download - José Eduardo Cardozo
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PT<br />
2<br />
<strong>Cardozo</strong> encerra mandato<br />
na Câmara e assume<br />
pasta da Justiça<br />
3<br />
União do PT por Dilma<br />
e a vitória da 1ª presidente<br />
mulher<br />
4<br />
Atuação de <strong>Cardozo</strong> na<br />
Câmara foi premiada<br />
e ganhou destaque<br />
5<br />
<strong>Cardozo</strong> deixa Secretaria<br />
Geral do PT<br />
6<br />
Reforma Política: é preciso<br />
envolvimento da sociedade<br />
7<br />
Brasil vive apartheid etário<br />
8<br />
Desafios no Ministério<br />
da Justiça<br />
Boletim do Mandato – Dezembro.2010
No início de 2010, após 16 anos de<br />
atuação como parlamentar, o deputado<br />
federal <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong> (PT-SP)<br />
anunciou que não se candidataria mais a<br />
um cargo no parlamento.<br />
Recém-anunciado como o novo Minis-<br />
tro da Justiça do governo Dilma Rousseff,<br />
<strong>Cardozo</strong> é um dos deputados com grande<br />
destaque no Congresso Nacional. Recebeu<br />
premiações importantes como a do<br />
Congresso Em Foco e obteve índices respeitáveis<br />
de avaliação, sendo apontado<br />
anualmente como um dos Cabeças do<br />
Congresso, reconhecimento concedido<br />
pelo DIAP (Departamento Intersindical<br />
de Assessoria Parlamentar).<br />
Chegou à decisão de não mais disputar<br />
eleição depois de muita reflexão e de afirmação<br />
que, segundo ele, demorou muito<br />
tempo e passou por muitas contradições.<br />
Ele conta que a atitude foi tomada não<br />
por uma decepção com o parlamento,<br />
tampouco com a participação dele como<br />
parlamentar, mas sim por uma decepção<br />
com o sistema político brasileiro.<br />
O alto custo de campanhas e as dificuldades<br />
do processo eleitoral contribuíram.<br />
“Eu pensei já quando disputava minha<br />
última eleição: se não mudar o sistema<br />
político, essa será a ultima eleição proporcional<br />
que eu participo. Não me dá prazer<br />
participar de uma eleição com as regras<br />
atuais, que encarecem a campanha, que<br />
geram relações complicadas com doadores,<br />
que são tão burocratizadas que um<br />
candidato absolutamente honesto, republicano<br />
e ético pode perder seu mandato<br />
Gabinete Deputado <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong><br />
Câmara dos Deputados Anexo IV Gab. 719<br />
Brasília/DF - CEP 70160-900 – Tel.: (61) 3215-5719<br />
Site: www.joseeduardocardozo.com.br<br />
E-mail: contato@joseeduardocardozo.com.br<br />
Paradoxo de<br />
incertezas e sucesso<br />
Dezesseis anos separam o ingresso de <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong><br />
<strong>Cardozo</strong> na política do anúncio como o novo Ministro<br />
da Justiça. Anos difíceis, mas que consolidaram um<br />
caminho de sucesso e conquistas<br />
por descumprimento de normas que, muitas vezes, não tem como controlar.<br />
É um sistema perverso, desestimulante”, diz.<br />
O começo da vida parlamentar por um voto. O início da carreira política<br />
do deputado foi conturbado. Votação inexpressiva, dúvidas quanto à capacidade<br />
para exercer o cargo e questionamentos marcaram alguns períodos da<br />
trajetória de <strong>Cardozo</strong>. Tudo começou quando ele perdeu a primeira eleição<br />
para vereador da Câmara Municipal de São Paulo e ficou como segundo<br />
suplente. Depois da metade da gestão do então prefeito Paulo Maluf, <strong>Cardozo</strong><br />
assumiu como vereador da oposição num mandato curioso: ganhou por<br />
apenas um voto. O terceiro suplente era o atual deputado Carlos Zarattini.<br />
“Eu tenho absoluta certeza de que esse “um voto” mudou completamente o<br />
rumo da minha vida, porque dificilmente eu disputaria outra eleição se eu<br />
não tivesse assumido naquele momento um mandato de vereador”, conta.<br />
A CPI da Máfia dos Fiscais e o ingresso na esfera federal. Quando estava<br />
no segundo mandato de vereador, <strong>Cardozo</strong> conta que se sentia desestimulado.<br />
“Havia muita corrupção, e eu me sentia impotente para combater aquilo.<br />
Quando pedi a CPI da Máfia das Propinas nunca acreditei que poderia ser<br />
aprovada. E me recordo que naquele momento alguns vereadores diziam que<br />
aquilo só poderia ser uma piada. E que como a CPI se voltava a investigar vereadores,<br />
eu não conseguiria aprovar mais nada. Mas uma pressão da sociedade<br />
fez com que a CPI se concretizasse. O resultado foi muito bom, com a cassação<br />
de parlamentares envolvidos. Isso me levou à presidência da Câmara”, diz.<br />
Dois anos depois, um novo projeto federal estava se desenhando com a<br />
candidatura do presidente Lula à Presidência da República. E <strong>Cardozo</strong> optou<br />
por participar desse projeto. Foi o segundo deputado federal mais votado do<br />
PT no Estado, com 300 mil votos.<br />
Nesses oito anos, <strong>Cardozo</strong> participou ativamente do projeto de transformação<br />
do governo Lula. Foi subrelator da CPMI dos Correios, presidente<br />
da Comissão Especial da Reforma do Judiciário, relator do Ficha Limpa, na<br />
CCJC (Comissão de Constituição Justiça e Cidadania), entre outras atividades<br />
de destaque. “Foi um governo desafiador, foram lutas encarniçadas<br />
com setores que não queriam que o governo desse certo. Lula sai como um<br />
líder nacional com 80% de aceitação, sai reconhecido internacionalmente<br />
como ‘o cara’ pelo presidente Obama, portanto foi um privilégio ter participado<br />
desse período”.<br />
Escritório Político<br />
Rua Ministro Godói, 444 - Perdizes - CEP 05015-000 - São Paulo/SP – Tel.: (11) 3675-7380<br />
Jornalista Responsável: Larissa C. Squeff - MTB 29.144<br />
Textos: Alessandro Soares, Bárbara Lobato, Larissa C. Squeff e Roger Hayas<br />
Diagramação e Arte: Paulo Falzoni Tiragem: 10.000 exemplares<br />
A união do PT e a<br />
eleição de Dilma<br />
Aceitação maciça no partido e união<br />
em torno da continuidade do projeto do<br />
governo Lula deram o tom da campanha<br />
de Dilma à Presidência<br />
A campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República pode ser<br />
considerada um marco na história do PT.<br />
Nesta eleição o que se viu foi um cenário diferente. Era a primeira<br />
eleição em que o partido disputava o mais alto cargo político brasileiro<br />
sem a presença de Lula como candidato. “O partido se uniu em torno<br />
de um objetivo comum. Para a esquerda brasileira, para esquerda latino-americana<br />
e não tenho nenhum receio de dizer, para a esquerda<br />
mundial, a vitória da continuidade do projeto do presidente Lula era<br />
algo de crucial importância, acima de quaisquer outras disputas”, ressalta<br />
o deputado <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong>.<br />
As mudanças que vêm acontecendo na América do Sul têm o Brasil<br />
como carro-chefe. O contexto em que isso se afirmou exigiu que o partido<br />
tivesse duas alternativas: ganhar ou ganhar. “Íamos perder para<br />
forças conservadoras que matariam nossos sonhos e nosso trabalho”,<br />
reitera <strong>Cardozo</strong>, que afirma que o nome de Dilma não enfrentou resistência<br />
alguma no partido.<br />
Processo eleitoral difícil, mas vitorioso. “Foi uma campanha difícil,<br />
como prevíamos. Eu só não previa o que aconteceu como situações de<br />
boatos, baixarias, simulações; tudo o que se pode imaginar aconteceu nessa<br />
campanha. Foi um processo eleitoral muito difícil, que me deixou bastante<br />
decepcionado, mas que também trouxe grande aprendizado”, conta o<br />
deputado, que foi um dos coordenadores da campanha ao lado do presi-<br />
Foto: Alan Marques/Folhapress<br />
“Dilma não enfrentou<br />
resistência no partido”<br />
dente do PT, <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> Dutra e do<br />
deputado federal Antonio Palocci.<br />
Reconhecimento internacional da<br />
presidenta Dilma. <strong>Cardozo</strong> esteve ao<br />
lado de Dilma em importantes visitas<br />
a chefes de Estado internacionais. O<br />
acolhimento da candidata foi algo que<br />
impressionou o deputado. “O primeiro<br />
encontro que tivemos foi com o presidente<br />
da França, o Nicolas Sarkozy;<br />
depois fomos recebidos pelo <strong>José</strong> Manuel<br />
Durão Barroso, presidente da<br />
Comunidade Européia; estivemos tam-<br />
bém com o <strong>José</strong> Luis Zapatero, presidente<br />
do Executivo da Espanha, e a<br />
recepção em todas as visitas foi excepcionalmente<br />
afetuosa, um respeito à<br />
política externa brasileira, enfim, uma<br />
coisa fantástica!”.<br />
O perfil da nova presidenta. Apesar<br />
de enfrentar alguns momentos<br />
estressantes e complicados durante a<br />
campanha, <strong>Cardozo</strong> conta que durante<br />
o período em que conviveu muito próximo<br />
da então candidata Dilma teve<br />
a oportunidade de conhecer seu lado<br />
pessoal. “Na vida política você tem as<br />
relações políticas e aquilo que se constrói<br />
no lado humano, da afetuosidade.<br />
Apesar de conhecer Dilma Rousseff<br />
como política, profissional, só tive a per-<br />
cepção dela como pessoa durante a<br />
campanha: é alegre, extremamente<br />
culta e divertida para ser uma companheira<br />
de viagem. Passei a respeitála<br />
em vários sentidos. Ela tem o gosto<br />
parecido com o meu, gosta de entrar<br />
numa livraria, de ficar procurando livros,<br />
biografias, falar de óperas, enfim,<br />
uma pessoa extremamente interessante<br />
para se conviver”, diz.<br />
2 3<br />
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<strong>Cardozo</strong> apresentou e aprovou o Projeto<br />
de Lei sobre contratos de publicidade<br />
que foi sancionado esse ano pelo presidente<br />
Luiz Inácio Lula da Silva e já está<br />
em vigor (Lei 12232/2010). A lei estabelece<br />
regras para a contratação de agências<br />
de publicidade pelo Poder Público,<br />
reduzindo consideravelmente a possibilidade<br />
de irregularidades nos contratos. “A<br />
lei traz segurança e transparência e cria<br />
obstáculos objetivos para as conduções das<br />
licitações nessa área”, explica <strong>Cardozo</strong>. A<br />
lei foi concebida por <strong>Cardozo</strong> durante as<br />
investigações da Comissão Parlamentar<br />
Mista de Investigação (CPMI) dos Correios,<br />
da qual foi sub-relator.<br />
Transparência no Congresso: pelo fim<br />
do voto secreto. Defensor histórico do<br />
voto aberto em todas as casas legislativas,<br />
<strong>Cardozo</strong> foi relator na CCJ (Comissão<br />
de Constituição e Justiça e Cidadania) da<br />
PEC 349/2002 que acaba com o voto<br />
secreto nas deliberações da Câmara dos<br />
Deputados e do Senado Federal. <strong>Cardozo</strong><br />
já havia abolido o voto secreto na<br />
Câmara Municipal de São Paulo quando<br />
foi presidente da Casa. “A transparência<br />
e a publicidade dos atos dos agentes<br />
públicos permitem garantir um controle<br />
social efetivo sobre a atividade pública”,<br />
argumentou em seu texto, que foi aprovado<br />
em primeira votação na Câmara.<br />
Ainda na CCJC, <strong>Cardozo</strong> foi relator<br />
do Ficha Limpa (ver página 6), cujo texto<br />
foi integralmente aprovado no Plenário<br />
da Câmara.<br />
Democracia e participação popular.<br />
Facilitar a participação popular no processo<br />
político brasileiro. Esse é o objetivo<br />
da PEC (Projeto de Emenda Constitucional)<br />
nº 194/2003, de autoria de <strong>Cardozo</strong><br />
que modifica o critério definidor<br />
Foto: Paulo Negreiros<br />
Atuação reconhecida e<br />
projetos importantes<br />
O mandato do deputado federal <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong><br />
<strong>Cardozo</strong> foi marcado por uma forte atuação em<br />
importantes projetos que garantem princípios<br />
constitucionais, legalidade, moralidade e eficiência.<br />
do número de assinaturas necessárias para a apresentação de projetos de<br />
iniciativa popular nos Legislativos. Simplificando a fórmula atualmente vigente<br />
na Constituição, o projeto determina que o número de votos mínimos<br />
necessários para a eleição de um deputado federal, estadual ou vereador<br />
(quociente eleitoral) seja o parâmetro para o número de assinaturas<br />
necessárias para a apresentação de projetos de iniciativa popular.<br />
Promoção dos Direitos Humanos. Outro projeto de autoria de <strong>Cardozo</strong><br />
que merece destaque é o 4667/2004 que trata sobre os efeitos jurídicos<br />
das decisões dos Organismos Internacionais de Proteção aos Direitos Humanos.<br />
Tem objetivo de sanar as lacunas jurídicas entre a jurisdição dos<br />
organismos estabelecidos no âmbito da ONU e da Convenção Americana<br />
sobre Direitos Humanos e a jurisdição nacional. Salienta <strong>Cardozo</strong> que não<br />
é possível admitir-se que, mesmo depois da ratificação, o Brasil ainda não<br />
implemente as decisões e recomendações dessas instâncias. “O PL permite<br />
que a União assuma a responsabilidade pelo pagamento das indenizações<br />
quando assim for decidido pelos organismos podendo, no entanto, intentar<br />
ação regressiva contra o Estado da Federação, pessoa jurídica ou física que<br />
tenha sido responsável pelos danos causados à vítima”.<br />
Projeto sobre seguros. Com objetivo de atualizar as normas relativas aos<br />
seguros dando maior segurança na relação entre seguradoras e segurados, o<br />
parlamentar apresentou o PL 3555/2004 que estabelece normas gerais em<br />
contratos de seguro privado. “A regulamentação clara e precisa do contrato<br />
de seguro é uma exigência há muito por ser cumprida no país”, argumenta.<br />
Combatendo a corrupção eleitoral. <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong> também é<br />
autor do projeto de lei 2121/2007, que veda a doação de recursos para<br />
campanhas eleitorais por pessoas jurídicas. O PL visa fornecer novos contornos<br />
aos padrões de financiamento de campanhas eleitorais proporcionais<br />
e majoritárias. “Busca-se uma diminuição da participação do capital<br />
privado nos processos eleitorais, o que os tornaria mais baratos. Evita-se,<br />
por outro lado, que corporações ou empresas com grande movimentação<br />
de capital possam influir decisivamente no resultado final das eleições, a<br />
partir da doação de grande vulto de dinheiro para as campanhas, visando<br />
vantagens posteriores.”<br />
Premiações: Congresso em Foco e Cabeças do Congresso. A atuação<br />
de <strong>Cardozo</strong> foi reconhecida dentro e fora da Câmara. Durante os 8 anos<br />
em que esteve na Câmara dos Deputados, foi reconhecido por anos seguidos<br />
como um dos 100 Cabeças do Congresso, pelo DIAP (Departamento<br />
Intersindical de Assessoria Parlamentar) e pelo Congresso em Foco, em<br />
votação colhida entre jornalistas. Na atual legislatura, <strong>Cardozo</strong> registra 19<br />
proposições entre Lei e Projetos de Lei.<br />
<strong>Cardozo</strong> deixa a<br />
Secretaria Geral do PT e pede:<br />
momento é de união<br />
“Independentemente das disputas internas,<br />
devemos estar unidos em torno do governo Dilma ”<br />
O deputado <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong> é secretário geral do Partido<br />
dos Trabalhadores. O Código de Ética do partido, elaborado por ele,<br />
impede o acúmulo de cargo no Poder Executivo com cargos na Executiva<br />
Nacional do Partido.<br />
Por esse motivo, <strong>Cardozo</strong> deve deixar a secretaria geral do partido<br />
durante o período em que estiver à frente do Ministério da Justiça. “O<br />
PT nomeará um novo membro para suceder minhas atividades até o<br />
final do meu atual mandato”, diz.<br />
Mensagem ao Partido Para <strong>Cardozo</strong>,<br />
que integra o grupo Mensagem<br />
ao Partido, a corrente sempre teve<br />
importantes ministros e representantes<br />
no governo. No governo Lula, estiveram<br />
em ministérios Tarso Genro<br />
(Justiça), Fernando Haddad (Educação)<br />
e Guilherme Cassel (Desenvolvimento<br />
Agrário). “Foram ministros que<br />
tiveram importante papel no governo,<br />
assim como importantes ministros de<br />
outras correntes”.<br />
Quando se fala em participação no<br />
governo, para ele, a questão das correntes<br />
deve ficar sobreposta para se<br />
pensar na influência que um partido<br />
deve ter no governo. “No governo<br />
do presidente Lula e no governo<br />
da presidenta Dilma<br />
Rousseff, embora<br />
ambos<br />
pertençam ao<br />
Partido dos Trabalhadores,<br />
são governos<br />
formados por<br />
várias forças políticas.<br />
Cabe ao partido colocar<br />
seu programa e suas políticas<br />
para que o governo possa<br />
encontrar sua propulsão e<br />
sua ação. Portanto, o PT,<br />
independentemente de suas<br />
disputas internas, deve estar<br />
unido em torno do governo<br />
Dilma Rousseff<br />
para que suas políticas possam<br />
estar colocadas como sugestões<br />
e propostas ao futuro governo”.<br />
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5
Essa reforma enfrenta muita resistência,<br />
visto que muitos parlamentares se<br />
beneficiam do próprio sistema político,<br />
que acaba criando certas distorções. Entra<br />
governo e sai governo e sempre há<br />
desejo grande de uma parcela de políticos<br />
de que seja realizada essa reforma.<br />
Porém, vontade política por si só não será<br />
capaz de fazer com que isso aconteça. É<br />
um processo complexo, custoso e que<br />
envolve muitos segmentos e interesses”,<br />
diz o deputado <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong>,<br />
ferrenho defensor da Reforma Política.<br />
Para <strong>Cardozo</strong>, é muito comum as<br />
pessoas simplificarem algumas análises<br />
e acharem que certas realidades derivam<br />
só daquilo que se costuma chamar de<br />
‘vontade política’. “As pessoas dizem que<br />
‘basta ter vontade política para as coisas<br />
acontecerem’, mas isso é de uma ingenuidade<br />
atroz. Há uma questão que é<br />
própria das instituições humanas que dificilmente<br />
exercita uma reforma. Isso eu<br />
falo de tudo. Até reformar o estatuto de<br />
um condomínio é difícil. Numa empre-<br />
sa, por exemplo, se você pedir para uma<br />
diretoria reformar seu próprio poder de<br />
direção, dificilmente isso acontecerá.”<br />
No parlamento não é diferente. Aprovam-se<br />
leis altamente transformadoras,<br />
mas é muito difícil o parlamento transformar<br />
suas próprias regras que mexam<br />
com o poder dos parlamentares.<br />
<strong>Cardozo</strong> cita como maior exemplo<br />
a Constituição de 1988, considerada a<br />
mais democrática de todas as constituições<br />
brasileiras, mas que, apesar disso,<br />
mantém na parte relativa ao sistema<br />
político os mesmos alicerces do sistema<br />
político da ditadura. “Um deles é o caso<br />
da Câmara dos Deputados ter um limite<br />
máximo no número de deputados e um<br />
limite mínimo de presença de bancadas,<br />
o que gera uma distorção brutal, na qual<br />
A importância da<br />
Reforma Política<br />
A necessidade de uma Reforma Política<br />
tem estado cada vez mais presente nas<br />
rodas de discussões entre parlamentares,<br />
juízes e até a sociedade em geral<br />
cidadãos de certos estados mais populosos são subrrepresentados na Câmara<br />
dos Deputados em relação a outros estados. Por que uma Constituição<br />
tão inovadora, tão democrática, tão transformadora mantém um<br />
sistema tão arcaico, tão antidemocrático como esse?”, questiona.<br />
A resposta está no fato da Constituição de 1988 não ter sido feita<br />
por uma Assembléia Nacional Constituinte, em que as pessoas eram<br />
eleitas, faziam a Constituição e iam embora; ela foi feita pelo Congresso<br />
Nacional com os deputados e senadores sendo eleitos por aquele sistema<br />
político e reproduziram aquelas regras para o futuro. Não tiveram condições<br />
de reformar o sistema de poder que os colocou no poder.<br />
“A Reforma Política tem de passar pelo Congresso. Mas imaginar que<br />
o Congresso sozinho faça essas mudanças, sinceramente, eu não acho<br />
possível. Ou há uma energia social de fora para dentro que propulsione<br />
essa reforma – e aí vem a tese se deve haver uma Assembléia Constituinte<br />
só para fazer reforma e há questões jurídicas complicadas sobre<br />
isso. Ou, então, se pense em mecanismos em que a sociedade produza<br />
a melhor forma de se realizar a Reforma Política ou ela não terá êxito.<br />
Dificilmente uma instituição se autorreforma na sua sistemática de condução<br />
de poder se você não tiver uma cobrança para que isso ocorra.”<br />
Para <strong>Cardozo</strong>, ou a sociedade brasileira se conscientiza de que a<br />
Reforma Política é prioritária para o País ou ela não irá acontecer.<br />
Ficha Limpa: envolvimento da sociedade. Foi o envolvimento da sociedade<br />
e a pressão que levaram a Lei da Ficha Limpa ser aprovada, por exemplo.<br />
“A aprovação da lei foi um marco importante na história política do<br />
Brasil. Não apenas pelo resultado legislativo, mas pelo resultado pedagógico”,<br />
diz <strong>Cardozo</strong>, que foi relator da Lei da Ficha Limpa na CCJC (Comissão<br />
de Constituição Justiça e Cidadania) da Câmara dos Deputados.<br />
Porém, a Lei da Ficha Limpa foi de fácil compreensão para a sociedade, o<br />
que não ocorre com a Reforma Política. A sociedade brasileira não entende<br />
como funciona o sistema político brasileiro, altamente complexo. As eleições<br />
proporcionais são um exemplo claro. O eleitor vota numa pessoa e acaba elegendo<br />
outra. Não sabe que o voto é computado em uma legenda e não sabe<br />
que pode estar elegendo outra pessoa em que jamais votaria. Isso é da realidade<br />
brasileira e tem de haver esclarecimento. “É tão curioso que muitas vezes os<br />
eleitores fazem voto de protesto e acabam ajudando a eleger pessoas contra<br />
as quais protestam. É um sistema de uma irracionalidade profunda. Estamos<br />
muito longe de uma compreensão social de nosso sistema político”, argumenta.<br />
Entretanto, <strong>Cardozo</strong> é um entusiasta da vida pública. Segundo ele, o<br />
mais interessante de uma política transformadora é que ela possa, de fato,<br />
fazer transformações. “O dia que uma pessoa disser ‘vivo num sistema<br />
político ideal e numa comunidade ideal’, ela não tem mais porque fazer<br />
política transformadora, está numa política de acomodação. Eu até me envaideço<br />
de ser uma pessoa profundamente descontente com a realidade”.<br />
Militância em prol<br />
dos direitos dos idosos<br />
Durante os 16 anos de vida pública, o deputado <strong>José</strong> <strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong><br />
foi um defensor dos direitos dos idosos. Para ele, existe no Brasil um<br />
apartheid etário, que segrega e exclui da sociedade, e muitas vezes da<br />
própria família, as pessoas mais velhas.<br />
O interesse do deputado em militar pela causa do idoso começou<br />
logo no início da carreira pública, quando avaliava uma série de temas<br />
e idéias para atuar na Câmara Municipal de São Paulo. “O trabalho<br />
parlamentar em relação ao idoso normalmente acontece às vésperas de<br />
eleição, quando se fazem festinhas para idosos. E nós desenvolvemos um<br />
trabalho voltado à qualidade de vida e a um envelhecimento saudável,<br />
realizado há 14 anos. Toda segunda semana do mês, às segundas-feiras,<br />
como parlamentar, eu promovi um seminário com especialistas para<br />
debater questões do idoso, de modo que me dessem subsídios e me formassem<br />
convicções para que desenvolvesse projetos de lei, propusesse<br />
políticas públicas”, conta o deputado.<br />
E os resultados concretos foram animadores. O mais expressivo e<br />
conhecido deles foi a lei que criou a vacinação do idoso contra gripe,<br />
pneumonia e tétano na cidade de São Paulo. “Na época o prefeito não<br />
queria sancionar, derrubamos o veto e a partir daí então conseguimos<br />
implantar. Mais tarde, o Governo Federal, ao ver o sucesso em São Paulo,<br />
adotou a medida, no Ministério da Saúde, e implantou a vacinação<br />
em âmbito nacional. Portanto, eu tenho a felicidade de estar na base da<br />
elaboração dessa política”, comemora.<br />
Dificuldade social e psíquica. Durante o trabalho, o deputado passou a<br />
ter a dimensão de que o idoso se autodestruía demais. E não apenas por<br />
uma questão social. Ele reproduz no seu interior ideologicamente uma<br />
“Vivemos num<br />
apartheid etário”<br />
discriminação. “Quando eu digo que<br />
vivemos num apartheid etário é real.<br />
As famílias não dão atenção aos seus<br />
idosos, deixam de ouvir seus ‘velhos’. A<br />
sociedade de consumo produziu a ideia<br />
de que o novo é sempre bom e o velho é<br />
um atraso, o que não é necessariamente<br />
correto. Ao contrário de outros povos<br />
que cultuavam seus velhos justamente<br />
por causa de sua sabedoria. Nossa sociedade<br />
despreza os velhos, justamente<br />
por uma característica ideológica da sociedade<br />
de consumo”, reitera.<br />
Esse processo gera no idoso uma cons-<br />
ciência perversa de autodiscriminação.<br />
“O idoso não se acha mais capaz de<br />
aprender, tem medo de computador, um<br />
controle remoto da televisão, pede pro<br />
filho ajudar, acaba se distanciando, se<br />
excluindo da família, se separando. Isso<br />
tudo forma uma sociedade altamente<br />
discriminatória, na hora de conseguir<br />
um emprego, ser ouvido. Isso me trouxe<br />
um aprendizado fantástico, do idoso e da<br />
necessidade de garantir sua cidadania”.<br />
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7<br />
Foto: Penha Souza
“Segurança pública é uma<br />
questão prioritária”<br />
8<br />
O Ministério da Justiça tem missões<br />
muito importantes no que diz respeito à<br />
reformulação legislativa. Há importantes<br />
desafios e discussões do ponto de vista<br />
da modificação do Código de Processo<br />
Civil e da modificação do Código de<br />
Processo Penal.<br />
Esses são apenas alguns dos temas<br />
que a pasta tem pela frente a partir de janeiro.<br />
E o novo Ministro da Justiça, <strong>José</strong><br />
<strong>Eduardo</strong> <strong>Cardozo</strong>, já articula com especialistas<br />
e profissionais da área. “Outro<br />
dia mesmo recebi de um grande amigo,<br />
um grande jurista, Fabio Ulhôa Coelho,<br />
um excelente trabalho sobre uma nova<br />
proposta de Código Comercial Brasileiro.<br />
O documento que estrutura a administração<br />
pública brasileira ainda hoje<br />
é o Decreto Lei 200, de 1967, ou seja,<br />
da época da ditadura militar, que já na<br />
época tinha muitas imperfeições do ponto<br />
de vista técnico e administrativo. Então<br />
há muitas coisas para se pensar”, diz.<br />
<strong>Cardozo</strong> explica que outros destaques<br />
da pasta são o desenvolvimento de<br />
propostas legislativas relativas à questão<br />
da defesa do consumidor e da Secretaria<br />
de Direito Econômico, por exemplo.<br />
Outro ponto diz respeito à reforma<br />
do Judiciário, que segundo o ministro,<br />
exige uma presença do Executivo.<br />
“Quando você fala em Reforma do<br />
Judiciário me parece um pouco pobre.<br />
Não é a reforma do Poder Judiciário; é a<br />
reforma do sistema de prestação jurisdicional,<br />
com todos os seus atores e órgãos<br />
envolvidos. Uma questão que passa por<br />
juízes, membros do Ministério Público,<br />
defensores públicos, advogados públicos,<br />
enfim, todos aqueles que são agentes do<br />
sistema jurisdicional”, ressalta.<br />
Segurança Pública e<br />
Reforma do Judiciário<br />
na pauta de discussões<br />
do Ministério da Justiça<br />
Para ele, o sistema jurisdicional atual é moroso e deixa a desejar em<br />
termos de eficiência; exige urgentemente informatização e precisa promover<br />
maior acesso ao cidadão.<br />
<strong>Cardozo</strong> foi o relator da Comissão Especial da Reforma do Judiciário.<br />
A Emenda Constitucional nº 45, que à época foi aprovada por<br />
uma ação do então ministro Márcio Thomaz Bastos em acordo com<br />
segmentos do Judiciário, deu origem ao Conselho Nacional de Justiça.<br />
“Tive o prazer de presidir essa comissão. Na época, o relator foi o então<br />
senador <strong>José</strong> Jorge, que hoje é ministro do Tribunal de Contas da União.<br />
Embora eu seja do PT e o <strong>José</strong> Jorge do Democratas, fizemos um excelente<br />
trabalho”, conta.<br />
Segurança pública: União, Estados e Municípios juntos. O ministro<br />
enfatiza que uma questão prioritária na agenda de discussões do<br />
próximo ano é a questão da segurança pública e o combate ao crime<br />
organizado. “Esse é um ponto-chave que o Ministério da Justiça vai ter<br />
de enfrentar, sob a orientação da presidenta eleita”.<br />
A questão da segurança pública exige uma união entre os três níveis<br />
da federação: União, estados e municípios. <strong>Cardozo</strong> explica que cada<br />
um tem suas competências próprias, constitucionalmente definidas,<br />
cada um com as suas missões. “Não tenho a menor dúvida de que, do<br />
ponto de vista constitucional, a missão da segurança pública pertence ao<br />
Estado. Mas não significa que os municípios e a própria União tenham<br />
de abdicar de suas missões constitucionais. Temos de estar integrados<br />
neste momento para fazermos um enfrentamento público conjunto, um<br />
verdadeiro pacto federativo na perspectiva de que todos os poderes estejam<br />
juntos em relação ao combate ao crime organizado. Essa é uma<br />
questão hoje crucial, a sociedade brasileira exige isso e temos de largar<br />
um pouco nossas disputas e fazer mais pactos.”<br />
Para <strong>Cardozo</strong>, há condição de fazer um grande trabalho. “Pouco<br />
importará se o governador do Estado pertence ao meu partido ou a<br />
outro, assim como o prefeito. Nós temos de estar juntos nesse processo e<br />
enfrentar esse problema, não com objetivo midiático, retórico de autopromoção,<br />
mas com perspectiva de atender efetivamente àquilo que o<br />
Estado brasileiro pode fazer em torno dessa questão”.<br />
Esporte e cultura: política de segurança pública. Para o novo Ministro,<br />
segurança pública não é só uma questão de repressão, mas também<br />
uma questão de prevenção. “Esporte e cultura são questões que se integram<br />
em políticas de segurança pública. Diante desse contexto, a integração<br />
das esferas federativas em políticas preventivas e repressivas tem<br />
muita, muita importância, e acho que o Ministério da Justiça tem total<br />
condição de desenvolver um papel de articulação fundamental nessa<br />
área promovendo a integração”<br />
B o l e t i m d o M a n d a t o – D e z e m b r o . 2 0 1 0