Hora de jogar pelo empate - Crea-ES
Hora de jogar pelo empate - Crea-ES
Hora de jogar pelo empate - Crea-ES
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
esponsabilida<strong>de</strong>, vonta<strong>de</strong> e consciência.<br />
“É uma contradição com que a cida<strong>de</strong> precisa<br />
apren<strong>de</strong>r a lidar. Não se po<strong>de</strong> impedir o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
econômico, e sim buscar o compromisso <strong>de</strong><br />
todos os interessados, chegando a um acordo que<br />
garanta a cida<strong>de</strong> lar, mas também a cida<strong>de</strong> negócio,<br />
geradora <strong>de</strong> renda e emprego”, pontua o professor<br />
da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo (Ufes) e<br />
presi<strong>de</strong>nte do Instituto <strong>de</strong> Arquitetos do Brasil no<br />
Espírito Santo (IAB-<strong>ES</strong>), Arq. Marco Romanelli.<br />
Para ele, sempre existe uma saída e é preciso<br />
negociar, para que cada parte entenda que existe<br />
o outro lado, que <strong>de</strong>ve ser respeitado. “Tem <strong>de</strong><br />
abrir mão <strong>de</strong> algum aspecto”, afirma. Consciência<br />
que, segundo Romanelli, <strong>de</strong>ve ser aplicada<br />
tanto nos casos <strong>de</strong> ameaças a patrimônios históricos<br />
e culturais mais representativos, como em<br />
intervenções menores.<br />
A arquiteta e urbanista Renata Hermanny <strong>de</strong><br />
Almeida, professora da Ufes, com mestrado e<br />
doutorado em Conservação e Restauro, acredita<br />
que é possível estabelecer pactos entre os agentes<br />
produtores, partindo do questionamento sobre<br />
qual o limite <strong>de</strong> transformação das cida<strong>de</strong>s.<br />
“As mudanças são inevitáveis, mas não signi-<br />
REVISTA TÓPICOS - MARÇO/ABRIL - 2009<br />
ficam <strong>de</strong>struição. Se há diálogo, há também dinâmica<br />
na transformação”, <strong>de</strong>staca Renata.<br />
Entretanto, é preciso mudar a mentalida<strong>de</strong> da<br />
socieda<strong>de</strong>. De acordo com a professora, hoje os<br />
instrumentos técnicos e científicos são muito<br />
mais disponíveis do que em outros momentos<br />
históricos, mas ainda não existem<br />
agentes <strong>de</strong>mocratizando o processo<br />
<strong>de</strong> gestão nem preparo do Legislativo<br />
para atuar na gestão das<br />
cida<strong>de</strong>s, em geral, além da existência<br />
<strong>de</strong> jogo político e econômico,<br />
que acaba <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo interesses<br />
<strong>de</strong> uma minoria.<br />
“É uma correlação <strong>de</strong> forças até<br />
mesmo <strong>de</strong>sigual: o mercado forte<br />
contra a comunida<strong>de</strong> já fragilizada,<br />
<strong>de</strong>sarticulada”, enfatiza.<br />
Para Renata, cada cidadão <strong>de</strong>ve<br />
se posicionar sobre as questões que tratam a cida<strong>de</strong>,<br />
impedindo que o espaço seja produzido <strong>de</strong><br />
maneira exclu<strong>de</strong>nte.<br />
“As ações <strong>de</strong> preservação são consi<strong>de</strong>radas a<br />
contramão do <strong>de</strong>senvolvimento econômico, como<br />
se dissessem: “É preciso proteger, porque o cres-<br />
cimento é negativo”. Mas isso tem <strong>de</strong> mudar, invertendo<br />
a lógica da produção do espaço. A preservação<br />
tem <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminante do processo. É difícil,<br />
mas necessário, em nome da coletivida<strong>de</strong>”.<br />
O gerente <strong>de</strong> Memória e Patrimônio da Secult,<br />
Valdir Castiglioni Filho, também acredita que a<br />
própria formação do País se reflete<br />
nessa mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não se preservarem<br />
os bens históricos e culturais.<br />
“O <strong>de</strong>senvolvimento econômico<br />
não justifica a <strong>de</strong>struição. É preciso<br />
respeitar o tempo, a memória. Pensar<br />
<strong>de</strong> forma coletiva: não o particular<br />
em <strong>de</strong>trimento do público, e não<br />
só o patrimônio em si, mas também<br />
o seu entorno”, reflete.<br />
Segundo Castiglioni, em muitas<br />
Arq. Renata Hermanny<br />
cida<strong>de</strong>s coloniais da Europa é possível<br />
fazer uma viagem no tempo<br />
apenas caminhado <strong>pelo</strong> espaço e i<strong>de</strong>ntificando<br />
as construções e suas características. O que, no<br />
Brasil, se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> outra maneira.<br />
“Atualmente, tem-se impactado muito mais,<br />
embora as intervenções existam há muito tempo,<br />
consolidando a <strong>de</strong>scaracterização dos espaços”.<br />
23