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Cerimónia na Escola Naval - Curso "Nuno Tristão"

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CERIMÓNIA NA ESCOLA NAVAL<br />

27 de Outubro de 2011. O dia estava desagradável. Vento e chuva. A Doca da Marinha era o ponto de<br />

concentração <strong>na</strong> margem Norte. Aos poucos o grupo ia-­‐se formando. Cumprimentos e abraços. Chegavam também<br />

anFgos professores convidados e representantes dos <strong>Curso</strong>s mais anFgos que estavam <strong>na</strong> <strong>Escola</strong> <strong>Naval</strong> (EN) aquando<br />

da nossa entrada. As tradicio<strong>na</strong>is instalações da Doca para oficiais, sargentos e praças encontravam-­‐se fechadas por<br />

falta de segurança, em resultado das obras do Metro. E conFnuava a chover sem que o autocarro da Direcção de<br />

Transportes desse si<strong>na</strong>l de vida. Em dias de chuva o trânsito fica caóFco em Lisboa, e o autocarro estava reFdo num<br />

qualquer engarrafamento. Chegou fi<strong>na</strong>lmente com 15 minutos de atraso.<br />

O trânsito para a EN decorreu normalmente. Conversava-­‐se animadamente. Principalmente os anFgos professores<br />

– Contra-­‐Almirante Víctor Crespo, e Comandantes Saturnino Monteiro e Cyrne de Castro, mas também os<br />

representantes dos <strong>Curso</strong>s – Vice-­‐Almirante Duarte Reis (LA), Comandante Almada Contreiras (LC) e Engº Pires de<br />

Lima (4º CEORN), mostravam a admiração e o encanto por há muito não encontrarem alguns de nós.<br />

À chegada à EN fomos recebidos pelo Comandante (Contra-­‐Almirante Seabra de Melo), pelo 2º Comandante e<br />

pelo Comandante do Corpo de Alunos. Foi também o reencontro no átrio com a outra metade do <strong>Curso</strong> que Fnha ido<br />

directamente, pelos seus próprios meios, e com os restantes convidados – Contra-­‐Almirantes Pereira Germano e<br />

MarFns Guerreiro (DJ), e ainda os Comandantes Serra Brandão e MarFns e Silva.<br />

Sala AORN (anFgo gabinete do 2º Comandante) e agora “sala de visitas” redecorada por iniciaFva da Associação<br />

dos Oficiais da Reserva <strong>Naval</strong>. Distribuição das medalhas comemoraFvas a todos os presentes. O Jorge Pinho<br />

d’Almeida foi convidado a registar o momento no Livro de Honra da <strong>Escola</strong> <strong>Naval</strong>, seguido das assi<strong>na</strong>turas de todos os<br />

54 NT presentes.


Saída para o novo auditório situado no extremo da ala Este do edifcio escolar. Intervenção do Comandante da<br />

<strong>Escola</strong> <strong>Naval</strong> apresentando a <strong>Escola</strong> de hoje e os desafios que se perspecFvam. O que se faz hoje já <strong>na</strong>da tem a ver<br />

com os programas de há 50 anos. O que está pensado para o futuro mostra que se sabe o que se quer, e o que melhor<br />

assegurará a Marinha de amanhã. Foi uma excelente intervenção, com força e querer.<br />

O Jorge Pinho d’Almeida apresentou então uma brilhante exposição subordi<strong>na</strong>da ao tema “Reflexões sobre o<br />

Sistema MaríFmo-­‐Portuário“. É a experiência de muitos anos sinteFzada por uma indiscumvel inteligência. Uma<br />

análise dos erros comeFdos por Portugal, a falta de uma visão estratégica integrada para o sector de transportes e<br />

algumas soluções recomendadas foram ainda apresentadas. Todos os presentes gostaram e admiraram.<br />

Seguiu-­‐se a fotografia do grupo no átrio da <strong>Escola</strong>. O Corpo de Alunos estava formado <strong>na</strong> parada. O Jorge Pinho<br />

d’Almeida fez uma curta mas significaFva exortação aos alunos sobre o tema da liderança. Pela sua importância e<br />

actualidade é a mesma apresentada a seguir, <strong>na</strong> sua totalidade. Desfile dos alunos. Houve quem se emocio<strong>na</strong>sse ao<br />

reviver esta cerimónia. Três raparigas no comando dos pelotões do 4º, 3º e 2º anos, facto que a ninguém passou<br />

despercebido. São as mulheres a mostrar claramente que não estão <strong>na</strong> Marinha por favor, por moda ou necessidade,<br />

e que querem ter um papel decisivo <strong>na</strong> Marinha de amanhã.


Atravessa-­‐se a parada. No edifcio do inter<strong>na</strong>to é descerrada a placa comemoraFva da efeméride. Segue-­‐se uma<br />

rápida visita às remodeladas camaratas do inter<strong>na</strong>to velho, seguida de uma passagem pelo novo inter<strong>na</strong>to. Fazem-­‐se<br />

comentários sobre a evolução de conceitos – alojamentos claramente separados das salas de estudo ou alojamentos,<br />

casas de banho e zo<strong>na</strong>s de trabalho numa mesma área dedicada a um pequeno número de alunos(as).


Seguiu-­‐se o almoço <strong>na</strong> camarinha do Comandante. Serviço impecável, com um bacalhau e um arroz de pato a<br />

lembrarem outros tempos. Sobremesas variadas e o bolo de aniversário cortado pelo Pinho d’Almeida. Palavras<br />

de agradecimento e entrega de uma medalha comemoraFva ao Comandante da <strong>Escola</strong> <strong>Naval</strong>. Na ocasião, o<br />

representante do curso “Luís de Camões” entregou ao nosso <strong>Curso</strong> uma recordação de idênFcas comemorações por<br />

eles realizadas há um ano. O ambiente foi sempre descontraído, de agradável conversa e de grande convivência entre<br />

todos. O almoço terminou com as Reais Salvas ArFlheiras superiormente comandadas pelo arFlheiro “mais anFgo”, o<br />

Contra-­‐Almirante Víctor Crespo.


De regresso ao edifcio escolar, teve lugar uma rápida demonstração das possibilidades existentes <strong>na</strong> EN em<br />

termos dos novos simuladores de <strong>na</strong>vegação. Apesar da agitação maríFma introduzida e do enorme tempo decorrido<br />

longe dos oceanos, ninguém se senFu mal.<br />

Estava termi<strong>na</strong>da a primeira etapa de um longo dia de evocação e saudade que voltou a unir, 50 anos depois, 54<br />

dos 95 “jovens cadetes”, agora menos jovens, mas com o mesmo espírito de união e camaradagem.<br />

Às 1540, após as despedidas oficiais, regresso ao autocarro, ou aos carros próprios, rumo ao Museu de Marinha.<br />

NT 2011


(Alocução proferida em 27OUT11 pelo Eng. Jorge Pinho d’Almeida aos cadetes e aspirantes da <strong>Escola</strong> <strong>Naval</strong>, por ocasião<br />

das Comemorações do Cinquentenário da entrada <strong>na</strong> <strong>Escola</strong> <strong>Naval</strong> do curso “<strong>Nuno</strong> Tristão”)<br />

Exmo. Senhor Almirante Comandante da <strong>Escola</strong> <strong>Naval</strong><br />

Senhores Professores, Oficiais, Sargentos e Praças da <strong>Escola</strong> <strong>Naval</strong><br />

Senhores Oficiais, ex-­‐Professores do curso “<strong>Nuno</strong> Tristão”<br />

Senhores Representantes dos cursos D. Lourenço de Almeida, D.João I, e Luis de Camões<br />

Senhor Representante do 4º <strong>Curso</strong> Especial de Oficiais da Reserva <strong>Naval</strong>, que tem também <strong>Nuno</strong> Tristão como patrono.<br />

Camaradas do curso “<strong>Nuno</strong> Tristão”<br />

Senhores Aspirantes e Cadetes, futuros marinheiros de Portugal<br />

O curso “<strong>Nuno</strong> Tristão” celebra este ano o quinquagésimo aniversário da sua entrada <strong>na</strong> <strong>Escola</strong> <strong>Naval</strong>, justamente<br />

assi<strong>na</strong>lado por este nostálgico e simbólico regresso à <strong>Escola</strong>, cabendo-­‐me o grande privilégio de vos dirigir algumas<br />

palavras para comemorar esta efeméride.<br />

As minhas primeiras palavras são de agradecimento ao Senhor Almirante Seabra de Melo, Comandante da <strong>Escola</strong> <strong>Naval</strong>,<br />

por tor<strong>na</strong>r possível esta cerimónia, e a todos os presentes por contribuírem com a vossa presença para lhe conferir a<br />

importância e dignidade que ela merece.<br />

Gostaria de aproveitar esta ocasião para me dirigir especialmente aos aspirantes e cadetes aqui presentes, a quem cabe a<br />

pesada responsabilidade de conXnuar a tradição de elevado senXdo de Missão e de Serviço da Marinha, que sempre teve<br />

como base a competência e o brio dos seus oficiais.<br />

Quando o curso “<strong>Nuno</strong> Tristão” entrou <strong>na</strong> <strong>Escola</strong> <strong>Naval</strong> em 1961, Portugal acabava de mergulhar numa longa, devastadora<br />

e, no fim, inúXl guerra contra os movimentos de independência <strong>na</strong>s nossas Províncias Ultramari<strong>na</strong>s. Eu próprio, então<br />

oriundo de Angola, não imagi<strong>na</strong>va o impacto que isso iria ter <strong>na</strong>s nossas vidas.<br />

Ironicamente, decorridos cinquenta anos, Portugal enfrenta de novo uma profunda crise, agora de dimensão<br />

inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, em que, tal como em 1961, são os próprios alicerces da sociedade que estão em perigo e que, muito<br />

provavelmente, resultará em alterações profundas e irreversíveis <strong>na</strong> nossa sociedade.


Tal como há cinquenta anos atrás, a única resposta possível a um desafio desta magnitude pode ser resumida numa única<br />

palavra: LIDERANÇA. Infelizmente, é minha convicção que o deficit de liderança hoje é um dos maiores desafios que o<br />

mundo enfrenta.<br />

Durante a minha vida profissio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> Marinha, até 1975, e <strong>na</strong> vida civil desde essa data, Xve o privilégio de trabalhar com<br />

grandes líderes, alguns deles aqui hoje presentes. Dessa experiência aprendi que a verdadeira liderança é um fenómeno<br />

raro e precioso, que, ao contrário do que se possa pensar, não exige qualidades excepcio<strong>na</strong>is. Exige sim um conjunto de<br />

qualidades que estão ao alcance de todos mas que raramente estão presentes no mesmo indivíduo. Entre essas<br />

qualidades saliento as seguintes:<br />

• A capacidade de disQnguir o importante do acessório, evitando o desperdício de esforços desnecessários e<br />

inconsequentes; relembro a este propósito uma frase favorita do nosso saudoso professor de Navegação, Comandante<br />

(mais tarde Almirante) Pinheiro de Azevedo: “O ópXmo é inimigo do bom”.<br />

• Uma visão clara dos objecQvos que se pretendem aQngir, pois, no dizer de um conhecido líder, quando não se aponta<br />

para <strong>na</strong>da é isso que se aXnge.<br />

• Uma convicção profunda da importância desses objecQvos, que potencia a coragem de lutar sozinho, contra tudo e<br />

contra todos.<br />

• Um senQmento de auto-­‐confiança, que permite admiXr o erro e não procurar o crédito pelas vitórias.<br />

• A integridade de carácter, que não se deixa seduzir pelo caminho mais fácil.<br />

• Um profundo senQdo de éQca, que se mede sobretudo no tratamento daqueles que não têm possibilidade de se<br />

defenderem.<br />

• Uma preocupação constante pela discipli<strong>na</strong>, rigor e mérito, sem que isso impeça a espontaneidade e a inovação.<br />

• Fi<strong>na</strong>lmente, o senso comum, ou seja, a habilidade de uXlizar a sabedoria colecXva transmiXda de geração para geração,<br />

que reflecte os valores mais básicos da sociedade a que pertencemos.<br />

É minha convicção que a <strong>Escola</strong> <strong>Naval</strong> vos oferece a oportunidade e, mais do que isso, a moQvação, para desenvolverem e<br />

fortalecerem estas e outras qualidades de liderança. O vosso sucesso pessoal e o sucesso da Marinha e do País dependem<br />

da resposta que derem a este desafio.<br />

Em nome do curso “<strong>Nuno</strong> Tristão”, desejo-­‐vos as maiores felicidades pessoais e profissio<strong>na</strong>is.<br />

Que os ventos e marés vos sejam sempre favoráveis. Portugal precisa de vós!

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