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Flávia Muniz O Hóspede<br />
elaborara aquela manhã.<br />
— Oi, Toni. Pensei que ainda<br />
estivesse em férias.<br />
— Ainda estou, para sua informação.<br />
Apenas resolvi fazer uma<br />
visita. Achei que estivesse com<br />
saudades.<br />
PG sorriu, agradecido. Toni<br />
era seu companheiro de investigações<br />
há cinco longos anos e nada<br />
mais reconfortante tê-lo por perto,<br />
ainda que fosse por pouco tempo.<br />
— O que pretende fazer? —<br />
disse Toni, após ler as anotações<br />
recentes sobre os<br />
casos de homicídio.<br />
— Não sei...<br />
ainda. Estou à<br />
procura de um motivo.<br />
Algum aspecto que tenha me<br />
escapado pelos dedos da mão.<br />
Outro ponto de vista que esclareça<br />
a questão.<br />
— Conte-me o que já fez. —<br />
pediu Toni, sentando-se diante<br />
dele.<br />
— Todo o procedimento<br />
normal. Conversei com as famílias<br />
e amigos das vítimas e dos assassinos,<br />
— Alguma informação inusitada?<br />
— Nada de especial. Sentiramse<br />
tão chocados quanto qualquer<br />
pessoa, ao descobrir que o<br />
simpático velhinho que morava ao<br />
lado era o famigerado estuprador<br />
da lua cheia.<br />
— Os novos criminosos tinham<br />
antecedentes?<br />
— Negativo. Eram espécie comum,<br />
comportavam-se de modo<br />
civilizado. Falei com o psiquiatra<br />
e o médico-legista. Ambos passaram<br />
a ideia de que essas pessoas<br />
eram doentes e não sabiam.<br />
— Então está resolvido! —<br />
concluiu Toni, com um sorriso.<br />
— Como assim, meu caro?<br />
Resolvido!?<br />
— Doentes, doidinhos da Silva.<br />
Pronto! Não perca seu tempo<br />
precioso.<br />
PG olhou-o, espantado.<br />
— Como pode se convencer<br />
tão facilmente? — perguntou,<br />
injuriado. — Só porque algo acontece<br />
repetidamente, não quer dizer<br />
que seja certo ou normal. Não<br />
Atendia às famílias necessitadas, distribuía<br />
alimentos e também mantinha uma escola<br />
primária para ensinar analfabetos.<br />
compreender os motivos porque<br />
algo acontece, não quer dizer que<br />
não existam motivos. Sei que há<br />
qualquer coisa incomum em tudo<br />
isso. Não percebe os sinais?<br />
— Algo incomum, você diz...<br />
estranho? Para mim a violência<br />
não é estranha. Convivo com ela<br />
diariamente. Acordo ouvindo<br />
seu grito de triunfo nas sirenes<br />
dos carros-patrulha, nos toques<br />
de telefone, durmo ao som dos<br />
disparos, com a canção de ninar<br />
dos noticiários da TV. A violência<br />
é um mar, PG, você sabe disso.<br />
Estamos mergulhados nele. Todos<br />
nós.<br />
PG calou-se, pensativo.<br />
— Todas essas pessoas que se<br />
tornaram criminosas eram pessoas<br />
comuns, como você e eu. Trabalhavam,<br />
comiam, faziam sexo, iam<br />
ao cinema...<br />
— Pois se um dia você sair por<br />
aí esfaqueando mocinhas indefesas,<br />
terei o maior prazer em meter<br />
51<br />
uma bala em sua cabeça, companheiro.<br />
— disse Toni, friamente.<br />
— Esse é o problema, meu<br />
caro. — respondeu PG, com expressão<br />
sombria.<br />
— Sabe o que minha sempre<br />
mãe dizia? — comentou Toni,<br />
após abocanhar um chocolate que<br />
dava sopa na mesa do amigo.<br />
— O que ela dizia?<br />
— Siga a sua intuição, filho.<br />
— e sorriu, mostrando os dentes<br />
sujos. — Era isso o que dizia.<br />
— Já acabou? — disse PG,<br />
levantando-se. -<br />
Então, vamos nessa.<br />
— Pra onde?<br />
— Seguir<br />
minha intuição.<br />
6<br />
A igreja em que o finado padre<br />
Bóris ministrava seu trabalho<br />
ficava em um bairro residencial de<br />
classe média. Era de arquitetura<br />
simples e imponente e sobrevivia<br />
à custa de donativos da associação<br />
dos moradores do bairro. Atendia<br />
às famílias necessitadas, distribuía<br />
alimentos e também mantinha<br />
uma escola primária para ensinar<br />
analfabetos.<br />
— O padre Mendes irá recebêlos<br />
agora. — disse a jovem atendente.<br />
Seguiram por uma estreita<br />
passagem, um corredor sombrio<br />
no interior da capela, até uma<br />
pequena sala onde havia um<br />
homem. Estava sentado numa<br />
poltrona, e trazia uma Bíblia nas<br />
mãos ossudas.<br />
— Boa tarde, padre Mendes...<br />
Meu nome é PG e este é meu co-