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Estados Unidos e América Latina: da doutrina Monroe ao Big Stick

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<strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> e <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: <strong>da</strong> <strong>doutrina</strong> <strong>Monroe</strong> <strong>ao</strong> <strong>Big</strong> <strong>Stick</strong><br />

Desde o início do século 19 os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> demonstram pretensões hegemônicas em<br />

relação <strong>ao</strong> continente americano. O marco fun<strong>da</strong>dor dessa pretensão ocorreu em 1823,<br />

quando o presidente James <strong>Monroe</strong> fez uma declaração bastante au<strong>da</strong>ciosa, afirmando que<br />

seu país interviria militarmente para aju<strong>da</strong>r qualquer país já independente do continente num<br />

caso de invasão de alguma nação européia. A declaração ficou conheci<strong>da</strong> como <strong>doutrina</strong><br />

<strong>Monroe</strong> e foi sintetiza<strong>da</strong> na frase “<strong>América</strong> para os americanos”.<br />

Apesar de essa <strong>doutrina</strong> significar aparentemente uma aju<strong>da</strong> dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> <strong>ao</strong>s<br />

outros países do continente, representava também um perigo, pois, caso o Exército norte-<br />

americano chegasse a ocupar outras partes do continente, poderia se tornar uma ameaça a<br />

autonomia desses países. A declaração de <strong>Monroe</strong> demonstrava certa confiança no poderio<br />

militar de seu país e o próprio fato de o <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> se auto-atribuírem uma função de<br />

“defender” o continente já demonstrava que se consideravam fortes o suficiente para fazê-lo.<br />

Apesar do discurso de “aju<strong>da</strong> <strong>ao</strong>s países americanos”, pouco tempo depois os <strong>Estados</strong><br />

<strong>Unidos</strong> envolveram-se numa guerra contra o México, entre 1846-48, na qual tomaram cerca de<br />

metade do território do país vizinho. Essa situação levantou sérias preocupações nos demais<br />

países do continente, que passaram a considerar os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> como um país<br />

expansionista e perigoso para a autonomia <strong>da</strong>s demais nações americanas.<br />

Assim, quando no final do século, em 1889, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> propuseram a aproximação<br />

dos países americanos, sob uma ideia de um pan-americanismo, a proposta não foi bem vista<br />

pela maior parte <strong>da</strong>s nações do continente. Naquele período, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> já eram um<br />

país industrializado, <strong>ao</strong> contrário dos outros países americanos, e já eram uma potência<br />

econômica no âmbito continental. Portanto, a livre troca de mercadorias entre as nações<br />

americanas tendia a favorecer aquela que era economicamente mais desenvolvi<strong>da</strong> e o pan-<br />

americanismo priorizava exatamente uma integração comercial, de forma semelhante à<br />

proposta <strong>da</strong> ALCA, que existe atualmente.<br />

Mas a visão dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> como uma ameaça <strong>ao</strong>s outros países americanos se<br />

tornou muito mais evidente a partir <strong>da</strong> vira<strong>da</strong> do século 19 para o 20, quando o país norte-<br />

americano assumiu oficialmente uma política externa agressiva no continente.<br />

Em 1898 os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> intervieram na guerra de independência de Cuba, que ain<strong>da</strong><br />

lutava contra o domínio espanhol. O país norte-americano lutou <strong>ao</strong> lado dos cubanos e<br />

garantiu a vitória contra a Espanha que, além de Cuba, perdeu os territórios do atual Porto<br />

Rico e as ilhas de Filipinas e Guam, no Pacífico. Mas, após a guerra, essas antigas colônias<br />

espanholas tornaram-se protetorados dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. Porto Rico até hoje não é uma<br />

nação independente, mas pertence <strong>ao</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, sob o estatuto de um “estado livre


associado”. Cuba não foi oficialmente submeti<strong>da</strong> <strong>ao</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, entretanto, em 1901, o<br />

país norte-americano obrigou os cubanos a implantarem uma emen<strong>da</strong> em sua Constituição,<br />

conheci<strong>da</strong> como Emen<strong>da</strong> Platt, que autorizava os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> a intervirem nos assuntos<br />

internos de Cuba, o que tirava a autonomia do país.<br />

A intervenção dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> na guerra de independência cubana é considera<strong>da</strong> como<br />

marco inicial <strong>da</strong> política intervencionista do país norte-americano no continente. Essa política,<br />

que foi predominante nas primeiras déca<strong>da</strong>s do século 20, normalmente é designa<strong>da</strong> como<br />

imperialista, devido a seu caráter expansionista e agressivo. A base oficial <strong>da</strong> política externa<br />

norte-americana no continente foi formula<strong>da</strong> em 1904 pelo presidente Theodore Roosevelt na<br />

forma de um corolário à antiga <strong>doutrina</strong> de <strong>Monroe</strong>. Roosevelt afirmou que os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong><br />

eram uma “nação civiliza<strong>da</strong>” e que tinham o direito e o dever de intervir militarmente em<br />

qualquer país do continente que se demonstrasse “incapaz ou relutante” em garantir a paz<br />

interna ou o pagamento de suas dívi<strong>da</strong>s para com outros países. A declaração do presidente<br />

norte-americano deu origem à chama<strong>da</strong> política do <strong>Big</strong> <strong>Stick</strong>, ou grande porrete, em referência a<br />

seu caráter agressivo.<br />

Mas, mais do que tomar territórios, os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> demonstraram o interesse em<br />

expandir seu poder comercial na região. Assim, a partir de 1903, passaram a pressionar o<br />

Panamá, que fazia parte <strong>da</strong> Colômbia, para que se tornasse um país independente. A proposta<br />

era que os norte-americanos aju<strong>da</strong>riam na independência do Panamá e esse novo país, então,<br />

<strong>da</strong>ria <strong>ao</strong>s <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> o direito de construir e explorar as oportuni<strong>da</strong>des comerciais de um<br />

canal que ligasse os oceanos Atlântico e Pacífico, passando pelo território panamenho. Em<br />

1913 o Panamá tornou-se independente <strong>da</strong> Colômbia e, no mesmo ano, o Canal do Panamá<br />

começou a ser construído pelos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>, que mantiveram o controle sobre ele até o fim<br />

<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990.<br />

A atitude mais agressiva <strong>da</strong> política do <strong>Big</strong> <strong>Stick</strong> atingiu principalmente os pequenos países<br />

centro-americanos e caribenhos, por sua vulnerabili<strong>da</strong>de econômica e política, devido <strong>ao</strong><br />

pequeno território e pela proximi<strong>da</strong>de em relação à potência continental. Até o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><br />

de 1930, quando os <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong> mu<strong>da</strong>ram oficialmente sua política externa continental, o<br />

país realizou ocupações militares em vários países <strong>da</strong> <strong>América</strong> Central e do Caribe, como Cuba,<br />

Haiti, República Dominicana, Nicarágua, Costa Rica, Honduras e Guatemala.<br />

_____________________<br />

Referências<br />

ARDAO, Arturo. Panamericanismo y latinoamericanismo. In: ZEA, Leopoldo (coord.). <strong>América</strong> <strong>Latina</strong><br />

en sus ideas. México, Siglo XXI/UNESCO, 1986, p. 157-71.<br />

SCILLING, Voltaire. EUA X <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>: as etapas <strong>da</strong> dominação. Porto Alegre: Mercado Aberto,<br />

1984.<br />

SYRETT, Harold C. (org.). Documentos históricos dos <strong>Estados</strong> <strong>Unidos</strong>. SP: Cultrix, 1995.<br />

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