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1 Representação da solidão na literatura Um estudo de O ... - UnB

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contá-la (a História) do fim para o começo. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os fatos. Eram completamente<br />

diferentes, vejamos o trecho:<br />

Homem, não se vá embora tão <strong>de</strong>pressa, conversemos um pouco mais, ain<strong>da</strong><br />

não é tar<strong>de</strong>, e até, se não tem outro compromisso a chamá-lo, podíamos jantar<br />

juntos, aqui perto há um bom restaurante, com a sua barba não haveria<br />

perigo, Obrigado pelo convite, mas não aceito, teríamos com certeza pouca<br />

coisa para dizer um ao outro, a si não creio que lhe interesse a História, e eu<br />

estou curado <strong>de</strong> cinema para os anos mais próximos, Ficou contrariado pelo<br />

facto <strong>de</strong> não ter sido o primeiro a <strong>na</strong>scer, <strong>de</strong> que seja eu o origi<strong>na</strong>l e você o<br />

duplicado, Contrariado não será a palavra justa, simplesmente preferia que<br />

não tivesse acontecido assim, mas não me pergunte porquê, seja como for<br />

não perdi tudo, ain<strong>da</strong> ganhei uma peque<strong>na</strong> compensação, Que compensação,<br />

A <strong>de</strong> que você não lucraria <strong>na</strong><strong>da</strong> em an<strong>da</strong>r pelo mundo a gabar-se <strong>de</strong> ser o<br />

origi<strong>na</strong>l <strong>de</strong> nós dois se o duplicado que eu sou não estivesse à vista para as<br />

necessárias comprovações, Não tenciono espalhar aos quatro ventos esta<br />

história incrível, sou um artista <strong>de</strong> cinema, não um fenómeno <strong>de</strong> feira, E eu<br />

um professor <strong>de</strong> História, não um caso teratológico, Estamos <strong>de</strong> acordo, Não<br />

há, portanto, qualquer razão para que nos voltemos a encontrar, Também<br />

creio que não, Não me resta mais, por conseguinte, que <strong>de</strong>sejar-lhe as<br />

maiores felici<strong>da</strong><strong>de</strong>s no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> um papel <strong>de</strong> que não irá tirar qualquer<br />

vantagem, uma vez que não haverá público a aplaudi-lo, e prometer-lhe que<br />

este duplicado se manterá fora do alcance <strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> científica, mais do<br />

que legítima, e <strong>da</strong> cuscovilhice jor<strong>na</strong>lística, ... Manter-nos-emos afastados,<br />

Numa ci<strong>da</strong><strong>de</strong> tão gran<strong>de</strong> como esta em que vivemos não será <strong>na</strong><strong>da</strong> difícil,<br />

além disso, as nossas vi<strong>da</strong>s profissio<strong>na</strong>is são tão diferentes que nunca eu teria<br />

sabido <strong>da</strong> sua existência se não fosse aquele malfa<strong>da</strong>do filme, quanto à<br />

probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que um actor <strong>de</strong> cinema viesse a interessar-se por um<br />

professor <strong>de</strong> História,...(ib<strong>de</strong>m, pp. 219 e 220).<br />

Tertuliano Máximo Afonso e António Claro pertenciam a mundos diferentes,<br />

não coexistiam em um mesmo habitus; ambos não incorporaram ao longo <strong>de</strong> suas vi<strong>da</strong>s<br />

a mesma lei social (Bourdieu, 1996). O habitus, segundo a noção <strong>de</strong> Bourdieu,<br />

caracteriza-se como um ambiente social simbólico que se contextualiza como “estrutura<br />

estrutura<strong>da</strong> e estruturante”. Em A Domi<strong>na</strong>ção Masculi<strong>na</strong>, a construção do habitus é<br />

explica<strong>da</strong> por Bourdieu <strong>da</strong> seguinte forma:<br />

...produto <strong>de</strong> um trabalho social <strong>de</strong> nomi<strong>na</strong>ção e <strong>de</strong> inculcação ao término do<br />

qual uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> social instituí<strong>da</strong> por uma <strong>de</strong>ssas 'linhas <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação<br />

mística', conheci<strong>da</strong>s e reconheci<strong>da</strong>s por todos, que o mundo social <strong>de</strong>senha,<br />

inscreve-se em uma <strong>na</strong>tureza biológica e se tor<strong>na</strong> um habitus, lei social<br />

incorpora<strong>da</strong> (BOURDIEU, 2007, p. 63-64).<br />

Em Razões Práticas, confirmando que o “habitus é um princípio gerador e unificador,<br />

que retraduz as característica intrínsecas e relacio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> uma posição em um estilo <strong>de</strong><br />

vi<strong>da</strong> unívoco...”, Boudieu assim <strong>de</strong>fine habitus: “são princípios geradores <strong>de</strong> práticas<br />

distintas e distintivas...” (BOURDIEU, 1996, p.22). O princípio unificador a que se<br />

refere Bourdieu diz respeito às incorporações subjetivas, que tor<strong>na</strong>m o indivíduo único e<br />

ao mesmo tempo membro <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> pessoas com o mesmo estilo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, ou seja,<br />

“lei social incorpora<strong>da</strong>”.<br />

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