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PT<br />

2<br />

<strong>Cardozo</strong> encerra mandato<br />

na Câmara e assume<br />

pasta da Justiça<br />

3<br />

União do PT por Dilma<br />

e a vitória da 1ª presidente<br />

mulher<br />

4<br />

Atuação de <strong>Cardozo</strong> na<br />

Câmara foi premiada<br />

e ganhou destaque<br />

5<br />

<strong>Cardozo</strong> deixa Secretaria<br />

Geral do PT<br />

6<br />

Reforma Política: é preciso<br />

envolvimento da sociedade<br />

7<br />

Brasil vive apartheid etário<br />

8<br />

Desafios no Ministério<br />

da Justiça<br />

Boletim do Mandato – Dezembro.2010


No início de 2010, após 16 anos de<br />

atuação como parlamentar, o deputado<br />

federal <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong> (PT-SP)<br />

anunciou que não se candidataria mais a<br />

um cargo no parlamento.<br />

Recém-anunciado como o novo Minis-<br />

tro da Justiça do governo Dilma Rousseff,<br />

<strong>Cardozo</strong> é um dos deputados com grande<br />

destaque no Congresso Nacional. Recebeu<br />

premiações importantes como a do<br />

Congresso Em Foco e obteve índices respeitáveis<br />

de avaliação, sendo apontado<br />

anualmente como um dos Cabeças do<br />

Congresso, reconhecimento concedido<br />

pelo DIAP (Departamento Intersindical<br />

de Assessoria Parlamentar).<br />

Chegou à decisão de não mais disputar<br />

eleição depois de muita reflexão e de afirmação<br />

que, segundo ele, demorou muito<br />

tempo e passou por muitas contradições.<br />

Ele conta que a atitude foi tomada não<br />

por uma decepção com o parlamento,<br />

tampouco com a participação dele como<br />

parlamentar, mas sim por uma decepção<br />

com o sistema político brasileiro.<br />

O alto custo de campanhas e as dificuldades<br />

do processo eleitoral contribuíram.<br />

“Eu pensei já quando disputava minha<br />

última eleição: se não mudar o sistema<br />

político, essa será a ultima eleição proporcional<br />

que eu participo. Não me dá prazer<br />

participar de uma eleição com as regras<br />

atuais, que encarecem a campanha, que<br />

geram relações complicadas com doadores,<br />

que são tão burocratizadas que um<br />

candidato absolutamente honesto, republicano<br />

e ético pode perder seu mandato<br />

Gabinete Deputado <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong><br />

Câmara dos Deputados Anexo IV Gab. 719<br />

Brasília/DF - CEP 70160-900 – Tel.: (61) 3215-5719<br />

Site: www.joseeduardocardozo.com.br<br />

E-mail: contato@joseeduardocardozo.com.br<br />

Paradoxo de<br />

incertezas e sucesso<br />

Dezesseis anos separam o ingresso de <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong><br />

<strong>Cardozo</strong> na política do anúncio como o novo Ministro<br />

da Justiça. Anos difíceis, mas que consolidaram um<br />

caminho de sucesso e conquistas<br />

por descumprimento de normas que, muitas vezes, não tem como controlar.<br />

É um sistema perverso, desestimulante”, diz.<br />

O começo da vida parlamentar por um voto. O início da carreira política<br />

do deputado foi conturbado. Votação inexpressiva, dúvidas quanto à capacidade<br />

para exercer o cargo e questionamentos marcaram alguns períodos da<br />

trajetória de <strong>Cardozo</strong>. Tudo começou quando ele perdeu a primeira eleição<br />

para vereador da Câmara Municipal de São Paulo e ficou como segundo<br />

suplente. Depois da metade da gestão do então prefeito Paulo Maluf, <strong>Cardozo</strong><br />

assumiu como vereador da oposição num mandato curioso: ganhou por<br />

apenas um voto. O terceiro suplente era o atual deputado Carlos Zarattini.<br />

“Eu tenho absoluta certeza de que esse “um voto” mudou completamente o<br />

rumo da minha vida, porque dificilmente eu disputaria outra eleição se eu<br />

não tivesse assumido naquele momento um mandato de vereador”, conta.<br />

A CPI da Máfia dos Fiscais e o ingresso na esfera federal. Quando estava<br />

no segundo mandato de vereador, <strong>Cardozo</strong> conta que se sentia desestimulado.<br />

“Havia muita corrupção, e eu me sentia impotente para combater aquilo.<br />

Quando pedi a CPI da Máfia das Propinas nunca acreditei que poderia ser<br />

aprovada. E me recordo que naquele momento alguns vereadores diziam que<br />

aquilo só poderia ser uma piada. E que como a CPI se voltava a investigar vereadores,<br />

eu não conseguiria aprovar mais nada. Mas uma pressão da sociedade<br />

fez com que a CPI se concretizasse. O resultado foi muito bom, com a cassação<br />

de parlamentares envolvidos. Isso me levou à presidência da Câmara”, diz.<br />

Dois anos depois, um novo projeto federal estava se desenhando com a<br />

candidatura do presidente Lula à Presidência da República. E <strong>Cardozo</strong> optou<br />

por participar desse projeto. Foi o segundo deputado federal mais votado do<br />

PT no Estado, com 300 mil votos.<br />

Nesses oito anos, <strong>Cardozo</strong> participou ativamente do projeto de transformação<br />

do governo Lula. Foi subrelator da CPMI dos Correios, presidente<br />

da Comissão Especial da Reforma do Judiciário, relator do Ficha Limpa, na<br />

CCJC (Comissão de Constituição Justiça e Cidadania), entre outras atividades<br />

de destaque. “Foi um governo desafiador, foram lutas encarniçadas<br />

com setores que não queriam que o governo desse certo. Lula sai como um<br />

líder nacional com 80% de aceitação, sai reconhecido internacionalmente<br />

como ‘o cara’ pelo presidente Obama, portanto foi um privilégio ter participado<br />

desse período”.<br />

Escritório Político<br />

Rua Ministro Godói, 444 - Perdizes - CEP 05015-000 - São Paulo/SP – Tel.: (11) 3675-7380<br />

Jornalista Responsável: Larissa C. Squeff - MTB 29.144<br />

Textos: Alessandro Soares, Bárbara Lobato, Larissa C. Squeff e Roger Hayas<br />

Diagramação e Arte: Paulo Falzoni Tiragem: 10.000 exemplares<br />

A união do PT e a<br />

eleição de Dilma<br />

Aceitação maciça no partido e união<br />

em torno da continuidade do projeto do<br />

governo Lula deram o tom da campanha<br />

de Dilma à Presidência<br />

A campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República pode ser<br />

considerada um marco na história do PT.<br />

Nesta eleição o que se viu foi um cenário diferente. Era a primeira<br />

eleição em que o partido disputava o mais alto cargo político brasileiro<br />

sem a presença de Lula como candidato. “O partido se uniu em torno<br />

de um objetivo comum. Para a esquerda brasileira, para esquerda latino-americana<br />

e não tenho nenhum receio de dizer, para a esquerda<br />

mundial, a vitória da continuidade do projeto do presidente Lula era<br />

algo de crucial importância, acima de quaisquer outras disputas”, ressalta<br />

o deputado <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong>.<br />

As mudanças que vêm acontecendo na América do Sul têm o Brasil<br />

como carro-chefe. O contexto em que isso se afirmou exigiu que o partido<br />

tivesse duas alternativas: ganhar ou ganhar. “Íamos perder para<br />

forças conservadoras que matariam nossos sonhos e nosso trabalho”,<br />

reitera <strong>Cardozo</strong>, que afirma que o nome de Dilma não enfrentou resistência<br />

alguma no partido.<br />

Processo eleitoral difícil, mas vitorioso. “Foi uma campanha difícil,<br />

como prevíamos. Eu só não previa o que aconteceu como situações de<br />

boatos, baixarias, simulações; tudo o que se pode imaginar aconteceu nessa<br />

campanha. Foi um processo eleitoral muito difícil, que me deixou bastante<br />

decepcionado, mas que também trouxe grande aprendizado”, conta o<br />

deputado, que foi um dos coordenadores da campanha ao lado do presi-<br />

Foto: Alan Marques/Folhapress<br />

“Dilma não enfrentou<br />

resistência no partido”<br />

dente do PT, <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> Dutra e do<br />

deputado federal Antonio Palocci.<br />

Reconhecimento internacional da<br />

presidenta Dilma. <strong>Cardozo</strong> esteve ao<br />

lado de Dilma em importantes visitas<br />

a chefes de Estado internacionais. O<br />

acolhimento da candidata foi algo que<br />

impressionou o deputado. “O primeiro<br />

encontro que tivemos foi com o presidente<br />

da França, o Nicolas Sarkozy;<br />

depois fomos recebidos pelo <strong>José</strong> Manuel<br />

Durão Barroso, presidente da<br />

Comunidade Européia; estivemos tam-<br />

bém com o <strong>José</strong> Luis Zapatero, presidente<br />

do Executivo da Espanha, e a<br />

recepção em todas as visitas foi excepcionalmente<br />

afetuosa, um respeito à<br />

política externa brasileira, enfim, uma<br />

coisa fantástica!”.<br />

O perfil da nova presidenta. Apesar<br />

de enfrentar alguns momentos<br />

estressantes e complicados durante a<br />

campanha, <strong>Cardozo</strong> conta que durante<br />

o período em que conviveu muito próximo<br />

da então candidata Dilma teve<br />

a oportunidade de conhecer seu lado<br />

pessoal. “Na vida política você tem as<br />

relações políticas e aquilo que se constrói<br />

no lado humano, da afetuosidade.<br />

Apesar de conhecer Dilma Rousseff<br />

como política, profissional, só tive a per-<br />

cepção dela como pessoa durante a<br />

campanha: é alegre, extremamente<br />

culta e divertida para ser uma companheira<br />

de viagem. Passei a respeitála<br />

em vários sentidos. Ela tem o gosto<br />

parecido com o meu, gosta de entrar<br />

numa livraria, de ficar procurando livros,<br />

biografias, falar de óperas, enfim,<br />

uma pessoa extremamente interessante<br />

para se conviver”, diz.<br />

2 3<br />

B o l e t i m d o M a n d a t o – D e z e m b r o . 2 0 1 0 B o l e t i m d o M a n d a t o – D e z e m b r o . 2 0 1 0


<strong>Cardozo</strong> apresentou e aprovou o Projeto<br />

de Lei sobre contratos de publicidade<br />

que foi sancionado esse ano pelo presidente<br />

Luiz Inácio Lula da Silva e já está<br />

em vigor (Lei 12232/2010). A lei estabelece<br />

regras para a contratação de agências<br />

de publicidade pelo Poder Público,<br />

reduzindo consideravelmente a possibilidade<br />

de irregularidades nos contratos. “A<br />

lei traz segurança e transparência e cria<br />

obstáculos objetivos para as conduções das<br />

licitações nessa área”, explica <strong>Cardozo</strong>. A<br />

lei foi concebida por <strong>Cardozo</strong> durante as<br />

investigações da Comissão Parlamentar<br />

Mista de Investigação (CPMI) dos Correios,<br />

da qual foi sub-relator.<br />

Transparência no Congresso: pelo fim<br />

do voto secreto. Defensor histórico do<br />

voto aberto em todas as casas legislativas,<br />

<strong>Cardozo</strong> foi relator na CCJ (Comissão<br />

de Constituição e Justiça e Cidadania) da<br />

PEC 349/2002 que acaba com o voto<br />

secreto nas deliberações da Câmara dos<br />

Deputados e do Senado Federal. <strong>Cardozo</strong><br />

já havia abolido o voto secreto na<br />

Câmara Municipal de São Paulo quando<br />

foi presidente da Casa. “A transparência<br />

e a publicidade dos atos dos agentes<br />

públicos permitem garantir um controle<br />

social efetivo sobre a atividade pública”,<br />

argumentou em seu texto, que foi aprovado<br />

em primeira votação na Câmara.<br />

Ainda na CCJC, <strong>Cardozo</strong> foi relator<br />

do Ficha Limpa (ver página 6), cujo texto<br />

foi integralmente aprovado no Plenário<br />

da Câmara.<br />

Democracia e participação popular.<br />

Facilitar a participação popular no processo<br />

político brasileiro. Esse é o objetivo<br />

da PEC (Projeto de Emenda Constitucional)<br />

nº 194/2003, de autoria de <strong>Cardozo</strong><br />

que modifica o critério definidor<br />

Foto: Paulo Negreiros<br />

Atuação reconhecida e<br />

projetos importantes<br />

O mandato do deputado federal <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong><br />

<strong>Cardozo</strong> foi marcado por uma forte atuação em<br />

importantes projetos que garantem princípios<br />

constitucionais, legalidade, moralidade e eficiência.<br />

do número de assinaturas necessárias para a apresentação de projetos de<br />

iniciativa popular nos Legislativos. Simplificando a fórmula atualmente vigente<br />

na Constituição, o projeto determina que o número de votos mínimos<br />

necessários para a eleição de um deputado federal, estadual ou vereador<br />

(quociente eleitoral) seja o parâmetro para o número de assinaturas<br />

necessárias para a apresentação de projetos de iniciativa popular.<br />

Promoção dos Direitos Humanos. Outro projeto de autoria de <strong>Cardozo</strong><br />

que merece destaque é o 4667/2004 que trata sobre os efeitos jurídicos<br />

das decisões dos Organismos Internacionais de Proteção aos Direitos Humanos.<br />

Tem objetivo de sanar as lacunas jurídicas entre a jurisdição dos<br />

organismos estabelecidos no âmbito da ONU e da Convenção Americana<br />

sobre Direitos Humanos e a jurisdição nacional. Salienta <strong>Cardozo</strong> que não<br />

é possível admitir-se que, mesmo depois da ratificação, o Brasil ainda não<br />

implemente as decisões e recomendações dessas instâncias. “O PL permite<br />

que a União assuma a responsabilidade pelo pagamento das indenizações<br />

quando assim for decidido pelos organismos podendo, no entanto, intentar<br />

ação regressiva contra o Estado da Federação, pessoa jurídica ou física que<br />

tenha sido responsável pelos danos causados à vítima”.<br />

Projeto sobre seguros. Com objetivo de atualizar as normas relativas aos<br />

seguros dando maior segurança na relação entre seguradoras e segurados, o<br />

parlamentar apresentou o PL 3555/2004 que estabelece normas gerais em<br />

contratos de seguro privado. “A regulamentação clara e precisa do contrato<br />

de seguro é uma exigência há muito por ser cumprida no país”, argumenta.<br />

Combatendo a corrupção eleitoral. <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong> também é<br />

autor do projeto de lei 2121/2007, que veda a doação de recursos para<br />

campanhas eleitorais por pessoas jurídicas. O PL visa fornecer novos contornos<br />

aos padrões de financiamento de campanhas eleitorais proporcionais<br />

e majoritárias. “Busca-se uma diminuição da participação do capital<br />

privado nos processos eleitorais, o que os tornaria mais baratos. Evita-se,<br />

por outro lado, que corporações ou empresas com grande movimentação<br />

de capital possam influir decisivamente no resultado final das eleições, a<br />

partir da doação de grande vulto de dinheiro para as campanhas, visando<br />

vantagens posteriores.”<br />

Premiações: Congresso em Foco e Cabeças do Congresso. A atuação<br />

de <strong>Cardozo</strong> foi reconhecida dentro e fora da Câmara. Durante os 8 anos<br />

em que esteve na Câmara dos Deputados, foi reconhecido por anos seguidos<br />

como um dos 100 Cabeças do Congresso, pelo DIAP (Departamento<br />

Intersindical de Assessoria Parlamentar) e pelo Congresso em Foco, em<br />

votação colhida entre jornalistas. Na atual legislatura, <strong>Cardozo</strong> registra 19<br />

proposições entre Lei e Projetos de Lei.<br />

<strong>Cardozo</strong> deixa a<br />

Secretaria Geral do PT e pede:<br />

momento é de união<br />

“Independentemente das disputas internas,<br />

devemos estar unidos em torno do governo Dilma ”<br />

O deputado <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong> é secretário geral do Partido<br />

dos Trabalhadores. O Código de Ética do partido, elaborado por ele,<br />

impede o acúmulo de cargo no Poder Executivo com cargos na Executiva<br />

Nacional do Partido.<br />

Por esse motivo, <strong>Cardozo</strong> deve deixar a secretaria geral do partido<br />

durante o período em que estiver à frente do Ministério da Justiça. “O<br />

PT nomeará um novo membro para suceder minhas atividades até o<br />

final do meu atual mandato”, diz.<br />

Mensagem ao Partido Para <strong>Cardozo</strong>,<br />

que integra o grupo Mensagem<br />

ao Partido, a corrente sempre teve<br />

importantes ministros e representantes<br />

no governo. No governo Lula, estiveram<br />

em ministérios Tarso Genro<br />

(Justiça), Fernando Haddad (Educação)<br />

e Guilherme Cassel (Desenvolvimento<br />

Agrário). “Foram ministros que<br />

tiveram importante papel no governo,<br />

assim como importantes ministros de<br />

outras correntes”.<br />

Quando se fala em participação no<br />

governo, para ele, a questão das correntes<br />

deve ficar sobreposta para se<br />

pensar na influência que um partido<br />

deve ter no governo. “No governo<br />

do presidente Lula e no governo<br />

da presidenta Dilma<br />

Rousseff, embora<br />

ambos<br />

pertençam ao<br />

Partido dos Trabalhadores,<br />

são governos<br />

formados por<br />

várias forças políticas.<br />

Cabe ao partido colocar<br />

seu programa e suas políticas<br />

para que o governo possa<br />

encontrar sua propulsão e<br />

sua ação. Portanto, o PT,<br />

independentemente de suas<br />

disputas internas, deve estar<br />

unido em torno do governo<br />

Dilma Rousseff<br />

para que suas políticas possam<br />

estar colocadas como sugestões<br />

e propostas ao futuro governo”.<br />

4 B o l e t i m d o M a n d a t o – D e z e m b r o . 2 0 1 0 B o l e t i m d o M a n d a t o – D e z e m b r o . 2 0 1 0<br />

5


Essa reforma enfrenta muita resistência,<br />

visto que muitos parlamentares se<br />

beneficiam do próprio sistema político,<br />

que acaba criando certas distorções. Entra<br />

governo e sai governo e sempre há<br />

desejo grande de uma parcela de políticos<br />

de que seja realizada essa reforma.<br />

Porém, vontade política por si só não será<br />

capaz de fazer com que isso aconteça. É<br />

um processo complexo, custoso e que<br />

envolve muitos segmentos e interesses”,<br />

diz o deputado <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong>,<br />

ferrenho defensor da Reforma Política.<br />

Para <strong>Cardozo</strong>, é muito comum as<br />

pessoas simplificarem algumas análises<br />

e acharem que certas realidades derivam<br />

só daquilo que se costuma chamar de<br />

‘vontade política’. “As pessoas dizem que<br />

‘basta ter vontade política para as coisas<br />

acontecerem’, mas isso é de uma ingenuidade<br />

atroz. Há uma questão que é<br />

própria das instituições humanas que dificilmente<br />

exercita uma reforma. Isso eu<br />

falo de tudo. Até reformar o estatuto de<br />

um condomínio é difícil. Numa empre-<br />

sa, por exemplo, se você pedir para uma<br />

diretoria reformar seu próprio poder de<br />

direção, dificilmente isso acontecerá.”<br />

No parlamento não é diferente. Aprovam-se<br />

leis altamente transformadoras,<br />

mas é muito difícil o parlamento transformar<br />

suas próprias regras que mexam<br />

com o poder dos parlamentares.<br />

<strong>Cardozo</strong> cita como maior exemplo<br />

a Constituição de 1988, considerada a<br />

mais democrática de todas as constituições<br />

brasileiras, mas que, apesar disso,<br />

mantém na parte relativa ao sistema<br />

político os mesmos alicerces do sistema<br />

político da ditadura. “Um deles é o caso<br />

da Câmara dos Deputados ter um limite<br />

máximo no número de deputados e um<br />

limite mínimo de presença de bancadas,<br />

o que gera uma distorção brutal, na qual<br />

A importância da<br />

Reforma Política<br />

A necessidade de uma Reforma Política<br />

tem estado cada vez mais presente nas<br />

rodas de discussões entre parlamentares,<br />

juízes e até a sociedade em geral<br />

cidadãos de certos estados mais populosos são subrrepresentados na Câmara<br />

dos Deputados em relação a outros estados. Por que uma Constituição<br />

tão inovadora, tão democrática, tão transformadora mantém um<br />

sistema tão arcaico, tão antidemocrático como esse?”, questiona.<br />

A resposta está no fato da Constituição de 1988 não ter sido feita<br />

por uma Assembléia Nacional Constituinte, em que as pessoas eram<br />

eleitas, faziam a Constituição e iam embora; ela foi feita pelo Congresso<br />

Nacional com os deputados e senadores sendo eleitos por aquele sistema<br />

político e reproduziram aquelas regras para o futuro. Não tiveram condições<br />

de reformar o sistema de poder que os colocou no poder.<br />

“A Reforma Política tem de passar pelo Congresso. Mas imaginar que<br />

o Congresso sozinho faça essas mudanças, sinceramente, eu não acho<br />

possível. Ou há uma energia social de fora para dentro que propulsione<br />

essa reforma – e aí vem a tese se deve haver uma Assembléia Constituinte<br />

só para fazer reforma e há questões jurídicas complicadas sobre<br />

isso. Ou, então, se pense em mecanismos em que a sociedade produza<br />

a melhor forma de se realizar a Reforma Política ou ela não terá êxito.<br />

Dificilmente uma instituição se autorreforma na sua sistemática de condução<br />

de poder se você não tiver uma cobrança para que isso ocorra.”<br />

Para <strong>Cardozo</strong>, ou a sociedade brasileira se conscientiza de que a<br />

Reforma Política é prioritária para o País ou ela não irá acontecer.<br />

Ficha Limpa: envolvimento da sociedade. Foi o envolvimento da sociedade<br />

e a pressão que levaram a Lei da Ficha Limpa ser aprovada, por exemplo.<br />

“A aprovação da lei foi um marco importante na história política do<br />

Brasil. Não apenas pelo resultado legislativo, mas pelo resultado pedagógico”,<br />

diz <strong>Cardozo</strong>, que foi relator da Lei da Ficha Limpa na CCJC (Comissão<br />

de Constituição Justiça e Cidadania) da Câmara dos Deputados.<br />

Porém, a Lei da Ficha Limpa foi de fácil compreensão para a sociedade, o<br />

que não ocorre com a Reforma Política. A sociedade brasileira não entende<br />

como funciona o sistema político brasileiro, altamente complexo. As eleições<br />

proporcionais são um exemplo claro. O eleitor vota numa pessoa e acaba elegendo<br />

outra. Não sabe que o voto é computado em uma legenda e não sabe<br />

que pode estar elegendo outra pessoa em que jamais votaria. Isso é da realidade<br />

brasileira e tem de haver esclarecimento. “É tão curioso que muitas vezes os<br />

eleitores fazem voto de protesto e acabam ajudando a eleger pessoas contra<br />

as quais protestam. É um sistema de uma irracionalidade profunda. Estamos<br />

muito longe de uma compreensão social de nosso sistema político”, argumenta.<br />

Entretanto, <strong>Cardozo</strong> é um entusiasta da vida pública. Segundo ele, o<br />

mais interessante de uma política transformadora é que ela possa, de fato,<br />

fazer transformações. “O dia que uma pessoa disser ‘vivo num sistema<br />

político ideal e numa comunidade ideal’, ela não tem mais porque fazer<br />

política transformadora, está numa política de acomodação. Eu até me envaideço<br />

de ser uma pessoa profundamente descontente com a realidade”.<br />

Militância em prol<br />

dos direitos dos idosos<br />

Durante os 16 anos de vida pública, o deputado <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong><br />

foi um defensor dos direitos dos idosos. Para ele, existe no Brasil um<br />

apartheid etário, que segrega e exclui da sociedade, e muitas vezes da<br />

própria família, as pessoas mais velhas.<br />

O interesse do deputado em militar pela causa do idoso começou<br />

logo no início da carreira pública, quando avaliava uma série de temas<br />

e idéias para atuar na Câmara Municipal de São Paulo. “O trabalho<br />

parlamentar em relação ao idoso normalmente acontece às vésperas de<br />

eleição, quando se fazem festinhas para idosos. E nós desenvolvemos um<br />

trabalho voltado à qualidade de vida e a um envelhecimento saudável,<br />

realizado há 14 anos. Toda segunda semana do mês, às segundas-feiras,<br />

como parlamentar, eu promovi um seminário com especialistas para<br />

debater questões do idoso, de modo que me dessem subsídios e me formassem<br />

convicções para que desenvolvesse projetos de lei, propusesse<br />

políticas públicas”, conta o deputado.<br />

E os resultados concretos foram animadores. O mais expressivo e<br />

conhecido deles foi a lei que criou a vacinação do idoso contra gripe,<br />

pneumonia e tétano na cidade de São Paulo. “Na época o prefeito não<br />

queria sancionar, derrubamos o veto e a partir daí então conseguimos<br />

implantar. Mais tarde, o Governo Federal, ao ver o sucesso em São Paulo,<br />

adotou a medida, no Ministério da Saúde, e implantou a vacinação<br />

em âmbito nacional. Portanto, eu tenho a felicidade de estar na base da<br />

elaboração dessa política”, comemora.<br />

Dificuldade social e psíquica. Durante o trabalho, o deputado passou a<br />

ter a dimensão de que o idoso se autodestruía demais. E não apenas por<br />

uma questão social. Ele reproduz no seu interior ideologicamente uma<br />

“Vivemos num<br />

apartheid etário”<br />

discriminação. “Quando eu digo que<br />

vivemos num apartheid etário é real.<br />

As famílias não dão atenção aos seus<br />

idosos, deixam de ouvir seus ‘velhos’. A<br />

sociedade de consumo produziu a ideia<br />

de que o novo é sempre bom e o velho é<br />

um atraso, o que não é necessariamente<br />

correto. Ao contrário de outros povos<br />

que cultuavam seus velhos justamente<br />

por causa de sua sabedoria. Nossa sociedade<br />

despreza os velhos, justamente<br />

por uma característica ideológica da sociedade<br />

de consumo”, reitera.<br />

Esse processo gera no idoso uma cons-<br />

ciência perversa de autodiscriminação.<br />

“O idoso não se acha mais capaz de<br />

aprender, tem medo de computador, um<br />

controle remoto da televisão, pede pro<br />

filho ajudar, acaba se distanciando, se<br />

excluindo da família, se separando. Isso<br />

tudo forma uma sociedade altamente<br />

discriminatória, na hora de conseguir<br />

um emprego, ser ouvido. Isso me trouxe<br />

um aprendizado fantástico, do idoso e da<br />

necessidade de garantir sua cidadania”.<br />

6 B o l e t i m d o M a n d a t o – D e z e m b r o . 2 0 1 0 B o l e t i m d o M a n d a t o – D e z e m b r o . 2 0 1 0<br />

7<br />

Foto: Penha Souza


“Segurança pública é uma<br />

questão prioritária”<br />

8<br />

O Ministério da Justiça tem missões<br />

muito importantes no que diz respeito à<br />

reformulação legislativa. Há importantes<br />

desafios e discussões do ponto de vista<br />

da modificação do Código de Processo<br />

Civil e da modificação do Código de<br />

Processo Penal.<br />

Esses são apenas alguns dos temas<br />

que a pasta tem pela frente a partir de janeiro.<br />

E o novo Ministro da Justiça, <strong>José</strong><br />

<strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong>, já articula com especialistas<br />

e profissionais da área. “Outro<br />

dia mesmo recebi de um grande amigo,<br />

um grande jurista, Fabio Ulhôa Coelho,<br />

um excelente trabalho sobre uma nova<br />

proposta de Código Comercial Brasileiro.<br />

O documento que estrutura a administração<br />

pública brasileira ainda hoje<br />

é o Decreto Lei 200, de 1967, ou seja,<br />

da época da ditadura militar, que já na<br />

época tinha muitas imperfeições do ponto<br />

de vista técnico e administrativo. Então<br />

há muitas coisas para se pensar”, diz.<br />

<strong>Cardozo</strong> explica que outros destaques<br />

da pasta são o desenvolvimento de<br />

propostas legislativas relativas à questão<br />

da defesa do consumidor e da Secretaria<br />

de Direito Econômico, por exemplo.<br />

Outro ponto diz respeito à reforma<br />

do Judiciário, que segundo o ministro,<br />

exige uma presença do Executivo.<br />

“Quando você fala em Reforma do<br />

Judiciário me parece um pouco pobre.<br />

Não é a reforma do Poder Judiciário; é a<br />

reforma do sistema de prestação jurisdicional,<br />

com todos os seus atores e órgãos<br />

envolvidos. Uma questão que passa por<br />

juízes, membros do Ministério Público,<br />

defensores públicos, advogados públicos,<br />

enfim, todos aqueles que são agentes do<br />

sistema jurisdicional”, ressalta.<br />

Segurança Pública e<br />

Reforma do Judiciário<br />

na pauta de discussões<br />

do Ministério da Justiça<br />

Para ele, o sistema jurisdicional atual é moroso e deixa a desejar em<br />

termos de eficiência; exige urgentemente informatização e precisa promover<br />

maior acesso ao cidadão.<br />

<strong>Cardozo</strong> foi o relator da Comissão Especial da Reforma do Judiciário.<br />

A Emenda Constitucional nº 45, que à época foi aprovada por<br />

uma ação do então ministro Márcio Thomaz Bastos em acordo com<br />

segmentos do Judiciário, deu origem ao Conselho Nacional de Justiça.<br />

“Tive o prazer de presidir essa comissão. Na época, o relator foi o então<br />

senador <strong>José</strong> Jorge, que hoje é ministro do Tribunal de Contas da União.<br />

Embora eu seja do PT e o <strong>José</strong> Jorge do Democratas, fizemos um excelente<br />

trabalho”, conta.<br />

Segurança pública: União, Estados e Municípios juntos. O ministro<br />

enfatiza que uma questão prioritária na agenda de discussões do<br />

próximo ano é a questão da segurança pública e o combate ao crime<br />

organizado. “Esse é um ponto-chave que o Ministério da Justiça vai ter<br />

de enfrentar, sob a orientação da presidenta eleita”.<br />

A questão da segurança pública exige uma união entre os três níveis<br />

da federação: União, estados e municípios. <strong>Cardozo</strong> explica que cada<br />

um tem suas competências próprias, constitucionalmente definidas,<br />

cada um com as suas missões. “Não tenho a menor dúvida de que, do<br />

ponto de vista constitucional, a missão da segurança pública pertence ao<br />

Estado. Mas não significa que os municípios e a própria União tenham<br />

de abdicar de suas missões constitucionais. Temos de estar integrados<br />

neste momento para fazermos um enfrentamento público conjunto, um<br />

verdadeiro pacto federativo na perspectiva de que todos os poderes estejam<br />

juntos em relação ao combate ao crime organizado. Essa é uma<br />

questão hoje crucial, a sociedade brasileira exige isso e temos de largar<br />

um pouco nossas disputas e fazer mais pactos.”<br />

Para <strong>Cardozo</strong>, há condição de fazer um grande trabalho. “Pouco<br />

importará se o governador do Estado pertence ao meu partido ou a<br />

outro, assim como o prefeito. Nós temos de estar juntos nesse processo e<br />

enfrentar esse problema, não com objetivo midiático, retórico de autopromoção,<br />

mas com perspectiva de atender efetivamente àquilo que o<br />

Estado brasileiro pode fazer em torno dessa questão”.<br />

Esporte e cultura: política de segurança pública. Para o novo Ministro,<br />

segurança pública não é só uma questão de repressão, mas também<br />

uma questão de prevenção. “Esporte e cultura são questões que se integram<br />

em políticas de segurança pública. Diante desse contexto, a integração<br />

das esferas federativas em políticas preventivas e repressivas tem<br />

muita, muita importância, e acho que o Ministério da Justiça tem total<br />

condição de desenvolver um papel de articulação fundamental nessa<br />

área promovendo a integração”<br />

B o l e t i m d o M a n d a t o – D e z e m b r o . 2 0 1 0

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