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Análise do filme “CHE”, sob a ótica da teoria de ... - Educaleaks

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<strong>Análise</strong> <strong>do</strong> <strong>filme</strong> <strong>“CHE”</strong>, <strong>sob</strong> a <strong>ótica</strong> <strong>da</strong> <strong>teoria</strong> <strong>de</strong> Clausewitz e <strong>de</strong> Lawrence<br />

Ana Paula Faria Rocha Vilas Boas<br />

Sarah Araújo Nunes 1<br />

O <strong>filme</strong> começa com Fi<strong>de</strong>l Castro len<strong>do</strong> uma carta que Che Guevara <strong>de</strong>ixou a ele<br />

quan<strong>do</strong> saiu <strong>de</strong> Cuba. É importante <strong>de</strong>stacar o que Guevara afirma: “Numa revolução se<br />

triunfa ou se morre”. Esta afirmação mostra a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> lutar e a crença que ele tinha naquilo<br />

que <strong>de</strong>fendia. Che então vai para a Bolívia. Ele entra em La Paz disfarça<strong>do</strong> <strong>de</strong> representante<br />

<strong>da</strong> OEA (Organização <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Americanos), assim como muitos guerrilheiros entram em<br />

outros países disfarça<strong>do</strong>s também. Como exemplo disso, o <strong>filme</strong> conta <strong>sob</strong>re alguns cubanos<br />

que conseguiram entrar nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s fingin<strong>do</strong> serem panamenhos, afinal <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />

revolução em Cuba, nenhum cubano era bem vin<strong>do</strong> em países que se diziam <strong>de</strong>mocráticos,<br />

contra os comunistas.<br />

Já no início é possível ver uma importante característica que Clausewitz <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

para que aconteça uma guerrilha: o relevo <strong>de</strong> difícil acesso, montanhoso e <strong>de</strong> floresta <strong>de</strong>nsa. E<br />

é <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a esse relevo que os guerrilheiros conseguem se escon<strong>de</strong>r e fazer seu treinamento.<br />

Construíam seus acampamentos no meio <strong>da</strong> floresta on<strong>de</strong> os carros tinham que atravessar rios<br />

e era difícil chegar, tu<strong>do</strong> para manterem longe o exército. Até as armas chegavam disfarça<strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> barris. Como disse Fi<strong>de</strong>l, Guevara precisava <strong>de</strong> tempo e sossego para treinar. Essa<br />

característica também se faz presente na obra <strong>de</strong> Lawrence, quan<strong>do</strong> este coloca que um <strong>do</strong>s<br />

pilares <strong>da</strong> rebelião é ter uma base inacessível, para dificultar o ataque <strong>do</strong>s inimigos.<br />

Na floresta eles encontraram outros guerrilheiros e, como o grupo ain<strong>da</strong> estava<br />

sen<strong>do</strong> organiza<strong>do</strong>, quanto mais voluntários eles conseguissem, melhor. Alguns <strong>do</strong>s<br />

voluntários eram membros <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> bolivariano, porém, ain<strong>da</strong> era necessário convencer o<br />

chefe <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> para ter a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s. Um guerrilheiro reitera: “se realmente queremos<br />

mu<strong>da</strong>r essa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> somos nós os que po<strong>de</strong>mos fazê-lo. Mas para isso o parti<strong>do</strong> tem que<br />

apoiar a guerrilha.”. As principais dúvi<strong>da</strong>s e me<strong>do</strong> <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> em apoiá-los se referem a:<br />

aban<strong>do</strong>no <strong>da</strong>s famílias pelos guerrilheiros, a falta <strong>de</strong> condições para a luta arma<strong>da</strong> e o fato <strong>de</strong><br />

Che Guevara ser um estrangeiro (argentino); Mario Monje (chefe <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> bolivariano)<br />

afirmava que o povo não iria a<strong>de</strong>rir à revolução por causa, principalmente, <strong>de</strong>ste último fato.<br />

1 Graduan<strong>do</strong>s <strong>do</strong> 6º perío<strong>do</strong> (manhã) <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Relações Internacionais <strong>da</strong> PUC-Minas.


Che não concor<strong>do</strong>u com ele e ain<strong>da</strong> afirmou que havia condições para a luta arma<strong>da</strong>, afinal o<br />

povo era explora<strong>do</strong>, não tinha acesso à saú<strong>de</strong>, educação, infra-estrutura, eram massacra<strong>do</strong>s,<br />

além <strong>de</strong> apresentarem péssimos índices com relação à taxa <strong>de</strong> mortali<strong>da</strong><strong>de</strong>. O parti<strong>do</strong> não<br />

apoiou. E Guevara sabia que sem o apoio popular nunca tomariam o po<strong>de</strong>r, como havia<br />

aprendi<strong>do</strong> em Cuba. Nesse contexto, encaixa-se o elemento psicológico <strong>da</strong>s idéias <strong>da</strong> <strong>teoria</strong> <strong>de</strong><br />

Lawrence, que diz respeito à propagan<strong>da</strong> <strong>da</strong> guerrilha e ao arranjo mental <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s na<br />

luta. Para tanto, Lawrence afirma em sua obra que uma província estaria conquista<strong>da</strong> quan<strong>do</strong><br />

os “irregulares” (forma que ele chama os guerrilheiros) conseguissem convencer os civis a<br />

morrer por aquele i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>fendi<strong>do</strong>.<br />

Guevara então mu<strong>da</strong> o local <strong>de</strong> acampamento para mais perto <strong>da</strong> Argentina, e muitos<br />

não enten<strong>de</strong>m tal <strong>de</strong>cisão. Além <strong>do</strong> sossego para efetuar o treinamento essa mu<strong>da</strong>nça po<strong>de</strong> ter<br />

si<strong>do</strong> feita com o intuito <strong>de</strong> divulgar mais o movimento pelo interior <strong>do</strong> país, on<strong>de</strong> as pessoas<br />

eram menos politiza<strong>da</strong>s, pois no norte já haviam os mineiros que faziam greve e já estavam<br />

mais politiza<strong>do</strong>s nesse senti<strong>do</strong>. Assim como Clausewitz <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, quanto mais o movimento<br />

estiver espalha<strong>do</strong> pelo território melhor. Isso faz com que o exército oponente tenha que se<br />

dividir mais, minan<strong>do</strong> um pouco sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> militar, sua força <strong>de</strong> ataque, e crian<strong>do</strong> a<br />

impressão <strong>de</strong> que o movimento guerrilheiro está em to<strong>do</strong>s os lugares. Outra questão <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong><br />

pelo autor, e que se encontra presente no <strong>filme</strong>, é que os guerrilheiros estão sempre no interior<br />

<strong>do</strong> país, nunca em La Paz (capital) e evitam passar por ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s gran<strong>de</strong>s, preferem os lugarejos<br />

on<strong>de</strong> estão os camponeses. Nesse ponto, Lawrence chama a atenção para o fato <strong>de</strong> que,<br />

enquanto a maioria <strong>da</strong>s guerras era <strong>de</strong> contato, a guerrilha <strong>de</strong>veria ser uma guerra <strong>de</strong><br />

distanciamento, com os combatentes revelan<strong>do</strong>-se apenas no momento <strong>do</strong> ataque.<br />

O <strong>filme</strong> então mostra tu<strong>do</strong> que é necessário para se iniciar uma revolução<br />

guerrilheira: além <strong>do</strong> treinamento é preciso dinheiro (Fi<strong>de</strong>l envia dinheiro <strong>de</strong> Cuba; em outro<br />

momento Che pe<strong>de</strong> a outro guerrilheiro que vá a França conseguir apoio e man<strong>da</strong> cartas para<br />

Cuba pedin<strong>do</strong> que organizem um fun<strong>do</strong> internacional <strong>de</strong> aju<strong>da</strong> ao movimento libertário<br />

boliviano); há pessoas que ficam <strong>de</strong> fora <strong>do</strong> movimento para fazer contato com pessoas no<br />

exterior (Tânia); compravam alimentos <strong>do</strong>s vizinhos camponeses; precisavam <strong>de</strong> rádios para<br />

manter contatos com aqueles que estavam em outros lugares <strong>da</strong> floresta, seja para vigilância<br />

ou para qualquer outro fim (a vantagem geográfica, para Clausewitz, <strong>de</strong>veria estar alia<strong>da</strong> ao<br />

tamanho <strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong> comunicação e ao tamanho <strong>do</strong> exército inimigo).<br />

Alguns vizinhos queriam aju<strong>da</strong>r, Che aceitava, porém <strong>de</strong>ixava claro que se os<br />

traíssem seriam mortos. Guevara relaciona-se com a população local com o intuito <strong>de</strong><br />

conseguir comi<strong>da</strong> e <strong>de</strong> avaliar a situação que os camponeses viviam na Bolívia. Aju<strong>da</strong>vam


muitas crianças que estavam com problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e em troca pediam por alimentos e<br />

medicamentos (sempre pagan<strong>do</strong> pro estes). Discursavam <strong>sob</strong>re a péssima situação em que os<br />

camponeses estavam viven<strong>do</strong>, faziam o discurso <strong>sob</strong>re a falta <strong>de</strong> educação, saú<strong>de</strong>, infra-<br />

estrutura e a exploração sofri<strong>da</strong> por eles. A população, no entanto, ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>sconfiava <strong>da</strong>s<br />

intenções <strong>do</strong>s guerrilheiros, tinham me<strong>do</strong> <strong>de</strong>les.<br />

Começa a travessia <strong>de</strong>les pelo país. Antes <strong>de</strong> iniciarem, Guevara faz um discurso<br />

<strong>sob</strong>re as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que encontrarão pelo caminho (escassez <strong>de</strong> alimento, a inclemência <strong>do</strong><br />

clima, a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> alguns companheiros, os recursos limita<strong>do</strong>s e o pouco contato com o<br />

exterior) e pergunta novamente se querem seguir com a revolução; to<strong>do</strong>s vão. “Só me tiram<br />

<strong>da</strong>qui morto e ficarei ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s que ficarem ate a vitória”, disse Che para incentivar seus<br />

companheiros <strong>de</strong> luta. O <strong>filme</strong> mostra também que existiam certas regras para a convivência<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> grupo guerrilheiro, como: tu<strong>do</strong> é <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s e na<strong>da</strong> é <strong>de</strong> ninguém (cena em que alguns<br />

combatentes roubam a comi<strong>da</strong>); não é permiti<strong>do</strong> ameaçar ou machucar ninguém (até os chefes<br />

tem que <strong>da</strong>r a or<strong>de</strong>m com respeito); e não mentir, pois a mentira <strong>de</strong>strói a moral e a<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> combativa <strong>do</strong> grupo. Durante a movimentação <strong>de</strong>les por to<strong>da</strong> a Bolívia, além <strong>da</strong>s<br />

campanhas (discursos) realiza<strong>da</strong>s nas vilas, os guerrilheiros também emboscavam alguns<br />

sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> exército, não para matá-los, mas sim, para apresentá-los à Revolução e incentivá-<br />

los a fazer parte <strong>de</strong>sta. Porém, não foram bem sucedi<strong>do</strong>s.<br />

A questão política, cita<strong>da</strong> por Clausewitz, a qual fala que a política também está<br />

envolvi<strong>da</strong> na guerra (combate), está presente quan<strong>do</strong> Che e alguns <strong>do</strong>s lí<strong>de</strong>res guerrilheiros<br />

eram vistos como representações políticas, simbolizan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>sejo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e o queriam<br />

fazer cumprir por meio <strong>da</strong> luta arma<strong>da</strong>. Contu<strong>do</strong>, a revolução boliviana i<strong>de</strong>aliza<strong>da</strong> por Che<br />

Guevara começou contradizen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s princípios fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> <strong>teoria</strong> <strong>de</strong> guerra <strong>de</strong><br />

Clausewitz: o apoio popular. A população camponesa boliviana tinha me<strong>do</strong> <strong>da</strong>s intenções <strong>do</strong>s<br />

guerrilheiros, achavam que eles eram planta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cocaína, não entendiam bem o<br />

movimento que eles pregavam; o parti<strong>do</strong> também estava convencen<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais os<br />

bolivianos que treinaram em Cuba a não se unirem à guerrilha; há também a ação <strong>do</strong> governo<br />

juntamente com a <strong>do</strong> exército, que espalharam boatos entre os camponeses, falan<strong>do</strong> que os<br />

guerrilheiros roubam, violam as mulheres, matam aqueles que não querem lhes servir, que<br />

escravizam o povo, além <strong>de</strong> divulgar que a maioria <strong>do</strong>s guerrilheiros eram cubanos, ou seja, a<br />

revolução era na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> uma invasão à Bolívia arquiteta<strong>da</strong> por Fi<strong>de</strong>l Castro. Com tantos<br />

boatos negativos <strong>sob</strong>re a Revolução guerrilheira, o povo em momento algum se mostrou<br />

solidário com o movimento, inclusive aju<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o exército a capturar muitos guerrilheiros por<br />

meio <strong>de</strong> embosca<strong>da</strong>s (as quais provocaram muitas per<strong>da</strong>s para os guerrilheiros). Sem <strong>de</strong>ixar


<strong>de</strong> la<strong>do</strong> o fato <strong>de</strong> que a aju<strong>da</strong> camponesa ao exército se <strong>de</strong>veu à pressão e ameaça feitas por<br />

este. A falta <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> popular foi um fator relevante que contribuiu para o fim <strong>do</strong> movimento<br />

guerrilheiro, afinal eles <strong>de</strong>pendiam <strong>do</strong>s alimentos e medicamentos forneci<strong>do</strong>s pelos<br />

camponeses e ain<strong>da</strong> não contavam que seriam entregues ao exército por eles. A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ter uma população amigável consta também em um <strong>do</strong>s pilares <strong>da</strong> rebelião <strong>de</strong> Lawrence, e<br />

isso explica, em parte, o fracasso <strong>da</strong> guerrilha. Resumin<strong>do</strong>, o caráter nacional não era<br />

a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para a realização <strong>de</strong> um movimento libertário boliviano, através <strong>da</strong> luta arma<strong>da</strong>.<br />

O oponente, nesse caso o governo, apresenta também dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s em combater a<br />

Revolução. São três as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s: as ações <strong>da</strong> guerrilha; a incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> para luta<br />

antiguerrilha e a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> que a população se torne indiferente à situação. O presi<strong>de</strong>nte<br />

norte-americano, em visita a La Paz, também se mostrou preocupa<strong>do</strong> com a guerrilha (Fi<strong>de</strong>l<br />

Castro no coração <strong>da</strong> América Latina - a Bolívia), então criaram um grupo que foi treina<strong>do</strong> e<br />

equipa<strong>do</strong> para combater o problema por combatentes norte-americanos. Acreditavam que se<br />

controlassem a imprensa e ganhassem a confiança <strong>do</strong>s camponeses conseguiriam cumprir seu<br />

objetivo (<strong>de</strong>struir os guerrilheiros). Os americanos treinariam o exército boliviano em<br />

armamentos, comunicações, <strong>de</strong>molições e inteligência até serem tão bons quanto eles.<br />

Também os educariam politicamente para que vissem o la<strong>do</strong> moral <strong>da</strong> operação (ponto<br />

<strong>de</strong>fendi<strong>do</strong> por Clausewitz, como já foi dito anteriormente).<br />

Guevara, a to<strong>do</strong> o momento afirmava que qualquer movimento <strong>de</strong>veria ser realiza<strong>do</strong><br />

em conjunto, porém a partir <strong>da</strong> <strong>teoria</strong> clausewitziana isso tornaria mais fácil a captura <strong>de</strong>les<br />

pelo exército. Outro erro foi permanecer muito tempo na <strong>de</strong>fensiva. Na última batalha<br />

mostra<strong>da</strong> pelo <strong>filme</strong> isso fica bem claro. É quan<strong>do</strong> o governo, ao receber informações <strong>sob</strong>re o<br />

para<strong>de</strong>iro <strong>do</strong>s guerrilheiros, e ao ver que a situação estava fican<strong>do</strong> perigosa <strong>de</strong>mais - afinal os<br />

mineiros <strong>do</strong> norte (além <strong>de</strong> terem <strong>do</strong>a<strong>do</strong> dinheiro aos revolucionários) entraram em greve, e<br />

alguns membros <strong>da</strong> coalizão <strong>do</strong> governo estavam começan<strong>do</strong> a apoiar a greve e a simpatizar<br />

pelos rebel<strong>de</strong>s - toma providências com “mão-<strong>de</strong>-ferro”. É sugeri<strong>do</strong> ao governo que: conte<br />

<strong>sob</strong>re Guevara (até o momento alegavam que ele não estava na Bolívia); <strong>de</strong>clare esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

emergência; tome providências contra os mineiros que estão em greve; feche as fronteiras e<br />

<strong>de</strong>clare que o país esta em guerra. Apesar <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação entre as forças arma<strong>da</strong>s no<br />

campo <strong>de</strong> batalha, o exército traçou um plano <strong>de</strong> ataque: dividiu a região on<strong>de</strong> acreditavam<br />

que estavam os guerrilheiros em 3 zonas, cercaram ca<strong>da</strong> zona e receberam or<strong>de</strong>ns para<br />

cortarem suas fontes <strong>de</strong> abastecimento e liqui<strong>da</strong>rem qualquer tipo <strong>de</strong> guerrilha. O exército<br />

arrasou com o acampamento <strong>de</strong>les e durante a fuga (apesar <strong>de</strong> terem se escondi<strong>do</strong> na floresta)<br />

foram pegos, inclusive Che Guevara. Che foi morto, uma gran<strong>de</strong> vitória para o exército, afinal


a ca<strong>da</strong> revés sofri<strong>do</strong> pelos guerrilheiros, menor ficava a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> lutar, e a crença na causa<br />

que eles <strong>de</strong>fendiam diminuía.<br />

Po<strong>de</strong>mos ver que a partir <strong>da</strong> <strong>teoria</strong> <strong>de</strong> Clausewitz, o movimento libertário boliviano<br />

tinha algumas vantagens como se colocarem no interior <strong>do</strong> país, o teatro <strong>de</strong> operações gran<strong>de</strong>,<br />

a inacessibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Bolívia <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao complica<strong>do</strong> relevo; nesse caso, no entanto, o problema<br />

<strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos rádios estraga<strong>do</strong>s complica não só a situação <strong>do</strong> oponente como<br />

também, a <strong>do</strong>s próprios guerrilheiros. Nessa questão <strong>da</strong> comunicação, faltou também um<br />

outro pilar <strong>da</strong>s rebeliões <strong>de</strong> Lawrence, que é a existência <strong>de</strong> equipamentos para cortar a<br />

comunicação <strong>do</strong> inimigo. Entretanto, não conseguiram o que era mais relevante e necessário:<br />

caráter nacional a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>. Isto é, a população, apesar <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as tentativas <strong>do</strong>s guerrilheiros,<br />

não apoiou o movimento, seja por me<strong>do</strong> <strong>do</strong> exército ou por não gostarem <strong>do</strong> lí<strong>de</strong>r estrangeiro,<br />

ou até mesmo por não apoiarem a luta arma<strong>da</strong>. O apoio popular era crucial para ambas as<br />

partes. Aqueles que o conquistaram foram vitoriosos. Afinal, Clausewitz explica a guerrilha<br />

não como uma força autônoma, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e capaz <strong>de</strong> produzir um resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>cisivo.<br />

Finalmente, no que diz respeito à <strong>teoria</strong> <strong>de</strong> Lawrence, observa-se no <strong>filme</strong> a presença<br />

(ou a falta) <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s pilares <strong>da</strong> rebelião, como foram menciona<strong>do</strong>s anteriormente. O<br />

questionamento que o autor faz <strong>sob</strong>re o objetivo clássico <strong>da</strong> guerra, que seria vencer o inimigo<br />

a qualquer custo por meio <strong>de</strong> batalhas, também se mostra pertinente, pois no <strong>filme</strong> é<br />

perceptível o quanto é importante que não haja gran<strong>de</strong>s per<strong>da</strong>s <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> para os guerrilheiros<br />

(“elemento biológico <strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>s”), pois estes lutam pela liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s com a<br />

guerra <strong>de</strong> contato. Fica evi<strong>de</strong>nte também a comparação que Lawrence faz entre o exército,<br />

que seria como uma planta, alimenta<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a raiz, e imóvel; e os guerrilheiros, que seriam<br />

como uma “influência”, um “vapor” não concretiza<strong>do</strong> em um corpo regular.

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