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Gerson Lodi-Ribeiro Todo o Silício do Mundo<br />
conquistados para fabricar<br />
milhões de novos invasores, todos<br />
imbuídos com o mesmo propósito<br />
incompreensível de pulverizar<br />
nossa civilização imutável há<br />
milênios.<br />
*****<br />
Reduzidos a pontos negros, as<br />
duas naves de ataque desaparecem<br />
no horizonte.<br />
Analiso as informações que<br />
o implante rastreador acaba de<br />
coletar dos destroços do<br />
tanque-anfíbio. Confirmo<br />
ser o único sobrevivente<br />
da nossa força-tarefa.<br />
Surpreendo-me que nessa carcaça<br />
fumegante ainda existam sistemas<br />
operacionais dispostos a conversar<br />
com o meu rastreio automático.<br />
Mas não há tempo para dialogar<br />
com os resquícios do tanque.<br />
Remunicio a bazuca-laser com<br />
uma bateria energética carregada.<br />
Uma arma obsoleta, quase inútil<br />
diante do poder de fogo superior<br />
e da eficiência fria dos sistemas<br />
de direção de tiro instalados nos<br />
batedores alienígenas.<br />
Mas é o que eu disponho.<br />
Não há a mínima esperança.<br />
Eles voltarão. Ao longo desses<br />
séculos de invasão extraterrestre<br />
e resistência orquestrada pelos<br />
programas-regentes, aprendemos,<br />
da maneira mais dolorosa, que<br />
os alienígenas pertencem a uma<br />
estirpe de predadores obstinados<br />
com o propósito de exterminar<br />
toda a vida orgânica da Terra,<br />
como já o haviam feito em dezenas<br />
de planetas de outros sistemas<br />
estelares. À semelhança dos ani-<br />
mais predadores, não costumam<br />
abandonar uma presa ferida no<br />
meio da caçada.<br />
Depois de séculos de conflito<br />
global contra os alienígenas, ainda<br />
não compreendíamos seus motivos.<br />
Por que aquela sanha para<br />
nos eliminar? Em pensar que em<br />
nosso primeiro contato os saudamos<br />
como iguais...<br />
Mais um ou dois minutos,<br />
os batedores regressarão e estará<br />
tudo acabado.<br />
Ajusto a lente ocular direita. A<br />
Mesmo os invasores, originários<br />
de um aglomerado globular distante,<br />
não são orgânicos.<br />
esquerda parou de funcionar desde<br />
que o míssil inimigo explodiu<br />
o nosso tanque. Examino o outro<br />
robô detalhadamente. Talvez se<br />
trate de um guerreiro abatido. O<br />
meu destino dentro em alguns<br />
minutos. Outra baixa, vítima não<br />
da fúria irracional dos invasores<br />
alienígenas, mas dos reveses de<br />
um conflito civil qualquer, uma<br />
guerra interprédios de uma era<br />
longínqua.<br />
Observo o interior de um<br />
capacete rompido bastante semelhante<br />
ao meu. Por baixo da camada<br />
de circuitos para-orgânicos,<br />
não enxergo o plasma de silício<br />
conjugado esperado, mas antes<br />
uma estrutura bastante peculiar.<br />
Uma abóbada semi-esférica<br />
praticamente oca, composta por<br />
substâncias orgânicas complexas à<br />
base de cálcio, carbono e fósforo.<br />
Quem retirou o plasma que<br />
compõe o cérebro robótico?<br />
Consulto a área do banco de<br />
18<br />
memória na qual decidi armazenar<br />
há mais de um século, por<br />
mero capricho, um punhado de<br />
informações sobre paleozoologia.<br />
Uma quantidade imensa de dados<br />
inúteis, extraídos do substrato<br />
mais antigo e menos confiável da<br />
biblioteca do prédio.<br />
Comparo a análise dos resíduos<br />
do robô com o conjunto<br />
de dados arcanos. Chego a uma<br />
conclusão incrível: a abóbada é<br />
constituída por tecido ósseo! Se<br />
não parecesse tão inverossímil,<br />
eu ousaria afirmar que<br />
se trata do crânio de um<br />
animal orgânico... Não<br />
um simples holograma,<br />
mas um fóssil autêntico!<br />
Quem sabe, o crânio não pertenceu<br />
a um ser humano?<br />
A idéia traz à tona um malestar<br />
esquisito. Um crepitar<br />
estranho, como um formigamento<br />
suave mas desagradável nos meus<br />
núcleos de plasma cerebral, algo<br />
que eu nunca senti antes.<br />
Ridículo. Criaturas orgânicas<br />
racionais são o fruto das imaginações<br />
brilhantes, mas mal orientadas,<br />
de uns poucos sábios do<br />
conjunto. Especulações inteligentes,<br />
é verdade, mas sem qualquer<br />
embasamento factual mais sólido<br />
que meia dúzia de lendas préhistóricas.<br />
Mesmo os invasores, originários<br />
de um aglomerado globular<br />
distante, não são orgânicos. Caso<br />
o fossem, jamais conseguiriam<br />
utilizar as linhas de montagem<br />
e as instalações magníficas dos<br />
edifícios para proliferar continente<br />
adentro, como um vírus, capaz de<br />
infectar em pouquíssimo tempo