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Diario - Para o Site.pmd - Scudeler.com.br

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Projeto Gráfico<<strong>br</strong> />

Helio Rubens de Arruda e Miranda<<strong>br</strong> />

e Renato <strong>Scudeler</strong><<strong>br</strong> />

Capa<<strong>br</strong> />

Foto Ronaldo <strong>Scudeler</strong><<strong>br</strong> />

Editoração Fábio Camargo<<strong>br</strong> />

Projeto Renato Carlos Gonçalves <strong>Scudeler</strong><<strong>br</strong> />

Editoração Eletrônica<<strong>br</strong> />

Renato Carlos Gonçalves <strong>Scudeler</strong><<strong>br</strong> />

Copyright © 2005 by Victório Nalesso,<<strong>br</strong> />

Helio Rubens de Arruda e Miranda,<<strong>br</strong> />

Carlos <strong>Scudeler</strong> e Renato Carlos Gonçalves <strong>Scudeler</strong><<strong>br</strong> />

Todos os Direitos Reservados<<strong>br</strong> />

Itapetininga – Estado de São Paulo - Brasil<<strong>br</strong> />

Maio 2005<<strong>br</strong> />

Impressão e acabamento<<strong>br</strong> />

Gráfica Regional - <strong>Scudeler</strong> & Cia Ltda<<strong>br</strong> />

Rua Lopes de Oliveira, 375<<strong>br</strong> />

Itapetininga - SP - CEP 18200-140<<strong>br</strong> />

Tel. (15) 3271-0992<<strong>br</strong> />

Visite:<<strong>br</strong> />

www.scudeler.<strong>com</strong>.<strong>br</strong>


Apresentação<<strong>br</strong> />

Este livro foi feito tendo <strong>com</strong>o motivação principal o “diário<<strong>br</strong> />

de campanha” escrito pelo ex-<strong>com</strong>batente da FEB Victório Nalesso,<<strong>br</strong> />

que participou do contingente <strong>br</strong>asileiro lutando a favor das forças<<strong>br</strong> />

aliadas em 1944 durante a 2ª Grande Guerra Mundial.<<strong>br</strong> />

Trata-se de um relato que registra detalhadamente um<<strong>br</strong> />

acontecimento histórico de inegável importância, feito por um de<<strong>br</strong> />

seus principais atores: o soldado. Victório Nalesso viu a guerra e<<strong>br</strong> />

dela participou ativamente, mas também registrou, mercê de sua<<strong>br</strong> />

grande sensibilidade, o cotidiano dos <strong>com</strong>bates. Sua narrativa<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>eça quando ele foi convocado pelo Exército, ainda apenas um<<strong>br</strong> />

rapaz interiorano e prossegue até a sua volta à cidade onde nasceu<<strong>br</strong> />

– Itapetininga, 160 km da capital paulista – já muito mais vivido, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

experiência de adulto e outra percepção do mundo.<<strong>br</strong> />

Ele viu a morte de perto várias vezes. Perdeu amigos e<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>panheiros nos campos de batalha. Sofreu <strong>com</strong> os fracassos e<<strong>br</strong> />

vi<strong>br</strong>ou <strong>com</strong> as conquistas. Foi um <strong>com</strong>batente, mas foi também um<<strong>br</strong> />

repórter que percebia estar fazendo parte de uma importante história.<<strong>br</strong> />

Acabou virando um historiador, que conta fatos verdadeiros, repletos<<strong>br</strong> />

de emoção, utilizando uma linguagem coloquial, mas <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />

musicalidade e a suavidade do linguajar popular, o que permite ao<<strong>br</strong> />

leitor degustar cada palavra, cada <strong>com</strong>posição de frase, cada<<strong>br</strong> />

sentença, todas elas temperadas <strong>com</strong> fortes pitadas de sinceridade<<strong>br</strong> />

e humildade.<<strong>br</strong> />

Sirva-se, leitor, deste prato literário saborosíssimo. Saciese<<strong>br</strong> />

literariamente, mas também sirva-se à vontade ao sabor das<<strong>br</strong> />

emoções relatadas e até das pitadas de pimenta contidas nas críticas<<strong>br</strong> />

nem sempre explícitas. Também não repare se no relato de Nalesso<<strong>br</strong> />

alguma informação tenha sido equivocada: ele baseou-se, é claro,<<strong>br</strong> />

nas informações que eram fornecidas aos soldados, nem sempre,<<strong>br</strong> />

portanto, verídicas.<<strong>br</strong> />

<strong>Para</strong> sua melhor <strong>com</strong>preensão, leitor, esclarecemos que<<strong>br</strong> />

procuramos manter o mais possível a parte do texto escrita por Victório<<strong>br</strong> />

Nalesso que aparece neste livro em tipo itálico. Coube a nós a editoração,<<strong>br</strong> />

os leads e os destaques de alguns trechos do diário, os quais aparecem<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> frases em negrito e em corpo maior, <strong>com</strong> a intenção de chamar a<<strong>br</strong> />

sua atenção para a riqueza literária do narrador ou para ressaltar fatos<<strong>br</strong> />

que consideramos especialmente emocionantes.<<strong>br</strong> />

Os autores


Agradecimentos especiais<<strong>br</strong> />

Agradeço imensamente aos colaboradores da publicação deste<<strong>br</strong> />

livro, ao Dr. Altimar Nalesso que muito me incentivou e em especial ao<<strong>br</strong> />

Carlos <strong>Scudeler</strong>, que apaixonou-se pelo material desde o princípio, quando<<strong>br</strong> />

o livro era só um rascunho. Desculpo-me <strong>com</strong> o prezado leitor por<<strong>br</strong> />

eventuais erros ou enganos que <strong>com</strong> minha humildade e simplicidade<<strong>br</strong> />

ao escrever possa ter <strong>com</strong>etido, mas pode ter certeza que é a narração<<strong>br</strong> />

de um soldado da linha de frente da Força Expedicionária Brasileira.<<strong>br</strong> />

Victório Nalesso<<strong>br</strong> />

Durante a elaboração deste livro foi extraviado o caderno onde<<strong>br</strong> />

Victório Nalesso escreveu seu diário. Sem ele, muitos detalhes desse<<strong>br</strong> />

rico relato teriam sido perdidos, inviabilizando talvez a própria confecção<<strong>br</strong> />

deste livro e, pior, fazendo <strong>com</strong> que se perdesse o seu conteúdo histórico.<<strong>br</strong> />

Iniciamos então um grande esforço na nossa cidade (Itapetininga/SP)<<strong>br</strong> />

à procura do caderno. As possibilidades de achá-lo, entretanto, não<<strong>br</strong> />

eram muitas. O mais provável era que alguém o tivesse achado e jogado<<strong>br</strong> />

fora, por não perceber seu grande valor histórico. Poderia então ter<<strong>br</strong> />

sido coletado pelos catadores de papel e transformado em sucata. Ou<<strong>br</strong> />

ter sido guardado em casa para servir de rascunho. Enfim, muitas coisas<<strong>br</strong> />

poderiam ter acontecido, mas a fé, <strong>com</strong>o dizem, remove montanhas.<<strong>br</strong> />

Mesmo tendo chovido a semana inteira, o que aumentou ainda mais as<<strong>br</strong> />

possibilidade de que o caderno tivesse sido inutilizado, não desistimos<<strong>br</strong> />

e continuamos na busca. E <strong>com</strong> a ajuda da mídia local e das muitas<<strong>br</strong> />

empresas, órgãos públicos e privados, que nos apoiaram <strong>com</strong> divulgação<<strong>br</strong> />

e incentivo, acabamos encontrando o precioso documento.<<strong>br</strong> />

Achamos importante fazer o registro desse acontecimento e<<strong>br</strong> />

fazer constar nosso agradecimento a todos que nos auxiliaram e, em<<strong>br</strong> />

especial, a duas pessoas que tiveram papel fundamental na localização<<strong>br</strong> />

do caderno: o Deivid Rodrigues Machado, que andou pelas muitas<<strong>br</strong> />

ruas da cidade afixando um 'Aviso' pedindo a devolução do caderno e<<strong>br</strong> />

ao Cláudio de Oliveira Silva, que achou o documento e o devolveu.<<strong>br</strong> />

Agradecemos também à toda equipe que direta e indiretamente<<strong>br</strong> />

colaborou para a realização desse livro: Alceu Arruda, Alceu Mainardi de<<strong>br</strong> />

Araújo, Alexandre Bicudo, Aline Meira, Almir Santos, Antonio Rosa, Danilo<<strong>br</strong> />

Hazenfratz, David Batista, Edson Hergesel, Edvaldo Araújo (Barbosa),<<strong>br</strong> />

Elias Braga, Fábio Arruda Miranda, Fábio Camargo, Izac Batista, Jair<<strong>br</strong> />

Grajcar, Jilmar Silva (Simpatia), Marcos <strong>Scudeler</strong>, Mônia <strong>Scudeler</strong>, Roberto<<strong>br</strong> />

Hungria, Ronaldo <strong>Scudeler</strong> e Soraia Gonçalves, entre outros.<<strong>br</strong> />

Nosso reconhecimento e nosso muito o<strong>br</strong>igado a todos.<<strong>br</strong> />

Os autores


Apoiadores<<strong>br</strong> />

Esta publicação está sendo possível graças ao denoto e<<strong>br</strong> />

ao esforço pessoal do Carlos <strong>Scudeler</strong>, da Gráfica Regional, de<<strong>br</strong> />

Itapetininga, que juntamente <strong>com</strong>igo e <strong>com</strong> seu filho Renato,<<strong>br</strong> />

produziu este livro. Credite-se a ele, o devido valor por ter<<strong>br</strong> />

conseguido encontrar os meios para viabilizar a publicação.<<strong>br</strong> />

Importante também destacar o apoio e o incentivo<<strong>br</strong> />

recebido das Faculdades Integradas de Itapetininga, que<<strong>br</strong> />

pertencem à FKB – Fundação Karnig Bazarian, na pessoa de<<strong>br</strong> />

seu diretor geral Dr. Eliel Ramos Maurício e da AEI - Organização<<strong>br</strong> />

Superior de Ensino, na pessoa de seu diretor Omar José Ozi,<<strong>br</strong> />

que, <strong>com</strong>o estabelecimentos escolares progressistas,<<strong>br</strong> />

reconheceram o valor histórico desta publicação.<<strong>br</strong> />

Helio Rubens de Arruda e Miranda


É <strong>com</strong> grande satisfação que as Faculdades Integradas<<strong>br</strong> />

de Itapetininga - FKB têm a oportunidade única de apresentar<<strong>br</strong> />

este projeto histórico que resgata a memória de um importante<<strong>br</strong> />

período da humanidade, através do depoimento do expedicionário<<strong>br</strong> />

itapetiningano Victório Nalesso, que tem a mesma origem onde a<<strong>br</strong> />

nossa instituição está inserida, o que enriquece so<strong>br</strong>emaneira a<<strong>br</strong> />

qualidade do material que ora se transforma em publicação.<<strong>br</strong> />

O apoio do Núcleo de Iniciação Científica das FII - FKB<<strong>br</strong> />

produziu assim, mais um valioso instrumental de trabalho, para o<<strong>br</strong> />

desenvolvimento de novas pesquisas acadêmicas e<<strong>br</strong> />

multidisciplinares que, a partir desta publicação, já não mais<<strong>br</strong> />

pertence exclusivamente aos pesquisadores, mas sim à<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>unidade – onde todo o conhecimento deve estar.<<strong>br</strong> />

Prof. Eliel Ramos Maurício<<strong>br</strong> />

Diretor Geral<<strong>br</strong> />

Faculdades Integradas de Itapetininga


Organização Superior de Ensino<<strong>br</strong> />

Omar Ozi, ao centro, <strong>com</strong> os pais, José e Vega Ozi.


ÍNDICE<<strong>br</strong> />

I O início foi difícil e o treinamento deficiente ..................... 15<<strong>br</strong> />

II O adeus a São Paulo a caminho do Rio de Janeiro ........ 23<<strong>br</strong> />

III A chegada ao Rio de Janeiro ............................................. 29<<strong>br</strong> />

IV A fuga e a volta a São Paulo............................................... 35<<strong>br</strong> />

V O reencontro <strong>com</strong> a família, em Itapetininga ................... 41<<strong>br</strong> />

VI O retorno ao Rio de Janeiro ............................................... 47<<strong>br</strong> />

VII A chegada ao Rio de Janeiro e o embarque.................... 53<<strong>br</strong> />

VIII A viagem de navio ............................................................... 59<<strong>br</strong> />

IX A vida dentro do navio......................................................... 65<<strong>br</strong> />

X Finalmente a Itália ............................................................... 69<<strong>br</strong> />

XI A vida na Itália era dura ...................................................... 75<<strong>br</strong> />

XII O sangue <strong>br</strong>asileiro escorre em solo italiano................... 81<<strong>br</strong> />

XIII A conquista de Monte Castello ........................................... 89<<strong>br</strong> />

XIV As outras conquistas também difíceis............................... 97<<strong>br</strong> />

XV Um acidente fatal ................................................................ 109<<strong>br</strong> />

XVI A surpresa: 600 prisioneiros.............................................. 117<<strong>br</strong> />

XVII A morte de Mussolini .......................................................... 123<<strong>br</strong> />

XVIII O fim da luta.........................................................................127<<strong>br</strong> />

XIX Os últimos dias na Itália .....................................................133<<strong>br</strong> />

XX A volta para o Brasil............................................................ 143<<strong>br</strong> />

XXI Os primeiros dias após o retorno ao Brasil...................... 153<<strong>br</strong> />

XXII A viagem de volta à casa ...................................................159<<strong>br</strong> />

XXIII As recordações dos tempos da guerra .............................167<<strong>br</strong> />

PARTE II - A Vida depois da Guerra<<strong>br</strong> />

XXIV O casamento <strong>com</strong> Lucinda ................................................ 175<<strong>br</strong> />

XXV As promessas não cumpridas ...........................................181<<strong>br</strong> />

XXVI O primeiro emprego ...........................................................185<<strong>br</strong> />

XXVII O encontro <strong>com</strong> Jânio Quadros .........................................191<<strong>br</strong> />

XXVIII Observações Complementares ........................................ 199<<strong>br</strong> />

- As Gírias .............................................................................205<<strong>br</strong> />

- A Escada Santa .................................................................206<<strong>br</strong> />

- O Dever para <strong>com</strong> a Pátria .............................................. 208<<strong>br</strong> />

- Lem<strong>br</strong>anças ...................................................................... 209<<strong>br</strong> />

- Canção do Expedicionário .............................................. 211<<strong>br</strong> />

- A Família Nalesso.............................................................212


VICTÓRIO NALESSO<<strong>br</strong> />

HELIO RUBENS DE ARRUDA E MIRANDA<<strong>br</strong> />

CARLOS SCUDELER<<strong>br</strong> />

RENATO CARLOS GONÇALVES SCUDELER<<strong>br</strong> />

Diário de um Combatente<<strong>br</strong> />

As recordações de um pracinha<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e a participação da FEB<<strong>br</strong> />

na 2ª Grande Guerra Mundial


Capítulo I<<strong>br</strong> />

O início foi difícil e o<<strong>br</strong> />

treinamento deficiente. Os<<strong>br</strong> />

soldados só tiveram três meses de<<strong>br</strong> />

treinamento. Victório Nalesso<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>eça seu diário se identificando<<strong>br</strong> />

e contando as primeiras reações<<strong>br</strong> />

provocadas por uma convocação<<strong>br</strong> />

feita às pressas.


Eu, Victório Nalesso, filho de Moysés Nalesso e Anna da<<strong>br</strong> />

Conceição, nasci em 04 de Julho de 1922 no Bairro da<<strong>br</strong> />

Chapadinha, município de Itapetininga - SP.<<strong>br</strong> />

Aos 08 anos entrei na escola do mesmo bairro, onde fiz<<strong>br</strong> />

até o quarto ano primário nos anos de 1930 a 1934. Como tinha<<strong>br</strong> />

vocação para ser padre, fui estudar por intermédio da professora<<strong>br</strong> />

que dava aula de catecismo. Ela se chamava Eudoxia Ferraz e<<strong>br</strong> />

não só catequizou crianças, mas grande número de adultos no<<strong>br</strong> />

bairro da Chapadinha, onde até hoje existe a capela onde fiz a<<strong>br</strong> />

primeira <strong>com</strong>unhão, em 1934.<<strong>br</strong> />

Eudoxia Ferraz, que me queria muito bem, junto ao meu<<strong>br</strong> />

interesse, consultou meu pai que me colocou em um Seminário<<strong>br</strong> />

de frades Franciscanos capuchinhos, fazendo meu gosto, porque<<strong>br</strong> />

eu queria ser padre da ordem de São Francisco de Assis que<<strong>br</strong> />

tinha as barbas longas. Na época, o Seminário ficava na cidade<<strong>br</strong> />

de Piracicaba e foi lá que fui estudar, mas aguentei somente três<<strong>br</strong> />

anos. Pedi para meu pai me buscar quando <strong>com</strong>pletei o primeiro<<strong>br</strong> />

ano ginasial. Voltei para minha casa paterna e não mais estudei.<<strong>br</strong> />

Isso se deu nos anos de 1935 a 1938. Fiquei trabalhando junto a<<strong>br</strong> />

meus pais e demais irmãos no sítio de meu pai, até o dia em que<<strong>br</strong> />

fui chamado pelo Exército, no mês de Fevereiro de 1944. Em 9<<strong>br</strong> />

de março do mesmo ano deu-se a minha incorporação às fileiras<<strong>br</strong> />

do Exército Nacional, recebendo o nº 983 da 2ª Cia. do 5º BC,<<strong>br</strong> />

(Batalhão de Caçadores) sediado na cidade de Itapetininga.<<strong>br</strong> />

29 de fevereiro de 1944, dia em que me apresentei<<strong>br</strong> />

ao serviço militar, no 5º BC sediado em Itapetininga


As notícias dos jornais de São Paulo eram transmitidas às 13<<strong>br</strong> />

horas, no alto falante do Largo dos Amores, no coreto Marechal<<strong>br</strong> />

Deodoro: esta praça ficava repleta de soldados e civis todos os<<strong>br</strong> />

dias para escutar notícias de guerra e o que mais se <strong>com</strong>entava,<<strong>br</strong> />

porque todo o povo <strong>br</strong>asileiro, principalmente soldados e seus<<strong>br</strong> />

familiares desejavam, era o fim da guerra o mais <strong>br</strong>eve possível,<<strong>br</strong> />

temendo um futuro obscuro.<<strong>br</strong> />

Aí <strong>com</strong>eçaram a ser sacrificados<<strong>br</strong> />

os soldados da classe de 1922 e 1923<<strong>br</strong> />

Eu e toda a turma dessa classe fizemos as escolas prática<<strong>br</strong> />

e teórica em apenas 3 meses; não houve reprova, a não ser alguns<<strong>br</strong> />

na saúde, após perícia médica.<<strong>br</strong> />

Dia 7 de junho de 1944 fui deslocado para São Paulo <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

mais 150 soldados a fim de passar por exames médicos. Ninguém<<strong>br</strong> />

sabia nada do que íamos fazer; desembarcamos em Osasco, quartel<<strong>br</strong> />

do 4º R.I. Antes do embarque, dia 5 de junho, assim que deu em<<strong>br</strong> />

boletim às 16 horas, fui para minha casa no bairro da Chapadinha a<<strong>br</strong> />

fim de levar a notícia e fazer a 1ª despedida. Era uma caminhada de<<strong>br</strong> />

9 quilometros, ou seja, 18 quilometros ida e volta. Passei a noite me<<strong>br</strong> />

despedindo de parentes e amigos no meu bairro e só voltei às 6<<strong>br</strong> />

horas da manhã do dia 6. E muitos soldados fizeram o mesmo, indo<<strong>br</strong> />

a pé para Capão Bonito. Dois praças, por falta de condução, saíram<<strong>br</strong> />

de Itapetininga às 6 horas da tarde e chegaram em Capão Bonito,<<strong>br</strong> />

no outro dia, às 5 horas da manhã. Cortaram 60 quilometros a pé e<<strong>br</strong> />

depois voltaram de ônibus para Itapetininga, merecendo ser<<strong>br</strong> />

registrado seus nomes <strong>com</strong>o primeiro ato de <strong>br</strong>avura:<<strong>br</strong> />

Leandro Paulino da Cruz e<<strong>br</strong> />

Amazilio Paulo de Campos.<<strong>br</strong> />

Naquela época não havia trânsito – ônibus só tinha um, que<<strong>br</strong> />

partia de Itapetininga para Capão Bonito às 7 horas da manhã e voltava<<strong>br</strong> />

partindo de Capão às 5 horas da tarde e outro, vice-versa, <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />

mesmo itinerário. Esse dia foi muito agitado em toda a cidade,<<strong>br</strong> />

porque os soldados das cidades vizinhas se ausentaram, mesmo<<strong>br</strong> />

sabendo que o embarque para São Paulo estava previsto para as<<strong>br</strong> />

2 horas da madrugada do dia 7 em um trem especial de soldados<<strong>br</strong> />

oriundo do 3º Exército, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e <strong>Para</strong>ná.<<strong>br</strong> />

O principal veículo de transporte era mesmo o trem de ferro, sendo<<strong>br</strong> />

o nosso setor servido pela Estrada de Ferro Sorocabana E.F.S. De<<strong>br</strong> />

Itararé / SP a Porto Alegre / RS, era de administração Federal,<<strong>br</strong> />

que possuia o mesmo bitolamento da Estrada de Ferro


Sorocabana, esta, uma autarquia estadual. Às 17 horas do dia 6<<strong>br</strong> />

de junho, hora do rancho, ainda faltavam 20 soldados, mas às 22<<strong>br</strong> />

horas já estava <strong>com</strong>pleto o contingente, sendo que um capitão<<strong>br</strong> />

nos pôs em forma para conferir e fez um agradecimento pela boa<<strong>br</strong> />

conduta de não faltar um soldado sequer de seu <strong>com</strong>ando,<<strong>br</strong> />

deixando-nos à vontade dentro do Quartel, reunidos, prontos para<<strong>br</strong> />

partida em direção à estação férrea. Assim que deu 24 horas, em<<strong>br</strong> />

pleno silêncio seguimos até a estação. Lá chegando, já estavam<<strong>br</strong> />

dois carros-vagões a nosso dispor. Dois Sargentos e um Tenente<<strong>br</strong> />

nos <strong>com</strong>andaram até a estação. Assim que chegamos o Capitão<<strong>br</strong> />

já se achava no saguão da estação e já tinha feito uma revista nos<<strong>br</strong> />

carros, que estavam em boas condições de higiene. O Capitão<<strong>br</strong> />

Lauro deu ordem de embarque: faltava apenas uma hora para o<<strong>br</strong> />

trem especial militar chegar. Ninguém podia sair dos carros e dentro<<strong>br</strong> />

dos carros, já lotados fizeram suas despedidas, <strong>com</strong>o se fosse<<strong>br</strong> />

um pai despedindo-se de seus filhos, dando aquele alento de<<strong>br</strong> />

soldado corajoso, amante da pátria e da família.<<strong>br</strong> />

O bom Capitão Lauro sempre foi<<strong>br</strong> />

um Superior que respeitava <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

muito carinho seus subalternos<<strong>br</strong> />

Adeus 5º B.C. Adeus Itapetininga<<strong>br</strong> />

Chegou a lo<strong>com</strong>otiva vinda do Depósito de Itapetininga e<<strong>br</strong> />

ligou nos dois carros que estavam lotados. E assim que chegou<<strong>br</strong> />

“Dia 9 de Março de 1944, quando fui incorporado à<<strong>br</strong> />

fileiras do Exército Nacional, recebendo o nº 983”.


a <strong>com</strong>posição vinda do Sul, um especial militar, imediatamente<<strong>br</strong> />

as lo<strong>com</strong>otivas foram trocadas, ligando também os dois carros<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> as demais <strong>com</strong>posições, tudo rápido. O especial militar<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>punha-se de dez carros que ficaram na reta junto à plataforma.<<strong>br</strong> />

Desembarcaram dois oficiais, trocaram conversas por 5 minutos<<strong>br</strong> />

e apenas um sargento, 3º Sargento Nelson Barreiros, foi nos<<strong>br</strong> />

a<strong>com</strong>panhar até São Paulo. Tudo pronto, o chefe de trem dá um<<strong>br</strong> />

longo apito e o maquinista aos poucos vai deslocando a grande<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>posição,<<strong>br</strong> />

enquanto gritos de despedida<<strong>br</strong> />

que<strong>br</strong>am o silêncio. Muitos choram;<<strong>br</strong> />

a máquina não pára de motivar o<<strong>br</strong> />

nervosismo <strong>com</strong> seus apitos altos e longos.<<strong>br</strong> />

Soltando fagulhas e fumaça, a lo<strong>com</strong>otiva era movida a<<strong>br</strong> />

vapor e usava lenha também, conhecida <strong>com</strong>o Maria Fumaça.<<strong>br</strong> />

Saimos de Itapetininga / SP às 2:30 h e chegamos a Osasco /<<strong>br</strong> />

SP, às 6:40 h. Desembarcamos e fomos para o Quartel do 4º R.I.<<strong>br</strong> />

em Osasco, muito próximo à estação férrea. Os soldados da<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>posição eram aproximadamente 500 homens. Lá ficamos por<<strong>br</strong> />

10 dias, dormindo e <strong>com</strong>endo aquela refeição péssima, feijão<<strong>br</strong> />

sujo e carunchado, arroz “polenta”, jabá, carne de vaca em fartura<<strong>br</strong> />

mas mal feita. <strong>Para</strong> não passarmos fome <strong>com</strong>iamos, porque<<strong>br</strong> />

dinheiro o soldado não tinha. Todos os dias às seis horas da<<strong>br</strong> />

manhã deslocavam 3 caminhões do Exército, próprios para<<strong>br</strong> />

conduzir tropas, lotados de soldados em <strong>com</strong>pleto jejum, já<<strong>br</strong> />

re<strong>com</strong>endado na véspera, e seguiam <strong>com</strong> destino ao Cambuci,<<strong>br</strong> />

no H.C.M. - Hospital Central Militar e só voltava às 11 ou 12 horas<<strong>br</strong> />

para o rancho. Eu fui em uma das últimas remessas dos 500<<strong>br</strong> />

soldados, obedecendo às re<strong>com</strong>endações superiores. Assim que<<strong>br</strong> />

chegamos ao hospital, seguimos por grandes corredores, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

muito vai e vem de enfermeiros de ambos os sexos, <strong>com</strong>o também<<strong>br</strong> />

médicos, todos de uniforme <strong>br</strong>anco. Quando em dado momento<<strong>br</strong> />

uma enfermeira, em voz alta, fala:<<strong>br</strong> />

“todos tirem as roupas,<<strong>br</strong> />

fiquem sem uma peça sequer”.<<strong>br</strong> />

Um olhava para o outro e dizia: “mas <strong>com</strong> este frio?!”.<<strong>br</strong> />

Fazia muito frio, era mês de junho. Outra enfermeira já vinha<<strong>br</strong> />

distribuindo uma senha para todos os soldados, indicando a sala<<strong>br</strong> />

que devia entrar quando chamado. Eram diversas salas de


consultório e cada soldado passava por 10 juntas médicas, mas<<strong>br</strong> />

tudo rápido. Aquele que precisasse ser operado já ficava no<<strong>br</strong> />

hospital, o que dependesse de tratamento seguia para Caçapava.<<strong>br</strong> />

Os julgados incapacitados retornavam à sua unidade de origem<<strong>br</strong> />

para as devidas providências legais. E os que nada sofriam<<strong>br</strong> />

também seguiam para Caçapava para tratamento e prevenção a<<strong>br</strong> />

doenças provenientes de campanha. Nós éramos, nesta leva, em<<strong>br</strong> />

número de 60 homens. Nenhum foi julgado incapacitado, mas<<strong>br</strong> />

metade ficou para tratamento de diversos sintomas, de <strong>br</strong>eve<<strong>br</strong> />

recuperação; 50% ficou sujeito às enfermarias de Caçapava.<<strong>br</strong> />

“Dia 2 de junho de 1944 parte de Itapetininga o 2º contingente<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> 150 soldados para Caçapava a fim de incorporar-se<<strong>br</strong> />

à F.E.B. Eu e meus dois colegas fizemos<<strong>br</strong> />

parte deste contingente. Da esquerda para a direita: Benedito<<strong>br</strong> />

Nunes da Costa,Victório Nalesso e Benedito Ayres de Campos”


Capítulo II<<strong>br</strong> />

O adeus a São Paulo, a<<strong>br</strong> />

caminho do Rio de Janeiro.<<strong>br</strong> />

Nalesso narra a passagem do<<strong>br</strong> />

grupo pela cidade de Caçapava,<<strong>br</strong> />

onde existe até hoje um quartel<<strong>br</strong> />

do Exército. Foi uma experiência<<strong>br</strong> />

interessante para os novos<<strong>br</strong> />

soldados e que já dava idéia a<<strong>br</strong> />

eles que a guerra não seria<<strong>br</strong> />

exatamente um passeio...


Dia 17 de junho<<strong>br</strong> />

Após o rancho no 4º R.I., às 11:00 h, os mesmos soldados<<strong>br</strong> />

que vieram do Sul, e minha turma de Itapetininga, novamente<<strong>br</strong> />

embarcamos em carros-vagões da Central do Brasil que tinha<<strong>br</strong> />

bitolamento até a estação de Osasco. Oito carros e mais um<<strong>br</strong> />

especial, que às 15:15 h deixou São Paulo. Cada vez mais longe,<<strong>br</strong> />

aumentava a angústia, sem saber para onde estávamos viajando.<<strong>br</strong> />

O especial, após duas horas de viagem, encostou na plataforma<<strong>br</strong> />

de Caçapava, onde recebemos ordem de desembarque. Eram<<strong>br</strong> />

17:15 h. Fomos direto para o Quartel sede do 6º R.I., que já tinha<<strong>br</strong> />

sido deslocado para a Vila Militar no Rio de Janeiro. Até alojar-se<<strong>br</strong> />

toda a tropa, eram 22:00 h. Então fomos para o rancho e, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

muita fome, porque eram mais de 10 horas sem <strong>com</strong>er nada. A<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>ida do rancho estava espetacular, boa mesmo. No dia seguinte<<strong>br</strong> />

iniciou-se a preparação após o café da manhã: vacinas, extração<<strong>br</strong> />

de dentes, internações para várias doenças curáveis, <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

doenças venéreas, as que mais afetavam dentro da tropa. Dentro<<strong>br</strong> />

do quartel havia mais de 5 equipes <strong>com</strong> 4 enfermeiros cada uma,<<strong>br</strong> />

somente para aplicar injeções, todos os dias, das 8:00 h até às<<strong>br</strong> />

12:00 h, até repassar toda a tropa.<<strong>br</strong> />

Acontecia também que de 4 em 4 dias um Batalhão fazia<<strong>br</strong> />

uma marcha de 10 a 15 quilometros em estradas poeirentas, cada<<strong>br</strong> />

soldado <strong>com</strong> sua mochila <strong>com</strong>pleta, fuzil e ferramentas, sol<<strong>br</strong> />

quente, barraca, cobertor, casaco. A equipe do rancho esperava<<strong>br</strong> />

no local determinado dos 15 quilometros: ali <strong>com</strong>ia-se,<<strong>br</strong> />

descançava-se por mais ou menos 2 horas e retornava-se ao<<strong>br</strong> />

quartel. Feita a jornada de 25 ou 30 quilometros, sempre no Vale<<strong>br</strong> />

do Rio <strong>Para</strong>íba, vários soldados não aguentavam tal jornada,<<strong>br</strong> />

porque todos tomavam a dolorida vacina, uma em cada <strong>br</strong>aço.<<strong>br</strong> />

Com o peso do equipamento, por baixo uns 10 quilos, estradas<<strong>br</strong> />

péssimas, muito calor, dor no corpo todo, aparecimentos de ínguas<<strong>br</strong> />

nas axilas e virilhas, dor de cabeça e fe<strong>br</strong>e, o resultado eram<<strong>br</strong> />

soldados desmaiando. Ainda bem que a equipe do rancho sempre<<strong>br</strong> />

procurava um lugar adequado para o almoço, <strong>com</strong>o um bosque,<<strong>br</strong> />

beira de um rio ou riacho, <strong>com</strong> água limpa e som<strong>br</strong>a, onde a<<strong>br</strong> />

Companhia ou Batalhão pudesse descançar. Essa era a rotina<<strong>br</strong> />

de todos os dias, até repassar toda a tropa que geralmente era<<strong>br</strong> />

aquartelada em média de 5 a 6 mil soldados; mas esse tipo de<<strong>br</strong> />

mano<strong>br</strong>a dava-se geralmente de 4 em 4 dias, até chegar<<strong>br</strong> />

novamente a vez da gente ou do Batalhão, ou seja, 1.500 soldados<<strong>br</strong> />

por dia, em rodízio, até chegar nos 6.000 homens.


As enfermarias de Caçapava eram lotadas<<strong>br</strong> />

de soldados <strong>com</strong> fortes gripes<<strong>br</strong> />

e portadores de doenças venéreas.<<strong>br</strong> />

Os dentistas, que eram apenas dois,<<strong>br</strong> />

não venciam extrair dentes e muitos soldados,<<strong>br</strong> />

que eram o<strong>br</strong>igados a passar pelo dentista<<strong>br</strong> />

não faziam tratamento, somente extração.<<strong>br</strong> />

Eu não me esqueci que no dia do meu aniversário, 4 de<<strong>br</strong> />

Julho. Fui o<strong>br</strong>igado a extrair 2 dentes no período da manhã. E<<strong>br</strong> />

nesse mesmo dia fui escalado para dar serviços de plantão às<<strong>br</strong> />

24:00 h, ao relento, à beira de um pantanal nos fundos do quartel,<<strong>br</strong> />

local costumeiro à saída de soldados imprudentes. Fiquei doente,<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> o rosto inchado e <strong>com</strong> fe<strong>br</strong>e por vários dias. Passei muito<<strong>br</strong> />

frio naquela noite, <strong>com</strong> a pesada serração e desprovido de<<strong>br</strong> />

agasalhos apropriados para o inverno.<<strong>br</strong> />

O período em Caçapava foi sofrido quanto à preparação<<strong>br</strong> />

das tropas, mas foi um período bom de se viver e a <strong>com</strong>ida do<<strong>br</strong> />

quartel sempre foi boa. Tenho boas recordações. Todas as noites<<strong>br</strong> />

tinha retreta na praça <strong>com</strong> música até as 22:00 h, todo mundo<<strong>br</strong> />

nos bares e recintos onde corria bebidas alcoólicas. Só dava<<strong>br</strong> />

soldado e isso originava confusões, <strong>br</strong>igas e que<strong>br</strong>a-paus.<<strong>br</strong> />

Resultado: O Coronel Comandante<<strong>br</strong> />

do Regimento era um nordestino<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>avo, enérgico, tão ruim que os<<strong>br</strong> />

próprios soldados nordestinos<<strong>br</strong> />

chamavam-no de ca<strong>br</strong>a-da-peste.<<strong>br</strong> />

Por diversas vezes esse <strong>com</strong>andante, que saía para<<strong>br</strong> />

passear na praça <strong>com</strong> sua esposa, olhava para ver se os soldados<<strong>br</strong> />

estavam bem uniformizados; se algum estivesse <strong>com</strong> um botão<<strong>br</strong> />

desabotoado ou uma das presilhas do colarinho solta, ele o chamava<<strong>br</strong> />

para perto de si e mandava prender no ato, até mesmo esbofeteando<<strong>br</strong> />

seu subalterno em público. Pretendendo eliminar tais desordens e<<strong>br</strong> />

desavenças entre seus <strong>com</strong>andados, o major baixou uma circular<<strong>br</strong> />

para que fosse proibida a venda de bebidas alcoólicas para militares<<strong>br</strong> />

do Exército em toda a cidade; era grande o número de bares <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

jogos de baralho, bochas e outros. Diversas patrulhas Militares do<<strong>br</strong> />

próprio Exército foram lançadas, durante 24 horas, todos os dias.<<strong>br</strong> />

Mas os soldados e os proprietários dos estabelecimentos também<<strong>br</strong> />

deram um jeito. Copo de vidro para aperitivo sumiu do


alcão, até mesmo garrafa de pinga. O proprietário possuia 2 bules,<<strong>br</strong> />

um sempre cheio de café quente e a vista do freguez, outro idêntico,<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> pinga, porém isso era às escondidas. O soldado que pretendia<<strong>br</strong> />

tomar um aperitivo nunca chegava sozinho, sempre a<strong>com</strong>panhado.<<strong>br</strong> />

Ficavam 1 ou 2 soldados na frente do bar e ao verem qualquer<<strong>br</strong> />

patrulha ou superior, avisavam e o bule de pinga era substituído<<strong>br</strong> />

pelo bule <strong>com</strong> café quente. Mesmo que estivesse sozinho, chegava<<strong>br</strong> />

e pedia: “me sirva um café frio, ou um café de soldado”. Dava uma<<strong>br</strong> />

olhada para fora e então tomava sossegado sua pinga. Os mais<<strong>br</strong> />

tímidos <strong>com</strong>o eu e meus dois amigos, os dois Beneditos, usavam<<strong>br</strong> />

outros sistemas mais seguros. Nós usavamos a casa da lavadeira<<strong>br</strong> />

de roupas. Eu gostava muito de peixe e gosto até hoje. No vale do<<strong>br</strong> />

grande <strong>Para</strong>íba existiam muitas lagoas e dava muito peixe. Quando<<strong>br</strong> />

eu não ia mariscar nas lagoas, <strong>com</strong>prava da molecada que vendia e<<strong>br</strong> />

levava para casa de minha lavadeira, onde seus filhos e o próprio<<strong>br</strong> />

marido traquejavam <strong>com</strong> todos os peixes, só taraíras ou traíras e<<strong>br</strong> />

sempre à noite, até às 22:00 h. Eu, meus dois <strong>com</strong>panheiros,<<strong>br</strong> />

Benedito Nunes e Benedito de Campos, após o rancho, iamos <strong>com</strong>er<<strong>br</strong> />

peixe e tomar nossa pinga. Assim <strong>com</strong>o nós três faziamos isso,<<strong>br</strong> />

centenas de soldados usavam o mesmo sistema. O civil podia<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>prar bebida alcoólica à vontade. A venda picada de pinga nos<<strong>br</strong> />

bares diminuiu, mas em garrafa o consumo aumentou e isto<<strong>br</strong> />

continuou até o fim da guerra, pois na medida em que ia terminando<<strong>br</strong> />

a preparação, o grupo apto se deslocava para o Rio de Janeiro e<<strong>br</strong> />

chegavam novos contingentes para serem preparados.<<strong>br</strong> />

Adeus Caçapava, sede do nosso glorioso 6º R.I. – Novo<<strong>br</strong> />

deslocamento de tropas.<<strong>br</strong> />

Dia 29 de Julho de 1944 deixamos Caçapava. Eu, até este<<strong>br</strong> />

momento, tive muita sorte de não me separar de meus <strong>com</strong>panheiros<<strong>br</strong> />

e conterrâneos do 5º B.C. de minha cidade, Itapetininga. Agora<<strong>br</strong> />

vamos deixar a pacata cidade de Caçapava, <strong>com</strong> seus 20 mil<<strong>br</strong> />

habitantes, que souberam acolher, durante o conflito mundial,<<strong>br</strong> />

milhares de soldados procedentes de vários estados <strong>br</strong>asileiros.<<strong>br</strong> />

Estes permaneciam pouco tempo, de 30 a 60 dias e já se<<strong>br</strong> />

deslocavam para o Rio de Janeiro a fim de <strong>com</strong>pletarem unidades<<strong>br</strong> />

dos regimentos que deveriam seguir para a guerra.<<strong>br</strong> />

Embarque<<strong>br</strong> />

Às 13:00 h do dia 29 de julho de 1944, na medida em que<<strong>br</strong> />

íamos saindo do rancho do quartel de Caçapava, tomávamos a<<strong>br</strong> />

mochila, entrávamos em forma por <strong>com</strong>panhia e seguíamos em


direção à Estação Férrea da Central do Brasil. Ninguém sabia ao<<strong>br</strong> />

certo o destino, só sabíamos que era para a frente, bem longe.<<strong>br</strong> />

Às 17:00 h terminou o embarque em um especial militar <strong>com</strong> 15<<strong>br</strong> />

carros lotados e um total de 1.200 soldados, sempre a<strong>br</strong>indo vagas<<strong>br</strong> />

para novos contingentes que deveriam chegar. Às 17:00 h, a tropa<<strong>br</strong> />

que eu fazia parte estava toda embarcada, tudo pronto para a<<strong>br</strong> />

partida de 1.200 homens. Embarcaram também os oficiais e às<<strong>br</strong> />

18:00 h a lo<strong>com</strong>otiva elétrica tocou o apito. E novamente mais<<strong>br</strong> />

um aperto no coração, fomos deixando Caçapava e o Estado de<<strong>br</strong> />

São Paulo. O nervosismo da tropa durava pouco, porque a maioria<<strong>br</strong> />

dos soldados cantava. Os soldados tocavam violas, pandeiros e<<strong>br</strong> />

cuícas. Os soldados do Sul trouxeram as gaitas de 8 baixos e<<strong>br</strong> />

tocavam e cantavam bem – repentistas do sul e do norte. Quem<<strong>br</strong> />

nada tocava, dançava e alguns gritavam ou choravam. Mas quando<<strong>br</strong> />

foi lá pelas 2:00 h da madrugada a fome chegou, porque depois<<strong>br</strong> />

do rancho das 11 ou 12 horas, recebemos, assim que<<strong>br</strong> />

embarcamos, 2 laranjas baianas para saborear na viagem, mas<<strong>br</strong> />

ninguém agüentou guardar: antes da partida todos já tinham<<strong>br</strong> />

saboreado.<<strong>br</strong> />

De Caçapava até a estação final do Rio de Janeiro, eram<<strong>br</strong> />

10:00 h de viagem, isso quando o trem não atrasava, mas já<<strong>br</strong> />

estava atrasado. A fome foi apertando e quando parávamos nas<<strong>br</strong> />

estações, onde existiam bares ou restaurantes, a turma<<strong>br</strong> />

desembarcava em peso.<<strong>br</strong> />

Comiam e bebiam de tudo. Dois por<<strong>br</strong> />

cento pagava; o restante não, porém<<strong>br</strong> />

não era um saque ou tomado violento.<<strong>br</strong> />

Não foi isso. Acontecia que 3 serventes não podiam atender 100 ou<<strong>br</strong> />

200 pessoas em 5 minutos, de uma só vez; então os soldados iam<<strong>br</strong> />

pegando e <strong>com</strong>endo. Quando o trem dava sinal de partida os soldados<<strong>br</strong> />

corriam para seus lugares, agradecendo ao proprietário, dizendo:<<strong>br</strong> />

nós vamos para a guerra, se não<<strong>br</strong> />

morrermos, voltaremos para pagar”.<<strong>br</strong> />

Havia dono de bar que não ligava<<strong>br</strong> />

e servia <strong>com</strong> gosto; a<strong>br</strong>ia a cerveja e<<strong>br</strong> />

fazia festa; mas encontramos tranqueira<<strong>br</strong> />

também, que pulava de <strong>br</strong>avo.<<strong>br</strong> />

<strong>Para</strong> os soldados era a maior festa...


CAPÍTULO XXVII<<strong>br</strong> />

O encontro <strong>com</strong> Janio Quadros.<<strong>br</strong> />

A falta de reconhecimento dos<<strong>br</strong> />

direitos dos ex-pracinhas levou<<strong>br</strong> />

Nalesso a buscar apoio também<<strong>br</strong> />

junto ao Governo do Estado. Não<<strong>br</strong> />

foi fácil, mas a pertinácia sempre<<strong>br</strong> />

foi uma das principais características<<strong>br</strong> />

de Victório Nalesso. Neste<<strong>br</strong> />

episódio ele relata <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

conseguiu um encontro <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />

então governador Janio da Silva<<strong>br</strong> />

Quadros.


Voltei para a estação, tomei um subúrbio, desci em Júlio<<strong>br</strong> />

Prestes e subi ao 2º andar do prédio. Cheguei ao gabinete,<<strong>br</strong> />

escritório sede do S.T.R. Parei: o porteiro era um enorme homem<<strong>br</strong> />

negro. Pensei um pouco, eu estava cansado, <strong>com</strong> fome e já eram<<strong>br</strong> />

2:00 horas da tarde. Eu ia prá lá e voltava pra cá. O porteiro me<<strong>br</strong> />

perguntou: “Você deseja alguma coisa, moço?”. Eu encarei frente<<strong>br</strong> />

a frente <strong>com</strong> o baita e disse: “desejo sim, quero falar <strong>com</strong> o Dr.<<strong>br</strong> />

Chafic”. “Tem permissão do seu chefe?” “Não tenho”, respondi.<<strong>br</strong> />

“Então pode ir embora”, foi a resposta. A porta que dava entrada<<strong>br</strong> />

ao gabinete do Dr. Chafic achava-se aberta e confrontava-se <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

quem passava no corredor. A gente avistava o mesmo em sua<<strong>br</strong> />

poltrona, sentado e escrevendo. Tornei a insistir, falando em tom<<strong>br</strong> />

mais alto: “Eu preciso falar urgente <strong>com</strong> o Dr. Chafic; se eu não<<strong>br</strong> />

porto a permissão é porque o chefe dos armazéns me negou.<<strong>br</strong> />

Além disso, eu sou um pracinha da Força Expedicionária Brasileira,<<strong>br</strong> />

documentado, e isso é minha permissão para falar <strong>com</strong> qualquer<<strong>br</strong> />

autoridade”. Fui entrando, o porteiro puxou a porta. Então uma<<strong>br</strong> />

sineta tocou e eu escutei o Dr. Chafic falar: “deixa esse Sr. entrar”.<<strong>br</strong> />

O porteiro a<strong>br</strong>iu novamente a porta e eu entrei. Ficamos<<strong>br</strong> />

frente a frente. Eu rapidamente contei todo o meu caso, mas ele<<strong>br</strong> />

escrevia e não olhava para mim e falou: “eu pedi 6 trabalhadores<<strong>br</strong> />

e não citei nome de ninguém; você trabalhe 15 dias aqui em São<<strong>br</strong> />

Paulo, depois eu dou última forma em sua transferência”. Eu<<strong>br</strong> />

respondi: “Dr. eu deixei minha esposa doente na cama, não posso<<strong>br</strong> />

ficar”. Ele não disse mais nada, não levantou a cabeça e sempre<<strong>br</strong> />

escrevendo. Eu esperava uma solução, mas <strong>com</strong>o não vinha,<<strong>br</strong> />

perguntei:<<strong>br</strong> />

“Como é que ficamos, Dr.?”.<<strong>br</strong> />

Nem um olhar, quanto mais<<strong>br</strong> />

uma resposta. Resolvi procurar<<strong>br</strong> />

outra solução e sem nada dizer,<<strong>br</strong> />

me afastei, dando apenas um<<strong>br</strong> />

sinal ao porteiro que saisse da frente.<<strong>br</strong> />

Fui em direção aos Campos Elíseos, Palácio do Governo,<<strong>br</strong> />

Dr. Janio Quadros. Eu estava cada vez mais aflito, <strong>com</strong> fome e<<strong>br</strong> />

nervoso. Cheguei nas proximidades do Palácio. Ai, meu Deus do<<strong>br</strong> />

Céu! Estava o quarteirão todo rodeado de gente que queria falar<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> o governador. Justamente nesse dia ele dava audiência<<strong>br</strong> />

ao público. Mas não perdi a luz do túnel. Entrei em um bar,<<strong>br</strong> />

pedi dois pastéis e um copo de vinho. Com calma matei a<<strong>br</strong> />

fome. Lem<strong>br</strong>ei que um Capitão, ex-<strong>com</strong>batente da F.E.B.,


trabalhava na casa civil de Janio Quadros, no Palácio.<<strong>br</strong> />

Levantei e me dirigi à portaria do Palácio.<<strong>br</strong> />

Lá chegando fui barrado pelos soldados da guarda,<<strong>br</strong> />

que deram ordens para voltar. Parei e chamei um dos guardas,<<strong>br</strong> />

que atendeu o chamado. Eu fui dizendo: “quero saber se o<<strong>br</strong> />

capitão Bilé acha-se no Palácio e se ele pode atender a visita<<strong>br</strong> />

de um colega da Força Expedicionária Brasileira”, levando<<strong>br</strong> />

meus documentos à vista. “Ah, ele está sim, venha <strong>com</strong>igo”.<<strong>br</strong> />

Entramos em um grande corredor e então o guarda me falou:<<strong>br</strong> />

“olha ele vindo, pode avançar”.<<strong>br</strong> />

Eu não conhecia esse capitão Bilé, mas<<strong>br</strong> />

assim que dele me aproximei, vi o distintivo<<strong>br</strong> />

da co<strong>br</strong>a fumando na lapela de seu paletó.<<strong>br</strong> />

Ele me levou a seu gabinete e tomei café.<<strong>br</strong> />

Conversamos um pouco so<strong>br</strong>e a F.E.B. e contei rapidamente<<strong>br</strong> />

o que estava se passando <strong>com</strong>igo. Ele me falou: “vou te<<strong>br</strong> />

levar junto ao governador Janio Quadros e ai você fala tudo o<<strong>br</strong> />

que me contou. Eu posso resolver o teu caso, mas ele gosta<<strong>br</strong> />

dos pracinhas”. Fomos à sala de audiência onde estava o<<strong>br</strong> />

governador. Assim que saiu um atendente, nós entramos.<<strong>br</strong> />

Fiz minha apresentação e fui reforçado pelo capitão, que<<strong>br</strong> />

disse: “é meu <strong>com</strong>panheiro da linha de frente, governador” e<<strong>br</strong> />

me disse: “assim que for atendido, passe na minha sala” e<<strong>br</strong> />

retirou-se. O governador mandou que eu me sentasse, fez<<strong>br</strong> />

algumas perguntas so<strong>br</strong>e a guerra e disse: “Eu tenho um<<strong>br</strong> />

grande prazer em conversar <strong>com</strong> pracinhas, mas qual o<<strong>br</strong> />

motivo que te o<strong>br</strong>igou a vir até aqui?”. Comecei a contar tudo,<<strong>br</strong> />

inclusive que há poucos momentos havia estado <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />

Diretor Geral do S.T.R., Dr. Chafic Jacob.<<strong>br</strong> />

Enquando eu falava, notava o seu<<strong>br</strong> />

semblante mudar. Mudava de<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>portamento, passava as mãos<<strong>br</strong> />

no cabelo, os olhos arregalavam.<<strong>br</strong> />

Os bigodes longos tremiam.<<strong>br</strong> />

Janio Quadros me deu um<<strong>br</strong> />

sinal <strong>com</strong> as mãos dizendo: “BASTA!”.<<strong>br</strong> />

Passou a mão no telefone, discou e disse: “é <strong>com</strong> o Chafic<<strong>br</strong> />

que eu quero falar”. “Muito bem Seu Chafic, há poucos


momentos esteve em sua presença, no seu gabinete, uma<<strong>br</strong> />

pessoa de suma importância, funcionário de vossa repartição<<strong>br</strong> />

e não resolveste o caso dele; eu não quero saber quem<<strong>br</strong> />

mandou ou deixou de mandar, o que é que você está fazendo<<strong>br</strong> />

aí <strong>com</strong>o Chefe Diretor que não dá atenção a um ex<strong>com</strong>batente<<strong>br</strong> />

que foi lutar pela liberdade nossa e dos povos<<strong>br</strong> />

do mundo?”.<<strong>br</strong> />

“Se não fossem esses homens,<<strong>br</strong> />

eu não estaria aqui <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

governador e nem você seria um<<strong>br</strong> />

administrador de empresas, seria sim<<strong>br</strong> />

um escravo. Você não perguntou é nada.<<strong>br</strong> />

Eu quero que todos os pracinhas que<<strong>br</strong> />

por você procurarem, recebam a<<strong>br</strong> />

maior atenção e que não venha<<strong>br</strong> />

a se repetir outro caso <strong>com</strong>o este”.<<strong>br</strong> />

“E pode esperar aí, que o Sr. Victório Nalesso vai<<strong>br</strong> />

apresentar a você os direitos por lei e considerações que todos<<strong>br</strong> />

nós basileiros temos o dever de conhecer e praticar. Ele solicita<<strong>br</strong> />

o retorno para Itapetininga e transferência de repartição. Eu ordeno<<strong>br</strong> />

que você faça um ofício para que ninguém, <strong>com</strong>o chefe, venha a<<strong>br</strong> />

interferir na vida desses <strong>com</strong>batentes, nada de remoção ou<<strong>br</strong> />

transferência, a não ser <strong>com</strong> solicitação do interessado, ainda<<strong>br</strong> />

mais o Sr. Victório, que acha-se desprovido de dinheiro. Forneça<<strong>br</strong> />

sua diária e passe para seu retorno, sem prejuízo nenhum a sua<<strong>br</strong> />

pessoa. Pronto, está resolvido o seu caso”. Eu me levantei,<<strong>br</strong> />

agradeci e fui até a sala do Capitão, ainda assustado do pega<<strong>br</strong> />

que o governador deu no Chafic. Contei o sucedido ao capitão<<strong>br</strong> />

que achou muito interessante e me deu um cartão <strong>com</strong> seu<<strong>br</strong> />

telefone e disse que se qualquer coisa não desse certo por motivos<<strong>br</strong> />

de perseguição ou coisa semelhante, era só telefonar. Nestas<<strong>br</strong> />

alturas já eram 17:20 h e o trem que vinha para Itapetininga partia<<strong>br</strong> />

às 18:15 h. Saí a passos largos e a minha sorte é que não era<<strong>br</strong> />

longe entre o Campos Elíseos e a Estação Júlio Prestes.<<strong>br</strong> />

Cheguei ao prédio Júlio Prestes, subi até o 2º andar e fui<<strong>br</strong> />

direto à tesouraria receber a diária. Apresentei meus documentos<<strong>br</strong> />

e recebi diárias de 2 dias em dinheiro: desse dia e do dia seguinte,<<strong>br</strong> />

quando deveria me apresentar a outro chefe, o chefe de Estação,<<strong>br</strong> />

pois eu tinha solicitado a transferência do S.T.R. para S.D.O.


Assim que eu recebi da tesouraria fui ao gabinete do<<strong>br</strong> />

Chafic e uma outra pessoa me recebeu. Não vi a cara do Chafic.<<strong>br</strong> />

Mas essa pessoa me entregou um telegrama para a passagem e<<strong>br</strong> />

me disse que as providências solicitadas seguiriam por bolsa no<<strong>br</strong> />

último trem de passageiros, às 21 horas, para Itapetininga.<<strong>br</strong> />

Eu desci para o saguão da estação e apresentei o<<strong>br</strong> />

telegrama na bilheteria. Recebi a passagem, entrei na plataforma,<<strong>br</strong> />

embarquei, me sentei e logo o trem partiu.<<strong>br</strong> />

Na viagem foi que <strong>com</strong>ecei a meditar so<strong>br</strong>e todas as<<strong>br</strong> />

ocorrências que tinham acontecido, parte da noite e durante o<<strong>br</strong> />

dia todo. Uma luta psicológica, nervosa, porque se não desse<<strong>br</strong> />

certo eu não iria pedir demissão e nem ficaria trabalhando<<strong>br</strong> />

em São Paulo sem primeiro levar o caso às autoridades<<strong>br</strong> />

governamentais.<<strong>br</strong> />

Mas graças a Deus,<<strong>br</strong> />

a luz do Divino Espírito<<strong>br</strong> />

Santo iluminou meu<<strong>br</strong> />

caminho e deu tudo certo.<<strong>br</strong> />

Às 22:30 horas cheguei em minha casa, todo contente.<<strong>br</strong> />

Foi o momento que relatei todo o acontecimento à minha esposa.<<strong>br</strong> />

Outra alegria no meu lar, porque ela ficou sabendo o que fomos<<strong>br</strong> />

fazer em São Paulo pela esposa de outro <strong>com</strong>panheiro de serviço<<strong>br</strong> />

que lá ficou trabalhando.<<strong>br</strong> />

No dia seguinte, uma 4ª feira, <strong>com</strong>o o dia estava abonado<<strong>br</strong> />

para fazer nova apresentação, fui à estação de Itapetininga depois<<strong>br</strong> />

do almoço. Lá chegando vi de cara o agente <strong>com</strong>ercial do S.R.T.,<<strong>br</strong> />

o Seu Rodrigo. O Inspetor de Estações, Seu Pasqualit, o chefe<<strong>br</strong> />

de Estação, Seu Juca e mais pessoas conversando, todos<<strong>br</strong> />

reunidos. Ninguém me disse nada, mas notei muito bem que o<<strong>br</strong> />

Seu Rodrigo, meu chefe, estava moralmente abatido.<<strong>br</strong> />

Eu, sorridente, subi até a agência que eu pertencia, onde<<strong>br</strong> />

se achavam os escritórios do Seu Rodrigo. Assim que entrei, o<<strong>br</strong> />

Seu Ju<strong>br</strong>an, chefe do escritório, me falou: “ô Nalesso, tem<<strong>br</strong> />

novidade aqui prá você: você não pertence mais aos nossos<<strong>br</strong> />

serviços, mas sim ao S.D.O. e deverá apresentar-se ao chefe da<<strong>br</strong> />

estação, seu Juca, a quem já encaminhei os documentos seus”.<<strong>br</strong> />

Foi nesse momento que ele me falou:


“olha Nalesso, veio uma carta para que nenhum<<strong>br</strong> />

chefe ou superior se envolva contigo em matéria<<strong>br</strong> />

de remoção, a não ser em caso de seu próprio<<strong>br</strong> />

interesse; ordem do governador”.<<strong>br</strong> />

Pois bem, me apresentei para Seu Juca, o chefe da Estação e<<strong>br</strong> />

no dia seguinte fui designado a trabalhar no armazém de descarga<<strong>br</strong> />

de mercadorias dos vagões. Depois de 20 dias de trabalho, um<<strong>br</strong> />

chefe ajudante, seu Pires, me perguntou se eu sabia ler e escrever<<strong>br</strong> />

bem. Respondi que sim. “Quero ver então: você vai fazer uma<<strong>br</strong> />

experiência na seção do telégrafo e na estação <strong>com</strong>o estafeta”.<<strong>br</strong> />

Eu só não consegui ser um telegrafista de receber telegramas<<strong>br</strong> />

pelo aparelho telégrafo; no mais fazia de tudo, <strong>com</strong>o receber e<<strong>br</strong> />

expedir telegramas de serviços pelo telex – Teletipo – conferir,<<strong>br</strong> />

registrar, fazer entregas dos telegramas em todas as repartições<<strong>br</strong> />

da ferrovia e entregas dos avisos de mercadorias na praça, para<<strong>br</strong> />

serem retiradas. Todos os telegramas passavam por minhas<<strong>br</strong> />

mãos, porque era eu que os registrava, pois fazia o arquivo dos<<strong>br</strong> />

originais. Nesse serviço trabalhei 23 anos. Era fisicamente leve,<<strong>br</strong> />

mas mentalmente pesado, devido às responsabilidades, pela<<strong>br</strong> />

importância de cada telegrama.


CAPÍTULO XXVIII<<strong>br</strong> />

Observações <strong>com</strong>plementares.<<strong>br</strong> />

Nesta parte final, o pracinha<<strong>br</strong> />

Victório Nalesso faz alguns<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>entários relem<strong>br</strong>ando<<strong>br</strong> />

momentos importantes que<<strong>br</strong> />

vivenciou, especialmente os<<strong>br</strong> />

relacionados <strong>com</strong> a guerra. Com<<strong>br</strong> />

sua literatura rica na forma e no<<strong>br</strong> />

conteúdo, o cidadão Victório<<strong>br</strong> />

Nalesso deixa transparecer seu<<strong>br</strong> />

rigoroso senso crítico e sua revolta<<strong>br</strong> />

diante do que considera injusto,<<strong>br</strong> />

uma marca notável de sua<<strong>br</strong> />

personalidade.


Comentários<<strong>br</strong> />

Todo o pessoal que formava a Divisão expedicionária foi<<strong>br</strong> />

vacinado e revacinado antes do embarque, só que a cada passo<<strong>br</strong> />

não faltava decepções.<<strong>br</strong> />

A inspeção de saúde era encarada <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

rigorosa, mas no passar das malhas finas,<<strong>br</strong> />

sempre eram escoados os filhos de<<strong>br</strong> />

papais tubarões, os poderosos ricos.<<strong>br</strong> />

Tanto graduados <strong>com</strong>o soldados, não <strong>com</strong>punham as<<strong>br</strong> />

fileiras dos humildes, operários e homens da zona rural, já<<strong>br</strong> />

mobilizados, todos homens simples, mas não covardes. A guerra<<strong>br</strong> />

terminou e fomos todos dispensados das fileiras do Exército.<<strong>br</strong> />

Em nenhum momento o governo pensou em qualquer<<strong>br</strong> />

ato de re<strong>com</strong>pensa, de gratidão ou de amparo aos que enviou<<strong>br</strong> />

além-mar, na maior fogueira de guerra que o mundo já conheceu,<<strong>br</strong> />

embora não mereça censura os vencimentos recebidos durante<<strong>br</strong> />

o teatro de operações na Itália, que foram altamente benéficos<<strong>br</strong> />

às famílias dos Expedicionários. Seus vencimentos mensais eram<<strong>br</strong> />

desdo<strong>br</strong>ados em 3 parcelas iguais, a saber: uma parcela o soldado<<strong>br</strong> />

recebia na Itália; a 2ª, a família recebia no Banco do Brasil da<<strong>br</strong> />

cidade em que morava e a 3ª parcela ficava no Banco do Brasil<<strong>br</strong> />

no Rio de Janeiro, a qual recebemos no dia do desembarque.<<strong>br</strong> />

Em caso de falecimento do soldado, qualquer que fosse<<strong>br</strong> />

o motivo, a família resgatava toda a importância depositada no<<strong>br</strong> />

Banco. Até esse momento correu muito bem; após isso, muitos<<strong>br</strong> />

ex-<strong>com</strong>batentes ficaram na maior miséria, à espera de melhorias<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o emprego, reforma e aqueles que se achavam doentes.<<strong>br</strong> />

Um fato mínimo aconteceu depois que a Lei nº 288, de<<strong>br</strong> />

Junho de 1948, foi votada pelo Congresso Nacional, 3 anos depois<<strong>br</strong> />

que terminou a guerra.<<strong>br</strong> />

Mas logo a seguir esse benefício foi<<strong>br</strong> />

generalizado, <strong>com</strong> o escândalo da Lei de Praia,<<strong>br</strong> />

Lei Comunista ou Lei Integralista, feitas para<<strong>br</strong> />

favorecer justamente aqueles que de um<<strong>br</strong> />

jeito ou de outro não foram para a guerra.


Ficaram servindo e <strong>com</strong>andando pequenos contingentes cá e<<strong>br</strong> />

acolá, graças aos sábios fazedores de leis, que faziam mano<strong>br</strong>as<<strong>br</strong> />

para tirar proveitos em cima das costas daqueles que deram suas<<strong>br</strong> />

vidas pela Pátria, enfrentando chuva, lama, frio, tempestade, neve,<<strong>br</strong> />

declínios de temperatura de até 20 graus abaixo de zero, sem<<strong>br</strong> />

teto, a<strong>br</strong>igando-se nos destroços de casas atingidas pelas<<strong>br</strong> />

bombas, nas casas abandonadas pelos alemães, nas trincheiras<<strong>br</strong> />

defensivas, <strong>com</strong>ida fria, gelada no tempo da neve, patrulhas todas<<strong>br</strong> />

as noites <strong>com</strong> constantes encontros <strong>com</strong> o inimigo na terra de<<strong>br</strong> />

ninguém, onde se travava terrível tiroteio, cansaço, sono.<<strong>br</strong> />

As Divisões Brasileiras entraram e permaneceram, até o<<strong>br</strong> />

fim da guerra, 9 meses mais ou menos, sem ser substituidas<<strong>br</strong> />

para um descanso, <strong>com</strong>o acontecia <strong>com</strong> as tropas americanas.<<strong>br</strong> />

O nosso descanso era na 2ª linha, debaixo dos bombardeios da<<strong>br</strong> />

artilharia pesada dos alemães. Mas na retaguarda, longe das<<strong>br</strong> />

bombas inimigas, isso não aconteceu. É justo que o Brasil tinha<<strong>br</strong> />

que conservar sua segurança interna, mas seguiu uma só divisão<<strong>br</strong> />

para a Itália, enquanto que o trato <strong>com</strong> os Estados Unidos seria<<strong>br</strong> />

de 3 divisões, <strong>com</strong> 76.000 homens, ou seja, um Exército.<<strong>br</strong> />

Uma pergunta a você, caro leitor:<<strong>br</strong> />

“É justo os soldados que ficaram em<<strong>br</strong> />

guarnição de praias no litoral Brasileiro,<<strong>br</strong> />

longe do teatro de operações de guerra,<<strong>br</strong> />

terem tido os mesmos direitos que nós?”<<strong>br</strong> />

Os soldados da F.E.B. tiveram suas vidas expostas à<<strong>br</strong> />

morte desde o momento de seu embarque, além-mar e mais 8<<strong>br</strong> />

meses de <strong>com</strong>bate! Ação de guerra? Isto foi a maior afronta que<<strong>br</strong> />

os ex-<strong>com</strong>batentes da F.E.B. sofreram. Uma humilhação!<<strong>br</strong> />

Amparo<<strong>br</strong> />

A lei 288 era muito clara. Todos os ex-<strong>com</strong>batentes da<<strong>br</strong> />

F.E.B. que viessem a adquirir qualquer tipo de moléstia ou<<strong>br</strong> />

incapacidade física, seriam reformados, uma vez julgada sua<<strong>br</strong> />

incapacidade por uma junta médica militar.<<strong>br</strong> />

Decorridos 30 anos mais ou menos, as associações dos<<strong>br</strong> />

Ex-<strong>com</strong>batentes do Rio de Janeiro e São Paulo <strong>com</strong>eçaram a<<strong>br</strong> />

levar à tona tais direitos. Até então ninguém sabia de nada, mas<<strong>br</strong> />

na medida que esses direitos iam chegando ao conhecimento


dos veteranos da F.E.B. espalhados por este Brasil afora, até o<<strong>br</strong> />

ano de 1990 ainda tinha “Febiano” acertando seus direitos. Eu fui<<strong>br</strong> />

o primeiro de Itapetininga a conseguir receber pelo Exército. Foi<<strong>br</strong> />

uma luta dura: estive internado 4 vezes no Hospital Geral Militar<<strong>br</strong> />

em Cambuci, São Paulo, no decorrer de 2 anos. Comecei em<<strong>br</strong> />

Fevereiro de 1979 e só em A<strong>br</strong>il de 1981 obtive o 1º pagamento,<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>indo assim o caminho aos demais. Com mais facilidades,<<strong>br</strong> />

porque aprendi a montar os processos necessários que deveriam<<strong>br</strong> />

apresentar aos médicos para passar pela junta. Mas as coisas<<strong>br</strong> />

logo ficaram diferentes, todos tiveram que passar por uma junta<<strong>br</strong> />

médica mais rigorosa e até serem internados. Em conformidade<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> uma reforma da lei, só veio o direito a uma pensão, de modo<<strong>br</strong> />

que as filhas solteiras maiores de idade não tinham o direito de<<strong>br</strong> />

ficar <strong>com</strong> a pensão na falta do pai, salvo se este fosse reformado.<<strong>br</strong> />

Novas decepções aparecem para a família dos pracinhas,<<strong>br</strong> />

porque muitos faleceram sem ter conhecimento de seus direitos.<<strong>br</strong> />

Também cheguei a presenciar filhos e filhas de ex-<strong>com</strong>batente<<strong>br</strong> />

ficarem órfãos de pai e mãe, sem a pensão militar <strong>com</strong> que viviam<<strong>br</strong> />

e mantinham seus estudos, alguns fazendo faculdade e outros o<<strong>br</strong> />

magistério. E <strong>com</strong>o não tinha nenhum menor de idade para ficar<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> a pensão, todos os 6 filhos, sendo 4 do sexo feminino e 2 do<<strong>br</strong> />

sexo masculino, tiveram que deixar, abandonar seus estudos e<<strong>br</strong> />

trabalhar para so<strong>br</strong>eviver.<<strong>br</strong> />

Isso tudo é fruto daqueles que<<strong>br</strong> />

deturparam, roubaram os direitos dos<<strong>br</strong> />

“febianos” que deram suas vidas<<strong>br</strong> />

defendendo a Pátria, para ficar<<strong>br</strong> />

em nível igual de vencimentos<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> os contingentes que<<strong>br</strong> />

ficaram guardando as<<strong>br</strong> />

praias ou zonas de perigo,<<strong>br</strong> />

onde não houve um tiro sequer.<<strong>br</strong> />

E <strong>com</strong> muita facilidade ganharam o que pretendiam, mesmo sem<<strong>br</strong> />

passar por juntas médicas e nem precisar serem internados,<<strong>br</strong> />

enquanto os “febianos” passavam pela maior dificuldade e morriam<<strong>br</strong> />

sem a esperada reforma ou pensão.<<strong>br</strong> />

É claro que os soldados guardaram e vigiaram os locais<<strong>br</strong> />

onde poderia acontecer uma invasão inimiga em nosso litoral,


coisa que não aconteceu. Deviam ter seus valores reconhecidos<<strong>br</strong> />

sem tocar no que estava feito a bem dos que foram heróis.<<strong>br</strong> />

Nenhum ex-<strong>com</strong>batente fez estudar seus filhos <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

dinheiro de sua pensão, porque a maioria dos filhos eram todos<<strong>br</strong> />

maiores de idade quando seus pais <strong>com</strong>eçaram a receber do<<strong>br</strong> />

Exército. Mas para aqueles que ainda são vivos, mesmo para as<<strong>br</strong> />

viúvas que são vivas, essa pensão está sendo muito utilizada<<strong>br</strong> />

para a educação escolar dos netos e bisnetos. Mas bem entendido:<<strong>br</strong> />

enquanto forem vivos o ex-<strong>com</strong>batente ou sua esposa. Na falta<<strong>br</strong> />

dos dois cessa também a pensão militar, <strong>com</strong>o cessa a presença<<strong>br</strong> />

já muito rara de alguns pracinhas da F.E.B. nos dias festivos<<strong>br</strong> />

nacionais, desfilando em jeeps em <strong>com</strong>emoração ao Dia da Vitória,<<strong>br</strong> />

8 de Maio, 2º Grande Guerra Mundial, em que as Nações Unidas<<strong>br</strong> />

lutaram contra as nações do Eixo Alemanha, Itália e Japão. Durou<<strong>br</strong> />

6 anos, do dia 29 de Agosto de 1939 a 8 de Maio de 1945.


As Gírias<<strong>br</strong> />

“BARBA” OU “BAFO DA ONÇA” - Indica a aproximação ou<<strong>br</strong> />

proximidade de Companhia ou Pelotão inimigo.<<strong>br</strong> />

“A COBRA VAI FUMAR” - Esta expressão teve dezenas de<<strong>br</strong> />

interpretações quanto a sua origem. A mais aceita tem relação<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> os soldados do interior, vindos do sítio, que ao verem pela<<strong>br</strong> />

primeira vez um trem diziam: “olha a co<strong>br</strong>a fumando”. O significado<<strong>br</strong> />

da expressão é o mesmo que “O pau vai que<strong>br</strong>ar” ou “O bicho vai<<strong>br</strong> />

Pegar”.<<strong>br</strong> />

“SENTA A PUA” - Frase usada pela F.A.B. (Força Aérea Brasileira)<<strong>br</strong> />

que trazia um emblema de um avestruz lançando fogo para todos<<strong>br</strong> />

os lados. “Senta a pua” significa “desça o cacete, metralhe, lance<<strong>br</strong> />

as bombas, liquide”. Também usada dentro das tropas da F.E.B.<<strong>br</strong> />

que ao avistar uma outra Companhia ou Pelotão seguindo para a<<strong>br</strong> />

linha de frente, gritavam: “Senta a pua nos tedescos”.<<strong>br</strong> />

“SÓ PENA QUE VÔA” - Expressão utilizada diante de uma<<strong>br</strong> />

tragédia qualquer, uma <strong>br</strong>iga feia ou um acidente de carro. A origem<<strong>br</strong> />

desta frase, segundo notícias de campanha, surgiu de um soldado<<strong>br</strong> />

do 6º R.I. que, quando pela primeira vez em serviço na linha de<<strong>br</strong> />

frente, viu cair uma bomba de canhão da artilharia <strong>br</strong>asileira em<<strong>br</strong> />

cima de uma casa, próximo de onde ele se encontrava. Com a<<strong>br</strong> />

explosão, voaram muitas e muitas penas e foi quando o recruta<<strong>br</strong> />

da linha de frente gritou: “é só pena que voa!”. Diversos<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>panheiros assistiram a cena e foi o que bastou para a frase<<strong>br</strong> />

entrar na história. Foi muito utilizada nas patrulhas, quando o<<strong>br</strong> />

soldado esquecia a senha. Quando era surpreendido por seus<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>panheiros e era solicitada a senha que havia esquecido, o<<strong>br</strong> />

soldado teria que apelar para uma das gírias: “a co<strong>br</strong>a fumou”,<<strong>br</strong> />

“só pena que vôa”, “senta a pua”, “barba da onça”.<<strong>br</strong> />

“TOCHA” - A tocha era outra palavra que não saía da boca dos<<strong>br</strong> />

soldados <strong>br</strong>asileiros. “Vou fazer uma tocha” significa “vou sair<<strong>br</strong> />

por conta própria” ou “vou sair sem permissão superior”. Isto era<<strong>br</strong> />

uma ação ou um procedimento irregular do soldado, mas de grande<<strong>br</strong> />

ocorrência.


A Escada Santa


Nos dias em que tive a oportunidade de fazer visitas às<<strong>br</strong> />

principais catedrais e basílicas de Roma, visitei a basílica de São<<strong>br</strong> />

João Latrão, onde está localizada a escada por onde Jesus Cristo<<strong>br</strong> />

subiu quando foi levado pelos soldados romanos à presença do<<strong>br</strong> />

governador Pôncio Pilatos, que queria interrogá-lo em seu tribunal.<<strong>br</strong> />

Essa escada possui 28 degraus e os fiéis costumam subir<<strong>br</strong> />

de joelhos e orando. Esses degraus são largos e medem<<strong>br</strong> />

aproximadamente 2 metros por 40 centímetros de largura e a extensão<<strong>br</strong> />

total da escada é de 11 metros aproximadamente. Na maioria dos<<strong>br</strong> />

degraus estão os rastros <strong>com</strong> gotas de sangue de Nosso Senhor<<strong>br</strong> />

Jesus Cristo, protegidos por vidros por toda extensão da escada.<<strong>br</strong> />

Próximo à Basílica de São João Latrão, localiza-se a Igreja de Santa<<strong>br</strong> />

Cruz de Jerusalém, onde se encontra a capela <strong>com</strong> as preciosas<<strong>br</strong> />

relíquias da cruz contendo um dos cravos da crucificação, vários<<strong>br</strong> />

espinhos da coroa e o título que Pilatos mandou pregar no alto da<<strong>br</strong> />

cruz <strong>com</strong> os dizeres: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”.


O dever para <strong>com</strong> a Pátria<<strong>br</strong> />

Antes que eu seguisse para a guerra notei que o Brasil<<strong>br</strong> />

estava passando por um racionamento rigoroso. A gasolina, que<<strong>br</strong> />

era importada, não vinha mais e o que era produzido era requisitado<<strong>br</strong> />

pelo Governo Federal, a fim de suprir as forças armadas,<<strong>br</strong> />

principalmente a FEB, que seguiu para a Itália. Quanto aos<<strong>br</strong> />

alimentos, eram racionados açúcar, café, farinha de trigo, óleo<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>estível, carne e outros mais. Também notei que quando estava<<strong>br</strong> />

em campanha na Itália, nenhum dos alimentos e bebidas<<strong>br</strong> />

consumidos eram de procedência nacional. Todos os produtos<<strong>br</strong> />

eram americanos, até carne de peru, que <strong>com</strong>emos <strong>com</strong> fartura<<strong>br</strong> />

no dia de Natal de 1944, em pleno gelo, na linha de frente de<<strong>br</strong> />

Monte Castello. Era um lugarejo chamado Bombiana. O peru foi<<strong>br</strong> />

muito bem a<strong>com</strong>panhado <strong>com</strong> doces, caramelos, chocolates,<<strong>br</strong> />

dentre outros doces. Nesse momento lem<strong>br</strong>ei que ali estava o<<strong>br</strong> />

afeto materno da nação, <strong>com</strong> suas preces ansiosas pela sorte<<strong>br</strong> />

do sangue do seu sangue.<<strong>br</strong> />

Por melhor que seja a guerra, é sempre guerra. Não existe<<strong>br</strong> />

conforto que possa suprir a perspectiva da morte a cada passo.<<strong>br</strong> />

Aqueles que passaram terríveis momentos, <strong>com</strong>o passei, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

tantas noites sem dormir, oito meses sem ver cama. Nos avanços<<strong>br</strong> />

das noites tene<strong>br</strong>osas, nos a<strong>br</strong>igos dentro da neve, no frio cortante<<strong>br</strong> />

e <strong>com</strong> as pernas congeladas. Nos chamados “pés de trincheiras”,<<strong>br</strong> />

nas rajadas de metralhadora, no tossir dos morteiros (os que mais<<strong>br</strong> />

perturbavam), no subir das montanhas debaixo de tantos pipocos<<strong>br</strong> />

de morteiros inimigos. No cansaço, as roupas molhadas e a <strong>com</strong>ida<<strong>br</strong> />

fria. Nas minas invisíveis e traiçoeiras, que explodiam ao a<strong>br</strong>ir uma<<strong>br</strong> />

porta ou janela. No apanhar de uma arma inimiga ou outros objetos<<strong>br</strong> />

quando abandonados. No simples caminhar ou fazendo uma<<strong>br</strong> />

patrulha, onde não se sabia se este passo seria livre ou condenado.<<strong>br</strong> />

Estas são referências aos soldados que estiveram na linha<<strong>br</strong> />

de frente dos <strong>com</strong>bates. Aqueles jovens de vigor, escolhidos entre<<strong>br</strong> />

os melhores e mais fortes, que passaram por doze juntas médicas<<strong>br</strong> />

e tiveram que deixar seus familiares para partir ao campo de batalha<<strong>br</strong> />

enfrentar a morte sem hora marcada e que poderia durar horas,<<strong>br</strong> />

dias, meses, o que para o <strong>com</strong>batente se tratava de uma eternidade.<<strong>br</strong> />

Esses foram alguns de muitos sofrimentos físicos, morais<<strong>br</strong> />

e psíquicos dos ex-<strong>com</strong>batentes que tomaram parte do teatro de<<strong>br</strong> />

operações na Itália durante a 2ª Guerra Mundial e que ofereceram<<strong>br</strong> />

a própria vida a fim de cumprir o dever sagrado para <strong>com</strong> a pátria.


Lem<strong>br</strong>anças<<strong>br</strong> />

Cruz de Combate<<strong>br</strong> />

Medalha de Campanha<<strong>br</strong> />

Medalha de Guerra<<strong>br</strong> />

Diploma da Medalha de Campanha


Plaquetas de identificação<<strong>br</strong> />

numa corrente bastante<<strong>br</strong> />

forte, de bolinhas. No caso<<strong>br</strong> />

de falecimento do portador, dentro<<strong>br</strong> />

ou fora de <strong>com</strong>bate, os padioleiros<<strong>br</strong> />

da Cruz Vermelha recolhiam<<strong>br</strong> />

uma das plaquetas e colocavam a<<strong>br</strong> />

outra dentro da boca do falecido.<<strong>br</strong> />

Cruz Suástica<<strong>br</strong> />

Bandeira<<strong>br</strong> />

Nazista<<strong>br</strong> />

Bandeira<<strong>br</strong> />

das Forças<<strong>br</strong> />

Armadas<<strong>br</strong> />

Alemãs<<strong>br</strong> />

Diploma fornecido pelo 4º Corpo do 5º Exército Americano<<strong>br</strong> />

Unidade em que a divisão da FEB foi incorporada durante a guerra na Itália.


CANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIO<<strong>br</strong> />

Letra: Guilherme de Almeida - Música: Spartaco Rossi<<strong>br</strong> />

Você sabe de onde eu venho?<<strong>br</strong> />

Venho do morro, do engenho,<<strong>br</strong> />

Das selvas, dos cafezais,<<strong>br</strong> />

Da boa terra do côco,<<strong>br</strong> />

Da choupana onde um é pouco,<<strong>br</strong> />

Dois é bom, três é demais,<<strong>br</strong> />

Venho das praias sedosas,<<strong>br</strong> />

Das montanhas alterosas,<<strong>br</strong> />

Do pampa, do seringal,<<strong>br</strong> />

Das margens crespas dos rios,<<strong>br</strong> />

Dos verdes mares <strong>br</strong>avios,<<strong>br</strong> />

Da minha terra natal.<<strong>br</strong> />

Por mais terra que eu percorra,<<strong>br</strong> />

Não permita Deus que eu morra,<<strong>br</strong> />

Sem que volte para lá;<<strong>br</strong> />

Sem que leve por divisa,<<strong>br</strong> />

Esse "V" que simboliza,<<strong>br</strong> />

A Vitória que virá :<<strong>br</strong> />

Nossa Vitória final,<<strong>br</strong> />

Que é a mira do meu fuzil,<<strong>br</strong> />

A ração do meu bornal,<<strong>br</strong> />

A água do meu cantil,<<strong>br</strong> />

As asas do meu ideal,<<strong>br</strong> />

A glória do meu Brasil!<<strong>br</strong> />

Eu venho da minha terra,<<strong>br</strong> />

Da casa <strong>br</strong>anca na serra,<<strong>br</strong> />

E do luar do meu sertão;<<strong>br</strong> />

Venho da minha Maria,<<strong>br</strong> />

Cujo nome principia,<<strong>br</strong> />

Na palma da minha mão.<<strong>br</strong> />

Braços mornos de Moema,<<strong>br</strong> />

Lábios de mel de Iracema,<<strong>br</strong> />

Estendidos para mim,<<strong>br</strong> />

Ó minha terra querida,<<strong>br</strong> />

Da Senhora Aparecida,<<strong>br</strong> />

E do Senhor do Bonfim!<<strong>br</strong> />

Por mais terra que eu percorra,<<strong>br</strong> />

Não permita Deus que eu morra,<<strong>br</strong> />

Sem que volte para lá;<<strong>br</strong> />

Sem que leve por divisa,<<strong>br</strong> />

Esse "V" que simboliza,<<strong>br</strong> />

A Vitória que virá :<<strong>br</strong> />

Nossa Vitória final,<<strong>br</strong> />

Que é a mira do meu fuzil,<<strong>br</strong> />

A ração do meu bornal,<<strong>br</strong> />

A água do meu cantil,<<strong>br</strong> />

As asas do meu ideal,<<strong>br</strong> />

A glória do meu Brasil!<<strong>br</strong> />

Você sabe de onde eu venho?<<strong>br</strong> />

É de uma pátria que eu tenho,<<strong>br</strong> />

No bojo do meu violão;<<strong>br</strong> />

Que de viver em meu peito,<<strong>br</strong> />

Foi até tomando jeito,<<strong>br</strong> />

De um enorme coração.<<strong>br</strong> />

Deixei lá atrás meu terreiro,<<strong>br</strong> />

Meu limão, meu limoeiro,<<strong>br</strong> />

Meu pé de jacarandá,<<strong>br</strong> />

Minha casa pequenina,<<strong>br</strong> />

Lá no alto da colina,<<strong>br</strong> />

Onde canta o sabiá!<<strong>br</strong> />

Por mais terra que eu percorra,<<strong>br</strong> />

Não permita Deus que eu morra,<<strong>br</strong> />

Sem que volte para lá;<<strong>br</strong> />

Sem que leve por divisa,<<strong>br</strong> />

Esse "V" que simboliza,<<strong>br</strong> />

A Vitória que virá:<<strong>br</strong> />

Nossa Vitória final,<<strong>br</strong> />

Que é a mira do meu fuzil,<<strong>br</strong> />

A ração do meu bornal,<<strong>br</strong> />

A água do meu cantil,<<strong>br</strong> />

As asas do meu ideal,<<strong>br</strong> />

A glória do meu Brasil!<<strong>br</strong> />

Venho do além desse monte,<<strong>br</strong> />

Que ainda azula o horizonte,<<strong>br</strong> />

Onde o nosso amor nasceu;<<strong>br</strong> />

Do rancho que tinha ao lado,<<strong>br</strong> />

Um coqueiro que coitado,<<strong>br</strong> />

De saudades já morreu.<<strong>br</strong> />

Venho do verde mais belo,<<strong>br</strong> />

Do mais dourado amarelo,<<strong>br</strong> />

Do azul mais cheio de luz,<<strong>br</strong> />

Cheio de estrelas prateadas,<<strong>br</strong> />

Que se ajoelham deslum<strong>br</strong>adas,<<strong>br</strong> />

Fazendo o sinal da Cruz!<<strong>br</strong> />

Por mais terra que eu percorra,<<strong>br</strong> />

Não permita Deus que eu morra,<<strong>br</strong> />

Sem que volte para lá;<<strong>br</strong> />

Sem que leve por divisa,<<strong>br</strong> />

Esse "V" que simboliza,<<strong>br</strong> />

A Vitória que virá :<<strong>br</strong> />

Nossa Vitória final,<<strong>br</strong> />

Que é a mira do meu fuzil,<<strong>br</strong> />

A ração do meu bornal,<<strong>br</strong> />

A água do meu cantil,<<strong>br</strong> />

As asas do meu ideal,<<strong>br</strong> />

A glória do meu Brasil!


A família Nalesso<<strong>br</strong> />

Moysés Nalesso e Ana da Conceição, tiveram os<<strong>br</strong> />

seguintes filhos: Isaura Nalesso,Tereza Nalesso, João Nalesso,<<strong>br</strong> />

Máximo Nalesso, Ernesto Nalesso, Victório Nalesso, Marcílio<<strong>br</strong> />

Nalesso, Amélia Nalesso, Modesto Nalesso, Álvaro Nalesso e<<strong>br</strong> />

Maria Nalesso. Até a presente data (a<strong>br</strong>il de 2005), encontram-se<<strong>br</strong> />

vivos: Victório e seus irmãos Marcílio e Álvaro.<<strong>br</strong> />

Fotos de Família<<strong>br</strong> />

Ao centro, Victório Nalesso e sua esposa Lucinda Nunes da Costa Nalesso tendo<<strong>br</strong> />

ao lado seus três filhos: Ana Nunes Nalesso, Cleide Aparecida Nalesso e João<<strong>br</strong> />

Mateus Nalesso. Dia 04/07/04, aniversário de 82 anos do pracinha da F.E.B.<<strong>br</strong> />

Victório Nalesso e esposa (sentados), <strong>com</strong> netos e bisnetos. Netos: (em pé)<<strong>br</strong> />

Marcelo, Adriana, André e Lídia. Bisnetos: Pietro, filho da Adriana, Cauan, filho<<strong>br</strong> />

do Marcelo (no colo do bisavô) e Ettore, filho da Lídia (no colo da bisavó).


ESTA OBRA FOI COMPOSTA E<<strong>br</strong> />

IMPRESSA EM ITAPETININGA<<strong>br</strong> />

NO ESTADO DE SÃO PAULO<<strong>br</strong> />

PELA GRÁFICA REGIONAL EM<<strong>br</strong> />

OFFSET SOBRE PAPEL PÓLEM<<strong>br</strong> />

SOFT DA COMPANHIA SUZANO<<strong>br</strong> />

EM MAIO DE 2005

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