148 - Acervo Rio de Contas
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local tem seu ponto alto no festejo do Santíssimo Sacramento,<br />
padroeiro da cida<strong>de</strong>, marcado pelas procissões e ladainhas<br />
acompanhadas da tradicional Filarmônica Lira dos Artistas.<br />
Não bastasse o cenário bucólico, <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Contas</strong> envolve<br />
o visitante pela marcante aura <strong>de</strong> seu passado fausto, ainda<br />
claramente rememorado nos dias presentes graças ao bem<br />
preservado casario <strong>de</strong> feições coloniais, edificado à margem<br />
do rio Brumado, tombado por lei fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1980.<br />
Atualmente, o município <strong>de</strong> aproximadamente 14 mil<br />
habitantes dispersos em 1.056,3km² (IBGE, 2008), com IDH<br />
<strong>de</strong> 0,653 (PNDU, 2000), tem como uma <strong>de</strong> suas principais<br />
fontes <strong>de</strong> renda, ao lado da agricultura, da pecuária e do comércio<br />
<strong>de</strong> médio porte, o trabalho dos inúmeros artífices<br />
que herdaram técnicas seculares <strong>de</strong> tratar metais, couro,<br />
ma<strong>de</strong>ira e tecidos – reminiscências das ativida<strong>de</strong>s que lhe<br />
ren<strong>de</strong>ram o título <strong>de</strong> Parque Artesanal do Sertão (Pereira,<br />
1957) até o segundo quartel do século 20, e que foram mote<br />
da investigação <strong>de</strong> pesquisadores como Hermann Kruse,<br />
Marvin Harris, Costa Pereira e Pierre Verger.<br />
Nesta Sala do Artista Popular intenta-se <strong>de</strong>monstrar<br />
um pouco do vasto universo <strong>de</strong> tipologias artesanais <strong>de</strong> <strong>Rio</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Contas</strong> levadas à frente pela persistência <strong>de</strong> mestres que<br />
contribuem para o incremento das especificida<strong>de</strong>s históricas<br />
e culturais locais.<br />
Os saudosos tempos áureos<br />
Senhor. – Já fiz presente a Vossa Magesta<strong>de</strong> que<br />
estava erecta a Villa do Ryo das <strong>Contas</strong> com<br />
o seo Magistrado e que Pedro Barbosa Leal se<br />
achava nesta cida<strong>de</strong>, tendo executado no discurso<br />
<strong>de</strong> três annos tudo quanto lhe or<strong>de</strong>ney e<br />
convinha ao Serviço <strong>de</strong> Vossa Magesta<strong>de</strong>, e aos<br />
seus reaes interesses.<br />
Trecho da carta do vice-rei comunicando a criação<br />
da Villa <strong>de</strong> Nossa Senhora do Livramento e Minas do<br />
<strong>Rio</strong> das <strong>Contas</strong>. Bahia, 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1925 (Livro 2D –<br />
Or<strong>de</strong>ns Régias – 1724 a 1725 – Arquivo Público).<br />
A história <strong>de</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Contas</strong> é cheia <strong>de</strong> causos e prosas<br />
que se eternizam na narrativa popular, muitas vezes encerrando-se<br />
em charadas com poucas pistas que mais parecem<br />
lendas e anedotas. O que se ouve da boca do povo, em muitos<br />
pontos, coinci<strong>de</strong> com o que a história oficial vem atestando:<br />
a efêmera, mas lucrativa, mineração conferiu à cida<strong>de</strong> dias<br />
<strong>de</strong> glória e riqueza que perfeitamente casavam com as artes<br />
que até hoje ajudam a sustentar o lugar.<br />
Conta-se que a colonização da região iniciou-se nos fins<br />
do século 17. Os primeiros vestígios <strong>de</strong> povoamento se <strong>de</strong>ram<br />
em data que não se sabe precisar, com negros em situação<br />
não <strong>de</strong>finida – se escravos fugidos ou alforriados – que<br />
se aquilombaram nas proximida<strong>de</strong>s do <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Contas</strong> Pequeno,<br />
atual <strong>Rio</strong> Brumado.<br />
A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escoamento da produção aurífera dos<br />
estados <strong>de</strong> Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso forçou ban-<br />
<strong>de</strong>irantes a se lançarem sertão a<strong>de</strong>ntro em busca <strong>de</strong> um<br />
caminho que levasse a Salvador, então capital da Colônia.<br />
O pequeno aglomerado, a partir <strong>de</strong> então, tornou-se ponto<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso <strong>de</strong> viajantes que cruzavam a Estrada Real,<br />
e passou a ser chamado <strong>de</strong> Pouso dos Crioulos (ou Arraial<br />
dos Crioulos).<br />
Logo na primeira década do século 18 são <strong>de</strong>scobertas ali<br />
as primeiras jazidas <strong>de</strong> ouro. Em meio a essas pioneiras explorações<br />
foi fundado o Povoado <strong>de</strong> Mato Grosso, a 1.450m<br />
<strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se encontra, até os dias <strong>de</strong> hoje, a Igreja <strong>de</strong><br />
Santo Antônio, erigida pelos jesuítas que lá chegaram poucos<br />
anos mais tar<strong>de</strong>.<br />
A notícia da abundância do mineral na região se espalhou,<br />
<strong>de</strong>spertando a cobiça <strong>de</strong> muitos, até mesmo <strong>de</strong> nações<br />
estrangeiras. Os “reaes interesses” mencionados pelo vicerei<br />
no trecho acima <strong>de</strong>stacado, portanto, referem-se à preo-<br />
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