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Revista AJAP n.º 80

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<strong>AJAP</strong> <strong>AJAP</strong>#<strong>80</strong> <strong>80</strong><br />

DOSSIER<br />

NOVAS JANELAS DE OPORTUNIDADES PARA O SECTOR<br />

AGRÁRIO E AS ZONAS RURAIS EM MOÇAMBIQUE<br />

Salim Cripton Valá 1<br />

I. O PONTO DE PARTIDA<br />

A problemática da agricultura é um dos<br />

assuntos que tem ocupado um lugar de<br />

destaque nas agendas económicas,<br />

sociais e políticas de Moçambique<br />

independente. É uma temática com tal<br />

peso e força que nenhum poder político<br />

a ignora, mesmo quando não a toma<br />

na sua verdadeira dimensão. No nosso<br />

país, a agricultura não pode ser considerada,<br />

de forma alguma, como uma<br />

actividade económica exclusiva, porque<br />

excede em muito o processo económico;<br />

é também um processo social,<br />

com múltiplas nuances simbólicas, é<br />

um processo de ocupação do território,<br />

é um processo cultural, e ainda um meio<br />

para que os indivíduos, famílias e comunidades<br />

que habitam um determinado<br />

território possam usufruir de um benefício.<br />

É por esse facto que a sua discussão<br />

invariavelmente gera controvérsias<br />

e desinteligências (Valá, 2003)2.<br />

O sector agrário em Moçambique tem<br />

um papel decisivo na erradicação da<br />

pobreza e da fome uma vez que constitui<br />

a principal fonte de rendimento<br />

para cerca de <strong>80</strong>% da população moçambicana<br />

que vive nas zonas rurais,<br />

onde a incidência da pobreza é maior.<br />

Com mais de 3,3 milhões de unidades<br />

agrícolas familiares, o sector familiar é<br />

responsável por mais de 98% da produção<br />

agrária em Moçambique. O<br />

sector agrário contribui para o PIB com<br />

cerca de 27% (Valá, 2006)3 .<br />

Pelo que se pode depreender, a agricultura<br />

é aquela actividade que assegura<br />

a sobrevivência da maior parte dos<br />

moçambicanos, onde a mulher joga um<br />

papel determinante, sobretudo na<br />

produção alimentar. Com acima de 65%<br />

da população a viver no Campo, Moçambique<br />

tem inequivocamente o seu<br />

futuro de prosperidade, bem-estar e<br />

desenvolvimento humano na sua<br />

plenitude dependente da agricultura e<br />

das zonas rurais.<br />

II. POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS<br />

DE DESENVOLVIMENTO RURAL<br />

Como foi referido, cerca de dois terços<br />

da população moçambicana vive nas<br />

zonas rurais, onde a maior parte obtém<br />

o seu rendimento da agricultura4 de<br />

pequena escala e de baixa produtividade,<br />

que contribui entre 25 a 30%<br />

no PIB e proporciona cerca de <strong>80</strong>% de<br />

emprego para a população economicamente<br />

activa (EDR, 2007)5 .<br />

Os principais documentos programáticos<br />

do Governo, com destaque para<br />

a Agenda 2025: Visão e Estratégias da<br />

Nação, o Programa Quinquenal do<br />

Governo (2005-2009) e o Plano de<br />

Acção para a Redução da Pobreza<br />

Absoluta – PARPA II (2006-2009)<br />

reconhecem que o desenvolvimento<br />

rural é o esteio fundamental do desenvolvimento<br />

social e económico global<br />

do país. A Estratégia de Desenvolvimento<br />

Rural (EDR), aprovada em<br />

Setembro de 2007, estabelece as bases<br />

com vista à transformação das áreas<br />

rurais em espaços atractivos, economicamente<br />

competitivos, saudáveis e<br />

aprazíveis para o bem-estar dos milhões<br />

de moçambicanos que nelas habitam.<br />

A evidência mostra que a despeito de<br />

se ter registado investimento considerável<br />

no sector da indústria e de serviços,<br />

foi o sector agrário que mais<br />

impacto teve na redução da incidência<br />

da pobreza na ordem de 16%, entre os<br />

anos 1996 e 2006, onde a taxa média<br />

de crescimento do produto agrário<br />

estava a 6% ao ano. Todas as indicações<br />

estatísticas e análises qualitativas demonstram<br />

que este sector tem potencial<br />

para atingir estágios elevados índices<br />

de crescimento, como os registados no<br />

início dos anos 70 do século XX.<br />

No quadro das estratégias de desenvolvimento<br />

sócio-económico, o Estado<br />

está a levar a cabo uma séria de medidas<br />

articuladas tendentes a: (i) alargar o<br />

acesso à energia pela população de<br />

baixa renda, através de programas de<br />

electrificação rural; (ii) acelerar a implementação<br />

de iniciativas de finanças<br />

rurais, fortalecendo e diversificando os<br />

incentivos para a expansão dos serviços<br />

financeiros para as áreas rurais, por<br />

1 Investigador da Direcção Nacional de Promoção do Desenvolvimento Rural (DNPDR) do Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD) e docente da Faculdade<br />

de Letras e Ciências Sociais (FLCS) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Desde 2005 que é o Director da DNPDR<br />

2 VALÁ, Salim Cripton (2003), A Problemática da Posse da Terra na Região Agrária de Chókwè (1954-1995).- Maputo: Promédia<br />

3 VALÁ, Salim Cripton (2006), Desenvolvimento Agrário e Papel da Extensão Rural no Chókwè (1950-2000): Conflito de interesses entre o Estado e os<br />

Agricultores?.- Maputo: IPAD.<br />

4 E de outras actividades económicas rurais vinculadas à agricultura.<br />

5 MPD (2007), Estratégia de Desenvolvimento Rural.- Maputo: Conselho de Ministros.

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