148 - Acervo Rio de Contas
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nada. Mas uma cabeça <strong>de</strong>ssa leva três vidros <strong>de</strong><br />
cola, gasta bastante. De tecido, compro 10 metros<br />
<strong>de</strong> pano, cinco pra calça, cinco pra parte <strong>de</strong><br />
cima. E leva muito papel. É preciso gostar muito<br />
pra fazer um negócio <strong>de</strong>sse aqui.<br />
Dono <strong>de</strong> muitas habilida<strong>de</strong>s artísticas, seu Humberto se gaba<br />
<strong>de</strong> saber fazer todo tipo <strong>de</strong> artesanato: “faço bonequinhas <strong>de</strong><br />
sabugo <strong>de</strong> milho e fogueira <strong>de</strong> São João, tudo eu faço”. Nos<br />
festejos juninos, também confecciona balões <strong>de</strong> tamanhos<br />
variados, usados para enfeitar as casas, feitos à base <strong>de</strong> papelcartão<br />
e com rabiola <strong>de</strong> papel <strong>de</strong> seda picotado. “Esse balãozinho<br />
é feito todo embutido, ele se faz por <strong>de</strong>ntro. Eu faço uns<br />
50 <strong>de</strong> uma vez. Corto com a tesoura e venho colando”, explica.<br />
Outra técnica que domina é a da produção da lanterna usada<br />
na festa <strong>de</strong> Corpus Christi, que se realiza <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1745, logo<br />
após a elevação da vila à categoria <strong>de</strong> Freguesia do Santíssimo<br />
Sacramento das Minas <strong>de</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Contas</strong>. É merecido <strong>de</strong>stacar<br />
que, muito mais do que festa litúrgica, ali, a celebração <strong>de</strong><br />
Corpus Christi assume caráter <strong>de</strong>vocional popular. Seu ápice<br />
é a procissão pelas ruas da cida<strong>de</strong>, que mantém até hoje o costume<br />
<strong>de</strong> enfeitar as ruas com tapetes <strong>de</strong> serragem, flores e outros<br />
materiais, dando origem a imensos mosaicos coloridos.<br />
Dessa maneira, seu Humberto se sente muito realizado<br />
em confeccionar um objeto tradicional utilizado em oca-<br />
sião tão importante para a cida<strong>de</strong>, que tem as fachadas das<br />
casas, prédios públicos e praças enfeitadas com as singelas<br />
luminárias. Ele conta que não existe um único formato, e<br />
que isso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da inspiração e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> cada autor ou<br />
mesmo do cliente. “Existe lanterna <strong>de</strong> todo tamanho, <strong>de</strong><br />
toda cor, <strong>de</strong> todo formato. Depen<strong>de</strong> do gosto <strong>de</strong> cada um.”<br />
A estrutura feita <strong>de</strong> talos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, em geral <strong>de</strong> formato<br />
retangular, tem todas as faces revestidas <strong>de</strong>licadamente<br />
com papel <strong>de</strong> seda e uma cavida<strong>de</strong> na ponta superior para<br />
que uma vela seja <strong>de</strong>positada no pequeno castiçal preso no<br />
fundo. Em um dos lados é colada uma folha <strong>de</strong> flandre cujo<br />
<strong>de</strong>senho, obtido por meio <strong>de</strong> mol<strong>de</strong>, é recortado com tesoura:<br />
“po<strong>de</strong> ser a pombinha do Divino, o Sagrado Coração,<br />
ramos <strong>de</strong> oliveira, mas o mais comum mesmo é o cálice<br />
com a hóstia consagrada”.<br />
Entre tantas matérias que passam pelas mãos dos artesãos<br />
aqui apresentados, salta aos olhos a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
histórias, memórias, crenças e <strong>de</strong>sejos que elas e eles carregam,<br />
fazendo <strong>de</strong>sse lugar, enfim, um <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Contas</strong> e também<br />
<strong>de</strong> tradições.<br />
Bibliografia<br />
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<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, 2006.<br />
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Sites visitados<br />
Museu <strong>de</strong> Artes e Ofícios: http://www.mao.com.br