lenneberg propôs uma hipótese <strong>para</strong> o aprendiza<strong>do</strong> de língua<br />

chama<strong>da</strong> de Hipótese <strong>do</strong> Perío<strong>do</strong> Crítico (HPC) 21 . O autor sugere que há um<br />

perío<strong>do</strong> durante a vi<strong>da</strong> humana – entre a infância e a puber<strong>da</strong>de (de 2 a 13 anos) ­<br />

que é crítico <strong>para</strong> o aprendiza<strong>do</strong> de línguas, e durante o qual o aprendiza<strong>do</strong> pode ter<br />

sucesso, tornan<strong>do</strong>­se, depois disso, secundário. Tal perío<strong>do</strong> é avalia<strong>do</strong> por meio de<br />

uma série de processos neurológicos, dentre eles, a lateralização <strong>da</strong>s funções<br />

cognitiva, lingüística e perceptual e a proliferação <strong>do</strong>s neurônios no córtex cerebral.<br />

20 O formante é o mo<strong>do</strong> natural de vibração, que é identifica<strong>do</strong> por algarismos, por exemplo, F1, F2, F3, Fn – esta<br />

numeração começa com o formante de freqüência mais baixa. Ca<strong>da</strong> formante pode ser descrito por duas<br />

características: centro de freqüência e largura de ban<strong>da</strong> (Kent e Read, 1992).<br />

21 Em inglês, Critical Period Hypothesis (CPH).<br />

27


Dentro <strong>da</strong> proposta <strong>do</strong> autor, isso acontece durante os primeiros anos de vi<strong>da</strong> e se<br />

estabiliza por volta <strong>da</strong> puber<strong>da</strong>de, sugerin<strong>do</strong> que a<strong>do</strong>lescentes e adultos não operam<br />

suas capaci<strong>da</strong>des inatas na aquisição de línguas tão bem quanto as crianças. Uma<br />

forte implicação desta hipótese é que os processos envolvi<strong>do</strong>s na aquisição de<br />

qualquer língua que ocorrer após o perío<strong>do</strong> <strong>da</strong> puber<strong>da</strong>de serão qualitativamente<br />

diferentes <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s na aquisição <strong>da</strong> primeira língua, além de ser mais lento e<br />

com menos êxito que o aprendiza<strong>do</strong> normal <strong>da</strong> primeira. (Krashen, 1975;<br />

Lenneberg, 1967, 1969; Scovel, 1969).<br />

Sobre a HPC na aquisição de segun<strong>da</strong> língua, Lenneberg (1967:176)<br />

esclarece o seguinte:<br />

Muitos indivíduos de inteligência comum são capazes de aprender uma<br />

segun<strong>da</strong> língua depois <strong>do</strong> começo de sua segun<strong>da</strong> déca<strong>da</strong>, apesar <strong>da</strong><br />

incidência ‘língua­aprendiza<strong>do</strong>­bloqueio’ aumentar rapi<strong>da</strong>mente depois <strong>da</strong><br />

puber<strong>da</strong>de. A aquisição automática a partir de uma mera exposição a uma<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> língua também parece desaparecer depois dessa i<strong>da</strong>de, e as línguas<br />

estrangeiras são ensina<strong>da</strong>s e aprecia<strong>da</strong>s através de um grande esforço.<br />

Sotaques estrangeiros não podem ser <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s facilmente após a<br />

puber<strong>da</strong>de. Porém, uma pessoa pode aprender a se comunicar em uma<br />

língua estrangeira aos quarenta anos (Lenneberg, 1967:176).<br />

Segun<strong>do</strong> DeKeyser (2000:518­519):<br />

Somewhere between the ages of 6­7 and 16­17, everybody loses the mental<br />

equipment required for the abstract patterns underlying a human language,<br />

and the critical period really deserves its name… It may be that the severe<br />

decline of the ability to induce abstract patterns implicitly is an inevitable<br />

28


consequence of fairly general aspects of neurological maturation and that it<br />

simply shows up most clearly in language acquisition 22 .<br />

A explicação neurológica de Lenneberg (1967) revela que as duas metades<br />

<strong>do</strong> cérebro (esquer<strong>da</strong> e direita) desenvolvem diferentes funções que se iniciam na<br />

infância e se completam na puber<strong>da</strong>de. Antes <strong>da</strong> puber<strong>da</strong>de, existe um perío<strong>do</strong><br />

durante o qual o cérebro tem mais plastici<strong>da</strong>de e permite, dentre outras coisas, a<br />

transferência de uma função de um hemisfério <strong>para</strong> outro; mas, ao se iniciar a<br />

puber<strong>da</strong>de, essa plastici<strong>da</strong>de desaparece, o que resulta na lateralização <strong>da</strong> função <strong>da</strong><br />

linguagem <strong>para</strong> o hemisfério esquer<strong>do</strong> <strong>do</strong> cérebro. Ou seja, a capaci<strong>da</strong>de<br />

neurológica de compreender e produzir a linguagem, que inicialmente envolve<br />

ambos os hemisférios <strong>do</strong> cérebro, passa a ser lentamente concentra<strong>da</strong> no la<strong>do</strong><br />

esquer<strong>do</strong> <strong>para</strong> a maioria <strong>da</strong>s pessoas. Com isso, a dificul<strong>da</strong>de crescente que<br />

aprendizes mais velhos experienciam foi vista como resulta<strong>do</strong> direto dessa<br />

mu<strong>da</strong>nça neurológica, pois mu<strong>da</strong>nças no cérebro mu<strong>da</strong>m a natureza de aquisição de<br />

uma LE.<br />

É importante observar, porém, que: a proposta de Lenneberg não especifica<br />

se a habili<strong>da</strong>de <strong>para</strong> língua declina somente no final <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> crítico (PC); se a<br />

mu<strong>da</strong>nça no ponto crítico é brusca ou gradual; se o PC afeta to<strong>do</strong>s os aspectos <strong>do</strong><br />

desenvolvimento <strong>da</strong> língua ou apenas alguns; se o PC é apenas biológico ou se há<br />

outros aspectos envolvi<strong>do</strong>s na capaci<strong>da</strong>de de aprender. A proposta de Lenneberg<br />

deixa claro que o curso de aquisição de uma segun<strong>da</strong> língua é semelhante ao <strong>da</strong><br />

primeira língua, em termos <strong>da</strong> ordem em que regras e estruturas são adquiri<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s<br />

estratégias de aprendizagem emprega<strong>da</strong>s e <strong>do</strong>s erros cometi<strong>do</strong>s.<br />

22 Entre 6­7 e 16­17 anos to<strong>do</strong>s perdem o equipamento mental necessário <strong>para</strong> as formas abstratas que subjazem a<br />

linguagem humana, e o perío<strong>do</strong> crítico realmente merece seu nome É possível que o declínio severo <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de<br />

<strong>para</strong> induzir as formas abstratas implicitamente seja uma conseqüência inevitável <strong>do</strong>s aspectos gerais <strong>da</strong> maturação<br />

neurológica, o qual simplesmente aparece de forma mais clara na aquisição de uma língua.<br />

29


Segun<strong>do</strong> Wei (2000), a aquisição de segun<strong>da</strong> língua, principalmente pelo<br />

adulto, envolve, inicialmente, o hemisfério direito mais que a aquisição <strong>da</strong> língua<br />

materna. Conforme a proficiência na segun<strong>da</strong> língua aumenta, o envolvimento <strong>do</strong><br />

hemisfério direito diminui e o <strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> aumenta. Porém, uma análise qualitativa<br />

<strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s existentes mostra que o hemisfério esquer<strong>do</strong> <strong>do</strong>mina fortemente o<br />

processamento <strong>da</strong> linguagem tanto <strong>para</strong> os monolíngues como <strong>para</strong> os bilíngües. Os<br />

bilíngües têm um armazenamento de linguagem <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s duas línguas, ou<br />

seja, <strong>do</strong>is sistemas lingüísticos, e um armazenamento conceitual mais geral, ou seja,<br />

um sistema cognitivo. Há canais fortes e de interconexão direta entre os três<br />

armazenamentos se<strong>para</strong><strong>do</strong>s. As interconexões entre as duas línguas se constituem<br />

de associação, de sistemas de tradução e de imagens comuns no ato de<br />

armazenamento conceitual enquanto media<strong>do</strong>res. Além disso, falantes de diferentes<br />

níveis de proficiência ou de diferentes estágios de aquisição variam na força e<br />

direcionamento <strong>da</strong>s interconexões entre os armazenamentos e, de forma se<strong>para</strong><strong>da</strong>,<br />

no processamento <strong>da</strong> linguagem; por exemplo, aqueles que são mais proficientes<br />

nas duas línguas procuram diretamente um conceito na língua­alvo, enquanto os<br />

menos proficientes tendem a usar a primeira língua como media<strong>do</strong>ra.<br />

1.1.2. A questão <strong>da</strong> inteligibili<strong>da</strong>de<br />

O que significam inteligibili<strong>da</strong>de e pronúncia inteligível? Catford (1950) faz<br />

uma distinção entre “inteligibili<strong>da</strong>de” e “eficácia”. O primeiro termo,<br />

inteligibili<strong>da</strong>de, se restringe ao entendimento <strong>da</strong>s palavras <strong>do</strong> falante pelo ouvinte.<br />

Catford (op. cit.) diz que a fala é inteligível caso o ouvinte enten<strong>da</strong> as palavras, ou<br />

seja, se sua resposta estiver adequa<strong>da</strong> às formas lingüísticas <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>. Para o<br />

autor, o falante obtém completa inteligibili<strong>da</strong>de se as formas lingüísticas forem<br />

30


seleciona<strong>da</strong>s de forma adequa<strong>da</strong>, isto é, se palavras, planos morfológico e sintático<br />

e sons forem apropria<strong>do</strong>s. O segun<strong>do</strong> nível, eficácia, inclui a compreensão <strong>da</strong><br />

intenção <strong>do</strong> falante pelo ouvinte. Para Catford (1950), “normalmente é intenção <strong>do</strong><br />

falante que o ouvinte respon<strong>da</strong> de mo<strong>do</strong> apropria<strong>do</strong> ao enuncia<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong><br />

durante a fala”.<br />

A inter­relação entre os <strong>do</strong>is termos é aparente, visto que, como Catford (op.<br />

cit.) explica, por um la<strong>do</strong>, um enuncia<strong>do</strong> inteligível pode ser ineficaz, quan<strong>do</strong> o<br />

ouvinte entende as palavras <strong>do</strong> falante; porém, a resposta <strong>do</strong> ouvinte não é a<br />

espera<strong>da</strong> pelo falante. Por outro la<strong>do</strong>, um enuncia<strong>do</strong> ininteligível aparentemente<br />

pode ser eficaz desde que o que é eficaz não seja o enuncia<strong>do</strong> propriamente dito,<br />

mas outros elementos na situação como um to<strong>do</strong>. Por exemplo, algumas pistas não­<br />

lingüísticas no contexto <strong>da</strong> situação, como gestos <strong>do</strong> falante, podem aju<strong>da</strong>r o<br />

ouvinte a responder, de forma adequa<strong>da</strong>, à intenção <strong>do</strong> emissor. Portanto, <strong>para</strong> o<br />

autor, um enuncia<strong>do</strong> só é completamente eficaz se também for inteligível.<br />

Para Kenworthy (1987), a inteligibili<strong>da</strong>de consiste em ser compreendi<strong>do</strong> por<br />

um ouvinte em um <strong>da</strong><strong>do</strong> momento e em uma <strong>da</strong><strong>da</strong> situação, sem esforço por parte<br />

dele, sen<strong>do</strong> que o grau de inteligibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pronúncia <strong>do</strong> falante é <strong>da</strong><strong>do</strong> pelo<br />

número de palavras identifica<strong>da</strong>s pelo ouvinte. Se sons ou características fonéticas<br />

são substituí<strong>da</strong>s e, em função disso, o ouvinte não consegue entender a fala, então<br />

Kenworthy considera que ela não é inteligível. Por outro la<strong>do</strong>, se o falante substitui<br />

um som em uma determina<strong>da</strong> palavra, mas, mesmo assim ela é compreendi<strong>da</strong>,<br />

então a autora considera que a fala é inteligível. Kenworthy com<strong>para</strong> este processo<br />

com o mo<strong>do</strong> como os adultos falantes de inglês ouvem e entendem a fala <strong>da</strong> criança<br />

que está aprenden<strong>do</strong> a falar o idioma em questão como sua língua materna. Uma<br />

criança de três/quatro anos de i<strong>da</strong>de com problemas em articular o /r/, como em<br />

31


“run”, trocan<strong>do</strong>­o por /w/, como em “win”, se ela disser “I see a wabbit”, seus pais<br />

irão entender que a criança está se referin<strong>do</strong> a um animal pelu<strong>do</strong> com orelhas<br />

grandes, porque eles sabem que /w/ equivale ao /r/ <strong>para</strong> a criança.<br />

Para Kenworthy (1987), a inteligibili<strong>da</strong>de depende <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de<br />

similari<strong>da</strong>de “counts of sameness” entre a LM e LE, e a origem <strong>do</strong>s problemas de<br />

inteligibili<strong>da</strong>de refere­se a quatro fatores determinantes: (1) substituição; (2)<br />

supressão e inserção de sons; (3) juntura de palavras; e (4) uso de acento, ritmo e<br />

entoação. Outros fatores que influenciam a inteligibili<strong>da</strong>de são: excesso de<br />

autocorreções, hesitações e reestruturações gramaticais, fala excessivamente lenta<br />

ou rápi<strong>da</strong>, falta de distinção entre palavras importantes, hábitos indiossincráticos de<br />

fala, grau de sotaque, habili<strong>da</strong>de em usar pistas contextuais e conhecimento<br />

partilha<strong>do</strong>.<br />

Kenworthy (op. cit.) propõe os termos “inteligibili<strong>da</strong>de” (intelligibility) ou<br />

“compreensibili<strong>da</strong>de” (understan<strong>da</strong>bility) e “comunicação” (communication).<br />

“Inteligibili<strong>da</strong>de” ou “Compreensibili<strong>da</strong>de” se refere ao reconhecimento de<br />

palavras: “the more words a listener is able to identify accurately when said by a<br />

particular speaker, the more intelligible that speaker is”. Comunicação<br />

compreende mais <strong>do</strong> que simplesmente articular palavras com sons bem<br />

produzi<strong>do</strong>s: envolve a leitura <strong>da</strong>s intenções <strong>do</strong> interlocutor. Para ela, comunicação é<br />

muito mais complexa que inteligibili<strong>da</strong>de e compreensibili<strong>da</strong>de; as intenções só<br />

existem na mente <strong>da</strong> outra pessoa, e os ouvintes precisam fazer uso de to<strong>da</strong><br />

informação disponível <strong>para</strong> adivinhar as intenções <strong>do</strong> falante. A informação<br />

disponível compreende o conhecimento que os ouvintes têm <strong>do</strong>s falantes, <strong>da</strong><br />

situação, o conhecimento que falantes e ouvintes compartilham, entre outros.<br />

Kenworthy (1987) mostra claramente a diferença entre inteligibili<strong>da</strong>de e<br />

32


comunicação em um trecho <strong>do</strong> diálogo a seguir. O falante A contava uma história<br />

<strong>para</strong> B, quan<strong>do</strong> de repente B começa a rir:<br />

“A: What are you laughing at?<br />

B: (stops laughing) oh… sorry<br />

A: No, I didn´t mean you shouldn´t laugh … I really want to know what<br />

you found funny” (p. 15)<br />

A pergunta de A <strong>para</strong> B foi uma pergunta direta, mas foi compreendi<strong>da</strong> como um<br />

coman<strong>do</strong> <strong>para</strong> <strong>para</strong>r de rir. O fato de B ter compreendi<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> palavra <strong>da</strong> pergunta<br />

de A significa que a pergunta de A foi inteligível <strong>para</strong> B. Portanto, como B não<br />

entendeu a intenção de A ao fazer a pergunta, a comunicação não ocorreu. Para<br />

Kenworthy (1987), a comunicação ocorre quan<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s interlocutores<br />

compreende a intenção <strong>do</strong> outro.<br />

Segun<strong>do</strong> Kenworthy (op. cit.), o objetivo <strong>do</strong> ensino de pronúncia deve ser o<br />

de tornar os aprendizes “comfortably intelligible” 23 <strong>para</strong> o ouvinte nativo. Em<br />

contraparti<strong>da</strong>, Jenkins (1996:19) acredita que, pelo fato <strong>do</strong> inglês ser fala<strong>do</strong> mais<br />

entre falantes não­nativos de diferentes línguas (“interlanguage talk”) que entre<br />

falantes não­nativos e nativos, a inteligibili<strong>da</strong>de deva ser considera<strong>da</strong> <strong>do</strong> ponto de<br />

vista desta “interlanguage talk”, visto que os desvios de pronúncia causam mais<br />

problemas de entendimento <strong>para</strong> ouvintes não­nativos que <strong>para</strong> nativos. A autora<br />

diz que é essencial que diferentes variações de “foreign versions” <strong>da</strong> pronúncia <strong>do</strong><br />

inglês conservem algum grau de similari<strong>da</strong>de <strong>para</strong> que a inteligibili<strong>da</strong>de seja<br />

preserva<strong>da</strong>. Ela sugere uma abor<strong>da</strong>gem <strong>para</strong> o ensino­aprendizagem de pronúncia<br />

que foque no que ela chama de “a common core of English phonology (núcleo<br />

23 Um tipo de pronúncia que pode ser entendi<strong>da</strong> pelo ouvinte sem muito esforço (Abercrombie, 1956)<br />

33


comum <strong>da</strong> fonologia <strong>do</strong> inglês)”, o qual servirá tanto de base <strong>para</strong> o ensino­<br />

aprendizagem de pronúncia como <strong>para</strong> preservar a inteligibili<strong>da</strong>de nos contextos de<br />

comunicação internacional. As oito áreas deste “núcleo comum” nas quais,<br />

segun<strong>do</strong> a autora, erros podem ser elimina<strong>do</strong>s são:<br />

1. Quali<strong>da</strong>de vocálica: a distinção entre vogais curtas e longas é mais<br />

importante que a quali<strong>da</strong>de vocálica, e a vogal deve estar clara durante a fala;<br />

2. Ditongos: a duração <strong>do</strong> ditongo em vez <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de vocálica deve ser a<br />

principal preocupação;<br />

3. Substituições <strong>do</strong> grupo consonantal exceto os que envolvem /θ/ e /ð/:<br />

substituição de uma consoante por outra pode causar confusão tanto <strong>para</strong> os<br />

ouvintes nativos como <strong>para</strong> os não­nativos.<br />

4. Realizações fonéticas: algumas aproximações podem levar a<br />

ininteligibili<strong>da</strong>de, como por exemplo: /p/ e /k/ não­aspira<strong>do</strong>s; nasalização <strong>da</strong>s<br />

vogais precedi<strong>da</strong>s por /n/ (ou /m/ na posição final) e omissão <strong>da</strong> consoante.<br />

5. Simplificação <strong>do</strong> grupo consonantal: omissão <strong>da</strong> consoante <strong>para</strong> simplificar<br />

os grupos consonantais pode causar ininteligibili<strong>da</strong>de: inserções de vogais<br />

parecem causar menos problemas.<br />

6. Acentuação de palavras: essencial <strong>para</strong> a compreensão <strong>do</strong>s ouvintes nativos.<br />

7. Proeminência 24 e formas não­acentua<strong>da</strong>s: em termos de produção <strong>do</strong>s<br />

falantes não­nativos, o ensino de pronúncia deve focar a proeminência<br />

apropria<strong>da</strong>, assim como no reconhecimento <strong>da</strong>s formas fracas.<br />

8. Acento nuclear/contrastivo, mas não o tom: acento coloca<strong>do</strong> na palavra<br />

erra<strong>da</strong> em uma sentença gera confusão tanto <strong>para</strong> o ouvinte nativo quanto<br />

<strong>para</strong> o não­nativo.<br />

24 Acento mais forte de um grupo acentual, ou conjunto de palavras.<br />

34


Dalton e Seildhofer (1995) propõem os termos “acessibili<strong>da</strong>de”<br />

(accessibility) e “aceitabili<strong>da</strong>de” (acceptability), e relacionam­nos à pronúncia <strong>do</strong><br />

falante de língua estrangeira e aos fatores sociais e psicológicos <strong>do</strong> interlocutor,<br />

bem como às percepções que ele tem de si mesmo e <strong>do</strong>s outros. Segun<strong>do</strong> as<br />

autoras, acessibili<strong>da</strong>de é determina<strong>da</strong> não só pela clareza <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>, mas<br />

também pelas expectativas e emoções <strong>do</strong> interlocutor (experiência e tolerância com<br />

sotaques estrangeiros). Por outro la<strong>do</strong>, “aceitabili<strong>da</strong>de” depende <strong>do</strong> valor que os<br />

interlocutores atribuem ao sotaque <strong>do</strong> falante.<br />

Bamgbose (1998) descreve inteligibili<strong>da</strong>de como um complexo de fatores<br />

que constitui e identifica uma expressão, compreende seu significa<strong>do</strong> e compreende<br />

o que este significa<strong>do</strong> representa no contexto sociocultural. O conceito de<br />

inteligibili<strong>da</strong>de <strong>para</strong> o autor pode ser com<strong>para</strong><strong>do</strong> aos três termos usa<strong>do</strong>s por Smith e<br />

Nelson (1985, apud Bamgbose,1998): “inteligibili<strong>da</strong>de” (intelligibility),<br />

“compreensibili<strong>da</strong>de” (comprehensibility) e “interpretabili<strong>da</strong>de” (interpretability),<br />

respectivamente. “Inteligibili<strong>da</strong>de” refere­se ao reconhecimento <strong>da</strong> palavra e <strong>do</strong><br />

enuncia<strong>do</strong>; “compreensibili<strong>da</strong>de” refere­se ao significa<strong>do</strong> de uma palavra ou de um<br />

enuncia<strong>do</strong>; e “interpretabili<strong>da</strong>de” refere­se ao significa<strong>do</strong> que está por detrás <strong>da</strong><br />

palavra ou <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>.<br />

James (1998), por outro la<strong>do</strong>, abor<strong>da</strong> inteligibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong><br />

falante. Ele usa três termos: “compreensibili<strong>da</strong>de” (comprehensibility),<br />

“inteligibili<strong>da</strong>de” (intelligibility) e “comunicabili<strong>da</strong>de” (communicability). O<br />

primeiro termo refere­se ao acesso ao conteú<strong>do</strong> – em oposição à forma – <strong>do</strong><br />

enuncia<strong>do</strong>. O segun<strong>do</strong> refere­se ao acesso <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> básico e literal <strong>do</strong><br />

significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> proposicional codifica<strong>do</strong> em um enuncia<strong>do</strong>. O terceiro e<br />

35


último termo, “comunicabili<strong>da</strong>de”, está relaciona<strong>do</strong> ao discurso e envolve “acesso<br />

às forças pragmáticas, implicaturas e conotações” (access to pragmatic forces,<br />

implicatures and connotations). A comunicabili<strong>da</strong>de ocorre quan<strong>do</strong> o leitor­ouvinte<br />

atribui um significa<strong>do</strong> a um enuncia<strong>do</strong>. Para o autor, a inteligibili<strong>da</strong>de encontra­se<br />

na língua produzi<strong>da</strong> pelos aprendizes “em termos de sua estrutura textual”, e a<br />

ininteligibili<strong>da</strong>de pode ocorrer caso haja erro no conteú<strong>do</strong> proposicional. Este<br />

conceito baseia­se em <strong>do</strong>is motivos principais: (1) James afirma que há problemas<br />

de inteligibili<strong>da</strong>de na ocorrência de um “erro” de fala, e (2) chama a atenção <strong>para</strong><br />

os erros produzi<strong>do</strong>s pelos aprendizes de línguas. Porém, o autor não exemplifica,<br />

não esclarece os problemas causa<strong>do</strong>s pela ininteligibili<strong>da</strong>de e nem quais seriam<br />

exatamente os erros produzi<strong>do</strong>s pelos aprendizes de línguas.<br />

Jenkins (2000:78) define inteligibili<strong>da</strong>de como “the production and<br />

recognition of the formal properties of words and utterances and, in particular, the<br />

ability to produce and receive phonological form”. Segun<strong>do</strong> a autora (op.cit.), a<br />

forma fonológica é uma condição <strong>para</strong> o sucesso entre falantes de inglês na<br />

Interlanguage Talk (ILT) 25 , e ela argumenta que não é mais desejável a visão, ain<strong>da</strong><br />

comum entre estudiosos <strong>do</strong> ensino­aprendizagem <strong>da</strong> língua inglesa e entre<br />

professores, de que a inteligibili<strong>da</strong>de constitui­se num processo unilateral em que<br />

falantes não­nativos esforçam­se <strong>para</strong> se fazer entender pelos falantes nativos, cuja<br />

prerrogativa é decidir o que é ou não inteligível. A pesquisa<strong>do</strong>ra propõe um núcleo<br />

de inteligibili<strong>da</strong>de internacional mútuo.<br />

Jenkins (2000) reconhece que ain<strong>da</strong> não há um consenso em relação à<br />

definição <strong>do</strong> termo inteligibili<strong>da</strong>de. Segun<strong>do</strong> ela, mais recentemente, a questão tem<br />

si<strong>do</strong> enfoca<strong>da</strong> em relação ao ouvinte, no que diz respeito às contribuições de seu<br />

25 Para Jenkins (2000), Interlanguage Talk refere­se à LM.<br />

36


conhecimento prévio e de suas habili<strong>da</strong>des de processamento. A autora destaca<br />

também que as discussões acerca <strong>do</strong> assunto têm se amplia<strong>do</strong> a partir de um<br />

interesse crescente por conceitos afins como ‘interpretabili<strong>da</strong>de’,<br />

‘comunicabili<strong>da</strong>de’ e ‘compreensão’, que fazem com que o conceito de<br />

inteligibili<strong>da</strong>de apareça mais liga<strong>do</strong> às questões de significa<strong>do</strong> que <strong>da</strong> forma<br />

lingüística (significante). Seus estu<strong>do</strong>s propõem a inteligibili<strong>da</strong>de como meta<br />

realista <strong>para</strong> o aprendiz de inglês como língua estrangeira, em contraposição aos<br />

pressupostos <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70, segun<strong>do</strong> os quais o objetivo seria atingir a maior<br />

semelhança possível com o falante nativo.<br />

Jenkins (2000.) comenta que, apesar de erros de pronúncia no nível<br />

segmental (consoantes, vogais, epêntese e acentuação de palavras), encontra<strong>do</strong>s na<br />

fala espontânea de não­nativos de inglês, afetarem a inteligibili<strong>da</strong>de por parte <strong>do</strong>s<br />

falantes nativos, a interação entre o nível segmental e o nível prosódico é tamanha<br />

que uma boa pronúncia segmental fica prejudica<strong>da</strong> por falta <strong>da</strong> transformação <strong>do</strong>s<br />

segmentos pelo contexto fonético e acentual nos quais estão inseri<strong>do</strong>s na cadeia <strong>da</strong><br />

fala.<br />

Corroboro a idéia de Jenkins (op. cit.), que diante <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças sócio­<br />

econômicas ocorri<strong>da</strong>s na déca<strong>da</strong> de 90 (em decorrência <strong>da</strong>s quais o inglês acabou<br />

por emergir como língua internacional, fala<strong>da</strong> e ensina<strong>da</strong> por um número ca<strong>da</strong> vez<br />

maior de falantes não­nativos), o enfoque <strong>da</strong> inteligibili<strong>da</strong>de, levan<strong>do</strong>­se em conta a<br />

interação entre a produção articulatória <strong>do</strong>s segmentos <strong>da</strong> fala e a posição prosódica<br />

por eles ocupa<strong>da</strong> na fala encadea<strong>da</strong>, tornou­se uma questão importante a ser<br />

considera<strong>da</strong> no ensino­aprendizagem <strong>do</strong> inglês como língua estrangeira, tanto no<br />

que se refere à formação de professores, quanto às possibili<strong>da</strong>des de aprendizagem<br />

de ca<strong>da</strong> aluno.<br />

37


Compartilho <strong>da</strong> idéia de Cruz (2003) quan<strong>do</strong> se refere a uma pronúncia<br />

inteligível e não semelhante à de um falante nativo de inglês, pois, como afirma<br />

Jenkins (2000) em seus trabalhos, é maior a probabili<strong>da</strong>de de se comunicarem com<br />

falantes não­nativos que com falantes nativos. O importante, segun<strong>do</strong> Jenkins (op.<br />

cit.), é o alcance de uma pronúncia inteligível e dentro <strong>do</strong>s padrões <strong>da</strong> língua­alvo,<br />

que permita ao falante sentir­se confiante ao expressar­se oralmente. Acredito que<br />

talvez o objetivo de alcançar uma pronúncia como a <strong>do</strong> falante nativo seja<br />

compartilha<strong>do</strong> somente por alguns profissionais, como, por exemplo, os<br />

professores de línguas que esperam servir de modelo <strong>para</strong> seus alunos.<br />

Concor<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> com Cruz (op. cit.) quan<strong>do</strong> conclui, em seu artigo, que os<br />

erros de acentuação de palavra na fala de aprendizes brasileiros de inglês podem ser<br />

a origem <strong>da</strong> falta de inteligibili<strong>da</strong>de, uma vez que o acento em língua inglesa é<br />

variável e móvel. Independentemente <strong>da</strong> classe gramatical <strong>da</strong> palavra e de sua<br />

ocorrência na sentença, o aprendiz tem a tendência de pronunciar o acento na<br />

mesma sílaba. Como exemplo dessa afirmação tem­se a palavra Record como<br />

substantivo e como verbo analisa<strong>do</strong> no trabalho de Jenkins (2000). Como<br />

substantivo, o acento recai sobre a primeira sílaba (REcord); já como verbo, recai<br />

sobre a segun<strong>da</strong> (ReCORD). Mas a tendência <strong>do</strong> aluno é de pronunciar o acento na<br />

mesma sílaba, o que pode interferir na inteligibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fala.<br />

Enquanto pesquisa<strong>do</strong>ra e professora de Língua Inglesa acredito, assim como<br />

Cruz (2003), que (1) há necessi<strong>da</strong>de de mais pesquisas <strong>para</strong> descobrir quais fatores<br />

podem propiciar um maior grau de compreensão <strong>do</strong> inglês fala<strong>do</strong> por brasileiros<br />

por parte falantes nativos de inglês; (2) a pronúncia como a <strong>do</strong> falante nativo não é<br />

mais leva<strong>da</strong> em consideração como modelo a ser atingi<strong>do</strong>; o que se procura, hoje, é<br />

a inteligibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fala; e (3) a pronúncia inadequa<strong>da</strong> pode ser interpreta<strong>da</strong> como<br />

38


sen<strong>do</strong> engraça<strong>da</strong> e infantil e/ou o falante pode ser visto como não fluente na língua,<br />

não só por nativos, mas também por não­nativos com bom nível de desempenho<br />

oral. Se o falante tem consciência de que sua pronúncia <strong>da</strong> LE não causa estranheza<br />

ao seu ouvinte e que sua fala é entendi<strong>da</strong> sem dificul<strong>da</strong>des, certamente se tornará<br />

confiante e alcançará sucesso.<br />

1.1.3. Paradigma nativo/não­nativo<br />

O inglês é a língua toma<strong>da</strong> como base na comunicação internacional, a<br />

língua franca <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Mais pessoas falam inglês hoje que qualquer outra língua<br />

usa<strong>da</strong> em outra época na história <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> Segun<strong>do</strong> algumas estatísticas, há cerca<br />

de um bilhão de pessoas no mun<strong>do</strong> hoje que falam inglês, sen<strong>do</strong> que é a língua<br />

oficial ou semi­oficial em mais de 60 países, em 6 continentes (Crystal, 1995A).<br />

O´Neill (1991:304) acredita que falantes não­nativos; porém fluentes, são tão<br />

competentes lingüisticamente quanto falantes nativos. Segun<strong>do</strong> o autor (op. cit.):<br />

Fluent non­native speakers reveal several strategies (including the retention<br />

of clear but distinguish foreign accents) that can help other non­native<br />

learners to cope better with the target language. Also non­native teachers<br />

have one inestimable advantage over native speakers, particularly those<br />

who have never learned a foreign language. They have actually learned the<br />

target language as foreigners and have direct insight into and experience of<br />

the processes involved for other non­native speakers. 26 (O’Neill, 1991:304).<br />

26 Falantes fluentes não­nativos revelam inúmeras estratégias (incluin<strong>do</strong> a retenção de acentos claros, porém<br />

estrangeiros e distintivos) que possam aju<strong>da</strong>r outros aprendizes não­nativos a saírem­se melhor na língua­alvo. Os<br />

professores não­nativos também têm uma vantagem inestimável em relação aos nativos, principalmente aqueles que<br />

nunca aprenderam uma língua estrangeira. Na ver<strong>da</strong>de eles aprenderam a língua­alvo enquanto estrangeiros e têm<br />

insight direto e experiência <strong>do</strong>s processos envolvi<strong>do</strong>s <strong>para</strong> outros falantes não­nativos.<br />

39


Em contextos como o Brasil, em que o inglês, o francês, o alemão, o<br />

espanhol etc. são ensina<strong>do</strong>s como “línguas estrangeiras”, os próprios educa<strong>do</strong>res de<br />

línguas, na maioria <strong>da</strong>s vezes, são falantes não­nativos. Como então vamos querer<br />

que nossos alunos sigam padrões lingüísticos ou culturais <strong>do</strong>s falantes nativos?<br />

Há uma outra questão a ser considera<strong>da</strong>: professores não­nativos de inglês<br />

normalmente são trata<strong>do</strong>s como ci<strong>da</strong>dãos de segun<strong>da</strong> classe no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> ensino de<br />

língua. Uma possível explicação <strong>para</strong> este fato é que, atualmente, o inglês não é só<br />

uma outra língua, é “the hottest selling commodity on the foreign language<br />

teaching market” (Phillipson, 1992). Segun<strong>do</strong> Medgyes (1994:15), os professores<br />

não­nativos, por terem um <strong>do</strong>mínio deficitário <strong>do</strong> inglês, sentem­se inferiores aos<br />

nativos:<br />

… compared to native speakers, they <strong>do</strong> less well in every aspect of<br />

language performance, as a rule. This feeling of underachievement is<br />

particularly excruciating when their performance is compared to that of<br />

native speakers with similar variables in terms of age, sex, education,<br />

intelligence and especially profession. Let me mention in passing that we<br />

non­native English speaking teachers go through this painful experience<br />

<strong>da</strong>y in, <strong>da</strong>y out. 27 (Medgyes 1994:15).<br />

Para Medgyes (1994, apud Pow, 2003), o professor não­nativo apresenta<br />

aspectos positivos, tais como:<br />

27 ... com<strong>para</strong><strong>do</strong> com falantes nativos, eles não se saem tão bem em ca<strong>da</strong> aspecto de desempenho lingüístico, de<br />

mo<strong>do</strong> geral. Esse sentimento de insucesso é especialmente excruciante ao com<strong>para</strong>r seu desempenho com o de<br />

falantes nativos com variáveis similares em termos de i<strong>da</strong>de, sexo, escolari<strong>da</strong>de, inteligência e, principalmente,<br />

profissão. Deixe­me dizer, de passagem, que nós, professores não­nativos de inglês, passamos por essa experiência<br />

<strong>do</strong>lorosa to<strong>do</strong> santo dia.<br />

40


a possibili<strong>da</strong>de de ser um bom referencial como aprendiz <strong>da</strong> língua<br />

estrangeira, pois vivenciou o processo de aprender a língua<br />

estrangeira;<br />

a partir de suas próprias estratégias de aprendizagem, o professor pode<br />

contribuir <strong>para</strong> tornar seus alunos conscientes <strong>da</strong>s estratégias que<br />

utilizam;<br />

o fato de compartilhar a língua e a cultura maternas com seus alunos<br />

pode tornar o professor sensível às dificul<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s aprendizes;<br />

a familiari<strong>da</strong>de com o contexto lingüístico, sócio­econômico e<br />

educacional permite que o professor identifique o nível de motivação<br />

de seus alunos.<br />

Medgyes (1994) chega à conclusão de que os falantes nativos não são<br />

necessariamente professores de inglês mais eficazes: segun<strong>do</strong> ele, os professores<br />

não­nativos tem “igual oportuni<strong>da</strong>de de sucesso”. Por exemplo, falantes não­<br />

nativos mostram empatia, nos concedem um bom modelo de imitação e ensinam<br />

“estratégias de aprendizagem de língua eficaz”; porém, o autor não nos deixa claro<br />

quais são estas estratégias e de que forma são um modelo de imitação. Para<br />

Medgyes (1994): (1) professores nativos de inglês e não­nativos diferem em termos<br />

de competência lingüística e forma de ensino; e (2) a discrepância na competência<br />

lingüística explica a maioria <strong>da</strong>s diferenças encontra<strong>da</strong>s na forma de ensinar.<br />

Medgyes (op. cit.) acredita que o professor ideal não­nativo é aquele que alcança<br />

uma proficiência em inglês próxima <strong>do</strong> nativo. Por outro la<strong>do</strong>, o professor nativo<br />

ideal será aquele que tiver alcança<strong>do</strong> um grau de proficiência <strong>da</strong> língua materna <strong>do</strong><br />

aprendiz.<br />

41


Medgyes (1994:42) afirma que a competência lingüística <strong>do</strong>s falantes nativos<br />

constitui uma “vantagem tão substancial que não pode ser medi<strong>da</strong> por outros<br />

fatores pre<strong>do</strong>minantes na situação de aprendizagem – motivação, aptidão,<br />

perseverança, experiência, educação e outros”. Ele vê os falantes nativos como<br />

aqueles que adquiriram o inglês quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong><strong>do</strong>s aos falantes não­nativos em<br />

que ain<strong>da</strong> estão adquirin<strong>do</strong> a língua. Em síntese, os falantes não­nativos, ao<br />

contrário <strong>do</strong>s nativos, são permanentes aprendizes. Segun<strong>do</strong> o autor, a desvantagem<br />

<strong>do</strong> falante não­nativo é “relativa”, mesmo adquirin<strong>do</strong> proficiência semelhante à <strong>do</strong><br />

nativo, pois os falantes não­nativos assumem o rótulo de “falantes pseu<strong>do</strong>­nativos”<br />

devi<strong>do</strong> à variabili<strong>da</strong>de fonológica e coloquial <strong>do</strong> uso <strong>da</strong> língua.<br />

Segun<strong>do</strong> Wid<strong>do</strong>wson (1998:20), professores não­nativos conhecem inglês de<br />

mo<strong>do</strong> explícito por terem aprendi<strong>do</strong> o idioma como língua estrangeira (ou segun<strong>da</strong><br />

língua) e como conseqüência as “credenciais” pe<strong>da</strong>gógicas são mais “confiáveis”.<br />

Medgyes (1994) acredita que os professores nativos desconhecem os sistemas <strong>do</strong><br />

inglês “como língua estrangeira” e questões teóricas; são ári<strong>do</strong>s aprendizes de<br />

língua e analistas e pesquisa<strong>do</strong>res <strong>da</strong> língua <strong>do</strong>s aprendizes e <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des na<br />

aprendizagem de inglês.<br />

Seidlhofer (1999:238) diz que:<br />

The non­native teacher has been through the process of learning the foreign<br />

language, often through the same L1 “filter”, and she knows what it is like<br />

to have made the foreign language, in some sense, her own, to have<br />

appropriated it for particular purposes. This is an experience which is<br />

shared only between non­native teachers and their students. One could say<br />

that native speakers know the destination, but not the terrain that has to be<br />

crossed to get there: they themselves have not traveled the same route.<br />

42


Non­native teachers, on the other hand, know the target language as a<br />

foreign language. Para<strong>do</strong>xically, it is precisely this which is often perceived<br />

as a weakness, although it can be understood, and drawn upon, as an<br />

important resource. This shared language learning experience should thus<br />

constitute the basis for non­native teachers´confidence, not for their<br />

insecurity. 28 (Seidlhofer 1999:238).<br />

Para Seidlhofer (1999), os professores não­nativos têm conhecimento<br />

privilegia<strong>do</strong> ao transmitirem seu aprendiza<strong>do</strong>, principalmente quan<strong>do</strong><br />

compartilham a LM <strong>do</strong>s aprendizes e aprendem inglês por meio <strong>do</strong> mesmo “filtro”<br />

<strong>da</strong> LM. Mesmo se não compartilharem a mesma LM que seus aprendizes, o<br />

bilingüismo concede aos professores não­nativos insights no aprendiza<strong>do</strong> de inglês<br />

que não estão disponíveis <strong>para</strong> os professores nativos. Os professores nativos<br />

também têm conhecimento privilegia<strong>do</strong>; porém, tal conhecimento está relaciona<strong>do</strong><br />

à Língua Inglesa e não à forma de ensino, o que comprova o que Wid<strong>do</strong>wson<br />

classificou como conhecimento intuitivo – conhecimento <strong>do</strong> uso idiomático, gíria,<br />

phrasal verbs, provérbios e aspectos culturais.<br />

Embora os professores nativos tenham uma familiari<strong>da</strong>de suficiente com o<br />

sistema de pronúncia <strong>da</strong> LM <strong>do</strong>s aprendizes, bem como um conhecimento de<br />

<strong>Fonética</strong> Articulatória; eles conseguem informar, mas não instruir: eles têm seu<br />

próprio modelo de pronúncia e acreditam que a aquisição de pronúncia deva seguir<br />

um processo. Porém, tal processo não é explica<strong>do</strong> por Seidlhofer (1999). Segun<strong>do</strong> a<br />

28 O professor não­nativo passa pelo processo de aprendizagem de uma língua estrangeira, pelo mesmo filtro <strong>da</strong> L1, e<br />

sabe o que faz com que a língua estrangeira, de uma certa forma, se torne proprie<strong>da</strong>de sua, por ter se apropria<strong>do</strong> dela<br />

por objetivos pessoais. Esta é uma experiência compartilha<strong>da</strong> apenas entre professores não­nativos e seus alunos.<br />

Pode­se dizer que falantes nativos conhecem o destino, mas não o território que têm de atravessar <strong>para</strong> chegar lá:<br />

particularmente, eles não têm percorri<strong>do</strong> o mesmo trajeto. Por outro la<strong>do</strong>, professores não­nativos, conhecem a<br />

língua­alvo como língua estrangeira. Para<strong>do</strong>xalmente, é exatamente isto que é observa<strong>do</strong> como fraqueza, embora<br />

possa ser entendi<strong>do</strong>, e delinea<strong>do</strong>, como um importante recurso. Esta experiência de aprendizagem <strong>da</strong> língua<br />

compartilha<strong>da</strong> deve, assim, constituir a base de confiança e não de insegurança <strong>para</strong> os professores não­nativos.<br />

43


autora, não é mais relevante que os aprendizes tenham uma pronúncia semelhante à<br />

<strong>do</strong> falante nativo; não precisam ter uma preocupação com a inteligibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s<br />

ouvintes nativos bem como entendê­los.<br />

Mesmo haven<strong>do</strong> um número de aprendizes cujo objetivo é realmente<br />

alcançar uma pronúncia como a <strong>do</strong> falante nativo, em virtude de suas necessi<strong>da</strong>des<br />

profissionais ou pessoais, o objetivo <strong>do</strong> ensino de pronúncia hoje é, acima de tu<strong>do</strong>,<br />

o <strong>da</strong> inteligibili<strong>da</strong>de internacional: tornar o aprendiz um membro eficaz <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de de falantes <strong>do</strong> inglês, fazer com que ele alcance a inteligibili<strong>da</strong>de de<br />

fala, pois assim o conhecimento intuitivo <strong>do</strong>s professores nativos se tornaria<br />

irrelevante. Por outro la<strong>do</strong>, o conhecimento privilegia<strong>do</strong> <strong>do</strong>s professores não­<br />

nativos, adquiri<strong>do</strong> por meio <strong>da</strong> própria experiência ao aprender a LE – e <strong>do</strong><br />

background <strong>da</strong> LM –, concede­lhes inúmeras vantagens com relação ao ensino de<br />

pronúncia quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong><strong>do</strong> ao nativo.<br />

Mas, afinal, quais são as vantagens <strong>do</strong>s professores não­nativos com relação<br />

à pronúncia? As vantagens recaem em três áreas principais: sistemas de<br />

conhecimento fonético e fonológico, o critério de inteligibili<strong>da</strong>de e os modelos de<br />

pronúncia em sala de aula (Medgyes, 1994). Segun<strong>do</strong> Medgyes (op. cit.), os<br />

professores de inglês, de forma geral, têm um conhecimento limita<strong>do</strong> de seu<br />

próprio sistema fonológico e <strong>do</strong> inglês e <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> Articulatória. Taylor (1991)<br />

acredita que há a necessi<strong>da</strong>de de professores e aprendizes se familiarizarem com a<br />

pronúncia <strong>da</strong> LE. Os professores nativos têm um conhecimento intuitivo <strong>da</strong><br />

pronúncia <strong>da</strong> LM – o inglês –, o que os capacita a agir como informantes <strong>da</strong> LE.<br />

44


Por exemplo, eles conseguem interpretar os movimentos de pitch 29 como<br />

expressões de própria atitude (às vezes não em um nível consciente), ou mostrar<br />

instintivamente em que situações as formas fracas podem ou não ser usa<strong>da</strong>s. Para<br />

Jenkins (2000), os professores de inglês não­nativos raramente têm este tipo de<br />

conhecimento intuitivo <strong>do</strong> inglês e <strong>da</strong> sua própria LM, visto que os aprendizes não<br />

têm o objetivo de “get into the skin of the native speaker”, nem destes professores<br />

falarem outras línguas.<br />

Quanto a intuições sobre o sistema de pronúncia <strong>da</strong> LE, os professores<br />

nativos podem ser melhores informantes e os não­nativos melhores instrutores<br />

quan<strong>do</strong> capacita<strong>do</strong>s a li<strong>da</strong>r, de forma eficaz e sensível, com as dificul<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s<br />

aprendizes no que tange à pronúncia <strong>do</strong> inglês. Isto ocorre porque, como falantes <strong>da</strong><br />

mesma LM, eles estão cientes <strong>da</strong> estranheza por parte <strong>do</strong>s aprendizes de certos<br />

aspectos <strong>do</strong> inglês – determina<strong>do</strong>s sons ou grupos consonantais, o uso <strong>da</strong> aspiração,<br />

a duração <strong>do</strong> pitch range 30 ou a diferença de duração entre as sílabas acentua<strong>da</strong>s e<br />

não­acentua<strong>da</strong>s, e assim por diante (Medgyes, 1994).<br />

O conhecimento, tanto formal quanto intuitivo <strong>da</strong> LM de seus aprendizes e<br />

<strong>do</strong>s sistemas fonético e fonológico <strong>do</strong> inglês como LE, capacita a maioria <strong>do</strong>s<br />

professores não­nativos a criarem mais estratégias eficazes de sala de aula <strong>para</strong><br />

li<strong>da</strong>r com os problemas de pronúncia de seus aprendizes. Os professores não­<br />

nativos podem fazer uso <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> Articulatória <strong>para</strong> demonstrar onde e como os<br />

sons são produzi<strong>do</strong>s na LE quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong><strong>do</strong>s a LM. E no contexto <strong>do</strong> inglês<br />

como língua internacional – em que há diversos tipos de pronúncia desta língua<br />

29 A freqüência fun<strong>da</strong>mental (f0) <strong>da</strong> voz é percebi<strong>da</strong> como o tom (que se assume ser a melhor tradução <strong>da</strong> palavra<br />

inglesa pitch, geralmente usa<strong>da</strong> nas diversas línguas e que poderá, pela generalização <strong>do</strong> seu uso, ser manti<strong>da</strong> no<br />

texto em português). O tom é a frequência fun<strong>da</strong>mental subjectiva, isto é, “ouvi<strong>da</strong>”. Usamos a palavra pitch quan<strong>do</strong><br />

nos referimos a um tom baixo ou alto (Delga<strong>do</strong>­Martins, 2002).<br />

30 Refere­se à extensão de inflexão tonal usa<strong>da</strong> por um falante (Madureira, 1999).<br />

45


devi<strong>do</strong> às diferenças regionais – é importante que os professores dêem maior<br />

atenção aos sistemas fonético e fonológico.<br />

Segun<strong>do</strong> Lieff (1996), em uma pesquisa feita com 200 professores de Língua<br />

Inglesa (rede particular e pública) em São Paulo, o professor desta, em geral,<br />

apresenta um despreparo na área <strong>da</strong> fonética e fonologia <strong>do</strong> inglês, quer em<br />

benefício próprio, quer no enriquecimento de sua prática pe<strong>da</strong>gógica. O professor<br />

encontra dificul<strong>da</strong>de em relacionar a teoria com a prática, em perceber suas<br />

necessi<strong>da</strong>des como usuário <strong>da</strong> língua e desenvolver estratégias que promovam uma<br />

compreensão e produção oral mais eficientes, em desenvolver a autoconfiança<br />

necessária <strong>para</strong> tomar algumas decisões com relação ao trabalho com a pronúncia<br />

em sala de aula: O QUÊ, PARA QUÊ e COMO trabalhar a pronúncia com os<br />

alunos. Segun<strong>do</strong> Medgyes (1994), a comuni<strong>da</strong>de escolar espera que o professor (e<br />

este espera de si mesmo) seja um bom referencial como falante. Ain<strong>da</strong> são comuns,<br />

entre os institutos de língua e sua clientela, as exigências quanto a certos padrões de<br />

pronúncia e a preferência por falantes nativos, ou seja, originários de países que<br />

falam a língua inglesa, mesmo quan<strong>do</strong> não habilita<strong>do</strong>s <strong>para</strong> o ensino.<br />

A segun<strong>da</strong> área em que os professores não­nativos têm vantagens sobre os<br />

nativos com relação à pronúncia é o critério de inteligibili<strong>da</strong>de. O critério de<br />

inteligibili<strong>da</strong>de refere­se à priorização no ensino de pronúncia <strong>da</strong>s características<br />

que foram designa<strong>da</strong>s de ´núcleo`. Estas características são as que emergiram <strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> interlanguage talk como cruciais <strong>para</strong> a inteligibili<strong>da</strong>de mútua em<br />

contextos de interação <strong>do</strong> inglês como língua internacional, ou seja, entre falantes<br />

não­nativos, em vez de entre falante nativo e não­nativo. Os professores que estão<br />

familiariza<strong>do</strong>s com os sistemas de pronúncia <strong>da</strong> LM <strong>do</strong>s aprendizes identificam<br />

melhor quais características <strong>do</strong> núcleo estão presentes nos repertórios <strong>da</strong> LM <strong>do</strong>s<br />

46


alunos e quais deverão ser acrescenta<strong>da</strong>s nos repertórios <strong>do</strong> inglês como língua<br />

internacional.<br />

De acor<strong>do</strong> com Jenkins (2000), os professores não­nativos têm experiência<br />

em usar o inglês como língua franca com falantes de outras LMs. Isto significa que<br />

eles conhecem de antemão quais características de sua própria pronúncia <strong>do</strong> inglês<br />

não são inteligíveis a falantes de outras varie<strong>da</strong>des <strong>da</strong> língua, e quais características<br />

de pronúncia desses falantes causam problemas de inteligibili<strong>da</strong>de a eles. As<br />

pessoas que falam inglês em contextos deste idioma como língua internacional<br />

estão cientes de que não é necessário reproduzir to<strong>do</strong>s os aspectos <strong>da</strong> pronúncia<br />

dele de forma inteligível <strong>para</strong> outros falantes <strong>da</strong> LE, e elas têm um bom<br />

conhecimento de quais características particularmente são cruciais e quais são<br />

triviais a este respeito. Por outro la<strong>do</strong>, os professores nativos, mesmo bilíngües,<br />

parecem ter certa dificul<strong>da</strong>de em avaliar quais características de pronúncia de<br />

diferentes varie<strong>da</strong>des de inglês são inteligíveis e não­inteligíveis a estes falantes.<br />

Eles podem apenas mediar a inteligibili<strong>da</strong>de sob a perspectiva de falantes nativos<br />

de inglês e supor a <strong>do</strong>s não­nativos. Isto resulta na hipótese de que quaisquer que<br />

sejam as características que tornam a pronúncia <strong>da</strong> Língua Inglesa inteligível <strong>para</strong> o<br />

falante nativo também o tornam <strong>para</strong> os ouvintes não­nativos, e, assim, os<br />

professores podem apresentar estas características na sala de aula como elementos<br />

de pronúncia de to<strong>do</strong> um contexto.<br />

Para a autora (2000), se a pronúncia de determina<strong>do</strong>s sons soar rude ao<br />

falante nativo, este irá considerá­la intrinsicamente rude e não como uma varie<strong>da</strong>de<br />

regional <strong>da</strong> LE. Da mesma forma, se ele encontrar algum aspecto de pronúncia<br />

ininteligível num grupo <strong>da</strong> LE, irá considerar a necessi<strong>da</strong>de de melhora. Assim, os<br />

professores nativos continuarão ensinan<strong>do</strong> a produção de características<br />

47


assimilatórias (características de fala encadea<strong>da</strong>, como assimilação, elisão, formas<br />

fraca, juntura) e os sons /ɵ/ e /ð/, simplesmente porque estes aspectos são<br />

importantes <strong>para</strong> eles.<br />

Jenkins (2000) acredita que o melhor modelo de pronúncia <strong>do</strong> inglês como<br />

língua internacional é o <strong>do</strong> falante de inglês bilíngüe e fluente – o não­nativo. O<br />

modelo é mais apropria<strong>do</strong> e realista que os modelos <strong>da</strong> LM, pois incorpora to<strong>da</strong>s as<br />

características <strong>do</strong> núcleo e, portanto, parece ser internacionalmente inteligível.<br />

Tanto <strong>para</strong> os aprendizes <strong>da</strong> mesma LM quanto <strong>para</strong> o professor, o modelo também<br />

contém um número de características <strong>da</strong> LM mais realistas, ou seja, é mais<br />

acessível/realizável na prática. Os modelos bilíngües fluentes também são mais<br />

adequa<strong>do</strong>s sociolingüística e sócio­psicologicamente. Em termos sociolingüísticos,<br />

é simplesmente uma questão de praticar o que se prega. Em termos sócio­<br />

psicológicos, os professores bilíngües e fluentes são testemunhas de que os<br />

aprendizes adquirem pronúncia inteligível enquanto retêm as identi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> LM.<br />

Lee (2000, apud Pow, 2003), relatan<strong>do</strong> sua experiência como professora<br />

chinesa no Canadá, descreve seus sentimentos de inferiori<strong>da</strong>de e conflitos com seus<br />

alunos, imigrantes como ela. Apesar <strong>da</strong>s qualificações e proficiência que a<br />

habilitavam no ensino <strong>da</strong> Língua Inglesa, sentia­se confronta<strong>da</strong> e pressiona<strong>da</strong> pelos<br />

alunos, que insistentemente colocavam à prova seus conhecimentos e proficiência<br />

lingüísticos. Ela acredita que o status de professores “não­nativos seria diferente”,<br />

isto é, haveria maior reconhecimento profissional, se os não­nativos fossem a<br />

maioria e não a exceção.<br />

48


Segun<strong>do</strong> Pow (2003), a dicotomia entre professor nativo e não­nativo é um<br />

rótulo impreciso e carrega<strong>do</strong> de preconceitos, que divide e discrimina, e leva, em<br />

geral, à auto­desvalorização profissional. Para ela (op. cit.), o professor está em<br />

busca de um aprimoramento que o torne confiante como profissional e como<br />

usuário <strong>da</strong> Língua Inglesa, à medi<strong>da</strong> que se dá conta de suas necessi<strong>da</strong>des e<br />

desafios. Para<strong>do</strong>xalmente, preocupa<strong>do</strong> com ativi<strong>da</strong>des práticas imediatamente<br />

aplicáveis na sala de aula, o <strong>do</strong>cente parece pouco consciente quanto ao<br />

conhecimento já construí<strong>do</strong> <strong>da</strong> língua materna e quanto às exigências de<br />

aprendizagem <strong>da</strong> língua estrangeira que ele compartilha com seus alunos.<br />

Vale lembrar que este estu<strong>do</strong> não tem como objetivo julgar qual é o professor<br />

ideal <strong>para</strong> o ensino de inglês nem o de criar condições <strong>para</strong> que uma pronúncia<br />

semelhante à <strong>do</strong> nativo seja “alcança<strong>da</strong>”, mas, sim, ampliar o conhecimento <strong>do</strong><br />

professor de Língua Inglesa de nacionali<strong>da</strong>de brasileira no que diz respeito ao<br />

mapeamento no português brasileiro <strong>do</strong>s aspectos segmentais e prosódicos <strong>do</strong><br />

inglês.<br />

1.2. Aspectos segmentais e prosódicos <strong>da</strong> fala corrente<br />

Na fala corrente, são observa<strong>do</strong>s fenômenos que ocorrem tanto no nível <strong>da</strong><br />

palavra como entre palavras dentro <strong>da</strong> frase. Neles, conforme Levelt (1998:302),<br />

fonemas podem ser perdi<strong>do</strong>s, modifica<strong>do</strong>s ou adiciona<strong>do</strong>s, como nos exemplos jus<br />

fine <strong>para</strong> just fine e got /ʧ/ ou <strong>para</strong> got you . O autor (op.cit.) chama a atenção <strong>para</strong><br />

a distinção entre fala formal e fala casual. Segun<strong>do</strong> ele, ambas distinguem­se em<br />

termos de registro, isto é, varie<strong>da</strong>des lingüísticas podem ter proprie<strong>da</strong>des sintáticas,<br />

lexicais e fonológicas específicas, tais como: a fala materna, a fala telegráfica, a<br />

escolha lexical no registro formal, como a palavra cop em vez de policeman, além<br />

49


<strong>do</strong> uso de reduções ou contrações como em I´ve em vez de I have; <strong>do</strong><br />

desaparecimento de uma consoante em posição final de sílaba, como em Lea´me<br />

alone, em vez de Leave me alone; ou <strong>da</strong> modificação de fonemas no contato entre<br />

palavras, como em got/ʧ/ou <strong>para</strong> got you. São fenômenos típicos <strong>da</strong> fala casual e<br />

certamente interferem no mo<strong>do</strong> como ela é percebi<strong>da</strong>.<br />

Descreverei a seguir os processos fonéticos que ocasionam mu<strong>da</strong>nças na<br />

fronteira entre palavras na fala corrente. Um deles refere­se ao fenômeno <strong>da</strong><br />

assimilação, que, conforme descrito por Levelt (1998:330), envolve a mu<strong>da</strong>nça de<br />

alguns segmentos sob a influência de outros, como, por exemplo, ten books, no<br />

qual o fonema dental /n/ é pronuncia<strong>do</strong> como o fonema bilabial /m/ [tεmbUks],<br />

pois assimila o ponto de articulação <strong>da</strong> bilabial. Em outro exemplo, Laver<br />

(1994:397) cita o ajuste <strong>do</strong> fonema dental /t/ na palavra that, isola<strong>da</strong>mente<br />

pronuncia<strong>da</strong> como /ðæt/, mas produzi<strong>da</strong> com o fonema bilabial [p], na frase that<br />

man [ðæp mæn], devi<strong>do</strong> à influência <strong>da</strong> nasal bilabial [m] <strong>da</strong> palavra man.<br />

Portanto, como mostram os exemplos, a assimilação é um processo opcional,<br />

que consiste em um segmento modificar as características articulatórias ou<br />

fonatórias de outro, na fronteira de uma palavra ou na fronteira entre palavras. Esse<br />

tipo de modificação pode ocorrer ao longo de to<strong>da</strong> a cadeia <strong>da</strong> fala, entre um<br />

segmento no final de uma palavra e um segmento no começo <strong>da</strong> próxima. Nesse<br />

caso, <strong>para</strong> se estabelecer se houve assimilação ou não, deve­se com<strong>para</strong>r a palavra<br />

forma<strong>da</strong> a partir <strong>do</strong> som assimila<strong>do</strong> com a forma <strong>da</strong> palavra pronuncia<strong>da</strong><br />

isola<strong>da</strong>mente (Levelt, 1998:153).<br />

50


Menezes e Brito (1992:47­48) e Celce­Murcia et. alii (1996:160) fornecem o<br />

caso <strong>da</strong> palavra horse, com o fonema dental /s/ no final, quan<strong>do</strong> pronuncia<strong>da</strong><br />

isola<strong>da</strong>mente. Entretanto, quan<strong>do</strong> segui<strong>da</strong> <strong>do</strong> fonema palatal /ʃ/ em uma palavra<br />

como shoe, na fala corrente, o fonema dental /s/, geralmente, por meio <strong>da</strong><br />

assimilação, passa a ser produzi<strong>do</strong> como o fonema palatal /ʃ/, resultan<strong>do</strong> numa<br />

pronúncia /h rʃU/. Esse é um exemplo de assimilação regressiva ou<br />

antecipatória, pois um som é influencia<strong>do</strong> por aquele que o sucede, isto é, é<br />

assimila<strong>do</strong> por um traço <strong>do</strong> fonema seguinte. Outros exemplos ain<strong>da</strong> deste tipo de<br />

fenômeno, que acontecem dentro <strong>da</strong> palavra, são grandpa, na qual o traço bilabial<br />

<strong>do</strong> fonema /p/ faz com que a seqüência /nd/ seja produzi<strong>da</strong> como: /græmpa/), e em<br />

pancake, na qual o traço velar <strong>do</strong> fonema /k/ faz com que o fonema nasal dental /n/<br />

se transforme no fonema nasal velar /ŋ/: /pæŋkeyk/).<br />

A assimilação também pode ser progressiva ou perseveratória, quan<strong>do</strong> um<br />

som é influencia<strong>do</strong> por aquele que o precede. Um exemplo disso, na fronteira de<br />

uma palavra, está na formação <strong>do</strong> plural com o morfema “­s”, que é pronuncia<strong>do</strong><br />

como sua contraparte vozea<strong>da</strong> /z/ depois de uma consoante vozea<strong>da</strong> (por exemplo,<br />

<strong>do</strong>gs), mas como desvozea<strong>do</strong> (/s/) depois de uma consoante não­vozea<strong>da</strong> (por<br />

exemplo, desks). A assimilação progressiva ou perseveratória também ocorre em<br />

algumas contrações, como, por exemplo, em it + is, na qual o grafema “s” que, em<br />

is, isola<strong>da</strong>mente, é pronuncia<strong>do</strong> como o fonema vozea<strong>do</strong> /z/, passa a ser<br />

pronuncia<strong>do</strong> como sua contraparte não­vozea<strong>da</strong> /s/, devi<strong>do</strong> à influência <strong>do</strong> fonema<br />

não­vozea<strong>do</strong> /t/, que o antecede na contração: it + is → it´s/It+IZ → Its.<br />

O terceiro modelo de assimilação, coalescente, é um tipo de assimilação<br />

recíproca; nela, o primeiro e o segun<strong>do</strong> fonemas em uma seqüência se fundem e<br />

51


mutuamente condicionam a criação de um terceiro fonema com características ou<br />

traços <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sons originais:<br />

Som A + Som B<br />

Som C<br />

Este processo ocorre com mais freqüência no inglês quan<strong>do</strong> as consoantes<br />

dentais finais, como /s,z/ e /t,d/, ou as seqüências de consoantes africa<strong>da</strong>s finais,<br />

como /ts,dz/, são segui<strong>da</strong>s <strong>da</strong> semivogal palatal /y/. Em ambos os casos, as<br />

fricativas e africa<strong>da</strong>s tornam­se palataliza<strong>da</strong>s. Para ilustrar esse fenômeno, Celce­<br />

Murcia et. alii (1996:162) apresentam, como exemplo, o quadro de palavras abaixo:<br />

52


REGRA EXEMPLO<br />

/s/ /∫/<br />

issue<br />

He’s coming this year.<br />

/z/ / / pleasure<br />

Does your mother know?<br />

/t/ / / stature<br />

Is that your <strong>do</strong>g?<br />

/ts/<br />

+/y/<br />

/ / She lets your <strong>do</strong>g in.<br />

He hates your hair<strong>do</strong>.<br />

/d/ / / procedure<br />

/dz/<br />

Would you mind moving?<br />

/ / She needs your help.<br />

He never needs your advice.<br />

QUADRO 1: Assimilção Coalescente ­ Celce­Murcia, M; Brinton, D.M; Goodwin, J.M. (1996). Teaching<br />

pronunciation – A reference for teachers of English to Speakers of Other Languages, p. 162. Cambridge: Cambridge<br />

University Press.<br />

Além <strong>da</strong>s modificações causa<strong>da</strong>s pela assimilação entre sons na fala<br />

encadea<strong>da</strong> ou corrente, um outro fenômeno que a atinge é a redução ou<br />

desaparecimento de fonemas, a qual ocorre principalmente quan<strong>do</strong> a taxa de<br />

elocução 31 é alta. Segun<strong>do</strong> ele, um falante pode aumentar sua taxa de elocução<br />

reduzin<strong>do</strong> palavras curtas e não­acentua<strong>da</strong>s, tais como, pronomes e preposições,<br />

conforme os exemplos Give´m attention e think o´money. A taxa de elocução pode<br />

ser também aumenta<strong>da</strong> pela redução de vogais átonas em início de palavra, como<br />

31 Taxa de elocução, traduzi<strong>da</strong> <strong>da</strong> expressão speech rate, refere­se ao número de segmentos acústicos que o falante<br />

produz num <strong>da</strong><strong>do</strong> tempo; <strong>da</strong>í sua diferença com o que normalmente é designa<strong>do</strong> por veloci<strong>da</strong>de de fala. Assim, a<br />

taxa de elocução pode ser alta (“veloci<strong>da</strong>de rápi<strong>da</strong>”) ou baixa (“veloci<strong>da</strong>de lenta”).<br />

53


em p´tato ou t´mato (Zwicky, 1972 apud Levelt, 1998) ou pelo desaparecimento <strong>do</strong><br />

/r/ na pronúncia <strong>do</strong> inglês britânico, quan<strong>do</strong> este aparece em posição final de frase,<br />

como nas palavras car [ka] e care [kє:]. Segun<strong>do</strong> Kent e Read (1992), quan<strong>do</strong> a<br />

taxa de elocução aumenta, necessariamente diminuem as durações <strong>do</strong>s<br />

componentes de fala. Numa taxa de elocução alta, os segmentos e as sílabas não­<br />

acentua<strong>da</strong>s podem ser excluí<strong>do</strong>s.<br />

A variação na taxa de elocução (mais alta ou mais baixa, ou confortável <strong>para</strong><br />

o falante) provoca uma variação na quanti<strong>da</strong>de em que um segmento fonético se<br />

sobrepõe àqueles que o ladeiam, ou seja, uma modificação em relação a seu<br />

contexto fonético. Isto é entendi<strong>do</strong> como coarticulação, que, por sua vez, está<br />

relaciona<strong>da</strong> à assimilação e redução de segmentos na fala corrente. Ou seja, apesar<br />

<strong>da</strong> tentativa que venho fazen<strong>do</strong> de explicitar os conceitos de assimilação, redução e<br />

coarticulação, além <strong>da</strong>queles que se seguirão, tais conceitos referem­se a<br />

fenômenos <strong>da</strong> fala corrente totalmente intrica<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> difícil dizer que fenômeno<br />

leva a um outro.<br />

Laver (1994:379) refere­se à coarticulação como um fenômeno a<strong>da</strong>ptativo no<br />

qual ocorre a influência <strong>do</strong> contexto fonético sobre a articulação entre <strong>do</strong>is ou mais<br />

segmentos na fala corrente. Kent e Read (1992:146) definem a coarticulação como<br />

ajustes imediatos <strong>do</strong> trato vocal, que permitem a produção de <strong>do</strong>is ou mais sons.<br />

Assim como no fenômeno <strong>da</strong> assimilação, a direção <strong>do</strong> efeito coarticulatório pode<br />

ser descrita como antecipatória (regressiva) ou perseveratória (progressiva).<br />

Segun<strong>do</strong> os autores (op. cit.), na coarticulação antecipatória uma característica<br />

articulatória <strong>do</strong> segmento fonético seguinte é incorpora<strong>da</strong> à produção <strong>do</strong> segmento<br />

fonético anterior. Laver (1994:151) afirma que na coarticulação perseveratória<br />

existe uma influência prolonga<strong>da</strong> de características de um segmento sobre aqueles<br />

54


que se seguem na cadeia <strong>da</strong> fala. Um exemplo de coarticulação antecipatória pode<br />

ser visto na palavra inglesa zoom [z w um], em que o arre<strong>do</strong>n<strong>da</strong>mento labial <strong>da</strong> vogal<br />

[U] labializa o fonema alveolar [z]. Um exemplo de coarticulação perseveratória<br />

recai em [ik], <strong>da</strong> palavra eke, <strong>do</strong> inglês, em que a articulação <strong>do</strong> fonema [k] torna­<br />

se mais anterior, sob a influência <strong>da</strong> articulação <strong>da</strong> vogal [i] central que o precede,<br />

com<strong>para</strong><strong>do</strong> à articulação <strong>do</strong> mesmo fonema em arc [ k], sob a influência <strong>da</strong> vogal<br />

posterior [ ].<br />

Kent e Read (1992:146­147) observam que a duração (tempo de produção)<br />

de um segmento tende a tornar­se mais curta quan<strong>do</strong> mais elementos são<br />

adiciona<strong>do</strong>s à cadeia <strong>da</strong> fala, como, por exemplo, <strong>para</strong> produzir encontros<br />

consonantais entre duas ou três consoantes. Assim, o fonema /p/ tem sua duração<br />

diminuí<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> ocorre nos grupos consonantais /sp/ e /spr/. O mesmo é<br />

observa<strong>do</strong> com a duração de um morfema raiz monossilábico como stick [stIk],<br />

quan<strong>do</strong> a ele se juntam afixos, transforman<strong>do</strong>­o em sticky [stIki] ou stickiness<br />

[stIkinƐs], os quais transformam a raiz monossilábica em dissilábica.<br />

Segun<strong>do</strong> Laver (1994:151), a duração de um segmento pode variar por<br />

diversas razões, como, por exemplo, pelo fato de ocorrer em uma sílaba tônica ou<br />

átona, ou seja, acentua<strong>da</strong> vs. não­acentua<strong>da</strong>; devi<strong>do</strong> à variação na taxa de elocução,<br />

entre outros. Além disso, o falante pode aumentar sua taxa de elocução cortan<strong>do</strong><br />

pausas, ou, ao contrário, pode diminuir sua taxa de elocução inserin<strong>do</strong> pausas, ou<br />

ain<strong>da</strong>, varian<strong>do</strong> seu uso. O falante, ressalta o autor, tem o controle sobre sua fala e<br />

lança mão de diversos recursos <strong>para</strong> comunicar­se, principalmente em função <strong>do</strong>s<br />

55


diferentes tipos de registros (mais ou menos formais) que a<strong>do</strong>ta a ca<strong>da</strong> situação por<br />

ele vivi<strong>da</strong>.<br />

Um outro fenômeno cita<strong>do</strong> por Levelt (1998:302) refere­se à aplicação por<br />

parte <strong>do</strong> falante <strong>do</strong> processo de redução entre palavras, quan<strong>do</strong>, na fala encadea<strong>da</strong>,<br />

umas juntam­se às outras. Por exemplo, é comum que palavras não­acentua<strong>da</strong>s, as<br />

chama<strong>da</strong>s palavras gramaticais ou de função (artigos, pronomes, preposições e<br />

verbos auxiliares), unam­se facilmente às palavras de classe aberta ou de conteú<strong>do</strong><br />

(substantivos, verbos, adjetivos e advérbios) que as precedem ou que as seguem,<br />

geran<strong>do</strong> exemplos de fala como: gave it, pronuncia<strong>do</strong> como [gєIvIt], e Who <strong>do</strong> you<br />

want to see?, em que want to é pronuncia<strong>do</strong> como [wαntә], o que, <strong>para</strong> Levelt, tem<br />

a função de melhorar a fluência <strong>da</strong> fala encadea<strong>da</strong> ou corrente. Ao processo que faz<br />

com que as palavras gramaticais não­acentua<strong>da</strong>s liguem­se às palavras de conteú<strong>do</strong><br />

à sua esquer<strong>da</strong> ou direita dá­se o nome de cliticização. Por meio dele, aquilo que<br />

antes eram palavras tornam­se palavras fonológicas. Um exemplo forneci<strong>do</strong> pelo<br />

autor encontra­se na sentença they have it, na qual obtém­se uma única palavra<br />

fonológica na junção de have+it, produzin<strong>do</strong> uma nova divisão de sílabas, que não<br />

consiste mais em sílabas [hæv] e [It], mas em [hæ] e [vIt]. A esse processo,<br />

desencadea<strong>do</strong> pela cliticização, dá­se o nome de ressilabificação.<br />

Além <strong>da</strong> palavra e <strong>da</strong> palavra fonológica, a fala encadea<strong>da</strong> pode ain<strong>da</strong> ser<br />

dividi<strong>da</strong> em frases entoacionais. Exemplos delas podem ser vistos em: How are<br />

you?, Go and get the newspaper, Henry´s falling asleep. Assim, a sentença como<br />

um to<strong>do</strong> pode tornar­se uma frase entoacional, principalmente se não for muito<br />

longa. Contu<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> Levelt (1998:307), caso a sentença seja longa, ela é<br />

dividi<strong>da</strong> em duas ou mais frases entoacionais, como, por exemplo, em the golden<br />

temple//which is still in use//was built by the Sikhs//. Levelt (1998) lembra ain<strong>da</strong><br />

56


que a taxa de elocução é um fator importante na codificação fonológica, uma vez<br />

que afeta não apenas o tamanho <strong>da</strong>s palavras fonológicas e frases entoacionais, mas<br />

to<strong>da</strong> a cadeia de fala, cujo contorno de entoação organiza­se sobre frases<br />

entoacionais maiores ou menores, sen<strong>do</strong> que não há regra <strong>para</strong> ditar seus tamanhos,<br />

fican<strong>do</strong> a critério <strong>do</strong> falante fazê­las maiores ou menores, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> grau de<br />

formali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> situação, <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> que deseja passar ao ouvinte, e assim por<br />

diante.<br />

Levelt (1998) enfatiza que há outros lugares, além <strong>do</strong> final de uma sentença<br />

ou de uma oração, que são propícios <strong>para</strong> a quebra <strong>da</strong>s frases entoacionais. Entre<br />

eles, (1) no final de um sintagma – NPs (noun phrases), VPs (verbal phrases), APs<br />

(adverbial phrases), ou PPs (prepositional phrases); (2) após a cabeça lexical de<br />

um NP, VP ou AP, ou seja, respectivamente, após o substantivo principal (ou<br />

núcleo) de um sintagma nominal, após o verbo (núcleo) de um sintagma verbal ou<br />

após o advérbio (núcleo <strong>do</strong> sintagma adverbial) , mesmo que não estejam em<br />

posição final de constituinte; e, também; (3) após uma palavra de conteú<strong>do</strong>.<br />

A característica <strong>da</strong> frase entoacional, segun<strong>do</strong> Levelt, é a ocorrência de um<br />

conjunto de tons (contornos de pitch) significativos. Há pelo menos um acento de<br />

pitch numa frase entoacional. Levelt (1998:303­304) faz uma distinção entre a frase<br />

entoacional e a palavra fonológica. Segun<strong>do</strong> ele, a frase entoacional é uma uni<strong>da</strong>de<br />

de entoação e tem uma estrutura métrica interna. Ca<strong>da</strong> frase entoacional consiste de<br />

uma ou mais palavras fonológicas ou grupos métricos. Ela inicia onde começa a<br />

sentença ou estrutura de superfície e termina logo depois <strong>da</strong> primeira cabeça lexical<br />

de um verbal phrase (VP), de um noun phrase (NP), ou de um adverbial phrase<br />

(AP). As palavras fonológicas são, <strong>para</strong> alguns autores, como Nespor e Vogel<br />

(1986, apud Levelt, 1998), grupos de construção métrica de frases entoacionais.<br />

57


Segun<strong>do</strong> as autoras (1986), ca<strong>da</strong> frase entoacional consiste­se de uma ou mais<br />

palavras fonológicas. A palavra fonológica é caracteriza<strong>da</strong> por um conjunto métrico<br />

de palavras adjacentes (palavras conteú<strong>do</strong> precedi<strong>da</strong>s ou segui<strong>da</strong>s de palavras<br />

funcionais). Para Levelt (1998), um lugar muito bom <strong>para</strong> completar uma frase<br />

fonológica é o final de uma sentença ou o final de uma oração. Os finais de orações<br />

também são considera<strong>do</strong>s finais de frases entoacionais.<br />

Segun<strong>do</strong> Levelt (1998), ca<strong>da</strong> frase entoacional tem apenas um núcleo que é o<br />

acento de pitch mais saliente. Se houver apenas um acento de pitch, haverá um<br />

núcleo. Se houver mais, o último provavelmente será o proeminente. A sílaba<br />

nuclear de uma frase entoacional recebe o acento primário ou lexical e to<strong>da</strong>s as<br />

outras recebem o acento secundário. To<strong>do</strong> acento entoacional é feito por algum tipo<br />

de movimento de pitch – ascendente, descendente ou por uma combinação de<br />

ascendente e descendente –; porém, nem to<strong>da</strong>s as sílabas acentua<strong>da</strong>s recebem um<br />

acento entoacional. Um movimento de pitch nuclear (<strong>para</strong> cima ou <strong>para</strong> baixo) é<br />

um mecanismo de realização de foco, que indica o item lexical mais saliente na<br />

frase entoacional, além de ter uma função ilocucionária, ou seja, a de expressar a<br />

idéia, ressaltan<strong>do</strong> o item que, <strong>para</strong> o falante, carrega o principal significa<strong>do</strong> a ser<br />

transmiti<strong>do</strong>. Um tom de fronteira pode executar várias funções diferentes, tais<br />

como: (1) indicar finali<strong>da</strong>de ou não­finali<strong>da</strong>de; (2) expressar a força ilocucionária<br />

<strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>, o tipo de compromisso que o falante tem; e (3) expressar a intenção<br />

<strong>do</strong> falante em terminar um turno ou em continuá­lo.<br />

Levelt (1998:297) ressalta que há várias maneiras de um falante acentuar<br />

uma sílaba: (1) tornan<strong>do</strong>­a mais intensa que as sílabas vizinhas, o que será<br />

percebi<strong>do</strong> como um aumento de seu volume (loudness); (2) alongan<strong>do</strong>­a no tempo<br />

(por meio de mu<strong>da</strong>nças no parâmetro de duração); e (3) <strong>da</strong>n<strong>do</strong> ênfase ao<br />

58


movimento de pitch ou variação <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental, percebi<strong>do</strong>s como uma<br />

variação na voz em relação aos possíveis tons (agu<strong>do</strong>, grave, e médio). Embora<br />

intensi<strong>da</strong>de, duração e freqüência fun<strong>da</strong>mental sejam variáveis independentes,<br />

to<strong>da</strong>s an<strong>da</strong>m juntas na produção e percepção <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s <strong>da</strong> fala. Segun<strong>do</strong> o autor<br />

(1998.), os estu<strong>do</strong>s sobre a fala levam em consideração seu aspecto sonoro e<br />

dinâmico, como o ritmo <strong>da</strong> fala encadea<strong>da</strong>, que provém de uma alternância de<br />

sílabas mais ou menos acentua<strong>da</strong>s e <strong>da</strong> inserção de pausas que conduzem o falante<br />

ao seu objetivo último, ou seja, expressar­se, caben<strong>do</strong> ao ouvinte compreender<br />

aquilo que é dito <strong>para</strong> que a comunicação ocorra.<br />

Kenworthy (1987:35) afirma que, <strong>para</strong> que o acento frasal seja identifica<strong>do</strong>,<br />

partes <strong>da</strong> mensagem devem ser destaca<strong>da</strong>s, de mo<strong>do</strong> que o ouvinte possa captar a<br />

informação que o falante quer transmitir. Não seria suficiente dizer ao aprendiz de<br />

LE que é necessário <strong>da</strong>r ênfase às palavras mais importantes, uma vez que to<strong>da</strong><br />

palavra parece importante <strong>para</strong> aquele que está tentan<strong>do</strong> colocar uma mensagem na<br />

nova língua, e, assim, o aprendiz acaba acentuan<strong>do</strong> a to<strong>da</strong>s elas. A autora também<br />

afirma que as palavras novas recebem acento frasal. Contu<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> aparecem<br />

pela segun<strong>da</strong> vez, o ouvinte já conhece a informação (informação <strong>da</strong><strong>da</strong> ou forma<br />

não­marca<strong>da</strong>) e, portanto, ela não deve ser destaca<strong>da</strong>. Vejamos o exemplo de como<br />

o acento pode ser utiliza<strong>do</strong> <strong>para</strong> introduzir a informação nova:<br />

A: Where are you from?<br />

B: I´m from New York.<br />

A: New York is a wonderful city.<br />

Se o aprendiz não acentua uma sílaba mais que as outras, ou acentua a sílaba<br />

erra<strong>da</strong>, torna­se difícil <strong>para</strong> o ouvinte identificar a palavra. O padrão de acento de<br />

uma vogal é uma parte importante <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> palavra <strong>para</strong> o falante nativo,<br />

59


haven<strong>do</strong> grande evidência de que este se apóia no padrão <strong>do</strong> acento <strong>da</strong>s palavras<br />

quan<strong>do</strong> ele as está ouvin<strong>do</strong> (Kenworthy, 1987). Segun<strong>do</strong> a autora, quan<strong>do</strong> um<br />

falante nativo não compreende uma palavra é porque o falante não­nativo,<br />

provavelmente, acentua a palavra em lugar erra<strong>do</strong>. O acento em inglês é variável e<br />

móvel – qualquer sílaba de uma palavra polissilábica pode receber o acento<br />

principal, o que difere de outras línguas em que o acento é fixo (ou seja, numa<br />

palavra dissílaba, a segun<strong>da</strong> sílaba será sempre acentua<strong>da</strong>, numa palavra trissílaba a<br />

sílaba final será acentua<strong>da</strong>). Para ilustrar essa afirmação, Kenworthy (1987:59)<br />

apresenta como exemplos as palavras economy e economic: na primeira o acento<br />

recai sobre a segun<strong>da</strong> sílaba; já na segun<strong>da</strong>, recai sobre a terceira (ou penúltima<br />

sílaba). Porém, a tendência <strong>do</strong> aprendiz de Língua Inglesa é pronunciar as duas<br />

palavras com o acento na mesma sílaba. Para ele, prefixos e sufixos em inglês não<br />

têm nenhuma diferença na acentuação <strong>da</strong>s palavras.<br />

Segun<strong>do</strong> Kent e Read (1992:151), o acento em inglês, se contrastivo ou<br />

lexical, não é meramente um problema de intensi<strong>da</strong>de, mas envolve os três<br />

parâmetros acústicos – duração, intensi<strong>da</strong>de e freqüência fun<strong>da</strong>mental, sen<strong>do</strong> que,<br />

dentre os três, a duração é o parâmetro acústico mais confiável. O acento também<br />

afeta as proprie<strong>da</strong>des segmentais, tais como: as articulações <strong>da</strong> vogal e consoante.<br />

Os segmentos nas sílabas acentua<strong>da</strong>s tendem a ter movimentos articulatórios mais<br />

amplos que nas sílabas não­acentua<strong>da</strong>s. De uma certa forma, os movimentos nas<br />

sílabas acentua<strong>da</strong>s são mais contrastivos, o que também pode ser percebi<strong>do</strong> nos<br />

padrões acústicos <strong>da</strong> fala.<br />

Assim como Kent e Read (1992:151), Avery e Ehrlick (1992:74­75) apontam<br />

alguns aspectos importantes que devem ser explicita<strong>do</strong>s aos aprendizes de inglês no<br />

que se refere ao acento. Para esses estudiosos, o acento na sílaba erra<strong>da</strong> pode causar<br />

60


problemas <strong>para</strong> a inteligibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fala, e, portanto, é necessário que os aprendizes<br />

saibam quais são as palavras acentua<strong>da</strong>s e não­acentua<strong>da</strong>s no idioma. As palavras<br />

de conteú<strong>do</strong> (substantivos, verbos principais, advérbios, adjetivos, pronomes<br />

interrogativos – WH– Questions – e pronomes demonstrativos) normalmente são<br />

acentua<strong>da</strong>s. As palavras de função (artigos, preposições, verbos auxiliares,<br />

pronomes, conjunções e pronomes relativos) normalmente são não­acentua<strong>da</strong>s. As<br />

palavras de conteú<strong>do</strong> expressam significa<strong>do</strong> independente e as de função têm pouco<br />

ou nenhum significa<strong>do</strong> nelas mesmas, mas expressam relações gramaticais.<br />

Ladefoged (1993) cita que uma função importante <strong>do</strong> acento no inglês é<br />

indicar as relações sintáticas entre palavras ou partes <strong>da</strong>s palavras. Há muitas<br />

oposições substantivo­verbo, como “an ´insult; “to in´sult”; “an ´overflow”, “to<br />

over´flow”; “an ´increase”, “to in´crease”. Em to<strong>do</strong>s estes pares de palavras, o<br />

substantivo recebe o acento na primeira sílaba, e o verbo, na última. O lugar <strong>do</strong><br />

acento indica a função sintática <strong>da</strong> palavra. Oposições semelhantes ocorrem em<br />

casos em que duas palavras juntas formam compostos: “a ´walkout”, “to ´walk<br />

´out”; “ a ´put­on”, “to ´put ´on”; “a ´pushover”, “to ´push ´over”.<br />

Nestes casos, segun<strong>do</strong> o autor, existe um acento apenas no primeiro elemento<br />

<strong>do</strong> composto <strong>para</strong> os substantivos, e nos <strong>do</strong>is elementos <strong>do</strong>s compostos <strong>para</strong> os<br />

verbos. O acento também tem uma função sintática na distinção entre um<br />

substantivo composto, como, “a ´hot <strong>do</strong>g” (alimento), e um adjetivo segui<strong>do</strong> de um<br />

substantivo, como no sintagma “a ´hot ´<strong>do</strong>g” (animal queima<strong>do</strong>). Os substantivos<br />

compostos têm um único acento no primeiro elemento, e os sintagmas verbais têm<br />

acentos em ambos os elementos.<br />

61


Para Ladefoged (1993.), muitas outras variações de acento podem estar<br />

associa<strong>da</strong>s à estrutura gramatical <strong>da</strong>s palavras. O quadro 2, a seguir, exemplifica os<br />

tipos de alterações que podem ocorrer. To<strong>da</strong>s as palavras <strong>da</strong> primeira coluna têm o<br />

acento principal na primeira sílaba. Quan<strong>do</strong> o sufixo de formação <strong>do</strong> substantivo<br />

“y” ocorre nestas palavras, o acento mu<strong>da</strong> <strong>para</strong> a segun<strong>da</strong> sílaba. Mas, como<br />

podemos observar na terceira coluna, o sufixo de formação de adjetivos “­ic” altera<br />

o acento <strong>para</strong> a sílaba seguinte, que nestas palavras é a terceira.<br />

QUADRO 2<br />

Alterações <strong>da</strong> acentuação nas palavras <strong>do</strong> inglês<br />

´ ___ ___ ___ ___ ´___ ___ ___ ___ ___ ´___ ___<br />

di plo mat di plo ma cy di plo ma tic<br />

pho to graph pho to gra phy pho to gra phic<br />

mo no tone mo no to ny mo no to nic<br />

Ladefoged, Peter (1993). A Course in Phonetics, p.114. Lon<strong>do</strong>n: Harcourt Brace Javanovich<br />

Levelt (1998) explica que o acento é uma categoria tão abstrata quanto o<br />

fonema, poden<strong>do</strong> ser realiza<strong>do</strong> de diferentes formas: pela variação na amplitude ou<br />

intensi<strong>da</strong>de e pelo movimento de pitch, dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong> língua e <strong>do</strong> falante.<br />

Segun<strong>do</strong> o autor, há uma relação <strong>do</strong> acento com a quali<strong>da</strong>de vocálica. Quan<strong>do</strong> uma<br />

vogal não é acentua<strong>da</strong>, em inglês, sua quali<strong>da</strong>de vocálica difere <strong>da</strong> sua contraparte<br />

acentua<strong>da</strong>. Para exemplificar tal fenômeno, o autor cita a palavra California, na<br />

qual o acento principal recai na 3ª sílaba (for), o secundário na 1ª (Ca), e as outras<br />

duas sílabas (li) e (nia) recebem acento primário. Levelt (op.cit.) considera que os<br />

afixos têm um papel importante no acento. Os afixos no início ou final de palavras<br />

em inglês nunca são acentua<strong>do</strong>s. Eles podem receber acento somente em posições<br />

62


não extremas, e somente quan<strong>do</strong> são afixos de radicais, como, por exemplo, al na<br />

palavra nationality.<br />

Como visto, há uma relação intrínseca, dentro <strong>da</strong> cadeia <strong>da</strong> fala, entre os<br />

aspectos segmentais de um la<strong>do</strong>, e rítmicos e entoacionais de outro, que envolve<br />

múltiplos fenômenos, os quais não se pretendeu esgotar aqui. No entanto,<br />

objetivou­se chamar a atenção <strong>para</strong> a influência de tais fatores na produção e<br />

compreensão oral.<br />

1.2.1. Entoação e Ritmo<br />

Segun<strong>do</strong> Hirst e Di Cristo (1998), é difícil descrever a entoação de uma<br />

língua se você não for um falante nativo ou semelhante ao nativo, e, o fato <strong>da</strong><br />

entoação não ser escrita, torna difícil <strong>para</strong> um falante não­nativo decidir se <strong>do</strong>is<br />

enuncia<strong>do</strong>s fazem parte ou não de um mesmo grupo entoacional. Para os autores, a<br />

entoação refere­se às variações de um ou mais parâmetros acústicos. Avery e<br />

Ehrlich (1992:77) classificam a entoação como a melodia de uma língua. Segun<strong>do</strong><br />

eles, entoação é a variação <strong>do</strong> contorno de pitch que utilizamos ao falar, The pitch<br />

changes are called intonation patterns and play an important role in conveying<br />

meaning.<br />

Dentre os parâmetros físicos responsáveis pela entoação, o de maior<br />

importância é o parâmetro <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental (f0), termo que designa a<br />

quanti<strong>da</strong>de de ciclos de abertura e fechamento <strong>da</strong>s pregas vocais em um segun<strong>do</strong>,<br />

medi<strong>da</strong> em Hertz (Hz). O correlato perceptual <strong>da</strong> variação <strong>da</strong> freqüência<br />

fun<strong>da</strong>mental é o pitch, que pode ser descrito como alto (agu<strong>do</strong>) ou baixo (grave). O<br />

63


conceito de pitch está intimamente associa<strong>do</strong> ao de Freqüência Fun<strong>da</strong>mental.<br />

Alguns autores, contu<strong>do</strong>, acreditam que a intensi<strong>da</strong>de e a duração segmental<br />

também são parâmetros <strong>da</strong> entoação (Beckman, 1986). Outros crêem que, além <strong>da</strong><br />

intensi<strong>da</strong>de e duração, o ritmo se reflete na variação <strong>da</strong>s características espectrais,<br />

como na distinção <strong>da</strong>s vogais plena e reduzi<strong>da</strong> (Crystal, 1969). Acredita­se que, na<br />

Língua Inglesa, por exemplo, os expoentes formais <strong>da</strong>s características prosódicas<br />

lexicais (acento) e não­lexicais (entoação) são mapea<strong>da</strong>s nos parâmetros físicos de<br />

intensi<strong>da</strong>de e freqüência fun<strong>da</strong>mental, respectivamente.<br />

Segun<strong>do</strong> Cruttenden (1997), certas línguas, ao contrário <strong>do</strong> inglês, usam a<br />

entoação com objetivos pessoais, e a correlação de tons de acor<strong>do</strong> com o tipo de<br />

sentença é uma forma de investigar a entoação. Para Cruttenden (op. cit.), a<br />

entoação envolve a ocorrência de padrões de pitch recorrentes, e em ca<strong>da</strong> um é<br />

usa<strong>do</strong> com um grau de significa<strong>do</strong>s relativamente consistentes, em palavras<br />

isola<strong>da</strong>s ou em grupos de palavras de duração variável. Os constituintes gramaticais<br />

de uma sentença são trata<strong>do</strong>s como grupos entoacionais se<strong>para</strong><strong>do</strong>s, adquirin<strong>do</strong> seu<br />

próprio senti<strong>do</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> o autor (op.cit.), há quatro critérios que demarcam os grupos<br />

entoacionais. A pausa é o primeiro deles. Delga<strong>do</strong>­Martins (2002:225) apresenta a<br />

definição de pausa como indica<strong>do</strong>r de uma ativi<strong>da</strong>de interna de processar<br />

informação, conforme proposto por Goldman­Eisler (1968, apud Delga<strong>do</strong>­Martins,<br />

2002), e utiliza essa definição <strong>para</strong> diferenciar as pausas silenciosas, que são usa<strong>da</strong>s<br />

<strong>para</strong> programar informação já conheci<strong>da</strong>, <strong>da</strong>s pausas preenchi<strong>da</strong>s, que são índices<br />

<strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de no planeamento verbal de seqüências fala<strong>da</strong>s em pre<strong>para</strong>ção.<br />

64


Segun<strong>do</strong> Cruttenden (1997), a pausa silenciosa envolve o uso de uma vogal<br />

central [Ə] e uma bilabial nasal [m], isola<strong>da</strong>mente ou em combinação, e de<br />

durações variáveis. Em alguns dialetos <strong>do</strong> inglês e em outras línguas, os sons <strong>da</strong>s<br />

pausas preenchi<strong>da</strong>s podem ser diferentes: no inglês escocês, o som na região <strong>da</strong><br />

vogal nas palavras gate e play é típico e na Rússia, uma nasal alveolar é mais<br />

comum que uma nasal bilabial.<br />

As pausas normalmente ocorrem em três lugares no enuncia<strong>do</strong>: (1) em<br />

fronteiras constituintes maiores (principalmente entre orações e entre sujeito e<br />

predica<strong>do</strong>) – há uma correlação entre o tipo de fronteira constituinte e a duração <strong>da</strong><br />

pausa, isto é, quanto maior a fronteira, maior a pausa. Além disso, as pausas<br />

tendem a ser mais longas onde as fronteiras constituintes envolvem um novo<br />

tópico; (2) diante de palavras de conteú<strong>do</strong> lexical ou em pontos de baixa<br />

probabili<strong>da</strong>de transicional. Este tipo de pausa ocorre diante de uma fronteira<br />

constituinte menor, normalmente em sintagma nominal, sintagma verbal ou<br />

sintagma adverbial; (3) após a primeira palavra em um grupo entoacional.<br />

Os exemplos abaixo, descritos pelo autor, mostram os três lugares em que a<br />

pausa pode ser usa<strong>da</strong>.<br />

Estas sentenças constituem modelos de pausa tipo 1.<br />

­ The Prince of Wales//is visiting Cardiff tomorrow.<br />

­ Yester<strong>da</strong>y I went to Lon<strong>do</strong>n/ and saw the Queen// outside Buckingham Palace.<br />

Estas sentenças constituem modelos de pausa tipo 2<br />

­ The minister talked at length about the … redeployment of Labour.<br />

­ There was a … GOLDcrest in the garden yester<strong>da</strong>y.<br />

65


Estas sentenças constituem modelos de pausa tipo 3.<br />

­ I <strong>do</strong> like Elgar´s violin concert.// It´s … quite the most perfect work of its kind.<br />

­ Why <strong>do</strong>n´t you join an evening class?/You´d … be quite likely to meet some<br />

interesting people.<br />

Vale ressaltar que as pausas tipos: (a) (1) normalmente indicam a fronteira de<br />

um grupo entoacional (a fronteira é marca<strong>da</strong>, nos exemplos acima, por /); (b) (2) e<br />

(3) são internas a um grupo entoacional, porque não resultam em pe<strong>da</strong>ços <strong>do</strong><br />

enuncia<strong>do</strong> em que ca<strong>da</strong> um tem uma forma de pitch tipicamente conti<strong>do</strong> dentro de<br />

um grupo entoacional; (c) (2) e (3) indicam pausas de hesitação marca<strong>da</strong>s, nos<br />

exemplos acima, por ... As pausas tipos (2) e (3) são mais comuns na fala que na<br />

leitura e escrita. Apesar <strong>do</strong> uso explícito e implícito <strong>da</strong>s pausas, em geral, elas nem<br />

sempre demarcam as fronteiras entoacionais, assim como nem sempre as fronteiras<br />

entoacionais são demarca<strong>da</strong>s pelas pausas. Pausas só podem ser usa<strong>da</strong>s como<br />

critério <strong>da</strong>s fronteiras entoacionais se levarmos em consideração outros critérios<br />

externos e internos.<br />

O segun<strong>do</strong> critério, segun<strong>do</strong> Cruttenden (1997), é anacrusis 32 ; e o terceiro é o<br />

alongamento <strong>da</strong> sílaba final de um grupo entoacional. Este alongamento é<br />

decorrente de uma pausa preenchi<strong>da</strong>, de um movimento de pitch final, de um<br />

relaxamento antes <strong>da</strong> pausa, e <strong>do</strong> tempo <strong>da</strong><strong>do</strong> pelo falante <strong>para</strong> planejar o grupo<br />

entoacional seguinte, como podemos observar na sentença abaixo:<br />

32 A string of high­rate nonaccented syllables, which form a sort of an “anbeat” to the phrase as a whole (Levelt,<br />

1998:308).<br />

66


O quarto, e último critério, refere­se ao pitch <strong>da</strong>s sílabas não­acentua<strong>da</strong>s.<br />

Para Cruttenden (1997), uma mu<strong>da</strong>nça no contorno de pitch e/ou <strong>do</strong> movimento de<br />

pitch <strong>da</strong>s sílabas não­acentua<strong>da</strong>s, a pausa, anacrusis, alongamento <strong>da</strong> sílaba final e a<br />

presença de um acento de pitch em ca<strong>da</strong> parte <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong> normalmente são<br />

indica<strong>do</strong>res de uma fronteira <strong>do</strong> grupo entoacional.<br />

Mateus et. alii (1990) consideram que as pausas realiza<strong>da</strong>s em um enuncia<strong>do</strong><br />

obedecem à se<strong>para</strong>ção <strong>do</strong>s constituintes sintáticos, salvo quan<strong>do</strong> o interlocutor tem<br />

como intenção destacar alguma palavra e, somente por isso, desmembra um grupo<br />

sintático. Já Delga<strong>do</strong>­Martins (2002) critica a hipótese de que a entoação reflita a<br />

estrutura sintática e defende que as pausas no enuncia<strong>do</strong> são determina<strong>da</strong>s por<br />

estruturas temáticas.<br />

Kenworthy (1987) lista oito funções <strong>da</strong> entoação. Elas são:<br />

1) Para colocar certas palavras em primeiro plano. Os falantes usam pitch,<br />

intensi<strong>da</strong>de, alongam a vogal, acentuam a pronúncia <strong>da</strong>s consoantes <strong>para</strong> <strong>da</strong>r<br />

proeminência ou acento às palavras. Há basicamente duas formas em que o<br />

pitch é usa<strong>do</strong>: (a) o falante pode tornar o pitch de uma palavra muito mais<br />

alto que de outras; e (b) ele pode usar a variação de pitch, ascendente ou<br />

descendente;<br />

2) A entoação é usa<strong>da</strong> em segun<strong>do</strong> plano. Low pitch é usa<strong>do</strong> <strong>para</strong> colocar as<br />

coisas em segun<strong>do</strong> plano;<br />

67


3) Para sinalizar o início e o fim. Quan<strong>do</strong> um falante está listan<strong>do</strong> algumas<br />

coisas, por exemplo, é fácil dizer quan<strong>do</strong> o último item é alcança<strong>do</strong> porque o<br />

pitch de voz normalmente decai;<br />

4) Para mostrar se uma situação basicamente é “aberta” (pitch ascendente) ou<br />

“fecha<strong>da</strong>” (pitch descendente);<br />

5) Para mostrar envolvimento;<br />

6) Para mostrar expectativas, por exemplo, o uso de tag­questions;<br />

7) Para apontar que um falante respeita ou se preocupa com o outro por meio <strong>do</strong><br />

uso de formas de cortesia convencional (Excuse me) ou pelo uso de formas<br />

de “abran<strong>da</strong>mento” de pitch (uma tentativa de suavizar o que foi dito – yes,<br />

but ...);<br />

8) Para demonstrar a relação entre as partes <strong>da</strong> mensagem de um falante. A<br />

autora cita como exemplo um argumento descrito por um falante:´It was just<br />

silly, really embarrassing – a total mess`. “Just silly” fornece uma<br />

informação (e será dito com uma entoação descendente), really<br />

embarrassing” fornece outra (entoação descendente também), e “ total mess”<br />

é dito com um pitch mais baixo, porque é visto como um tipo de resumo pelo<br />

falante ou pode ser visto como a terceira dimensão, neste caso, o contorno<br />

entoacional é semelhante aos <strong>do</strong>is pontos anteriores.<br />

Dos constituintes mais baixos <strong>da</strong> hierarquia prosódica, é a palavra fonológica<br />

que faz uso substancial de noções não­fonológicas. A palavra fonológica é a<br />

categoria que <strong>do</strong>mina o pé. To<strong>do</strong>s os pés de uma cadeia são agrupa<strong>do</strong>s em palavra<br />

fonológica. Além disso, sen<strong>do</strong> a palavra fonológica ou prosódica um constituinte n­<br />

ário, ele tem um só elemento proeminente; logo, a palavra fonológica não pode ter<br />

mais <strong>do</strong> que um acento primário. Porém, dentro <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> palavra fonológica,<br />

68


pode ocorrer agrupamento de sílabas e pés, sem compromisso de isomorfia com os<br />

constituintes morfológicos (Bisol, 1996).<br />

Segun<strong>do</strong> Nespor e Vogel (1986), a palavra fonológica é o constituinte que<br />

agrupa um ou mais grupos clíticos e uma só palavra de conteú<strong>do</strong>. O grupo clítico é<br />

a uni<strong>da</strong>de prosódica que segue imediatamente a palavra fonológica. Existem <strong>do</strong>is<br />

tipos de clíticos: os que se comportam junto à palavra de conteú<strong>do</strong> como uma só<br />

uni<strong>da</strong>de fonológica, e os que têm uma certa independência, submeten<strong>do</strong>­se às<br />

mesmas regras <strong>da</strong> palavra fonológica. Segun<strong>do</strong> Crystal (1980, apud Nespor e<br />

Vogel, 1986:145), clítico é “a form which resembles a word, but which cannot<br />

stand on its own as a normal utterance…” Segun<strong>do</strong> Hayes (s/d, apud Nespor e<br />

Vogel, 1986), o grupo clítico <strong>do</strong>mina diretamente uma ou mais palavras<br />

fonológicas e é <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pela categoria seguinte na hierarquia prosódica, a frase<br />

fonológica. A frase fonológica é o constituinte que congrega um ou mais grupos<br />

clíticos, ou seja, o grupo clítico propriamente dito e a palavra fonológica.<br />

Conforme Bisol (1996), a frase fonológica é constituí<strong>da</strong> <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des<br />

imediatamente mais baixas: o grupo clítico, que tanto pode ser uma locução (a<br />

casa) quanto apenas uma palavra fonológica (casa). De acor<strong>do</strong> com a autora, (1)<br />

não há a priori nenhuma relação de isomorfismo entre a frase fonológica e a<br />

sintática; e (2) o cabeça <strong>da</strong> frase fonológica é sempre o forte mais à direita. Como<br />

exemplo desta afirmação, Nespor e Vogel (1986) observam que, nas línguas<br />

romanas, os adjetivos que são complementos de nome ocorrem à direita <strong>do</strong> nome<br />

no caso não­marca<strong>do</strong> (dia sombrio) e à esquer<strong>da</strong> (solitário viajante). O nível<br />

subseqüente é a frase entoacional, defini<strong>da</strong>, segun<strong>do</strong> Nespor e Vogel (1986:188),<br />

como: “the <strong>do</strong>main of an intonation contour and that the ends of intonational<br />

phrases coincide with the positions in which pauses may be introduced in a<br />

69


sentence”. Segun<strong>do</strong> as autoras, a frase entoacional pode ser identifica<strong>da</strong> em uma<br />

seqüência de frases fonológicas que constituam uma frase entoacional, sen<strong>do</strong> uma<br />

delas forte por características semânticas, e to<strong>da</strong>s as demais fracas. Uma sentença,<br />

em geral, declarativa, exclamativa ou interrogativa, tem um contorno entoacional<br />

determina<strong>do</strong>. Frases intercala<strong>da</strong>s, parentéticas ou vocativos tendem a constituir uma<br />

só uni<strong>da</strong>de prosódica.<br />

No modelo de integração entre conhecimento rítmico e lingüístico, proposto<br />

por Barbosa (2001), que se refere a uma forma dinâmica de produção <strong>do</strong> ritmo, a<br />

hierarquia prosódica proposta por Selkirk (1984) e Nespor e Vogel (1986), com<br />

base na fonologia gerativa (Chomsky e Halle, 1968 apud Nespor e Vogel, 1986),<br />

fica reduzi<strong>da</strong> a três níveis: ao gesto articulatório (uni<strong>da</strong>de mínima de análise), à<br />

sílaba e ao grupo acentual (stress phrase).<br />

Como neste trabalho <strong>da</strong>rei atenção aos fenômenos de coarticulação, redução,<br />

cliticização e ressilabificação numa fala corrente, estarei li<strong>da</strong>n<strong>do</strong> com processos<br />

que ocorrem dentro de e entre palavras, tanto com as de conteú<strong>do</strong> quanto as de<br />

função, o que me leva à necessi<strong>da</strong>de de olhar uma uni<strong>da</strong>de maior que a frase<br />

fonológica – a frase entoacional.<br />

Há, na literatura, duas opiniões no que se refere à correspondência entre<br />

uni<strong>da</strong>des sintáticas, semânticas e prosódicas: a primeira afirma que não há qualquer<br />

isomorfia entre uni<strong>da</strong>des sintático­semânticas e uni<strong>da</strong>des prosódicas, e, a segun<strong>da</strong>,<br />

que tal isomorfia pode ser encontra<strong>da</strong>. Aí entra o papel <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong>, como<br />

área que pode fornecer­nos índices sobre o grau de isomorfia entre tais uni<strong>da</strong>des,<br />

70


uma vez que, na divisão <strong>da</strong> fala ou leitura em chunks 33 , além <strong>da</strong>s pausas<br />

extrínsecas, constituí<strong>da</strong>s por um espaço em branco no espectrograma 34 ou<br />

preenchi<strong>da</strong>s por ruí<strong>do</strong>, observam­se, nas pausas intrínsecas, nas fronteiras sintáticas<br />

maiores ou principais, de início e fim de sentença, e nas fronteiras sintáticas<br />

menores ou secundárias, entre sintagmas, mu<strong>da</strong>nças nos parâmetros acústicos de<br />

duração (alongamento <strong>da</strong> sílaba final que antecede a fronteira), medi<strong>da</strong> em<br />

milésimos de segun<strong>do</strong>, e no contorno de entoação ou <strong>da</strong> linha de variação de f0,<br />

que, além de formar picos sobre as sílabas tônicas, pode ser ascendente, plana ou<br />

descendente.<br />

Assim, a ocorrência de uma pausa durante a leitura pode mostrar<br />

continui<strong>da</strong>de ou término de um chunk sintático­semântico, que, por sua vez, pode<br />

corresponder ao que, nas primeiras versões <strong>da</strong> Gramática Gerativa, era designa<strong>do</strong><br />

por sintagma. Tal chunk demarca, nos termos <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong>, um grupo<br />

rítmico e/ou um grupo entoacional, o que significa que sua completude ou<br />

delimitação ocorrerá por um acento maior sobre um <strong>do</strong>s acentos lexicais <strong>da</strong>s<br />

palavras que o compõem, forman<strong>do</strong> assim uma proeminência.<br />

Para Selkirk (1984), a semântica constitui uma frase entoacional e contém<br />

material que pertence a uma seqüência de palavras e/ou frases, e não é isomórfica a<br />

nenhum constituinte <strong>da</strong> estrutura sintática. A palavra fonológica em inglês sofre<br />

influência <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des rítmicas e <strong>da</strong>s pausas. A estrutura sintática de uma<br />

sentença não determina a entoação frasal; em uma sentença, pode­se ter muitas<br />

33 Na Lingüística, geralmente usa­se o termo chunk, o qual significa corriqueiramente pe<strong>da</strong>ço, sem traduzí­lo, porque<br />

tal designação pode corresponder a uni<strong>da</strong>des lingüísticas de diferentes tamanhos.<br />

34 O espectrograma constitui um “mapa” <strong>do</strong> sinal acústico <strong>da</strong> fala processa<strong>do</strong> em termos de tempo (eixo horizontal,<br />

em ms), freqüência (eixo vertical, em Hz) e intensi<strong>da</strong>de (variação de cor no eixo diagonal, em dB).<br />

71


ealizações lingüisticamente distintas. Há uma representação fonológica <strong>da</strong><br />

estrutura entoacional, uma vez que a sentença consiste­se de uma ou mais frases<br />

entoacionais, e, <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> uma delas, há um contorno que compõe­se de elementos<br />

tonais distintos fonologicamente (acentos de pitch, tons de fronteira e acento frasal)<br />

associa<strong>do</strong> às silabas <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>, e a realização fonética de um contorno de f0 <strong>da</strong><br />

sentença é defini<strong>do</strong> pela estrutura entoacional, conteú<strong>do</strong> silábico e alinhamento <strong>da</strong><br />

grade métrica.<br />

A teoria de Pierrehumbert (1980, apud Selkirk, 1984) <strong>da</strong> fonologia <strong>do</strong><br />

contorno entoacional está basea<strong>da</strong> em três fun<strong>da</strong>mentos. O primeiro refere­se ao<br />

fato de que a representação fonológica <strong>do</strong> contorno é auto­segmental, o que<br />

significa que: (a) o contorno entoacional está fonologicamente representa<strong>do</strong> por<br />

uma cama<strong>da</strong> (auto­segmental) se<strong>para</strong><strong>da</strong>, independente <strong>do</strong> segmento e/ou <strong>da</strong>s<br />

proprie<strong>da</strong>des <strong>da</strong> sílaba <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong>, e (b) consiste em uma seqüência de enti<strong>da</strong>des<br />

tonais distintas. O segun<strong>do</strong> fun<strong>da</strong>mento diz respeito ao fato de que os elementos<br />

tonais (=tons), ao formar o contorno entoacional, compõem­se de uma<br />

especificação <strong>do</strong>s níveis tonais defini<strong>do</strong>s por High (alto) e Low (baixo). O terceiro e<br />

último fun<strong>da</strong>mento, o mais relevante na nossa opinião, consiste na idéia de que os<br />

três tipos distintos de enti<strong>da</strong>de tonal formam o contorno entoacional de qualquer<br />

frase deste tipo no inglês, e que estas enti<strong>da</strong>des têm composições diferentes em<br />

termos de tons, distribuições diferentes na frase entoacional, diferentes formas de<br />

associação com as sílabas <strong>da</strong> sentença e, provavelmente, diferentes tipos de<br />

contribuições <strong>para</strong> sua expressivi<strong>da</strong>de.<br />

Na teoria de Pierrehumbert (1980, apud Selkirk, 1984), o contorno<br />

entoacional <strong>do</strong> inglês consiste­se de uma seqüência infinita de acentos de pitch<br />

72


(pitch accents), acento frasal (phrase accent) e tons de fronteira (boun<strong>da</strong>ry tones).<br />

O acento de pitch normalmente está associa<strong>do</strong> com o acento primário de uma<br />

palavra; o acento frasal ocorre, em um certo perío<strong>do</strong> de tempo, após o acento de<br />

pitch (nuclear) final, e os tons de fronteira (iniciais e finais) estão associa<strong>do</strong>s às<br />

sílabas iniciais e finais <strong>da</strong> frase entoacional.<br />

O modelo de seqüências tonais <strong>para</strong> descrição e geração de entoação<br />

(Pierrehumbert, 1980) foi desenvolvi<strong>do</strong> com o objetivo primeiro de ser um modelo<br />

de geração de entoação. No entanto, ele também representa os princípios básicos<br />

correspondentes <strong>para</strong> uma descrição entoacional.<br />

Na análise que Pierrehumbert faz <strong>da</strong> entoação <strong>do</strong> inglês (1980, apud Selkirk,<br />

1984), os contornos tonais frasais são decompostos em uma série de alvos que<br />

estão associa<strong>do</strong>s às sílabas tônicas (corresponden<strong>do</strong> aos tons de fronteira<br />

prosódica). O contorno entoacional é descrito como uma seqüência de alvos High<br />

(H) e Low (L) e a extensão <strong>do</strong> pitch (pitch range) é o espaço compreendi<strong>do</strong> entre o<br />

valor de f0 <strong>do</strong> alvo mais alto (H) em uma frase entoacional.<br />

Retoman<strong>do</strong> agora a entoação dentro <strong>do</strong> ensino e aprendiza<strong>do</strong> de LE, segun<strong>do</strong><br />

Beckman (1995, apud Rocca, 2003), o ensino <strong>da</strong> entoação é um <strong>do</strong>s aspectos de<br />

fala mais difíceis de ser trabalha<strong>do</strong>, pela dificul<strong>da</strong>de de modular sua estrutura. Uma<br />

<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des diz respeito aos vários tipos de significa<strong>do</strong>s expressos por muitas<br />

<strong>da</strong>s categorias entoacionais, que vão desde a sinalização de diferenças lexicais e<br />

categorias até a sinalização de relacionamentos sutis entre uma emissão e sua<br />

inserção em um contorno maior <strong>do</strong> discurso. O sistema entoacional <strong>do</strong> inglês<br />

73


americano apresenta um contraste categorial entre acentos de pitch de tom alto<br />

(H*) e de tom baixo (L*) que, em diferentes contextos discursivos, pode ser<br />

interpreta<strong>do</strong> como o elemento diferencia<strong>do</strong>r entre uma afirmação e uma pergunta<br />

<strong>do</strong> tipo falso ou ver<strong>da</strong>deiro, entre uma afirmação nova e retoma<strong>da</strong> de uma<br />

informação já <strong>da</strong><strong>da</strong>, entre uma repetição <strong>para</strong> confirmar ou expressar increduli<strong>da</strong>de<br />

sobre o que o falante acabou de emitir, ou entre o emprego literal de uma palavra<br />

como well e seu emprego como marca<strong>do</strong>r discursivo.<br />

Uma outra dificul<strong>da</strong>de que se refere ao ensino de entoação menciona<strong>da</strong> por<br />

Beckman (1995) diz respeito à própria natureza <strong>da</strong> prosódia. Muitos <strong>do</strong>s aspectos<br />

entoacionais estão vincula<strong>do</strong>s a construtos prosódicos, como a sílaba, o acento e a<br />

frase entoacional, que são, por si sós, difíceis de serem caracteriza<strong>do</strong>s, pois não se<br />

adequam ao modelo alfabético. A exploração de construtos entoacionais, tais como<br />

acento de pitch e tom de fronteira, por exemplo, requer a compreensão de uni<strong>da</strong>des<br />

prosódicas como a sílaba e frase entoacional. Do mesmo mo<strong>do</strong>, não é possível<br />

explorar acento de pitch sem recorrer ao acento. Avery e Ehrlich (1992) afirmam<br />

que os professores de inglês deveriam tornar explícito aos alunos o correto uso <strong>da</strong><br />

entoação, <strong>para</strong> que o ouvinte nativo e/ou não­nativo, proficiente na língua, possa<br />

entender, por exemplo, uma pergunta como uma pergunta e não como uma<br />

declarativa e vice­versa.<br />

Segun<strong>do</strong> Paul Tench (1981), há três princípios que o professor de Língua<br />

Inglesa, nativo e/ou não­nativo, deve ter em mente em sua prática pe<strong>da</strong>gógica com<br />

relação à entoação. Primeiramente, ele precisa estabelecer ‘accurate imitation of<br />

intonation right from the beginning’ – precisão no ritmo e entoação. Segun<strong>do</strong> o<br />

autor, o professor precisa usar ‘the more normal intonation forms in initial<br />

74


practice’, e, no terceiro princípio, ele deve ‘introduce a new intonation form<br />

carefully and deliberately’, e não de forma aleatória e casualmente. Novos padrões<br />

de entoação devem ser inseri<strong>do</strong>s ao iniciar um novo capítulo e/ou diálogo.<br />

Paul Tench (1981) corrobora a idéia de que o ensino <strong>da</strong> pronúncia deve estar<br />

integra<strong>do</strong> aos outros aspectos que devem ser ensina<strong>do</strong>s – léxico e Gramática – e<br />

que a pronúncia não é mais e nem menos importante que os outros aspectos de uma<br />

língua. Segun<strong>do</strong> o autor (1981:109), “Speech is much more than pronunciation –<br />

but it is impossible without it! Pronunciation is not the be­all and end­all; effective<br />

communication is what matters, and this is to be the teacher´s constant goal”.<br />

Celce­Murcia et. alii (1996) confirmam a idéia de Paul Tench (1981) e, segun<strong>do</strong> as<br />

autoras, o ensino <strong>da</strong> entoação e proeminência deve estar presente no<br />

ensino/aprendizagem de línguas, pois certos padrões entoacionais podem levar o<br />

aprendiz a uma pronúncia inadequa<strong>da</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> Celce­Murcia et. alii (1996), os padrões de contorno 35 de entoação<br />

<strong>do</strong> inglês mais comuns são: (1) o padrão ascendente/descendente, em que a<br />

entoação normalmente começa na parte intermediária neutra e depois eleva­se a um<br />

nível mais alto no principal elemento acentua<strong>do</strong>. Posteriormente, a entoação decai<br />

<strong>para</strong> o nível mais baixo ou <strong>para</strong> o nível intermediário, como podemos observar na<br />

sentença:<br />

Celce­Murcia, M; Brinton, D.M; Goodwin, J.M. (1996). Teaching pronunciation – A reference for teachers of<br />

English to Speakers of Other Languages, p. 185. Cambridge: Cambridge University Press.<br />

35 É o movimento de pitch em uma uni<strong>da</strong>de entoacional (Celce­Murcia et. alii, 1996:185).<br />

75


Por outro la<strong>do</strong>, se a sílaba acentua<strong>da</strong> fizer parte de uma palavra<br />

multissilábica com outras sílabas não­acentua<strong>da</strong>s posteriores a ela, então a “que<strong>da</strong>”<br />

ocorre no elemento não­acentua<strong>do</strong> imediatamente seguinte à principal sílaba<br />

acentua<strong>da</strong>, como mostra a sentença:<br />

Celce­Murcia, M; Brinton, D.M; Goodwin, J.M. (1996). Teaching pronunciation – A reference for teachers of<br />

English to Speakers of Other Languages, p. 185. Cambridge: Cambridge University Press.<br />

(2) o padrão ascendente corresponde a sentenças interrogativas (sim/não) e<br />

demonstra incerteza, como podemos observar nas sentenças:<br />

Celce­Murcia, M; Brinton, D.M; Goodwin, J.M. (1996). Teaching pronunciation – A reference for teachers of<br />

English to Speakers of Other Languages, p. 187. Cambridge: Cambridge University Press.<br />

Em tag questions, por exemplo, deve ocorrer o padrão ascendente/descendente,<br />

uma vez que sua função mais comum é confirmar ou comentar, conforme podemos<br />

observar no exemplo <strong>da</strong><strong>do</strong> pelas autoras:<br />

He´s a TEACHER, ISn´t he?<br />

Celce­Murcia, M; Brinton, D.M; Goodwin, J.M. (1996). Teaching pronunciation – A reference for teachers of<br />

English to Speakers of Other Languages, p. 207. Cambridge: Cambridge University Press.<br />

Segun<strong>do</strong> as autoras, é comum, por exemplo, que os aprendizes façam<br />

associação de perguntas com padrão ascendente, mas sabemos que as perguntas<br />

76


inicia<strong>da</strong>s por pronomes interrogativos (WH– questions) são geralmente<br />

caracteriza<strong>da</strong>s por entoação descendente, conforme podemos observar no exemplo<br />

apresenta<strong>do</strong> pelas autoras:<br />

Celce­Murcia, M; Brinton, D.M; Goodwin, J.M. (1996). Teaching pronunciation – A reference for teachers of<br />

English to Speakers of Other Languages, p. 186. Cambridge: Cambridge University Press.<br />

Segun<strong>do</strong> Celce­Murcia et. alii (1996), tag questions também são difíceis <strong>para</strong><br />

os falantes não­nativos, tanto pela Gramática quanto entoação. A maioria <strong>do</strong>s<br />

aprendizes de inglês usa apenas a entoação ascendente como sinaliza<strong>do</strong>r de<br />

incerteza. Por outro la<strong>do</strong>, os falantes nativos usam a entoação como sinaliza<strong>do</strong>r de<br />

certeza com muito mais freqüência, uma vez que utilizam tag­questions <strong>para</strong><br />

evocar confirmação e não incerteza/dúvi<strong>da</strong>. Os falantes não­nativos têm<br />

dificul<strong>da</strong>des em entender ou produzir sentenças que denotam escolhas. Em<br />

restaurantes, por exemplo, quan<strong>do</strong> o garçom pergunta: “Would you like blue<br />

cheese, ranch, or house vinaigrette dressing?”, provavelmente os aprendizes<br />

respondem “yes” em vez de escolher uma <strong>da</strong>s três opções.<br />

As autoras (1996) afirmam que é difícil <strong>para</strong> o aprendiz de inglês imitar o<br />

contorno entoacional dessa língua. Se ele puder visualizar o contorno e a<br />

proeminência por meio <strong>da</strong> superposição de contornos entoacionais sobre o texto<br />

escrito ou pelo uso de movimentos <strong>da</strong>s mãos durante a produção oral, os resulta<strong>do</strong>s<br />

podem ser mais positivos. Creio que, como as características prosódicas de uma<br />

língua talvez sejam menos “visíveis” <strong>para</strong> o aprendiz que as características<br />

segmentais, precisamos, como educa<strong>do</strong>res, torná­las explícitas aos alunos.<br />

77


1.2.2. Fonema e Traço Distintivo<br />

Foi a partir de Bau<strong>do</strong>in de Courtenay e Ferdinand de Saussure que a forma<br />

sonora de uma língua incorporou­se à Lingüística e deixou de ser simples objeto <strong>da</strong><br />

Psicologia e <strong>da</strong> Fisiologia Sensorial. Desde então, pesquisou­se a forma sonora em<br />

seu valor significativo, a existência <strong>do</strong>s fonemas – seu “porquê”.<br />

De acor<strong>do</strong> com Saussure (1969), o fonema é defini<strong>do</strong> como a soma <strong>da</strong>s<br />

impressões acústicas e <strong>do</strong>s movimentos articulatórios <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de ouvi<strong>da</strong> e <strong>da</strong><br />

uni<strong>da</strong>de fala<strong>da</strong>, que condicionam uma à outra, tratan<strong>do</strong>­se, assim, de uma uni<strong>da</strong>de<br />

complexa basea<strong>da</strong> na cadeia <strong>da</strong> fala. Ao contrário de Saussure, Jakobson (1972)<br />

concebe o fonema como a principal uni<strong>da</strong>de lingüística.<br />

Para o autor, “o fonema é as proprie<strong>da</strong>des fônicas concorrentes que se usam<br />

numa língua <strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>para</strong> distinguir vocábulos de significação diversa”. Jakobson<br />

afirma que o fonema é a uni<strong>da</strong>de fonológica mínima bidimensional, que possui uma<br />

extensão no eixo <strong>do</strong>s elementos simultâneos (eixo <strong>da</strong> simultanei<strong>da</strong>de), pois se<br />

apresenta como um acúmulo de significantes (posteriormente descritos como<br />

traços). No eixo que se sucede no tempo (eixo <strong>da</strong> sucessivi<strong>da</strong>de), ele não representa<br />

um ponto, mas uma dimensão. O fonema não pode, contu<strong>do</strong>, ser dividi<strong>do</strong> em<br />

uni<strong>da</strong>des às quais correspon<strong>da</strong>m duas ou mais uni<strong>da</strong>des bidimensional (<strong>do</strong> que é<br />

simultâneo e <strong>do</strong> que é sucessivo).<br />

A delimitação <strong>do</strong>s sons dentro dessa cadeia, <strong>para</strong> Saussure, somente pode se<br />

apoiar na impressão acústica <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des fonológicas por meio <strong>da</strong> qual<br />

conseguimos diferenciar um b de um t e monitorar suas produções <strong>para</strong> que tais<br />

sons não sejam confundi<strong>do</strong>s. Em contraparti<strong>da</strong>, a descrição de um fonema pode ser<br />

feita com base em suas características articulatórias, sen<strong>do</strong> que o mais importante<br />

78


em sua classificação é saber o que distingue um fonema <strong>do</strong> outro. Segun<strong>do</strong><br />

Saussure (s/d:54), na produção <strong>do</strong> som, “os fatores que podem entrar em jogo são a<br />

expiração, a articulação bucal, a vibração <strong>da</strong> laringe e a ressonância nasal”, sen<strong>do</strong><br />

que os <strong>do</strong>is primeiros “são constantes, necessários e suficientes <strong>para</strong> a produção <strong>do</strong><br />

som enquanto os outros <strong>do</strong>is podem faltar ou sobrepor­se aos primeiros”.<br />

Ain<strong>da</strong> de acor<strong>do</strong> com Saussure (s/d:55), os sons <strong>da</strong> fala classificam­se em<br />

sete categorias. Seja qual for o ponto de articulação, sempre apresenta uma certa<br />

abertura bucal entre os <strong>do</strong>is limites extremos: a oclusão completa e a abertura<br />

máxima, e faz uso de uma escala de 0 a 6, com início na abertura mínima. “É<br />

somente no interior de ca<strong>da</strong> uma delas que repartiremos os fonemas em diversos<br />

tipos, conforme o seu ponto de articulação.” (Saussure, s/d:55).<br />

Saussure (s/d) afirma que é necessário estabelecer, <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> fonema, se<br />

existe som laríngeo e se este possui ou não ressonância nasal, e, segun<strong>do</strong> Jakobson<br />

(1972, apud Motta Maia, 1985), embora os fonemas possam ser agrupa<strong>do</strong>s em<br />

classes, há a possibili<strong>da</strong>de de pertencerem a mais de uma classe ao mesmo tempo.<br />

Segun<strong>do</strong> Jones (1976), ao descrever o sistema de sons de qualquer língua é<br />

necessário fazer a distinção entre os sons <strong>da</strong> fala e os fonemas. Para ele, um som de<br />

fala caracteriza­se por uma formação orgânica e quali<strong>da</strong>de acústica defini<strong>da</strong>. Um<br />

fonema, por sua vez, pode ser descrito como uma família de sons de uma língua, os<br />

quais podem variar em diferentes condições de duração, acento ou entoação. Por<br />

exemplo, o /k/ nas palavras keep, cool e camp <strong>do</strong> inglês são três sons articula<strong>do</strong>s<br />

em diferentes partes <strong>do</strong> palato, mas que pertencem ao mesmo fonema, pois as<br />

diferenças que os caracterizam dependem unicamente <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong> vogal que os<br />

acompanha. Por outro la<strong>do</strong>, os sons /n/ e /ŋ/ pertencem a fonemas distintos em<br />

79


inglês, porque suas diferenças independem de sons vizinhos. Assim, /n/ pode<br />

acontecer em posições que também podem ser ocupa<strong>da</strong>s por /ŋ/, como nas palavras<br />

sin /sIn/ e sing /sIŋ/.<br />

Conforme Motta Maia (1985), foi Jakobson, pressiona<strong>do</strong> pelo clima<br />

positivista <strong>da</strong>s ciências humanas em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX, quem buscou na física<br />

as evidências <strong>para</strong> apoiar sua tese sobre os traços distintivos. Juntamente com o<br />

foneticista Gunnar Fant e o fonólogo Morris Halle, investigou a fonologia de várias<br />

línguas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e conclui que to<strong>do</strong>s os fonemas deveriam se assemelhar e/ou<br />

diferir em, no máximo, <strong>do</strong>ze dimensões defini<strong>da</strong>s tanto em termos acústicos quanto<br />

articulatórios. Segun<strong>do</strong> a autora, “a proposta de Jakobson, Fant e Halle (1951) é de<br />

que há um inventário universal de <strong>do</strong>ze traços distintivos 36 que possuem correlatos<br />

físicos precisos e que podem explicar quaisquer semelhanças ou diferenças entre<br />

fonemas nas línguas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”.<br />

O sistema em questão fun<strong>da</strong>menta­se em <strong>do</strong>is pressupostos. Primeiro, na<br />

idéia de que os traços distintivos são enti<strong>da</strong>des discretas, ou seja, que, por<br />

definição, são não­contínuas (não há necessi<strong>da</strong>de de uma ordem pré­estabeleci<strong>da</strong><br />

<strong>para</strong> a ocorrência <strong>da</strong>s características que distinguem a matriz de traços de um som).<br />

O segun<strong>do</strong> pressuposto afirma que os traços distintivos são dicotômicos, isto é,<br />

ca<strong>da</strong> dimensão divide­se em duas possibili<strong>da</strong>des, sen<strong>do</strong> uma presença e a outra a<br />

ausência de uma determina<strong>da</strong> característica (p.e. som vozea<strong>do</strong> X som não­<br />

vozea<strong>do</strong>). De acor<strong>do</strong> com Motta Maia (1985), uma <strong>da</strong>s vantagens desse sistema é a<br />

de deixar claro determina<strong>da</strong>s semelhanças existentes entre essas duas classes de<br />

segmentos assim como suas influências mútuas.<br />

36 Traços distintivos são as proprie<strong>da</strong>des elementares nas quais um fonema pode ser decomposto (Motta Maia, 1985).<br />

80


Ain<strong>da</strong> de acor<strong>do</strong> com Motta Maia (1985), na déca<strong>da</strong> de 1960, Noam<br />

Chomsky e Morris Halli, ambos influencia<strong>do</strong>s por Jakobson, fizeram a segun<strong>da</strong><br />

revolução no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong> fala, com a criação <strong>da</strong> teoria que se tornou<br />

conheci<strong>da</strong> como Fonologia Gerativa. Essa nova teoria her<strong>do</strong>u <strong>do</strong> estruturalismo “a<br />

concepção de que a língua é uma rede de regulari<strong>da</strong>des subjacentes invariantes que<br />

se manifesta de maneira variável mas previsível na fala”, sen<strong>do</strong> uma atualização <strong>da</strong><br />

capaci<strong>da</strong>de inata e cujo desenvolvimento é desencadea<strong>do</strong> pelo contato com o meio.<br />

Para Hernan<strong>do</strong>rena (1996), na teoria de Chomsky e Halle, os fonemas<br />

passaram a ser vistos sob <strong>do</strong>is aspectos: <strong>da</strong> perspectiva fonética, eles são entendi<strong>do</strong>s<br />

como um conjunto de especificações de traços (proprie<strong>da</strong>des mínimas como<br />

“nasali<strong>da</strong>de”, “sonori<strong>da</strong>de”, “labiali<strong>da</strong>de”, “coronali<strong>da</strong>de”); <strong>da</strong> perspectiva<br />

fonológica, os fonemas consistem em uma “representação mental <strong>do</strong>s itens lexicais,<br />

em que ‘conjuntos de especificações de traços fonológicos’ podem manter uma<br />

correspondência unívoca ou não com o conjunto de traços fonéticos”.<br />

Para Motta Maia (1985), Chomsky e Halle propuseram um outro sistema de<br />

traços binários com o intuito de contemplar to<strong>da</strong>s as distinções fonéticas e<br />

fonológicas presentes nas línguas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Esse novo sistema – conheci<strong>do</strong> como<br />

matriz de traços – possui base articulatória, ou seja, trabalha com ponto e mo<strong>do</strong> de<br />

articulação <strong>para</strong> a caracterização <strong>da</strong>s consoantes e com altura e recuo <strong>da</strong> língua <strong>para</strong><br />

a <strong>da</strong>s vogais.<br />

Segun<strong>do</strong> Hernan<strong>do</strong>rena (1996:17­18):<br />

“no nível fonético, os traços são caracteriza<strong>do</strong>s por Chomsky e Halle<br />

(1968:297) como escalas físicas que descrevem aspectos <strong>do</strong> evento <strong>da</strong> fala<br />

81


e podem ser toma<strong>do</strong>s independentemente, seja <strong>do</strong> ponto de vista <strong>da</strong><br />

produção ou <strong>do</strong> ponto de vista <strong>da</strong> representação perceptual. (...) No nível<br />

fonológico, os traços são marca<strong>do</strong>res classificatórios abstratos, que<br />

identificam os itens lexicais <strong>da</strong> língua. Por terem função classificatória,<br />

distintiva, os traços são binários no modelo de Chomsky e Halle, isto é,<br />

ca<strong>da</strong> traço é defini<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is pontos na escala física, representan<strong>do</strong> um a<br />

presença, o outro a ausência <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de. (...) Para Chomsky e Halle<br />

(1968), os traços fonéticos constituem escalas físicas universais, ou seja,<br />

um conjunto fixo e restrito, independente de qualquer língua. Nesse<br />

senti<strong>do</strong>, pode concluir­se que a totali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s traços fonéticos representa as<br />

capaci<strong>da</strong>des de produção de fala <strong>do</strong> a<strong>para</strong>to vocal humano. (...) Afirmam<br />

Chomsky e Halle (1968:170) que ca<strong>da</strong> entra<strong>da</strong> lexical em uma língua<br />

consiste em uma matriz fonológica na qual ca<strong>da</strong> linha é rotula<strong>da</strong> por nomes<br />

de traços fonológicos, aos quais é atribuí<strong>do</strong> um valor classificatório”.<br />

1.2.3. Fonemas <strong>do</strong> inglês que geram dificul<strong>da</strong>des de pronúncia <strong>para</strong> os aprendizes<br />

brasileiros<br />

Segun<strong>do</strong> Malmberg (1954), quem quiser pronunciar bem uma língua<br />

estrangeira tem de conseguir <strong>do</strong>minar um grande número de novos hábitos<br />

articulatórios. Tem de acostumar­se a articular os sons estrangeiros exatamente<br />

como se faz na língua em questão e não deve continuar a servir­se <strong>do</strong>s hábitos<br />

próprios <strong>da</strong> sua língua materna. Para o autor, “sem um conhecimento profun<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

fonética <strong>da</strong>s duas línguas em questão o professor de línguas jamais conseguirá<br />

ensinar aos seus alunos uma pronúncia perfeita <strong>da</strong> nova língua” (Malmberg,<br />

1954:190).<br />

82


Para Schütz (2005), um fator que dificulta a aquisição <strong>da</strong> pronúncia no<br />

aprendiza<strong>do</strong> de segun<strong>da</strong> língua é o fato <strong>do</strong> inglês, neste caso, possuir um número<br />

maior de fonemas consonantais (24). Além disso, as consoantes <strong>da</strong> Língua Inglesa<br />

podem ocorrer em posições que não ocorreriam em outra língua, como, por<br />

exemplo, no português <strong>do</strong> Brasil. Acentuação tônica de palavras é outro aspecto<br />

que influi significantemente na sua característica sonora. Enquanto no português <strong>do</strong><br />

Brasil encontramos apenas três tipos de acentuação tônica (oxítonas, paroxítonas e<br />

proparoxítonas), no inglês americano encontramos pelo menos cinco tipos de<br />

acentuação tônica (primário, secundário, terciário, forte e fraco). Para o autor, um<br />

erro muito comum observa<strong>do</strong> em aprendizes de inglês, cuja língua materna é o<br />

português <strong>do</strong> Brasil, é a redução insuficiente de palavras funcionais e demais<br />

sílabas não­acentua<strong>da</strong>s. Como conseqüência, o ouvinte terá dificul<strong>da</strong>de em<br />

perceber quais sílabas são acentua<strong>da</strong>s e quais são não­acentua<strong>da</strong>s. Uma vez que o<br />

ritmo é a principal indicação <strong>da</strong>s divisões entre as palavras na língua fala<strong>da</strong><br />

(equivalente aos espaços na escrita), o ouvinte terá dificul<strong>da</strong>de em captar o início e<br />

o fim <strong>do</strong>s vocábulos. É, portanto, de extrema importância manter uma clara<br />

diferença entre as sílabas acentua<strong>da</strong>s e não­acentua<strong>da</strong>s quan<strong>do</strong> se fala inglês.<br />

Tratan<strong>do</strong>­se especificamente <strong>do</strong> falante brasileiro, o grande problema,<br />

segun<strong>do</strong> Schütz (op. cit.), é que o aprendiz de segun<strong>da</strong> língua normalmente<br />

apresenta dificul<strong>da</strong>des <strong>para</strong> produzir as vogais, e transfere o sistema vocálico de sua<br />

língua <strong>para</strong> o inglês – fator este que dificulta a aquisição <strong>da</strong> pronúncia. Para o autor,<br />

um elemento de difícil solução em relação à produção de vogais <strong>do</strong> inglês <strong>para</strong> o<br />

falante brasileiro é o fato de que na Língua Inglesa há um número bem maior de<br />

vogais (14 fonemas vocálicos <strong>do</strong> inglês americano, <strong>do</strong>s quais 03 são considera<strong>do</strong>s<br />

ditongos) que na língua portuguesa (7), fazen<strong>do</strong> com que a diferença entre ca<strong>da</strong><br />

83


uma delas seja mínima, exigin<strong>do</strong> uma maior acui<strong>da</strong>de por parte <strong>do</strong> falante, tanto na<br />

percepção quanto na produção.<br />

Um exemplo bem conheci<strong>do</strong> <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de de percepção e produção <strong>para</strong><br />

alunos brasileiros refere­se à pronúncia <strong>do</strong> som <strong>do</strong> i em inglês. Celce­Murcia et. alii<br />

(1996:94­97) descrevem /i/ e /I/ como vogais altas e frontais produzi<strong>da</strong>s com a<br />

parte <strong>da</strong> frente <strong>da</strong> língua alta, próxima e à frente <strong>do</strong> palato duro e com a mandíbula<br />

relativamente fecha<strong>da</strong>. Parece haver uma semelhança <strong>do</strong> ponto de vista<br />

articulatório. Entretanto, ain<strong>da</strong> segun<strong>do</strong> as autoras (1996), enquanto /i/ é articula<strong>do</strong><br />

com maior tensão <strong>do</strong>s músculos, a língua e a posição <strong>da</strong> mandíbula ficam mais altas<br />

e os lábios ficam estica<strong>do</strong>s em uma posição de sorriso, o fonema /I/ é articula<strong>do</strong><br />

com os músculos relaxa<strong>do</strong>s, a mandíbula um pouco mais baixa, os lábios não tão<br />

estica<strong>do</strong>s e a língua em uma posição mais central na cavi<strong>da</strong>de bucal. Na fonologia<br />

articulatória, o primeiro é descrito como “longo” /i/ e o segun<strong>do</strong> como “curto” /I/.<br />

Segun<strong>do</strong> Cristófaro­Silva (2005), falantes <strong>do</strong> português brasileiro tendem a<br />

associar o som de /I/ <strong>do</strong> inglês ao som de /i/ <strong>do</strong> português – que ocorre na palavra<br />

ali. Para a autora esta associação – ente os sons /I/ e /i/ – decorre, “principalmente,<br />

<strong>da</strong> interferência <strong>do</strong> sistema ortográfico. Isto porque, em inúmeras palavras <strong>do</strong><br />

inglês, a letra i corresponde ao som I (kiss, bit, it etc.); enquanto que, no português,<br />

a letra i sempre corresponde ao som i (ali, vi<strong>da</strong>, pia<strong>da</strong> etc)”.<br />

Segun<strong>do</strong> Avery e Ehrlich (1992) e Celce­Murcia et. alii (1996), o ensino <strong>da</strong><br />

pronúncia enfocava segmentos, como o contraste entre pares mínimos, no intuito de<br />

fazer com que os aprendizes de segun<strong>da</strong> língua se conscientizassem sobre<br />

84


diferenças fonêmicas <strong>da</strong> língua estrangeira. Segun<strong>do</strong> Celce­Murcia et. alii<br />

(1996:111), o ensino de pronúncia, de mo<strong>do</strong> geral, foca muito minimal pairs em<br />

sentenças como, “My brother beat/bit me” ou “Would you test/taste this for me?”.<br />

Para as autoras (op.cit.), o ensino de pares mínimos sem estarem dentro de um<br />

contexto não tem nenhum senti<strong>do</strong>. Eles isola<strong>da</strong>mente não garantem aos aprendizes<br />

um ver<strong>da</strong>deiro controle <strong>do</strong>s contrastes segmentais – principalmente quan<strong>do</strong> se pede<br />

<strong>para</strong> o aprendiz produzir a língua em situações onde o foco está na mensagem e não<br />

na forma. Contu<strong>do</strong>, as sentenças com minimal pairs apresentam evidência de como<br />

o significa<strong>do</strong> pode ser interpreta<strong>do</strong> de forma erra<strong>da</strong> se um fonema vocálico for<br />

pronuncia<strong>do</strong> ou entendi<strong>do</strong> de forma erra<strong>da</strong>. Caso o minimal pair esteja<br />

contextualiza<strong>do</strong> e segui<strong>do</strong> de uma prática mais comunicativa pode garantir aos<br />

aprendizes um controle <strong>do</strong>s contrastes segmentais. Em síntese, o ensino de<br />

pronúncia deve incluir um componente que assegure aos aprendizes <strong>do</strong>minar a<br />

percepção e a produção <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong>s vogais de mo<strong>do</strong> contextualiza<strong>do</strong> e<br />

comunicativo e distinguir a pronúncia <strong>da</strong>s vogais de suas formas ortográficas.<br />

O que também é impressionante na Língua Inglesa é a freqüência com que as<br />

reduções de vogais ocorrem na cadeia <strong>da</strong> fala e o número reduzi<strong>do</strong> de vogais que<br />

ocorrem em posição não­acentua<strong>da</strong>. Como conseqüência dessa aglutinação de<br />

sílabas não­acentua<strong>da</strong>s no inglês, a vogal dessas sílabas freqüentemente enfraquece<br />

e sofre uma “ redução” em direção ao som neutro /Ә/. Este fenômeno vocálico<br />

neutro, conheci<strong>do</strong> como schwa é produzi<strong>do</strong> pela vibração <strong>da</strong>s cor<strong>da</strong>s vocais,<br />

músculos relaxa<strong>do</strong>s, a língua na posição central <strong>da</strong> boca e a mandíbula levemente<br />

aberta. Segun<strong>do</strong> Cristófaro­Silva (2005), o schwa desempenha um papel muito<br />

importante na construção <strong>do</strong> ritmo e <strong>da</strong> entoação no inglês; ele tem características<br />

bem próximas ao a final <strong>do</strong> português brasileiro – como na vogal final <strong>da</strong> palavra<br />

85


“pi za”. No português brasileiro, o schwa tende a ocorrer sempre em posição<br />

postônica, ou seja, após a vogal tônica e sempre se relaciona a um “a” ortográfico.<br />

No inglês, o schwa pode ocorrer em posição postônica (america) ou pretônica, mas<br />

nunca em posição tônica, pois o fenômeno ocorre sempre em posição não­<br />

acentua<strong>da</strong>. O schwa é um <strong>do</strong>s sons vocálicos mais reduzi<strong>do</strong>s no inglês norte­<br />

americano, principalmente se vogais reduzi<strong>da</strong>s como a consoante /r/ vierem<br />

posterior a ele, como em father, brother (Celce­Murcia et. alii, 1996).<br />

Segun<strong>do</strong> as autoras (1996), existem quatro outros sons vocálicos reduzi<strong>do</strong>s<br />

no inglês norte­americano que também ocorrem em sílabas não­acentua<strong>da</strong>s. ­ /I/, /i/,<br />

/o/ e /u/ 37 (ver figura 1). As três últimas vogais não­acentua<strong>da</strong>s são semelhantes a<br />

/iy/, /ow/ e /uw/, mas sem glide; são mais centrais por causa <strong>da</strong> ausência de acento:<br />

QUADRO 3: sons vocálicos ­ Celce­Murcia, M; Brinton, D.M; Goodwin, J.M. (1996). Teaching<br />

pronunciation – A reference for teachers of English to speakers of other languages, p. 109.<br />

Cambridge: Cambridge University Press.<br />

37 Note que /I/ aparece no quadro 3 tanto como vogal reduzi<strong>da</strong> quanto não­reduzi<strong>da</strong>. Como as duas versões são<br />

foneticamente bem semelhantes, optamos em usar o mesmo símbolo <strong>para</strong> representar as duas vogais em vez de<br />

introduzir um novo símbolo.<br />

86


A quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong>s vogais reduzi<strong>da</strong>s tende a variar. Por exemplo, a<br />

vogal reduzi<strong>da</strong> nas palavras behind, begin e prefer podem ser articula<strong>da</strong>s como /i/,<br />

/I/ ou /Ə/ dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> falante, <strong>do</strong> contexto e <strong>do</strong> dialeto.<br />

QUADRO 4: sons vocálicos reduzi<strong>do</strong>s ­ Celce­Murcia,M; Brinton, D.M; Goodwin,<br />

J.M. (1996). Teaching pronunciation – A reference for teachers of English to<br />

speakers of other languages, p. 109. Cambridge: Cambridge University Press.<br />

Celce­Murcia et. alii (1996) afirmam que as distinções fonemáticas, duração<br />

<strong>da</strong> vogal, nasalização e redução <strong>da</strong>s vogais podem interferir em uma situação<br />

comunicativa tanto em relação à produção quanto em relação à compreensão oral.<br />

Portanto, elas acreditam que tais fenômenos devem ser explicita<strong>do</strong>s aos aprendizes<br />

de língua estrangeira que não <strong>do</strong>minam o referi<strong>do</strong> código <strong>para</strong> que eles não se<br />

vejam em situações embaraçosas e os depreen<strong>da</strong>m intuitivamente.<br />

Lieff e Nunes (1993) atribuem algumas dificul<strong>da</strong>des de pronúncia que os<br />

aprendizes brasileiros têm às diferenças entre os sistemas de sons <strong>do</strong> inglês e <strong>do</strong><br />

87


português. Elas admitem que fatores como i<strong>da</strong>de, personali<strong>da</strong>de, motivação e<br />

habili<strong>da</strong>de fonética afetam o desempenho <strong>da</strong> pronúncia <strong>do</strong>s aprendizes. Segun<strong>do</strong> as<br />

autoras, as dificul<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s alunos de produzir as consoantes <strong>da</strong> Língua Inglesa<br />

ocorrem porque os sistemas consonantais <strong>do</strong> inglês e <strong>do</strong> português divergem pelo<br />

menos em um <strong>do</strong>s cinco níveis: (1) fonêmico; (2) fonético; (3) alofônico; (4)<br />

distribucional; e (5) ortográfico. Segun<strong>do</strong> Marcherpe (1970), estas dificul<strong>da</strong>des<br />

contribuem <strong>para</strong> que os aprendizes brasileiros cometam erros de pronúncia ao<br />

produzir os fonemas <strong>da</strong> língua estrangeira em estu<strong>do</strong>.<br />

De acor<strong>do</strong> com Mascherpe (1970), os erros fonológicos acontecem porque o<br />

sistema de som <strong>do</strong> inglês tem fonemas que não existem no sistema <strong>do</strong> português, e<br />

os aprendizes brasileiros substituem estes fonemas pelos <strong>do</strong> português. Os erros<br />

fonéticos surgem porque as duas línguas têm fonemas semelhantes; porém,<br />

diferenças na forma como são articula<strong>do</strong>s. Estas diferenças fazem com que os<br />

aprendizes brasileiros produzam os fonemas <strong>do</strong> inglês com a articulação <strong>do</strong><br />

português. Os erros alofônicos ocorrem porque os fonemas <strong>da</strong>s duas línguas têm<br />

diferenças alofônicas, e os aprendizes brasileiros pronunciam os alofones <strong>do</strong> inglês<br />

como pronunciam os <strong>do</strong> português. Os erros distribucionais surgem porque existem<br />

contrastes na distribuição <strong>do</strong>s fonemas <strong>da</strong>s duas línguas, e o desvio de pronúncia<br />

ocorre na posição <strong>do</strong>s fonemas distribuí<strong>do</strong>s de forma diferente. O sistema<br />

ortográfico <strong>da</strong> primeira língua <strong>do</strong>s aprendizes de inglês difere <strong>do</strong> inglês, ou seja,<br />

não­alfabético ou pode envolver um alfabeto diferente. A ortografia <strong>do</strong>s falantes<br />

não­nativos reflete: (1) o controle imperfeito <strong>do</strong> sistema de som <strong>do</strong> inglês; (2) a<br />

transferência <strong>do</strong> sistema de som <strong>da</strong> língua materna; (3) a má­compreensão e<br />

controle incipiente <strong>da</strong>s convenções ortográficas <strong>do</strong> inglês – principalmente as<br />

correspondências de ortografia <strong>do</strong> som. A ortografia <strong>da</strong> Língua Inglesa baseia­se<br />

88


nas regulari<strong>da</strong>des morfológica, lexical e fonológica. Chomsky (1970) chama a<br />

atenção <strong>para</strong> o fato de que esta ortografia normalmente se correlaciona com a<br />

representação lexical, um nível <strong>do</strong> processamento lingüístico abaixo <strong>da</strong> superfície e<br />

liga<strong>do</strong> à pronúncia por meio de processos morfofonológicos regulares. A autora<br />

(op. cit.) considera que a pronúncia <strong>do</strong> inglês deva ser ensina<strong>da</strong> pelo sistema de<br />

escrita bem como pelo alfabeto fonético e símbolos adicionais.<br />

Segun<strong>do</strong> Flege (1980), o aprendiz de língua que acredita ouvir na língua<br />

estrangeira sons quase idênticos aos <strong>da</strong> língua materna (apesar <strong>da</strong>s possíveis<br />

diferenças fonéticas entre elas) irá basear sua pronúncia ao longo <strong>do</strong> processo de<br />

aprendiza<strong>do</strong> num modelo acústico resultante de pares de sons semelhantes <strong>da</strong>s duas<br />

línguas, em vez de baseá­la no modelo acústico específico <strong>da</strong> língua estrangeira,<br />

assim como ocorre no aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> língua materna. Concluímos pela fala de<br />

Flege (1980) que uma apresentação detalha<strong>da</strong> <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sistemas fonológicos<br />

aju<strong>da</strong>rá o aprendiz a tomar consciência ce<strong>do</strong> de que os sons de um e outro idioma<br />

não são exatamente iguais, e que essas diferenças podem ser relevantes no<br />

significa<strong>do</strong>, afetan<strong>do</strong> o entendimento.<br />

1.2.4. Composição acústica<br />

Segun<strong>do</strong> Malmberg (1954), “a <strong>Fonética</strong> apresenta <strong>do</strong>is aspectos: (1) um<br />

aspecto acústico, que estu<strong>da</strong> a estrutura física <strong>do</strong>s sons emprega<strong>do</strong>s e o mo<strong>do</strong> como<br />

o ouvi<strong>do</strong> reage a estes sons; e (2) um aspecto articulatório ou fisiológico, que se<br />

ocupa <strong>do</strong> aparelho fona<strong>do</strong>r e <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como produzimos os sons <strong>da</strong> língua. A<br />

produção <strong>do</strong>s sons e sua interpretação implicam a intervenção de uma ativi<strong>da</strong>de<br />

89


psíquica 38 ou de processos psíquicos necessários <strong>para</strong> o <strong>do</strong>mínio de um sistema<br />

fonético e lingüístico organiza<strong>do</strong>. (...) Outros fenômenos acústicos, tais como: sons<br />

musicais, ruí<strong>do</strong>s <strong>da</strong> natureza, etc., e processos fisiológicos, tais como: bocejos,<br />

roncos, mastigação e respiração, não pertencem ao <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong>, a qual se<br />

caracteriza por ser uma ciência autônoma, de caráter inteiramente lingüístico”.<br />

Para o autor (1954), “a <strong>Fonética</strong> compreende quatro ramos: (1) <strong>Fonética</strong><br />

Geral (estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des acústicas, a partir <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong> aparelho<br />

fona<strong>do</strong>r); <strong>Fonética</strong> Descritiva (estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s particulari<strong>da</strong>des fonéticas de uma língua<br />

ou de um dialeto); (3) <strong>Fonética</strong> Evolutiva (estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças fonéticas sofri<strong>da</strong>s<br />

por uma língua no decorrer <strong>da</strong> sua história); e (4) Ortoépia ou <strong>Fonética</strong> Normativa<br />

(conjunto de regras a que obedece a “boa” pronúncia de uma língua)”.<br />

Segun<strong>do</strong> Malmberg (op. cit.), a <strong>Fonética</strong> Articulatória, também denomina<strong>da</strong><br />

de <strong>Fonética</strong> Fisiológica, ocupa­se <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> produção <strong>do</strong>s sons pelo aparelho<br />

fona<strong>do</strong>r. Este é composto por três partes: (1) o aparelho respiratório, que fornece a<br />

corrente de ar necessária <strong>para</strong> a maior parte <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong> linguagem; (2) a laringe,<br />

que cria a energia sonora emprega<strong>da</strong> na fala; e (3) as cavi<strong>da</strong>des supraglóticas ou<br />

cavi<strong>da</strong>de oral e nasal, que atuam como ressoa<strong>do</strong>res, onde se produz a maior parte<br />

<strong>do</strong>s ruí<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s na fala.<br />

Assim como na <strong>Fonética</strong> Articulatória se tem a elaboração de modelos que<br />

expliquem de forma dinâmica e global a produção <strong>do</strong> som, na <strong>Fonética</strong><br />

Perceptiva são propostos modelos <strong>para</strong> <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des acústicas <strong>do</strong>s<br />

sons <strong>da</strong> fala e <strong>do</strong>s condicionamentos impostos por nosso sistema auditivo, em<br />

38 Ver o Circuito <strong>da</strong> Fala proposto por Saussure (s/d).<br />

90


sua compreensão (Malmberg, 1954). Conforme Llisterri (1991) a <strong>Fonética</strong><br />

Perceptiva se encarrega <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> audição <strong>da</strong> fala examinan<strong>do</strong> como as on<strong>da</strong>s<br />

sonoras chegam até a audição e se transformam em impulsos nervosos que vão<br />

ao cérebro, por outro la<strong>do</strong>, estu<strong>da</strong> também como <strong>da</strong>mos uma interpretação<br />

fonética a estes impulsos, assimilan<strong>do</strong>­os aos sons <strong>da</strong> língua que conhecemos,<br />

este é o processo conheci<strong>do</strong> como percepção.<br />

A on<strong>da</strong> sonora é cria<strong>da</strong> por uma vibração (movimento repeti<strong>do</strong>) que pode ser:<br />

(1) periódica ou não­periódica; (2) simples ou composta. Os sons <strong>da</strong> fala<br />

(vibrações) podem variar quanto a:<br />

(1) Freqüência – número de ciclos vibratórios, produzi<strong>do</strong>s em um segun<strong>do</strong><br />

(Hz), percebi<strong>da</strong> como variações de tons agu<strong>do</strong>s e graves;<br />

(2) Amplitude – intensi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> som, percebi<strong>da</strong> como volume alto ou baixo;<br />

(3) Timbre – as freqüências que caracterizam um som, permitin<strong>do</strong> distinguir<br />

sua quali<strong>da</strong>de característica, como por exemplo, na distinção de uma<br />

determina<strong>da</strong> pessoa por sua voz.<br />

A Teoria <strong>Acústica</strong> <strong>da</strong> Produção <strong>da</strong> Fala, também designa<strong>da</strong> por Teoria <strong>da</strong><br />

Fonte­Filtro 39 , proposta por Fant (1973), encara o sinal de fala como resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

geração de fontes acústicas e filtragem dessas fontes pelo aparelho fona<strong>do</strong>r,<br />

permitin<strong>do</strong> ao pesquisa<strong>do</strong>r relacionar, por inferência, qualitativa e<br />

quantitativamente, as proprie<strong>da</strong>des físicas <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s sonoras e os mecanismos<br />

articulatórios que as produzem. É com base na <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong> que este trabalho<br />

39 Para uma resenha detalha<strong>da</strong> <strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong> Fonte­Filtro proposta por Fant, ver Camargo (2002).<br />

91


norteará a com<strong>para</strong>ção entre a produção <strong>do</strong> inglês por um falante <strong>do</strong> português<br />

brasileiro e por um falante americano.<br />

De acor<strong>do</strong> com a teoria acústica <strong>da</strong> produção <strong>da</strong> fala, o trato vocal pode ser<br />

considera<strong>do</strong> como um sistema de filtros que é exercita<strong>do</strong> por uma ou mais fontes<br />

sonoras. Há <strong>do</strong>is tipos de fontes sonoras no aparelho vocal: uma fonte glotal de<br />

sons periódicos que está associa<strong>da</strong> à vibração <strong>da</strong>s cor<strong>da</strong>s vocais e fontes de ruí<strong>do</strong><br />

cria<strong>da</strong> a qualquer nível <strong>do</strong> trato vocal devi<strong>do</strong> ao escoamento <strong>do</strong> ar a alta veloci<strong>da</strong>de<br />

através de constrições. O trato vocal tem a capaci<strong>da</strong>de de modificar o som original<br />

<strong>da</strong> voz. Esta capaci<strong>da</strong>de está diretamente relaciona<strong>da</strong> à configuração que o trato<br />

vocal assume na produção de um determina<strong>do</strong> som, e à mu<strong>da</strong>nça na posição <strong>do</strong>s<br />

articula<strong>do</strong>res que altera a ação <strong>do</strong> filtro.<br />

Segun<strong>do</strong> Ladefoged (1996), o trato vocal é delimita<strong>do</strong>, em uma extremi<strong>da</strong>de,<br />

pelas pregas vocais, e, em outra, pela abertura de lábios e narinas, que propiciam a<br />

passagem <strong>do</strong> fluxo de ar que vem <strong>do</strong>s pulmões. (...) As pregas vocais são pequenas<br />

pregas de músculos sustenta<strong>da</strong>s pelas cartilagens <strong>da</strong> laringe. Na fala ou no canto,<br />

elas se aproximam. Quan<strong>do</strong> o ar sai <strong>do</strong>s pulmões, uma pressão é forma<strong>da</strong> abaixo<br />

<strong>da</strong>s pregas vocais, fazen<strong>do</strong> com que elas se separem. Tão logo isto ocorra, diminui<br />

a pressão abaixo delas, que voltam a se aproximar, resultan<strong>do</strong> na formação de uma<br />

pressão que as se<strong>para</strong>m novamente. Este ciclo de eventos é repeti<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente<br />

até que o ar não seja mais expeli<strong>do</strong> pelos pulmões ou que a posição <strong>da</strong>s pregas<br />

vocais seja ajusta<strong>da</strong>. O fluxo de ar entre as pregas vocais faz com que sejam<br />

suga<strong>da</strong>s (aproximem­se), e o espaço <strong>da</strong> glote, ou espaço entre as pregas vocais, se<br />

feche rapi<strong>da</strong>mente. A mu<strong>da</strong>nça abrupta na pressão de ar que ocorre quan<strong>do</strong> as<br />

92


pregas vocais se aproximam ocasiona uma espécie de sopro que coloca em<br />

movimento o ar que circula no trato vocal.<br />

Conforme a teoria acústica, a fonte de voz é proveniente <strong>da</strong> vibração <strong>da</strong>s<br />

pregas vocais e de ruí<strong>do</strong>, que pode ser contínuo (resultante <strong>da</strong> corrente de ar que<br />

passa entre <strong>do</strong>is articula<strong>do</strong>res muito próximos, forman<strong>do</strong> uma passagem bastante<br />

estreita entre eles e causan<strong>do</strong> turbulência, por exemplo o /s/), ou transiente<br />

(decorrente <strong>da</strong> libertação repentina de obstrução forma<strong>da</strong> pelo contato entre<br />

articula<strong>do</strong>res, por exemplo /p/). Segun<strong>do</strong> Mateus et. alii (1990) o ruí<strong>do</strong> “pode ser<br />

cria<strong>do</strong> por uma constrição que se mantém durante um certo intervalo de tempo mais<br />

ou menos longo, como nas consoantes fricativas, ou por um fechamento completo<br />

segui<strong>do</strong> de uma distensão brusca, como nas consoantes oclusivas.”<br />

Quanto ao filtro, pode­se dizer que o tom de voz tem seu timbre altera<strong>do</strong> pelo<br />

fenômeno de ressonância, que modifica a intensi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s seus componentes. Tal<br />

ressonância depende <strong>do</strong> trato vocal (que vai <strong>da</strong> glote até os lábios), cuja<br />

configuração é determina<strong>da</strong> pela posição <strong>do</strong>s articula<strong>do</strong>res. Segun<strong>do</strong> Mateus et. alii<br />

(1990) a função de filtro é muitas vezes referi<strong>da</strong> tecnicamente como função de<br />

transferência, que Fant define como “a razão entre pressão à saí<strong>da</strong> <strong>do</strong>s lábios <strong>do</strong><br />

falante e a pressão ou a veloci<strong>da</strong>de de volume <strong>da</strong> fonte sonora”.<br />

A Teoria Fonte­Filtro, quan<strong>do</strong> aplica<strong>da</strong> à produção <strong>da</strong> vogal, estabelece que<br />

o output de energia é um produto <strong>da</strong> energia <strong>da</strong> fonte e <strong>do</strong> ressoa<strong>do</strong>r (ou filtro). As<br />

características <strong>do</strong> filtro determinam a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s vogais, visto que a fonte é<br />

sempre igual: vibração <strong>da</strong>s pregas vocais. Em contraparti<strong>da</strong>, as consoantes<br />

divergem em termos de fonte, pois, se caracterizam pela vibração ou não <strong>da</strong>s pregas<br />

93


vocais e estreitamento ou obstáculos nas cavi<strong>da</strong>des supraglóticas, e filtro. Na<br />

análise <strong>do</strong>s sons consonantais, é necessário considerar a maneira de articulação, o<br />

ponto de articulação e as características de voz.<br />

Segun<strong>do</strong> Kent e Read (1992), a análise acústica pode ser realiza<strong>da</strong> por meio<br />

<strong>da</strong> forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong> (oscilograma) e de outros gráficos, entre eles o espectrograma. O<br />

espectrógrafo, cria<strong>do</strong> em 1940 nos laboratórios Bell, por Ralph Potter e colegas,<br />

que tornou possível a análise <strong>do</strong>s componentes <strong>do</strong> sinal acústico na forma de<br />

espectrogramas, vem sen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong> por programas de computa<strong>do</strong>r, os quais<br />

estão sen<strong>do</strong> usa<strong>do</strong>s <strong>para</strong> análise acústica <strong>da</strong> fala.<br />

O espectrograma é uma representação gráfica em que a ordena<strong>da</strong><br />

corresponde à freqüência, a abscissa ao tempo, e o contraste entre claro e escuro à<br />

amplitude <strong>do</strong>s componentes elementares <strong>do</strong>s sons (quanto mais escuro maior a<br />

amplitude). Há <strong>do</strong>is tipos de espectrogramas: os de ban<strong>da</strong> larga, que utilizam filtros<br />

mais largos <strong>para</strong> a se<strong>para</strong>ção <strong>do</strong>s formantes (geralmente entre 150 e 600 Hz), e os<br />

de ban<strong>da</strong> estreita, com filtros de pouca largura, que se<strong>para</strong>m ca<strong>da</strong> harmônico <strong>da</strong> voz<br />

(usualmente entre 15 e 50 Hz). Os <strong>do</strong> primeiro tipo, apresentam boa resolução de<br />

tempo, permitem realizar medi<strong>da</strong>s de duração, embora apresentam resolução<br />

grosseira de freqüência, e indicam bem os formantes que se apresentam como<br />

manchas nas freqüências <strong>da</strong>s ressonâncias <strong>do</strong> trato. É possível observar num<br />

espectrograma de ban<strong>da</strong> larga: os formantes e as transições entre eles, a barra de<br />

sonori<strong>da</strong>de, a fricção, a obstrução, a plosão e, respectivamente, o ruí<strong>do</strong> contínuo, o<br />

silêncio e o ruí<strong>do</strong> transiente. Os <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> tipo, por não apresentarem nenhuma<br />

precisão de duração, apenas de freqüência, são utiliza<strong>do</strong>s <strong>para</strong> mostrar os<br />

94


harmônicos (componente de um tom complexo cuja freqüência é um múltiplo<br />

inteiro <strong>do</strong> componente mais baixo, o chama<strong>do</strong> Fun<strong>da</strong>mental (Maia, 1985:121).<br />

Segun<strong>do</strong> Llisterri (1991), é importante lembrarmos que as proprie<strong>da</strong>des<br />

acústicas <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong> fala se explicam pela configuração a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> pelo aparelho<br />

fona<strong>do</strong>r no momento de sua produção, estabelecen<strong>do</strong>­se assim uma estreita relação<br />

entre a fonética articulatória e a fonética acústica. Por outro la<strong>do</strong>, tanto a audição<br />

como a percepção <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong> fala são determina<strong>da</strong>s pelas características acústicas,<br />

de forma que a audição possa ser concebi<strong>da</strong> como um sofistica<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s<br />

on<strong>da</strong>s sonoras, com o qual se estabelece uma relação muito estreita entre a <strong>Fonética</strong><br />

<strong>Acústica</strong> e a Perceptiva<br />

Vale lembrar que tanto a produção como a percepção <strong>da</strong> fala estão dirigi<strong>da</strong>s a<br />

um mesmo fim: a comunicação entre um emissor e um receptor; o que pode ser<br />

evidencia<strong>do</strong> nas palavras de Jakobson e Halle (1956:): We speak to be heard and<br />

need to be heard in order to be understood.<br />

95


CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA DE PESQUISA<br />

“Learning to pronounce a language is a very complex task<br />

and, as with any other complex learning task, the learning<br />

process can be fascinated if the task is structured in some<br />

way and if the learner is aware of exactly what is<br />

involved. It is difficult for learners to <strong>do</strong> this for<br />

themselves, so it is the teacher’s job. This means dividing<br />

the task into its components, ordering the components in<br />

some way (for instance, from basic to complex, or easy to<br />

difficult) and showing the learner why each component<br />

must be learnt.”<br />

(Kenworthy)


O objetivo <strong>do</strong> presente capítulo é descrever a meto<strong>do</strong>logia de pesquisa que<br />

escolhi <strong>para</strong> orientar minha investigação, e, por se tratar de um projeto de pesquisa<br />

realiza<strong>do</strong> dentro <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong>, este trabalho tem de levar em conta formas<br />

específicas de coleta e análise de <strong>da</strong><strong>do</strong>s. A seguir, explicitam­se o contexto de<br />

pesquisa, a coleta <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s, e os instrumentos e procedimentos utiliza<strong>do</strong>s.<br />

2.1. A Escolha <strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia de pesquisa<br />

Johnson (1992) e Nunan (1992) afirmam que os estu<strong>do</strong>s de caso são, em sua<br />

maioria, qualitativos, apesar de às vezes envolverem quantificação de algumas<br />

informações relevantes. Segun<strong>do</strong> Johnson (op. cit.), o estu<strong>do</strong> de caso tem si<strong>do</strong> uma<br />

opção meto<strong>do</strong>lógica amplamente utiliza<strong>da</strong> por pesquisa<strong>do</strong>res de diferentes áreas,<br />

com certo pre<strong>do</strong>mínio na aquisição de segun<strong>da</strong> língua, uma vez que, nesse campo,<br />

tem­se mostra<strong>do</strong> eficaz no tratamento <strong>do</strong>s mais diversos tipos de questões.<br />

De acor<strong>do</strong> com Denzin e Lincoln (1988), a pesquisa qualitativa apresenta<br />

características peculiares. O próprio termo pesquisa qualitativa merece ser<br />

entendi<strong>do</strong> <strong>para</strong> o desenvolvimento de uma investigação coerente e bem delinea<strong>da</strong>.<br />

Algumas <strong>da</strong>s principais características seriam a complexi<strong>da</strong>de e a interconexão de<br />

seus termos, conceitos e pressupostos, que se revelam na multiplici<strong>da</strong>de de suas<br />

meto<strong>do</strong>logias, no uso de vários instrumentos, estratégias, materiais, <strong>do</strong>cumentos e<br />

possível atuação <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r no contexto. Esta multiplici<strong>da</strong>de de meto<strong>do</strong>logias é<br />

atribuí<strong>da</strong> à tentativa de assegurar uma compreensão mais profun<strong>da</strong> <strong>do</strong> fenômeno<br />

em questão, mesmo ten<strong>do</strong> em mente que a reali<strong>da</strong>de objetiva nunca é totalmente<br />

detecta<strong>da</strong>.<br />

96


A opção por se realizar esta pesquisa através de um estu<strong>do</strong> de caso deu­se<br />

pela riqueza de informações proporciona<strong>da</strong>s por esse tipo de estu<strong>do</strong>. De acor<strong>do</strong><br />

com Stake (1998), um caso caracteriza­se por sua especifici<strong>da</strong>de, fronteiras,<br />

comportamento padroniza<strong>do</strong>, consistência e seqüenciamento. O autor ressalta que<br />

estu<strong>da</strong>r um caso gera um aprendiza<strong>do</strong> sobre o fenômeno que nos leva a uma melhor<br />

compreensão e assegura nossa aprendizagem, desde a identificação e escolha <strong>do</strong><br />

caso até o entendimento sobre exatamente qual é o nosso interesse nesse<br />

determina<strong>do</strong> fenômeno. Para ele, a pertinência de se desenvolver um estu<strong>do</strong> de caso<br />

está no fato de um pesquisa<strong>do</strong>r, leva<strong>do</strong> por diferentes interesses, poder refinar uma<br />

teoria, sugerir temas complexos <strong>para</strong> futuras pesquisas, como também,<br />

proporcionar reflexão sobre experiências humanas e, assim, fornecer várias e<br />

diferentes contribuições <strong>para</strong> a ciência (Stake, 1998). Neste trabalho, a a<strong>do</strong>ção de<br />

um estu<strong>do</strong> de caso propiciará um maior entendimento <strong>da</strong> com<strong>para</strong>ção entre a<br />

produção rítmica e entoacional <strong>do</strong> inglês por um falante americano e por um falante<br />

brasileiro proficiente na língua, com o propósito de que isto possa servir no futuro<br />

<strong>para</strong> o ensino e a aprendizagem <strong>do</strong> inglês como língua estrangeira.<br />

De acor<strong>do</strong> com a classificação proposta por Stake (1998), este trabalho<br />

constitui um estu<strong>do</strong> de caso intrínseco ­ motiva<strong>do</strong> pelo interesse <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r em<br />

entender melhor um caso em especial, e ao mesmo tempo, um estu<strong>do</strong> de caso<br />

instrumental – motiva<strong>do</strong> pelo interesse <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r em buscar suporte <strong>para</strong><br />

melhor compreensão de um fato, <strong>para</strong> que se resolva um determina<strong>do</strong> problema ou<br />

por seu interesse em refinar uma teoria.<br />

Este trabalho é de cunho experimental, porque segue rigorosamente os<br />

parâmetros de coleta e análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s impostos aos estu<strong>do</strong>s fonético­acústicos,<br />

97


<strong>para</strong> que tenham fidedigni<strong>da</strong>de e possam ser replica<strong>do</strong>s por outros pesquisa<strong>do</strong>res <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de científica.<br />

Enquanto professora e pesquisa<strong>do</strong>ra, pretendi também aprender com o caso<br />

estu<strong>da</strong><strong>do</strong>, visan<strong>do</strong> obter subsídios que pudessem ser reverti<strong>do</strong>s <strong>para</strong> minha prática<br />

em sala de aula, além de relatar e registrar os acha<strong>do</strong>s significativos que possam<br />

contribuir com a área de ensino e aprendizagem de língua estrangeira. Concluo que<br />

a opção por estu<strong>do</strong> de caso foi pertinente por encontrar respal<strong>do</strong> teórico e também<br />

se mostrou adequa<strong>da</strong> ao meu contexto e pergunta de pesquisa. Segun<strong>do</strong> Stake<br />

(1998), esse tipo de méto<strong>do</strong> refere­se tanto ao processo de aprendizagem sobre o<br />

caso quanto ao produto desse aprendiza<strong>do</strong>.<br />

2.1.1. Sujeitos de pesquisa<br />

Para realização <strong>da</strong> pesquisa, foram estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sujeitos <strong>do</strong> sexo feminino<br />

e na faixa etária entre 25 e 30 anos. Um deles, designa<strong>do</strong> por sujeito NA, é falante<br />

nativo <strong>do</strong> inglês americano, de San Diego, Califórnia, e residente no Brasil há sete<br />

meses, na <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> coleta <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s. Seu primeiro contato com a língua portuguesa<br />

foi em 2002, quan<strong>do</strong> morou em uma ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Bahia, por um ano, como<br />

missionária. Em 2005, retornou ao Brasil e, atualmente, trabalha como professora<br />

de inglês em uma escola de idiomas de São Paulo. Durante a graduação nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, participou de um curso de <strong>Fonética</strong> e Fonologia <strong>do</strong> inglês. O<br />

segun<strong>do</strong> sujeito, designa<strong>do</strong> por sujeito NON, é falante nativo <strong>do</strong> português<br />

brasileiro, considera<strong>do</strong> proficiente na língua inglesa com base no critério de uso <strong>da</strong><br />

língua em seu dia­a­dia. Estu<strong>da</strong> inglês desde os 12 anos, participou de <strong>do</strong>is cursos<br />

de treinamento de professor no exterior, cursou uma especialização (lato sensu) e,<br />

98


atualmente, cursa mestra<strong>do</strong>. Os <strong>do</strong>is sujeitos de pesquisa consentiram 40 que os<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s fossem incorpora<strong>do</strong>s ao Banco de Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Laboratório Integra<strong>do</strong> de<br />

Análise <strong>Acústica</strong> e Cognição <strong>da</strong> <strong>PUC</strong>­<strong>SP</strong> (LIAAC), exclusivamente <strong>para</strong> fins<br />

científico­acadêmicos.<br />

2.1.2. Corpus 41 de pesquisa<br />

O corpus de pesquisa é composto por 40 sentenças, retira<strong>da</strong>s <strong>do</strong> script <strong>do</strong><br />

filme Cheaper by the Dozenr (Doze é Demais), que se trata de uma comédia que<br />

li<strong>da</strong> com sentimentos enraiza<strong>do</strong>s em valores familiares. O personagem principal,<br />

interpreta<strong>do</strong> por Steve Martin, é Tom Baker, casa<strong>do</strong> com Kate, interpreta<strong>da</strong> pela<br />

atriz Bonnie Hunt. A trama se passa em uma ci<strong>da</strong>de pequena, em Illinois, com seus<br />

<strong>do</strong>ze filhos.<br />

A opção por um script escrito originalmente em inglês deu­se com o objetivo<br />

de obter uma amostra de fala mais próxima ou representativa <strong>do</strong> que seria uma<br />

situação de fala natural, uma vez que o script foi escrito por um nativo <strong>do</strong> inglês,<br />

<strong>para</strong> ser fala<strong>do</strong> (o filme inicia com a narração deste script pela atriz). O corpus foi<br />

submeti<strong>do</strong> a uma análise auditiva de cunho impressionista por falantes nativos e<br />

não­nativos <strong>do</strong> inglês, proficientes nesta língua, antes <strong>da</strong> realização <strong>da</strong> gravação<br />

pelos <strong>do</strong>is sujeitos de pesquisa. Os grupos de falantes nativos e não­nativos<br />

concor<strong>da</strong>ram quanto à representativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> corpus de uma situação de fala em<br />

inglês.<br />

40 Para maiores informações sobre o termo de consentimento, ver anexo 1.<br />

41 O corpus usa<strong>do</strong> neste trabalho encontra­se no anexo 2.<br />

99


2.1.3. Gravação <strong>do</strong> corpus de pesquisa<br />

As sentenças foram grava<strong>da</strong>s pelos sujeitos, por meio de uma tarefa de<br />

leitura, no Estúdio de Rádio e TV <strong>da</strong> <strong>PUC</strong>­<strong>SP</strong>, com os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s necessários <strong>para</strong><br />

garantir a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> gravação e realização <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s acústicas. A gravação foi<br />

monitora<strong>da</strong> pelo técnico Ernesto Foschi e realiza<strong>da</strong> diretamente no computa<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

estúdio: Pentium III, com 2Hd de 20 Gb ca<strong>da</strong>; 256Mb de memória RAM e<br />

processa<strong>do</strong>r 700MHZ. Foram utiliza<strong>do</strong>s ain<strong>da</strong>: microfone Sennheiser e835; mesa<br />

Shune M267; placa de áudio Delta 44 e o software SOUND Forge 6.0 em uma taxa<br />

de amostragem de 22.05 Hz. Da placa de som <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r, o corpus foi grava<strong>do</strong><br />

diretamente em CD­ROM, com a produção de ca<strong>da</strong> sujeito em uma faixa.<br />

Para a tarefa de leitura <strong>do</strong> corpus <strong>da</strong>s 40 sentenças, pelos sujeitos, as<br />

sentenças foram impressas em folha Canson, com padrão Courier New e em fonte<br />

30. Ca<strong>da</strong> sentença foi impressa em uma ficha, devi<strong>do</strong> à necessi<strong>da</strong>de de serem<br />

embaralha<strong>da</strong>s antes de ca<strong>da</strong> leitura. Esse procedimento teve como objetivo eliminar<br />

o efeito aprendizagem/memorização, caso as sentenças fossem apresenta<strong>da</strong>s sempre<br />

na mesma ordem, e dissipar o efeito de lista ou de ordem fixa de apresentação <strong>do</strong>s<br />

estímulos, o qual poderia causar vieses <strong>para</strong> uma análise estatística. Além disso, se<br />

o corpus fosse li<strong>do</strong> tal como aparece no script, ou na forma de um texto corri<strong>do</strong>,<br />

haveria a possibili<strong>da</strong>de de uma interpretação por parte <strong>do</strong>s sujeitos, geran<strong>do</strong><br />

variação de ritmo, entoação, uso de acentos e pausas, os quais dificultariam tanto a<br />

análise acústica como a com<strong>para</strong>ção intra e entre­sujeitos. As sentenças foram<br />

impressas em fichas individuais e, ao final de ca<strong>da</strong> uma delas, foi coloca<strong>da</strong> uma<br />

seta <strong>para</strong> baixo (↓), na tentativa de induzir o sujeito a ler ca<strong>da</strong> sentença como uma<br />

100


afirmação, apesar de estarmos cientes que, isto, por si só não garante que o sujeito<br />

imponha ao texto diferentes padrões de leitura.<br />

Foram feitas seis leituras de ca<strong>da</strong> sentença <strong>para</strong> obter uma quanti<strong>da</strong>de de<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s que nos permitisse realizar uma análise estatística por meio <strong>do</strong> cálculo de<br />

média 42 , desvio­padrão 43 e coeficiente de variação 44 .<br />

2.1.4. Critérios <strong>para</strong> a análise acústica<br />

Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s foram digitaliza<strong>do</strong>s na freqüência de amostragem 45 de 22,05KHZ e<br />

analisa<strong>do</strong>s no programa Praat 46 (versão 4.1.3), conforme referências de estu<strong>do</strong>s e<br />

pesquisas realiza<strong>da</strong>s no Laboratório Integra<strong>do</strong> de Análise <strong>Acústica</strong> e Cognição <strong>da</strong><br />

<strong>PUC</strong>­<strong>SP</strong> (LIAAC). A análise fonético­acústica <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s consistiu na obtenção e<br />

inspeção <strong>da</strong> forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong>, <strong>do</strong> espectrograma de ban<strong>da</strong> larga e <strong>do</strong> contorno <strong>da</strong><br />

42 A média refere­se à soma <strong>do</strong>s valores obti<strong>do</strong>s nas medi<strong>da</strong>s acústicas, de duração ou f0, <strong>para</strong> um mesmo segmento<br />

acústico, nas seis repetições, segui<strong>da</strong> <strong>da</strong> divisão desta soma pelo número de segmentos.<br />

43 O desvio­padrão refere­se a um valor que designa o quanto o valor de duração ou f0 de ca<strong>da</strong> segmento,<br />

considera<strong>do</strong> isola<strong>da</strong>mente, variou em relação à média <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s obti<strong>da</strong>s entre as seis repetições. Quanto maior o<br />

valor <strong>do</strong> desvio­padrão, maior a variação na produção <strong>do</strong> segmento entre as repetições, e vice –versa. No que diz<br />

respeito às medi<strong>da</strong>s de duração, em específico <strong>da</strong>queles segmentos que ocupam posições de acento na cadeia <strong>da</strong> fala,<br />

estes podem variar mais que os segmentos que ocupam as posições não­acentua<strong>da</strong>s, uma vez que estas constituem<br />

uma espécie de bati<strong>da</strong> de referência <strong>para</strong> a construção <strong>do</strong> ritmo (alternância de bati<strong>da</strong>s fortes e fracas). As medi<strong>da</strong>s de<br />

duração têm de ser submeti<strong>da</strong>s a operações matemáticas, processo designa<strong>do</strong> por normalização, porque variam em<br />

função de o segmento ocupar ou não a posição de acento lexical, receber a maior proeminência <strong>do</strong> sintagma e/ou <strong>da</strong><br />

sentença, devi<strong>do</strong> à taxa de elocução (fala rápi<strong>da</strong> versus fala lenta), à topicalização ou ênfase de um determina<strong>do</strong> item<br />

lexical, entre outros. Por isso, os <strong>da</strong><strong>do</strong>s de duração geralmente não são apresenta<strong>do</strong>s em seus valores absolutos,<br />

milisegun<strong>do</strong>s ou segun<strong>do</strong>s.<br />

44 O coeficiente de variação refere­se à divisão <strong>do</strong> desvio­padrão pela média e, é geralmente, apresenta<strong>do</strong> em valores<br />

percentuais, expressan<strong>do</strong> a chama<strong>da</strong> variabili<strong>da</strong>de relativa.<br />

45 Amostragem ocorre quan<strong>do</strong> o sinal analógico é converti<strong>do</strong> em uma série de amostras, ou seja, em uma série de<br />

números que podem ser armazena<strong>do</strong>s em um computa<strong>do</strong>r. Esta conversão pode ser expressa com a seguinte notação:<br />

x (n) = x (NT), onde x (n) é uma seqüência de amostras e T é o intervalo de amostra (Kent e Read, 1992).<br />

46 O manual <strong>para</strong> iniciantes <strong>do</strong> Praat encontra­se disponível na Internet por Sidney Wood, no site<br />

http://WWW.ling.lu.se/persons/Sidney/praate.frames.html. Para este trabalho, utilizei também uma apostila em<br />

português sobre os pontos básicos <strong>para</strong> a utilização <strong>do</strong> PR AT, a qual foi pre<strong>para</strong><strong>da</strong> por Ingrid Samczuk, sob<br />

orientação <strong>da</strong> Profa. Dra. Aglael Gama Rossi.<br />

101


freqüência fun<strong>da</strong>mental (f0), e na medição <strong>do</strong>s parâmetros de duração (em ms) e de<br />

f0 (em Hz).<br />

As medi<strong>da</strong>s de duração <strong>da</strong>s emissões foram feitas na forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong>,<br />

sincroniza<strong>da</strong>s ao respectivo espectrograma de ban<strong>da</strong> larga. Como critério <strong>para</strong> as<br />

medi<strong>da</strong>s de duração, foi estabeleci<strong>do</strong> que a duração de ca<strong>da</strong> segmento acústico teria<br />

como referência o último pulso regular de uma vogal até o primeiro pulso regular<br />

<strong>da</strong> vogal seguinte. Os segmentos de fala assumem características visuais (forma <strong>da</strong><br />

on<strong>da</strong> e espectrograma) diferentes em função de seus mo<strong>do</strong>s e pontos de articulação<br />

e de serem ou não vozea<strong>do</strong>s 47 . Assim, por exemplo, fricativas aparecem como<br />

ruí<strong>do</strong>s; oclusivas não­vozea<strong>da</strong>s como um espaço vazio (tempo de oclusão), segui<strong>do</strong><br />

de uma espícula (estouro <strong>da</strong> oclusiva), sem barra de vozeamento; vogais aparecem<br />

como uma seqüência de linhas verticais, ca<strong>da</strong> uma corresponden<strong>do</strong> a um ciclo de<br />

abertura e fechamento <strong>da</strong>s pregas vocais, e linhas horizontais mais escuras que se<br />

referem às freqüências de ressonância <strong>do</strong> trato vocal 48 , conheci<strong>da</strong>s como formantes.<br />

47 Para maiores informações sobre a classificação <strong>do</strong>s sons em português e inglês, ver anexo 3.<br />

48 Na Teoria <strong>Acústica</strong> (Fant, 1973), o trato vocal é entendi<strong>do</strong> como um tubo reto, o qual apresenta em uma<br />

extremi<strong>da</strong>de os lábios e, na outra, uma fonte sonora. Na medi<strong>da</strong> em que constrições se formam dentro <strong>do</strong> trato vocal,<br />

algumas freqüências de ressonância deste tubo são realça<strong>da</strong>s em detrimento de outras. Essas freqüências são<br />

designa<strong>da</strong>s por formantes .<br />

102


FIGURA 1: Forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong> e espectrograma de ban<strong>da</strong> larga <strong>para</strong> a frase didn’t think about that,<br />

na fala de NA, com a etiquetação de ca<strong>da</strong> segmento, em transcrição ortográfica, e, na segun<strong>da</strong><br />

cama<strong>da</strong>, valores correspondentes de duração em ms. As freqüências formânticas <strong>da</strong>s vogais estão<br />

rastrea<strong>da</strong>s pelas linhas vermelhas pontilha<strong>da</strong>s<br />

Os valores <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental (f0 ou contorno entoacional) <strong>da</strong>s<br />

vogais foram extraí<strong>do</strong>s, a princípio, em três pontos: início, meio e fim, com o<br />

objetivo de observar a variação de f0, dentro <strong>da</strong> vogal mais detalha<strong>da</strong>mente na fala<br />

de ca<strong>da</strong> sujeito. Contu<strong>do</strong>, devi<strong>do</strong> ao volume de medi<strong>da</strong>s, optei por manter apenas o<br />

valor extraí<strong>do</strong> no meio de ca<strong>da</strong> vogal. Além disso, em vários momentos, a medi<strong>da</strong><br />

de f0 não pôde ser extraí<strong>da</strong> em trechos de início ou fim <strong>da</strong> vogal.<br />

103


FIGURA 2: Forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong> e espectrograma de ban<strong>da</strong> larga <strong>para</strong> a frase didn’t think about that,<br />

na fala de NA, com o contorno <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental (f0), em linha azul<br />

Para <strong>da</strong>r uma idéia <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de medi<strong>da</strong>s, podemos tomar como exemplo<br />

a análise <strong>da</strong>s seis repetições <strong>da</strong> sentença It’s the number of times we zero out our<br />

bank account each year, <strong>para</strong> o sujeito NA, um total de 25 segmentos x seis<br />

repetições <strong>da</strong> sentença.<br />

Em primeiro lugar, foram etiqueta<strong>do</strong>s os valores <strong>do</strong>s segmentos nas seis<br />

repetições <strong>da</strong> mesma sentença <strong>para</strong> ambos os sujeitos. Em segun<strong>do</strong> lugar, os<br />

valores absolutos <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s obti<strong>da</strong>s no Praat em segun<strong>do</strong>s, foram transporta<strong>do</strong>s<br />

<strong>para</strong> uma planilha no Excel, e transforma<strong>do</strong>s em valores percentuais, por meio <strong>da</strong><br />

divisão <strong>da</strong> duração de ca<strong>da</strong> segmento pelo valor total <strong>da</strong> sentença, multiplica<strong>do</strong> por<br />

cem. Em segui<strong>da</strong>, foram realiza<strong>do</strong>s os cálculos de média, desvio­padrão, e<br />

coeficiente de variação, <strong>para</strong> o mesmo segmento, entre as repetições <strong>da</strong> sentença,<br />

além de gráficos <strong>para</strong> as primeiras inspeções <strong>da</strong> produção <strong>da</strong> sentença pelos<br />

sujeitos. Abaixo segue um exemplo <strong>da</strong> montagem <strong>da</strong> planilha no Excel.<br />

104


NA R1 R2 R3 R4 R5 R6 média desvpad coefvar<br />

i 1,01 1,23 1,40 1,42 1,47 1,29 1,30 0,17 0,13<br />

t'sth 5,31 5,07 5,88 6,06 5,05 4,91 5,38 0,48 0,09<br />

e 1,56 2,04 1,92 1,43 1,70 1,91 1,76 0,23 0,13<br />

n 1,93 1,95 1,85 2,34 1,93 1,86 1,98 0,18 0,09<br />

u 2,62 2,96 2,96 2,69 2,89 3,29 2,90 0,24 0,08<br />

mb 2,02 2,43 2,65 2,38 2,57 2,73 2,46 0,25 0,10<br />

ero 4,95 5,46 5,74 4,58 5,25 5,21 5,20 0,40 0,08<br />

f 1,32 1,35 1,04 1,88 1,85 1,73 1,53 0,34 0,22<br />

t 3,98 4,27 4,21 4,28 3,69 3,79 4,04 0,25 0,06<br />

i 4,35 5,26 3,92 5,42 4,56 4,90 4,74 0,57 0,12<br />

m 2,71 2,38 2,88 1,49 2,27 2,86 2,43 0,53 0,22<br />

s 3,49 3,11 4,34 3,53 4,07 3,53 3,68 0,45 0,12<br />

we 3,85 4,53 2,82 3,65 3,15 4,05 3,67 0,62 0,17<br />

z 4,04 3,51 2,98 3,98 3,79 3,28 3,60 0,42 0,12<br />

eroou 17,15 14,02 14,69 14,22 12,92 13,62 14,44 1,46 0,10<br />

our 4,19 4,52 4,80 4,49 4,29 4,58 4,48 0,22 0,05<br />

b 2,71 2,58 2,53 3,15 3,09 2,29 2,72 0,34 0,12<br />

a 3,32 3,24 3,59 3,38 3,55 2,89 3,33 0,25 0,08<br />

nk 2,62 3,43 3,23 3,29 3,69 4,08 3,39 0,49 0,14<br />

a 1,85 1,76 1,80 1,36 1,53 1,13 1,57 0,29 0,18<br />

cc 3,48 4,01 4,06 3,76 3,70 3,82 3,81 0,21 0,06<br />

ount 4,83 5,72 5,43 5,21 7,93 4,91 5,67 1,16 0,20<br />

ea 4,27 3,65 3,40 3,69 2,13 4,07 3,54 0,76 0,21<br />

ch 5,26 5,40 5,57 5,37 5,84 5,54 5,50 0,20 0,04<br />

year 7,18 6,09 6,32 6,93 7,08 7,74 6,89 0,60 0,09<br />

TABELA 1: Valores percentuais de duração, média, desvio­padrão e coeficiente de variação <strong>da</strong>s<br />

seis repetições <strong>da</strong> sentença It’s the number of times we zero out our bank account each year, na<br />

fala de NA<br />

105


O mesmo foi realiza<strong>do</strong> <strong>para</strong> as medi<strong>da</strong>s de f0, as quais foram obti<strong>da</strong>s, sempre<br />

que possível, em três pontos <strong>da</strong> vogal, início, meio e fim. As medi<strong>da</strong>s de f0 não têm<br />

si<strong>do</strong>, nos estu<strong>do</strong>s acústicos, submeti<strong>da</strong>s à processos de normalização como as<br />

medi<strong>da</strong>s de duração, e, por isso, permanecem em Hz, que correspondem aos seus<br />

valores absolutos.<br />

f0<br />

NA R1 R2 R3 R4 R5 R6<br />

i 191 202 185 197 197 190<br />

i 186 202 187 197 197 188<br />

i 184 198 189 199 204 184<br />

e 198 229 203 207 206 207<br />

e 193 226 203 209 205 199<br />

e 191 221 202 208 204 199<br />

u 200 221 207 211 204 201<br />

u 200 221 209 213 205 205<br />

u 210 226 213 220 210 216<br />

ero 242 245 240 244 231 234<br />

ero 241 236 244 246 230 240<br />

ero 230 228 231 236 227 234<br />

i 225 226 216 208 221 202<br />

i 200 207 202 204 205 186<br />

i 207 214 204 207 201 182<br />

we 187 194 194 187 186 174<br />

we 189 205 202 195 193 177<br />

we 184 186 188 188 186 170<br />

eroout 189 188 189 184 180 176<br />

eroout 195 188 192 192 185 193<br />

106


eroout 187 182 183 181 180 180<br />

our 188 185 183 182 180 181<br />

our 181 179 185 177 176 176<br />

our 178 176 184 176 176 173<br />

a 177 178 178 167 172 171<br />

a 171 175 172 161 164 160<br />

a 169 179 173 159 164 158<br />

a 187 187 177 180 166 167<br />

a 179 181 172 177 159 158<br />

a 172 176 164 171 156 156<br />

ount 171 178 175 178 178 154<br />

ount 152 154 152 151 144<br />

ount 154 206<br />

ea 147 232<br />

ea 157 146 148 154<br />

ea 161 143 161 165 154 155<br />

year 172 161 167 150 157<br />

year 150 141 137<br />

year 151 151 149 151 157<br />

TABELA 2: Valores de f0, medi<strong>do</strong>s nas porções inicial, medial e final, <strong>da</strong>s vogais <strong>da</strong>s seis<br />

repetições <strong>da</strong> sentença It’s the number of times we zero out our bank account each year, na fala<br />

de NA. As células em branco correspondem aos locais nos quais não puderam ser extraí<strong>do</strong>s os<br />

valores de f0<br />

Segun<strong>do</strong> Eysenck e Keane (1994), a leitura é aparentemente uma ativi<strong>da</strong>de<br />

simples e fácil <strong>para</strong> a maioria <strong>do</strong>s adultos. Alguns <strong>do</strong>s aspectos envolvi<strong>do</strong>s na<br />

leitura dizem respeito à identificação e à extração de significa<strong>do</strong> de palavras<br />

individuais. Outros processos operam no nível <strong>da</strong> frase ou <strong>da</strong> sentença. Os<br />

movimentos <strong>do</strong>s olhos fornecem informações úteis sobre alguns <strong>do</strong>s processos<br />

básicos envolvi<strong>do</strong>s na leitura.<br />

107


A fixação no texto é alterna<strong>da</strong> por movimentos rápi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s olhos conheci<strong>do</strong>s<br />

por sacadelas. A informação é extraí<strong>da</strong> <strong>do</strong> texto apenas durante os perío<strong>do</strong>s de<br />

fixação e, em geral, é obti<strong>da</strong> não somente <strong>da</strong> palavra que está sen<strong>do</strong> fixa<strong>da</strong>, mas de<br />

uma ou duas palavras à direita <strong>do</strong> ponto de fixação.<br />

A amplitude <strong>da</strong> percepção (= campo de visão efetivo) é afeta<strong>da</strong> até certo<br />

ponto pela dificul<strong>da</strong>de <strong>do</strong> texto, pelo tamanho <strong>da</strong> impressão. Tal informação parece<br />

se relacionar bastante com as letras <strong>da</strong> palavra ou palavras não­fixa<strong>da</strong>s. A maior<br />

parte <strong>do</strong> processamento de ca<strong>da</strong> palavra ocorre durante o tempo em que ela é<br />

inicialmente fixa<strong>da</strong>. O reconhecimento <strong>da</strong> palavra ocorre depois que a identificação<br />

<strong>da</strong>s letras que a constituem esteja completa.<br />

Uma vez que a leitura se dá mediante estes processos, será leva<strong>do</strong> em conta,<br />

na análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s o fato de o sujeito não­nativo utilizar estratégias diferentes de<br />

mo<strong>do</strong> a manter sua fluência na língua estrangeira. Uma <strong>da</strong>s estratégias utiliza<strong>da</strong>s<br />

por NON parece ser a de divisão <strong>da</strong> sentença em um número maior de frases<br />

entoacionais, em com<strong>para</strong>ção a NA. Isto será mostra<strong>do</strong> e discuti<strong>do</strong> na análise de<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />

108


CAPÍTULO 3 – DISCUSSÃO E RESULTADOS DOS DADOS<br />

“Pronunciation is the physical side of language, involving<br />

the body, the breath, the muscles, acoustic vibration and<br />

harmonics. When attention is paid to this fact, studying<br />

pronunciation can become a living and pleasurable<br />

learning process.”<br />

(Adrian Underhill)


Este capítulo tem como objetivo caracterizar os aspectos segmentais e<br />

prosódicos de um corpus de sentenças em inglês li<strong>da</strong>s por um sujeito nativo <strong>do</strong><br />

inglês americano e por um falante <strong>do</strong> português brasileiro, proficiente em língua<br />

inglesa. Esta caracterização será feita com o apoio <strong>da</strong> análise acústica. Desta forma,<br />

os <strong>da</strong><strong>do</strong>s receberão tanto um tratamento qualitativo, por meio de espectrogramas,<br />

segui<strong>do</strong>s <strong>da</strong> discussão de diferenças e semelhanças observa<strong>da</strong>s entre a produção <strong>do</strong>s<br />

falantes, como também uma interpretação quantitativa, por meio de tabelas e<br />

gráficos.<br />

As sentenças analisa<strong>da</strong>s neste capítulo foram escolhi<strong>da</strong>s com base nos<br />

processos fonético­fonológicos descritos por Levelt (1998), apresenta<strong>do</strong>s no<br />

capítulo 1, com vistas a tratar a relação entre a produção de sons e a prosódia. Em<br />

alguns momentos, foram analisa<strong>do</strong>s trechos de algumas sentenças, e, nestes casos,<br />

as repetições foram escolhi<strong>da</strong>s aleatoriamente <strong>para</strong> análise e a mesma repetição<br />

<strong>para</strong> ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s sujeitos contempla<strong>do</strong>s neste estu<strong>do</strong>. Devi<strong>do</strong> à extensão <strong>do</strong> corpus<br />

e ao tempo <strong>para</strong> a realização <strong>do</strong> mestra<strong>do</strong>, foi necessário fazer um recorte <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

colhi<strong>do</strong>s <strong>para</strong> análise. Novos estu<strong>do</strong>s poderão ser feitos, visto que, os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

passaram a fazer parte <strong>do</strong> Banco de Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> LIACC.<br />

Na inspeção espectrográfica <strong>do</strong> falante nativo (NA), <strong>para</strong> a sentença But we<br />

didn’t think about that, notamos que, ocorre o desaparecimento <strong>da</strong> oclusiva alveolar<br />

não­vozea<strong>da</strong> /t/ 49 que, por sua vez, propicia a juntura externa entre but e we [Λwi] 50 ,<br />

49 A consoante /t/ é classifica<strong>da</strong> como oclusiva, porque, durante sua produção, ocorre oclusão ou obstrução completa<br />

<strong>da</strong> passagem <strong>da</strong> corrente de ar pelo trato vocal, a partir <strong>do</strong> contato entre a ponta <strong>da</strong> língua e os alvéolos (que se<br />

localizam na parte imediatamente atrás <strong>do</strong>s dentes superiores). A oclusiva alveolar /t/ é desvozea<strong>da</strong> (as pregas vocais<br />

se encontram se<strong>para</strong><strong>da</strong>s e não ocorre vibração delas), e é produzi<strong>da</strong>, em inglês, com aspiração, (fluxo mais forte <strong>da</strong><br />

corrente de ar, que sai <strong>do</strong>s pulmões após a soltura <strong>da</strong> obstrução e antes <strong>do</strong> início <strong>da</strong> vogal), em início de palavra e em<br />

posição acentua<strong>da</strong>, o que não ocorre em português.<br />

50 São usa<strong>do</strong>s colchetes <strong>para</strong> a transcrição de sons que foram produzi<strong>do</strong>s, e barras quan<strong>do</strong> nos referimos a fonemas,<br />

ou seja, a uma forma abstrata <strong>do</strong> som, antes de ele cair na cadeia <strong>da</strong> fala. Em muitos momentos, foi a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong><br />

transcrição ortográfica, em itálico, como forma de simplificação.<br />

109


forman<strong>do</strong> um grande ditongo 51 .<br />

FIGURA 1: Repetição 1 de But we por NA<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que foi mostra<strong>do</strong> <strong>para</strong> o falante NA (figura 1), o falante não­<br />

nativo (NON), em sua primeira repetição <strong>da</strong> sentença (figura 2), produz a<br />

consoante oclusiva alveolar [t], o que impede o aparecimento <strong>da</strong> juntura externa<br />

entre but e we. A duração <strong>da</strong> oclusiva alveolar [t] de but, na fala de NON, na<br />

primeira e na segun<strong>da</strong> repetições, apresenta o mesmo valor (70ms), apesar de a<br />

duração entre o estouro <strong>do</strong> [t] e o início <strong>do</strong> ditongo [we], diminuir respectivamente,<br />

de 29ms <strong>para</strong> 18ms 52 . Na terceira repetição de NON, ocorre o desaparecimento <strong>da</strong><br />

51 Devi<strong>do</strong> ao fato de a consoante oclusiva bilabial vozea<strong>da</strong> /b/ aparecer no início <strong>da</strong> sentença, não é possível extrair<br />

sua duração, uma vez que não há uma vogal anterior a ela que sirva como referência.<br />

52 O “vozeamento é o som ‘zumbi<strong>do</strong>’, que pode ser ouvi<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> as pregas vocais na laringe vibram” (Laver, 1995)<br />

Voice Onset Time (VOT) é o tempo de início de sonorização. Costuma­se dividir a medi<strong>da</strong> de VOT em três <strong>do</strong>mínios<br />

(Lisker e Abramson, 1964 apud Laver, 1994), que correspondem às categorias fonéticas e fonológicas <strong>da</strong>s oclusivas<br />

sonoras, oclusivas sur<strong>da</strong>s sem aspiração e oclusivas sur<strong>da</strong>s com aspiração: (1) oclusivas sonoras, caracteriza<strong>da</strong>s por<br />

barra de sonori<strong>da</strong>de em que o vozeamento é anterior à liberação <strong>da</strong> oclusão (VOT de ­125 a ­75ms); (2) oclusivas<br />

sur<strong>da</strong>s sem aspiração, caracteriza<strong>da</strong>s por intervalo curto ou simultâneo, em que o vozeamento é simultâneo ou dá­se<br />

logo após a liberação <strong>da</strong> oclusão (VOT de 0 a +25ms); (3) oclusivas sur<strong>da</strong>s com aspiração, caracteriza<strong>da</strong>s por<br />

intervalo longo, em que o espaço de tempo entre a liberação <strong>da</strong> oclusão e o início <strong>da</strong> vogal é superior a 60 ms (VOT<br />

de +60 a + 100ms).<br />

110


oclusiva alveolar não­vozea<strong>da</strong> [t], e, por conseguinte, a juntura externa entre but e<br />

we [Λwi].<br />

FIGURA 2: Repetição 1 de But we por NON<br />

Um aspecto importante <strong>da</strong> produção <strong>da</strong> oclusiva alveolar não­vozea<strong>da</strong>, por<br />

NON, desde o início, refere­se à visualização de uma barra de voz durante o tempo<br />

de oclusão desta consoante, além <strong>do</strong> fato de que esta barra de voz tem uma<br />

amplitude muito alta em relação àquela de uma oclusiva vozea<strong>da</strong>. Talvez esta seja<br />

uma estratégia de NON <strong>para</strong> chegar, na terceira repetição, ao desaparecimento de<br />

[t] e à juntura externa [bΛwi] 53 . Isto mostra que há um conhecimento subjacente,<br />

por parte de NON, com relação à aplicação de processos fonético­fonológicos <strong>da</strong><br />

fala corrente em inglês. Contu<strong>do</strong>, parece ser necessário um tempo <strong>para</strong> que esse<br />

conhecimento seja atualiza<strong>do</strong> e acomo<strong>da</strong><strong>do</strong>. Vale lembrar ain<strong>da</strong> que ca<strong>da</strong> repetição<br />

53 Na fala de NON é possível observar a barra de voz <strong>da</strong> oclusiva [b], mesmo quan<strong>do</strong> esta se encontra em início <strong>da</strong><br />

frase.<br />

111


<strong>da</strong> sentença ocorre numa ordem aleatória em relação às demais, isto porque as<br />

sentenças foram digita<strong>da</strong>s individualmente em fichas que eram embaralha<strong>da</strong>s antes<br />

de ca<strong>da</strong> repetição (leitura <strong>do</strong> corpus). Consideran<strong>do</strong> a ordem aleatória e o fato de<br />

que o corpus é forma<strong>do</strong> por 40 sentenças, não é possível explicar a produção de<br />

NON nas três primeiras repetições apenas por fatores de aprendizagem e memória.<br />

Este desempenho só pode ser atribuí<strong>do</strong> a um conhecimento implícito <strong>da</strong> língua<br />

inglesa.<br />

FIGURA 3: Repetição 2 de But we por NON<br />

112


FIGURA 4: Repetição 3 de But we por NON<br />

FIGURA 5: Repetição 1 de times por NON<br />

Com<strong>para</strong>n<strong>do</strong>­se as produções de NON <strong>para</strong> a oclusiva alveolar não­vozea<strong>da</strong><br />

[t], na figura 2, referente à produção em but, na sentença But we didn’t think about<br />

113


that, com a palavra times, na figura 5, <strong>da</strong> sentença It’s the number of times we zero<br />

out our bank account each year, podemos observar o que foi dito em relação ao<br />

fato de que não há barra de vozeamento ou ativi<strong>da</strong>de laríngea no tempo de oclusão<br />

de [t], conforme visto desde a repetição 1 de NON, em but we (figura 2).<br />

Na produção <strong>da</strong> sentença It’s the number of times we zero out our bank<br />

account each year, pelo sujeito NA, na figura 6, correspondente à primeira<br />

repetição, é possível observar um outro processo fonético­fonológico, que se refere<br />

à juntura externa entre (zero) out + our (bank). Ocorre a implementação <strong>da</strong> regra de<br />

transformação <strong>do</strong>s segmentos /t/ e /d/ no flap [r], pelo fato de estarem entre vogais<br />

(out our→ou[r]our). Este processo geralmente é denomina<strong>do</strong> de flapping ou<br />

tapping, e ocorre não apenas na juntura entre palavras, mas também dentro de<br />

palavras (letter→le[r]er ou ladder→la[r]er).<br />

FIGURA 6: Repetição 1 de zero out por NA<br />

Segun<strong>do</strong> Cristófaro­Silva (2005), isto acontece no contexto fonético em que<br />

a vogal anterior ao [t] ou [d] é tônica (ou acentua<strong>da</strong>) e a vogal seguinte é átona (ou<br />

114


não­acentua<strong>da</strong>). Em relação à produção de NA, o contexto que desencadeou o<br />

processo de flapping ou tapping foi a sequência entre uma palavra de conteú<strong>do</strong><br />

(zero out), acentua<strong>da</strong>, segui<strong>da</strong> de uma palavra gramatical (our), não­acentua<strong>da</strong>, o<br />

que deu origem a uma única palavra fonológica [zIә.rәw.awt.awr→<br />

zIә.rәw.aw.rawr]. Segun<strong>do</strong> Levelt (1998), o processo desencadea<strong>do</strong> pela<br />

cliticização (a juntura <strong>da</strong> palavra gramatical à palavra de conteú<strong>do</strong> à esquer<strong>da</strong>), gera<br />

a ressilabificação [awt.awr→. aw.rawr].<br />

FIGURA 7: Repetição 1 de zero out our por NON<br />

Em contraparti<strong>da</strong>, nas seis repetições <strong>da</strong> mesma sentença pelo sujeito NON,<br />

o processo de flapping não é observa<strong>do</strong>, como exemplifica<strong>do</strong> na figura 7, na qual<br />

permanece o /t/ de out, produzi<strong>do</strong> como a africa<strong>da</strong> [ ], com duração de 147ms. Na<br />

115


segun<strong>da</strong>, terceira e quarta repetições, os valores obti<strong>do</strong>s <strong>para</strong> a africa<strong>da</strong> [ ] foram,<br />

respectivamente, 155ms, 150ms e 219ms. Entretanto, nas repetições 4 (219ms), 5<br />

(270ms) e 6 (273ms) foram introduzi<strong>da</strong>s pausas entre [ ] e [our] com os seguintes<br />

valores: 54ms, 61ms e 45ms. Vale notar que [our] tem sempre a mesma duração,<br />

150ms, com exceção <strong>da</strong> primeira repetição, 226ms.<br />

FIGURA 8: Repetição 5 de ero out our por NON<br />

A inserção <strong>da</strong> pausa extrínseca, 54 nas três últimas repetições, sugere que o<br />

sujeito NON tenha trata<strong>do</strong> zero out e our bank account como frases entoacionais<br />

diferentes. Analisan<strong>do</strong> os gráficos 1 e 2, que mostram a evolução <strong>do</strong> contorno <strong>da</strong><br />

freqüência fun<strong>da</strong>mental (f0), medi<strong>da</strong> nos pontos inicial, medial e final de ca<strong>da</strong><br />

vogal <strong>da</strong> sentença It’s the number of times we zero out our bank account each year,<br />

podemos perceber que o contorno apresenta pouco movimento na fala de NA entre<br />

54 Laver (1994) define a pausa extrínseca (silenciosa) como um perío<strong>do</strong> de inativi<strong>da</strong>de vocal, de uma certa duração,<br />

embuti<strong>do</strong> no fluxo <strong>da</strong> fala, embora <strong>para</strong> ele a pausa extrínseca (silenciosa) teria o valor mínimo de 200ms.<br />

116


as seis repetições, com um pico em number of, cain<strong>do</strong> lentamente até o final. Ao<br />

contrário, <strong>para</strong> NON, observa­se um maior movimento <strong>do</strong> contorno de freqüência<br />

fun<strong>da</strong>mental, com a formação de três picos: em number of, zero out e bank account.<br />

A diferença entre os contornos de f0 de ambos os sujeitos sugere que NA<br />

provavelmente dividiu a sentença em duas frases entoacionais: //It’s the number of<br />

times //we zero out our bank account each year//, enquanto NON parece ter<br />

dividi<strong>do</strong>­a em três: //It’s the number of times // we zero out// our bank account each<br />

year//. A inserção <strong>da</strong> pausa por NON pode ter determina<strong>do</strong> a diferença de divisão<br />

em frases entoacionais por ambos os sujeitos<br />

É interessante notar que a variação <strong>do</strong> contorno de f0 é muito semelhante<br />

entre as diferentes sentenças <strong>do</strong> corpus, produzi<strong>da</strong>s por NA, quan<strong>do</strong> se observa um<br />

pico no início <strong>do</strong> contorno (pitch accent ou acento de pitch) e uma que<strong>da</strong> leve e<br />

constante até o final. Isto parece constituir um padrão que NA impõe à leitura <strong>da</strong>s<br />

sentenças declarativas/afirmativas (as quais, nas fichas em que foram apresenta<strong>da</strong>s<br />

<strong>para</strong> a tarefa, terminam com uma seta <strong>para</strong> baixo, sugerin<strong>do</strong> ao sujeito que deve<br />

haver o decaimento <strong>da</strong> entoação ou <strong>do</strong> f0). Em relação a NON, observa­se que as<br />

sentenças são dividi<strong>da</strong>s em mais frases entoacionais. Na sentença acima, a<br />

introdução de uma pausa ocasionou a divisão entre zero out e our bank account<br />

each year. Não se pode afirmar até que ponto isto tenha si<strong>do</strong> o efeito de uma<br />

estratégia emprega<strong>da</strong> por NON, na tarefa de li<strong>da</strong>r com a leitura de sentenças mais<br />

longas.<br />

Outra diferença que pode ser observa<strong>da</strong> no contorno de f0 (gráficos 1 e 2), na<br />

produção <strong>da</strong> mesma sentença, refere­se à juntura externa entre bank e account (ban.<br />

ka.'count). Na fala de NON, percebe­se, auditivamente, o deslocamento <strong>do</strong> acento<br />

117


lexical de account (ә'kawnt) <strong>para</strong> a esquer<strong>da</strong> [bæŋ.'kә.kawnt]. No gráfico 2, a<br />

seqüência de vogais de account aparecem como um platô, com os mesmos valores<br />

de f0, ao passo que a vogal de bank situa­se num valor mais baixo que as de<br />

account. Assim, a vogal pré­tônica de account que se juntou ao [k] <strong>do</strong> monossílabo<br />

bank, forman<strong>do</strong> uma nova sílaba, tem valor de f0 tão alto quanto a tônica ount. O<br />

mesmo não foi observa<strong>do</strong> na fala de NA [bæŋ.kә.'kawnt], na qual se observa uma<br />

linha leve e continuamente descendente no trecho we zero out our bank account<br />

(ver gráfico 1). Podemos observar, conforme tabelas 1 e 2, que os valores de f0 de<br />

our bank account são menores na fala de NA que na fala de NON.<br />

FIGURA 9: Repetição 6 de bank account por NA<br />

118


FIGURA 10: Repetição 6 de bank account por NON<br />

Gráfico 1 ­ valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em três pontos <strong>da</strong>s<br />

vogais <strong>da</strong> sentença " It's the number of times we zero out<br />

450<br />

400<br />

350<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

our bank account each year" <strong>para</strong> NA<br />

i e um ero i w e eroou our a a oun ea year<br />

R1 R2<br />

R3 R4<br />

R5 R6<br />

119


f0<br />

NA R1 R2 R3 R4 R5 R6<br />

our 188 185 183 182 180 181<br />

our 181 179 185 177 176 176<br />

our 178 176 184 176 176 173<br />

a 177 178 178 167 172 171<br />

a 171 175 172 161 164 160<br />

a 169 179 173 159 164 158<br />

a 187 187 177 180 166 167<br />

a 179 181 172 177 159 158<br />

a 172 176 164 171 156 156<br />

ount 171 178 175 178 178 154<br />

ount 152 154 152 151 144<br />

ount 154 206<br />

TABELA 1: Valores de f0 nas porções inicial, medial e final <strong>da</strong>s seis repetições de our bank<br />

account <strong>da</strong> sentença It’s the number of times we zero out our bank account each year na fala<br />

de NA<br />

Gráfico 2 ­ valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em três pontos <strong>da</strong>s<br />

vogais <strong>da</strong> sentença " It's the number of times we zero out<br />

450<br />

400<br />

350<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

our bank account each year" <strong>para</strong> NON<br />

i e um ero i e w e eroou our a a oun ea year<br />

120<br />

R1 R2<br />

R3 R4<br />

R5 R6


f0<br />

NON R1 R2 R3 R4 R5 R6<br />

our 264 263 245 237 245<br />

our 244 227 225 216 233<br />

our 245 223 222 217<br />

a 251 219 237 215 225 227<br />

a 232 220 237 217 225 216<br />

a 235 247 239 229 232 234<br />

a 313 308 297 270 286 304<br />

a 301 305 295 267 285 307<br />

a 294 296 282 266 283 302<br />

oun 300 257 250 255 267<br />

oun 249 230 227 211 224 228<br />

oun 245 248 243 228 238 241<br />

TABELA 2: Valores de f0 nas porções inicial, medial e final <strong>da</strong>s seis repetições de our bank<br />

account <strong>da</strong> sentença It’s the number of times we zero out our bank account each year na fala<br />

de NON<br />

Os gráficos <strong>da</strong> produção <strong>da</strong>s vogais (3 e 4) e <strong>da</strong>s consoantes (5, 6), por NA e<br />

NON, contêm como informação a média entre as seis repetições <strong>da</strong>s durações <strong>do</strong>s<br />

segmentos em valores percentuais 55 , ao invés de valores absolutos (ms), como<br />

forma de reduzir os fatores que podem interferir nas medi<strong>da</strong>s de duração: acento<br />

6 Os valores percentuais referem­se a uma forma de normalizar os valores absolutos <strong>da</strong> duração medi<strong>da</strong> em<br />

miléssimos de segun<strong>do</strong>s ou segun<strong>do</strong>s. A percentagem de ca<strong>da</strong> segmento é calcula<strong>da</strong> em relação à duração total <strong>da</strong><br />

frase.<br />

121


lexical, taxa de elocução 56 , entre outros. Os valores <strong>da</strong>s médias aparecem no eixo à<br />

esquer<strong>da</strong> (<strong>do</strong> leitor).<br />

Foram também calcula<strong>do</strong>s os valores de desvios­padrão, a partir <strong>do</strong>s valores<br />

percentuais, <strong>para</strong> obter um índice <strong>da</strong> variabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s segmentos, uma vez que esta<br />

medi<strong>da</strong> se refere a quanto o valor de ca<strong>da</strong> segmento variou em relação à média <strong>da</strong>s<br />

seis repetições. Valores percentuais mais altos indicam uma maior distensão <strong>do</strong><br />

segmento no tempo, originalmente medi<strong>do</strong> em segun<strong>do</strong>s no Praat. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

valores baixos indicam um “encolhimento” <strong>do</strong> segmento no tempo. Assim, valores<br />

altos são observa<strong>do</strong>s em posição de acento, ao passo que valores baixos são<br />

observa<strong>do</strong>s em posições átonas, ou não­acentua<strong>da</strong>s, sujeitas aos processos que<br />

afetam palavras contíguas, tais como: juntura externa, cliticização e ressilabificação<br />

(Levelt, 1998).<br />

Gráfico 3 ­ média e desvio­padrão <strong>para</strong> as vogais <strong>da</strong><br />

sentença " It's the number of times we zero out our bank<br />

account each year" <strong>para</strong> NA<br />

16,0<br />

14,0<br />

12,0<br />

10,0<br />

8,0<br />

6,0<br />

4,0<br />

2,0<br />

0,0<br />

i e u ero i we eroo<br />

u<br />

our a a oun ea year<br />

média 1,3 1,8 2,9 5,2 4,7 3,7 14 4,5 3,3 1,6 5,7 3,5 6,9<br />

desvpad 0,2 0,2 0,2 0,4 0,6 0,6 1,5 0,2 0,3 0,3 1,2 0,8 0,6<br />

56 Conforme a nota 26, taxa de elocução, traduzi<strong>da</strong> <strong>da</strong> expressão speech rate, refere­se ao número ou quanti<strong>da</strong>de de<br />

segmentos acústicos que o falante produz num <strong>da</strong><strong>do</strong> tempo; <strong>da</strong>í sua diferença com o que normalmente é designa<strong>do</strong><br />

por veloci<strong>da</strong>de de fala. Assim, a taxa de elocução pode ser alta (“veloci<strong>da</strong>de rápi<strong>da</strong>”) ou baixa (“veloci<strong>da</strong>de lenta”).<br />

4,5<br />

4,0<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

122


Gráfico 4 ­ média e desvio­padrão <strong>para</strong> as vogais <strong>da</strong><br />

sentença " It's the number of times we zero out our bank<br />

account each year" <strong>para</strong> NON<br />

16,0<br />

14,0<br />

12,0<br />

10,0<br />

8,0<br />

6,0<br />

4,0<br />

2,0<br />

0,0<br />

i e um ero i e we eroo<br />

u<br />

our a a oun ea year<br />

média 1,1 1,5 2,4 3,0 3,9 1,7 3,8 9,8 3,4 1,8 2,0 5,1 2,0 6,4<br />

desvpad 0,2 0,5 0,7 1,0 1,8 1,3 1,1 4,3 1,1 0,7 1,6 0,8 0,4 1,0<br />

Na com<strong>para</strong>ção entre NA e NON, <strong>para</strong> duração (gráficos 3 e 4), em valores<br />

percentuais <strong>da</strong>s vogais <strong>da</strong> sentença It’s the number of times we zero out our bank<br />

account each year, são observa<strong>do</strong>s, na fala de NA, <strong>do</strong>is picos de desvio­padrão, um<br />

sobre zero out e outro sobre ­ount de account, enquanto <strong>para</strong> NON, são encontra<strong>do</strong>s<br />

picos de desvio­padrão sobre: a vogal “i” de times, em zero out, a vogal “a” de<br />

account, na juntura externa desta com bank. Os picos de desvio­padrão, nos<br />

gráficos de duração <strong>da</strong>s vogais, referem­se aos locais de acento, nos quais as<br />

durações podem ser distendi<strong>da</strong>s diferentemente a ca<strong>da</strong> produção. A posição de<br />

acento é o local de variação <strong>da</strong> duração. Por outro la<strong>do</strong>, na posição não­acentua<strong>da</strong>,<br />

os segmentos apresentam valores baixos de desvios­padrão, constituin<strong>do</strong> as bati<strong>da</strong>s<br />

de referência <strong>para</strong> manutenção <strong>do</strong> ritmo (Albano, Barbosa, Gama­Rossi, Madureira,<br />

e Silva, 1998). Valores baixos de desvios­padrão de um segmento numa posição<br />

não­acentua<strong>da</strong> indicam ain<strong>da</strong> que a duração acústica reflete uma precisão na<br />

produção articulatória <strong>do</strong> segmento entre repetições (“acerto” no mesmo alvo).<br />

4,5<br />

4,0<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

123


Com<strong>para</strong>n<strong>do</strong> os gráficos 1 e 3 de NA <strong>para</strong> as medi<strong>da</strong>s de f0 e duração <strong>da</strong> sentença<br />

It’the number of times we zero out our bank account each year, observa­se que NA<br />

realiza um contorno de f0 muito semelhante entre os segmentos, com um ligeiro<br />

pico em number of. Por outro la<strong>do</strong>, no gráfico 3 referente à duração <strong>da</strong>s vogais em<br />

valores percentuais <strong>da</strong> mesma sentença, NA apresenta um pico de desvio­padrão<br />

(característico de posição de acento) em eroou e, outro, sobre oun de account. É<br />

interessante observar que os valores de desvios­padrão <strong>da</strong>s durações <strong>da</strong>s vogais<br />

entre estes <strong>do</strong>is picos são muito baixos, indican<strong>do</strong> que provavelmente tais vogais<br />

constituíram bati<strong>da</strong>s de referência <strong>para</strong> construção <strong>do</strong> ritmo. Nas vogais que<br />

antecedem ao pico de desvio­padrão em zero out, observa­se um ligeiro e gradual<br />

aumento até antes deste pico. NON, por sua vez, apresenta uma variação de<br />

contorno de f0 (pitch accents ou acentos de pitch) de acor<strong>do</strong> com a divisão de<br />

frases entoacionais que se pode impor à sentença, ou seja, NON parece explorar<br />

mais as possibili<strong>da</strong>des de divisão <strong>da</strong> sentença em frases entoacionais.<br />

Na com<strong>para</strong>ção entre os gráficos 3 e 4, observamos que NA apresenta<br />

valores de duração maiores <strong>para</strong> to<strong>da</strong>s as vogais, com exceção de a de account, em<br />

com<strong>para</strong>ção a NON. Contu<strong>do</strong>, esta apresenta valores de desvios­padrão mais altos<br />

<strong>para</strong> quase to<strong>da</strong>s as vogais. Na produção <strong>da</strong> vogal a de account, observamos um<br />

desvio­padrão maior na fala de NON (1,6) que na de NA (0,3), provavelmente em<br />

função de um deslocamento, na fala de NON, <strong>do</strong> acento lexical de acCOUNT <strong>para</strong><br />

[bæŋ΄kә.kawnt]. É possível que NON tenha produzi<strong>do</strong> um acento paroxítono, o<br />

que é característico <strong>do</strong> português brasileiro, principalmente, <strong>do</strong>s trissílabos (Gama­<br />

Rossi e Silva, 2001).<br />

124


Observan<strong>do</strong> mais atentamente a produção de segmentos consonantais e<br />

vocálicos, constatamos a inserção <strong>do</strong> segmento [I], transcrito ortograficamente<br />

como [e], em times, <strong>para</strong> NON. É interessante notar que em number of (ero) há um<br />

maior alongamento na fala de NA (5,2%) que na fala de NON (3%). Por outro la<strong>do</strong>,<br />

o desvio­padrão ou a variação entre as repetições é maior na fala de NON (1%) que<br />

na fala de NA (0,4%); o mesmo ocorre em relação ao eroou de zero out, com<br />

duração maior na fala de NA (14%) que de NON (9,8%), e desvio­padrão maior na<br />

fala de NON (4,3%) e (1,5%) <strong>para</strong> NA. Notamos também que a produção <strong>da</strong> vogal<br />

an de bank é maior <strong>para</strong> NA (3,3%) que <strong>para</strong> NON (1,8%); porém, o desvio­padrão<br />

é menor na fala de NA (0,3%) que na de NON (0,7%). Ressaltamos que aquilo que<br />

foi chama<strong>do</strong> de deslocamento de acento <strong>para</strong> a esquer<strong>da</strong> pode ser visto nos valores<br />

de desvios­padrão de NA e NON, em account, respectivamente, [a]=0,3% e<br />

[oun]=1,2% e [a]=1,6% e [oun]=0,8%.<br />

Até o momento, a com<strong>para</strong>ção entre os <strong>do</strong>is sujeitos <strong>para</strong> a sentença It’s the<br />

number of times we zero out our bank account each year examinou fenômenos<br />

relaciona<strong>do</strong>s à sua organização prosódica, tais como: a formação ou não de junturas<br />

externas, a criação de frases entoacionais, a introdução de pausa e o deslocamento<br />

<strong>do</strong> acento. No entanto, é óbvio que esses fenômenos prosódicos surgem <strong>da</strong><br />

aplicação ou não de regras fonético­fonológicas, o que ocorre no nível <strong>do</strong> segmento<br />

(Albano et.alii, 1998).<br />

Outros processos são observa<strong>do</strong>s nos gráficos 5 e 6, coloca<strong>do</strong>s abaixo, na<br />

produção <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong> sentença It’s the number of times we zero out our bank<br />

account each year, por NA e NON.<br />

125


12,0<br />

10,0<br />

8,0<br />

6,0<br />

4,0<br />

2,0<br />

0,0<br />

Gráfico 5 ­ média e desvio­padrão <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong><br />

sentença " It's the number of times we zero out our bank<br />

account each year" <strong>para</strong> NA<br />

média 5,4 2,0 2,5 1,5 4,0 2,4 3,7 3,6 2,7 3,4 3,8 5,5<br />

desvpad 0,5 0,2 0,3 0,3 0,3 0,5 0,4 0,4 0,3 0,5 0,2 0,2<br />

12,0<br />

10,0<br />

8,0<br />

6,0<br />

4,0<br />

2,0<br />

0,0<br />

t'sth n mb f t m s z b nk cc ch<br />

Gráfico 6 ­ média e desvio­padrão <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong><br />

sentença " It's the number of times we zero out our bank<br />

account each year" <strong>para</strong> NON<br />

t'sth n b f t m s z t b n k cc t ch<br />

média 5,9 2,0 2,4 2,5 3,8 1,5 3,5 6,5 4,5 2,4 1,6 1,5 4,3 5,8 4,7<br />

desvpad 1,7 0,2 1,3 0,9 0,6 0,7 0,8 4,4 1,3 0,2 0,5 0,4 0,7 2,0 0,2<br />

NA produz menos consoantes que NON e apresenta valores de desvios­<br />

padrão que tendem a zero, ao passo que NON apresenta valores de desvios­padrão<br />

indicativos de maior variabili<strong>da</strong>de. NA “apaga” ou reduz o segmento [t] em out e<br />

4,5<br />

4,0<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

4,5<br />

4,0<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

126


account, enquanto NON o produz com duração e desvio­padrão consideráveis ([t]<br />

de out, média=4,5% e desvio­padrão=1,3%; [t] de account, média=5,8% e desvio­<br />

padrão=2%).<br />

No gráfico 6, referente à média <strong>da</strong>s produções <strong>do</strong>s segmentos consonantais<br />

por NON, observam­se valores maiores de duração e variabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s consoantes<br />

fricativas [z] de zero out e de f em of. Para a consoante [z], NA apresenta<br />

média=3,6% e desvio­padrão=0,4%; enquanto NON apresenta média=6,5% e<br />

desvio­padrão=4,4%. Para a consoante f, NA apresenta média=1,5% e desvio­<br />

padrão de 0,3%, ao passo que NON apresenta média=2,5% e desvio­padrão de<br />

0,9%. Como as fricativas são segmentos produzi<strong>do</strong>s com uma constrição parcial <strong>do</strong><br />

trato vocal, estão sujeitas a valores variáveis de alongamento no tempo, e, portanto,<br />

maior variabili<strong>da</strong>de. Por isso elas se destacam diferentemente <strong>da</strong>s demais<br />

consoantes na aquisição <strong>da</strong> fala pela criança (Gama­Rossi, 1999) e, no caso <strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s aqui apresenta<strong>do</strong>s, na produção de uma língua estrangeira por um adulto. A<br />

maior variabili<strong>da</strong>de na produção <strong>da</strong>s fricativas pode ser indicativa de uma menor<br />

precisão na produção segmental, que por sua vez, afeta a produção rítmica.<br />

Em suma, a produção segmental <strong>da</strong>s falas de NA e NON apresenta<br />

diferenças quanto: deslocamento <strong>do</strong> acento lexical <strong>para</strong> sílaba pré­tônica forma<strong>da</strong><br />

na juntura entre duas palavras, redução ou manutenção de segmentos consonantais,<br />

diferenças de variabili<strong>da</strong>de aponta<strong>da</strong>s nos valores de desvios­padrão, o que sugere<br />

também diferenças entre a organização rítmica <strong>da</strong>s produções <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sujeitos.<br />

Esta diferença também pode ser observa<strong>da</strong> quanto à variação <strong>do</strong> contorno <strong>da</strong><br />

freqüência fun<strong>da</strong>mental (f0) ou curva entoacional, parâmetro acústico mais<br />

importante <strong>para</strong> o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> entoação.<br />

127


Conforme Celce­Murcia et alii (1996), o contorno entoacional <strong>da</strong> sentença<br />

declarativa/afirmativa, em inglês, é marca<strong>do</strong> por uma curva descendente,<br />

caracterizan<strong>do</strong>­se por um declínio <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental, o qual pode ser<br />

observa<strong>do</strong> no gráfico 7, referente à sentença But we didn’t think about that,<br />

enuncia<strong>da</strong> por NA.<br />

Gráfico 7 ­ valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em três pontos <strong>da</strong>s<br />

vogais <strong>da</strong> sentença " But we didn´t think about that" <strong>para</strong> NA<br />

400<br />

350<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

R1 R2<br />

R3 R4<br />

R5 R6<br />

uwe uwe uwe idn' idn' idn' in in in a a a ou ou ou a a a<br />

FIGURA 11: Contorno <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental no padrão entoacional <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de<br />

declarativa de but we didn’t think por NA<br />

128


No contorno <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental (f0) de but we didn’t think emiti<strong>do</strong><br />

por NA (figura 11) 57 , em situação de leitura, observamos que f0 começa a subir no<br />

segmento /u/ <strong>da</strong> sílaba but e se mantém alto na sílaba we. A partir de /idn’t/ <strong>da</strong><br />

palavra didn’t, há uma desci<strong>da</strong> gradual até /in/ <strong>da</strong> palavra think, o que, nesse<br />

exemplo, é visto como um platô; ocorre uma elevação de f0 no segmento [a] de<br />

about, segui<strong>da</strong> de uma desci<strong>da</strong> gradual até [a] de that 58 .<br />

Em contraparti<strong>da</strong>, no contorno <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental (f0) de but we<br />

didn’t think, emiti<strong>da</strong> por NON (figura 12), também em situação de leitura,<br />

observamos que há um platô de f0 em uwe, um movimento rápi<strong>do</strong> ascendente em<br />

idn’t, e um declínio de f0 em in <strong>da</strong> palavra think. O movimento ascendente e brusco<br />

de f0 no final de that é um efeito de microprosódia, ou seja, <strong>da</strong> influência <strong>da</strong><br />

consoante seguinte sobre a vogal desta palavra. Os contornos de f0 (gráficos 7 e 8)<br />

mostram que a sentença But we didn’t think about that foi trata<strong>da</strong> como uma única<br />

frase entoacional, //But we didn’t think about that//, <strong>para</strong> NA, com um único pico<br />

de proeminência sobre but we didn’t. Na produção de NON, tanto o gráfico 8<br />

quanto o espectrograma (figura 12) mostram um pico alto de proeminência sobre<br />

didn’t e um pico menor sobre a de about, o que pode sugerir que NON tenha<br />

trata<strong>do</strong> a sentença como duas frases entoacionais: //But we didn’t think// about<br />

that//, uma vez que, intuitivamente, about that parece ser uma expressão de uso<br />

freqüente, e neste senti<strong>do</strong>, trata<strong>da</strong> em si como uma frase.<br />

57 Os espectrogramas <strong>da</strong>s figuras 11 e 12 apresentam uma cama<strong>da</strong> além <strong>da</strong>quela de etiquetamento. Nesta cama<strong>da</strong>, as<br />

barras dentro de ca<strong>da</strong> etiqueta <strong>do</strong>s segmentos vocálicos demarcam os locais (início, meio e fim) de onde foram<br />

extraí<strong>do</strong>s os valores de f0.<br />

58 Pelo fato de NA apresentar uma voz mais agrava<strong>da</strong> a extração <strong>do</strong> contorno <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental foi feita<br />

dentro <strong>da</strong> faixa de 100 a 300Hz. A que<strong>da</strong> brusca <strong>do</strong> contorno de a de that ocorre devi<strong>do</strong> a uma quali<strong>da</strong>de de voz<br />

semelhante a uma voz rangi<strong>da</strong>, com um espaçamento maior entre os ciclos de abertura e fechamento <strong>da</strong>s pregas<br />

vocais.<br />

129


FIGURA 12: Contorno <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental no padrão entoacional <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de<br />

declarativa de but we didn’t think por NON<br />

Gráfico 8 ­ valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em três pontos <strong>da</strong>s<br />

vogais <strong>da</strong> sentença "But we didn´t think about that" <strong>para</strong> NON<br />

400<br />

350<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

R1 R2<br />

R3 R4<br />

R5 R6<br />

u u u we we we i i i n' n' n' in in in a a a ou ou ou a a a<br />

Na seqüência, será discuti<strong>da</strong> a produção de is still our, na sentença Sure,<br />

twelve is still our number, por ambos os sujeitos. A consoante /s/ é classifica<strong>da</strong><br />

como fricativa alveolar desvozea<strong>da</strong>, pois, durante sua produção, há um fechamento<br />

parcial <strong>do</strong> trato vocal, no contato <strong>da</strong> língua com os alvéolos e, quan<strong>do</strong> o ar passa<br />

por este estreitamento, produz um ruí<strong>do</strong> semelhante a fricção. Em inglês, de acor<strong>do</strong><br />

130


com Nunes (1987), quan<strong>do</strong> o fone [s] ocorre em início de palavra, há uma<br />

tendência por parte <strong>do</strong> falante brasileiro de inserir a vogal [i] antes dele, no<br />

chama<strong>do</strong> grupo assilábico 59 . A autora realizou um estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> aspecto fonotático de<br />

grupos assilábicos iniciais e finais, em inglês e português, analisan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> sistema<br />

fonológico se<strong>para</strong><strong>da</strong>mente e desenvolven<strong>do</strong> um trabalho contrastivo. Em ambos os<br />

sistemas fonológicos, observou a existência de <strong>do</strong>is grandes grupos de fonemas: o<br />

silábico ou central (N), correspondente à vogal ou fonema de maior grau de<br />

vozeamento (nasais e líqui<strong>da</strong>s) e o assilábico, subdividi<strong>do</strong> em marginal inicial (MI)<br />

e final (MF).<br />

No que diz respeito aos grupos assilábicos marginais iniciais (ou que<br />

constituem o ataque <strong>da</strong> sílaba, que pode ou não ser ramifica<strong>do</strong>), Nunes (op. cit.)<br />

afirma que, em português, não há as seqüências /sp, st, sk, sf/ na margem inicial<br />

<strong>do</strong>s grupos assilábicos e, devi<strong>do</strong> a essa diferença fonotática entre português e<br />

inglês, o falante brasileiro de inglês tende a transformar tal seqüência em uma<br />

sílaba com núcleo (N). A autora cita como exemplo a palavra spray, monossilábica<br />

em inglês /sprey/, mas produzi<strong>da</strong> pelo falante brasileiro em uma dissolábica<br />

/is.prey/, o que ocorre pela inserção <strong>da</strong> vogal /i/ no início <strong>do</strong> grupo assilábico.<br />

Para os grupos assilábicos marginais finais, Nunes (op. cit.) refere que, o fato<br />

de não haver em português ocorrências isola<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s fonemas<br />

/p,t,k,b,d,g,f,v,ð,z, ,m,n,ŋ/, na margem final <strong>da</strong> sílaba, pode levar brasileiros,<br />

falantes de inglês, a inserir um fonema silábico, ou seja, uma vogal, e, por<br />

conseguinte, criar mais uma sílaba. Isto é o que ocorre em palavras tais como: tape<br />

59 Um grupo assilábico é defini<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> um agrupamento de fonemas marginais, os quais podem ocorrer tanto<br />

em posição pré­silábica (speak), quanto em posição pós­silábica (stamp) (Nunes, 1987).<br />

131


teypi/, cat /kæti/, book /bUki/, five /fayvi/, com a inserção <strong>do</strong> fonema assilábico /i/<br />

na margem final.<br />

Na inspeção espectrográfica de NON, <strong>para</strong> a sentença Sure, twelve is still our<br />

number, há a inserção <strong>da</strong> vogal [i] na sílaba still [s iw], forman<strong>do</strong> uma palavra<br />

dissilábica [iS. iw]. Deve­se levar em conta que o contexto fonético 60 “is still”<br />

propicia o aparecimento <strong>do</strong> /i/ antes de still, uma vez que, o /s/ em still está ladea<strong>do</strong><br />

por uma fricativa e por uma africa<strong>da</strong>. É interessante notar que a seqüência is still<br />

forma a palavra /i.ziS. iw/, pertencente ao dialeto paulistano em PB.<br />

FIGURA 13: Repetição 1 de is still por NON<br />

60 Para uma explicação à luz <strong>da</strong> Fonologia Acústico­Articulatória, veja Albano (2001:80­5).<br />

132


Em contraparti<strong>da</strong>, na produção <strong>da</strong>s seis repetições, <strong>da</strong> mesma sentença, pelo<br />

sujeito NA, não houve a inserção <strong>da</strong> vogal [i] antes <strong>do</strong> [s] na sílaba still, sen<strong>do</strong><br />

manti<strong>da</strong> a palavra monossilábica [s iw], como exemplifica<strong>do</strong> na figura 14.<br />

FIGURA 14: Repetição 1 de is still por NA<br />

Foi pesquisa<strong>da</strong> a produção de um outro grupo assilábico, /sm/, com o intuito<br />

de verificar se o /i/ ocorria antes de /s/, uma vez que, neste caso, este último era<br />

ladea<strong>do</strong> por nasais (having a small), uma vez que o /a/ pode não ser reduzi<strong>do</strong>.<br />

Então, examinamos a palavra small nas seis repetições <strong>da</strong> sentença Twelve is an<br />

insane number of kids, but having a small family was never an option for us.<br />

Observamos que, em nenhuma repetição, NON produz a nasal velar vozea<strong>da</strong> /ŋ/ no<br />

verbo having [hævIŋ], a qual seria articula<strong>da</strong> em inglês, mas, em PB, apenas<br />

nasalizaria a vogal anterior. Porém, na produção de NON, observa­se: (1) o<br />

desaparecimento ou a redução de [a] antes de small; (2) um alongamento<br />

considerável <strong>da</strong> vogal [i] de –ing, sem quali<strong>da</strong>de nasal. Com isso, nesse contexto<br />

133


fonético, foi difícil observar se [i] é ou não introduzi<strong>do</strong> antes de small, pois com a<br />

redução de [a], small seguiu­se a [i].<br />

FIGURA 15: Repetição 3 de having small por NON<br />

Por sua vez, nas seis repetições <strong>da</strong> sentença Twelve is an insane number of<br />

kids, but having a small family was never an option for us, NA não produz a vogal<br />

[i] antes <strong>do</strong> grupo assilábico /sm/ <strong>da</strong> palavra small. Observa­se a produção <strong>da</strong><br />

consoante nasal /ŋ/ <strong>do</strong> verbo having [hævIŋ], a juntura externa entre having e a,<br />

forman<strong>do</strong>, uma palavra trissilábica [hæ.vI.ŋα], e a pronúncia <strong>da</strong> vogal [i] <strong>do</strong> verbo<br />

having com uma duração muito menor que aquela encontra<strong>da</strong> na fala de NON.<br />

Assim, nas tabelas abaixo <strong>do</strong> espectrograma de NA (figura 16), mostramos as<br />

durações <strong>do</strong>s segmentos <strong>da</strong> seqüência –ing a small na fala <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sujeitos.<br />

134


FIGURA 16: Repetição 3 de having a small por NA<br />

NA i ng a sm Total<br />

R1 (ms) 52 60 65 185 362ms<br />

R1 (%) 14 17 18 51 100%<br />

R2 (ms) 76 53 61 178 368ms<br />

R2 (%) 21 14 17 48 100%<br />

R3 (ms) 62 52 71 188 373ms<br />

R3 (%) 16 14 19 51 100%<br />

R4 (ms) 51 39 80 189 359ms<br />

R4 (%) 14 11 22 53 100%<br />

R5 (ms) 50 56 67 156 329ms<br />

R5 (%) 15 17 20 48 100%<br />

R6 (ms) 49 60 73 180 362ms<br />

R6 (%) 13 17 20 50 100%<br />

Média 57 54 70 179 359<br />

135


DesvPad 11 8 6 12 15<br />

Coefvar 20 15 9 7 4%<br />

TABELA 3 – Valores de duração em ms e % <strong>para</strong> os elementos <strong>da</strong> seqüência i, ng, a<br />

e sm de having a small, com média, desvio­padrão e coeficiente de variação <strong>para</strong> NA<br />

NON ing sm Total<br />

R1 (ms) 214 137 351ms<br />

R1 (%) 60 40 100%<br />

R2 (ms) 210 138 348<br />

R2 (%) 60 40 100%<br />

R3 (ms) 233 140 373<br />

R3 (%) 63 37 100%<br />

R4 (ms) 222 153 375<br />

R4 (%) 59 41 100%<br />

R5 (ms) 186 151 337<br />

R5 (%) 55 45 100%<br />

R6 (ms) 263 148 411<br />

R6 (%) 64 36 100%<br />

Média 221 145 366<br />

DesvPad 26 7 27<br />

Coefvar 12 5 7%<br />

TABELA 4 – Valores de duração em ms e % <strong>para</strong> os elementos <strong>da</strong> seqüência ing e<br />

sm de having a small, com média, desvio­padrão e coeficiente de variação <strong>para</strong> NON<br />

Consideran<strong>do</strong> os <strong>da</strong><strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s nas tabelas acima, podemos concluir<br />

que: não há variação intra­sujeito, o que pode ser verifica<strong>do</strong> pelos valores de média,<br />

desvio­padrão e coeficiente de variação, principalmente <strong>do</strong>s valores percentuais,<br />

136


que já reduziram fatores de variação em relação aos valores absolutos em ms.<br />

Assim, ­ing, em NON, apresenta média de 60% (<strong>da</strong> seqüência –ing sm­), com<br />

desvio­padrão de 3%, e coeficiente de variação de 5%. NA, por sua vez, quan<strong>do</strong> se<br />

considera apenas i (de –ing), apresenta média de 15%, desvio­padrào de 3% e<br />

coeficiente de variação de 2%. Embora a média seja maior na fala de NON, sua<br />

variação <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo desvio­padrão é a mesma (3%) que a de NA, entre repetições.<br />

Quan<strong>do</strong> somamos os valores percentuais de i e ng, <strong>para</strong> compará­los ao de<br />

NON, a princípio medi<strong>do</strong>s se<strong>para</strong><strong>da</strong>mente na fala de NA, obtivemos média de 34%,<br />

desvio­padrão de 2% e coeficiente de variação de 7%.<br />

A com<strong>para</strong>ção entre NON e NA <strong>para</strong> os valores percentuais de duração <strong>do</strong><br />

grupo assilábico sm entre as seis repetições mostrou média maior <strong>para</strong> NA (50%)<br />

que <strong>para</strong> NON (40%). Entretanto, o desvio­padrão e o coeficiente de variação<br />

foram menores <strong>para</strong> NA que <strong>para</strong> NON, respectivamente, 2% e 3%; 3% e 8%.<br />

As análises em valores percentuais <strong>da</strong>s durações <strong>do</strong>s segmentos <strong>da</strong> seqüência<br />

having a small mostram que, apesar de NON apresentar valor mais alto de duração,<br />

sua variação entre as repetições <strong>da</strong> seqüência é tão baixa quanto à de NA. Isso<br />

significa que, embora ambos os sujeitos a<strong>do</strong>tem estratégias diferentes, estas não<br />

variam nas seis repetições de NON.<br />

Conforme pode ser visto nos espectrogramas abaixo (figuras 17 e 18), ao<br />

reduzir o [a] antes de small e alongar o [i] de having, NON deixou de fazer a<br />

juntura externa entre having + a [hæ.vI.ŋα], mas, como mostra o acento de pitch<br />

coloca<strong>do</strong> sobre [i], juntamente com o aumento de sua duração, NON pode ter<br />

137


ealiza<strong>do</strong> um alongamento pré­fronteira. Em relação à NA, observa­se um traça<strong>do</strong><br />

praticamente plano <strong>do</strong> contorno de f0.<br />

FIGURA 17: Repetição 3 de having small por NON<br />

FIGURA 18: Repetição 3 de having a small por NA<br />

138


Para tornar mais visível o que foi dito acima, apresentamos, na seqüência, os<br />

valores de f0 extraí<strong>do</strong>s no meio <strong>da</strong>s vogais <strong>para</strong> a seqüência having a small.<br />

NON F0(Hz)<br />

h(a)ving 257<br />

hav(ing) 322<br />

sm(all) 259<br />

TABELA 5 – Valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s no meio <strong>da</strong>s vogais /a/, /ing/, /all/ <strong>para</strong> NON<br />

NA F0(Hz)<br />

hav(i)ng 211<br />

(a) 206<br />

sm(all) 179<br />

TABELA 6 – Valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s no meio <strong>da</strong>s vogais /i/, /a/, /all/ <strong>para</strong> NA<br />

Na produção <strong>da</strong> primeira repetição de spent most <strong>da</strong> sentença And after my<br />

sister died, I spent most of my time wishing I had seven brothers and sisters, por<br />

NA, há o desaparecimento <strong>da</strong> oclusiva alveolar não­vozea<strong>da</strong> [t], que é assimila<strong>da</strong> à<br />

nasal alveolar [n] <strong>da</strong> palavra spent, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> origem a [spεn.mowst].<br />

139


FIGURA 19: Repetição 1 de I spent most por NA<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que foi mostra<strong>do</strong> <strong>para</strong> NA (figura 19), NON (figura 20) em<br />

sua primeira repetição <strong>da</strong> sentença And after my sister died, I spent most of my time<br />

wishing I had seven brothers and sisters, não realiza a redução <strong>da</strong> oclusiva alveolar<br />

não­vozea<strong>da</strong> [t], devi<strong>do</strong> à inserção de uma pequena pausa entre [t], produzi<strong>da</strong> como<br />

a africa<strong>da</strong> [ ] e [m]. Isto impede a assimilação entre as consoantes nasais alveolar<br />

[n] e bilabial [m].<br />

140


FIGURA 20: Repetição 1 de I spent most por NON<br />

Por outro la<strong>do</strong>, na terceira repetição <strong>da</strong> sentença And after my sister died, I<br />

spent most of my time wishing I had seven brothers and sisters, NON, assim como<br />

NA (figura 19), reduz a oclusiva alveolar não­vozea<strong>da</strong> [t] na palavra spent; o que<br />

permite a assimilação entre as nasais alveolar [n] e bilabial [m].<br />

141


FIGURA 21: Repetição 3 de emo (spent most) por NON<br />

Na repetição 5 <strong>da</strong> sentença And after my sister died, I spent most of my time<br />

wishing I had seven brothers and sisters, podemos observar que NON produz o<br />

estouro de um [t], segui<strong>do</strong> de uma pausa, não haven<strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> entre eles.<br />

FIGURA 22: Repetição 5 de entm (spent most) por NON<br />

142


Por fim, na sexta repetição <strong>da</strong> sentença And after my sister died, I spent most<br />

of my time wishing I had seven brothers and sisters, NON volta a produzir a juntura<br />

externa entre spent e most [spεn.mowst]. Com<strong>para</strong>n<strong>do</strong> a sexta repetição de NON<br />

(figura 23) com a quinta repetição de NA (figura 24), observamos que ambas<br />

reduzem o /t/ <strong>da</strong> palavra spent; porém, NON nasaliza a vogal [e] de spent, enquanto<br />

na fala de NA a coarticulação 61 entre os segmentos [e], [m], [o] é tão marca<strong>da</strong>, que<br />

chega a ser difícil delimitar o [m] <strong>da</strong> palavra most.<br />

Com base nas seis produções desta sentença, concluímos que NON tem um<br />

conhecimento <strong>do</strong> que deve ser feito, ou seja, a coarticulação entre spent e most. Nas<br />

repetições em que a coarticulação não é realiza<strong>da</strong>, NON insere pausas extrínsecas<br />

de curta e longa duração, o que elimina a possibili<strong>da</strong>de de reduzir o [t] e assimilar<br />

as nasais. Talvez as produções de NON, independente de ser com pausa ou<br />

assimilação, mostram diferentes estratégias por ela utiliza<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> repetição,<br />

fazen<strong>do</strong>­nos levantar a hipótese de que, pelo fato de NON encontrar­se diante de<br />

uma tarefa relativamente difícil, ten<strong>do</strong> em vista (1) a quanti<strong>da</strong>de de sentenças <strong>do</strong><br />

corpus, (2) a extensão <strong>da</strong>s sentenças, (3) a situação de estúdio, (4) a tarefa de<br />

leitura, é possível que NON tenha demarca<strong>do</strong> frases entoacionais diferentes a ca<strong>da</strong><br />

repetição: //And after my sister died//I spent most of my time//wishing I had seven<br />

brothers and sisters//, //And after my sister died//I spent// most of my time//wishing<br />

I had seven brothers and sisters//.<br />

61 De acor<strong>do</strong> com Fowler e Saltzman (1993), a coarticulação ou co­produção implica na sobreposição, em diferentes<br />

graus, entre os gestos articulatórios que subjazem ao som precedente e/ou ao som seguinte àquele em estu<strong>do</strong>, dentro<br />

de um enuncia<strong>do</strong> de fala.<br />

143


FIGURA 23: Repetição 6 de spenm (spent most) por NON<br />

FIGURA 24: Repetição 5 de emo (spent most) por NA<br />

144


Na produção <strong>da</strong> sentença Sure, twelve is still our number, por NA, a<br />

consoante nasal bilabial [m] e a oclusiva oral bilabial [b] são coarticula<strong>da</strong>s <strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

origem a um único segmento, [m].<br />

FIGURA 25: Repetição 1 de number por NA<br />

Nas repetições 3 e 4, o sujeito NA, mantém a juntura interna <strong>do</strong>s segmentos<br />

[m] e [b] em number, como pode ser visto nas figuras 26 e 27, e que se dá devi<strong>do</strong> à<br />

articulação de [m] por NA. Auditivamente, percebe­se a produção de [b] se<strong>para</strong><strong>do</strong>.<br />

Por isso, examinamos as repetições 3 e 4 procuran<strong>do</strong> pelas características <strong>do</strong> [b].<br />

Em ambas as repetições, a amplitude <strong>da</strong> forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong> é muito maior que aquela<br />

que se esperaria <strong>para</strong> uma oclusiva vozea<strong>da</strong>. Na repetição 3, demarcamos com o<br />

cursor vermelho o que poderia ser considera<strong>do</strong> um estouro <strong>do</strong> [b]. Neste caso,<br />

somente em alguns pulsos antes <strong>da</strong> marca <strong>do</strong> cursor é que passamos a ouvir [umb].<br />

Na repetição 4, não encontramos, no exame <strong>do</strong> espectrograma, nenhum sinal de [b],<br />

145


e a amplitude <strong>da</strong> forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong> continua maior <strong>do</strong> que o espera<strong>do</strong> no vozeamento<br />

deste segmento.<br />

FIGURA 26: Repetição 3 de number por NA<br />

FIGURA 27: Repetição 4 de number por NA<br />

146


Por sua vez, na produção <strong>da</strong>s seis repetições <strong>da</strong> mesma sentença pelo sujeito<br />

NON, as consoantes [m] e [b] puderam ser medi<strong>da</strong>s se<strong>para</strong><strong>da</strong>mente, de acor<strong>do</strong> com<br />

o espectrograma abaixo.<br />

FIGURA 28: Repetição 1 de number por NON<br />

Como já dissemos, a possibili<strong>da</strong>de de se medir o [b] na fala de NON, mas<br />

não na fala de NA, deve ser efeito de as consoantes nasais não serem articula<strong>da</strong>s<br />

em PB, haven<strong>do</strong> apenas a nasalização <strong>da</strong>s vogais que as precedem, o que não<br />

criaria um contexto propício <strong>para</strong> a assimilação entre [m] e [b], como ocorre na fala<br />

de NA. Entretanto, no PB parece haver uma forma variante <strong>para</strong> a palavra também<br />

que produz uma assimilação semelhante à observa<strong>da</strong> em number por NA. Esta<br />

forma variante refere­se a [tãmĕjN].<br />

É mostra<strong>do</strong>, na figura 29, o espectrograma <strong>da</strong> produção de um [b], por NA,<br />

entre uma fricativa [s] e uma vogal [u], com o objetivo de realçar a diferença entre<br />

147


sua produção categórica, como em kids but na sentença Twelve’s an insane number<br />

of kids, but having a small family was never an option for us, e sua produção na<br />

assimilação em number. Vale ressaltar que, embora seja possível realizar a medi<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong> [b] em number, produzi<strong>do</strong> por NON, este é diferente <strong>do</strong> [b] produzi<strong>do</strong> fora de<br />

um grupo assilábico, forma<strong>do</strong> pela juntura externa, em que não haja nasal.<br />

FIGURA 29: Repetição 1 de kids but por NA<br />

Colocamos abaixo o espectrograma relativo à produção <strong>do</strong> [b] categórico por<br />

NON no contexto, kids but <strong>da</strong> mesma repetição de NA.<br />

148


FIGURA 30: Repetição 1 de kids but por NON<br />

Na inspeção espectrográfica de NON, <strong>para</strong> a sentença Sure, twelve is still our<br />

number, notamos que, nas seis repetições, há a articulação <strong>do</strong> segmento [r] <strong>da</strong><br />

palavra our como uma vibrante simples [r], com duração de 16ms. Segun<strong>do</strong><br />

Malmberg (1954), as consoantes chama<strong>da</strong>s vibrantes são articula<strong>da</strong>s de tal mo<strong>do</strong><br />

que “a ponta <strong>da</strong> língua ou a úvula provoca uma série de oclusões muito breves,<br />

se<strong>para</strong><strong>da</strong>s por pequenos elementos vocálicos”. A vibrante simples, representa<strong>da</strong> por<br />

[r], é produzi<strong>da</strong> com uma única obstrução, provoca<strong>da</strong> pela ponta <strong>da</strong> língua nos<br />

alvéolos. Um exemplo <strong>do</strong> fone /r/, como vibrante, em português, dá­se na palavra<br />

arara. Na figura 32, pode também ser observa<strong>da</strong>, na forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong> e no<br />

espectrograma, a vibrante simples no final <strong>do</strong> monossílabo “sure”.<br />

149


FIGURA 31: Repetição 5 de still our por NON<br />

FIGURA 32: Repetição 5 de sure por NON<br />

150


Por sua vez, o falante NA em to<strong>da</strong>s as emissões <strong>do</strong> segmento [r], <strong>da</strong> palavra<br />

our, <strong>da</strong> mesma sentença, não produziu a vibrante simples (figura 33), mas<br />

provavelmente uma aproximante retroflexa vozea<strong>da</strong> [ ] típica <strong>do</strong> inglês americano<br />

em posição de co<strong>da</strong> medial (further) ou final de sílaba (our, sure, number). Vale<br />

ressaltar que, em posição final de sílaba, o fone [r], no inglês americano, é<br />

tipicamente pronuncia<strong>do</strong>. Como o segmento [r] em inglês é uma aproximante,<br />

segui<strong>do</strong> de soantes em still our number, é mais provável que se coarticule com a<br />

consoante nasal [n].<br />

FIGURA 33: Repetição 5 de still our por NA<br />

151


Outros processos são observa<strong>do</strong>s nos gráficos 9 e 10 coloca<strong>do</strong>s abaixo, os<br />

quais mostram a produção <strong>da</strong>s consoantes por NA e NON, na sentença Sure, twelve<br />

is still our number.<br />

16,0<br />

14,0<br />

12,0<br />

10,0<br />

8,0<br />

6,0<br />

4,0<br />

2,0<br />

0,0<br />

Gráfico 9 ­ média e desvio­padrão <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong><br />

sentença " Sure twelve is still our number" <strong>para</strong> NA<br />

média 9,2 11 3,5 7,6 3,7 3,1<br />

desvpad 0,9 1,6 0,7 0,8 0,5 0,2<br />

16,0<br />

14,0<br />

12,0<br />

10,0<br />

8,0<br />

6,0<br />

4,0<br />

2,0<br />

0,0<br />

s t v s t n<br />

Gráfico 10 ­ média e desvio­padrão <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong><br />

sentença " Sure twelve is still our number" <strong>para</strong> NON<br />

s t v s st r n b<br />

média 8,8 14 3,5 2,9 12 1,1 2,9 2,7<br />

desvpad 1,1 2,6 0,7 1,1 2,2 0,8 0,2 0,6<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

152


NA produz menos consoantes que NON; há valores maiores de desvios­<br />

padrão <strong>para</strong> NON que <strong>para</strong> NA; NA “apaga” ou reduz os segmentos [r] em our e<br />

[b] em number 62 , nas repetições 1, 2, 5 e 6, enquanto NON os produz<br />

sistematicamente, com duração e desvios­padrão significativos. O gráfico 10,<br />

referente à média <strong>da</strong>s produções <strong>do</strong>s segmentos consonantais por NON, mostra, em<br />

com<strong>para</strong>ção a NA, a produção <strong>do</strong>s segmentos [s] e [t] de still como uma seqüência<br />

de fricativas, que não pôde ser se<strong>para</strong><strong>da</strong>, em parte [s] e em parte [ ], com<br />

média=12% e desvio­padrão=2,2%. (ver espectrograma <strong>da</strong> figura 34).<br />

FIGURA 34:Repetição 5 de st de still por NON<br />

É provável que [st] de still apresente uma duração e desvio­padrão maiores<br />

que NA porque NON produz duas fricativas, sen<strong>do</strong> uma delas uma africa<strong>da</strong>,<br />

enquanto NA produz uma única fricativa, [s]. Contu<strong>do</strong>, se [s] e [t] de still forem<br />

62 Para NA, a seqüência de fones [umb] foi medi<strong>da</strong> como um único padrão de formantes, principalmente, devi<strong>do</strong> à<br />

alta amplitude, na forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong>, <strong>do</strong> segmento que corresponderia ao [b]. Suas características no espectrograma são<br />

mais similares a [m] que a [b].<br />

153


soma<strong>do</strong>s, na fala de NA, apresentarão média e desvio­padrão muito próximos ao de<br />

[s ], respectivamente, média=11,3% e desvio­padrão=1,3%. NA produz o mesmo<br />

segmento [s], tanto <strong>para</strong> o verbo is como <strong>para</strong> o advérbio still, em uma juntura<br />

externa (ver espectrograma <strong>da</strong> figura 35).<br />

FIGURA 35: Repetição 5 de st de still por NA<br />

Para a consoante [v] de twelve, é observa<strong>da</strong>, tanto na fala de NON como na<br />

de NA, média=3,5% e desvio­padrão=0,7%. Em relação às consoantes que<br />

apresentam valores percentuais e desvios­padrão próximos entre NA e NON,<br />

destacamos [∫] de sure, <strong>para</strong> NA, média=9,2% e desvio­padrão=0,9%; <strong>para</strong> NON,<br />

média=8,8% e desvio­padrão=1,1%. A consoante [n] de number apresenta <strong>para</strong> NA<br />

média=3,1% e desvio­padrão=0,2%, <strong>para</strong> NON média=2,9% e desvio­padrão=0,2.<br />

Por fim, <strong>para</strong> NON o segmento [t] de twelve apresenta média=14% e desvio­<br />

154


padrão=2,6; <strong>para</strong> NA, o mesmo segmento apresenta média=11% e desvio­<br />

padrão=1,6. Contu<strong>do</strong>, NON produz [ ] ao passo que NA produz [t]. O aumento <strong>do</strong><br />

desvio­padrão no [t] de twelve e no [st] de still, na fala de NON, provavelmente<br />

deve­se ao fato de ela estar li<strong>da</strong>n<strong>do</strong> com africa<strong>da</strong>s, as quais apresentam duração<br />

intrínseca maior que as oclusivas e estão mais sujeitas a alongamento, devi<strong>do</strong> ao<br />

fato de produzirem uma constrição parcial no trato vocal.<br />

No gráfico 12, observamos a inserção <strong>do</strong> segmento [i] em still <strong>para</strong> NON<br />

(conforme espectrograma <strong>da</strong> figura 13), com média=2,3% e desvio­padrão=0,6%.<br />

FIGURA 13 63 : Repetição 1 pelo sujeito NON de is still<br />

Nos gráficos 11 e 12, a vogal [i] <strong>do</strong> verbo is, tanto <strong>para</strong> NA como <strong>para</strong> NON,<br />

apresenta média=3,7%; entretanto, o desvio­padrão é maior na fala de NON (1%)<br />

em relação à de NA (0,6%). No que concerne a produção de [eR] de number, há um<br />

63 Mantivemos o número 13, uma vez que, o espectrograma é o mesmo coloca<strong>do</strong> na página 134.<br />

155


maior alongamento na fala de NA (10%) que na de NON (5,5%). Por outro la<strong>do</strong>, o<br />

valor de desvio­padrão é bem próximo na fala de ambos os sujeitos (<strong>para</strong><br />

NON=0,7% e <strong>para</strong> NA=0,6%). Se acrescentarmos <strong>para</strong> NON os valores de duração<br />

e desvio­padrão de [b] em [um] <strong>da</strong> palavra number obteremos média=9,6% e<br />

desvio­padrão=1%. Mesmo assim, a média <strong>da</strong> seqüência [umb] continua maior <strong>para</strong><br />

NA que <strong>para</strong> NON. A produção de twelve (wel) tem média e desvio­padrão maior<br />

na fala de NON (média=11% e desvio­padrão=1%) que na fala de NA (8,9% e<br />

desvio­padrão=0,7%). Por fim, na produção de [ mb] de number, observamos que<br />

a média é maior na fala de NA (12%) que na fala de NON (6,9%), o que pode ser<br />

explica<strong>do</strong> pela assimilação entre [mb] na fala de NA, em quatro repetições, e na<br />

falta dela na fala de NON.<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

Gráfico 11 ­ média e desvio­padrão <strong>da</strong>s vogais <strong>para</strong> a<br />

sentença " Sure twelve is still our number" <strong>para</strong> NA<br />

uR wel i ilour umb eR<br />

média 13 8,9 3,7 15 12 10<br />

desvpad 1,7 0,7 0,6 0,6 0,6 0,6<br />

2,0<br />

1,8<br />

1,6<br />

1,4<br />

1,2<br />

1,0<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0,0<br />

156


16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

Gráfico 12 ­ média e desvio­padrão <strong>da</strong>s vogais <strong>para</strong> a<br />

sentença " Sure twelve is still our number" <strong>para</strong> NON<br />

uR wel i i ilou um eR<br />

média 10 11 3,7 2,3 14 6,9 5,5<br />

desvpad 1,0 1,0 1,0 0,6 1,7 0,4 0,7<br />

Os gráficos 11 e 12 mostram que, <strong>para</strong> NA, o pico de desvio­padrão <strong>da</strong><br />

sentença Sure, twelve is still our number recai sobre a palavra Sure, a qual<br />

apresenta o maior valor de desvio­padrão (1,7%) entre to<strong>da</strong>s as vogais, enquanto,<br />

<strong>para</strong> NON, recai em still our, que apresenta o maior valor de desvio­padrão entre<br />

to<strong>da</strong>s as vogais (1,7%). Ressaltamos que, embora a duração de ilour seja quase a<br />

mesma na fala de NA (15%) e na fala de NON (14%), o desvio­padrão é menor<br />

<strong>para</strong> NA (0,6%) que <strong>para</strong> NON (1,7%). Para NON, observa­se em ilou um aumento<br />

<strong>da</strong> duração acompanha<strong>do</strong> de um aumento <strong>do</strong> valor de desvio­padrão. Valores<br />

maiores de desvio­padrão são espera<strong>do</strong>s em posições de acento, nas quais os<br />

segmentos podem se distender mais livremente, ao contrário <strong>do</strong> que ocorre nas<br />

posições não­acentua<strong>da</strong>s. Com isso, podemos concluir que a maior proeminência<br />

<strong>da</strong> sentença <strong>para</strong> NA recaiu em Sure, com um maior desvio­padrão (1,7%), mas<br />

não a maior duração, que corresponde a de ilour (15%). Ao contrário, <strong>para</strong> NON, a<br />

maior proeminência <strong>da</strong> sentença recaiu sobre ilou com maior valor de desvio­<br />

padrão, 1,7%. Os picos de desvio­padrão <strong>para</strong> ambos os sujeitos parecem mostrar<br />

2,0<br />

1,8<br />

1,6<br />

1,4<br />

1,2<br />

1,0<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

0,2<br />

0,0<br />

157


tendências inversas, mas características de ca<strong>da</strong> língua: maior proeminência à<br />

esquer<strong>da</strong> <strong>para</strong> o inglês e maior proeminência à direita <strong>para</strong> o português.<br />

Um <strong>do</strong>s aspectos que mais chamou atenção na com<strong>para</strong>ção <strong>da</strong> duração e<br />

desvio­padrão <strong>da</strong> vogais <strong>da</strong> sentença Sure, twelve is still our number foi o fato de<br />

NA apresentar uma longa duração <strong>para</strong> ilour, mas um desvio­padrão baixo. Um<br />

outro exemplo disto pode ser visto em uR de number, <strong>para</strong> o qual NA apresenta<br />

uma duração que é o <strong>do</strong>bro <strong>da</strong> duração apresenta<strong>da</strong> por NON, respectivamente 10%<br />

e 5,5%, mas o mesmo valor de desvio­padrão, respectivamente 0,6% e 0,7%. Em<br />

relação às durações e desvios­padrão <strong>da</strong>s vogais na fala de NA, é muito interessante<br />

o fato de que numa seqüência de durações diferentes (wel=8,9%, i=3,7%,<br />

ilour=15%, umb=12%, eR=10%), o desvio­padrão mantenha­se o mesmo, 0,6%.<br />

Ao contrário, na fala de NON, o elemento de menor duração i, 2,3%,<br />

correspondente a is, apresenta o menor valor de desvio­padrão, 0,6%. Na fala de<br />

NA, tanto o segmento de menor duração i de is=3,7% quanto a seqüência de<br />

segmentos de maior duração ilour=15%, apresentam o mesmo valor de desvio­<br />

padrão=0,6%. Na fala de NON, a seqüência de segmentos de maior duração ilou,<br />

14%, apresenta o maior valor de desvio­padrão, 1,7%. Concluímos, então, que uma<br />

característica observa<strong>da</strong> nos trabalhos de duração <strong>do</strong> português brasileiro (Massini,<br />

1991; Barbosa, 1996; Gama­Rossi, 1999), nos quais valores de duração mais altos<br />

são acompanha<strong>do</strong>s de valores de desvios­padrão mais altos, parece diferir no<br />

inglês, quan<strong>do</strong> valores de desvios­padrão independem <strong>do</strong> aumento ou <strong>da</strong><br />

diminuição <strong>da</strong> duração, conforme observa<strong>do</strong> no gráfico 11<br />

Os gráficos <strong>do</strong> contorno <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental <strong>para</strong> as seis repetições <strong>da</strong><br />

sentença Sure, twelve is still our number, por ambos os sujeitos, mostran<strong>do</strong> os<br />

acentos de pitch (pitch accents) em uR de sure <strong>para</strong> NA, e em ilou em still our <strong>para</strong><br />

158


NON, que compõem a maior proeminência <strong>da</strong> sentença, confirmam a tendência de<br />

proeminência à esquer<strong>da</strong> em inglês e à direita em português. Observamos, em Sure,<br />

um movimento de subi<strong>da</strong> e desci<strong>da</strong> de f0 <strong>para</strong> NA, enquanto que <strong>para</strong> NON,<br />

mantém­se uma reta descendente.<br />

Gráfico 13 ­ v alores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em três pontos <strong>da</strong>s<br />

v ogais <strong>da</strong> sentença " sure twelv e is still our number" <strong>para</strong> NA<br />

400<br />

350<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

R1 R2<br />

R3 R4<br />

R5 R6<br />

uR uR uR w el w el w el i i i ilour ilour ilour umb umb umb eR eR eR<br />

Gráfico 14 ­ valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em três pontos <strong>da</strong>s<br />

vogais <strong>da</strong> sentença "Sure twelve is still our number" <strong>para</strong> NON<br />

400<br />

350<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

R1 R2<br />

R3 R4<br />

R5 R6<br />

uR uR uR w el w el w el i i i i i i ilou ilou ilou um um um eR eR eR<br />

Embora o valor médio <strong>da</strong> taxa de elocução <strong>da</strong> sentença Sure, twelve is still<br />

our number, seja mais baixo (fala mais lenta) na fala de NON que na de NA (fala<br />

mais rápi<strong>da</strong>), há uma variação pequena <strong>do</strong> desvio­padrão <strong>para</strong> ambos os sujeitos,<br />

respectivamente, 0,0004 e 0,0005.<br />

159


Taxa de elocução NA<br />

R1 0,007903<br />

R2 0,007413<br />

R3 0,006937<br />

R4 0,00785<br />

R5 0,00797<br />

R6 0,008427<br />

Média 0,00775<br />

DesvPad 0,000513<br />

TABELA 7 valores <strong>da</strong> taxa de elocução <strong>da</strong> sentença Sure, twelve is still<br />

our number pelo sujeito NA<br />

Taxa de elocução NON<br />

R1 0,006061<br />

R2 0,006587<br />

R3 0,007387<br />

R4 0,006917<br />

R5 0,006254<br />

R6 0,006514<br />

Média 0,00662<br />

DesvPad 0,000474<br />

TABELA 8 valores <strong>da</strong> taxa de elocução <strong>da</strong> sentença Sure, twelve is still<br />

our number pelo sujeito NON<br />

Nas seis leituras feitas por NON, <strong>da</strong> sentença We still have a mess of<br />

children, but no theories, podemos observar uma pausa silenciosa entre as frases<br />

160


entoacionais //We still have a mess of children// e //but no theories//,<br />

provavelmente ocasiona<strong>da</strong> pelo sinal de pontuação (vírgula).<br />

FIGURA 36: Repetição 3 de children but por NON<br />

Nota­se também, na fala de NA, na terceira repetição, uma pausa silenciosa<br />

entre children e but, mas com duração de 103ms. Existem evidências de que a<br />

variação na duração <strong>da</strong> pausa seria um <strong>do</strong>s fatores que provocam as diferenças na<br />

taxa de elocução (Crystal e House, 1982). Estu<strong>do</strong>s feitos por Crystal e House<br />

(1982), sobre pausas em leituras orais de textos em inglês, indicaram que os<br />

sujeitos que falam em taxa de elocução mais alta (fala rápi<strong>da</strong>) utilizam pausas mais<br />

curtas e em número menor que os sujeitos que usam taxa de elocução mais baixa<br />

(fala lenta).<br />

161


FIGURA 37: Repetição 3 de children but por NA<br />

Em uma <strong>da</strong>s emissões <strong>da</strong> sentença We still have a mess of children, but no<br />

theories, NA não produziu pausa silenciosa entre children e but; porém, articulou,<br />

nas seis repetições, a consoante nasal /n/ <strong>da</strong> palavra children, ao contrário de NON,<br />

a qual nasalizou a vogal [e], que precedeu a consoante nasal [n] e não articulou a<br />

consoante nasal (ver espectrograma <strong>da</strong> figura 36). Em inglês, a consoante [n] em<br />

posição final de sílaba deve ser obrigatoriamente pronuncia<strong>da</strong> com a ponta <strong>da</strong><br />

língua tocan<strong>do</strong> a parte de trás <strong>do</strong>s dentes superiores (região alveolar).<br />

162


FIGURA 38: Repetição 6 de children but por NA<br />

Os gráficos 15 e 16, referentes aos valores médios percentuais de duração<br />

<strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong> sentença We still have a mess of children, but no theories,<br />

mostram poucas diferenças entre NA e NON. A principal diferença localiza­se na<br />

duração <strong>da</strong> pausa na divisão entre as duas frases entoacionais //We still have a mess<br />

of children// e //but no theories//, e que provavelmente foi induzi<strong>da</strong> pela vírgula<br />

entre as duas frases, conforme digita<strong>do</strong> na ficha <strong>para</strong> a tarerfa de leitura. Os valores<br />

de desvio­padrão <strong>do</strong>s gráficos abaixo, em sua maior parte, tendem a zero, com<br />

poucas exceções na fala de NON (pausa=3,3% e [th]=1,2).<br />

163


14,0<br />

12,0<br />

10,0<br />

8,0<br />

6,0<br />

4,0<br />

2,0<br />

0,0<br />

Gráfico 15 ­ média e desvio­padrão <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong><br />

sentença " We still have a mess of children, but no theories"<br />

<strong>para</strong> NA<br />

s t h v m s f ch d n pau<br />

sa<br />

t n th s<br />

média 3,3 2,5 2,4 1,7 2,8 4,0 1,6 5,5 2,1 3,9 2,9 2,4 2,0 4,9 8,4<br />

desvpad 0,4 0,3 0,2 0,3 0,2 0,4 0,3 0,4 0,6 0,5 0,7 0,3 0,3 0,4 0,2<br />

Gráfico 16 ­ média e desvio­padrão <strong>da</strong>s consoantes <strong>da</strong><br />

sentença " We still have a mess of children, but no theories"<br />

<strong>para</strong> NON<br />

14,0<br />

12,0<br />

10,0<br />

8,0<br />

6,0<br />

4,0<br />

2,0<br />

0,0<br />

st h v m s f ch d paus<br />

a<br />

t n th s<br />

média 3,2 3,2 2,2 3,1 2,6 2,4 5,5 2,1 11 1,0 2,5 6,6 8,5<br />

desvpad 0,6 0,4 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,5 3,3 0,4 0,6 1,2 0,7<br />

Os gráficos 17 e 18 mostram linhas forma<strong>da</strong>s pelos valores médios <strong>da</strong><br />

duração de ca<strong>da</strong> segmento, <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s seis repetições, na fala de NA e na<br />

fala de NON. Parece não haver variação intra­sujeito, conforme mostra a<br />

congruência <strong>da</strong>s linhas correspondentes às seis repetições, apesar de eles utilizarem<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

164


estratégias diferentes. É importante notar a precisão articulatória por parte de NON,<br />

como a de um sujeito adulto falante de qualquer língua (Gama­Rossi, 1999),<br />

precisão articulatória que é resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> fato de NON acertar os mesmos alvos<br />

articulatórios a ca<strong>da</strong> repetição.<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

we<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

we<br />

Gráfico 17 ­ Valores de duração, <strong>para</strong> as seis repetições, <strong>da</strong> sentença "We still<br />

have a mess of children, but no theories" , <strong>para</strong> NA<br />

t<br />

h<br />

v<br />

m<br />

s<br />

f<br />

il<br />

re<br />

pausa<br />

Gráfico 18 ­ Valores de duração <strong>para</strong> as seis repetições <strong>da</strong> sentença "We still<br />

have a mess of children, but no theories" <strong>para</strong> NON<br />

il<br />

a<br />

a<br />

e<br />

o<br />

ch<br />

d<br />

pausa<br />

t<br />

t<br />

o<br />

o<br />

eorie<br />

eorie<br />

165<br />

R1<br />

R2<br />

R3<br />

R4<br />

R5<br />

R6<br />

R1<br />

R2<br />

R3<br />

R4<br />

R5<br />

R6


Relembramos que, na tarefa de leitura, a repetição <strong>da</strong> sentença We still have<br />

a mess of children, but no theories, não ocorre segui<strong>da</strong>mente, o que poderia levar<br />

alguém a achar que houve um efeito de aprendizagem; porém, a sentença aparece<br />

dentro de um bloco de quarenta sentenças que são aleatoriza<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> leitura. Este<br />

fato liga<strong>do</strong> à falta de variação <strong>do</strong>s segmentos entre as seis repetições <strong>da</strong> sentença<br />

sugere a proficiência de NON na língua inglesa, apesar de ele empregar estratégias<br />

diferentes no alongamento ou redução de segmentos, em relação à NA.<br />

Obviamente, não poderia ser espera<strong>do</strong> o mesmo desempenho entre um falante<br />

nativo e um falante não­nativo. Entretanto, como demonstra o gráfico 18, o último<br />

pode alcançar estabili<strong>da</strong>de na produção <strong>da</strong> língua estrangeira. É provável que essa<br />

estabili<strong>da</strong>de não seja encontra<strong>da</strong> ou seja encontra<strong>da</strong> em diferentes graus na<br />

produção, nos momentos mais iniciais <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> de LE. A tabela abaixo que<br />

contêm os valores de taxa de elocução (TE) e taxa de articulação (TA), a qual<br />

exclui os valores de pausa em seu cálculo, sugere uma variação pequena entre TE e<br />

TA, <strong>para</strong> NON, apesar de este sujeito ter apresenta<strong>do</strong> altos valores absolutos ou de<br />

variação de pausa, conforme a tabela 10<br />

Apesar de o valor <strong>da</strong> média <strong>da</strong> taxa de elocução na fala de NA ser mais baixo<br />

(0,0071, fala lenta) que <strong>para</strong> NA (0,0096, fala rápi<strong>da</strong>), ambas apresentam o mesmo<br />

valor de desvio­padrão (0,0004), conforme a tabela 9.<br />

166


NON NA<br />

Repetição TE TA TE TA<br />

R1 0,0072 0,0082 0,0088 0,0087<br />

R2 0,0071 0,0078 0,0096 0,0094<br />

R3 0,0063 0,0069 0,0096 0,0096<br />

R4 0,0074 0,008 0,01 0,0098<br />

R5 0,0076 0,0076 0,0095 0,0094<br />

R6 0,0071 0,0073 0,0099 0,0095<br />

média 0,0071 0,0076 0,0096 0,0094<br />

desvpad 0,0004 0,0005 0,0004 0,0004<br />

TABELA 9: valores <strong>da</strong> taxa de elocução e <strong>da</strong> taxa de articulação <strong>da</strong><br />

sentença We still have a mess of children, but no theories por NON<br />

e NA<br />

NON Pausa (ms) Pausa (percentual)<br />

R1 521 14,5<br />

R2 414 11,8<br />

R3 455 12,5<br />

R4 371 11<br />

R5 190 5,3<br />

R6 273 8<br />

Média 371 11<br />

DesvPad 121 3<br />

TABELA 10: valores de duração em ms e % <strong>para</strong> a pausa inseri<strong>da</strong><br />

entre as frases entoacionais //We still have a mess of children//but no<br />

theories// <strong>para</strong> NON<br />

167


NA Pausa (ms) Pausa (percentual)<br />

R1 77 2,6<br />

R2 66 2,5<br />

R3 103 3,8<br />

R4 35 2<br />

R5 95 3,5<br />

R6 Pausa intrínseca=0 0<br />

Média 75 2,9<br />

DesvPad 27 0,8<br />

TABELA. 11: valores de duração em ms e % <strong>para</strong> a pausa inseri<strong>da</strong> entre<br />

as frases entoacionais //We still have a mess of children//but no theories//<br />

<strong>para</strong> NA<br />

O contorno <strong>da</strong> freqüência fun<strong>da</strong>mental <strong>do</strong> enuncia<strong>do</strong> We still have a mess of<br />

children, but no theories (gráficos 19 e 20), produzi<strong>do</strong> por NA e NON, pode ser<br />

dividi<strong>do</strong>, por ambos sujeitos, em <strong>do</strong>is grupos entoacionais. No primeiro grupo “We<br />

still have a mess of children”, tanto <strong>para</strong> NA quanto <strong>para</strong> NON ocorre a subi<strong>da</strong> de<br />

f0 na palavra we, um pico em still, segui<strong>do</strong> de uma que<strong>da</strong> na palavra have, de um<br />

declínio até a palavra mess, de um leve pico em of e o declínio de f0 no final <strong>do</strong><br />

primeiro grupo entoacional. No segun<strong>do</strong> grupo entoacional, “but no theories”,<br />

observa­se ênfase na palavra no, que é marca<strong>da</strong> pelo pico e o contorno descendente<br />

de f0 até o final, o que é característico <strong>do</strong> padrão entoacional<br />

declarativo/afirmativo.<br />

168


450<br />

400<br />

350<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

Gráfico 19 valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em um ponto<br />

<strong>da</strong>s vogais <strong>da</strong> sentença " We still have a mess of children, but no<br />

theories" <strong>para</strong> NA<br />

we il a a e o il re pausa bu o eorie<br />

R1 207 253 242 218 199 194 178 155 177 187 153<br />

R2 208 260 219 201 189 186 182 155 182 191<br />

R3 218 281 225 197 185 176 175 147 171 179 158<br />

R4 197 254 203 187 177 163 169 152 157 182<br />

R5 212 261 217 195 182 169 163 165 175<br />

R6 178 215 209 194 179 194 161 153 151 167 150<br />

169


450<br />

400<br />

350<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

Gráfico 20 ­ valores de f0 (Hz) medi<strong>do</strong>s em um ponto<br />

<strong>da</strong>s vogais <strong>da</strong> sentença "We still have a mess of children, but no<br />

theories" <strong>para</strong> NON<br />

we il a a e o il ren pausa bu o eorie<br />

R1 255 401 315 283 246 270 228 231 256<br />

R2 272 344 280 261 245 264 230 240 253<br />

R3 263 363 278 256 247 258 244 194 228 246<br />

R4 271 366 293 269 266 229 232<br />

R5 283 400 304 287 257 266 231 201 227 219 182<br />

R6 282 351 289 268 243 259 230 216 232 226<br />

Uma <strong>da</strong>s poucas diferenças encontra<strong>da</strong>s entre as falas de NA e NON<br />

(gráficos 21 e 22) refere­se à duração <strong>da</strong> pausa.<br />

170


Gráfico 21­ média e desvio­padrão <strong>da</strong>s vogais <strong>da</strong> sentença<br />

" We still have a mess of children, but no theories" <strong>para</strong> NA<br />

14,0<br />

12,0<br />

10,0<br />

8,0<br />

6,0<br />

4,0<br />

2,0<br />

0,0<br />

we il a a e o il re paus<br />

a<br />

bu o eorie<br />

média 2,8 4,0 3,5 2,6 3,6 1,6 4,6 5,7 2,9 3,2 6,2 13<br />

desvpad 0,3 0,3 0,3 0,4 0,4 0,3 0,5 0,5 0,7 0,3 0,5 0,2<br />

Gráfico 22 ­ média e desvio­padrão <strong>da</strong>s vogais sentença<br />

" We still have a mess of children, but no theories" <strong>para</strong> NON<br />

14,0<br />

12,0<br />

10,0<br />

8,0<br />

6,0<br />

4,0<br />

2,0<br />

0,0<br />

we il a a e o il ren paus<br />

a<br />

bu o eorie<br />

média 3,2 3,1 2,4 1,9 4,3 1,8 2,8 5,2 11 3,2 5,0 10<br />

desvpad 0,6 0,4 0,2 0,3 0,3 0,2 0,3 0,6 3,3 1,0 1,0 0,8<br />

Ao contrário <strong>da</strong> idéia de que a africa<strong>da</strong> ocorre <strong>da</strong> produção contígua de uma<br />

oclusiva e de uma fricativa, Albano (2001:69) propõe que (...) “Uma solução seria<br />

considerar a africa<strong>da</strong> um gesto complexo, com componentes simultâneos <strong>da</strong> ponta e<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

171


corpo <strong>da</strong> língua (...) No caso <strong>da</strong>s africa<strong>da</strong>s que emergem em contato com [i], seria,<br />

entretanto, muito mais intuitivo conceber a fricção como um efeito mecânico <strong>da</strong><br />

sobreposição <strong>do</strong>s gestos consonantal e vocal (...) A participação <strong>do</strong> corpo <strong>da</strong> língua<br />

é (...) justifica<strong>da</strong> pela presença <strong>da</strong> vogal”. Isto pode ser observa<strong>do</strong> na fala de NON,<br />

mas não de NA. A tabela abaixo referente à produção <strong>do</strong> grupo assilábico [st] de<br />

still, <strong>da</strong> sentença We still have a mess of children, but no theories, mostra que NON<br />

alterna entre produzir o grupo como um único segmento acústico [st] ou <strong>do</strong>is, s e t.<br />

NON s t afric/asp total <strong>da</strong><br />

sentença<br />

(ms)<br />

s (%) t (%) afric/asp<br />

(%)<br />

R1 219 _____ ______ 3587 6,16 ______ ______<br />

R2 112 38 90 3510 3,19 1,08 2,56<br />

R3 236 _____ ______ 3628 6,5 ______ ______<br />

R4 116 36 86 3368 3,44 1,06 2,55<br />

R5 123 56 75 3575 3,44 1,56 2,09<br />

R6 236 _____ ______ 3386 6,96 ______ ______<br />

Média 117 43 84 ______ _____ ______ ______<br />

Desvpa<br />

d<br />

5,5 11 8 ______ _____ ______ ______<br />

TABELA 12: valores de duração em ms e % <strong>para</strong> a sequência st em still por NON<br />

Examinaremos <strong>do</strong>is espectrogramas de NON, um em que os segmentos<br />

acústicos <strong>do</strong> grupo assilábico [st] ocorrem juntos e outro, em que ocorrem<br />

se<strong>para</strong><strong>do</strong>s. A hipótese é de que quan<strong>do</strong> [st] é produzi<strong>do</strong> como um grupo assilábico,<br />

sen<strong>do</strong> [t] segui<strong>do</strong> de [i], será cria<strong>do</strong> o contexto fonético <strong>para</strong> a africção, [ ].<br />

172


FIGURA 39: Repetição 2 de we still por NON<br />

FIGURA 40 Repetição 3 de we still por NON<br />

Na figura 39, <strong>para</strong> NON, observamos que apesar de haver o tempo de<br />

oclusão de [t]=38ms, o perío<strong>do</strong> de ruí<strong>do</strong> que o segue tem duração de 90ms. A<br />

tabela 13 e a figura 41 referentes às medi<strong>da</strong>s de [s], [t] e aspiração <strong>para</strong> NA,<br />

173


mostram que a aspiração é de menor intensi<strong>da</strong>de e duração (média=27ms e desvio­<br />

padrão= 3ms).<br />

NA s t afric/asp Total <strong>da</strong><br />

sentença<br />

(ms)<br />

s (%) t (%) afric/asp<br />

(%)<br />

R1 116 25 29 2940 3,94 0,85 0,98<br />

R2 85 48 23 2721 3,12 1,76 0,84<br />

R3 91 24 28 2709 3,35 0,88 1,03<br />

R4 83 39 30 2597 3,19 1,5 1,15<br />

R5 87 51 25 2743 3,17 1,85 0,91<br />

R6 84 30 27 2532 3,31 1,18 1,06<br />

média 91 36 27 ______ ______ ______ _______<br />

desvpad 12,5 12 3 ______ ______ ______ _______<br />

TABELA 13: valores de duração em ms e % <strong>para</strong> a sequência st em still por NA<br />

174


FIGURA 41: Repetição 6 de we still por NA<br />

Voltan<strong>do</strong> ao espectrograma <strong>da</strong> figura 40, suspeitamos que o contexto<br />

fonético interno em still propicia o aparecimento <strong>da</strong> africa<strong>da</strong> na fala de NON,<br />

quan<strong>do</strong> as características visuais de [t], principalmente seu tempo de oclusão,<br />

mostram seu encobrimento pela fricativa [s] de um la<strong>do</strong> e pela africa<strong>da</strong> [ ],<br />

forma<strong>da</strong> diante de [i].<br />

Dan<strong>do</strong> continui<strong>da</strong>de à análise <strong>do</strong>s fenômenos coarticulatórios encontra<strong>do</strong>s na<br />

sentença We still have a mess of children, but no theories, em to<strong>da</strong>s as emissões <strong>da</strong><br />

expressão have a, tanto NON como NA formaram uma única palavra fonológica<br />

(palavra de conteú<strong>do</strong> + palavra gramatical) na junção de have + a, produzin<strong>do</strong> um<br />

dissílabo ['hæ.va]. Este é um outro exemplo <strong>do</strong> corpus em que ocorre o processo<br />

de cliticização (Levelt, 1998), quan<strong>do</strong> palavras gramaticais não­acentua<strong>da</strong>s ligam­<br />

se às palavras de conteú<strong>do</strong> à sua esquer<strong>da</strong> ou à sua direita, o que reorganiza a<br />

estrutura rítmica <strong>da</strong> sentença. Embora nos <strong>do</strong>is casos se ouça um [v] em have, a<br />

175


inspeção <strong>da</strong>s formas de on<strong>da</strong> e <strong>do</strong>s espectrogramas de ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s sujeitos mostra<br />

características diferentes entre eles. No sujeito NON, o segmento [v] apresenta<br />

características de fricativa, como mostra o ruí<strong>do</strong> na forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong> e no<br />

espectrograma. Além disso, há uma barra de vozeamento interrompi<strong>da</strong> no meio <strong>do</strong><br />

segmento, mas retoma<strong>da</strong> deste ponto até o contato com o [a]. No sujeito NA, por<br />

sua vez, no local <strong>da</strong> forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong> e <strong>do</strong> espectrograma que corresponderia ao<br />

segmento [v], não é encontra<strong>do</strong> ruí<strong>do</strong>, mas sim um vozeamento com pulsos de alta<br />

amplitude.<br />

FIGURA 42: Repetição 4 de have a por NON<br />

176


FIGURA 43: Repetição 4 de have a por NA<br />

FIGURA 44: Repetição 6 de children por NON<br />

O espectrograma acima, <strong>da</strong> produção <strong>do</strong> grupo assilábico [dr] de children,<br />

sugere que a consoante produzi<strong>da</strong> por NON é uma aproximante e não um flape [ſ],<br />

177


como ocorre no português brasileiro (p.e, dragão, drama, drenagem etc.). O que<br />

difere a aproximante <strong>do</strong> flape é que a aproximante é produzi<strong>da</strong> por um<br />

estreitamento <strong>da</strong> passagem <strong>do</strong> ar pelo trato vocal e por não conter um perío<strong>do</strong><br />

estacionário de sustentação <strong>do</strong>s articula<strong>do</strong>res numa posição, ao passo que o flape é<br />

produzi<strong>do</strong> com uma breve interrupção <strong>da</strong> saí<strong>da</strong> de ar por uma vibração rápi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

língua. Conforme Cristófaro­Silva (2005), um som com características<br />

articulatórias semelhantes ao som de “r” <strong>do</strong> inglês ocorre em “certos dialetos <strong>do</strong><br />

português brasileiro, popularmente, denomina<strong>do</strong>s dialetos caipiras ou dialetos em<br />

que se puxa o “r”. O mesmo ocorre na fala de NA, conforme o espectrograma<br />

abaixo.<br />

FIGURA 45: Repetição 6 de children por NA<br />

Na análise <strong>do</strong> espectrograma, referente à primeira repetição <strong>da</strong> sentença We<br />

still have a mess of children, but no theories, podemos observar que, na fala de<br />

NON, na emissão <strong>da</strong>s palavras but no, ocorreu o processo de assimilação (mu<strong>da</strong>nça<br />

de alguns segmentos sob a influência de outros) regressiva ou antecipatória<br />

(quan<strong>do</strong> um som é influencia<strong>do</strong> pelo que o sucede). Neste caso, a consoante final<br />

178


[t] <strong>da</strong> palavra but, que isola<strong>da</strong>mente é pronuncia<strong>da</strong> com o fonema alveolar /t/,<br />

quan<strong>do</strong> segui<strong>da</strong> <strong>do</strong> fonema nasal alveolar /n/, na palavra no, passa a ser produzi<strong>da</strong><br />

como o fonema alveolar /d/, resultan<strong>do</strong> na pronúncia [bΛdnow]. Vale notar ain<strong>da</strong><br />

que o contexto fonético em que /t/ ocorre é de soantes (ou sons vozea<strong>do</strong>s).<br />

FIGURA 46: Repetição 1 de but no 64 por NON<br />

Entre as repetições <strong>da</strong> sentença por NON, parece haver uma gradiência na<br />

quanti<strong>da</strong>de de assimilação <strong>da</strong> oclusiva alveolar /t/, na seqüência but no, uma vez<br />

que, em sua terceira repetição, ocorreu o desaparecimento desta oclusiva, que até<br />

então vinha sen<strong>do</strong> produzi<strong>da</strong> como a vozea<strong>da</strong> [d], resultan<strong>do</strong> na pronúncia<br />

[bΛnow]. O que na forma <strong>da</strong> on<strong>da</strong> foi demarca<strong>do</strong> como [d], na figura 47 (referente<br />

à repetição 3), aparece com uma duração muito curta e pulsos de amplitude bem<br />

mais alta, próximos ao padrão <strong>do</strong>s pulsos de [n]. Este aspecto é muito interessante<br />

porque mostra que, durante a tarefa, NON passa a apresentar reduções típicas <strong>do</strong><br />

inglês, aproximan<strong>do</strong>­se a ca<strong>da</strong> repetição <strong>da</strong> fonética e fonologia dessa língua, ou<br />

64 Vale lembrar que, o símbolo t na transcrição <strong>da</strong> etiqueta coloca<strong>da</strong> abaixo <strong>do</strong> espectrograma corresponde à<br />

transcrição ortográfica. Na figura 47, o mesmo símbolo é marca<strong>do</strong> como transcrição fonética [d].<br />

179


seja, trazen<strong>do</strong> no nível cognitivo as características <strong>do</strong> sistema lingüístico <strong>do</strong> inglês,<br />

em detrimento <strong>do</strong> sistema lingüístico <strong>do</strong> português.<br />

FIGURA 47: Repetição 3 de but no por NON<br />

Por sua vez, em to<strong>da</strong>s as emissões <strong>da</strong> palavra but, <strong>da</strong> sentença We still have a<br />

mess of children but no theories, NA produziu a oclusiva oral alveolar vozea<strong>da</strong> /d/,<br />

o que resultou em [bΛdnow]. O processo de assimilação regressiva ou<br />

antecipatória também ocorreu na fala de NA; porém, manteve­se no mesmo grau<br />

de início ao fim.<br />

180


FIGURA 48: Repetição 1 de but no (t seta[d] por NA<br />

Foram observa<strong>do</strong>s outros contextos fonéticos em que o [t] não é segui<strong>do</strong> de<br />

[u] e de [i], <strong>para</strong> verificar se neles é desencadea<strong>da</strong> a produção <strong>da</strong> africa<strong>da</strong> [ ].<br />

Vejamos, então, nos espectrogramas abaixo, o que ocorre entre os elementos <strong>da</strong>s<br />

palavras fonológicas: “met at”, “got a”, “got us”, “experts at managing” e “job<br />

offers”.<br />

Na juntura externa entre “met at”, NON continua a apresentar a africa<strong>da</strong> [ ],<br />

ao passo que NA parece apresentar um brevíssimo flape. Vale comentar que,<br />

enquanto falantes nativos <strong>do</strong> PB, soa muito “estranha”a nova palavra [mε.΄ſεt],<br />

embora não saibamos explicitamente dizer por que. Além disso, parece que o mais<br />

freqüente é encontrar met se<strong>para</strong><strong>do</strong> de at por um pronome oblíquo (ex. I met him<br />

at).<br />

181


A seguir, são mostra<strong>do</strong>s os espectrogramas <strong>do</strong>s demais exemplos examina<strong>do</strong>s<br />

no corpus: got a e got us. Em ambos, os <strong>do</strong>is sujeitos transformam o /t/ em /ſ/,<br />

processo de flapicização. O valor <strong>do</strong> flape é ligeiramente maior em got us.<br />

FIGURA 49: Repetição 4 de met at por NON<br />

182


FIGURA 50: repetição 4 pelo sujeito NA de met at<br />

FIGURA 51: Repetição 4 de got a por NON<br />

183


FIGURA 52: Repetição 4 de got a por NA<br />

FIGURA 53: Repetição 2 de got us por NON<br />

184


FIGURA 54: Repetição 2 de got us por NA<br />

Para “job offers”, NON produz um [b], enquanto NA, um som bem mais<br />

breve, com pulsos de alta amplitude, com mais informação formântica. Isso sugere<br />

que pode ter ocorri<strong>do</strong> um grau maior de assimilação ou coarticulação antecipatória<br />

ou regressiva (quan<strong>do</strong> um som é influencia<strong>do</strong> pelo que o sucede) na fala de NA.<br />

FIGURA 55: Repetição 6 de job offers por NA<br />

185


FIGURA 56: Repetição 6 de job offers por NA<br />

Em “experts at managing”, retira<strong>do</strong> <strong>da</strong> sentença By then, Tom and I were<br />

experts at managing chaos, a preposição “at”cliticiza­se ao substantivo experts que<br />

a requer (peritos em “alguma coisa”). O /t/ de at desaparece na fala de NA, que<br />

alonga o /a/ de at. NON, por sua vez, introduz uma pausa entre experts e at, o que<br />

impede a juntura externa entre experts + at. Porém, é interessante notar que o /t/ de<br />

at não se torna africa<strong>do</strong>, ou seja, NON o reduziu, o que é espera<strong>do</strong> <strong>para</strong> uma<br />

consoante de um elemento átono (preposição). A questão seria avaliar<br />

perceptualmente o quanto a fronteira (pausa) entre experts e at prejudica o<br />

entendimento <strong>da</strong> frase pelo nativo.<br />

186


FIGURA 57: Repetição 6 de experts at managing por NON<br />

FIGURA 58: Repetição 6 de experts at managing por NA<br />

Concluin<strong>do</strong>, neste capítulo, tentamos mostrar, principalmente através de<br />

figuras, as estratégias de produção de NON e NA na leitura de um corpus de<br />

sentenças em inglês. O que chama atenção na com<strong>para</strong>ção <strong>do</strong>s desempenhos de<br />

ambos os sujeitos é a freqüência com que os processos fonético­fonológicos<br />

187


(assimilação, coarticulação, redução ou “apagamento”) são emprega<strong>do</strong>s pelos<br />

sujeitos. Em alguns momentos, NON emprega­os como NA; em outros, em<br />

diferentes graus entre as repetições <strong>da</strong>s sentenças; ou ain<strong>da</strong>, não os emprega.<br />

Acreditamos que, em parte, essa gra<strong>da</strong>ção na produção de NON deve­se à<br />

tarefa de leitura, o que a prende ao sistema de escuta <strong>do</strong> inglês, o qual contém<br />

muitos grafemas que não são pronuncia<strong>do</strong>s, ao contrário <strong>do</strong> que ocorre no PB, que<br />

possui um sistema de escuta mais “transparente” (Scliar­Cabral, 2003), ou uma<br />

correspondência mais estreita entre os grafemas e fonemas.<br />

Ten<strong>do</strong> em vista que a tarefa de leitura em uma situação de coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s de<br />

um trabalho de pesquisa seja uma situação formal, podemos considerar que isto<br />

tenha feito com que NON tentasse fazer uma espécie de “fala ou pronúncia clara”.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, o fato de na mesma situação NA ter apresenta<strong>do</strong> mais coarticulação<br />

sugere que esta seja um processo típico ou implícito à produção <strong>da</strong> fala corrente de<br />

qualquer língua. Em termos <strong>da</strong> relação entre produção e percepção, o emprego ou<br />

não de processos coarticulatórios dificulta a compreensão tanto <strong>da</strong> fala <strong>do</strong> nativo<br />

pelo não­nativo, como <strong>do</strong> não­nativo pelo nativo.<br />

188


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

“A teacher with a knowledge of phonetics is in a better position<br />

to understand and assess pronunciation problems, devise<br />

remedies for them, and handle them in class than a teacher<br />

without such knowledge. Pronunciation is no more nor any less<br />

important than any other aspect of language. Speech is much<br />

more than pronunciation – but it is impossible without it!<br />

Pronunciation is not the be­all and end­all; effective<br />

communication is what matters, and this is to be the teacher’s<br />

constant goal”.<br />

(Paul Tench)


Visan<strong>do</strong> a uma sistematização <strong>do</strong> que foi apresenta<strong>do</strong> neste trabalho, segue,<br />

nestas Considerações Finais, um breve resumo <strong>do</strong> que foi discuti<strong>do</strong>, e uma reflexão<br />

sobre as contribuições desta pesquisa.<br />

Ao longo <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is últimos anos, fui construin<strong>do</strong> e reconstruin<strong>do</strong><br />

conhecimentos, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> forma às minhas idéias e buscan<strong>do</strong> novas formas de atuação<br />

em sala de aula. Percebi que há lacunas em minha prática que podem ser<br />

melhora<strong>da</strong>s/preenchi<strong>da</strong>s e que a maior preocupação com relação ao ensino de<br />

pronúncia deve estar volta<strong>da</strong> às características prosódicas (entoação, ritmo, acento,<br />

pausas, criações de proeminências frasais, entre outros) <strong>da</strong> fala corrente. São elas<br />

que tornam a fala inteligível, pois de na<strong>da</strong> adianta saber pronunciar corretamente<br />

fonemas em palavras isola<strong>da</strong>s, uma vez que a comunicação se dá através de<br />

enuncia<strong>do</strong>s, como assinala<strong>do</strong> por Haycraft (1988): It makes sense to practise the<br />

entire utterance first, simply because we <strong>do</strong> not speak in single sounds but in<br />

“chunks”and stretches within which sounds interact.<br />

Conforme dito na Introdução, os estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> (que descrevem os<br />

processos presentes na produção oral <strong>do</strong>s falantes) e <strong>da</strong> Fonologia (que têm como<br />

escopo o sistema <strong>do</strong>s sons de uma língua), quan<strong>do</strong> não ausentes na formação <strong>do</strong><br />

graduan<strong>do</strong> de Letras, têm si<strong>do</strong> relega<strong>do</strong>s a um papel secundário, restringin<strong>do</strong>­se à<br />

descrição abstrata <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong> fala, como fonemas que compõem o sistema<br />

fonológico <strong>da</strong> língua em aprendiza<strong>do</strong>, pratica<strong>do</strong>s isola<strong>da</strong>mente em minimal pairs,<br />

transcrições fonêmicas e exercícios de repetição (repetition drills), de mo<strong>do</strong> a<br />

garantir a aprendizagem de pequenas diferenças de pronúncia e, portanto, a<br />

oposição ou distinção entre fonemas no sistema fonológico <strong>da</strong> língua­alvo.<br />

Objetivamos, portanto, com este estu<strong>do</strong>, ampliar o conhecimento <strong>do</strong> professor de<br />

língua inglesa, nativo <strong>do</strong> português brasileiro, no que se refere ao mapeamento,<br />

189


nesta língua, <strong>do</strong>s aspectos segmentais e prosódicos <strong>do</strong> inglês americano, durante<br />

seu ensino e aprendizagem.<br />

Acreditamos que a formação em <strong>Fonética</strong> (Articulatória, <strong>Acústica</strong>, Auditiva)<br />

pode auxiliar o professor de inglês como língua estrangeira a estabelecer as<br />

estratégias didáticas que contribuam <strong>para</strong> que o aluno possa explicitamente (Perini,<br />

2001) compreender, por exemplo, que uma palavra produzi<strong>da</strong> em contexto maior<br />

(como aquele <strong>da</strong> palavra fonológica ou <strong>da</strong> frase, entre as quais podem ocorrem<br />

junturas externas) pode ter seus fones ou sons modifica<strong>do</strong>s (seja por “apagamento”<br />

ou pela transformação, no contato com as características <strong>do</strong>s sons vizinhos), o que<br />

não ocorre quan<strong>do</strong> a palavra é produzi<strong>da</strong> isola<strong>da</strong>mente. Os sons <strong>da</strong>s palavras<br />

transformam­se no contato com outras palavras e isso ocorre por várias razões: o<br />

contexto fonético é facilita<strong>do</strong>r (spent most → spenmost); a taxa de elocução (fala<br />

lenta ou rápi<strong>da</strong>) permite maior ou menor sobreposição entre os sons; pausas são<br />

introduzi<strong>da</strong>s, poden<strong>do</strong> ou não interferir na divisão <strong>da</strong>s frases sintáticas, forman<strong>do</strong><br />

diferentes frases entoacionais, de acor<strong>do</strong> com o senti<strong>do</strong> que o falante quer provocar<br />

em seu interlocutor; o uso de ênfase ou foco, que podem modificar o acento lexical<br />

sobre o qual recai a maior proeminência <strong>da</strong> sentença ou <strong>da</strong> frase; entre outros.<br />

Portanto, processos que ocorrem em níveis mais altos que a palavra afetam a<br />

entoação, o ritmo, os acentos lexicais, ou seja, a prosódia.<br />

Como afirma Rocca (2003), o aprendiz de L2 precisa ser conscientiza<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong>quilo que não pode ser mapea<strong>do</strong> em sua língua, o que será o elemento<br />

constituinte de seu sotaque ao comunicar­se em L2. Segun<strong>do</strong> a autora, a<br />

conscientização “<strong>da</strong>quilo que o ouvi<strong>do</strong> não ouve” e “<strong>da</strong>quilo que o a<strong>para</strong>to vocal<br />

não produz” é essencial <strong>para</strong> o desenvolvimento <strong>da</strong> aquisição de línguas.<br />

190


Com a intenção de focar a produção na fala corrente, a ativi<strong>da</strong>de proposta aos<br />

sujeitos foi leitura e, <strong>para</strong> isso, contrariamente ao que tem si<strong>do</strong> comumente<br />

realiza<strong>do</strong> em <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong>, foi busca<strong>do</strong> um corpus que pudesse reproduzir, em<br />

certo grau, características <strong>da</strong> fala corrente, ao invés <strong>do</strong> uso de uma lista de palavras,<br />

geralmente pares mínimos, dentro de uma frase veículo (Say ____ to him). Isto,<br />

com certeza, tornou mais complexa a tarefa <strong>para</strong> o falante não­nativo, porque<br />

exigiu o processamento de leitura em um corpus grande e com sentenças de<br />

diferentes tamanhos. Mesmo com estes fatores, o desempenho <strong>do</strong> sujeito não­<br />

nativo apresenta <strong>do</strong>is aspectos muito importantes: (1) estabili<strong>da</strong>de entre as<br />

repetições de uma mesma sentença e (2) desempenho gradiente, na medi<strong>da</strong> em que<br />

ora se aproxima <strong>do</strong> desempenho <strong>do</strong> nativo, embora não tenha ti<strong>do</strong> a priori contato<br />

nem com o corpus, nem com a leitura feita pelo nativo, ora mapeia sua produção na<br />

língua materna, o português brasileiro. Isto mostra que, cognitivamente, o sujeito<br />

não­nativo tem conhecimento <strong>do</strong> inglês; porém, <strong>para</strong> recuperá­lo ou atualizá­lo ou<br />

<strong>para</strong> passar <strong>do</strong> português ao inglês, é preciso tempo <strong>para</strong> acomo<strong>da</strong>r a relação entre<br />

produção de segmento e prosódia <strong>da</strong> língua­alvo. Por isso, seu desempenho, em<br />

determina<strong>do</strong>s momentos, aproxima­se gradualmente <strong>da</strong>quele <strong>do</strong> sujeito nativo, no<br />

decorrer <strong>da</strong>s seis repetições.<br />

Como conclusão deste estu<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong> desempenho <strong>do</strong> sujeito não­nativo,<br />

podemos dizer que a produção de sons no aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> inglês e de uma língua<br />

estrangeira em geral deve focar explicitamente (Perini, 2001) no ensino <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong>des de redução na fala corrente, deixan<strong>do</strong> a cargo <strong>do</strong> aluno querer e/ou<br />

poder implementá­las.<br />

Com relação à inteligibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fala de um aprendiz ou de um falante não­<br />

nativo de LE ser ou não afeta<strong>da</strong> pelo uso de processos que ocorrem na relação entre<br />

191


segmentos e os locais que eles ocupam na cadeia <strong>da</strong> fala, ou seja, entre segmentos e<br />

prosódia, ela poderia ser avalia<strong>da</strong> apenas através de um teste de percepção. Este<br />

poderia ter como objetivo avaliar a compreensão de não­nativos <strong>para</strong> a fala de um<br />

sujeito nativo, e de nativos <strong>para</strong> a fala de um sujeito não­nativo. Com isso, talvez<br />

pudéssemos verificar até que ponto os processos de coarticulação na fala de ambos<br />

os sujeitos prejudicam ou não a inteligibili<strong>da</strong>de ou compreensão entre eles.<br />

Este estu<strong>do</strong> não teve como objetivo julgar qual é o professor ideal <strong>para</strong> o<br />

ensino de inglês (nativo ou não­nativo), embora possa ter mostra<strong>do</strong> a importância<br />

de o professor de LE conhecer bem tanto a língua nativa (de onde parte o aprendiz)<br />

quanto a língua­alvo, uma vez que não há dúvi<strong>da</strong>s sobre a ocorrência <strong>do</strong><br />

mapeamento entre ambas, embora este trabalho tenha aponta<strong>do</strong> <strong>para</strong> o fato de que<br />

esse mapeamento não é absoluto, categórico, ou uma questão de “tu<strong>do</strong> ou na<strong>da</strong>”.<br />

Também não tivemos o objetivo de com<strong>para</strong>r nossos sujeitos. O objetivo foi<br />

mostrar processos que ocorrem na fala <strong>do</strong> nativo e que podemos (enquanto<br />

brasileiros) assimilar em diferentes graus à nossa fala em inglês, ten<strong>do</strong> em vista que<br />

tais processos apenas podem ser entendi<strong>do</strong>s na fala corrente e em nenhum outro<br />

contexto.<br />

De minha parte, nunca houve a intenção de chegar a descrever regras ou<br />

técnicas que levassem o falante de português brasileiro a falar como um nativo de<br />

inglês, porque tenho clareza de que isso não existe. Segun<strong>do</strong> Schmitz (2004), ser<br />

um professor competente de inglês não tem na<strong>da</strong> a ver com a “nativi<strong>da</strong>de”. O autor<br />

acredita que prova <strong>do</strong> sucesso <strong>do</strong> ensino­aprendizagem de línguas estrangeiras é a<br />

existência de um número impressionante de falantes de inglês e de outras línguas.<br />

Como exemplo, cita o número de autores não­nativos que escreveram sobre o<br />

inglês e em inglês, tais como: Svartik, Jespersen, Mey e Granger. Para Schmitz<br />

192


(2004), os critérios <strong>para</strong> contratação de um professor de língua inglesa devem ser<br />

suas competências lingüística, comunicativa, pragmática, sociolingüística e<br />

também didática. Schmitz (op. cit.) acredita que o falante nativo que acabou de<br />

“descer <strong>do</strong> avião”, que não é forma<strong>do</strong> no ensino de línguas em nível superior e não<br />

tem experiência no ensino <strong>da</strong> língua inglesa, não é qualifica<strong>do</strong> <strong>para</strong> entrar na sala<br />

de aula. O falante nativo precisa aprender a ensinar <strong>para</strong> saber ensinar.<br />

Concluin<strong>do</strong>, espero que este trabalho, ao usar a <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong> <strong>para</strong><br />

discutir a produção <strong>do</strong> inglês por <strong>do</strong>is sujeitos, nativo (americano) e não­nativo<br />

(brasileiro), possa servir de inspiração <strong>para</strong> o estu<strong>do</strong> aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong> língua nativa e<br />

<strong>da</strong> língua­alvo, consideran<strong>do</strong> principalmente as diferenças prosódicas entre ambas<br />

na formação <strong>do</strong>s futuros professores de inglês (Rocca, 2003).<br />

193


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

“Some people imagine that intonation is the same<br />

for all languages, but this is not true. You must<br />

learn the shapes of the English tunes, and these may<br />

be quite different from the normal tunes of your<br />

own language; and you must learn the meanings of<br />

the English tunes, because they are important”.<br />

(O’Connor)


ABERCROMBIE, D. Problems and principles in language study. Lon<strong>do</strong>n:<br />

Longman, 1956.<br />

ABREU, L. S. A pronúncia no ensino de língua estrangeira: uma visão histórica.<br />

In: M.A.A. CELANI, Ensino de segun<strong>da</strong> língua: redescobrin<strong>do</strong> as origens: São<br />

Paulo: EDUC, p. 45­53,1997.<br />

ALBANO, Eleonora C; BARBOSA, Plínio A; GAMA­ROSSI, Aglael J. A;<br />

MADUREIRA, Sandra; SILVA, Adelaide. A interface fonética­fonologia e a<br />

interação prosódia­segmentos. In: Estu<strong>do</strong>s Lingüísticos XVII Anais de Seminários<br />

<strong>do</strong> GEL (Trabalhos apresenta<strong>do</strong>s no XLV Seminário/1997). São José <strong>do</strong> Rio Preto,<br />

UNE<strong>SP</strong>­IBILCE, p. 135­43, 1998.<br />

ALBANO, Eleonora C. O gesto e suas bor<strong>da</strong>s: esboço de uma fonologia acústico­<br />

ariculatória <strong>do</strong> português brasileiro. Campinas: Merca<strong>do</strong> de Letras, 2001.<br />

AVERY, P.; EHRLICH, S. Teaching American English Pronunciation. Oxford:<br />

Oxford University Press, 1992.<br />

BAMGBOSE, A. Torn between the norms: innovations in world Englishes. World<br />

Englishes, 17 (1), p. 1­14, 1998.<br />

BAPTISTA, B. O. The Acquisition of English vowels by Brazilian Portuguese<br />

Speaker: Florianópolis: UFSC 2000.<br />

BARBOSA, P. A. Generating Duration from a Cognitively Plausible Model of<br />

Rhythm Production. Proceedings of the Seventh Conference on Speech<br />

194


Communication and Technology (Eurospeech 2001), Aalborg, Danemark,<br />

September 3­7, v. 2, 967­970, 2001.<br />

BECKMAN, M. E. Problems of intonation. Proceedings of the XIIIth International<br />

Congress of Phonetic Sciences. Sweeden, I. p. 450­457, 1995.<br />

BEST, C. T. A direct realist view of cross­language speech perception. In: W.<br />

Strange, (Ed.) Speech Perception and Linguistic experience: Theoretical and<br />

Metho<strong>do</strong>logical Issues. York Press, Timonium, MD, p. 171­204, 1995.<br />

BISOL, Le<strong>da</strong>. Introdução a estu<strong>do</strong>s de fonologia <strong>do</strong> português brasileiro. Porto<br />

Alegre: EDI<strong>PUC</strong>RS, 1996.<br />

BLAIR, R. W. Innovative Approaches.New York: Newbury, 1991.<br />

BLOOMFIELD, L. Language. New York: Holt, 1933.<br />

CAMARGO, Z.A. Análise <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de vocal de um grupo de indivíduos<br />

disfônicos: uma abor<strong>da</strong>gem interpretativa e integra<strong>da</strong> de <strong>da</strong><strong>do</strong>s de natureza<br />

acústica, perceptiva e eletroglotográfica. Tese de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>. LAEL, <strong>PUC</strong><strong>SP</strong>, 2002.<br />

CASTILHO, F.A.R.O. Questões de pronúncia em língua inglesa: fatores<br />

desencadeantes <strong>da</strong> percepção <strong>do</strong> sotaque brasileiro de língua inglesa em relação à<br />

produção <strong>do</strong>s sons fricativos alveolares. Dissertação de mestra<strong>do</strong>. São Paulo,<br />

Programa de Lingüística Aplica<strong>da</strong> e Estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Linguagem, <strong>PUC</strong>­<strong>SP</strong>, 2004.<br />

195


CATFORD, J. Intelligibility. English Language Teaching Journal, 1 (1), p. 7­15,<br />

1950.<br />

CELCE­MURCIA, M.; BRINTON, D.M.; Goodwin, J.M. Teaching Pronunciation<br />

– A reference for teachers of English to speakers of other languages. Cambridge:<br />

Cambridge University Press, 1996.<br />

CHOMSKY, C. Reading, writing, and phonology. Harvard Educational Review,<br />

1970.<br />

CRISTÓFARO­SILVA, Thaïs. Pronúncia <strong>do</strong> inglês: <strong>para</strong> falantes <strong>do</strong> português<br />

brasileiro: os sons. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2005.<br />

CRUTTENDEN, Alan. Intonation. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.<br />

CRUZ, N. C. An exploratory study of pronunciation intelligibility in the Brazilian<br />

learner’s English. The E<strong>SP</strong>ecialist, vol. 24, n. 2, p.155­175, 2003.<br />

CRYSTAL, David. Prosodic systems and Intonation in English. Harmondsworth:<br />

Penguin, 1969.<br />

_______________. The English Language. Harmondsworth:Penguin, 1985.<br />

_______________. The Cambridge Encyclopedia of the English Language.<br />

Cambridge, England: Cambridge University Press, 1995A.<br />

196


CRYSTAL, T.H. e HOUSE, A.S. Segmental durations in connected speech<br />

signals: preliminary results. Journal of the Acoustical Society of America 72, 3, p.<br />

705­716, 1982.<br />

DALTON, C.; e SEIDLHOFER, B. Pronunciation. Oxford: Oxford University<br />

Press, 1995.<br />

DEKEYSER, Robert. The obustness of critical period effects in second language<br />

acquisition. Studies in Second language Acquisition, p. 499­534, 2000.<br />

DELGADO­MARTINS, M.R. <strong>Fonética</strong> <strong>do</strong> Português: Trinta anos de<br />

investigação. Lisboa: Caminho, 2002.<br />

DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. The Landscape of Qualitative research –<br />

Theories and Issues. Lon<strong>do</strong>n: Sage Publications, 1988.<br />

ELLIS, Rod. The study of Second Language Acquisition. Oxford: oxford University<br />

Press, 1994.<br />

EYSENCK, M.W.; KEANE, M. T. Psicologia Cognitiva. Um Manual Introdutório.<br />

Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.<br />

FANT, G. Speech sounds and features. Cambridge, The MIT Press, 1973.<br />

FLEGE, J. E. Phonetic Approximation in Second Language Acquisition. Language<br />

Learning. 1980.<br />

197


___________. Second language speech learning: theory, findings and problems. In:<br />

Strange, W. (Ed.). Speech perception and linguistic experience: theoretical and<br />

metho<strong>do</strong>logical Issues. Timonium, MD: York Press, p. 233­277, 1995.<br />

FOWLER, Carol A e SALTZMAN, Elliot. Coordination and coarticulatio in<br />

speech production. Language and Speech. V. 36, p. 171­195, 1993.<br />

GAMA­ROSSI, A.J.A. Relações entre desenvolvimento lingüístico e neuromotor:<br />

A acquisição <strong>da</strong> duração no Português Brasileiro. Tese (Doutora<strong>do</strong> em<br />

Lingüística) – Instituto de Estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Linguagem. Universi<strong>da</strong>de Estadual de<br />

Campinas: Campinas,1999.<br />

GAMA­ROSSI, A.J.A. e SILVA, Adelaide. Critérios Lingüísticos <strong>para</strong> a<br />

elaboração de listas de palavras no português brasileiro.Grupos de estu<strong>do</strong>s<br />

Lingüísticos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo (GEL), 2001.<br />

HARDCASTLE, W. J. e HEWLETT, N. Coarticulation: Theory, Data and<br />

Techniques. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.<br />

HAYCRAFT, B. Phonology and Initial teacher Training. In: Duff, T (ed.),<br />

Explorations in Teacher Training, p. 64­71.<br />

HERNANDORENA, Carmen LM. Introdução à teoria fonológica. In: BISOL, Le<strong>da</strong><br />

(org.). Introdução a estu<strong>do</strong>s de fonologia <strong>do</strong> português brasileiro. São Paulo,<br />

EDI<strong>PUC</strong>RS: 1996.<br />

198


HIRST, D. e DI CRISTO, A. A survey of intonation Systems. In: Hirst, D.; Di<br />

Cristo, A. (eds.). Intonation Systems: a survey o twenty languages, p. 1 – 44.<br />

Cambridge: Cambridge University Press, 1998.<br />

JAKOBSON, Roman. Fonema e Fonologia Ensaios. Seleção, tradução e notas com<br />

um estu<strong>do</strong> sobre o Autor, por J. Mattoso Câmara Jr. Série Filologia e Lingüística,<br />

vol. 2. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1972.<br />

JAKOBSON, Roman; HALLE, M. Fun<strong>da</strong>mentals of language. La Haya, Mouton,<br />

1971, 2ª ed. Revisa<strong>da</strong> (trad. esp. de C. Piera, Fun<strong>da</strong>mentos del language, Madrid,<br />

Ciencia Nueva, 1967). Barcelona:Anthropos, 1956.<br />

JAMES, C. Errors in language learning and use: Exploring error analysis.<br />

Lon<strong>do</strong>n: Longman, 1998.<br />

JENKINS, J. Native Speaker, Non­Native Speaker and English as a foreign<br />

Language: time for a change. IATEFL Newsletter, n. 131, p. 10­11, 1996.<br />

___________. Phonology of English as an International Language: new Models,<br />

new forms, new goals. Oxford: Oxford University Press, 2000.<br />

JOHNSON, D.M. Approaches to Research in Second Language Learning.<br />

Longman, 1992.<br />

JONES, D. An outline of English phonetics. Cambridge: Cambridge University<br />

Press, 1976.<br />

199


KENT, R.D.; READ, C. The acoustic analysis of speech. California: Singular<br />

Publish Group, Inc., 1992.<br />

KENWORTHY, Joanne. Teaching English Pronunciation. Lon<strong>do</strong>n: Longman,<br />

1987.<br />

KRASHEN, S. D. Lateralization, language learning, and the critical period some<br />

new evidence. Language Learning, 23, p. 63­74, 1975<br />

KRASHEN, S.D.; TERREL, T. The Natural Approach. Pergamon, 1983.<br />

LADEFOGED, Peter. A Course in Phonetics. 3 rd ed. Lon<strong>do</strong>n: Harcourt Brace<br />

Jovanich, Inc., 1993.<br />

__________________. Elements of acoustic phonetics. Chicago: Chicago<br />

University Press, 1996.<br />

LADO, R. Language, teaching: a scientific approach. New York: McGraw­Hill,<br />

1964.<br />

LAVER, J. Principles of Phonetics. Cambridge: Cambridge University Press, 1994.<br />

LENNEBERG, E. The biological foun<strong>da</strong>tions of language. New York: John Wiley,<br />

1967.<br />

LEVELT, W.J.M. Speaking – from Intention to Articulation. 5 th ed. Cambridge,<br />

The MIT Press, 1998.<br />

200


LIEFF, C. D. From Pronunciation awareness to Effective Classroom Action. Speak<br />

Out – Newsletter of the LATEFL Pronunciation Special Interest Group, n. 19,<br />

1996.<br />

____________. O ensino <strong>da</strong> pronúncia <strong>do</strong> inglês numa abor<strong>da</strong>gem reflexiva. In:<br />

Celani, M.A.A. (org.). Professores e Forma<strong>do</strong>res em Mu<strong>da</strong>nça: Relato de um<br />

processo de reflexão e transformação <strong>da</strong> prática <strong>do</strong>cente. Campinas: Merca<strong>do</strong> de<br />

Letras, 2003.<br />

LIEFF.C. D.; NUNES, Z. A. A. English pronunciation of the Brazilian learner.<br />

How to cope with language transfer – Speak out! 12, 22­27, 1993.<br />

LLISTERRI, J. Introducción a la fonética: el méto<strong>do</strong> experimental. Barcelona:<br />

anthropos, 1991.<br />

MADUREIRA, S. Entoação e síntese de fala: modelos e parâmetros. In: Scarpa, E.<br />

M. (org.).Estu<strong>do</strong>s de prosódia. Campinas: UNICAMP, Campinas, 1999.<br />

MALMBERG, Bertil. A fonética – no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sons <strong>da</strong> linguagem. Lisboa, 1954.<br />

MASCHERPE, M. Análise com<strong>para</strong>tiva <strong>do</strong>s sistemas fonológicos <strong>do</strong> Inglês e <strong>do</strong><br />

Português. São Paulo: empresa Gráfica <strong>da</strong> revista <strong>do</strong>s Tribunais S.A, 1970.<br />

MASSINI, G. A duração no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> acento e ritmo <strong>do</strong> português. Dissertação<br />

(mestra<strong>do</strong>) – Instituto de Estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Linguagem, Universi<strong>da</strong>de Estadual de<br />

Campinas:Campinas, 1991.<br />

201


MATEUS, M. H. M.; ANDRADE, A.; VIANA, M. C.; VILLALVA, A. (org.).<br />

<strong>Fonética</strong>, Fonologia e Morfologia <strong>do</strong> Português. Lisboa: Universi<strong>da</strong>de Aberta,<br />

1990.<br />

MEDGYES, P. The non­native teacher. Lon<strong>do</strong>n: Macmillan, 1994.<br />

MENEZES, Marcello de.; BRITO, Otávio de. Fun<strong>da</strong>mentals of English Phonology.<br />

São Paulo: Pró­ciência, 1982.<br />

MORLEY, J. Current perspectives on Pronunciation. Washington DC: Tesol,<br />

1987.<br />

MORRISON, G. S. Perception of English /i/ and /I/ by Japanese and Spanish<br />

Listeners: Longitudinal results. In: NWLC Spanish 2002. Proceedings NWLC 2002<br />

A.<br />

MOTTA MAIA, Eleonora. No reino <strong>da</strong> fala – a linguagem e seus sons. São Paulo:<br />

Ática, 1985.<br />

NE<strong>SP</strong>OR, M.; VOGEL, I. Prosodic Phonology. Dordrecht: Foris, 1986.<br />

NUNAN, D. Research Methods in Language Learning. Cambridge: CUP, 1002.<br />

NUNES, Z. A. A. Um estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s grupos assilábicos iniciais e finais em inglês e<br />

português, dissertação de mestra<strong>do</strong>. <strong>PUC</strong><strong>SP</strong>, 1987.<br />

202


O’CONNOR, J. D. Better English Pronunciation. Cambridge: Cambridge<br />

University Press, 1967.<br />

ODLIN, Terence. Language Transfer, Cross­linguistic influence in language<br />

learning. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.<br />

O’NEIL, R. The Plausible Myth of Learner – centredness: or the importance of<br />

<strong>do</strong>ing ordinary things well. English Language teaching journal, vol. 45, 1991.<br />

PERINI, M. A. Sofren<strong>do</strong> a Gramática. São Paulo: Editora Ática, 2001.<br />

PHILLIPSON, Q. Linguistic Imperialism. Oxford, England.: Oxford Univerwsity<br />

Press, 1992.<br />

PICCIN, I. M. O ensino de pronúncia <strong>do</strong> inglês: uma análise sincrônica de livros<br />

didáticos. Dissertação de mestra<strong>do</strong>. São Paulo, Programa de Lingüística Aplica<strong>da</strong> e<br />

Estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Linguagem, <strong>PUC</strong>­<strong>SP</strong>, 2003).<br />

PIERREHUMBERT, J. The phonology and phonetics of English intonation. PH. D.<br />

Dissertation, Cambridge: Cambridge: MA­M.I.T Press, 1980.<br />

POLACZEK, Márcia. Compreensão Oral em Língua Estrangeira: Aspectos<br />

Psicolingüísticos, Fatores, Fonético­Fonológicos e Questões de Ensino­<br />

Aprendizagem. Dissertação de mestra<strong>do</strong>. São Paulo, Programa de Lingüística<br />

Aplica<strong>da</strong> e Estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Linguagem, <strong>PUC</strong>­<strong>SP</strong>, 2003.<br />

203


POW, E. M. De jazi<strong>da</strong>s, garimpos e artífices: a formação fonológica <strong>do</strong> professor<br />

e sua identi<strong>da</strong>de profissional. Dissertação de mestra<strong>do</strong>: São Paulo, Programa de<br />

Lingüística Aplica<strong>da</strong> e Estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Linguagem, <strong>PUC</strong>­<strong>SP</strong>, 2003.<br />

RICHARDS, J.C.; RODGERS, T.S. Approaches and methods in Language<br />

Teaching. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.<br />

ROCCA, P. D. A. A tecnologia <strong>da</strong> fala aplica<strong>da</strong> ao ensino de entoação <strong>da</strong> língua<br />

inglesa <strong>para</strong> falantes nativos de língua Portuguesa. Tese de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>: São Paulo,<br />

Programa de Lingüística Aplica<strong>da</strong> e Estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Linguagem, <strong>PUC</strong>­<strong>SP</strong>, 2003.<br />

SAUSSURE, F. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Editora Cultrix, 1969.<br />

SCHMITZ, J. R. Globalization, world Englishes and Brazil: A language Policy for<br />

the 21 th century. Disponível na Internet no endereço:<br />

http://www.pucsp.br/pos/lael/cepril/publicações/newsletter/2004/. Acessa<strong>do</strong> em 3<br />

de julho de 2006.<br />

SCHÜTZ, R. “Ritmo e o fenômeno de redução <strong>da</strong>s vogais em inglês”. English<br />

made in Brasil < http://www.sk.com.br/sk ­ reduc. html>. Online. [captura<strong>do</strong> em<br />

September 25, 2005].<br />

SCLIAR­CABRAL, L. Introdução à Psicolingüística. São Paulo: Editora Ática,<br />

2003.<br />

204


SCOVEL, T. Foreign Accents, Language Acquisition and Cerebral Dominance. In:<br />

language learning, v. 19, p. 245­254, 1969.<br />

SEIDLHOFER, B. Double Stan<strong>da</strong>rds: teacher education in the expanding circle.<br />

World Englishes 18/2: 223­45, 1999.<br />

SELINKER, L. Interlanguage. In: J.C.Richards, (ed.). Error analyses: perspectives<br />

on second language acquisition. Lon<strong>do</strong>n: Longman, 1972.<br />

SELKIRK, E. O. Phonology and Syntax: The Relation between sound and<br />

structure. Cambridge, Massachusetts: MIT Press, 1984.<br />

SEVERINO, A. J. Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> Trabalho Científico. 2 nd . ed . São Paulo: Editora<br />

Cortez, 2003.<br />

SKINNER, B.F. Verbal Behavior. New York: Appleton–Century­Crofts, 1957.<br />

STAKE, R. E. Case Studies. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (eds). The<br />

Landscape of Qualitative Research – Theories and Issues. Lon<strong>do</strong>n: Sage<br />

Publications, 1998.<br />

STRANGE, W. Speech input and the development of speech perception. In: Otitis<br />

media and child development (J. F. Kavanagh, editor). Parkton, MD: York Press,<br />

1995.<br />

TAYLOR, K. Effects of learning English as a second language. Cambridge:<br />

Cambridge University Press, 1991.<br />

205


TENCH, Paul. Pronunciation Skills. Lon<strong>do</strong>n: Macmillan Press, 1981.<br />

UNDERHILL, A. Sound Foun<strong>da</strong>tions. Heineman, 1994.<br />

WEI, Li. The Bilingualism Reader. Lon<strong>do</strong>n: Routledge, 2000.<br />

WIDDOWSON, H.G. Teaching language as communication. Lon<strong>do</strong>n: Oxford<br />

University Press, 1998.<br />

206


ANEXOS


ANEXO 1 – Termo de consentimento<br />

Termo de consentimento livre e esclareci<strong>do</strong><br />

Declaro que os objetivos <strong>da</strong> gravação por mim realiza<strong>da</strong> em 26 de julho de 2005, no<br />

Estúdio de Rádio e TV <strong>da</strong> <strong>PUC</strong><strong>SP</strong>, sob coordenação <strong>do</strong> técnico de estúdio Ernesto Foschi,<br />

foram­me explicita<strong>do</strong>s pela mestran<strong>da</strong> Assunta Manzi Aguena, a qual a utilizará <strong>para</strong> fins<br />

exclusivos de sua dissertação de mestra<strong>do</strong> e <strong>do</strong>s trabalhos dela decorrentes <strong>para</strong> apresentação em<br />

congresso ou publicação, dissertação intitula<strong>da</strong> <strong>Contribuições</strong> <strong>da</strong> <strong>Fonética</strong> <strong>Acústica</strong> <strong>para</strong> a<br />

formação <strong>do</strong> professor de inglês: um estu<strong>do</strong> de caso, realiza<strong>da</strong> sob orientação <strong>da</strong> Profa. Dra.<br />

Aglael Gama Rossi, no Programa de Estu<strong>do</strong>s Pós­Gradua<strong>do</strong>s em Lingüística Aplica<strong>da</strong> e Estu<strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong> Linguagem (LAEL), <strong>da</strong> Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica de São Paulo.<br />

No que concerne à minha identificação, foi­me assegura<strong>do</strong> que apenas sexo, i<strong>da</strong>de,<br />

procedência, formação acadêmica e experiência profissional serão utiliza<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> meu nome<br />

substituí<strong>do</strong> por sigla não correspondente a ele.<br />

Consinto que a gravação por mim realiza<strong>da</strong> seja incorpora<strong>da</strong> ao Banco de Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

Laboratório Integra<strong>do</strong> de Análise <strong>Acústica</strong> e Cognição (LIAAC), <strong>da</strong> <strong>PUC</strong><strong>SP</strong>, coordena<strong>do</strong> pela<br />

Profa. Dra. Sandra Madureira, <strong>para</strong> fins exclusivos de pesquisa, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> informa<strong>da</strong> de<br />

antemão que os responsáveis pelo Banco de Da<strong>do</strong>s zelarão pelo uso e aplicabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> gravação<br />

exclusivamente <strong>para</strong> fins científico­acadêmicos.<br />

Foi­me ain<strong>da</strong> esclareci<strong>do</strong> que a qualquer momento posso declinar deste consentimento<br />

<strong>para</strong> o uso <strong>da</strong> gravação por mim realiza<strong>da</strong> na dissertação de Assunta Manzi Aguena e/ou <strong>da</strong><br />

inclusão <strong>da</strong> gravação no Banco de <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> LIAAC.<br />

Profa. Dra. Aglael J. A. Gama Rossi. Mestran<strong>da</strong> Assunta Manzi Aguena<br />

Departamento de Lingüística Professora <strong>da</strong>s Facul<strong>da</strong>des Integra<strong>da</strong>s de<br />

Laboratório Integra<strong>do</strong> de Análise <strong>Acústica</strong> Ribeirão Pires<br />

e Cognição (LIAAC) E­mail: asmanziag@uol.com.br<br />

Programa de Estu<strong>do</strong>s Pós­Gradua<strong>do</strong>s em Telefone <strong>para</strong> contato:<br />

Lingüística Aplica<strong>da</strong> e Estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Residência: (11) 45784627<br />

Linguagem (LAEL) Trabalho (FIRP) (11) 48282820<br />

Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica de RG: 16683715<br />

São Paulo (<strong>PUC</strong><strong>SP</strong>) CIC: 069443318­70<br />

E­mail: gamarossi@uol.com.br<br />

Telefones <strong>para</strong> contato:<br />

Residência (11) 55755570<br />

LIAAC (11) 36708333<br />

RG: 11169576 (S<strong>SP</strong>­<strong>SP</strong>)<br />

CIC: 085158558­28<br />

_______________________________<br />

Assinatura <strong>do</strong> sujeito participante<br />

São Paulo, 26 de julho de 2005.<br />

207


ANEXO 2 – Corpus de pesquisa<br />

Sentença 01 ­ 12 is our number.<br />

Sentença 02 ­ It´s the number of games my husband Tom coaches at Lincoln<br />

College every season.<br />

Sentença 03 ­ It´s the number of times we zero out our bank account each year.<br />

Sentença 04 ­ And it´s the number of kids we try to keep track of.<br />

Sentença 05 ­ 12´s an insane number of kids, but having a small family was never<br />

an option for us.<br />

Sentença 06 ­ You see, Tom loved growing up with seven brothers and sisters.<br />

Sentença 07 ­ And after my sister died, I spent most of my time wishing I had<br />

seven brothers and sisters.<br />

Sentença 08 ­ Tom and I met at Illinois Polytechnic University.<br />

Sentença 09 ­ He was a senior, dreaming of becoming the football coach<br />

Sentença 10 ­ I was a freshman dreaming of becoming a sports reporter.<br />

Sentença 11 ­ He wanted eight kids. I wanted eight kids.<br />

Sentença 12 ­ An hour after I met him I knew he was the one.<br />

208


Sentença 13 ­ We just had family at the wedding and Shake Maguire, Tom´s best<br />

man.<br />

Sentença 14 ­ What a hot <strong>do</strong>g!<br />

Sentença 15 ­ A year later we had our first <strong>da</strong>ughter – Nora.<br />

Sentença 16 ­ I loved taking her to work with me.<br />

Sentença 17 ­ After Charlie and Louraine, we realized living in the city.<br />

Sentença 18 ­ And having eight kids and two careers wasn´t going to work.<br />

Sentença 19 ­ As much as we wanted our big careers, we wanted our big family<br />

more<br />

Sentença 20 ­ So Tom settled for coaching at Lincoln.<br />

Sentença 21 ­ I quit writing for the Tribune, and we moved to the country.<br />

Sentença 22 ­ Tom and I got busy in Midland.<br />

Sentença 23 ­ We had Henry, Sarah, Jake and Mark in consecutive years.<br />

Sentença 24 ­ Then we went for magic number eight, and instead got the first set<br />

of twins ­Jessica and Kin<br />

Sentença 25 ­ nine kids<br />

209


Sentença 26 ­ with each child, Tom and I got further from our big career dreams<br />

Sentença 27 ­ but we didn´t think about that<br />

Sentença 28 ­ we had our hands full with nine, we were happy, and we were <strong>do</strong>ne<br />

Sentença 29 ­ We went to a party for Shake´s appointment to athletic director at<br />

our alma mater.<br />

.<br />

Sentença 30 ­ And too many beers and nine months later we had Mike<br />

Sentença 31 ­ After that, Tom got a vasectomy.<br />

Sentença 32 ­ but he didn´t hear the <strong>do</strong>ctor say it would be a few weeks before it<br />

became effective.<br />

Sentença 33 ­ In ´98, Nigel and Kyle got us to that crazy number 12.<br />

Sentença 34 ­ By then, Tom and I were experts at managing chaos<br />

Sentença 35 ­ I guess you could say that when Tom and I left Midland, we had a<br />

mess of theories about how to raise children.<br />

Sentença 36 ­ We still have a mess of children, but no theories.<br />

Sentença 37 ­ 12 is still our number.<br />

Sentença 38 ­ It´s the number of months my book was on the bestseller list.<br />

210


Sentença 39 ­ It´s the number of job offers Tom turned <strong>do</strong>wn before we found one<br />

close to home.<br />

Sentença 40 ­ And each <strong>da</strong>y it´s the number of times I´m thankful there´s such a<br />

thing as family.<br />

211


ANEXO 3 – Classificação <strong>do</strong>s sons consonantais em português e em inglês<br />

Classificação <strong>da</strong>s consoantes em português<br />

Bilabial Lábio­ Dental/ Palato­ Palatal Velar<br />

dental<br />

alveolar<br />

alveolar<br />

Plosivas p b t d k g<br />

Nasais m n<br />

Laterais l<br />

Vibrantes<br />

(múltiplas)<br />

Flapes ſ<br />

Fricativas f v s z ∫<br />

Africa<strong>da</strong>s<br />

Semivogal j w<br />

Bila­<br />

bial<br />

Classificação <strong>da</strong>s consoantes <strong>do</strong> inglês americano<br />

Lábio­<br />

dental<br />

Inter­<br />

dental<br />

r<br />

Álveo­<br />

lar<br />

Retro­<br />

flexa<br />

Alvéolo­<br />

palatal<br />

Stop p b t d k g<br />

Velar Glottal<br />

Fricative f v θ ð s z ∫ h<br />

Affricate<br />

Nasal m n ŋ<br />

Liquid l r<br />

Glide w j w<br />

212

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!