1 Representação da solidão na literatura Um estudo de O ... - UnB
1 Representação da solidão na literatura Um estudo de O ... - UnB
1 Representação da solidão na literatura Um estudo de O ... - UnB
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O estado <strong>de</strong> <strong>solidão</strong>, assim, representa uma escolha, uma saí<strong>da</strong> para quem já não<br />
se encontra em condições <strong>de</strong> fazer frente às exigências <strong>na</strong>turais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Contudo, o ensaísta aconselha a quem opte pela <strong>solidão</strong> que não leve consigo os<br />
grilhões, os fardos que o pressio<strong>na</strong>m, senão jamais alcançará a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> total. O estado<br />
<strong>de</strong> <strong>solidão</strong> seria, então, um ato voluntário e consciente.<br />
A <strong>solidão</strong> tanto como condição <strong>na</strong>tural, ontológica, quanto como uma escolha ou<br />
opção <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> em liber<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser representa<strong>da</strong> <strong>na</strong> <strong>literatura</strong> que, neste trabalho,<br />
buscar-se-á evi<strong>de</strong>nciar a <strong>solidão</strong> <strong>de</strong> Tertuliano Máximo Afonso e Pereira.<br />
Para a análise <strong>da</strong>s perso<strong>na</strong>gens <strong>de</strong> Saramago (2002) e Tabucchi (1995) faz-se<br />
necessário o auxílio do pensamento sempre imprescindível <strong>de</strong> Bakhtin (1998), quando<br />
<strong>de</strong>staca que, no romance, além do homem falante e atuante, há também o homem pensante, cuja<br />
posição i<strong>de</strong>ológica po<strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar-se <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ologia do autor ou unir-se a ela, uma vez que a ação<br />
está vincula<strong>da</strong> ao discurso. Não se po<strong>de</strong>m perceber as concepções i<strong>de</strong>ológicas <strong>da</strong> perso<strong>na</strong>gem<br />
unicamente por meio <strong>de</strong> suas ações, pelo fato <strong>de</strong> que é <strong>na</strong> palavra que ressoam to<strong>da</strong>s as<br />
convicções, dúvi<strong>da</strong>s, intenções, valores, normas etc. do homem e do universo social que o<br />
circun<strong>da</strong>. Portanto, o discurso é o instrumento a<strong>de</strong>quado para a representação do mundo<br />
i<strong>de</strong>ológico <strong>da</strong> perso<strong>na</strong>gem, mesmo que não tome a forma do discurso direto, mas, se aparecer<br />
integrado no discurso do <strong>na</strong>rrador - ou <strong>de</strong> outra perso<strong>na</strong>gem - a posição i<strong>de</strong>ológica <strong>da</strong><br />
perso<strong>na</strong>gem sempre se fará sentir.<br />
Tertuliano Máximo Afonso e seu estado solitário-<strong>de</strong>pressivo<br />
No diálogo entre Tertuliano e um colega <strong>de</strong> profissão, nomi<strong>na</strong>do “o <strong>de</strong> Matemática”,<br />
po<strong>de</strong>-se verificar que a complexa forma estilística permite uma visão agu<strong>da</strong> <strong>da</strong> situação<br />
psicossocial vivi<strong>da</strong> pela perso<strong>na</strong>gem Tertuliano Máximo Afonso, numa época em que as<br />
pessoas se recluem às suas casas, assistindo ao exibido <strong>na</strong> televisão - o elo entre elas e o<br />
mundo exterior. Já, neste momento, é possível verificar a <strong>solidão</strong> <strong>da</strong> perso<strong>na</strong>gem e o seu<br />
estado psicológico. Neste discurso, por meio <strong>da</strong> fala <strong>da</strong>s duas perso<strong>na</strong>gens, confirmam-<br />
se a teoria bakhtinia<strong>na</strong> e a intenção do <strong>na</strong>rrador <strong>de</strong> situar suas perso<strong>na</strong>gens conforme<br />
suas crenças, seus valores e hábitos, <strong>de</strong>monstrando que, <strong>de</strong> acordo com Moscovici, “o<br />
indivíduo sofre a pressão <strong>da</strong>s representações sociais domi<strong>na</strong>ntes <strong>na</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e é nesse<br />
meio que pensa ou exprime seus sentimentos” (MOSCOVICI, 2001, p.49).<br />
As representações sociais como fenômeno cognitivo, segundo Jo<strong>de</strong>let (2001),<br />
envolvem a pertença social dos indivíduos com as implicações afetivas e normativas,<br />
4