Ensino Fundamental – Profª. Milena – 6º ANO - ClickFacil.net
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2ª ATIVIDADE DE PORTUGUÊS <strong>–</strong> PROVA DIA 09/11<br />
4º BIMESTRE<br />
<strong>Ensino</strong> <strong>Fundamental</strong> <strong>–</strong> <strong>Profª</strong>. <strong>Milena</strong> <strong>–</strong> <strong>6º</strong> <strong>ANO</strong><br />
Leia o texto a seguir para responder às questões<br />
de 1 até 6.<br />
CAUSA PERDIDA<br />
[...] naqueles dias tinha chegado na cidade um<br />
padre que fora vigário de nossa paróquia anos atrás e que<br />
era, pelo que soube, muito amigo da nossa família — ele<br />
é que tinha batizado Chiquinho, meu irmãozinho. Logo<br />
que chegou, Mamãe e Papai foram lá visitá-lo, e então<br />
Mamãe convidou-o para almoçar um domingo lá em casa.<br />
O padre aceitou, e aí lembrou-se de umas coxinhas que<br />
ele tinha comido lá em casa num almoço aqueles tempos;<br />
e então Mamãe foi logo falando que ele ia comer de novo<br />
aquelas coxinhas. Não haveria nenhum mal nisso; o<br />
problema é que para as coxinhas Mamãe resolveu pegar<br />
um galo nosso, o Filó — e foi aí que danou tudo.<br />
Filomeno, que depois passou a ser simplesmente<br />
Filó, era de Chiquinho. Era um galo índio que Mamãe<br />
comprara franguinho ainda. Não sei por quê, Chiquinho<br />
logo criou afeição por ele; dizia que o franguinho era dele,<br />
tratava dele diariamente, com todo o carinho, levava água<br />
e comida, gamou com o bicho. Não sei se foi por causa<br />
de toda essa atenção, o frango logo mostrou que não era<br />
um frango qualquer: tinha inteligência, ou sei lá quê que<br />
ele tinha que era igual a inteligência; tinha algo que um<br />
frango comum não tem: ele compreendia e aprendia as<br />
coisas. Chiquinho ensinava para ele, e o danado, à<br />
medida que crescia, mostrava-se cada vez mais sabido.<br />
Por fim, já galo feito, fazia coisas que só mesmo as<br />
pessoas que viam podiam acreditar. [...]<br />
Não vou contar aqui tudo o que ele fazia, mesmo<br />
porque quase ninguém iria acreditar. Por exemplo: se eu<br />
contasse que ele dançava La cumparsita; Chiquinho<br />
assobiava, e Filó ia acompanhando. Isso várias pessoas<br />
viram. Era um galo diferente, o Q.I. do bicho devia ser o<br />
de um gênio. Dar bom dia com a asa, esconder a cabeça,<br />
coisas assim eram café pequeno para ele. No duro: às<br />
vezes eu ficava olhando e me dava até um negócio<br />
esquisito, pois não era normal, um galo que fazia essas<br />
coisas não podia ser um galo normal. Não era com todo<br />
mundo que ele fazia, era só com Chiquinho. Chiquinho<br />
conversava com ele, o galo ficava parado ouvindo e de<br />
vez em quando piscava, torcia a cabeça, sacudia as<br />
penas, arrepiava ou cacarejava; quem via jurava que ele<br />
estava entendendo palavra por palavra — e Chiquinho<br />
dizia que ele estava mesmo. Se tinha um doido ali, era<br />
difícil saber quem era; se o galo ou meu irmão — ou os<br />
dois juntos. O fato é que eles se entendiam e eram<br />
amigos.<br />
Além disso, como todo gênio, Filó tinha também<br />
suas maluquices. Por exemplo: tinha dia que cismava de<br />
andar numa perna só, saltitando; como ele fazia isso não<br />
sei, sei que ele fazia. A primeira vez que Chiquinho viu,<br />
pensou que fosse algum machucado, mas examinou e<br />
não viu nada, e depois, uma outra hora, surpreendeu o<br />
galo andando normalmente; e de novo numa perna só.<br />
Não tinha explicação: maluquice de gênio. Outra coisa<br />
esquisita era ele correr de vez em quando os pintinhos; é<br />
como se se sentisse azucrinado com aquela piadeira o dia<br />
inteiro — um gênio como ele ter que suportar isso —, e<br />
então explodia, e era uma folia dos diabos no galinheiro,<br />
com pintinho correndo para todo lado e a galinha aflita,<br />
sem saber quem acudia e sem entender o que dera em<br />
Filó.<br />
Uma terceira maluquice — Chiquinho achou que<br />
fosse maluquice — foi a de ele não sair da casinha, ficar<br />
lá dentro quase o tempo todo, trepado no poleiro, como<br />
quem não quer nada, às vezes até dormindo. [...]<br />
Um dia Chiquinho chegou no galinheiro e<br />
encontrou Filó num canto, abatido, ensangüentado, quase<br />
morto — levara uma surra do outro galo. Acabara o<br />
reinado de Filó. Chiquinho, de raiva, quase matou o outro<br />
galo, Mamãe é que chegou a tempo e não deixou, “que<br />
loucura é essa, menino?” “Ele bateu no Filó.” “Filó já está<br />
bom é de morrer, ele não serve mais pra nada.” Os<br />
adultos vivem ferindo à toa as crianças; Mamãe não<br />
precisava ter dito<br />
isso, ou, pelo menos, devia ter dito de outro modo.<br />
Poucos dias depois ela dava a notícia. Filó ia ser<br />
morto para fazer coxinha. Confesso que eu mesmo,<br />
quando soube disso, fiquei revoltado. Afinal de contas Filó<br />
não era um galo qualquer e merecia um fim mais digno do<br />
que esse de se ver transformado em coxinhas e ser<br />
comido entre conversas e risadas alegres num almoço de<br />
domingo.<br />
Existem certas causas que são perdidas desde o<br />
começo. São coisas que não deviam acontecer. Por<br />
exemplo: a gente gostar de um galo. Pois ninguém vai<br />
querer vê-lo um dia cozinhando na panela e transformado<br />
em coxinha. No entanto é esse o destino dos galos, e<br />
querer ir contra é, no mínimo, criar um problema<br />
doméstico.<br />
Quando eu falei com Mamãe que a gente podia<br />
comprar um outro galo para as coxinhas, ela deu uma<br />
bronca: “Comprar, se nós temos esse aí no ponto? Ou<br />
você quer que a gente deixe o Filó morrer de velhice e<br />
doença e depois ser enterrado, quando ele podia<br />
economizar o dinheiro de um bom galo pra coxinha?<br />
Vocês acham que seu pai trabalha pra quê? pensam que<br />
nós somos ricos? Chiquinho ainda passa, mas você já é<br />
rapaz e devia compreender isso. Vocês aqui em casa são<br />
cheios de coisas; criar tanto caso por causa de um galo<br />
velho”.<br />
“Não é um galo velho, Mãe”, eu falei.<br />
“Não é um galo velho como?...”<br />
“A senhora não compreende.”<br />
“Não compreende o quê?...”<br />
Eu cocei a cabeça.<br />
“Vocês só sabem é arranjar problema”, ela<br />
encerrou, e foi cuidar do serviço.<br />
Domingo chegou, e ao meio-dia lá estávamos<br />
todos à mesa: o padre e nós, com exceção de Chiquinho,<br />
que se fechou no quarto e não queria sair para nada. E lá<br />
estavam as coxinhas — pobre Filomeno. Eu decidira não<br />
comer nenhuma, em sinal de protesto; mas elas estavam<br />
tão apetitosas e os outros comiam com tanto gosto, que<br />
acabei não resistindo e comi também; comi quatro. Que<br />
Filó me perdoe.<br />
(Luiz Vilela. O violino e outros contos. São Paulo: Ática,<br />
1989. p. 60-4.)<br />
Vocabulário<br />
vigário: padre que substitui o pároco em uma paróquia.<br />
paróquia: a menor unidade de uma diocese, da qual é<br />
responsável um padre ou vigário, chamado pároco.
La cumparsita: o título de um tango, música de origem<br />
argentina.<br />
Q.I.: sigla de quociente de inteligência: proporção entre<br />
a inteligência de um indivíduo, determinada de acordo<br />
com alguma medida mental, e a inteligência normal ou<br />
média para sua idade.<br />
azucrinado: aborrecido, irritado.<br />
1. A história apresenta duas formas de relacionamento<br />
entre as pessoas e o galo. De um lado, o modo como as<br />
crianças — os dois irmãos — se relacionavam com Filó;<br />
de outro, como o adulto — a mãe — via o galo.<br />
a) Para Chiquinho, o que significava o galo?<br />
b) Quem conta a história é o irmão de Chiquinho. Ele<br />
também admirava o galo Filó? Justifique sua resposta.<br />
c) E para a mãe, que valor tinha o galo?<br />
2. O irmão se surpreende com certos comportamentos do<br />
galo. Na sua opinião, há algum exagero nos comentários<br />
que ele faz a respeito de Filó? Justifique sua resposta.<br />
3. Lembrando do comentário que a mãe fez de quando<br />
Chiquinho, de raiva, quase matou o outro galo, o irmão<br />
critica os adultos: “Os adultos vivem ferindo as crianças”.<br />
a) Pensando na satisfação de Chiquinho, você acha que o<br />
galo não servia mesmo para mais nada?<br />
b) Você também acha verdadeira a afirmação do irmão de<br />
Chiquinho? Justifique sua resposta.<br />
4. Quando fica sabendo que a mãe pretende transformar<br />
Filó em coxinhas, o irmão se revolta e decide defender o<br />
galo.<br />
Leia esta tira para responder às questões 7, 8, 9 e 10.<br />
a) Com que argumento ele tenta convencer a mãe a não<br />
matá-lo?<br />
b) Durante a discussão com a mãe, ele coça a cabeça. O<br />
que representa esse gesto naquele contexto?<br />
c) O que a mãe, na sua opinião, não consegue<br />
compreender?<br />
5. A luta dos irmãos para manter Filó vivo cria um<br />
“problema doméstico”: de um lado, os argumentos dos<br />
irmãos, baseados nos sentimentos; de outro, os<br />
argumentos da mãe, ligados ao senso prático.<br />
a) Normalmente, diante de certas situações da vida, ou<br />
agimos de forma prática, ou de forma emocional. Quando<br />
o irmão de Chiquinho afirma: “Existem certas causas que<br />
são perdidas desde o começo”, ele manifesta ter que tipo<br />
de visão da vida: uma visão mais emocional ou mais<br />
prática? Justifique.<br />
b) A partir do momento em que a mãe anuncia a morte de<br />
Filó, Chiquinho quase desaparece da história. O irmão, ao<br />
contrário, se destaca mais. Por que você acha que isso<br />
aconteceu?<br />
6. O irmão mais velho, então adolescente, em transição<br />
para a vida adulta, defendeu Filó até quando pôde. No<br />
entanto, no último parágrafo, teve uma ação<br />
surpreendente: comeu quatro coxinhas. Essa atitude o<br />
aproxima mais do universo da criança ou do universo do<br />
adulto? Justifique sua resposta.<br />
(Bill Watterson. Os dias estão simplesmente lotados. São Paulo: Best News, 1995. v. 2, p. 31.<br />
Vocabulário<br />
vaguear: andar sem rumo certo. vilanice: coisas ruins que o vilão faz.<br />
zefir: vento; deus do vento.<br />
7. Nessa tira de Calvin, vemos duas situações: uma imaginada e outra real.<br />
a) Dos quatro quadrinhos da tira, quais deles mostram uma situação imaginada?<br />
b) E qual deles mostra a verdadeira situação em que estão Calvin e sua mãe?<br />
8. Observe a forma como Calvin e sua mãe se tratam.<br />
a) Em que pessoa a mãe de Calvin trata o filho? Que pronome pessoal do caso reto comprova sua resposta?<br />
b) E Calvin, em que pessoa trata a mãe? Que pronome pessoal do caso reto comprova sua resposta?<br />
9. Essas formas de tratamento tornam o diálogo entre mãe e filho menos ou mais formal? Justifique.<br />
10. Observe o último quadrinho. Calvin e sua mãe estão assistindo a um programa policial.<br />
a) Quem fantasiou as três cenas iniciais? Por quê?<br />
b) Que elementos do filme policial foram transportados para essa fantasia?